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O período mais obscuro da história do

Brasil: A Ditadura Militar


O ano era 1964, dia 2 de abril. Os militares brasileiros junto ao empresariado e com o apoio dos Estados Unidos,
conseguiram implementar um golpe militar no Brasil e derrubar o até então presidente, João Goulart. A população
ainda não sabia disso, mas aquele regime se prolongaria durante 21 anos, com 5 mandatos militares, 16 atos
institucionais (mecanismos legais que se sobrepõe a constituição), restrição a liberdade, tortura, censura e
repressão aos opositores do regime.
Você deve estar se perguntando como todo esse processo
começou e de fato é muito importante entender isso. O primeiro
antecedente do Golpe militar foi marcado pela renúncia de Jânio
Quadros a presidência em 1961. Após a renúncia, João Goulart
assumiu o cargo, mas havia um problema: os dois eram de
partidos políticos diferentes e consequentemente tinham ideias
diferentes de projetos para o Brasil. Jango (João Goulart) estava
Figura 1Militares nas ruas reprimindo a população
focado em continuar o
legado de Getúlio Vargas, por isso apoiava reformas de “base”, como
reforma fiscal, administrativa, educacional e principalmente agrária. IMPORTANTE!
Esses ideais geravam muito polêmica, pois os grandes latifundiários e os
As eleições para presidente nesse
parlamentares do Congresso Nacional eram contra essas reformas.
período foram indiretas e na
Parte da população apoiava o governo, mas outra parte apoiava a verdade eram apenas um
derrubada, principalmente os setores mais conservadores e a classe disfarce. Eram processos
média. Além disso, havia a questão com os E.U.A, pois estava ocorrendo antidemocráticos, pois o ARENA
a Guerra Fria e havia muito medo de um suposto “perigo comunista”. (partido que estava no poder),
Devido ao medo da expansão do socialismo/comunismo pela América do controlava tanto a câmara dos
deputados quanto o Senado
Sul, os E.U.A começaram a interferir nesses países, inclusive existem
Federal.
documentos que comprovam o envolvimento estadunidense na ditadura
militar brasileira.
No dia 15 de abril, começa o primeiro mandato da ditadura militar. O general Castello Branco foi o primeiro a tomar
posse da presidência do país e assim se iniciou a ditadura militar no Brasil.

Que tal saber mais sobre os 5 mandatos da ditadura?


Castello Branco (1964-67)
Você lembra que foi mencionado no início desse texto sobre os atos institucionais? Pois bem, no governo Castello
Branco foi declarado o primeiro ato institucional da Ditadura Militar no Brasil (AI 1).
Mas primeiro devemos entender o que eram os Atos institucionais: eram decretos/normas que concediam plenos
poderes aos militares e asseguravam a sua permanência no poder. A principal medida assegurada pelo AI 1 era o
fim das eleições diretas, ou seja, as eleições para presidente seriam realizadas pelo Congresso Nacional e não
pela população.
O Ato Institucional nº 2 foi declarado em 1965 e ele garantiu o fechamento de todos os
partidos políticos. Sendo assim, o bipartidarismo foi implementado, ou seja, daquele
momento em diante existiriam apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional
(ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
O ARENA apoiava o governo e o MDB correspondia a oposição (Mas existiam várias
limitações à sua atuação). O objetivo dessa medida era fortalecer o Poder Executivo e
promover uma imagem de legalidade à ditadura, pois garantia o funcionamento do
Congresso Nacional (De certa forma também era um disfarce pois o congresso foi
fechado alguns vezes nesse período). Além disso, os militares conseguiram facilitar a
repressão dos opositores com a estratégia de unir todos os partidos de oposição em
apenas um partido, o MDB.
O AI-2 também alterou o funcionamento do Poder Judiciário para concentrar cada vez Figura 2 General Castello Branco
mais poder no Executivo.

Costa e Silva (1967-69)


Durante o mandato de Costa e Silva houve muita repressão, violência, tortura aos
opositores do regime e restrição dos direitos políticos e à liberdade de expressão.
As medidas antidemocráticas implementadas nesse governo geraram insatisfação
em parcelas da população e isso contribuiu para o aumento de manifestações, sendo
uma das maiores e mais notáveis a Passeata dos 100 mil. No decorrer dessa
manifestação, o estudante Edson Luís foi morto em confronto com a polícia e
despertou uma grande comoção, fortalecendo a oposição ao regime.
Em resposta, Costa e Silva promulgou o AI 5, que fechou o Congresso por tempo
indeterminado, decretou estado de sítio, cassou
mandatos de prefeitos e governadores e impediu a realização de reuniões.
Esse decreto permitia ao governo punir arbitrariamente (de forma autoritária) os
opositores do regime e por isso é considerado o golpe mais severo da Ditadura Militar
Figura 3 Artur Costa e Silva no Brasil. Esse período ficou conhecido como “anos de chumbo” e em resposta ao
regime repressivo, começaram a surgir grupos armados, contra os quais houve forte repressão por parte dos
militares.

Médici (1969-74)
O governo de Médici (1969-74) é considerado o período de maior repressão e
autoritarismo da Ditadura Militar no Brasil. Além disso, a censura dos meios de
comunicação foi acentuada e houve muita tortura contra prisioneiros políticos. De
forma geral os movimentos de oposição eram reprimidos por diversas frentes do
governo militar.
Talvez o acontecimento mais marcante e notório desse governo foi o período
conhecido como o “milagre econômico”. Isso ocorreu porque algumas medidas
econômicas adotadas pelo governo como a restrição ao crédito, o aumento das
tarifas do setor público, a contenção dos salários e direitos trabalhistas, e a
redução da inflação resultaram no crescimento do PIB acima de 10% e
grandes investimentos em infraestrutura. A impressão que se tinha a partir dos
resultados dessas medidas era a de crescimento econômico. Esse “milagre”, no
entanto, era apenas uma farsa, pois deixou uma dívida externa muito grande para
o país, ou seja, na verdade o “milagre econômico” gerou a dependência brasileira Figura 4 Emílio Médici
por empréstimos externos nos anos que seguiram. Consequentemente,
houve um aumento muito significativo da desigualdade de renda. Em DESIGUALDADE SOCIAL
outras palavras, a riqueza se concentrou ainda mais nas mãos dos ricos
e a camada mais pobre da população teve sua situação econômica e O Índice de Gini-que mede a
social ainda mais prejudicada. concentração de renda de um país-
Ainda nesse período, devido ao crescimento da economia e a euforia após alcançou o pior nível da história em
a conquista do tricampeonato mundial de futebol, os militares adotaram 1977, com um valor de 0,62.
campanhas publicitárias nacionalistas, como “Brasil, ame-o ou deixe-
o” ou “Ninguém mais segura esse país”. Talvez você já tenha ouvido falar
delas, não é mesmo?
Em 1973, houve a crise do petróleo no mercado internacional e em 1974 a inflação era de quase 30% ao ano –
chegando a taxa de 242,24% ao final da ditadura. Além disso, os investimentos na economia brasileira caíram,
reduzindo o consumo e a geração de empregos. Como consequência de todos esses problemas, o governo militar
começou a perder apoio.
Em 1971, foi promulgado um decreto que intensificou a censura à imprensa. Além disso, foram criadas instituições
para lutar contra e reprimir grupos de esquerda, como o Departamento de Operações Internas (DOI) e o Centro de
Operação da Defesa Interna (CODI). Estas instituições eram utilizadas como centros de aprisionamento e tortura e
estavam localizados nas principais cidades do Brasil.

Geisel (1974-79)
O início do governo Geisel (1974-79) foi marcado por uma abertura política lenta, gradual e segura. Em outras
palavras, isso significava a transição para um regime democrático, porém, ainda mantendo os grupos de oposição
e movimentos populares afastados dos processos de decisão política. No entanto, o
motivo que impulsionou essa transição foi o desgaste das Forças Armadas após
todos os anos de repressão, violência e restrição à liberdade.
Embora o governo tenha iniciado essa abertura, as violações aos direitos
humanos e repressões violentas continuaram. O caso mais grave ocorrido durante
o governo de Geisel foi a tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
Esse episódio também ocasionou grande comoção popular, mas Geisel não
determinou nenhuma punição para os responsáveis.
A crise econômica também se agravou e em 1978 ocorreu o maior ciclo de greves
da história do Brasil iniciadas por operários metalúrgicos do ABC.
Nesse período, diversos setores da sociedade começaram a se mobilizar e
denunciar as barbaridades e abusos cometidas pelo governo. Dessa forma, o regime
Figura 5 Ernesto Geisel estava se tornando cada vez mais insustentável. Em consequência da pressão da
população e do surgimento de movimentos de oposição ao
regime, em 1978, o presidente anulou diversos decretos-lei,
inclusive o AI 5.
Em relação a investimentos, no governo do Geisel, foram
registrados os mais altos investimentos em infraestrutura e
industrialização desde o início da ditadura militar. Alguns dos
exemplos desses investimentos foram a Transamazônica, a
Ponte Rio-Niterói, as Usinas Nucleares de Angra e a
hidrelétrica de Itaipu. Figura 6 Movimento de oposição ao regime militar
Figueiredo (1979-85)
O governo de Figueiredo (1979-85) durou 6 anos e finalizou o período ditatorial. Em 1979, foi promulgada a Lei de
Anistia. Pouco a pouco, presos políticos foram libertados e os exilados voltaram ao
Brasil.
A Lei da Anistia gerou uma polêmica pois ela excluía os guerrilheiros condenados
por “atos terroristas”, mas incluía os agentes de repressão policial e militar, que
foram os responsáveis por violações aos direitos humanos, como torturas e mortes.
Foi nesse período que houve a criação de novos partidos políticos (muitos desses
existem até hoje). Porém, ao contrário do que provavelmente você está imaginando,
essa abertura do final do regime não era aceita por todos os militares, algumas alas
pretendiam manter o regime. Inclusive, em 1981, houve um ato de terrorismo, no
qual, militares contrários à abertura explodiram uma bomba num centro de
convenções no Rio de Janeiro durante uma comemoração ao dia do trabalho- como
é possível imaginar, neste caso também não houve investigações ou punições.
Figura 7 João Figueiredo
Ao final do mandato de Figueiredo, a população finalmente se mobilizou pela
realização das eleições diretas.

Campanha pelas eleições diretas e final da ditadura militar no Brasil


No final de 1983, foi iniciada por todo o país, uma campanha pelas eleições diretas para presidente, as "Diretas Já", que reuniu
várias lideranças políticas bem conhecidas como Fernando Henrique Cardoso, Lula e Ulysses Guimarães.
O movimento chegou ao auge em 1984, quando seria votada uma emenda que
tinha o objetivo de restabelecer as eleições diretas para presidente.

No dia 25 de abril, a emenda Dante de Oliveira apesar de obter a maioria dos


votos, não conseguiu aprovação. Em seguida, grande parte da oposição
resolveu participar das eleições indiretas para presidente. O PMDB
lançou Tancredo Neves, para presidente e José Sarney, para vice. Reunido o
Colégio Eleitoral, a maioria dos votos foi para Tancredo Neves, que derrotou
Paulo Maluf, candidato do PDS.
Figura 8 Manifestação do movimento "Diretas já"
Tancredo Neves foi eleito por voto indireto e somente em 1989 a
população brasileira finalmente teve o direito de votar diretamente para a presidência.

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