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Otimização do gerenciamento da etapa de transferência analítica de um projeto de

transferência de tecnologia biofarmacêutica

Optimizing the management of the analytical transfer stage of a biopharmaceutical


technology transfer project

Ingrid Pinheiro de Medeirosa, Alexander da Silva Nevesb

a
Pós-graduação em Gestão e Gerenciamento de Projetos, Núcleo de Pesquisas em
Planejamento e Gestão (NPPG) da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Cidade Universitária – Ilha do Fundão, Centro de Tecnologia – Bloco D – 207, Rio
de Janeiro, Brasil.
b
Bio-Manguinhos/Fiocruz, Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos, Av. Brasil, 4365 -
Manguinhos, 21040-900, Rio de Janeiro, Brazil
a
Email: medeiros.ingrid@outlook.com / imedeiros@uniaoquimica.com.br
b
Email: alexander.vrxs@gmail.com / alexander@bio.fiocruz.br

Resumo
No Brasil, as condições sociais, econômicas e tecnológicas restringem a ocorrência de
inovações radicais, tornando fundamentalmente importante o sucesso da transferência de
tecnologia de medicamentos para aumentar a capacidade local e a capacidade de produção na
Indústria Farmacêutica. A transferência de métodos analíticos é uma etapa complexa do
projeto devido à necessidade de gerenciar equipe especializada de áreas interdisciplinares.
Este manuscrito propõe um estudo de caso de uma transferência tecnológica biofarmacêutica
sob restrição de tempo, otimizando a transferência de método analítico pela proposição de um
novo quadro para as expectativas realizadas pelas partes interessadas. A estrutura demonstrou
capacidade de otimizar o tempo de transferência, melhores entregas, rastreabilidade e
identificar melhorias para projetos futuros de transferência de tecnologia.

Palavras-chave: Gerenciamento de Projetos; Parceria Produtiva; Transferência Tecnológica;


Controle de Qualidade; Biofarmacêutica

Abstract
In Brazil, social, economic, and technological conditions restrict the occurrence of radical
innovations, making the success of drugs technology transfer fundamentally important to
increase local capabilities and production capacity in Pharmaceutical Industry. Analytical
methods transfer is a project complex step due to the need of manage specialized team from
interdisciplinary areas. This manuscript proposes a case study of a biopharmaceutical
technological transfer under time restriction, optimizing the analytical method transfer by the
proposition of a new framework to accomplished stakeholders’ expectations. The framework
demonstrated ability to optimize transfer time, improved deliveries, and traceability, and
identify improvements for future Technology Transfer projects.

Keywords: Project Management; Productive Partnership; Technological Transfer; Quality


Control; Biopharmaceuticals
1. Introdução
As melhores práticas de gestão de projetos são descritas por muitos autores e estão
disponíveis em diretrizes como o caminho para o sucesso do projeto, proporcionando
benefícios tangíveis e intangíveis às Organizações (Tereso, 2019). As tentativas de
sistematizar o conhecimento necessário para gerenciar projetos por meio de órgãos de
conhecimento baseiam-se em grande parte na suposição subjacente de que existem padrões e
generalizações identificáveis, a partir das quais podem ser estabelecidas regras, controles e
diretrizes para "melhores práticas" que são replicáveis, mesmo que não em todas as
circunstâncias (Tereso, 2019).
Por outro lado, apenas 29% dos projetos pesquisados pelo Grupo Standish
International, Inc. em 2005 foram totalmente bem sucedidos (OnTime, OnBudget, com
resultado satisfatório) 52% foram desafiados (atrasados, acima do orçamento e/ou com menos
do que os recursos e funções exigidos); e 19% falharam (cancelado antes da conclusão ou
entregue e nunca usado) (The Standish Group International, 2005).
Esses resultados expressam uma lacuna entre as diretrizes e as práticas diárias reais na
gestão de projetos.
Muitas organizações tentaram, sem sucesso, implementar uma metodologia de
gerenciamento de projetos fora da prateleira, ou pronta, e descobriram que ela era inadequada
para seus projetos, sua organização e seu nível de maturidade de gerenciamento de projetos
organizacionais. Isso muitas vezes resulta em muito dinheiro, tempo e esforço gasto com
pouco retorno. Embora a intenção original fosse um aumento em projetos bem-sucedidos, o
resultado real foi o oposto - muitas vezes acompanhado de uma diminuição no moral dos
funcionários (Whitaker, 2014).
Não há uma metodologia única de gerenciamento de projetos que deve ser aplicada a
todos os projetos o tempo todo. Uma metodologia de gerenciamento de projetos deve refletir
o tamanho, duração e complexidade de cada projeto individual, e ser adaptada à indústria,
cultura organizacional e nível de maturidade de gerenciamento de projetos organizacionais da
organização (Whitaker, 2014).
A alfaiataria é o processo de referenciar documentos, normas e outras fontes relevantes
e utilizar os elementos que fornecem processos, ferramentas e técnicas adequadas para essa
organização. Também inclui modificar processos existentes atualmente em uso pela
organização. Como tal, a alfaiataria é um processo de personalização de uma metodologia de
gerenciamento de projetos. O resultado da alfaiataria é que a metodologia de gerenciamento
de projetos será adequada para uso em tipos específicos de projetos, e uma metodologia
personalizada refletirá o tamanho, a complexidade e a duração do projeto conforme
apropriado para o contexto organizacional, juntamente com a adaptação à indústria em que o
projeto é realizado (Whitaker, 2014).
Cooke-Davies et al. (2009) argumentam que o valor da gestão de projetos é uma
função do que é implementado e quão bem ele se encaixa no contexto organizacional. O valor
de gerenciamento de projetos é criado ou destruído dependendo da extensão do "ajuste" ou
"desajustado" entre os drivers estratégicos da organização e as características de seu sistema
de gerenciamento de projetos. Eles criticam particularmente o uso incondicional das normas
de gerenciamento de projetos e veem um desajuste entre características específicas do projeto
e a abordagem de gestão escolhida como uma das principais fontes de falha do projeto.
A alfaiataria delineia como adaptar processos, ferramentas e técnicas da organização a
cada tipo de projeto, para atender às necessidades de cada um (PMI, 2017). Como Crawford,
Hobbs e Turner (2005) afirmaram sobre a abordagem de gerenciamento de projetos: "Houve
maior sucesso quando os procedimentos foram adaptados ao tipo de projeto do que quando
uma abordagem comum foi utilizada" (p. 13).
A implementação de ferramentas e técnicas de gerenciamento de projetos sob medida
nas organizações é identificada por Fernandes, Ward e Araújo (2014) como uma das quinze
principais iniciativas de melhoria da gestão de projetos para melhorar a prática de
gerenciamento de projetos nas organizações.
As práticas de gerenciamento de projetos, quando aplicadas corretamente, levam a um
aumento na probabilidade de sucesso do projeto (Thomas & Mullaly, 2008). No entanto, cada
organização deve avaliar a aplicabilidade de cada prática, pois seu uso pode não ter o mesmo
efeito para diferentes organizações. A gestão de projetos, portanto, pode ser implementada por
meio de ferramentas e técnicas, que devem ser adaptadas ao contexto da organização.
De acordo com o Conselho Internacional de Harmonização de Requisitos Técnicos
para Produtos Farmacêuticos para Uso Humano (ICH), o objetivo das atividades de
transferência de tecnologia é transferir conhecimento de produto e processo entre
desenvolvimento e fabricação, e dentro ou entre os locais de fabricação para alcançar a
realização do produto. Esse conhecimento é a base para o processo de fabricação, estratégia
de controle, abordagem de validação de processos e melhoria contínua (ICH Q10).
Particularmente no Brasil, as transferências tecnológicas de produtos farmacêuticos
complexos têm aumentado ao longo dos 10 anos com o apoio do Ministério da Saúde para
fortalecer a capacidade tecnológica das indústrias farmacêuticas brasileiras e aumentar sua
taxa de inovação, com o uso de participação de compra e marketing, para influenciar
produtores estrangeiros a transferir tecnologias relevantes para o país sob políticas específicas
como Parcerias de Desenvolvimento Produtivo por meio de convênio. O detentor do mercado
tecnológico compromete-se a transferir a tecnologia para entidade público-privada no Brasil,
para que possa, em um prazo de até dez anos, fabricar e fornecer medicamentos e
equipamentos médicos prioritários para o Sistema Único de Saúde (SUS) (Takahashi, 2005).
O principal objetivo é fomentar o desenvolvimento nacional para reduzir os custos de
compra de medicamentos e produtos de saúde que atualmente são importados ou que
representam um alto custo para o SUS. As parcerias são feitas entre duas ou mais instituições
públicas ou entre instituições públicas e empresas privadas, buscando promover a produção
nacional. Em países em desenvolvimento como o Brasil, condições sociais, econômicas e
tecnológicas restringem a ocorrência de inovações radicais, tornando fundamentalmente
importante o sucesso da transferência de tecnologia, possibilitando instituições públicas,
como Bio-Manguinhos/Fiocruz, Farmanguinhos/Fiocruz, Butantã, TecPar e outras para
promover o conhecimento dos funcionários e aumentar suas capacidades tecnológicas e
capacidade de oferecer novos medicamentos ao MS, reduzindo a dependência externa,
melhorando o processo de desenvolvimento e aumentando sua capacidade tecnológica e
capacidade de oferecer novos medicamentos ao MS, reduzindo a dependência externa,
melhorando o processo de desenvolvimento e o desenvolvimento produção de novos
medicamentos no Brasil e, consequentemente, diminuição dos gastos com saúde (Fernandes,
Lima & Chagnon, 2020).
Um exemplo é a fabricação da vacina COVID-19 pela Bio-Manguinhos e Butantã
devido às suas capacidades, embora investimento de longa data na transferência tecnológica
de produtos farmacêuticos.
Biofármacos são drogas originárias de processos biotecnológicos, nos quais o
ingrediente ativo da droga é especificado através do uso industrial de microrganismos ou
células geneticamente modificadas (Luengo-Blanco, 2018). Os biofármacos são distinguidos
pela gama de moléculas complexas que diferem de pequenas moléculas e das propriedades de
drogas sintéticas, que podem resultar em drogas com alto grau de especificidade e eficácia,
embora sejam mais sensíveis às variações no ambiente que podem ser refletidas em suas
atividades terapêuticas (Otto, Santagostino & Schrader, 2014; Revers L, Furczon, 2010). A
produção industrial também é um processo complexo, e isso está correlacionado com o fato
de que organismos vivos são utilizados para sua produção, o que exige condições específicas
para que produzam produtos consistentes. Pequenas variações nessas etapas podem resultar
em alterações no produto, que prejudicam a eficácia ou segurança do medicamento (Zuñiga L,
Calvo B, 2010). Devido a esses fatores, ao contrário da maioria das drogas, o controle de
qualidade das proteínas recombinantes requer a combinação de metodologias de natureza
físico-química, imunológica e biológica, para a identificação completa, caracterização
química e avaliação da potência biológica (Gild et al. 1996) sendo uma tarefa importante para
a Unidade receptora (RU) e Unidade de Envio (SU) envolvida em uma transferência de
tecnologia.
Embora as transferências tecnológicas ocorram consistentemente pelas indústrias
farmacêuticas, a restrição da política de PDP em relação ao cronograma de 10 anos para uma
transferência biofarmacêutica complexa de ponta a ponta é um desafio para a gestão de
projetos. Particularmente, o planejamento e monitoramento da etapa de transferência de
métodos analíticos durante a transferência de tecnologia é priorizado devido à natureza dos
métodos, necessidade de equipe altamente especializada, apoio da equipe de validação de
métodos e área de Assuntos Regulatórios e aquisição de equipamentos de alto valor agregado.
Assim, geralmente, a transferência de métodos analíticos (AMT) é um dos primeiros marcos a
serem alcançados e, se adequadamente suportado, permitirá a produção de lotes de
biofármacos de acordo com sua fase de projeto na unidade receptora conforme a qualidade
esperada e condições seguras para serem liberadas aos pacientes.
Este manuscrito tem como objetivo propor um estudo de caso de uma transferência
tecnológica biofarmacêutica sob restrição de tempo de política do PDP, adaptando a
transferência de método analítico pela proposição de um novo quadro para o gerenciamento
das expectativas realizadas pelas partes interessadas.
Para chegar a uma AMT bem sucedida durante o projeto foram realizados os seguintes
aspectos: (a) Aplicação de uma ferramenta de análise de lacunas aplicada nos documentos
divulgados pela unidade de envio; (b) Desenvolvimento do plano diretor da AMT com marcos
macro; (b) Avaliação no local da unidade receptora; (c) Gestão de planos de ação e
solicitações de alteração; (d) Verificação de prontidão no local da unidade receptora; e
Condução da análise de familiarização; (f) Execução de uma validação de métodos analíticos;
e (g) Execução de análises interlaboratoriais para estudo de comparabilidade entre os
resultados em ambos os locais, confirmando assim a transferência bem sucedida.

2. Metodologia

2.1 Estudo de caso


Para este artigo, foi escolhido como método de pesquisa o uso de um estudo de caso.
O estudo teve um objetivo inicialmente exploratório, para permitir que os pesquisadores
obtenham conhecimento sobre o problema (Pádua, 1997). Em um estudo exploratório, o
pesquisador faz parte de uma hipótese e aprofunda seu estudo nos limites de uma realidade
específica, buscando fundo, mais conhecimento, para então planejar um estudo descritivo
(Yin, 2001, Cervo & Bervian, 2003). Segundo YIN, 2001, o estudo de caso como método de
pesquisa tem como vantagens a manutenção das principais características dos eventos da vida
real e a garantia de uma visão holística do problema estudado.
Portanto, a estrutura metodológica adotada para esta pesquisa possui dois aspectos,
teóricos e empíricos, que se complementam. O aspecto teórico explora a revisão da literatura,
guias e livros didáticos, enquanto o empírico avalia o estudo de caso por meio da coleta,
análise e identificação do problema, proposta de solução e discussão dos resultados obtidos
(Lakatos,2005; Lima, 2016).
Este artigo tem como foco a proposta de estudo de caso e gestão realizada para uma
transferência de método analítico em curso que segue o modelo de projeto PDP, no qual está
sendo realizada a etapa de absorção do controle de qualidade na indústria farmacêutica
pública.
Este projeto consiste em capacidades produtivas e tecnológicas para a fabricação
nacional de um Biofármaco, por meio de uma Transferência de Tecnologia com o acordo
firmado entre as empresas, desde a produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) até a
obtenção do Produto Acabado (PA), além do recebimento de bancos celulares, no prazo de 10
anos.
Assim, essa transferência de tecnologia visa abastecer o biofármaco totalmente
produzido no Brasil, para atender à demanda do Ministério da Saúde (MS), reduzindo os
custos de compra de medicamentos e produtos de saúde atualmente importados ou que
representam um alto custo para o SUS ampliando o acesso a medicamentos e produtos de
saúde considerados estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS), fortalecendo o
complexo industrial do país.

2.2 Estrutura de Transferência Analítica


No escopo, o projeto foi dividido em etapas e alguns marcos e entregas foram
definidos para cada uma dessas etapas. Uma das fases mais complexa e crucial é a etapa de
transferência de método analítico, escolhida como objeto de estudo.
Com base no escopo do projeto AMT e no tempo de entrega, a Working Break
Structure (WBS) foi conduzida pela equipe de especialistas no assunto coletando informações
de dados necessários, como tipo de método de análise, equipamentos, reagentes, matéria-
prima, material proprietário, força de trabalho e experiência de projetos anteriores, como
lições aprendidas.
Para prosseguir com a transferência, foi realizado o alinhamento entre o UE e a UR para
esclarecer métodos e definir as expectativas de entrega. Com base nessas reuniões foi
possível identificar alguns fatores que poderiam contribuir para o sucesso ou fracasso da
AMT durante o projeto. Além disso, foram utilizadas lições aprendidas de outros projetos,
cujo tempo de execução excedeu a previsão ou foi interrompido, e o fluxo de quadros foi
proposto como na figura 1.

Figura 1 – Fluxograma de transferência de método analítico.

2
1
10 11
4 5 6 7 8 9

9a 13
12

9b

21

12a

17a
20a

14

20 15

19 17 16
18
14a

As etapas do fluxograma possuem descrição conforme abaixo:


Etapa 1- pertinentes à Unidade receptora (UR), incluindo protocolos de validação e
relatórios, especificações (equipamentos, reagentes e materiais proprietários), POPs e
instruções de trabalho (IT).
Etapa 2 – Análise de Validação Parcial ou Total – As técnicas de análise documental
enviadas pela UE são utilizadas para estudar documentos, demandas tecnológicas, guias e
regulamentos nacionais e internacionais para proceder à decisão se o método analítico precisa
ser parcial ou totalmente validado na UR.
Etapa 3 – Análise de Lacunas –UR avalia comparativamente se equipamentos, reagentes e
procedimentos utilizados pela UE já disponíveis no site da UR.
Etapa 4 – Plano Diretor da AMT – Este documento descreve a estratégia de transferência de
métodos analíticos da UE para a UR. Este documento lista os requisitos gerais para a
documentação das atividades de transferência de métodos e define funções e
responsabilidades para um processo de transferência de método bem-sucedido. A tecnologia e
o conhecimento a serem transferidos serão resumidos ao longo deste plano. Os detalhes
específicos da transferência serão delineados em protocolos e relatórios de transferência
individual. A elaboração de procedimentos da UR precisa considerar flexibilidade para
harmonizar as diversas práticas de parceiros, com base nas recomendações internacionais de
transferência tecnológica (OMS, ISP e PDA).
Etapa 5 – Avaliação – A UE visitará as instalações da UR sobre a segurança técnica, garantia
de qualidade e outros aspectos relacionados à Transferência de Tecnologia a ser executada.
Etapa 6 – Relatório de Avaliação – A UE enviará o relatório de avaliação para um melhor
alinhamento entre a UE e a UR.
Etapa 7 – Alinhamento da análise de lacunas e auditoria - UE e UR revisarão e aprovarão
a análise de lacunas ou documento de avaliação interna equivalente como parte do relatório de
transferência. Serão discutidos treinamentos, lacunas e mudanças necessárias.
Etapa 8 – Plano de Ação AMT – Será elaborado um plano de ação para atender às lacunas e
outras demandas solicitadas e alinhadas entre a UE e a UR.
Etapa 9 - PCMF se necessário - Project Change Management Form (PCMF) é um
documento que deve ser cumprido para solicitar quaisquer mudanças tecnológicas na
transferência analítica pela UR. O formulário deve ser enviado à UE que avaliará e dará o
feedback sobre a mudança proposta.
Etapa 10 - Prontidão - O local receptor deve certificar que reagentes, equipamentos e
materiais estão de acordo com os procedimentos operacionais padrão (POPs), instruções de
trabalho (ITs) e documentos internos (DIs), PCMF e análise de lacunas e as pessoas são
treinadas para prosseguir com a etapa de familiarização analítica.
Etapa 11 - Teste de familiarização - UR realizará uma análise preliminar para certificar que
a metodologia analítica está familiarizada, e se os resultados alcançam os critérios analíticos.
Etapa 12- Etapa analítica e envio de resultados – Um relatório da etapa de familiarização
deve ser enviado à UE.
Etapa 12a - Resultado da reunião da etapa analítica – Se algum resultado estiver fora da
especificação, haverá alinhamento e discussões técnicas entre UE e UR.
Etapa 13 – Validação concluída – O fim da transferência analítica será alcançado quando: a)
todos os resultados forem avaliados e aprovados; b) métodos analíticos compendiais devem
ter sua adequabilidade demonstrada ao uso pretendido, nas condições operacionais do
laboratório; através da apresentação de um estudo de validação parcial.
Etapa 14 - Enviar protocolo de validação - Se a transferência do método analítico também
considerar testes comparativos, a semelhança nos resultados deve ser comprovada por meio
de ferramenta estatística. A UR desenvolve o protocolo de validação e a UE avalia para
certificar que todos os parâmetros críticos estão de acordo com o escopo da análise.
Etapa 14a – Alinhamento de reunião - Se aparecer algum problema crítico em relação ao
protocolo de validação, uma decisão deve ser alinhada por todos os sites entre especialistas e
PMOs.
Etapa 15 - Amostras e reagentes específicos - A UE enviará os reagentes e amostras
específicas (materiais proprietários).
Etapa 16 – Validação – A análise de validação será realizada pela UR, de acordo com os
protocolos técnicos aprovados.
Etapa 17 - Enviar relatório de validação - A UR enviará o relatório de análise de validação
e a UE avaliará os resultados para certificar que todos os resultados estão de acordo com o
escopo da análise.
Etapa 17a – Alinhamento de reunião - Se algum resultado imprevisível for encontrado, uma
decisão deve ser alinhada por todos os sites entre especialistas e PMOs.
Etapa 18 - Enviar protocolo interlaboratório, reagentes específicos e amostras - A UE
pode enviar os protocolos e amostras específicos para realizar análises interlaboratoriais.
Etapa 19 - Análise interlaboratorial (Teste comparabilidade) - Estudo de análise realizado
simultaneamente pelos laboratórios UE e UR por meio de testes de um número
predeterminado de réplicas das mesmas amostras. Esta etapa tem o objetivo de demonstrar
desempenho equivalente do método entre diferentes laboratórios.
Etapa 20 - Enviar Relatório - Relatório analítico interlaboratório deve ser enviado à UE, que
analisará o relatório de análise de amostras cegas.
Etapa 20a – Alinhamento de reuniões – Solicitado se algum resultado imprevisível for
encontrado. Uma decisão deve ser alinhada por todos os sites entre especialistas e PMOs.
Etapa 21 - Conclusão da absorção - Se todos os relatórios estiverem de acordo com o
resultado esperado, a transferência analítica será considerada concluída.

2.3 Determinações analíticas


Antes da execução da transferência, as atividades de planejamento complementar
precisam ser estabelecidas como reuniões de comunicação, cronograma, formulário de
solicitação de alteração e Indicadores de Desempenho Chave para confirmar os resultados e
mitigar riscos ao longo da execução do quadro.
Durante a execução da metodologia de transferência analítica, a gestão de projetos
precisa garantir a correta execução do quadro proposto. Ações complementares precisam ser
definidas como relatórios de equipe, monitoramento de aquisições de equipamentos e
reagentes e respostas recordes às questões técnicas.

3. Resultados e discussão

Segundo Tereso (2019), a implementação de ferramentas e técnicas de gestão de


projetos sob medida nas organizações é identificada por Fernandes, Ward e Araújo (2014)
como uma das 15 principais iniciativas de melhoria da gestão de projetos para melhorar a
prática de gerenciamento de projetos nas organizações. Existem várias normas e
metodologias, mencionadas anteriormente, documentando práticas de gerenciamento de
projetos, que podem dar orientações para desenvolver processos personalizados de
gerenciamento de projetos.
A elaboração desse quadro para uma melhor gestão da etapa de transferência analítica
levou em consideração as lições aprendidas com outros projetos e a necessidade de melhor
controle e alinhamento das equipes durante a transferência do método analítico. Além disso,
também foram registrados desvios, vinculando-os aos riscos, registro de novos
conhecimentos, como perspectiva de melhoria contínua.
Tereso (2019) realizou uma pesquisa na qual foi demonstrado que integração, escopo e
cronograma foram as áreas mais representadas da prática de gestão de projetos. Também foi
demonstrado que as cinco principais ferramentas e técnicas foram reunião inicial, lista de
atividades, reuniões de progresso, gráfico de Gantt e plano de linha de base.
Após a aprovação do fluxograma proposto pela UR e UE, o parceiro entregou ao
laboratório de recebimento todas as informações relevantes necessárias para a realização das
análises, incluindo documentos de validação previamente realizados, especificações,
materiais, reagentes, equipamentos, SOPs e testes de métodos.
O controle de qualidade do biofármaco em transferência de tecnologia é realizado por
meio de métodos analíticos microbiológicos, bioanalíticos e físico-químicos, entre os quais
estão divididos em métodos compendiais e não-compendiais. Os métodos compendiais são
descritos em farmacopeias reconhecidas internacionalmente e, por essa razão, a transferência
não requer uma validação analítica completa. Só é necessário a etapa de familiarização e
verificação ou validação parcial.
No entanto, os métodos não descritos em compêndios oficiais exigem validação
analítica completa ou validação parcial para atender aos requisitos da Agência Reguladora.
Assim, métodos não compendiais são métodos mais complexos, que requerem maior
conhecimento técnico e maior tempo de execução. Além da validação analítica, para alguns
métodos não compendiais é importante realizar um estudo comparativo entre UE e UR, para
que os resultados obtidos sejam comparados e demonstrem a reprodutibilidade.
Foi feita uma Avaliação de Lacunas para cada um dos 26 métodos de análise de
controle de qualidade que devem ser absorvidos no laboratório receptor, identificando lacunas
que podem afetar a transferência analítica. A Avaliação de Lacunas abrangeu equipamentos,
áreas, procedimentos, parâmetros analisados pela UE durante a validação analítica e
oportunidades de melhoria.
Através da análise de lacunas, foi realizada a análise de risco e gerado um plano de
ação para preencher as lacunas identificadas. Para 4 métodos analíticos, equipamentos e
reagentes disponíveis no local da UR foram identificados como não idênticos, mas
equivalentes aos da UE. O formulário de mudança foi elaborado, avaliado e aprovado pela
UE. A economia na aquisição do projeto foi possível antes de iniciar o processo de aquisição.
Para 5 métodos analíticos, foi necessário a aquisição de equipamentos, reagentes e
treinamentos pela UE. Todos os outros métodos já foram realizados em laboratório de
controle de qualidade para outros produtos, sendo possível utilizar os mesmos materiais,
equipamentos, materiais de consumo e conhecimento técnico. A Figura 2 demonstra a
porcentagem de métodos analíticos com e sem lacunas.

Figura 2: Análise de lacuna realizada para definir a necessidade de aquisições e


treinamentos.
O Plano Mestre Analítico foi preparado e aprovado entre as unidades, o que permitiu
maior visibilidade das etapas de transferência, responsabilidades de cada uma das unidades,
identificou como seria feita a transferência de cada método e a necessidade de validação
analítica. Assim, os métodos foram agrupados de acordo com o tipo de validação que deve ser
realizada para transferência analítica:
a) Métodos compendiais que requerem a comprovação da adequação por validação parcial.
b) Métodos compendiais básicos - São métodos de determinação direta, que nem sequer
exigem comprovação de adequação e, portanto, não exigem o estudo da validação parcial. É
necessário realizar apenas uma verificação do método.
c) Validação parcial combinada com a Comparação do Desempenho do Ensaio entre o
laboratório de transferência e o laboratório receptor (testes de comparabilidade) - avaliação
interlaboratorial, onde as mesmas amostras são utilizadas na UR e na UE e os resultados são
comparados e devem apresentar equivalência significativa.
d) Métodos não compendiais - A UE realizou validação completa adequada aos parâmetros
estabelecidos pela ANVISA e a UR precisa realizar validação parcial. A Figura 3 representa
a quantidade de métodos e o tipo de transferência estabelecido para a transferência analítica.

Figura 3: Representação gráfica do número de métodos e classificação como teste


compendial básico, compendial, não compendial e teste de comparabilidade.
Número de métodos X tipo de transferência analítica

14

12

10

0
Compendial básico Compendial Não compendial Teste
comparabilidade

A avaliação no local da unidade receptora foi mais um passo crucial no avanço do


projeto. Durante a visita à UR, a UE aprovou a infraestrutura laboratorial de controle de
qualidade e a estrutura documental onde seria realizada a transferência analítica. A UE
identificou pontos de melhoria, com base em sua experiência anterior com o produto.
A necessidade de treinamento em métodos complexos foi identificada pelas unidades.
O treinamento presencial no site da UE foi essencial para identificar pontos críticos nos
métodos analíticos, revisar detalhes em documentos internos e fornecer mais confiança para
os analistas da UR durante a fase de familiarização e validação analítica.
Durante a familiarização, foram enviadas à UE questões sobre procedimentos e
resultados obtidos, que foram documentados e permitiram a rastreabilidade. Apenas um
método não teve resultados satisfatórios durante a familiarização. A avaliação e ajustes na
metodologia foram realizados antes do início da validação analítica.
Todas as validações analíticas apresentaram resultados satisfatórios que poderiam ser
auditados pela Agência Nacional de Regulação (Anvisa) e foram aprovados pela UE. Um
passo crucial para o sucesso da validação analítica foi a revisão e aprovação dos protocolos e
relatórios alinhados com a equipe técnica da UR e da UE.
Para o teste de comparabilidade, a UE enviou amostras tratadas para que a UR pudesse
realizar a análise às cegas e os resultados fossem comparados. Em 4 dos 26 métodos foi
realizada a análise interlaboratorial, considerando a complexidade dos métodos. Os resultados
obtidos foram satisfatórios, obtendo os resultados esperados de acordo com o tratamento
realizado na amostra e colaborando para demonstrar que o método é suficientemente robusto
para análise do produto e garantindo que ambos os laboratórios possam alcançar resultados
semelhantes sob critérios determinados de aceitação.
De acordo com a política do PDP, toda a absorção tecnológica deve ser realizada em
um cronograma de 10 anos. Para isso, o laboratório de controle de qualidade deve ser capaz
de liberar os lotes de medicamentos produzidos pela UR e foi proposto um cronograma de
dois anos para que o laboratório de controle de qualidade absorva todos os métodos,
incluindo aquisições de equipamentos, reagentes, documentação interna e validações
necessárias.
Embora o quadro tenha mapeado com sucesso as etapas de transferência do método
analítico, a aquisição de materiais e equipamentos necessários para a transferência enfrenta
um gargalo derivado de políticas públicas de compras de instituições, atrasos de fornecedores
internacionais, concorrência com outros projetos e, adicionalmente, com a situação pandêmica
do COVID-19.
Diante dessas dificuldades, embora a transferência de todos os métodos não tenha sido
concluída no cronograma de dois anos, as ferramentas utilizadas auxiliaram na organização e
otimização do tempo gasto para transferência analítica quando comparadas a outros projetos
semelhantes da UR. No cronograma, 85% dos métodos analíticos foram completamente
transferidos.

4. Conclusões
A alfaiataria delineia como adaptar processos, ferramentas e técnicas da organização a
cada tipo de projeto, para atender às necessidades de cada um (PMI, 2017). Nesse sentido,
este trabalho demonstrou que o quadro foi capaz de melhorar o planejamento, o
monitoramento e otimizar a etapa de execução de transferência analítica de um projeto de
transferência de tecnologia de um biofármaco.
Por meio da ferramenta de gestão proposta foi possível monitorar, traçar e cumprir
todas as etapas necessárias para a transferência analítica: Desenvolvimento do plano diretor
da AMT com macro marcos; Aplicação de uma ferramenta de análise de lacunas aplicada nos
documentos divulgados pela unidade de envio; Avaliação no local da unidade receptora;
Gestão de planos de ação e solicitações de mudança; Verificação de prontidão no site da
unidade receptora; Condução da análise de familiarização; Validação de métodos analíticos e
análise interlaboratorial com semelhanças entre os resultados em ambos os locais,
confirmando assim a transferência bem sucedida.
O quadro e as estratégias adotadas para a gestão de projetos, foi capaz de melhorar o
monitoramento das atividades, otimizar e melhorar a qualidade e o tempo de entrega em
relação a projetos semelhantes na empresa.
Este trabalho demonstra o uso de uma estrutura inovadora sob medida para este estudo
de caso, embora possa ser aplicado a outra transferência tecnológica analítica de produto
farmacêutico para economizar tempo, reduzir o investimento e unificar o processo de
transferência entre as equipes de envio e recebimento da unidade. Além do quadro, as
ferramentas de gestão foram adaptadas e padronizadas para o projeto como a criação de
formulários de Solicitação de Informações e solicitações de mudança de projeto.
A proposta de gestão e as dificuldades encontradas durante a execução das etapas de
transferência analítica também podem ser utilizadas como lições aprendidas para outros
projetos em indústrias farmacêuticas que realizam transferência de tecnologia ou tem uma
restrição de tempo conforme exigido em uma transferência através da política de PDP.

5. Referências

Cervo, A.L.; Bervian, P. (2003). Metodologia científica. São Paulo: Prentice Hall.

Cooke-Davies, T. J., Crawford, L., & Lechler, T. (2009). Project management systems:


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