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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS-CCHL


COORDENAÇÃO DE HISTÓRIA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

FRANSBERTO SERRAT MIRANDA BENVINDO FILHO

DOS BOATOS À FAKE NEWS NA CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA


BRASILEIRA

TERESINA
2021
FRANSBERTO SERRAT MIRANDA BENVINDO FILHO

DOS BOATOS À FAKE NEWS NA CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA


BRASILEIRA

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura


Plena em História para a Universidade Estadual do
Piauí, como requisito parcial para a conclusão da
disciplina de monografia II.
Orientador: Prof. Me. Sergio Romualdo Brandim.

TERESINA
2021
FRANSBERTO SERRAT MIRANDA BENVINDO FILHO

DOS BOATOS À FAKE NEWS NA CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA


BRASILEIRA

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura


Plena em História para a Universidade Estadual do
Piauí, como requisito parcial para a conclusão da
disciplina de monografia II.
Orientador: Prof. Me. Sergio Romualdo Brandim.

Aprovada em: _____/______/________.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
Prof. Msc. Sergio Romualdo Brandim
Orientador

_________________________________________________________
Examinador(a)

_________________________________________________________
Examinador(a)

TERESINA
2021
AGRADECIMENTOS

Eu gostaria de agradecer à Deus por ter me concedido saúde, sabedoria e determinação


para conseguir concluir a minha 1º graduação e nunca ter desistido, apesar das dificuldades.
Também quero agradecer meus pais (Fransberto e Giselia) e meus avós por sempre estarem
comigo desde sempre me dando suporte em todas etapas da minha vida e ter acreditado no
meu potencial, para que eu conseguir alcançar esse meu objetivo de vida. Aos meus
professores que fizeram parte em cada disciplina e meu orientador Brandim pela ajuda e
paciência em cada uma das reuniões durante o processo da minha tese.
Meus amigos que eu fiz durante o curso e proporcionaram momentos únicos durante
as viagens de campo e outros momentos incríveis que vão ser lembrando por toda minha vida.
E meus amigos que me acompanham desde o Ensino Médio, cada um aos poucos
conquistando seus sonhos. Para finalizar, gostaria de agradecer aos funcionários da
Universidade Estadual Do Piauí e seus colaboradores que desempenham suas funções para
nos proporcionar o melhor ensino possível.
RESUMO
As fake news se consagraram como um inimigo da democracia brasileira na atualidade, que se
perpetua desde muitos séculos atrás em grandes reinos e impérios. Esse trabalho demonstra
através de uma historicização alguns exemplos de notícias falsas que conturbaram governos
durante a nossa história e exemplificar algumas fake news que impactaram os governos
democráticos do Brasil a partir dos anos 2000, que vai perpassar pelas gestões de Fernando
Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Messias Bolsonaro. A
metodologia adotada será pesquisas bibliográficas baseada em livros, teses, revistas e jornais,
para que se obtenha uma análise mais completa e fundamentada sobre os assuntos abordados.
Tendo em vista o crescente aumento das notícias falsas e a preocupação com regimes
autoritários que almejam estremecer os pilares democráticos, a análise lúcida a constante
guerra por poder que através das mídias sociais favorecem a polarização e a disseminação de
conteúdos alheios à verdade, que ganham status de veracidade através do fenômeno “pós-
verdade”, refletindo no âmbito social e nas eleições.

Palavras - chave: Fake News. Democracia. Política. Presidentes.


ABSTRACT

Fake news consecrated itself as an enemy of Brazilian democracy nowadays, which has been
perpetuated since many centuries ago, in great kingdoms and empires. This work
demonstrates through a historicization some examples of false news that disturbed
governments during our history and exemplifies some fake news that impacted democratic
governments in Brazil from the 2000´s. which will go through the administrations of
Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff and Jair Messias
Bolsonaro. The methodology adopted will be bibliographic research based on books, theses,
magazines and newspapers, in order to obtain a more complete and grounded analysis on the
topics covered. In view of the growing increase in false news and the concern with
authoritarian regimes that aim to shake the democratic pillars, the lucid analysis of the
constant war for power that through social media favors the polarization and dissemination of
untruthful content, which gain status of veracity through the “post-truth” phenomenon,
reflecting in the social sphere and in the elections.

Keywords: Fake News. Democracy. Political. Presidents.


LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social;


CPMI Comissão Parlamentar de Inquérito;
DIP Departamento de Imprensa e Propaganda;
DOPS Departamento de Ordem Política e Social;
FGV Fundação Getúlio Vargas;
FHC Fernando Henrique Cardoso;
MST Movimento sem Terra;
ONU Organização das Nações Unidas;
PRB Partido Republicanos do Brasil;
PSDB Partido da social Democracia Brasileira;
PSL Partido Social Liberal;
PT Partido dos Trabalhadores;
STF Supremo Tribunal Federal;
TSE Tribunal Superior Eleitoral;
USP Universidade de São Paulo;
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................09
2 BOATOS, FAKE NEWS E DEMOCRACIA...............................................................11
2.1 BOATOS E FAKE NEWS............................................................................................11
2.2 EXEMPLOS DE MANIPULAÇÃO E DESINFORMAÇÃO NA ESFERA
POLÍTICA...........................................................................................................................14
2.3 A PROFISSIONALIZAÇÃO DA IMPRENSA............................................................18
2.4 OS FACTOIDES NO GOVERNO DE GETÚLIO VARGAS......................................20
3 FAKE NEWS E A POLÍTICA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI...........................24
3.1 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO........................................................................24
3.2 LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA...............................................................................27
3.3 DILMA À PRESIDENTE DO GOLPE.........................................................................31
3.4 O BOLSONARISMO E AS MILÍCIAS DIGITAIS.....................................................38
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................48
REFERÊNCIAS.................................................................................................................49
9

1 INTRODUÇÃO

As Fake news e a Manipulação Midiática estão diretamente relacionadas aos aspectos


políticos, visto que a disseminação de notícias falsas e a tentativa de controle social
acompanham a história das sociedades desde seus primórdios. O conceito de fake news é hoje
sinônimo de desinformação, utilizado livremente pelos veículos noticiosos para indicar
rumores e notícias falsas que circulam, principalmente, na mídia social. Do mesmo modo, há
uma quantidade imensa e variada de informações qualificadas pela literatura dentro deste
conceito, compreendendo tanto sátiras, quanto boatos e notícias fabricadas (TANDOC JR.
WEI LIM; LING, 2018). O fenômeno ganha espaço principalmente em períodos eleitorais,
por se tratar de um período em que os candidatos usam todos os métodos para difamar
opositores ganhar visibilidade. Nos últimos tempos, a política tem se tornado cada vez mais
aliada das grandes mídias sociais, que dão suporte as candidaturas de grandes populistas e
autoritários.

A construção de uma notícia falsa é realizada com o intuito de atingir algum


objetivo. Seja para manipular o leitor, seja para desconstruir uma informação
verdadeira, é certo que ela traz consequências reais, como prejuízos
financeiros, exposição da vida particular das pessoas e afeta também
empresas e organizações. Além disso, a desinformação causa também certa
fragilidade no convívio social, criando um ambiente polarizado e hostil entre
os cidadãos (PUGLIERO 2018, s/p)

As relações de mídia e poder foram se alterando ao longo dos anos, as notícias falsas
ou verídicas se tornaram instantâneas, através dos meios de comunicação e os ataques
direcionados aos opositores nos períodos eleitorais, viraram diários. O populismo e uso das
figuras públicas progressistas através da autopromoção pelas mídias deu lugar aos políticos
extremistas que conspiram contra as instituições democráticas, a ciência e a liberdade de
expressão. O que era boato ou rumor se transformou em Fake news, que através da extrema-
direita inaugurou uma nova forma de propagar sua ideologia e convicções. As desinformações
tem um caráter majoritariamente político, exemplo objetivo dessa situação ocorreu nos
tempos de guerra, que os representantes eram muito mais explícitos na opressão.

O fim das democracias na atualidade é muito menos dramático do que no


passado. As ruínas ocorrem sem armas, sem morte, sem exército na rua. Um
sistema democrático, nos dias de hoje, padece aos poucos, por mãos
invisíveis e passo a passo. Os autocratas eleitos corroem a democracia
usando a máscara da legalidade; líderes da oposição são presos, a imprensa é
10

prejudicada, leis que ferem os direitos humanos são aprovadas, tudo de


forma sutil, muitas vezes, como um retrato do aperfeiçoamento da
democracia, do combate a corrupção ou de higienização do que fere a
ordem. Os autocratas, ao denominarem um inimigo a ser combatido, por trás
do discurso do progresso e da ordem, subvertem a democracia emparelhando
os tribunais, intimidando a mídia e mudando as regras do jogo jurídico
contra os oponentes. Utilizam as próprias ferramentas da democracia, no
caso as instituições, para matá-la. (LEVITSKY, 2018)

As Fake News obtiveram grande potencial de disseminação em razão do contexto


cultural e político propício que vivenciamos em grande parte do mundo, marcado por
radicalizações políticas e por uma espécie de guerra ideológica que divide a sociedade em
grupos antagônicos e rivais. Esse contexto está marcado por grandes incertezas e medos
diversos, por crises econômicas cíclicas e pela desconfiança nas instituições políticas e
midiáticas. Um terreno fértil para que todo tipo de discurso de ódio, teorias da conspiração e
campanhas difamatórias ganhe maior proporção. O fenômeno contemporâneo das fake
news só pode ser devidamente compreendido nesse contexto como produção de “informação
de combate”, voltada para corroborar narrativas pré-estabelecidas e fortalecer uma
determinada posição, pouco importando a qualidade do trabalho de investigação ou de
apuração dos fatos. Mais do que notícias falsas, o que temos são “mídias hiper-partidárias”
fazendo circular informações em um mundo radicalmente polarizado (RIBEIRO;
ORTELLADO, 2018a). Que apesar da sua vigência desde muito tempo atrás, transformaram o
cenário político do país desde as últimas eleições e interferem em todos os aspectos da
sociedade brasileira.
11

2 BOATOS, FAKE NEWS E DEMOCRACIA

2.1 BOATOS E FAKE NEWS

O boato é o meio de comunicação mais antigo da humanidade, surgiu muito antes da


escrita e está inserido em todos os meios sociais, possuem diversas nomenclaturas, ele é uma
forma de circulação de informações que surge a partir do anonimato, com ausência de
certezas e com uma multiplicidade de possibilidades. Na mesma perspectiva, o Dicionário
Online de Português1 classifica o termo como: “Disse me disse, notícia cuja fonte não é
conhecida, geralmente sem fundamento e dito maldoso que se espalha de boca em boca”.

Um boato surge como uma compensação a um desejo frustrado de alguém


ou de um grupo social, da necessidade de se tornar público alguma
confidencialidade, de interesses perturbadores de uma ordem que não
convém, das fantasias (ou fantasmas) que povoam as narrativas míticas de
uma cultura, de mal entendidos, de interpretações distorcidas, etc.
(KAPFERER, 1998, p.18)

O grande equívoco de um investigador é descobrir a origem após o boato ter ganho


diferentes versões e narrativas. Isso ocorre porque o boato é um fenômeno que surge e se
torna popular, que obtêm uma velocidade de circulação muito grande, sua constituição é
coletiva e difusa, na medida em que cresce a origem fica cada vez mais difícil de ser
encontrado pelas diversas transformações da notícia.
Ela ainda é uma das principais formas de veiculação de informações, contribuindo
para a criação e destruição de imagens e reputações em todos os âmbitos, podendo construir o
imaginário de bom ou mau.
As primeiras aparições do termo boato vão ser encontradas em documentos do
Parlamento Francês em 1274 e o descreve como um “grito” ou “ruído”, que levava os
cidadãos para rebeliões. No século XVI, a designação aparece em documentos policiais e
judiciais, associado ao vocabulário latino “rumor”, que significa uma notícia que se espalhou
ao público e que é tido como verdade. Já no século XVIII o termo retorna com uma noção de

1
Dicionário Online de Português Disponível em: https://www.dicio.com.br/boato/ Acessado em:22/10/2019
12

“ruído”, só que dessa vez associado a noção de verdadeiro ou falso, indicando autenticação
(PAILLARD, 1990).
Somente no século XX, teremos a ideia do boato entendido como um fenômeno
científico a partir dos conflitos bélicos, principalmente na Segunda Guerra Mundial. Países
como a Inglaterra e Estados Unidos começaram a se preocupar com a disseminação de boatos
e rumores que conseguiam ganhar grande notoriedade e status de verdade absoluta, esse tipo
de boato se tornavam bastantes perigosos para os países envolvidos nas guerras. Visto que
esses tipos de informação informal poderiam de certa forma desestabilizar esses países. O
sociólogo e teórico da comunicação Harold Lasswell, em “Propaganda technique in the
World War”, afirmou que, em tempos de guerra, o controle da opinião ocorre mediante
manipulação da sugestão social de modo a conformar sentimento de unidade nacional.
“Nenhum governo poderia esperar vencer sem uma nação unida por trás dele, e nenhum
governo poderia ter uma nação unida por trás dele, a menos que controlasse a mente de seu
povo” (LASSWELL, 1938, p. 10).
A disseminação incontrolada tem relação com o fato de que os rumores podem
acontecer de muitas maneiras distintas e entre todos os grupos sociais. Segundo Kovacs
(1998, p. 111), os boatos servem para construir ou destruir imagem de um candidato, justificar
atrocidades cometidas contra inimigos, promover a associação de pessoas e mobilizar
recursos. A política é oportuna aos boatos, pois a divulgação de algumas notícias é elaborada
para desestabilizar opositores e plantar inverdades que acabam se tornando verdades na
opinião popular.
A designação para notícias falsas no século XXI vai ganhar outro patamar com o
advento das mídias sociais 2 as eleições no ano de 2016 com a eleição de Donald Trump no
Estados Unidos da América. O termo Fake News que significa de uma forma direta em
“notícias falsas” vai possibilitar uma forma de corromper a legalidade política americana em
sua eleição e posteriormente em várias outras eleições mundial.
Donald Trump através das suas redes sociais, especialmente no Twitter, vai espalhar
factoides sobre seus opositores com auxílio de robôs programados (Bots 3). No Brasil, essa
discussão será adotada pelo presidente Jair Bolsonaro que com mesmas características vai
oprimir seus opositores e conseguir a aceitação popular com inverdades. Esses possíveis
2
Mídias Sociais consiste no conjunto dos diversos meios de comunicação, com a finalidade de transmitir
informações e conteúdos. Abrange diferentes plataformas de disseminar as informações, como jornais, revistas,
televisão, rádio e a internet, por exemplo. Disponível em: https://www.significados.com.br/midia/
3
Os bots são aplicações autônomas que rodam na internet enquanto desempenham algum tipo de tarefa pré-
determinada. Eles podem ser úteis e inofensivos para os usuários em geral, ou de forma abusiva por
criminosos.
13

crimes estão sendo investigados desde setembro de 2019 pela Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) das Fake News4 que apura a disseminação de informações falsas nas
eleições de 2018, criação de perfis falsos, ataques nas redes sociais contra autoridades e
aliciamento de crianças para o cometimento de crimes de ódio e suicídio. O relatório final está
previsto para ser divulgado no final de 2021.
Diante disso, tem o conceito de pós-verdade que desvaloriza a verdade absoluta,
comprovada pelos fatos e se pauta na importância das notícias inventadas e falsas em
detrimento a verdade. Esse conceito tem como objetivo desorientar o leitor no processo de
formulação de opinião e buscar instigar um sentimento de revolta às entidades e deslegitimar
pensamentos adversos.
O fenômeno da pós-verdade5 e das fake news está intrinsecamente ligado a uma
refutação da ciência e uma aceitação de discursos inflamados por preconceito, intolerâncias e
táticas de uso do caos e uma confusão como forma de manipulação da sociedade civil e da
opinião pública, lançando mão de manobras populistas e extremistas (KAKATANI, 2018).
Essa tática é utilizada por Donald Trump (EUA), Marine Le Pen (França) e Jair Bolsonaro
(Brasil), os lideres populares se aproveitam desses contextos para gerar o caos, através do
autoritarismo.
Nas redes sociais as fake news vão possuir características distintas, vão existir desde
as mais elaboradas, produzidas com caraterísticas idênticas ao logo e cores de grandes portais
de publicidade, notícias nos grupos de Whatsapp até discursos de influenciadores digitais nos
seus perfis do Facebook e YouTube. Essas práticas fraudulentas são conhecidas como
phishing6. Nessa perspectiva, as fake news se consolidam como um fenômeno propício para
entrar em ebulição, esse ambiente seria o chamado “populistas autoritários”, que disseminam
e viralizam fake news, com o uso da internet, com descredito as instituições e ataques à
imprensa.

4
CPMI DAS FAKE NEWS Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/09/04/cpmi-das-fake-news-e-instalada-no-congresso
Acessado em: 22/10/2019
5
Segundo o dicionário Priberam a palavra pós-verdade significa: “ Informação que se divulga ou aceita como
fato verdadeiro devido á forma como é apresentada e repetida, mas não tem fundamento real” Disponível em:
https://dicionario.priberam.org/p%C3%B3s-verdade Acessado em: 23/10/2019
6
É uma técnica de fraude online, utilizada por criminosos no mundo da informática para roubar senhas de
banco e demais informações pessoais, usando-as de maneira fraudulentas. Disponível em:
https://www.significados.com.br/phishing/ Acessado em: 23/10/2019
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Além disso, o consumo de conteúdos faz-se com base na fluidez das informações, o
receptor destas não se conecta com a busca complementar delas, sendo assim, elas se tornam
“ auto suficiente” a este receptor. Bauman (2001, p.32) analisa que a falta de questionamento:
“É um tipo de sociedade que não mais reconhece qualquer alternativa para si mesma e,
portanto, sente-se absolvida do dever de examinar, demonstrar, justificar (e que dirá provar) a
validade de suas suposições táticas e declaradas”.
Na mesma perspectiva do autor que busca um senso crítico e investigativo dos fatos, a
autora Hannah Arendt demonstra a diferença entre fatos e opiniões e como devem ser
analisados esses termos que são opostos.

relaciona-se sempre com outras pessoas: ela diz respeito a eventos e


circunstâncias nas quais muitos estão envolvidos; é estabelecida por
testemunhas e depende de comprovação; [...] é política por natureza. Fatos e
opiniões, embora possam ser mantidos separados, não são antagônicos um
ao outro; eles pertencem ao mesmo domínio. Fatos informam opiniões, e as
opiniões, inspiradas por diferentes interesses e paixões, podem diferir
amplamente e ainda serem legítimas no que respeita à sua verdade factual. A
liberdade de opinião é uma farsa, a não ser que a informação factual seja
garantida e que os próprios fatos não sejam questionados. (ARENDT, 1988,
p. 295.)

A verdade através de fatos é estabelecida por testemunhas e independentes de


comprovação, o contrário, segundo Arendt, necessita ser vista como opinião, que pode ser
apenas uma mentira contada com bases em paixões e sentimentos. As fake news são
fenômenos que sempre causaram adversas reações no âmbito político e social e conseguiram
ter perspectivas positivas e negativas no decorrer da história.

2.2 EXEMPLOS DE MANIPULAÇÃO E DESINFORMAÇÃO NA ESFERA POLÍTICA

Dentre essa conjuntura, temos alguns exemplos na utilização de boatos na esfera


política antiga, como o episódio onde Caio Júlio Cesar na função de Pontifex Maximus, que
foi alvo de uma acusação, onde sua mulher foi tida como adúltera. O caso ocorreu em
dezembro de 62 a.c e foi narrado por Plutarco((Iul.11) e Suetônio (Iul. 3), segundo eles, tudo
começou durante a celebração do festival Bona Dea que foi presidido pela esposa do pontífice
Pompeia. O festival era uma celebração entre mulheres da elite que festejavam a virgindade e
a fertilidade, mas o fato de um jovem patrício que se vestiu de mulher para acompanhar a
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festa mudou tudo naquela noite. Clódio não conseguiu manter seu disfarce e foi descoberto
pela sua voz masculina, isso fez com que as mulheres entrassem em pânico e se apavorassem.
Para conter esse escândalo, foi ordenado que fechassem todas as portas da propriedade
e começou a busca o invasor por todos os cômodos. Plutarco vai narrar a história da seguinte
forma:
Clódio, que ainda não tinha barba e por isso pensava não ser descoberto,
disfarçou-se com as vestes de uma tocadora de instrumento, porque tinha o
rosto parecido com o de uma moça: achando as portas abertas foi admitido
por uma camareira que estava de combinação com ele e que foi logo avisar
Pompeia da sua chegada. Ela demorou-se muito para voltar e Clódio não
tendo paciência de esperá-la no lugar onde a havia deixado, foi andando a
esmo pela casa, que era grande e espaçosa, sempre evitando a claridade; por
acaso foi visto por uma das criadas de Aurélia, que julgando tratar-se de uma
mulher, pediu-lhe que fosse divertir-se com ela, mas ele recusou-se e a outra,
então, continuou perguntando quem ela era. Clódio respondeu lhe que
esperava uma das servas de Pompeia de nome Abra: sendo então
reconhecido pela voz, a criada de Aurélia correu logo para onde estavam as
mulheres, dizendo que encontrara um homem disfarçado em mulher: por isso
todas ficaram alarmadas, Aurélia mandou interromper imediatamente todos
os atos do sacrifício e ocultar o que havia de secreto; mandou fechar as
portas da casa e com tochas e archotes, procuravam o homem, o qual foi por
fim encontrado no quarto da criada de Pompeia, com a qual ele havia fugido;
sendo reconhecido pelas mulheres, foi expulso da casa (PLUTARCO, 2007,
p.54)

Com base nesse fragmento, os autores Plutarco e Suetônio não encontram nenhuma
prova que confirme se houve um “affair” entre Pompéia e Clódio, pois o boato surgiu após as
convidadas irem embora do evento e cada um contou uma versão diferente do ocorrido. Esse
episódio gerou grande repercussão na cidade e os adversários começaram uma onda de boatos
e ataques a Cesar, visando atacar sua reputação. Muitos senadores se reuniram para tratar
sobre o escândalo, e a população tomaram as ruas de Roma para que Clódio não fosse
condenado e nem responsabilizado por seu ato. Com isso, os senadores temeram uma
repressão da população e absolveram o réu. Já Cesar, repudiou as acusações contra sua esposa
e acusou seus opositores de criar boatos contra ele tendo em vista as eleições para a
magistratura de Questor que estavam próximas.
Essa história demonstra como um boato que segundo Plutarco e Suetônio começou
após o fim do baile e as damas da sociedade ao chegar nas suas casas, relatarem o ocorrido
para seus maridos e posteriormente houveram diversas distorções e em pouco tempo a cidade
inteira falava sobre o ocorrido, essa notícia atravessou Roma inteira. No século XVIII, houve
diversos outros casos de adesão popular em fatos políticos, como no caso da divulgação de
panfletos distribuídos antes da Revolução Francesa com informações detalhadas que
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mostravam um déficit no orçamento para provar que o governo estava falido. No período pré-
revolução os partidos e alguns grupos eram responsáveis por editar panfletos e folhetins que
podiam difundir uma ideia, conceito, crítica ou ataques políticos. Nesse período as
autoridades tentaram censurar a imprensa e filtrar as informações e publicações por meio de
ordem judiciais que caso fossem aceitas eles quebravam a gráfica e prendiam os editores
Editores como Jean paul Marat e seu rival “L´Ami du Peuple” conseguiram escapar da
onda de censura, muitos autores escreveram sobre a Revolução Francesa e os conteúdos eram
variados, boa parte da população era analfabeta e nem toda publicação era verdadeira, haviam
diversas hipóteses e opiniões para alguns fatos. Portanto, as noticiais falsas se propagavam
rapidamente e muitos textos sobre o rei, rainha ou líderes partidários eram escritos por
pessoas que forjavam as assinaturas de grandes editores e isso foi um “barril de pólvora” para
a revolução. Com notícias falsas ou verdadeiras o processo revolucionário que resultou a
derrubada da monarquia e o advento da república teve as notícias falsas como um dos pontos
cruciais da revolução.
Segundo Hoyler (1996, p. 61) “As situações de guerra apresentam condições ótimas
para a disseminação de boatos”, como ocorreu durante a Revolução Francesa onde pequenas
publicações espalharam boatos a respeito dos governantes como no caso da rainha francesa
Maria Antonieta. Darnton (2017) “foi o alvo mais comum dessa ‘literatura da raiva’. Panfletos
baratos com tiragens de 20 mil, 30 mil cópias divulgaram a lenda dos brioches e retrataram a
rainha como uma mãe negligente, mesquinha, depravada.”. Uma dessas publicações sobre
rainha foi publicado no jornal The Morning Post7que publicava pequenos parágrafos com
notícias tendenciosas que buscavam manipular o pensamento coletivo com o objetivo de gerar
conflitos entre as pessoas. Esses periódicos circulavam diariamente ou semanalmente,
espalhando notícias em poucas linhas baseadas em rumores e fofocas ouvidas pelos escritores
em diversas partes da cidade.
Somado a isso, Darnton (2017) “Alguns gazeteiros recebiam dinheiro pelos
parágrafos; outros se conformavam em manipular a opinião pública a favor ou contra uma
personalidade, uma obra de teatro ou um livro.” A maior parte dos escritores se contentavam
em disseminar nas ruas, nos muros e nas portas os boatos capazes de manipular a opinião
pública visando difamar algo ou alguém.

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Jornal conservador britânico, publicado entre 1772 até 1937, fundado por Henry Bate (capelão de Lord
Lyttleton) fundou o The Morning Post, um jornal sobre notícias distintas, quase todas falsas. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/28/cultura/1493389536_863123.html Acessado em: 23/10/2019
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Saindo do contexto eurocêntrico, no nosso país possuímos um acontecimento


recorrente de fake news que teve um papel primordial para a nossa transformação política,
que vai ser narrado no livro “1889” do jornalista Laurentino Gomes, onde o mesmo conta
como uma fake news foi responsável pelo fim da Monarquia e a Proclamação da República do
Brasil que tiverem como protagonista um imperador cansado, um marechal vaidoso e um
professor injustiçado. Um dos principais personagens dessa narrativa foi o major Frederico
Sólon, apesar de ter recebido do imperador Dom Pedro II uma espada de outro pelo seu bom
desempenho na guerra do Paraguai.
Tudo inicia com rumores que foram plantados na rua do Ouvidor que era tida como
coração e ouvidos do Rio de Janeiro, o major Frederico Solón com os rumores tinha como
objetivo acirrar os ânimos contra o governo, naquele dia ele saiu de casa com um terno,
gravata, chapéu de feltro preto e óculos escuro, porque achava que assim seu objetivo seria
bem sucedido do que aparecer com trajes militares. De fato, foi o que aconteceu, o boato saiu
da rua do Ouvidor rapidamente e chegou ao quartel, onde teve o princípio revolucionário. O
boato foi de que por ordem do primeiro-ministro Visconde de Ouro Preto, o marechal
Deodoro da Fonseca que estava doente com sintomas de falta de ar, havia sido preso. Junto
com Benjamin Constant ( Um líder republicano e pacifista na Guerra do Paraguai) e além
disso Dom Pedro II tinha mandato tropas para o interior para afastar o exército do Rio de
Janeiro para evitar rebeliões na capital.
A intenção do boato era levar os militares a se indispor contra o imperador e
aproximá-los do movimento republicano, e tudo saiu como planejado. Em questão de horas a
notícia se espalhou por toda cidade e tudo falado era falso, ninguém tinha sido detido e nem
as tropas tinham se deslocado para o interior. Por muito tempo a rua do ouvidor era tida como
palco de notícias sobre a elite brasileira e todas informações passavam por ela. Na madrugada
do dia 15, Deodoro que era um homem respeitado nas forças armadas foi informado do plano
de prendê-lo e logo pela manhã atravessou o Campo de Santana (local onde a proclamação do
Imperador ocorreu), ali era a sede do Senado, Comando do Exército e a Casa da Moeda.
Deodoro se reuniu com cerca de 400 militares republicanos, montou em um cavalo e
tirou o chapéu e possivelmente gritou “Viva a República” ou apenas prometeu conseguir
destruir o gabinete dos ministros. As tropas avançaram para o Paço Imperial e Visconde de
Ouro Preto (presidente do gabinete de ministro) foi preso e na tarde do mesmo dia a Câmara
do Rio de Janeiro recebeu oficias republicanos que proclamaram a República. Com este fato,
18

percebe-se que a nossa história é dividida entre mitos e verdade que causaram e causam
transformações e mudanças na nossa sociedade através da política e outros mecanismos.

2.3 A PROFISSIONALIZAÇÃO DA IMPRENSA

No século XIX, com a invenção do telégrafo vão surgir os tabloides e folhetins que
eram chamados em inglês de “penny press”, que eram escritos por pessoas que geralmente
utilizavam pseudo-nomes e perpassavam as notícias para os cidadãos por um baixo custo e
com rápida propagação, o teor sensacionalista eram bastante recorrentes e factuais com o
objetivo de atrair mais leitores e consequentemente atenção. Os folhetins eram cheios de
histórias, lendas e notícias sobre as famílias de maior poder aquisitivo que muitas vezes
pagavam para noticiar escândalos sobre seus opositores e concorrentes. Diversos casos eram
histórias inverídicas e falsificadas, naquela época o jornalismo ainda era bastante informal e
não tinha técnicas de apuração, que vão ser aperfeiçoadas no final do século.
Historicamente, esses avanços foram possíveis graças à despolitização do poder das
igrejas e universidades no século XVIII, que permitiu os jornalistas uma maior liberdade
para a disseminação de notícias.

E a Revolução Francesa, símbolo da queda de regimes monárquicos e do


poder aristocrático, foi também, ao mesmo tempo, a conquista do direito à
informação [...]. Assim, todo o saber acumulado e reservado aos sábios passa
agora a circular de forma mais ou menos livre. E são os jornalistas que irão
abastecer esse mercado. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 18)

Nos anos finais do século XIX, as revistas foram se aprimorando e a necessidade de


uma imprensa mais imparcial e profissional ganha notoriedade com a fundação do The New
York Times em 1896 e a resolução da sociedade civil americana com a exigência de uma
apuração factual mais concisa e relativa. O jornalismo era considerado político e literário.
Até o século XIX, as notícias falsas recebiam a nomenclatura de boatos, termo
definido por Hoyler (1996, p.59) “Entendemos como boato a notícia que, embora não
corresponda à realidade, se apresenta de difícil comprovação e, além disso, de grande
interesse, o que determina sua intensa circulação entre as pessoas.” Os boatos conseguiam se
difundir de várias formas e as mais comuns seriam os meios de comunicação de massas
(Jornal e Rádio), mas inicialmente a disseminação era feita de pessoa para pessoa.
Já no século XX, as transformações na conjuntura políticas que advém com os
conflitos bélicos, vão transformar a livre circulação de notícias em censura e o jornalismo vai
19

se tornar uma arma de alienação e controle da população. Até a I Guerra Mundial, os


impressos preponderavam como meios de informação. Já na II Guerra Mundial, junto aos
periódicos e aos demais materiais impressos, a vida social passou a contar também com o
rádio que contava com uma batalha de funcionários para trabalhar com a manipulação 24
horas por dia, como citou a obra “1984” de George Orwell que retrata uma sociedade que vive
nas sombras do autoritarismo, onde é monitorado e alienado pelas ideias do ditador, o qual os
observa até mesmo dentro das suas casas através das janelas e quem ousar ler ou buscar ideias
por outra perspectivas é punido severamente.

Resulta da própria natureza das coisas que quanto maior a mentira mais fácil
será que acreditem nela, pois a massa popular, nos seus mais profundos
sentimentos, não sendo má, consciente e deliberadamente, é menos
corrompida e, devido à simplicidade do seu caráter, é mais frequentemente
vítima de grandes mentiras do que de pequenas. (HITLER, 1943, p. 252)

Os nazistas usavam as notícias falsas como ferramenta de persuasão e propaganda


política, tendo como objetivo implementar medidas autoritárias e justificar a opressão sobre
os judeus, supremacia branca e soberania nacional.
Com isso, a criação de fatos e campanhas de desinformações serão corriqueiros
durante todo o período de guerras, com o fim dos conflitos as ditaduras ganham notoriedade e
as disputas eleitorais vão para o campo do populismo e do discurso, geralmente se baseia em
informações distorcidas e forjadas, manipulando opiniões e pensamentos. Nas democracias
modernas, a propaganda eleitoral tornou-se o eixo central das atividades eleitorais.
O Brasil assim como todo o mundo teve na linguagem informal sua principal forma de
comunicação por muitos séculos, a partir da primeira metade do século XX nosso modelo de
jornal era influenciado pelos franceses com textos subjetivos e com grande espaço para
discussões filosóficas, só na segunda metade do século XX o imaginário americano ganhou
notoriedade e narrativas objetivas com perguntas chaves que traziam mais concretude para as
matérias, o papel do intelectual e eruditos que eram destaque desde o império perdem força
para o jornalismo profissional.
A primeira legislação da profissão de jornalista do país foi sancionada em 30 de
novembro de 1938 pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas, esse decreto visava
regulamentar a duração e condição de trabalho nos jornais, ademais objetificava registrar e
cadastrar os profissionais no Ministério do Trabalho e ter o controle sobre aqueles que
desempenhavam a função. O decreto ocorreu em um momento de tensão de Vargas com a
20

imprensa, o Estado Novo estabeleceu censura no país e criou o Departamento de Imprensa e


Propaganda (DIP), para controlar jornais e rádios.

A propaganda política constitui, pois, um elemento preponderante da política


de massas que se desenvolveu no período de entre guerras com base nas
críticas ao sistema liberal considerado incapaz de solucionar os problemas
sociais. Nesses anos vivenciou-se, de forma genérica, uma crise do
liberalismo. A Primeira Guerra e a Revolução Russa provocaram, segundo
inúmeros autores, uma crise de consciência generalizada que, por sua vez,
resultou em críticas à democracia representativa parlamentar individualista.
O pensamento antiliberal e antidemocrático, de diferentes matizes, revelava
extrema preocupação com a problemática das massas. (...) Mas, nessa época,
outras vozes se levantaram colocando novas soluções para o controle
popular: a fim de evitar a eclosão de revoluções, propuseram que o controle
social fosse feito por meio da presença de um Estado forte comandado por
um líder carismático, capaz de conduzir as massas pelo caminho da ordem.
Nesse contexto, a propaganda política foi considerada elemento importante
de atração das massas na direção do líder (CAPELATO, 2009, p. 43)

Com isso, é perceptível que além da propaganda, o aparato burocrático dos Estados
autoritários exerce uma rigorosa censura aos veículos informativos, com objetivo de impedir a
circulação de discursos que vão contra o projeto político estatal de Vargas. A autora Maria
Helena Capelato, a Constituição brasileira de 1937 legalizou a censura prévia aos meios de
comunicação, que os investiu de caráter público e os transformou em “instrumento do Estado
e veículo oficial da ideologia estadonovista” (CAPELATO, 1998, p. 79)
A priori ocorreu o fechamento de revistas que tinham vínculos partidários e o governo
investiu em sua auto propaganda através do seu populismo, por exemplo: “Jornal A Manhã,
revista Cultura Política e o programa Hora do Brasília no rádio”. Durante seus mandatos seu
principal opositor foi Carlos Lacerda que era fundador do periódico “Tribuna da Imprensa”
que denunciava os crimes e abusos no seu governo, que foi uma pessoa chave para o suicídio
de Vargas após o atentado na Rua Tonelero.

2.4 OS FACTOIDES NO GOVERNO VARGAS

O assassinato do governador João Pessoa no século XX foi tido como um dos


principais acontecimentos da primeira metade do século, foi um episódio fático que mudou os
rumos da política do Brasil, decretando o fim da República Velha e início do Governo Vargas.
Os empasses sobre um crime passional ou homicídio foi narrativa do livro “A Fabricação do
Mito João Pessoa” com autoria de José Luciano de Queiroz, que busca uma explicação
21

científica sobre o crime que ocorreu em 26 de julho de 1930 pelo advogado João Dantas, no
Recife. O autor afirma que sem a morte de João Pessoa e o tratamento político que foi dado,
com a peregrinação do corpo por todo país e quase uma santificação do mesmo, dificilmente
Vargas teria ascendido a Presidência da República e tomado poder através do que ficou
conhecido como Revolução de 1930.

Com a finalidade de comemorarem o feriado de 26 de julho, e reiterarem a


memória de João Pessoa. O governo legislava obrigando a realização de
prelações nos estabelecimentos de ensino, objetivando ressaltar as atitudes
patrióticas do grande Paraibano.”8 Pode ser analisado nesse fragmento a
inserção de grandes heróis locais e nacionais durante o século XIX que
almejava instigar o patriotismo. João Pessoa “operava pelo sacrifício”, no
domínio místico, a salvação que não pudera operar no domínio cívico
(CARVALHO, 1990, p.68).

Essa narrativa do imaginário conforme faz José Murilo de Carvalho em A Formação


das Almas, ao analisar o imaginário da República, os conflitos em torno do mito, dos
símbolos nacionais e heróis.
A morte de João pessoa, que na época tinha perdido as eleições presidenciais em
março de 1930 enquanto vice-presidente na chapa de Vargas para Júlio Prestes ajudou Getúlio
a alimentar uma insatisfação popular que somado com as acusações de fraude e o momento
financeiro conturbado em consequência da crise de 29, desencadeou na destituição de
Washington Luís, a quem Pessoa se posicionou contra, impediu a posse de Júlio Prestes e
tornou Vargas chefe de estado provisoriamente. A ideia criada de um mito foi sendo
construída quando várias cidades foram homenageando o político batizando ruas, avenidas e
praças pelo país com seu nome.
Não há regime político que não cultue seus heróis e não possua seu panteão
cívico. Em alguns casos, os heróis surgem quase espontaneamente, a partir
das lutas que antecedem a nova ordem. Em outros, de menor profundidade
popular, foi necessário esforço na escolha e na promoção do herói. A
ausência da participação popular na implementação do regime republicano
leva a compensação por meio da mobilização simbólica (CARVALHO,
1990, p.55)

O governador da Paraíba que estava há dois anos no poder estava implementando uma
política moderna e centralizadora, que rompia com interesses das oligarquias, os coronéis que
dominavam as lideranças políticas e econômica começaram a perder força, exemplos claros
foram às obras contra a secas que passaram para o estado, política de desarmamento, criação
8
Reportagem do Jornal A União, João Pessoa, 25 jul. 1942, p. 6 Disponível em:
https://auniao.pb.gov.br/servicos/arquivo-digital/jornal-a-uniao/decada-de-1940/1942/julho/a-uniao-25-07-
1942.pdf/view Acessado em: 27/10/2019
22

de impostos e a criação do Tribunal de Contas. Com esses conflitos, a decisão de mudanças


de chefias e cargos públicos incomodou a família Dantas, dentre outras. João pessoa trocou
juízes e delegados oligárquicos, os novos delegados passaram a perseguir famílias como
Suassuna e Dantas.
O Jornal “A União” foi usado por Pessoa para atacar desafetos e na semana
do seu assassinato ele proliferou diversas ofensas sobre um suposto roubo
dos cofres públicos e de verbas para combater a seca. Esse crime segundo o
historiador e autor foi um crime nem passional, nem político, foi uma
vingança de cunho pessoal.9

Ademais, em 1937 Getúlio deu um golpe de Estado intitulado de Plano Cohen, para
que ele continuasse no poder, ocasionado após a criação da Constituição de 34 que estabelecia
novas eleições em 1938, grupos de esquerda e direita ganhavam espaço e Luís Carlos Prestes
era líder da Aliança Nacional Libertadora que tinha caráter marxista e estava ganhando
bastante espaço. Para forjar o golpe isso era positivo para seus planos, e em 1937 o presidente
comunicou o povo brasileiro sobre um plano comunista no Brasil, aterrorizando a população
sobre um golpe comunista que não iria acontecer e assim Vargas aproveitou para instaurar
uma ditadura “democrática” e instaurou o Estado Novo.
Com o fim da ditadura do estado Novo (1937-1945), veio as eleições diretas e os dois
candidatos mais fortes eram altos oficiais das Forças Armadas: Eurico Dutra do Exército e
Eduardo Gomes, da Aeronáutica. Deposto, Vargas apoiou Dutra. O grande protagonista dessa
fake news foi Hugo Borghi, um empresário que financiou a campanha do “queremismo”,
expressão utilizada por defensores da permanência de Getúlio no poder, próximo das eleições
Vargas mandou seus eleitores votarem em Dutra.
Borghi teve uma ideia de mandar imprimir panfletos por todas as cidades divulgando
uma suposta declaração de Eduardo Gomes: “Não preciso dos votos dos marmiteiros”, com a
intenção de menosprezar as populações mais pobres e as que comiam quentinha no trabalho.
O estrago foi enorme, Dutra se defendeu dizendo que não podia controlar seus eleitores e
Eduardo Gomes em um dos seus discursos proferiu a seguinte frase: “Não necessito dos votos
dessa malta de desocupados que apoia o ditador para eleger-me presidente da República”. 10
Faltando um mês para as eleições Gomes estava disparado nas pesquisas, mas um erro
na sua frase custou sua candidatura. “O autor da primeira fake news buscou o significado da

9
G1, João Pessoa, 27/07/2020. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2020/07/26/morte-de-
joao-pessoa-90-anos-do-crime-que-marcou-a-paraiba-e-mudou-a-politica-no-brasil.ghtml Acessado em:
28/10/2019
10
CPDOC. Plano Cohen,RJ.2020. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-
37/GolpeEstadoNovo/PlanoCohen Acessado em: 28/10/2019
23

expressão “malta” e descobriu que dentro os significados poderia ser entendido como “Grupo
de operários que percorrem as linhas férreas levando marmita” 11, as rádios e jornais
noticiaram o fato e Dutra virou o jogo político e se tornou presidente.

11
CPDOC. Marmiteiros.2009. Disponível em: http://www.fgv.br/Cpdoc/Acervo/dicionarios/verbete-
tematico/marmiteiros Acessado em: 01/11/2019
24

3 FAKE NEWS E A POLÍTICA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI

3.1 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

No ano de 1998 o presidente Fernando Henrique Cardoso se reelegeu, seu primeiro


mandato foi marco pela estabilização monetária e reformas constitucionais, mas o que teve
grande preponderância na sua campanha política foi sua relação com a mídia, com destaque
ao grupo Globo e ao Jornal Nacional. A gestão PSDB no poder estava cercada de grandes
empresários, direitistas, liberais que dominavam os grandes veículos de notícias do país, no
período eleitoral a campanha de FHC era centrada nos feitos do seu mandato e buscavam tirar
o foco dos seus possíveis opositores.
A política nacional brasileira inicia os anos 2000 com Fernando Henrique Cardoso no
poder, as transformações e a inserção de novos veículos de imprensa no cenário nacional
foram cruciais para uma nova forma de conquistar prestígio e aceitação popular. No último
processo eleitoral FHC teve certo favoritismo em detrimento dos demais por parte da mídia,
vale ressaltar que o mesmo foi responsável por diversas concessões de rádio e TV. Graça
Caldas (1998) mostra que 10 grupos familiares dominavam a radiodifusão no Brasil: em
primeiro a família Marinho, com 17 tvs e 20 de rádio; em seguida a RBS, da família Sirotsky,
com 14 tvs e 21 rádios; na terceira posição vem a Bandeirantes, da família Saad com 9 tvs e
21 rádios.
Na região Norte e Nordeste aparecem nomes como Antônio Carlos Magalhães, José Sarney,
Jader Barbosa, Collor de Melo, entre outros. Já no Sul e Sudeste, aparecem Orestes Quércia,
Paulo Pimentel e José Carlos Martinez, entre outros.

O padrão histórico no mercado de comunicação brasileiro é concentrado em


famílias vinculadas ou que fazem parte da elite política, ao lado da
concentração de propriedade, duas outras características que têm
historicamente identificado o sistema brasileiro de comunicações não
apresentam indícios significativos de alteração com "reformas para o
mercado" em curso no setor de comunicações. Trata-se da presença de
dominante de grupos familiares e da vinculação com as elites políticas locais
e regionais. (LIMA, 2001, p. 104)

Esse monopólio midiático foi responsável por um mecanismo de fabricação de opinião


que simula a democracia, onde os mesmos produzem notícias favoráveis e desfavoráveis para
atender seus interesses políticos. Diversos jornais e revistas do período foram responsáveis
por criar campanhas políticas e factoides que conseguiram alterar e manipular a opinião
25

pública sobre determinado candidato, agindo como um controle social que contribui para o
processo de massificação da sociedade. Para Ciro Marcondes Filho (1986) “informação em
qualquer nível da sociedade é sinônimo de poder e quem tem o controle da informação
sempre acredita que também pode controlar o poder.” A informação significa poder, pois uma
das primeiras medidas na instalação de um governo autoritário é instituir o controle da
informação: esse controle desnuda ao mesmo tempo a fragilidade desse poder
(MARCONDES FILHO, 1986, p. 100).
O governo de Fernando Henrique Cardoso sempre teve apoio da “Grande Mídia” que
retratava seus grandes feitos e conquista, o mesmo usou desse artefato nas suas campanhas
políticas. O controle da mídia dos grandes grupos política vai ser a principal ferramenta de
manipulação, a exclusão de certos candidatos, mentiras e autopromoção serão destaque na
primeira década dos anos 2000. A análise terá início com a campanha política de FHC em
1998 e a Rede Globo como peça fundamental da consolidação do candidato no 1º turno.

 Fernando Henrique Cardoso e a Rede Globo

Na eleição de 1989, a Globo foi acusada de selecionar os melhores momentos de


Collor e os piores do Lula durante o debate promovido pela emissora, favorecendo, assim, o
candidato de PRN. Foi acusada também de privilegiar as intervenções de Collor, já que ele
recebeu um minuto e meio a mais do que o Lula. O PT moveu uma ação no Tribunal Superior
Eleitoral para que novos trechos do debate fossem apresentados no Jornal Nacional, mas o
pedido foi negado. Em frente à sede da emissora houve protestos de aliados ao PT e atores. A
partir desse episódio, a emissora carioca soltou uma nota: “A partir deste episódio, a Globo
decidiu não editar debates políticos, limitando-se a apresentá-los na íntegra e ao vivo.
Concluiu-se que, ao condensar um debate, bons e maus momentos dos candidatos ficarão de
fora, segundo a escolha de um editor ou de um grupo de editores, e sempre haverá a
possibilidade de um dos candidatos se sentir prejudicado12“.
Com isso, no período anterior de 1998 era perceptível a ausência quase total de
campanhas políticas no noticiário, tratou-se de uma decisão pensada na empresa, e repassada
para as afiliadas locais. A justificativa era que ocorreu um grande desgaste na imagem da
emissora e na sua credibilidade por conta dos últimos pleitos. Mas esse esvaziamento da
cobertura eleitoral pela Rede Globo talvez não foi coincidência, visto que era uma estratégia

Eleições de 1989 Disponível em: https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/jornalismo-e-telejornais/jornal-


12

nacional/reportagens-e-entrevistas/eleicoes-1989-e-o-debate-collor-x-lula/ Acessado em: 25/06/2021


26

de Fernando Henrique Cardoso para sua reeleição, cedendo menos espaço para os
concorrentes e aproveitando seus índices de popularidade. O Jornal Nacional demostrou
bastante parcialidade, como afirma Luís Fernando Miguel (1999):

Em 1998, o Jornal Nacional recusou-se a incorporar em sua pauta os temas


que eram apresentados na propaganda eleitoral. Os principais candidatos da
oposição, Lula e Ciro Gomes, enfatizaram em seus programas de televisão o
desemprego, apresentado como o principal problema social do país; Lula
insistiu também na seca que assolava a região Nordeste, causando a fome de
milhares de sertanejos. (Um terceiro tema, a crise financeira). O aumento do
desemprego e a seca, tanto quanto outros problemas enfrentados pelo
governo (em especial, um grande incêndio que devastava a Amazônia),
haviam ocupado pouco espaço. (MIGUEL, 1999, p.253)

Essa campanha eleitoral teve como desfecho a reeleição de Fernando Henrique


Cardoso, e a imprensa passaram por algumas reformulações, para que sejam menos parciais.
A Rede Globo adotou diversas medidas que entraram em vigor durante os anos posteriores,
mas segundo estudiosos a imprensa brasileira apenas camuflou seu favoritismo e nunca
deixou de favorecer camadas sociais elitistas que possuem fortes relações parentais ou
clientelistas com grandes veículos de imprensa. Segundo Abramo (2003) diz que:

O que torna a manipulação um fato essencial e característico da maioria da


grande imprensa brasileira hoje é que a hábil combinação de casos, dos
momentos, das formas e dos graus de distorção da realidade submete, em
geral em seu conjunto, a população à condição de excluída da possibilidade
de compreender a realidade real e a induza a consumir outra realidade,
artificialmente inventada” (ABRAMO, 2003, p. 33).

A Rede Globo de Televisão em 2002 concretizou suas mudanças de postura em


relação aos pleitos eleitorais. Não se sabe se os reais motivos para as transformações foram de
13
natureza jornalística, empresarial ou política, mas Luís Fernando Miguel diz que “não se
pode negar que ocorreram avanços os importantes na direção da imparcialidade em relação
aos candidatos relevantes e uma notável ampliação da massa de informações colocada a
disposição do público. Sem pretender reduzir o alcance de tais informações, cumpre observar
que a abertura da Globo á disputa eleitoral foi proporcional para cada candidato. Ainda que
esse argumento possa ser controverso entre alguns analistas, o certo é que no ano de 2002 o
presidente Luís Inácio Lula da Silva se tornou presidente.

13
MIGUEL, Luis Felipe. Mídia e eleições: a campanha de 1998 na Rede Globo. Dados, Rio de Janeiro, v. 42, n.
2, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0011-
52581999000200002&lng=pt&nrm=iso Acessado em: 29/06/2021
27

O pleito foi definido por longa cobertura da imprensa, como aferiu Mauro Porto. O
candidato Lula inovou na sua campanha em relação aos anos anteriores, evitando críticas ao
governo de Fernando Henrique Cardoso e evitou polêmicas que pudesse desgastar sua
candidatura, investiu no simbolismo e na sua imagem pessoal. Valorizou a imagem de esposo
e tirou do foco á imagem de sindicalista para projetar um estadista. A relação mais intensiva
do Partido dos Trabalhadores (PT) e a Mídia foi posterior a sua derrota em 1994, segundo
Ricardo Kotscho, assessor de imprensa do candidato e posteriormente presidente Lula,
afirmou que o partido pós derrota fez uma aproximação com empresários brasileiros,
incluindo proprietários de meios de comunicação. “1989 não exista nenhum contato do
partido com a cúpula de empresas de telecomunicações, Já, em 1994 começamos a conversar,
almoçar e jantar. O PT e o Presidente Lula, para firmar alianças”14 diz Kotscho. Com isso, fica
perceptível que a mídia é um caminho fundamental para chegar no poder.
Vinício Lima (2003) aborda o “Significado Político da Manipulação na Grande
Imprensa”. Ele defendia que a imprensa não retrata a realidade, mas constrói outra realidade a
partir do seu reportório. Após identificar cinco padrões de manipulação (indução,
fragmentação, ocultação, inversão e global), ele conclui que a grande imprensa atua como
verdadeiro partido político, defendendo interesses das elites as quais representa. O significado
político da manipulação reside em uma hipótese de que os órgãos de comunicação se
transformam em novos órgãos de poder, em órgãos político-partidários, e é por isso que eles
precisam recriar a realidade onde se exerce esse poder, e para recriar a realidade precisam
manipular informações.

3.2 LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA

O governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) foi marcado por uma
campanha bastante incisiva e repleta de notícias tendenciosas e falsas, por parte dos seus
opositores. O medo da esquerda no poder fez com que o candidato Lula tomasse decisões
diferentes das campanhas anteriores, visto que ele passou a buscar apoio em vias políticas
diferentes e buscar um eleitorado novo, como os evangélicos e direitistas. Tentou se

14
Afirmou esta aproximação com empresas de mídia em duas oportunidades: primeiro em uma conferência na
Assembléia Legislativa em Florianópolis, maio de 2002. Segundo em entrevista para a revista Caros Amigos, n.
91, out, 2004, p. 35. Acessado em: 29/06/2021
28

desvincular da esquerda mais extremista e incorporou um papel mais moderado, porém isso
não foi suficiente para evitar ataques15.
A mídia mais conservadora esteve á frente de muitas notícias falsas e potencializaram
algumas fake news, destacam-se: A possível declaração de Lula ser a favor da bomba
atômica, ser contra os evangélicos, a favor do aborto e das Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia (FARC).

 PT e as Igrejas Evangélicas

Os boatos que envolvem a relação do PT com evangélicos se sucede desde os anos 90,
quando diversos candidatos petistas demonstraram ser a favor de assuntos contrários aos
preceitos religiosos. Na candidatura de Lula em 2002 não foi diferente, dentre diversos
argumentos encontrados, o jornal Folha de São Paulo 16listou alguns argumentos proferidos
por seus opositores.
Além de disputar o voto dos evangélicos, a maior preocupação da
coordenação petista é desmentir a "boataria" sobre o fechamento das igrejas
evangélicas, a legalização do aborto e o casamento de homossexuais, caso o
PT vença as eleições. [...] A liderança da frente evangélica diz acreditar no
fechamento de igrejas por parte PT. "Eles carregam a ideologia do Lula, que
vai fazer dos templos supermercados", disse o pastor da Assembleia de Deus
Paulo Freire. (AUTOR DESCONHECIDO, 2000, grifo nosso).

Para tentar combater esses boatos que conseguiu percorrer todo o país, quando estava
faltando poucos dias para a eleição, o comando da candidatura de Lula tenta conquistar o voto
dos evangélicos, especialmente os indecisos. Foi lançado um comitê “Evangélicos Pró- Lula”
que era responsável por cadastrar fiéis para enviar por correio materiais de propaganda para a
campanha e estimular as pessoas a distribuir esses materiais, eles tentaram conseguir contato
com a maioria de evangélicos possível, que representavam em 2002(15,45% da população),
para o marqueteiro o principal objetivo disso erra barrar os boatos e aproximar o Lula das
comunidades. O partido contou com uma jogada de marketing que foi distribuir um panfleto
intitulado “Carta aos Evangélicos17” nas portas das igrejas e por todas as cidades do país. O
documento foi feito para desmitificar o boato que se espalhou por todo país e afetou uma

15
Lula e a Velha Política https://teoriaedebate.org.br/2013/07/26/%EF%BB%BF2002-lula-derrota-a-velha-
midia/. Acessado em: 01/07/2021
16
“Evangélicos Pró- Lula: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/campinas/cm1810200003.htm Acessado em:
01/07/2021
17
Carta aos Evangélicos: https://lae.princeton.edu/catalog/e9c5f468-a873-497f-8fd0-a5ac1ce20fdc Acessado
em: 02/07/2021
29

camada importante de votos que seriam cruciais para a eleição do candidato. Em suma, a
carta dizia que:
Em primeiro lugar minhas saudações, a todos os evangélicos do país.
Escrevo reconheço a importância que as comunidades e igrejas evangélicas
tem no nosso país e porque dou muito valor as aspirações de decência[...]
Estou muito à vontade porque elaboramos um plano de governo que honra
todos esses compromissos [...] Somos verdadeiros parceiros na construção
deste nosso país. [...] Quero agradecer o carinho, o amor cristão que vocês
têm demonstrado.” (Grifo Nosso)

 Lula apoiador da FARC e Bomba Atómica

Próximo das eleições, o candidato José Serra (PSDB) endureceu seus discursos e
dissertou um discurso bastante grave e polêmico sobre o candidato Lula (PT), o mesmo
afirmou que Lula era a favor da bomba atômica, era “duas caras” e era a favor da FARC
(Força Armadas Revolucionárias da Colômbia). Segundo o repórter Mário Magalhão 18, Serra
afirmou: “O Lula tem pelo menos [duas] fases. (...) Eu espero que as duas rapidamente
convirjam. (...) Espero que o Lula faça essa convergência. O que o Lula e o PT pensam. E o
Lula paz e amor. O PT real e o PT da TV".
O candidato petista Luís Inácio Lula da Silva, para se defender das críticas do
adversário, usou parte do seu tempo no Jornal Nacional para tecer críticas ao modo de agir da
guerrilha e defende uma negociata para a crise colombiana e disse que o Brasil poderia ajudar
se fosse “convidado”.
Se eles [as Farc] tivessem a consciência que eu tenho e pensassem como eu
penso, teriam formado um partido político e teriam disputado as eleições
como eu estou, para ganhar democraticamente, como mandam os bons
costumes", disse Lula, em entrevista ao "Jornal Nacional", da Rede Globo.
(Grifos Nossos)

Lula também buscou desfazer a controvérsia criada com declaração crítica quanto ao
tratado de Não-Proliferação Nuclear, após Lula se dizer a favor ao direito de o Brasil construir
usinas nucleares, mas enfocou que seria usada de forma correta, conforme os tramites legais e
constitucionais. A principal função dessa energia seria para enriquecimento de uranio e
produção de energia nuclear, não tinha nada a ver com bomba atômica.

18
Lula e a Bomba Atômica Link da Reportagem: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1809200213.htm
Acessado em:02/07/2021
30

“Não critiquei a assinatura do tratado. O que disse é que os EUA não estão
cumprindo aquilo que assinaram junto conosco. Quem não tinha [armas
nucleares] assumiu o compromisso de não produzir e quem tinha assinou o
compromisso de desativar. E [os EUA] não estão desativando 19.” (Grifos
Nossos)

Contudo, no governo Lula as principais notícias falsas vão ganhar enfoque nos
períodos que antecedem os pleitos políticos, não vai haver grandes boatos relevantes sobre o
presidente nos primeiros anos de pleito. Mas vale destacar que assim como Fernando
Henrique Cardoso, Lula também distribui concessões de rádios e tvs para seus aliados.
Houveram muitas concessões de emissoras comunitárias e muitos tinham grandes políticos
como proprietário. Segundo reportagem de Elvira Lobato 20na Folha de São Paulo, o governo
Lula reproduziu uma prática dos que o antecederam e distribuiu pelo menos sete concessões
de TV e 27 rádios educativas a fundações ligadas a políticos. Também foi generoso com
igrejas: destinou pelo menos uma emissora de TV e dez rádios educativas a fundações ligadas
a organizações religiosas. Segundo a jornalista, esse fenômeno confirma a afirmação de
funcionários graduados do Ministério das Comunicações de que, no Brasil, a radiodifusão "ou
é altar ou é palanque".
A política de boa governança do presidente Lula e a mídia não duraram por muitos
anos, em 2005 escândalos de corrupção envolvendo o partido sucumbiram o governo petista.
Thompson (2002) lembra que um escândalo se refere às ações ou acontecimentos que
implicam transgressões de valores, normas ou códigos morais, que revelados motivam
emoções e respostas públicas. “O Mensalão”, financiamento de campanha com Caixa 2 e
outras suspeitas de corrupção levam aos grandes canais jornalísticos a ceder críticas ferrenhas
ao governo.
A maior fake news do governo Lula, não aconteceu com o mesmo, mas sim, com seu
filho Fábio Luís da Silva que em 2006 foi apontado como dono da empresa de proteína
animal Friboi/JBS. Segundo o “boatos.org 21” no período em que a notícia ganhou maior
circulação, o termo “Lulinha” foi o primeiro colocado no ranking de falsas notícias. Na
revista Carta Capital22, após longa apresentação sobre o crescimento da empresa, faz

19
Lula No Jornal Nacional Link da Reportagem: https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u38567.shtm
Acessado em: 03/07/2021
20
Governo Lula distribui TVs e rádios educativas a políticos. Elvira Lobato, Folha de São Paulo, São Paulo,
18/06/2006. Link: https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u79613.shtml Acessado em: 03/07/2021
21
Site do Jornalista e editor Edgard Matsuki que se propõe a checar as fontes de notícias falsas na
internet. Link: www.boatos.org Acessado em: 05/07/2021
22
A carne não é Fraca Link: https://www.cartacapital.com.br/revista/803/acarne-nao-e-fraca-9831.html.
Acessado em: 05/07/2021
31

referência ao processo movido pelos advogados da família de Luís Inácio Lula da Silva, onde
afirma o ponto de partida do boato, autoria e os grupos políticos que propagaram.

O polpudo apoio do banco estatal parece ser o combustível de um boato


recorrente na terra sem lei da internet. O “verdadeiro” dono do grupo,
espalha-se, seria um dos filhos do ex-presidente Lula. Cansado das ofensas,
Fabio Luís da Silva apresentou em abril uma queixa a polícia em São Paulo
e pediu a abertura de um inquérito para descobrir os responsáveis pela
disseminação das calunias. Lulinha mapeou a web e chegou a uma lista de
sites que parecem ter dado o pontapé inicial a história. A lista foi enviada
para a polícia. Entre os potenciais boateiros está Daniel Graziano, que
administra um site ligado ao Instituto Fernando Henrique Cardoso. Daniel é
filho de Xico Graziano, chefe da área de internet da pré-campanha
presidencial do senador tucano Aécio Neves. O jovem precisou ser intimado
três ou quatro vezes até aparecer na delegacia. Ao depor, admitiu ser
responsável por uma página eletrônica que difundiu o boato. A depender da
conclusão do inquérito, pode ser processado por calunia e difamação. A
extensão e a generosidade do apoio público a família Batista carece, porém,
de maiores explicações. (SCAPA, 2014)

3.3 DILMA À PRESIDENTE DO GOLPE

No ano de 2010 o pleito ficou entre a candidata Dilma Rousseff (PT) e José Serra
(PSDB), os demais não obtiveram grandes chances de vitória. Assim como os últimos anos as
eleições foram bipartidárias, entre os dois partidos de maior destaque no âmbito nacional.
Serra buscou mudanças apontando os escândalos de corrupção, juntamente com a mídia e
Dilma tinha o suporte do ex-presidente Lula que através dos programas sociais criados e um
índice de aprovação elevado conseguiu consolidar a candidatura da mesma. Dilma teve um
início de campanha com baixas intenções de votos e posteriormente ganhou bastante
expressividade, chegando ao segundo turno consagrou sua vitória e se tornou a primeira
presidenta da história do Brasil. Sua primeira corrida eleitoral foi cheia de confrontos entre os
candidatos, boatos, manipulação da mídia em benefício próprio e uso de aplicativos como o
Twitter e Orkut. Destacam-se: A fake news sobre a candidata Dilma ser a favor do aborto
(2010); Dilma proibida de entrar nos EUA (2010) e o suposto uso de Blogs para disseminar
Fake News por parte de Dilma Rousseff (2010).

 Dilma e o Aborto
32

Da mesma forma que o ex-presidente Lula foi alvo de boatos sobre sua possível
agenda progressista, a candidata Dilma também precisou se explicar para os conservadores
religiosos que negociavam um possível apoio. Segundo Maria Carolina Marcello do G1 23,
Dilma garantiu a líderes evangélicos que caso for eleita, não enviaria ao Congresso projetos
que prever a legalização da interrupção da gravidez e o casamento entre homossexuais. As
informações foram divulgadas por autoridades religiosas que se reuniram com a candidata,
segundo Marcelo Crivella (PRB-RJ) “Nós tratamos, todos nós líderes evangélicos. De
desmentir todos esses boatos que hoje estão penetrando as igrejas e engando crédulas e bem
intencionadas” disse o senador. Posteriormente, a candidata manifestou o desejo de acabar de
vez com as especulações “para não permitir que prevaleça a mentira como arma em busca de
votos” através de um documento. Na carta, Dilma aponta os adversários políticos como
responsáveis pela difusão de calúnias e boatos afirmou Robson Botin24.

“Dirijo-me mais uma vez a vocês, com carinho e respeito que merecem os
que sonham com um país mais perto da premissa do evangelho de desejar ao
próximo o que queremos para nós mesmos. É com esta convicção que
resolvi pôr um fim definitivo a campanhas de calunias e boatos espalhados
por meus adversários políticos.” (DILMA ROUSSEFF, grifos nossos)

A carta possui seis pontos abordados defendendo a liberdade religiosa, afirmar ser
pessoalmente contra o aborto e afirma que não irá adotar medidas que altere temas relacionado a
família e a livre expressão de qualquer religião. Fica nítido que pequenos boatos conseguem ser
espalhados e para serem desmentidos fica cada vez mais difícil, especialmente porque aplicativos
como Twitter e Orkut ganham milhões de adeptos e tem o poder de difundir informações por todo
o país.

 Dilma proibida de entrar nos EUA

O boato surgiu após o surgimento de um e-mail que questionava a presidente sobre


quem iria substitui-la em viagem para os Estados e outras nações parceiras do Brasil, já que
ela não poderia comparecer por causa de sua condenação pelo sequestro do embaixador norte
americano Charles Elbrick na década de 60 a notícia foi postada pelo site Olhar Direto25. Um
trecho do e-mail falso diz:
23
Dilma e os Evangélicos em 2010 Link: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/10/dilma-se-compromete-
com-evangelicos-a-lancar-carta-contra-aborto.html Acessado em: 06/07/2021
24
Dilma divulga carta aos evangélicos http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/10/dilma-
divulga-carta-para-por-um-fim-definitivo-campanha-de-calunias.html Acessado em: 07/07/2021
33

“Pergunta: No caso da Srª Dilma ser eleita Presidente do Brasil, quem será a
pessoa que irá aos Estados Unidos para a “fala habitual” na Assembléia da
ONU, ou discutirá com o presidente americano sobre questões de comércio,
por ser aceito no conselho maior daquela instituição internacional por
exemplo?”
“Resposta: A Presidente não irá, com 100% de certeza. Então, repete-se a
pergunta: Quem irá a Nova York, nos EUA, no lugar dela? Aqui vai a
explicação:”
“Dilma Rousseff foi condenada pelo sequestro do embaixador norte
americano na década de 60 (Charles Elbrick) lembra? Muitos países
periféricos já foram apanhados nesta armadilha e a maioria perdeu o cargo
que ocupava, para satisfação da oposição local. Nós temos a solução: Não
elegê-la presidente!”.

Tudo foi desmentido pela assessoria de imprensa de Dilma Rousseff, afirmaram que
ela não é proibida de entrar nos EUA e inclusive ela estava recentemente no país norte
americano a convite do presidente Barack Obama. Vinculado a isso, a nota também afirmava
que a ministra Dilma esteve nos EUA, França, Portugal, Espanha, Copenhague (Conferência
sobre mudanças climáticas da ONU) e Japão. Essa história começou quando um documento
falso divulgado afirmava que pelo Jornal Folha de São Paulo, que associava a então ministra a
grupos que sequestravam pessoas na ditadura. A reportagem diz que quem participou desse
episódio foi o deputado Fernando Gabeira, como relata o filme “O que é isso Companheiro?”.
Não havia menções sobre Dilma na ficha do DOPS 26 (Departamento de Ordem Política e
Social)
Para entender esse factoide, vale ressaltar outra notícia falsa que ocorreu em 2009 com
a então, ex-ministra da Casa Civil em 2009, o jornal Folha de São Paulo divulgou uma
reportagem associando Dilma á uma tentativa de sequestro e outros crimes durante a ditadura
militar, o documento apresentado era falso e sem fundamento. No dia posterior, o jornal se
retratou e Dilma Rousseff em nota repreendeu a reportagem negativamente. Reinado Azevedo
27
(2009) na sua coluna diária apontou dois erros graves, o primeiro foi afirmar na primeira
página que a origem da ficha era o “arquivo do Dops”. Na verdade, o jornal recebeu a imagem
por um e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade pelas
informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada.

25
Reportagem sobre suposta proibição da candidata Dilma de entrar nos EUA Link:
https://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=136404&noticia=boatos-x-dilma Acessado em:
09/07/2021
26
Mais informações sobre o Dops link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Departamento_de_Ordem_Pol
%C3%ADtica_e_Social
27
Dilma e a Ficha Dops link: https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/dilma-a-folha-e-a-ficha/ Acessado em:
07/07/2021
34

 Uso de Blogs para Disseminar Fake News

A suposta contratação de uma empresa de marketing para beneficiar a candidata Dilma


vai surgir através de uma investigação do site BBC Brasil28, esse trabalho não tem a finalidade
de provar a veracidade ou não, mas sim, analisar os fatos e buscar transmitir supostas fake
news com base em provas disponibilizadas por jornais e revistas. A jornalista Juliana
Gragnani e sua equipe foram responsáveis pelo trabalho.
A priori, o blogueiro Armando Santiago Jr passava o dia escrevendo notícias políticas
no seu blog chamado “Seja Dita Verdade”, era 2010 e ele defendia assiduamente a candidata
presidencial Dilma Rousseff (PT), dizia divulgar “a notícia transparente” e nessa eleição
surgiram muitos e-mails falsos caluniando a candidata. Armando afirmou em um tweet:
“Venho aqui nesse blog desmentir sempre que possível, desmentindo um por um”.
Esse Armando, no entanto, nunca existiu. Seu blog e seus perfis no Orkut e no Twitter
eram administrados por quatro pessoas que teriam recebido, para tanto, de R$ 3,5 mil a R$ 4
mil mensais entre maio e outubro de 2010. A BBC Brasil entrevistou três que dizem terem
sido contratados por uma empresa de marketing político em São Paulo para designar tais
tarefas. Seu trabalho, segundo relatam, eram fazer postagens desmentindo supostos boatos
sobre Dilma e publicar textos parciais e contrários ao candidato adversário José Serra
(PSDB), que acabou sendo derrotado no segundo turno.
A página também chegou a criar notícias falsas e disseminar seu conteúdo em cerca de
131 perfis no Twitter, segundo uma lista disponibilizada pelo site. A empresa apontada pelos
entrevistados como responsável pelo serviço é a Ahead Marketing, de Gabriel Arantes Cecílio
e na época também Lincoln de Azevedo. Em seu site, é descrito como uma agencia que
adaptou o “marketing de guerrilha” para a realidade política e oferece serviços de Invisible
Talkers (comunicadores invisíveis) e grupo de agentes treinados que inserem mensagens em
pontos estratégicos da cidade, por meio de diálogos entre eles mesmos ou com a população.
No final da campanha cada funcionário focou na manutenção de cerca de 20 contas,
não havia automação ou robôs, tudo era manualmente. Os funcionários disseram que nunca
tinham ouvido falar na criação de perfis falsos e iam aprendendo durante o processo de
criação, de certa forma se sentiram pioneiros e também achavam que a oposição também fazia
uso da mesma estratégia. Em 2010 os blogs e Twitter se equiparam ao WhatsApp e o
28
Dilma e os Blogs nas eleições link: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43118825 Acessado em:
10/07/2021
35

Facebook hoje, a investigação foi concluída em 2018 e a grande surpresa foi o uso de
estratégias que se tornaram conhecidas e populares somente em 2016, pois não se falava em
“fake news”, mas em boatos.
Quando questionados, a empresa negou ter participado na “produção de notícias
falsas”, mas não responderam sobre a criação de perfis falsos. A respeito da contratação feita
pela equipe da candidata, eles se recusaram a informar dados dos seus clientes e afirmaram
que a agência trabalhou dentro e fora do país com campanhas vitoriosas, no âmbito estadual,
municipal e federal (sem especificações). A investigação buscou a prestação de contas da
campanha de 2010 de Dilma e do PT e não identificou registros de pagamentos para a Ahead
Marketing, no entanto foi destinado R$ 234 mil, da campanha do aliado petista para
governador de Minas Gerais Fernando Pimente l (PT) a “G. Cecílio e Cia Ltda” de Gabriel
Cecílio Arantes, Pimentel foi um dos coordenadores da campanha de Rousseff. Por meio da
assessoria de imprensa Dilma negou que tinha contratado tal serviço. “A ex- presidenta Dilma
Rousseff, em nenhuma de suas campanhas, em 2010 e 2014, contratou ou autorizou que
fossem contratados quaisquer serviços relacionados a perfis falsos. Desconhecem quaisquer
das empresas e pessoas que agem nessa área” Da mesma forma, Pimentel, diretório do PT de
Minas disseram que” Não temos conhecimento sobre a contratação de qualquer empresa com
a finalidade de criação e manutenção de perfis falsos no Twitter em nenhuma campanha”
Em 2014, a disputa pela cadeira presidencial foi uma das mais acirradas da história,
sob efeito da Lava Jato e dos indícios de crise econômica no país. Dilma Rousseff conseguiu
derrotar o senador Aécio Neves (PSDB) por uma diferença de 3.4 milhões de votos. Da
mesma forma que no pleito anterior, uma pesquisa patrocinada pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) identificou o uso de robôs, ou seja, perfis falsos programados para fazer publicações,
que compartilhavam conteúdo das campanhas de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB)
e Marina Silva (Rede). O diretor de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) Marco Aurélio Ruediger29 disse que: “Se você pensar numa eleição disputada no
limitezinho, no final dela, com dois candidatos muito próximos, se você conseguir uma
distorção de 2%, 3%, isso significa a vitória de um em detrimento do outro. E isso muda
muita coisa”
No estudo não foram identificadas postagens com fake news, apenas constataram
frases positivas sobre os candidatos e links das suas respectivas campanhas. Sobre a candidata

29
Uso de Robôs nas Eleições de 2014em: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2018/03/candidatos-postaram-
usando-robos-nas-eleicoes-revela-estudo-da-fgv.htm Acessado em: 12/07/2021
36

Dilma, 509 robôs replicaram links e Aécio utilizou cerca de 700 robôs. A suspeita é que a
origem dessas empresas tenha ligações com fábricas de fakes no exterior, principalmente na
Rússia e Ucrânia.
No segundo mandato de Dilma Rousseff, ocorreram diversas insatisfações populares e
muitos boatos e rumores vindo do candidato perdedor Aécio Neves, que não aceitou ter
perdido e alegou fraude, uso de recursos ilícitos na campanha e alimentou o movimento anti-
petista que ganhava força desde 2013 e organizava derrubar o partido do poder. Mara Telles
(2016), o antipetismo é crucial para desequilibrar a balança das acusações, retirando o foco e a
importância de outros partidos envolvidos, ao mesmo tempo em que devastando a imagem do
PT. Nesse sentido, é preciso que se incorpore um horizonte mais amplo de análise, de modo
que consigamos explicar como um legislativo de baixíssima confiança popular e envolvido de
modo indelével nas investigações de corrupção operou uma ruptura política tão dramática sob
os aplausos de grande parte da população brasileira.
Nessa conjuntura vale ressaltar que aplicativos como Whatsapp e Facebook se
tornaram populares e muitas informações se tornavam rapidamente e a dependência de
notícias através de jornais e revistas se tornavam cada vez menores. Piavani (2017) diz que
outra tendência foi o crescimento de produção, divulgação e circulação de notícias fora dos
formatos tradicionais, o uso do contexto textual e audiovisual humorístico, como teoria
conspiratória, rumores e textos opinativos apócrifos ou de autoria erroneamente atribuída. Ou
seja, uma possível ampliação da circulação da circulação de temas políticos em formatos
informais e voltados não somente para a informação, mas também, para entretenimento.
Na semana da votação do Impeachment, um levantamento realizado pelo monitor
político do debate no meio digital da Universidade de São Paulo (USP)30 apurou que três das
cinco noticiam mais compartilhadas no país eram falsas, os responsáveis pela pesquisa foram
os professores Marcio Morreto e Pablo Ortellado da USP. O grupo investigou o desempenho
de 8.290 reportagens publicadas por 117 jornais, revistas, sites e blogs. A pesquisa trouxe à
tona a preocupação em relação aos conteúdos que estão sendo divulgados pelo Brasil e quão
prejudiciais podem se tornar, especialmente quando se trata dos processos democráticos. As
fakes news se tornaram centro das pesquisas para atores políticos e estudiosos da área.
A terceira noticia mais comentada foi que “Polícia Federal quer saber os motivos
para Dilma doar R$ 30 bilhões a Friboi” do site Pensa Brasil (obteve 90.150

30
Fake News e o Impeachment Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160417_noticias_falsas_redes_brasil_fd Acessado em:
12/07/2021
37

compartilhamentos). A reportagem foi desmentida pelo próprio presidente da JBS em


entrevista cedida à BBC Brasil, essa notícia sobre a suposta doação já circulava nas redes
sociais desde 2014, afirmando que a presidenta teria “concedido anistia de R$ 30 bilhões da
Friboi com o BNDES”
A quarta notícia mais comentada foi que “Presidente do PDT ordena que militância
pró-Dilma vá armada no domingo: “Atirar para Matar” do site Diário do Brasil (obteve
65.737 compartilhamentos)”. Procurado pela reportagem, o Diário do Brasil disse em
reportagem sobre o suposto presidente do PDT não era exclusiva e insistiu que a notícia era
real, ainda que o homem retratado na reportagem não fosse presidente regional na legenda.
Santos nunca foi líder do partido e nunca exerceu cargo de legenda
A quinta notícia mais comentado foi que “Lula deixa Brasília às pressas ao saber de
nova fase da Lava-Jato, seria um mandado de prisão?” do site Diário do Brasil (obteve
58.601 compartilhamentos). Em nota, o site afirmou que publicou a notícia, mas na
publicação original não afirmou nada a respeito do mandado de prisão. Mesmo com as
explicações, fica nítida que a notícia não possui confiabilidade, porque nenhuma etapa da
Lava Jato foi deflagrada nos últimos dias, muito menos fazendo menção ao ex-presidente
Lula.
A rede de factoides e fake news no Brasil em 2016 se tornou uma complexa
ramificação que se dissemina em todas as redes sociais. Sites como o Pensa Brasil, Diário do
Brasil, Folha Política, Implicante e Joselino Muller foram os principais sites difusores de
notícias falsas ou tendenciosas do período do Impeachment de Dilma Rousseff. O Revoltados
Online foi a mais influente pagina contra o governo do PT entre 2013 e 2016, chegando a ter
2 milhões de seguidores no Facebook e foi excluída por apologia ao ódio. Lutando contra as
fakes news, foram criados diversos sites dedicados à verificação de noticia falsa, como:
Boatos.org, E-farsas, Agência Lupa e Aos fatos.

Esse é um fenômeno que é importante de ser pensado, pois ao mesmo tempo


que é bastante difícil analisar caso a caso, não é possível ignorar o potente
alcance que cada pequeno compartilhamento pode gerar. O ponto aqui não é
afirmar que postagens individuais sempre atingirão um alcance significativo,
mas indicar que na dinâmica de circulação de rumores e notícias falsas, o
indivíduo comum tem um papel de destaque podendo ser o centro irradiador
de informações, ainda que não haja divulgação por grandes portais, páginas
ou personalidades de referência (CASTELLS, 2009, p. 65)

Com essa rede de fake news criada, vinculado com pressão popular e interesses
políticos dos adversários, em 31 de agosto de 2016 a presidenta Dilma Rousseff sofreu um
38

golpe político com a acusação de desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal e de atrasar o


repasse de 3,5 bilhões ao Banco do Brasil, o que se configurou “pedaladas fiscais”.

3.4 O BOLSONARISMO E AS MILÍCIAS DIGITAIS

Para entendermos o processo eleitoral de 2018, requeremos uma volta até as eleições
de 2016 nos Estados Unidos, para sintetizarmos como Donald J. Trump e a extrema-direita
utilizaram de fake news para se autopromover em detrimento dos seus oponentes. Nas
eleições de 2016 as fakes news ganharam grande visibilidade por todo o mundo, pois
estiveram presentes nos discursos e redes sociais. O cenário político estava dividido entre
Hillary Clinton (Democrata) e Donald Trump (Republicano), a candidata democrata foi
apontada vítimas de muitas inverdades, como: “Ser líder de uma rede de prostituição e trafico
infantil”31 e de “Vender armas para o Estado Islâmico.”32
O termo Fake News ganha repercussão após diversas mentiras e acusações
fraudulentas do Trump, o termo em inglês segundo o dicionário de Cambridge significa falsas
notícias que aparentam ser verídicas e que conseguem se espalham pela internet e meios de
comunicações. O termo também se refere quando a notícia tem o objetivo de controlar a
opinião pública, sendo usado com maior frequência em períodos eleitorais. No ano de 2016,
segundo o dicionário Oxford a palavra “Pós-Verdade”33foi eleita como palavra do ano depois
de ter se popularizado nas campanhas de separação do Brexit34 e nas eleições americanas,
ambos marcados por disseminação de factoides pelos candidatos ou figuras chaves da
campanha. E em 2017, “Fake News” 35 o termo se consagrou por ter se consagrado como uma
palavra usada por todo o mundo após 2016.

Os fatos que auxiliam a alimentar as informações falsas publicadas são “a


checagem mal feita, a apuração imprecisa, a pressa em publicar e outros
tantos deslizes nas rotinas produzidas”, além disso, a existência de sites

31
Fake News e a campanha de Hillary Clinton https://super.abril.com.br/mundo-estranho/pizzagate-o-
escandalo-de-fake-news-que-abalou-a-campanha-de-hillary/ Acessado em: 22/07/2021
32
Notícias Falsas nas Eleições de 2016 http://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-
eua/2016/noticia/2016/11/noticias-falsas-sobre-eleicoes-nos-eua-superam-noticias-reais.html Acessado em: 22/
07/ 2021
33
Brexit https://g1.globo.com/educacao/noticia/pos-verdade-e-eleita-a-palavra-do-ano-pelo-dicionario-
oxford.ghtml Acessado em: 23/07/2021
34
Explanação sobre o Brexit Acessado em: 23/07/2021
https://www.todamateria.com.br/brexit
35
https://g1.globo.com/educacao/noticia/fake-news-e-eleita-palavra-do-ano-e-vai-ganhar-mencao-em-dicionario-
britanico.ghtml Acessado em; 23/07/2021
39

especialmente criados para produzir inverdades para enganar e induzir o


público aos erros de informação (PORCELLO; BRITES, 2018, p.10)

No Facebook, 115 histórias falsas a favor de Donald Trump foram compartilhadas 30


milhões de vezes, contra 41 histórias falsas pró-Clinton compartilhadas 7,6 milhões de vezes
(ALLCOTT; GENTZKOW, 2017). Diversas outras plataformas ajudaram na propagação das
Fake news, o site Breitbart News de Steve Bannon, que foi estrategista-chefe da campanha de
Trump. Como também o canal de Tv Fox News, que através de mentiras influenciaram o voto
de milhões de americanos (DELLAVIGNA; KAPLAN, 2017).
O Grande escândalo da campanha de 2016 foi a compra de dados de mais de 50
milhões de usuários do Facebook para serem utilizadas pela empresa Cambridge Analytica,
que foi responsável pela campanha de Trump. A reportagem do The New York Times e The
Guardia36n, com tradução G1, afirma que a um ex-funcionário da empresa revelou que o
esquema começou em 2014, dois anos antes do pleito de 2016 e três anos antes do Brexit, as
informações dos usuários do Facebook foram coletadas pelo aplicativo “This is your digital
life” (Essa é sua vida digital em português). O escândalo gerou uma série de repressão à
empresa, que já estava sob suspeita de ser parcial, a Cambridge Analytica era presidida pelo
marqueteiro de Trump e em 2018 foi convidado para ajudar na campanha de Jair Messias
Bolsonaro. Esses dados foram usados para criar um sistema que permitiu atrair os eleitores
através de campanhas apelativas referente ao seu gosto.
Segundo o advogado Robert Mueller, um levantamento com os dados do Facebook e
Twitter, foram feitos cerca de 80.000 posts em texto no Facebook, 120.000 artigos falsos, 400
mil contas no Twitter, 131.000 tweets em 3 meses e 1.100 vídeos no Youtube. Tudo gerado
por robôs (MORAES, 2018). Os hackers tinham um público alvo certo e denegriam a imagem
de Hillary de todas as formas.

[...] Lembrem que a sinceridade nunca foi uma virtude dos políticos, por
mais que se tente justificar a mentira como uma ferramenta necessária ao
exercício do político ou do demagogo, a mentira quando adentra e domina a
esfera pública torna-se uma arma eficiente contra a verdade. Nessa condição,
a mentira na política pode ser usada de maneira organizada com o objetivo
de desestabilizar a verdade dos fatos, a história e até mesmo a vida dos
indivíduos. A mentira quando estatuída na política gera sérios riscos aos
fatos e ao mundo comum” (ARENDT, 2011, p. 283).

Donald Trump e o Facebook: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/entenda-o-escandalo-de-uso-


36

politico-de-dados-que-derrubou-valor-do-facebook-e-o-colocou-na-mira-de-autoridades.ghtm Acessado em:


25/07/2021
40

A forma de como se configura o cenário político em 2016 e a influência de Donald


Trump na presidência são preponderantes para o avanço da extrema direta no Brasil e
ascensão de Jair Messias Bolsonaro em 2018. Percebe-se que apesar dos escritos de Hannah
Arendt ter um foco maior nas ditaduras, fascismo e nazismo, essas atitudes antidemocráticas
de certos governantes atacam o nosso Estado Democrático de Direito, um governo com traços
de autoritarismo que se transverte de democrático e manipula pensamentos e a opinião
pública. O pleito eleitoral de 2018 vai se configurar em um complexo campo político que vai
emergir por conta das manifestações e descontentamento dos problemas sociais vivenciados
37
no Brasil desde 2013. O historiador Gunter Axt em entrevista para o site Gauchazh afirmou
que a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), mas atualmente sem partido, foi uma completa nuance,
que possui fatores nacionais e internacionais, que perpassaram por pautas política, econômica,
religiosa, moral e cultural. Foi o triunfo da extrema-direita que quebrou a polarização entre
PT e PSDB que persistiu desde 1990 e trouxe a tona o conservadorismo.
O histórico político brasileiro e as Fake News foram protagonistas das eleições, alguns
acontecimentos desde 2013 impulsionaram o bolsonarismo, por exemplo: As manifestações
contra partidos tradicionais, especialmente o Partido dos Trabalhadores (PT), nesse período
organizações de direita e extrema-direita ganham notoriedade; O avanço da operação Lava-
Jato que desmoralizou muitos partidos e grandes nomes do governo Dilma; O desgaste dos
partidos tradicionais e o anseio por renovação que Bolsonaro se apropriou, apesar de estar três
décadas dentro da política; A onda de extrema-direita que elegeu lideres nos Estados Unidos,
Polônia, Suécia, França e Holanda que refletiu no Brasil; O uso de aplicativos como
Whatsapp, Facebook e Twitter para ter contato com os eleitores, com poucos filtros e com
disparos maciços de conteúdos que na maioria das vezes não condiziam com a verdade, mas
tinha grande adesão popular; E o atentado sofrido durante a campanha.
A corrida eleitoral foi entre 13 candidatos, mas durante todo pleito a dualidade ficou
entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) que chegaram ao segundo turno, dezenas
de notícias falsas circularam nas redes sociais e todos os candidatos sofreram algum tipo de
calúnia. O destaque vai para Haddad (PT) que foi altamente atacado por Jair Bolsonaro em
entrevistas, postagens e grupos bolsonaristas. As fake news com maior circulação foram: O
Kit Gay; Haddad tem livro que incentiva o Incesto; Adélio Bispo Petista; “Facada Fake” e
“Adulteração das Urnas”.

37
As Explicações para a Vitória de Jair Bolsonaro Link:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/eleicoes/noticia/2018/10/as-explicacoes-para-a-vitoria-de-jair-bolsonaro-
cjnthm8cq097b01rx3fd28fti.html Acesso em: 28/ 07/2021
41

 Kit Gay

O livro Aparelho Sexual e Cia, apelidado por Bolsonaro de “kit gay” conseguiu se
tornar uma das maiores polemicas das eleições, foi repetida muitas de vezes pelo candidato,
mesmo depois da comprovação deque se tratava de uma fake news. Além do Bolsonaro, seus
filhos Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), eleito senador, e Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), vereador do
Rio também endossaram o discurso. Eles afirmavam que os livros estavam sendo distribuídos
pelas escolas públicas e essa ação tinha se concretizado na gestão de Fernando Haddad (PT)
quando era ministro do Ministério da Educação.
Segundo a Revista Veja 38, após o assunto ter se tornado viral em todas as redes sociais,
o ministro Carlos Horbach do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a remoção de
vídeos em que Bolsonaro afirmava que o livro integraria o projeto “Escola sem Homofobia”,
era “Uma coletânea de absurdos que estimula precocemente as crianças se interessarem por
sexo”. E continuou “No meu entender, isso é uma porta aberta para a pedofilia, esse livro é do
PT”. Em nota, o Ministério da Educação (MEC) já tinha informado em diversas situações que
não produziu e nem aderiu ou distribuiu o livro, a obra era publicada pela editora Companhia
das Letras. “É igualmente notório o fato de que o projeto ‘Escola sem Homofobia’ não chegou
a ser executado pelo Ministério da Educação, do que se conclui que não ensejou, de fato, a
distribuição do material didático a ele relacionado. Assim, a difusão da informação
equivocada de que o livro em questão teria sido distribuído pelo MEC gera desinformação no
período eleitoral, com prejuízo ao debate político, o que recomenda a remoção dos conteúdos
com tal teor”, concluiu Horbach.
Bolsonaro levou o material para uma entrevista no Jornal Nacional, mas foi
repreendido pelos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcelos que não permitiram que o
candidato mostrasse partes do livro, poucos segundos foram suficientes para aguçar a
curiosidade dos telespectadores e ser um dos assuntos mais comentados nos dias posteriores.
O Partido dos Trabalhadores esclareceu para o Jornal Nacional que Bolsonaro mentiu e
difundiu falsa ideia de que o livro seria distribuído em escolas públicas.

 Haddad e o Livro do Incesto

38
Bolsonaro e o Kit Gay Link : https://veja.abril.com.br/politica/tse-manda-tirar-do-ar-fake-news-de-bolsonaro-
sobre-kit-gay/ Acessado em: 29/07/2021
42

Essa fake news surgiu de dentro do clã Bolsonarista, mais especificamente do seu
Guru Olavo de Carvalho, escritor da extrema direita, que se intitula filósofo e tem suas teorias
seguidas pela família. “Ele afirmou no seu Twitter que” Estou lendo um livrinho do Haddad,
onde ele defende a tese encantadora de que para implantar o socialismo é preciso derrubar
primeiro o “tabu do Incesto”. Kit gay é fichinha. “O homem quer que os meninos comam suas
mães”.
Segundo o G139, no livro em questão, chamado “Em defesa do socialismo: por ocasião
dos 150 anos do manifesto” que foi publicado em 1998, faz analise do capitalismo atual, que
ele chama de “superindustrial”, e seu impacto das relações de trabalho, em nenhum momento
do livro existe algo que defenda o incesto ou qualquer citação sobre o tema. Em nota, a
assessoria de Haddad o presidenciável possui 5 livros e diversos trabalhos científicos, e nunca
escreveu nada sequer semelhante ao que lhe foi atribuído, de forma desonesta por Olavo de
Carvalho” e prometeu tomar as medidas cabíveis, mas o recurso foi negado pelo TSE.
Olavo de Carvalho publicou uma nota de correção: “Em sentido literal e material, não
é exato o que eu escrevi às pressas num post que logo em seguida retirei do ar, segundo o qual
Haddad defende ou prega o incesto. Ele apenas subscreve integralmente o programa da
“sociedade erótica” pregada pela Escola de Frankfurt, o qual advoga claramente a erotização
das relações entre homens e mulheres” Vale ressaltar que o mesmo, possui outros exemplos
de notícias falsas ou tendenciosas publicadas em suas redes sociais. Fernando Haddad chegou
à acionar o Tribunal Superior Eleitoral pedindo a retirada desses conteúdo do ar, mas a
liminar foi negada.

 Adélio Bispo Petista

No dia 6 de setembro de 2018, o candidato Jair Bolsonaro foi esfaqueado durante um


comício em Juiz de Fora -MG. O atentado foi um dos grandes pilares para a consolidação do
candidato, que causou muita comoção por parte da população e teve repercussão na mídia
nacional e nacional. O ato teve autoria de Adélio Bispo e nas redes sociais ganhou diversas
supostas teorias sobre as razões para tal feito, surgiram diversos boatos que ligavam ele ao
PT, fotos com montagem de Adélio com o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff e que Lula e
STF planejaram a morte de Bolsonaro.

39
Haddad e o livro sobre Incesto Link: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2018/10/16/e-fake-que-livro-
escrito-por-haddad-incentive-o-incesto-e-cite-dez-mandatos-do-comunismo.ghtml Acesso em: 29/07/2021
43

Após o atentado, segundo Renato Alves do Correio Braziliense 40, uma corrente de
Whatsapp e publicações no Facebook afirmaram que Adélio era filiado ao Partido dos
Trabalhadores e que grupos ligados à cúpula do PT tinham premeditado o assassinato de
Bolsonaro. Porém foi constatada que Adélio foi filiado ao PSOL de Minas Gerais, a filiação
foi de 2007 até 2014. A investigação da Policia Federal apontou que Adélio agiu por conta
própria, ele era ex-missionário da igreja evangélica e viajava para pregar em nome de Deus e
contra a roubalheira na política brasileira. Foram encontrados nas suas redes sociais diversas
postagens com ataques à direita e a maçonaria.
Além disso, também circularam nas redes sociais imagens que ligaram Adélio Bispo
ao presidente Lula. A revista Piauí41 investigou e a suposta foto se tratava de uma fake news,
na foto original não tinha o agressor de Bolsonaro, se tratava do dirigente João Paulo
Rodrigues, dirigente do Movimento Sem Terra (MST). A foto original era de 6 de abril, um
dia antes de Lula ser preso pela Policia Federal, o registro se tratavam de alguns líderes da
militância petista.
Somado a isso, circulam outras imagens falsas atribuídas ao diretor geral da Polícia
Federal, Paulo Maiurino, que acusa o STF e o ex-presidente Lula de terem criado um plano
para matar Bolsonaro, mesmo depois das investigações e prisão do acusado, ainda rondam
boatos que geram repercussão. Esse boato surgiu em Abril de 2021, três anos após o ocorrido.
Um dos posts falsos apresenta uma foto do Supremo Tribunal Federal (STF) e diz: “Partiu
daqui, em conjunto como Lula e outros a ideia de matar Bolsonaro. Por enquanto, não posso
dizer muito, mas vocês saberão. quem quiser pensar que é falsa a informação, fiquem a
vontade, nos próximos dias saberão de muitas coisas! Deus abençoe vocês.”.
Outro post diz: “Antes que caia novamente o perfil vou dizer algo para vocês, eles
querem destruir o Bolsonaro, porém não vão conseguir porque mais da metade dos urubus de
capa preta receberam propina para acabar com o presidente. Nos próximos dias saberão de
todas as barbáries que ali acontece”. Em nota, pra o site G142 a Policia Federal informou que o
diretor geral Paulo Maiurino, não foi autor das postagens e que o link de sua conta é falso no

40
Quem é o homem que atacou Jair Bolsonaro Link:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2018/09/07/interna_politica,704560/quem-e-o-
homem-que-atacou-jair-bolsonaro-no-centro-de-juiz-de-fora.shtml Acessado em: 03/08/2021
41
Adélio Bispo e Lula Link: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/11/12/verificamos-adelio-lula/ Acessado
em: 03/08/2021
42
Diretor da PF tuitou sobre o plano de Lula junto com o STF contra Bolsonaro Link: https://g1.globo.com/fato-
ou-fake/noticia/2021/04/20/e-fake-que-diretor-geral-da-pf-tuitou-que-stf-e-lula-arquitetaram-plano-para-matar-
bolsonaro.ghtml Acessado em: 03/08/2021
44

Twitter, quanto ao endereço o Twitter Brasil informou que não existe. E será averiguado e
apurado o local que surgiu esse boato e quem foi o autor.

 Fraude Nas Urnas Eletrônicas

Desde 2018 circula a informação de que uma denúncia feita por um advogado e um
engenheiro prova que houve fraude nas eleições de 2018 e que Jair Bolsonaro foi eleito no1º
turno. Segundo Marcelo Parrero do G143, uma das publicações possui quase 5 mil
compartilhamentos, diz que as denúncias trazem dados incontestáveis, já um vídeo soma
quase 40 mol visualizações sobre o mesmo assunto, que afirma haver mais do que provas
suficientes para demonstrar a fraude nas urnas. A denúncia, de fato existe, mas foi
apresentado em 2018 antes do segundo turno das eleições. Em 12 páginas, a denúncia critica a
ausência de voto impresso no país e afirma, com base nas informações apresentadas pela
imprensa durante a apuração no primeiro turno, que houve “fraude matemática” nas eleições.
Houve uma perícia da área técnica do TSE e não foi constatado fraudes e foi arquivado.
O diretor geral do Tribunal Superior Eleitoral, Anderson Vidal Corrêa, informou ao
advogado autor da denúncia que “Essas questões de ordem técnica afetaram a divulgação
durante o primeiro pleito, no caso, a população não pôde acompanhar nos sistemas oficiais do
TSE a evolução dos resultados”. Os grandes meios de comunicação assumiram esse papel. No
segundo caso, do gargalo de processamento computacional podem ter gerado consistências
pontuais, as quais, no entanto, não são fraudes, nem alteração no resultado final.
Foram deferidas diversas denúncias de supostas irregularidades e fraudes nas eleições,
endossado por deputados e senadores aliados ao presidente. Muitas mentiras foram destiladas
nas redes sociais sem qualquer verificação das plataformas, o próprio presidente nesse ano de
2021 conspirou contra as vias eleitorais do país e repercutiu muitos nas redes socais com
muitos adeptos e contrários. Alegações do tipo aconteceram em uma entrevista para a Jovem
Pan que foi analisada pelo Chico Marés da agência Lupa de investigação. O presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) voltou a questionar a segurança das urnas eletrônica no dia 21 de
julho de 2021 em entrevista para a rádio Jovem Pan, Bolsonaro questionou a eficácia das
urnas e afirmou que houve frade nas eleições de 2014, onde Dilma Rousseff (PT) derrotou
Aécio Neves (PSDB). A primeira analise surge da frase: “Então por 231 vezes, ganhava

43
Fraude nas eleições de 2018 Fake News Link: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2020/10/06/e-fake-
que-denuncia-de-fraude-em-eleicao-de-2018-comprovou-vitoria-de-bolsonaro-no-1o-turno.ghtml Acessado em:
05/08/2021
45

Aécio, ganhava Dilma, ganhava Aécio (...). Esse então é o indício mais forte da probabilidade
de o sistema não ser seguro”.
A interpretação sobre a contagem dos votos em 2014 por Bolsonaro parte de dados
falsos. A sua argumentação parte de um vídeo que circulou em 2018, onde supostamente a
deputada federal Naomi Yamaguchi (PSL-SP) gravou o depoimento de um homem que dizia
ter descoberto irregularidade na contagem de votos. Porém dados do TSE mostram que nos
primeiros minutos da apuração, Aécio recebia mais votos que Dilma, mas depois de
18h15min, esse padrão se reverteu. Esse padrão não configura fraude, isso é normal, pois a
em muitos estados ocorriam o horário de verão. Outro argumentou foi: “Porque eles mantêm
preso o hacker lá em Minas gerais que teria invadido o sistema eleitoral do Supremo?”.
Ao contrário do que Bolsonaro afirma o hacker Marcos Roberto Correia da Silva,
também conhecido como Vandathegod, não foi preso por invadir o “sistema eleitoral do
Supremo”, até porque isso não ocorreu. Ele foi preso preventivamente pela operação
Deepwater da Polícia Federal por divulgar dados sigilosos de pessoas físicas e jurídicas.

“[...] Lembrem que a sinceridade nunca foi uma virtude dos políticos, por
mais que se tente justificar a mentira como uma ferramenta necessária ao
exercício do político ou do demagogo, a mentira quando adentra e domina a
esfera pública torna-se uma arma eficiente contra a verdade. Nessa condição,
a mentira na política pode ser usada de maneira organizada com o objetivo
de desestabilizar a verdade dos fatos, a história e até mesmo a vida dos
indivíduos. A mentira quando estatuída na política gera sérios riscos aos
fatos e ao mundo comum” (ARENDT, 2001, p. 283).

As fake news e o negacionismo têm mostrado capazes de estremecer democracias, em


direção ao populismo e o autoritarismo. Bolsonaro tenta cada vez mais descredibilizar as
instituições democráticas, em detrimentos dos seus interesses pessoais e familiares. Uma
pesquisa inédita do site Aos Fatos 44, afirmou que no dia 17 de maio de 2021 o presidente Jair
Bolsonaro cravou exatos 3.000 declarações falsas ou distorcidas, foram analisadas discursos,
entrevistas, postagens nas redes sociais e encontro com seus apoiadores, desde janeiro de
2009. A média é de 3,4 alegações enganosas por dia
A Covid-19 é o tema predominantemente no discurso desinformativo de Bolsonaro,
estava presente em 1.507 frases checadas (50,2%). A promoção do suposto tratamento
precoce como a Ivermectina e Hidroxicloroquina aparece em 111 declarações checadas, no

44
Bolsonaro acumula 3000 declarações falsas Link: https://www.aosfatos.org/noticias/bolsonaro-acumula-
3000-declaracoes-falsas-ou-distorcidas-desde-o-inicio-do-mandato/ Acessado em: 21/08/2021
46

total os discursos do presidente giraram em torno de temas como: pandemia (1.507 frases),
economia (219 frases) e meio ambiente (204 frases).

 Bolsonaro e a Cura Da Covid-19

Paulo Adomo Idoeta da BBC News45 fez um retrospecto do polêmico uso de


medicamentos sem comprovação cientifica, no início da pandemia inicia a busca de
medicamentos para c tratar o coronavírus, a cloroquina e a hidroxicloroquina passaram a ser
objeto de pesquisa entre as maiores farmacêuticas do mundo. Mas esse entusiasmo foi
reduzindo conforme novos estudos que comprovavam sua ineficiência e riscos de efeitos
colaterais graves. Aqui no Brasil, Jair Bolsonaro saiu em defesa dessas drogas e chamou de
“tratamento precoce”.
Na época Trump já estava sabendo das contrarreações do seu governo e do órgão
regulamentar de medicamentos que alegava riscos de uma possível arritmia cardíaca, mesmo
assim, saiu em defesa de alguns estudos que comprovavam sua tese e assim criou-se uma
politização dos remédios. Na maior parte do mundo os estudos foram seguidos e começaram a
investir na vacina, no Brasil aconteceu o contrário. A aposta da cloroquina virou estopim para
a saída de dois ministros da Saúde nos primeiros meses da pandemia: Luís Henrique Mandetta
e Nelson Teich.
A propaganda do remédio teve sequência quando Bolsonaro contraiu o vírus e deu
declarações sobre o seu uso próprio e incentivou o uso dos medicamentos, quase toda a
comunidade cientifica já tinham banido o uso da Cloroquina nesse período. Mas no Brasil,
Bolsonaro juntamente com o ministro Pazuello implementaram um kit de tratamento que
envolviam remédios como Hidroxicloroquina, Azitromicina, Ivermectina e a Nitazoxanida
(Annita), além dos suplementos de zinco e vitaminas C e D. Um mês depois o presidente
questionou a corrida por vacinas e disse: “Eu tomei a hidroxicloroquina, outros Ivermectina,
outros também Annita, e deu certo. E, pelo que tudo indica, todo mundo que tratou
precocemente com uma das três alternativas foi curado”. A polarização no Brasil perdura até
os dias atuais, mesmo com todos os órgãos de Saúde contrários ao tratamento e a favor da
adesão de vacinas.
Com isso, as instituições públicas estão tentando agir de diversas formas para tentar
sucumbir as ameaças contra os pilares democráticos e a onda de fake news que circula dentro
45
A História de Bolsonaro com a Hidroxicloroquina Link: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
57166743 Acessado em: 25/08/2021
47

das mídias sociais, alguns inquéritos foram abertos desde 2019. O Inquérito das Fake News 46,
do STF aberto do Dias Tofolli e tem como relator o juiz Alexandre de Moraes, para investigar
ataques por meios de notícias falsas, calúnias e ameaças à Corte, seus ministros e seus
familiares;
Outra frente era o Inquérito dos Atos democráticos que foi fechada por Alexandre de
Moras por pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), mas abriu o Inquérito das
Milícias Digitais. Que apura a atuação de blogueiro, famosos e grupos extremistas na criação
de conteúdo, organização e financiamento de atos que vão contra a Carta Magna de 1988 e
almejam o fechamento do Congresso, Supremo e volta da ditadura militar. E a Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI)47 das Fake News que foi instaurada em conjunto do
Senador e Câmara dos Deputados para investigar ataques cibernéticos, criação de perfis falsos
que possivelmente influenciaram no processo eleitoral de 2018 e debate público.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do presente estudo buscou analisar os impactos das fake news


dentro da história política, que desde os primórdios os boatos ou rumores foram fundamentais
para desestabilização de reinos e impérios. Nos períodos entre guerras e expansão de
ideologias como o nazismo e fascismo a censura e o uso de mentiras pelas mídias serão
ferramentas utilizadas para a manipulação das massas e controle social que são características
do autoritarismo e das ditaduras extremistas. Após, a ditadura militar, o Brasil começa seu
processo de democratização e sua constituição de 1988 possui entre seus incisos assegurado o

46
Inquéritos no Governo Bolsonaro Link: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/08/21/quais-
as-diferencas-entre-inqueritos-das-fake-news-e-das-milicias-digitais.htm?cmpid=copiaecola Acessado em:
27/08/2021
47
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito Link:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/09/04/cpmi-das-fake-news-e-instalada-no-congresso Acesso
em: 27/08/2021
48

direito de liberdade de expressão e outras garantias individuais. Nos anos 2000 os governos
utilizavam jornais, rádios e revistas como uma vitrine para legitimar vitórias nos períodos
eleitorais, estratégias como adesão de grandes concessões por políticos e disseminação de
fake news dos seus concorrentes serão recorrentes nos primeiros anos das décadas,
principalmente nos períodos eleitorais.
A partir, do advento das tecnologias, as campanhas políticas pela internet e a utilização
de robôs para impulsionar notícias falsas ou não serão recorrentes e cruciais para a inserção de
grupos contrários à governos ou extremistas que disseminam fake news que como o fenômeno
da pós-verdade conseguem moldar opiniões públicas e criar uma rede de desinformação,
apelando para crenças pessoas em detrimento da verdade objetiva. Com a vitória de Donald J.
Trump os ataques á opositores e instituições democráticas se tornaram mais recorrentes e
plataformas como Facebook e Whatsapp irão ser responsável por espalhar milhares de
notícias em tempo real. Essas características se aplicaram ao Brasil que sofre abalos muito
fortes na sua recente democracia. Durante o trabalho ficou notório as transformações nas
formas de espalhar notícias e seu impacto cada vez mais nocivo e articulado na forma de
manipular informações e pessoas.
Portanto, as fakes news são problemas recorrentes dentro da conjuntura política
brasileira atual, que através de estratégias políticas extremistas, como ataques aos meios de
comunicação, ameaças golpistas e descredibilização dos pilares democráticos almejam poder,
prestígio e conseguem induzir grandes massas que adotam tais pensamentos e se tornam
consequentemente alienados, podendo causar danos irreversíveis para a sociedade brasileira e
ao Estado Democrático de Direito.

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QUEM É O HOMEM QUE ATACOU JAIR BOLSONARO. Disponível em:


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https://auniao.pb.gov.br/servicos/arquivo-digital/jornal-a-uniao/decada-de-1940/1942/julho/a-
uniao-25-07-1942.pdf/view Acessado em: 27/10/2019

SITE DO JORNALISTA E EDITOR EDGARD MATSUKI QUE SE PROPÕE A CHECAR


AS FONTES DE NOTÍCIAS FALSAS NA INTERNET. Disponível em: www.boatos.org
Acessado em: 05/07/2021

SUPOSTA PROIBIÇÃO DA CANDIDATA DILMA DE ENTRAR NOS EUA. Disponível


em: https://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=136404&noticia=boatos-x-dilma
Acessado em: 09/07/2021.

USO DE ROBÔS NAS ELEIÇÕES DE 2014. Disponível em:


http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2018/03/candidatos-postaram-usando-robos-nas-
eleicoes-revela-estudo-da-fgv.htm Acessado em: 12/07/2021

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