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A contradição de Heráclito

Heráclito, filósofo antigo, uma vez disse que tudo flui. Segundo o mesmo, é impossível
entrar no mesmo rio duas vezes, porque nem nós, nem as águas, seremos os mesmos.
Cortamos para o dia de hoje e o dilema mudou, pois é muito mais adequado dizer que:
“é impossível entrar no mesmo rio duas vezes, uma vez que nós já estaremos alienados
e rio não estará mais lá”.
A Escola de Frankfurt cunhou o termo Indústria Cultural para designar a indústria de
diversão em massa. Segundo Adorno e Horkheimer, seria por meio da Indústria Cultural
que se obteria a homogeneização dos comportamentos e a massificação das pessoas. Por
isso é pertinente dizer que nós, como indivíduos, não estamos mudando diariamente. A
criação de algoritmos é uma prova disso - todos podem ser enquadrados em um grupo e
até mesmo aqueles excluídos de certos grupos são, por esse motivo, inseridos em outros.
Dessa forma, é possível concluir que se nutre do mesmo conteúdo, e é isso que a
Indústria Cultural quer, pois é muito mais fácil produzir um conteúdo em massa já
determinado para as massas pelos mecanismos de informação (televisão, cinema, rádio,
revistas, jornais, propagandas, televisão) do que ter de inovar.
Agora que já está determinada a consistência de massa do ser humanovamos refletir
sobre a água. O surgimento e a manutenção da vida estão associados à água, tanto no
corpo humano quanto no ambiente que ele habita, isto é, biomas, ecossistemas, oceanos,
etc Essa substância está relacionada com a quebra de moléculas (hidrólise), criação de
outras (síntese) e até mesmo à produção de energia por meio de usinas hidrelétricas.
Visto, então, que a água é provavelmente a substância mais importante no mundo, por
que a espécie humana está lutando para acabar com ela?
A resposta é simples: com a escassez da água, ela se torna uma moeda de troca, um
símbolo de poder e riqueza, e acabar com a água gera lucro para quem ainda a tem. É
por isso que em países com escassez hídrica são travados conflitos para se adquirir e
manter a possa de água.
Não é novidade para a humanidade a importância da água e o Egito é uma prova
concreta disso. A construção de cidades, templos, pirâmides, locais de pastoreio e
plantio, tudo era determinado pelo Rio Nilo. Suas margens eram férteis, sua água
consumida e navegável. O Rio Nilo determinou a consolidação de uma das mais antigas
civilizações.
Hodiernamente, quando se pensa em aquecimento global, somos obrigados a questionar
acerca do uso da água e da liberação de gases que contribuem para o efeito estufa
(fenômeno natural intensificado pela liberação de gases, principalmente dióxido de
carbono, metano e óxido nitroso). Além de também haver a problemática que envolve
estarmos esburacando a camada de ozônio, camada protetora da terra contra raios UV,
ademais de acabarmos com os recursos da Terra, uma vez que não damos o tempo
necessário para se restabelecerem naturalmente, como minerais, biodiversidade, etc.
Com isso em mente, é ensinado nos colégios que a ação salvadora da vida na Terra seria
o desenvolvimento sustentável e o consumo não só sustentável também, como também
consciente, mas será que isso está correto?
Segundo a professora Rita von Hunty, não. Ela afirma, no vídeo “Desenvolvimento
Sustentável” de 2019, que tais ideias são oxímoros, são ideias que não existem no
mundo capitalista e neoliberal, que se pauta quase exclusivamente em produção e
consumo ilimitados. A realidade brasileira pode provar que o uso chamado de
consciente da água não mudaria nada, pois usar a máquina de lavar uma vez na semana,
revezar quem cozinhará em cada dia da semana, não lavar calçada com água de
mangueira, tomar banhos curtos, desligar luzes ao sair de um ambiente, todos esses
métodos ensinados nas instituições de ensino são impostos para a maior parte da
população pelo salário-mínimo. Com tão pouco dinheiro por mês, não se tem o luxo de
comprar e cozinhar seus alimentos para todos os dias, ter uma máquina de lavar, ter
acesso irrestrito a água etc.
É por esses motivos que a professora afirma que “escolhas pessoais não podem ser
entendidas como movimentos sociais de resistência, ou como pleito de alternativa”.
O documentário produzido pelo ex-presidente norte-americano Al Gore, chamado
“Uma verdade inconveniente” é citado, uma vez que, segundo o ex-vice-presidente, a
sociedade norte americana havia se configurado de tal jeito que o cataclisma ambiental
em face do aquecimento global, era uma realidade e, para evitar tal problema, a solução
seria justamente o consumo consciente e o desenvolvimento sustentável, mais
especificamente, que se todos mudarem seus hábitos pessoais, a humanidade seria capaz
de impedir o aquecimento climático. O que não é realidade.
Segundo o documentário, também norte-americano, “Forget Shorter Showers (Esqueça
banhos mais curtos)” se toda a população estadunidense mudasse seus hábitos, levando
em conta que todas as pessoas possuem as condições financeiras para tal, haveria um
impacto de 22% nos gases causadores do aquecimento global e, para se evitar uma
catástrofe global, seria necessário que esse número alcançasse os 75%.
Se essa mudança individual é incapaz de salvar o mundo, o que mais deve ser alterado?
A resposta da professora Rita von Hunty é que essa mudança deve ser feita pelas
grandes indústrias, corporações e pessoas com poder para mudar a sociedade (os
bilionários). Ela continua, “pensar uma alternativa de futuro, de produzir e consumir,
passa por vencer a obsolescência programada”, fenômeno que não chega a ser citado no
documentário de Al Gore. Se não questionarmos a ideia de progresso da sociedade
atual, não iremos mudar a realidade, e para isso progresso não pode ser um sinônimo de
avanço tecnológico e de lucro bancário.
Rita traz à tona uma frase de Fidel Castro para exemplificar, para ela, o que é progresso:
“Hoje milhões de crianças dormirão nas ruas pelo mundo, nenhuma delas é cubana”.
Que sociedade capitalista pode dizer o mesmo? Por que o peso para mudar o mundo cai
em nossas costas, quando dados de pesquisas do ANA (Agência Nacional de Águas)
nos mostram que quase 70% da extração de água no Brasil é direcionada à
Agroindústria e 10% à Indústria No capitalismo não existe consumo ou
desenvolvimento consciente ou sustentável. É um sistema de acumulação infinita em
que não existe limite para quanto dinheiro você pode fazer ao custo do meio ambiente.
Para concluir, Rita von Hunty cita o livro “A Ideologia da Sociedade Industrial”, de
Herbert Marcuse, para mostrar que nós nos colocamos no papel de consumidores, e não
de cidadãos, e que é por esse motivo que é mais fácil pensar que a mudança de hábitos
do nosso consumo seriam capazes de mudar o mundo, como não comer carne nas
segundas-feiras, doar roupas, comprar coisas diferentes (ecológicas), parar de comer
carne para reduzir queimadas na Amazônia, comprar roupas mais duradouras. A maioria
da população do mundo não pode pensar dessa forma, não pode pensar em consumir
desse modo pois não tem os recursos financeiros para isso.
Quer salvar o mundo, destrua o capitalismo.
Referências Bibliográficas e Leituras Consultadas
<https://www.youtube.com/watch?v=Ef4T7DrTvmI&t=648s >.Tempero Drag (16:15),
2019. Acesso em 30 de outubro de 2021
FERNANDES, M.; COTRIM, G. Filosofar. São Paulo: Saraiva, 2014.
LOPES, S.; ROSSO, S. Bio: volume único São Paulo: Saraiva, 2013.

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