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LLL 2. Evolucao da psicologia como ciéncia 2.1. O inicio da psicologia cientifica: Wundt e o primeiro laboratério de psicologia experimental O investigador alemao Wilhelm Wundt (1832-1920) criou o primeiro laboratério de psicologia experimental, no ano de 1879, na cidade de Leipzig. Wundt procurava estudar o funcionamento da consciéncia humana em laboratério através do método da intros- pecao controlada. Wundt teve uma grande importéncia para a constituigao da psicologia enquanto ciéncia. Abandonando a concegao tradicional de que a psicologia seria © estudo da alma, Wundt concebe a psicologia como o estudo da mente. Segundo ele, para estudar e compreender a mente, a psicologia deveria con- centrar-se no estudo da consciéncia e nos elementos que a constituem Influenciado pela quimica e pela fisiologia, faz a seguinte analogia: tal como a matéria é composta por dtomos e o cérebro por células, a consciéncia seré, tam- bém, composta por elementos simples. Estes elementos simples da consciéncia sio as sensagées. Wundt acreditava que, ao compreender o processo de associagio das sensagdes, estaria a conhecer a estrutura da consciéncia e uma parte significativa da estrutura da mente.’ E por esta razo que se classifica a concecao que Wundt tem da mente como uma concecdo estruturalista. Acreditava que, para compreendermos os sentimentos, as emogGes ea meméria, teriamos de partir das sensagSes e compreender como elas se associavam, ‘Wundt deu um grande relevo as sensagdes, pois estas tinham um contetido objetivo que podia ser alvo de experimentasio, ¢ isso era muito relevante quando se tratava de dar & psicologia o estatuto de ciéncia que ela merecia. Fig. 6| Withelen Wand. Para estudar a consciéncia, através da observagao das sensacées, propds 0 método introspetivo, que consistia no seguinte: 0 sujeito da experiéncia observava-se a si proprio e descrevia o que se passava na sua consciéncia quando submetido a determinados esti- mulos. Wundt tentou que estas auto-observagées, e as descrigées feitas a partir destas, fossem 0 mais rigorosas e objetivas possivel. Por isso, os sujeitos alvo do processo experi: ‘mental teriam de relatar as suas sensagdes de acordo com parametros previamente esta- belecidos, como a dimensao, a intensidade e a duragdo. Por esta razéo, Wundt apelidou este métoco de introspecao controlada Uma das experiéncias realizadas por Wundt foi a experiéncia do metrénomot. O sujeito alvo da experimentacdo era colocado perante um metrénomo e teria de descrever 0 que ocortia na sua consciéncia perante as batidas do aparelho, nomeadamente aquando das variagdes de pulsacdo introduzidas pelo experimentador. A sua concegao da mente e 0 seu método foram muito criticados, sobretudo por gestaltistas® e comportamentalistas. Fig. 7 | Meteénomo. ndo & apenes a consiéncia, No entante, 56 0s processosconsciantes padoro ser cbserados, Por resringe oestudo da mente 20s processos conscientes. ® Alntogpagio consist na auto-observagio que ost faz dos fendnenos que acomem na sua conscéne'a “Um metrénome & um insrumento sade para medio tempo e marca ocompasso dis composgbes musicals * Os gestaltistas defender que noe pode ter um canhacimenta de ums toaidade, por exemplo, a percegio,corsiéncie ou ‘personalidad, apenas enalisando as sues partes O todo & mais do que a soma das partes, isto 8 2 some ds partes e 0 con jae om uncdo desu integrago |uto das relagies que ests estebelecem ene s Assim, 2 parts s6 podem ser compre ro todo. O seu princinalrepresantante fi Max Werthlmer [880-1943 13 Descobrindo a psicologia O método da introspegao controlada foi contestado, ainda, por muitos outros investi- gadores. Uma das principais criticas é o facto das observagbes (auto-observacdes) efetua- das pelo sujeito da experimentagao nao poderem ser partilhadas, uma vez que s6 os prdprios individuos podem ter acesso a elas. O objeto da auto-observacio nao é partilhs- vel. EE] Uma concecao atomista a mente «Wundk estava interesgado no estudo da experiéncia consciente e procurava fazé-lo analisando a cons- cincia nos seus infimos componentes. Procurava os elementos bésicos da psicologia, as partes mais, infimas da consciéncia analisével. De forma‘andloga aos fsicos, que, mais ou menos pela mesma altura histérica, construitam @ tabela periédica, Tal como a Fisica tinha os seus elementos, também a psicologia os teria, pensava Wundt, Achava que, analisando a consciéncia nestes minisculos elementos, ou "sto: mos", tomnaria a psicologia uma ciéncia to respeitével como a Fisica. O problema era descortinar estes, elementos, de modo a poder estuds-los. Para o conseguir, Wunck utilzou a técnica da introspecdo. Tre nou sujeitos a olharem para dentro de si préprios e relaterem os seus mais fugazes e minuciosos sent mentos e sensagSes, NLA Sprinthal,®. Speintal gi Educacional,Lisboe, MeSraw-Hl, 1993. r fide A tividades — | 4. Identifica as afirmagies verdadeiras e as afirmagdes falsas e corrige as falsas. 1.4. Wundt definiu o objeto da psicologia como a mente humana e considerava que a melhor maneiza de a compreender era estudando o modo como se associavam as sensagies 1.2. Uma das vantagens do método da introspegao controlada era 0 facto das observacées realizadas (auto-observag6es) poderem ser partilhadas. 1.3, Segundo o texto 1, podemos concluir que Wundt concebia a mente de uma forma ané: oga a dos fisicos, isto é, tal como a matéria é constituida por elementos simples | 4tomos), também a mente é composta por elementos simples (as sensagdes) 1.4. Segundo Wand os resutads da introspes etm comunicados segundo 0s citrios | escolhidos pelos sujeitos alvo de experimentaséo. | 2.2. Pavlov e a reflexologia Ivan Pavlov, médico russo (1849-1936), recebeu em 1904 o prémio Nobel da Medicina devido aos seus contributos para o conhecimento médico na érea das gecregaes gastricas. Para Pavloy, a psicologia deveria denominar-se reflexologia e circunserever 0 seu estudo aos reflexos incondicionados (inatos) e condicionados, enquanto fundamento fisiolégico dos comportamentos dos individuos perante os yariados estimulos do meio envolvente. Os seus estudos foram muito importantes para a constituigio da psicologia enguanto ciéncia, pois trouxeram o tema do comportamento, considerado como um conjunto de reflexos, para 0 centro das atenges dos investigadores. Pavlov desenvolveu os seus estudos sobre o comportamento, realizando experién- cias com ces. As varias experiéncias realizadas permitiram-Ihe desenvolver a teoria do condicionamento cléssico. Fig. 8| an Pavlov ‘Uma das experiéncias de Paviov Pavlov impiantou um tubo, com um recipiente para onde era canalizada a saliva, no maxilar dos cées que faziarh parte da experiéncia. No seu laboratério, subméteu os cies a varios tipos de estimulos aciisticos, através de toques de campainha, ¢ constatou que estes no salivavam perante estes estimulos. Designou estes estimulos como estimulos neutros (EN), pois ndo produziam qualquer reflexo yyy 1no animal. No entanto, verificou que, quando dava comida aos cies, eles sali- vavam, Assim, a comida seria um estimulo incondicionado (EI), ¢ a salivagao um reflexo incondicionado (RI). Designou ambos por inatos, pois 0 animal std determinado naturalmente a salivar quando esté perante comida. Expe- rimentou, entdo, fazer a seguinte associago: antes de dar comida a0 Fig, 9| O reflexo condicionado animal, tocava uma campainha. Através do treino, associava um esti- mulo neutro (0 toque da campainha) a um estimulo incondicionado (a comida), produ- zindo, assim, um reflexo incondicionado (a salivacao). Depois de repetir varias vezes esta associagao, experimentou tocar apenas a campainha. O resultado foi surpreendente: 0 cio, que nio salivava perante o toque da campainha, passou a salivar. O toque da campainha era agora um estimulo condicionado (EC) ea salivacao do cao um reflexo condicionado (RO), condicionado porque resultou de um proceso de aprendizagem. ay Estava explicado o processo do condicionamento cléssico De facto, Pavlov acabou por demonstrar a importéncia das associagdes nas aprendiza- gens. Para além disto, trouxe para a psicologia a mesma metodologia usada na medicina, a sua formacdo de base: 0 método experimental Antes do condicionamento EI (alimento) - RI (slivacéo) EN (Gom da campainha) -> Nenhuma resposta relevante Durante 0 condicionamento (treino) EN (Gom da campainha) + EI (alimento) - RI (salivagao) Apés 0 condicionamento EC (som da campainha) -* RC (slivagic) 15 Médulo Descobrindo a psicologia 2.3. A proposta de Watson e o behaviorismo Fig, 10 | John Watson. Fig. 11] Quais serio as leis do comportamento? John Watson, investigador americano (1878-1958), vai procurar atribuir 4 psicologia 0 mesmo rigor que as restantes ciéncias tinham: a investigago tem de partir de observagées ¢ 0 seu método tém de ser rigoroso. Isto significa que, continuando 0 caminho jé iniciado por Pavloy, a psicologia nao pode ser o estudo da mente ou da consciéncia, através da introspecio, mas sim 0 estudo do que 6 observavel: 0 comportamento. Segundo Watson, Wundt fracas: sou na procura de um método tigoroso pata a psicologia, pois a introspegdo controlada apresenta um forte cardter subjetivo. O método proposto por Watson é 0 mesmo de Pavlov, isto é, 0 método experimental® Para Watson, 0 estudo do comportamento observavel implica uma compreensio profunda da relagdo estabelecida entre o esti- mulo (E) ¢ a resposta (R). O que sao estimulos e respostas? Os estimulos so 0 corijunto de excitagdes que afetam o organismo, conduzindo-o a uma modificagio do seu estado, fisico ou psicol6~ gico, ea essa modificagdo chama-se resposta. Os estimulos podem ser externos ou internos. Por exemplo, se submetermos alguém a uma situagdo de violencia fisica, agtedindo-a, estamos perante um estimulo extemo; no entanto, se uma pessoa tem fome, esta é um estimulo interno que levaré a pessoa a procurar comida, Watson concebe 0 comportamento humano como o resultado de uma rela ao direta associagao entre estimulos ¢ respostas, ER © objetivo de Watson era compreender as leis do comportamento, pois assim pode- riamos prever, alterar e condicionar comportamentos. Compreender estas leis seria 0 objeto da psicologia. Esta concesao da psicologia é denominada behaviorismo ou com- portamentalismo e apresenta-nos uma concegao radical do ser humano. Nesta conce¢ao, as influéncias genéticas ou hereditdrias, ou ainda as carateristicas da personalidade, sio totalmente subalternizadas face influéncia determinante do meio ambiente. Os comportamentalistas concebem a relagao entre 0s estimulos e as respostas de forma mecanica, isto 6 acreditam que determinados estimulos produzem invariavelmente deter- minadas respostas. A formula comportamentalista mostra claramente como o comporta~ mento, expresso numa ou mais respostas, resulta de uma situago (conjunto de estimulos). ‘O método experimental é: Tem os sequins fases: do venitados R=£(S) corjnte de procedmentos que permitem controlar varies, 0 método das cércssexoeimertas do problems; exparimantario; absarago eregsto de dados co eal uso e goneraizagso | ‘pvaliagao da concesio comportamentalista Ocomportamentalismo ce Watson traz & psicologia a objetividade de que esta neces sitava para se constituir enquanto ciéncia. Abandonar o estudo dos processos mentais, que fem uma forte componente de subjtividade, permiti a psicologia apicar a metodo fogia experimental, tal como as demais ciéncias da natureza. Esta concegao teve,e tem, ima grande importincia no modo como concebemos a psicologia, e é por esta razio que vyulgarmente a definimos como a ciéncia dos comportamentos. No entanto, Watson ignora a complexidade do set humano, nomeadamente a perso- nalidade, concebendo-o como um agente passivo, um mero produto do meio. Seré que indo existem carateristicas inatas nos individuos, carateristicas que sao fruto da nossa hheranca genética? De facto, Watson parece ter negligenciado aspetos incontomaveis para ‘acompreenséo da complexidade do ser human. [6 comportamentalisino de watson «Eimbora estas duas escoles de psicologia [a gestatiste e @ comportamentalista tivessem comegado por travar batalhas independentes contra Wundt, 0 campo de batalha depressa mudou e comecaram a ‘tacet-se mutuamente. Watson alinhou com um aliado poderoso, van Pavloy, 0 russo cujo trabalho sobre Creflexo condicionado era reconhecido na mesma altura em que Watson se preparava para 0 seu com bate, Watson tinha encontrado exatamente aquilo que queria, no momento preciso ~ 0 reflexo con Cionado, algo observavel para substituir os elementos ndo'observaveis de Wundt. Para Watson, @ aprendizagem pocia ser explicada com base no condicionamento, isto é, a associagdo de estimulos a respostas.Tinha sido encontrada uma nova unidade de anélse que no sé era observével como também Consistente com o principio de associaga0.» NA. Spinal RC Sith, a Lsboe, MeSrau il, 1993 adapta WG: Atividades 1. Identifica as afirmagies verdadeiras e as afirmagGes falsas e corrige as falsas. 1.1. O texto 2 mostra que uma das criticas feitas por Watson a Wundt se centra no facto de este utilizar elementos ndo observaveis nas suas investigacSes, 1.2. Segundo Watson, a aprendizagem podia ser explicada através do condicionamento. 13. Watson concebe o ser humano como um agente passivo e um mero produto do meio. 14. Segundo Pavlov, todos 0s reflexas so inatos. 2. Responde as seguintes questées: 2.1, Como & que se conseguem reflexos condicionados, segundo Pavlov? 2.2, Queria Watson compreender a causa dos distinbios mentais para os tratar? 2.3, Por que razao foram os contributos de Pavlov e de Watson importantes para a consti tuigGo da psicologia enquanto ciéncia? 7 2.4, Freud e 0 inconsciente Sigmund Freud (1856-1939) recentrou o objeto da psicologia na mente. Freud era médico, e as suas preocupagdes eram psicoterapéuticas, isto 6, estava preocupado em tratar individuos com doengas mentais como a histeria’, Con. siderava que para tratar este tipo de doengas teria de desenvolver uma teoria que explicasse o desenvolvimento do ser humano. A sua teotia era revolucio- nria para a época, pois explicava a personalidade humana a partir dos proces- s0s mentais inconscientes e dava a libido® um papel central no desenvolvimento humano, inclusive no desenvolvimento infantil. A tradigdo filoséfica via na razdo e na consciéncia a verdadeira realizacao da natureza humana, eo legado de Wundt propunha o estudo dos processos cons- cientes como forma de compreender a estrutura da mente, Apesar disto, Freud concebeu o desenvolvimento psfquico do ser humano, a construgéo da perso- nalidade e a motivagao dos nossos comportamentos como estando determina- dos pelo inconsciente. Assim, Freud redefiniu 0 objeto de estudo da psicologia desenvolvendo uma teoria completamente inovadora «0 contributo intelectual de Freud foio de uma tentatva de compreender as forgas da iracionalidade humana, através da razao e da ciéncia. A sua prética imbuiu-o duma inabaldvel 6 no poder da racions- lidade, enquanto expressa pelos métodos da ciéncia. Mas, quando mais tarde lidou com doentes psi- quistricos, encontrou-se face face com airrcionalidade varias vezes ampliada; os sintomas dos doentes eram estranhos @ incompreensiveis & luz de qualquer um dos ertérios correntes. A tentativa de decifrar esses sintomas e @ perturbagzo subjacente que os produzialevou-o a uma nove concecéo néo apenas da psicopatologia mas também da natureza humana em geral.» H.Gleiman, Poa, Lisbos, Fund ste Gulbenkian, 198 adaptad), Para explicar a mente, Freud criou dois modelos: o modelo topogréfico e o modelo estrutural. O primeiro permite-nos explicar alguns conflitos psiquicos. No entanto, este ‘mostrou-se insuficiente para explicar a generalidade destes conflitos e foi substituido pelo modelo estrutural, que se mostrava mais completo. Estes modelos permitem-nos com- preender que a mente é composta por um conflito permanente entre a energia do id e as possibilidades da realidade reconhecidas pelo ego, num primeiro momento, e as normas morais do superego, num momento posterior. Modelo topografico Neste modelo, Freud compara a mente a um icebergue. A parte visivel & o consciente, @ parte submersa préxima da linha de gua € o pré-consciente e a parte submersa, pro- funda, é o inconsciente. Asteria, para psicandse, una desordem mental reac n manifesta fiicase mental, como a cogusira, peralsia ou anestesi,ataquesconwlvos ou dstorgbes ou lacuna de mei, * Forme de enegia que etna erigem do deseo sexual ads com a ansedade. Es 18 O consciente é parte da mente humana a que temos espon- taneamente acesso no estado de vigilia, ou seja, as percegbes, as femogies, 08 sentimentos, os afetos e os pensamentos, 0 pré-consciente faz.a ligagdo entre 0 inconsciente e o cons- ciente e nele residem memérias que nao estao acessiveis direta- mente ao consciente. Para que os contetidos do inconsciente se tomem conscientes, tém de passar pelo pré-consciente, O inconsciente corresponde a parte maior do icebergue e tem uma grande importancia nos nossos comportamentos. E consti- tuido por elementos inacessiveis ao consciente, tais como os desejos, as pulsdes® sexuais e agressivas, os traumas de infancia 08 contetidos recalcados. Fig. 13 | Representagéo do modelo topogréfico da Modelo estrutural Segundo este modelo, a mente é constituida pelo id, pelo ego e pelo superego. O ser humano ja nasce com o id. £ composto essencialmente pelas pulses basicas de carater bioldgico, como comer e beber, e pelas pulses de carter agressivo e sexual. O principio do id € o prinefpio do prazer. Este atua sobre o ego, incitando-o irracionalmente a realizar as suas necessidades. (© ego é formado a partir do id (durante o primeiro ano de vida) e serve as necessidades do id. No entanto, o seu principio é 0 principio da tealidade, isto limita a sua esfera de agéo aquilo que a realidade permite. Assim, 0 ego tenta satisfazer o id respeitando as possibilidades reais, controlando os impulsos do id. Se, por exemplo, nao gostamos do nosso emprego, o id diz-nos para nao veltarmos I, mas 0 ego vai dizer-nos que precisa~ ‘mos de dinheiro para nos sustentarmos e & nossa familia. Por isso, temos de nos manter naquele emprego, pelo menos até encontrarmos um melhor. © ego desenvolve competncias, pensamentos e memérias que identificam 0 individuo como um «si mesmo», sobretudo consciente, € no como um «isso», como € 0 caso do id. O superego ¢ formado por volta dos 5/6 anos de idade. E composto pelas normas ‘morais da sociedade interiorizadas através da idealizagao de determinadas figuras, nomea- damente a do pai, e funciona como uma espécie controlador do ego contra as incitagées, do id, precavendo comportamentos desadequados pot parte do ego e punindo-o quando este cede ao id, ndo cumprindo as suas determinagdes. O superego pressiona o ego no sentido contrétio ao id, apesar de, em grande medida, ser também irracional e incons- iente. O superego esid na base de todos os comportamentos morais. Freud explicava que a existéncia ou nao de distiirbios psfquicos nos individuos seria 0 Tesultado do modo como a mente resolvia, de forma equilibrada ou nao, 0 conflito entre © Principio do prazer e o princfpio da realidade, entre o inconsciente e 0 consciente. Esta & " Aspulsbes so impulos enérgicose dices de controlar de naturezainconsciente 19 Fig, 14] Uma representagio da mente. Fig. 15] O psicanalista e o seu paciente, uma das ideias centrais da teoria de Freud denominada psica- nilise. Por esta Tazo, o método desenvolvido por Freud teve a designacao de método psicanalitico. Este tinha como fina. lidade compreender a mente e a natureza dos distarbios psi- quicos, eo seu principal objetivo era o tratamento do paciente. E por esta razao que classificamos o método psicanalitico como um método terapéutico. Este consistia na aplicagao de varios procedimentos através dos quais 0 paciente tinha acesso aos contetidos do inconsciente, como recalcamentos” e traumas", 1m na origem dos seus disttirbios. que esta Procedimentos do método psicanalitico: « Associagio livre - Consiste em induzir 0 paciente a relatar tudo o que Ihe surge na consciéncia de maneira que acabem por surgir recordagdes relevantes. Esta associagao ‘corre num cenério proprio para 0 efeito, em que o paciente deita num divd e, relaxado, partilha com o psicanalista tudo aquilo de the ver & meméria, os sonhos, as fantasias, etc « Interpretagio de sonhos ~ Segundo a psicandlise, 08 sonhos manifestam simbolicamente conteddos do incons ciente que surgem, depois de censurados pelo ego, de forma distorcida e simbolica. Através da analise do contetido mani- {esto dos sonhos, 0 contetido simbélico de que o paciente se recorda, o psicanalista interpreta 0 contetido latente, isto é 0 contetido oculto do sonho, inconsciente, que pode, por exem- plo, estat relacionado com desejos sexuais ou pulses agres- sivas. Como disse Freud, um sonho é uma realizado (disfarcada) de um desejo (suprimido ou reprimido). Le « Andlise de atos falhados ~ Segundo a psicanélise, os lapsos (por exemplo, esque cimentos, falhas de linguagem ou audig0) sao atos falhados inconscientemente como forma de manifestar desejos recalcados. Através da anélise destes laps acede as motivagdes inconscientes que os provocaram. Por exemplo, quando uma pessoa se esquece de realizar uma tarefa que Ihe é muito desagradavel, segundo a psicanalise, 0 o psicanalista esquecimento tem uma motivagao inconsciente. « Processo de transferéncia inerente a relagio psicanalista/paciente ~ Este pro- cesso consiste na transferéncia, do paciente para o psicanalista, dos sentimentos ¢ das ;oas que Ihe eram, 01 $40, emogbes, positivas ou negativas, que o paciente sentiu pelas pes importantes (pais, irmaos ou amigos). Deste modo, sentiré um altvio emocional relativa- ®Orecaleamente & nat putes ot teva prcanaltica, 6 uma experncacausadora do aparecimento de in picaralticn, eur mecor qual pensamentos, puedes ou lembrangas geredors nc (H. Geter) e ansiadade coves, como ahisteia.As na relacionadas com asiedade, ones so perturba 20 rr mente &s situagdes nao resolvidas, nomeadamente as da infancia, fornecendo ao psica- nalista informagées importantes sobre eventuais conflitos intrapsiquicos. Freud pensava que as vivéncias emocionais teriam de estar presentes no processo terapéutico, caso con- trdrio este teria pouco valor, Avaliagio da teoria Freud revolucionou 0 objeto e método da psicologia, bem como a propria concegio do ser humano. Ao introduzir 0 inconsciente como objeto de estudo da psicologia, demarca-se da concegao que Wundt tinha sobre a mente e demarca-se do comportamen- talismo. Demarca-se de Wundt, pois coloca a investigagio da consciéneia em segundo plano, e demarca-se do behaviotismo, pois explica 0s comportamentos, nao através da relacdo entre estimulos e respostas, mas através das motivagoes de cardter inconsciente Revoluciona também o modo como concebemos 0 ser humano, isto é, substituiu uma concegao do ser humano como ser racional e consciente por uma concegao do ser humano dividido entre esta natureza, racional e consciente, e uma natureza pulsional e instintiva. No entanto, autores com Karl Popper consideram a teoria de Freud meramente espe- culativa e, portanto, nao cientifica, pois nao é possivel testar empiricamente o inconsciente. Assim, segundo este fildsofo, nao é possivel confrontar a teoria psicanalitica com a reali- dade, pois, por definicao, o inconsciente nao pode ser observado, pelo menos diretamente. ~ tiéais A tividades 1. Identifica as afirmagdes verdadeiras e as afirmagées falsas e cortige as falsas. 1. Segundo Freud, 0 método da psicologia é 0 método experimental 1.2. Segundo Freud, 0s distirbios psiquicos sao o resultado de uma resolugéo desequilibrada do conflito entre o principio do prazer e o prinefpio da realidade, entre o inconsciente e oconsciente. 1.3. O ego 6 formado a partir do id. 14. O superego ja nasce conosco. 1.5. O texto 3 mostra que o grande contributo de Freud foi, através da razao e da ciéncia, tentar compreender a natureza racional do ser humano. 2. Responde as seguintes questées: 2a. Aas diferirem entre si, tem algo em comum. O que é? ciaglo live, a interpretagio de sonhos ¢ a analise dos atos falhados, apesar de 2.2. Por que razio é comum a opinido de que Freud apresentou uma teoria revoluciondria para a sua 6poca? 2.3. Considerava Freud que os comportamentos dos individuos eram determinados pelos estimulos a que tinham sido expostos? a Fig. 16] J sei pensar, 2.5. Piaget e as relacdes entre a acfio e o pensamento Para Jean Piaget (1896-1980), hé uma estreita relagio entre ago e pensamento, Acctianga, quando nasce, traz. consigo alguns esquemas de acao inatos", que Ihe permitem adaptar-se ao meio. E porque nasce, por exemplo, com 0 esquema da sucgao, que € capaz de se alimentar. A medida que vai agindo sobre a realidade, vai aperfeigoando os esquemas e, aos poucos, vai sendo capaz de coordenar varios des- ses esquemas, 0 que Ihe permite lidar com realidades cada vez mais complexas. Por exemplo, para poder brincar com o urso de peluche que vé parcialmente debaixo do cobertor, tem de coordenar dois esquemas: o de retirar 0 cobertor de cima do urso e o de o agarrar. Por outro lado, e a partir dos primeiros meses de vida, a crianca comega a imitar alguns gestos. Num primeiro momento, essa imitagao é imediata, isto 6 acrianca imita o que vé, o que esté a acontecer naquele momento. Numa fase posterior, a crianga jé 6 capaz de imitagdo diferida, ou seja, imita aquilo que viu acontecer, usa 0 contetido de experiéncias anteriores. Por exemplo, num primeiro ‘momento, a crianca come¢a por bater palmas imitando um adulto, mas mais tarde é capaz de repetir essa aco sem ter por perto ninguém que possa imitar. Ora, para que possa imi- tar experiéncias passadas, a crianca tem de as poder representar mentalmente. Pouco a pouco, vai deixando de ter necessidade de se apoiar nos contetidos da percecao, na reali- dade concreta que est diante de si, passando a sua relagao com a realidade a ser feita em funcdo das representagdes que dela constr6i Para além da interiorizagao dos objetos, representados por imagens mentais, a crianca interioriza também os esquemas de ago. Se até agora era capaz de agir sobre os objetos concretos, através dos esquemas de agao, passa a poder agir também sobre as imagens mentais que representam os objetos, através de esquemas mentais que resultam da inte- riorizacao dos esquemas de ago. Esta acéo interiorizada é o pensamento, 2.6, Rogers e a importancia da pessoa Os estudos desenvolvidos pelo psicélogo americano Carl Rogers (1902-1987) afastaram-no da visao corrente dos investigadores da sua 6poca, influenciados pela psicandlise, de que o ser humano tinha uma desordem psiquica de base, fruto da sua tendéneia para ser irracional e ser dominado pelas pulsdes. Rogers constatou que 0 ser humano tem uma tendéncia para a satide e para o bem-estar, tende naturalmente para uma «orientagao positiva», para se desenvolver enquanto pessoa. Rogers estudou objetivamente as sessbes e os processos terapéuticos, nomeadamente a relacdo entre terapeutas e pacientes, ¢ concluiu que 0 sucesso das terapéuticas residia, em grande medida, na relacao inter- pessoal estabelecida entre pacientes e terapeutas. Constatou, também, que os pacientes tinham uma percesao muito mais objetiva dos fatores que os ajudavam na sua recuperagao do que os proprios terapeutas ‘Aigo inate & algo qi jd nance coma indvidvo 2 “As investigagBes de Rogers levaram-no a concluir que existem trés condigdes sem as auais no existe um ambiente facilitador do desenvolvimento pessoal e que, quando se ehficam em simulténeo, sio suficientes para garantir tal desenvolvimento. Estas condi- Goes so vslidas para o desenvolvimento pessoal e para o sucesso teapéutico, na relagao paciente terapeuta, para o sucesso nas aprendlizagens, na relagdo entre alunos ¢ profes res, e pata as relagdes na familia e no trabalho. Segundo Rogers, estas condigdes si0 ‘vélidas para as relagdes interpessoais em geral. Estas condicSes sic: + Aempatia implica sermos capazes de, afetiva e compreensivamente, nos colocarmos no lugar do outro. « Aaceitacio incondicional positiva implica aceitar 0 outro tal como ele é, sem 0 jul: garmos e sem qualquer processo de negociagio ou compromisso. « A congruéncia implica sermos auténticos e honestos. Para isso, temos de aceitar profundamente o que somos, para que nao existam mudangas na forma de nos rela cionarmos com o outro. Byaliagio da teoria A teoria de Rogers tem uma grande importancia, pois traz para a psicologia uma con- ‘ego humanista que pretende analisar objetivamente o ser humano na sua subjetividade, ‘O ser humano é visto como um processo dindmico e nunca acabado. Neste processo, 0 sserhumano tem uma capacidade natural de autorrealizagao, Esta concegio teve um grande impacto sobre a pedagogia, colocando as relagées interpessoais no centro das aprendiza- igens. No entanto, a teoria é criticada por ser demasiado otimista relativamente ao ser hhumano e por subestimar os conflitos sociais. Se a tendéncia natural do ser humano é a satide e o bem-estar, como explicar a forte incidéncia dos conflitos nas relagSes interpes soais? fis Atividades 1, Identifica as afirmagoes verdadeiras ¢ as afirmagGes falsas e corrige as falsas. 141, Tal como Freud, Carl Rogers tinha a visio de que os seres hummanos tinham uma desor- dem psfquica de base. 112. Carl Rogers tem uma visio muito otimista relativamente ao ser humano. 1.3, A empatia, a aceitagio e a congnuéncia so condigées necessérias, mas nao sao sufi cientes, para que exista um ambiente faciltador do crescimento pessoal 1.4. Segundo Rogers, a qualidade das aprendizagens depende, sobretudo, da preparagao cientifica dos professores e das metodologias did cas que aplicam nas suas aulas. 2, Responde & sepuinte questo: 211. A teoria de Rogers aplica-se a todas a Pessoais, come a psicoterapia, a educagao, a familia, o trabalho, etc. Tenta compreendet a teoria de Rogers a luz da tua experiéncia enquanto aluno. Concordas com Rogers? ituagGes em que existam relacionamentos inter- Fig. 18] Carl Rogers,

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