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FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
FORTALEZA – CEARÁ
2012
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FOTALEZA – CEARÁ
2012
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BANCA EXAMINADORA
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AGRADECIMENTOS
Ao meu amor Rocha Júnior, que me socorreu tantas vezes quando meu
computador dava problema, me emprestando o seu para poder fazer meus trabalhos
e a monografia. Vida, muito obrigada por seu amor, apoio, carinho e compreensão
nesse momento tão relevante em minha vida.
Jean-Paul Sartre.
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RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE SIGLAS
CF – Constituição Federal
INPEA – Rede Internacional para a Prevenção dos Maus Tratos Contra o Idoso
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
As indagações para o estudo partem das análises das relações sociais dos
idosos com seus familiares antes dos conflitos começarem. Por que a família que
era para ser o aparato do idoso comete a violência? O que fez com que neste
momento da vida os(as) filhos(as), os(as) netos(as), os genros e noras não prestem
cuidados e proteção à idosa? Será que as políticas sociais que são disponibilizadas
pelo Estado atendem às necessidades da família para prover os cuidados das
idosas? Como as idosas percebem a violência psicológica sofrida no âmbito
familiar? Será que o Estatuto do Idoso assim, como também a Política Nacional do
Idoso e o Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência Contra a Pessoa Idosa
correspondem às expectativas das idosas? Será que a sobrecarga do cuidado com
a idosa é um dos fatores que levam a família a praticar a violência? Quais são os
principais fatores que levam a família a exercer a violência contra a idosa?
com o término em junho de 2012. Nesse período, foi possível observar a demanda
da população idosa em relação à questão da violência psicológica no contexto
familiar. Isso ocorreu através de recebimento de denúncias que chegam ao serviço
por meio de ligações, encaminhamentos de outros órgãos ou demanda espontânea,
isto é, quando a(o) idosa(o) vai por livre espontânea vontade procurar um auxílio.
As visitas domiciliares também proporcionaram essa aproximação, assim como
também conhecer a realidade social da família. Portanto, o sujeito dessa pesquisa é
o idoso que vivencia a violência psicológica no contexto familiar. Mas
especificamente, o foco recai sobre as idosas.
A violência é um fenômeno que faz parte do nosso dia a dia e está presente
desde os primórdios da história e em todo o mundo, seja nos países desenvolvidos
ou em desenvolvimento, logo não é algo exclusivo de um único país ou estado.
Desse modo, também se faz presente inclusive no Brasil; atingindo as crianças, os
adolescentes, as mulheres, os(as) idosos(as), os homossexuais etc. Contudo, a
violência não pode ser abordada como um problema isolado do contexto social, pois
é imprescindível conhecer as relações em que os cidadãos estão inseridos e
reconhecer que as expressões da violência são multifacetadas, atinge a todos sem
distinção de classe social, gênero (mulher e homem), crianças e idosos(as). No
entanto, as mulheres são um grupo mais vulnerável.
Pode-se dizer que a violência não se manifesta apenas na força física, mas
também na forma psicológica, simbólica, doméstica, sexual, entre outras. Entretanto,
todas as formas de violência são violação de direito, pois a liberdade é um princípio
da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que está sendo violado, ou seja,
infringido, e, por sua vez, está presente em todas as classes sociais.
violência psicológica está em primeiro lugar. A matéria teve como base os dados da
Promotoria de Justiça do Idoso e da Pessoa com Deficiência, que no ano de 2006,
ano que o órgão foi criado, foram registrados 41 procedimentos; no ano de 2011,
esse número passou para 727, assim, em cinco anos de criação, esse órgão
registrou um aumento que representou 673% dos casos e no ano de 2012, de
janeiro a junho, já foram registrados 437 casos.
O serviço CREAS II abrange a SER II, composta pelos bairros: Aldeota, Cais
do Porto, Cidade 2000, Cocó, De Lourdes, Dionísio Torres, Engenheiro Luciano
Cavalcante, Guararapes, Joaquim Távora, Manuel Dias Branco, Meireles, Mucuripe,
Papicu, Praia de Iracema, Praia do Futuro I e II, Salinas, São João do Tauape,
Varjota, Vicente Pinzon. A SER IV é formada pelos bairros: Aeroporto, Benfica, Bom
Futuro, Couto Fernandes, Damas, Dendê, Demócrito Rocha, Fátima, Itaperi, Itaóca,
Jardim América, Montese, Parreão, Pan Americano, Parangaba,São Jose Bonifácio,
Serrinha, Vila Pery e Vila União.
O presente trabalho foi estruturado em três capítulos, que por sua vez
apresentam os dados e os discursos dos sujeitos pesquisados estabelecendo
relações com as teorias expostas. O primeiro capítulo com o título
“DESVENDANDO A QUESTÃO DO ENVELHECIMENTO MUNDIAL E DO
BRASIL” traz a discussão sobre envelhecimento no mundo e no Brasil. Faz uma
reflexão sobre o que é ser idoso, das imagens e das suas representações e aborda
a velhice como um fenômeno natural ou cultural.
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“Em demografia, entende-se por envelhecimento populacional o processo de crescimento da
população considerada idosa em uma dimensão tal que, de forma sustentada amplia-se a sua
participação relativa no total da população. Um dos indicadores que melhor avaliam o envelhecimento
demográfico é a razão entre a população idosa e a população jovem (até 15 anos). [...]” (BERZINS,
2003, p. 22).
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A Rússia tem se destacado dos demais países BRINCs, pois o seu processo de envelhecimento
populacional é mais intenso do que nos outros países, isso se deu devido à queda de fecundidade ter
se iniciado antes dos demais países do grupo. (IBGE, 2008).
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Entre os países que formam o denominado BRINCs, a África do Sul é o único que não se encontra
entre os 10 países com maior população idosa absoluta. (IBGE, 2008).
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Segundo o estudo de Minayo (2005), os países europeus levaram cerca de 140 anos para o
envelhecimento de sua população, e isso está relacionado às condições distintas dos países e devido
ao Welfare State, ou seja, da política de bem estar social que os países europeus se preocupavam
em garantir serviços públicos de qualidade à população. Ainda de acordo com a autora a faixa etária
que mais se eleva nesses países é a população com mais de 80 anos de idade.
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Em 1980, a população idosa no Brasil era de 7,226,805; em 1991 esse número cresceu para
10,722,705; no ano 2000, passou para 14,538,988; e em 2010, foi para 20,588,891 (IBGE, 2010).
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Conferência das nações Unidas sobre Direitos Humanos que foi realizada em 1993,
em Viena.
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Segundo Sarti (2002), a pílula anticoncepcional teve início no Brasil na década de 1960, e nessa
mesma década se mundializou.
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Segundo a Política Nacional de Assistência Social, a Proteção Social Básica por meio do Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) os idosos são inseridos nos Centros de Convivência para
Idosos (PNAS, 2004). Esse serviço ofertado para os idosos tem como foco desenvolver atividades
que contribuam no processo de envelhecimento saudável, desenvolvimento da autonomia e
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e na prevenção de situações de risco social,
violência e o isolamento do idoso (BRASIL, 2009).
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No artigo 47º inciso I políticas sociais básicas, previstas na Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. As
políticas previstas nessa Lei são: na área de promoção e assistência social; na área de saúde; na
área de educação; na área de trabalho e previdência social; na área de justiça e na área de cultura,
esporte e lazer.
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suicídios; menor consumo de álcool e cigarro, que contribuem para as mortes por
neoplasia e doenças cardiovasculares; atitudes em relações às doenças, pois as
mulheres fazem mais uso dos serviços de saúde; atendimento médico-obstétrico,
que fez reduzir a mortalidade materna.
O IBGE (2011) revelou as cidades mais populosas do país, e entre elas está
Fortaleza, que teve um destaque, ocupando o quinto lugar no ranking com mais de 2
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Para maior detalhe ver nota de rodapé número 5.
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milhões de habitantes. Ainda revela que desde o ano 2000, a capital do estado do
Ceará vem ocupando esta posição, sendo assim, entre esses mais de 2 milhões de
residentes, está também a população idosa com mais de 60 anos.
O que é ser idoso? No Brasil, para o ser humano ser considerado idoso,
tem-se como base o limite etário, porém classificar uma pessoa como idosa torna-se
complexo, pois muitos atribuem o idoso à suas características biológicas, aos sinais
de senilidade e sua incapacidade física e mental. Entretanto, a classificação desse
segmento não pode ser atribuída apenas a partir de um determinado ciclo de vida
orgânico, mas também do ponto de vista da esfera social, como por exemplo, do
trabalho e da família. (CAMARANO; PASINATO, 2004).
humano, uma vez que há fatores diferentes entre gênero (homens e mulheres) entre
as classes sociais e entre as regiões. Pode-se dizer que as influências históricas,
sociais e culturais fazem parte do envelhecimento do ser humano e para
compreender esse fenômeno social é imprescindível analisar esses determinantes.
Para Prado e Sayd (2006), a velhice é vista como a última fase do ciclo da
vida do ser humano, e é nessa fase que o indivíduo tem o declínio dos eventos
múltiplos como, por exemplo, perdas psicomotoras, afastamento social, restrição em
papéis sociais e especialização cognitiva.
...a sociedade destina ao velho seu lugar e seu papel, levando em conta sua
idiossincrasia individual: sua impotência, sua experiência; reciprocamente, o
indivíduo é condicionado pela atitude prática e ideológica da sociedade em
relação a ele. Não basta, portanto, descrever de maneira analítica os
diversos aspectos da velhice: cada um deles reage sobre todos os outros e
é afetado por eles: é no movimento indefinido desta circularidade que é
preciso apreendê-la.
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A doença de Alzheimer foi descoberta pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer em 1907, é
uma doença neurodegenerativa que acarreta perda de memória e diversos distúrbios cognitivos. A
prevalência é na faixa etária de 60 anos, porém existam casos esporádicos em torno dos 40 anos.
(SMITH, 1999).
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pessoas com mais de 60 anos, uma vez que há pessoas com menos de 60 anos de
idade que apresentam dependência e outras com mais de 60 estão cheias de vida.
Pode-se dizer que a patologia não pode ser atribuída à idade do ser idoso.
Pode-se concluir que ser idoso é tanto um fenômeno natural e cultural, pois
a evolução do envelhecimento da população tem de ser compreendida de acordo
com épocas e lugares, ou seja, nos aspectos antropológicos e culturais, biológicos,
econômicos e sociais, pois as particularidades de cada região influenciam no
desenvolvimento humano. Contudo, esse fenômeno reflete nas políticas e
programas sociais, pois esse público com mais de 60 anos necessita de mais
políticas públicas que atendam às suas necessidades. (BERZINS, 2003).
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Mais adiante se discute a idade cronológica, biológica, psicológica e social.
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foi atribuída pela sociedade capitalista a esse ator social. (SCHNEIDER; IRIGARAY,
2008).
Às vezes me sinto excluída nas minhas decisões, porque meus filhos querem
decidir por mim, só que eu bato o pé e digo que tem que ser do jeito que eu quero.
E isso às vezes me faz sentir sem utilidade pra mim mesma, por não deixar eu
tomar as minhas decisões [...]. Meus filhos dizem que não tenho mais idade de
fazer isso não, que já sou velha [...] eu digo enquanto eu tiver mexendo o caroço
do olho eu faço o que eu quero, e quem manda sou eu. (Jasmim, 73 anos, grifos
nossos).
Os pais que cuidaram dos filhos com tanto amor e dedicação, os filhos não
reconhecem e pega os pais e joga lá no Lar Torres de Melo, interna bota num
canto [...] aí pronto fica lá sofrendo, os filhos abandona os pais e não vão nem
visitar, deixa jogado mesmo. Eu peço aos meus filhos para não fazerem isso
comigo, porque eu nunca fiz isso com meus pais. Meu pai, minha mãe morreu
com 93 anos tudo no meu poder. Sempre tive carinho por eles dois, aí eu não
queria que meus filhos fizessem isso, abandonar. Eu sempre peço, tenho medo de
ser abandonada, lutei com meus pais até a hora da morte deles. (Jasmim, 73
anos, grifos nossos).
A velhice tem que ser vivida, ficar dentro de uma rede gemendo, esperando a
morte chegar não dá não, não deve, a não ser que seja um caso muito sério. Tem
gente que acha só porque está velho não pode mais fazer nada né? É saber viver,
andar limpa, não ficar temendo a idade, uma dor na perna, uma dor aqui outra ali.
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Tem que enfrentar de qualquer jeito e pedir coragem a Deus. Eu gosto muito de
me arrumar, acho muito bom me arrumar. Se eu não sair toda arrumada, eu fico
toda errada, assim, se eu esqueço do relógio, do brinco, do anel eu fico toda
errada não sei sair sem ser arrumada. O povo já me conhece logo, só ando toda
arrumada, só me conhece assim, sou a número um, não tem ninguém assim só
eu. Risos. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
Todo mundo fica velho um dia. Eu não me acho tão velha, se não fosse o meu
problema na coluna, eu estava andando por aí, indo para o clube de idoso [...].
Tem gente que acha que velho está só na aparência, na doença, não é assim não,
velho não é a cabeça branca não, não, não. Mas, é isso mesmo, a gente tem que
passar tudo isso [...] não pode ficar novo não né?! (Jasmim, 73 anos).
A velhice é... apesar da minha idade 77 anos, não me vejo tão velha não, sou bem
durona como tem gente que diz, só que tem gente que também fala que sou
velha. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
Nos depoimentos das idosas, pode-se perceber que elas não se sentem
velhas, mas que os outros as veem como senis. Diante desses relatos, Debert
(1999, p. 95) explana “a imagem que os idosos fazem de sua experiência pessoal é
radicalmente contrária à do senso comum. Os idosos que não estão doentes ou
emocionalmente deprimidos não se consideram velhos”.
Para Bosi (1994), a velhice representa uma categoria social, em que cada
sociedade tem suas particularidades para vivenciar a decadência biológica do
homem e seu estatuto vigente. Diante desse quadro a autora afirma que:
A relação homem e capital sempre está em conflito, pois o homem pode ser
banido pelo capital a qualquer momento. Nas palavras de Lasch (1983, p. 253 apud
ALMEIDA, 2003, p. 40):
visto pelo capital com um ser improdutivo, portanto a exclusão do capital não ocorre
apenas com os idosos, porém esse grupo é quem representa uma maior exclusão
por ser mais difícil conseguir um emprego formal com a idade avançada, e se
submetem a precárias condições de trabalho. Em relação à submissão do idoso e às
condições de trabalho, Beauvoir (1990) afirma:
Outro aspecto que merece ser ressaltado é que os idosos são vistos como
os maiores consumidores dos serviços públicos tais como, a saúde e,
especialmente, do serviço beneficiário. Por esse grupo ser considerado como
improdutivos, vem provocando uma inquietação que está sendo chamado de “crise
do envelhecimento”, pois provoca um peso para a população jovem que tem que
custear com a previdência, já que a mesma é contributiva e pode vir a ameaçar o
futuro das nações. (CAMARANO; PASINATO, 2004).
O sistema de Seguro Social no Brasil teve início com a Lei Eloy Chaves de
1923, o acesso aos serviços como previdência e saúde era apenas para os
contribuintes da previdência social tais como, os marítimos e os ferroviários. Em
1930, tem-se uma ampliação no Seguro Social por meio das CAPs (Caixas de
Aposentadorias e Pensões) em que não há mais apenas as empresas individuais, e
sim também o envolvimento de outras categorias profissionais. Além disso, teve o
surgimento dos IAPs (Institutos de Aposentadorias e Pensões) tendo o Estado como
principal regulador do sistema previdenciário brasileiro. (IAMAMOTO, 2008).
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Por meio do Artigo 194. “A seguridade social compreende um conjunto de ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social. Parágrafo único: Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social (...)”.
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O Artigo 1º da LOAS expõe o seguinte: “A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado
é Política de Seguridade Social não contributiva, que prevê os mínimos sociais realizada através de
um conjunto integrado de ações de iniciativas públicas e da sociedade, para garantir o atendimento
às necessidades básicas”.
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Artigo 20. “O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um) salário mínimo mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família” (BRASIL, 2010).
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Ecléa Bosi (1994) coloca que ser velho na sociedade capitalista é sobreviver
sem planos, já que o velho não pode produzir para o capital. A velhice é uma etapa
da vida que todos os seres humanos estão sujeitos a vivenciar, porém a
humanidade tem medo de envelhecer e sempre vê como velho o outro, pois o
homem não se reconhece enquanto velho. Nas palavras de Beauvoir (1990, p 10),
“[...] recusamo-nos a nos reconhecer no velho que seremos [...]”. Isso ocorre devido
a repulsa que o ser humano tem da exclusão e da descriminação por ser idoso.
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Para Prado e Sayd (2006), Papaléo Netto e Ponte (1996), a geriatria é uma especialidade médica
voltada para a prevenção e tratamento das doenças na fase da velhice. A gerontologia é considerada
uma ciência que estuda o processo de envelhecimento e os problemas que envolvem a população
idosa. A geriatria é composta por médicos, que são denominados de geriatras. Já a gerontologia é
formada por diversas áreas como, por exemplo: a psicologia, o serviço social, os direitos, entre
outros. Esses são os chamados de gerontólogos.
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envelhecimento pode ser analisado a partir das diferentes idades, como por
exemplo, a idade cronológica, idade biológica, idade psicológica e a social.
A idade social faz referência a partir dos hábitos e dos status sociais. O
comportamento do ser humano influencia na sua idade social, pois se considerar
jovem ou velho, a partir de suas ações, determina o que a sociedade vê como velho
ou jovem. O exemplo disso é a aposentadoria, quando o ser social deixa de
trabalhar e se aposenta, a sociedade o vê como um ser improdutivo, ou seja, um
velho, já que, a aposentadoria tem uma ligação com a velhice.
base nesse critério que é delimitado a idade para a pessoa ser idosa. Sendo assim,
a Constituição Federal de 1988; a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842, de 4 de
janeiro de 1994) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003) tem
como base o limite etário. Porém, entre esses três ocorre uma divergência na idade
limite para a pessoa ser considerada idosa. Essa diferença entre esses três
determinantes ocorreu devido ao contexto que o país estava vivenciando. A C.F de
1988 considera a pessoa idosa aquela que possui a idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos de idade. A definição da PNI baseada no seu artigo 2º:
“Considera-se idoso, para os efeitos desta Lei, a pessoa com mais de sessenta anos
de idade”. Desta forma, a Lei 8.842 redefiniu a idade do brasileiro para ser
considerado como idoso. O Estatuto do Idoso expõe através do artigo 1º: “É
instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às
pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”. Logo, esta Lei vem
afirmar a definição da PNI e se contrapõe à CF de 1988.
Existe outro clã que vê velhice como parte da sociedade, tem um lugar
virtuoso e tem vez na sociedade em que é tratado com respeito, o exemplo é dos
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16
“O velhicismo é uma ideologia como o sexismo e o racismo” (GIDDENS, 2005, p. 147).
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Pra mim, a velhice representa muita coisa boa, só que quando a gente fica
velha, a gente é tratada com desrespeito não só pela família da gente não, a
gente é tratada com desrespeito por todo mundo. Mas feliz daquele que vive
muito. Eu digo é muito pra meus filhos, feliz de vocês, se chegar a idade que tô é
muita coisa, porque nesse mundo que tá aí, é muita coisa a gente viver muito,
nem que seja aos troncos e barrancos, eu vivo bem. Agora eu gosto da minha
velhice, eu gosto, não vou dizer que não gosto não, porque agora na minha
velhice estou tendo mais liberdade de quando eu era nova. Porque meus
pais nunca deram liberdade a nós, nós não tínhamos liberdade nem pra sair,
só pra a igreja com eles, dia de domingo pra missa. E agora não, graças a
Deus, tenho mais minha liberdade, porque eu saio para os meus cantinhos, clube
de idosos, vou aos meus passeios do clube de idoso sabe?!. Aí tenho mais
liberdade, por isso que acho bom. (Jasmim, 73 anos, grifos nossos).
É bom, mas pra quem tem sorte de ter saúde né? Paz, uma família unida,
obediente, que hoje é o mais difícil né? Ter filho que não é obediente, não quer
estudar, tem que me ouvir, escutar os conselhos. Mas eu gosto da minha velhice
estou levando bem, vou pras minhas reuniões, onde eu moro, só das reuniões do
grupo do Serviluz, Cristo Redendor, mas eu sai do Serviluz, pra ficar no daqui. Na
minha terceira idade, passei a conhecer coisas que na minha infância foi muito
sofrimento, muita dificuldade e, na terceira idade, encontrei algumas coisas melhor
que na infância. Vejo a velhice como ponto positivo, com fé em Deus e sempre
querendo vencer e continuar a vida pra frente, cheia de problema: é filho, é neto, é
bisneto, mas tem que agradecer a Deus e se eu estou vivendo é porque Jesus
quer. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
Já no Brasil o conceito passou a ser estudado nos anos 1990 em que teve
uma grande propagação. Isso se deu através dos artigos de Joan Scott (1986,
1988), a tradução dos artigos foi a partir de meados de 1990.
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Scott (1989) começa seu artigo, “Gênero: uma categoria útil para análise
histórica” com a epígrafe da palavra gênero a partir da acepção do dicionário
Aurélio. Assim sendo, durante muito tempo o significado de gênero foi empregado
no sentido gramatical da palavra para identificar o sexo. Porém a partir das ciências
sociais, “as feministas começaram a utilizar a palavras ‘gênero’ mais seriamente, no
sentido mais literal, como uma maneira de referir-se à organização social da relação
entre sexos”. (SCOTT, 1989, p. 2).
A mulher tem sua história marcada pela desigualdade tanto na esfera social,
como na profissional, em que a sua remuneração é diferenciada da dos homens. E
é, nessa fase da vida, que elas se deparam com mais exclusão e preconceitos.
Debert (1999, p. 140) comenta: “essa passagem [...] seria caracterizada por uma
série de eventos associados a perdas, como o abandono dos filhos adultos, a viuvez
ou um conjunto de transformações físicas trazidas pelo avanço da idade”.
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No terceiro capítulo tem-se a diferenciação da violência contras as mulheres os homens. Estas por
sua vez sofrem mais com a violência no contexto familiar.
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Definir o conceito de família não é uma tarefa simples, uma vez que as
mudanças sociais, ao longo dos tempos, influenciaram na instituição familiar. Ao
pensar em família, a primeira ideia é aquela composta por pai, mãe e filhos
convivendo em uma mesma residência. Essa imagem corresponde ao modelo de
família nuclear (ARIÈS, 1981; GIDDENS, 2005).
Durante o século XVI e XIX, a chamada família patriarcal teve uma forte
presença no Brasil em que a figura dominante do homem era bem marcante. As
transformações ocorridas na sociedade, tais como: a vinda da Família Real para o
Brasil em 1808, a urbanização seguida da industrialização, a abolição da
escravatura e a imigração; contribuíram para o declínio da família patriarcal e para a
ascensão de novos modelos familiares. Osterne (2001, p. 69) explana: “a família
patriarcal foi paulatinamente substituída pela família nuclear urbana, sem, entretanto
deixar de lado sua matriz patriarcal [...]”.
...Filhos, netos, bisnetos, pai, mãe. Família é isso né? (Comigo Ninguém Pode, 77
anos).
mulher pode ser avó com 40 anos ou menos e bisavó com menos de 60 anos. Em
relação à convivência intergeracionais Vitale (2002, p. 98 - 99) comenta:
Essas autoras ainda destacam a co-residência, que pode ocorrer tanto por
necessidade das(os) idosas(os), como pelos filhos. Assim a co-residência se
configura quando residem parentes ou filhos e pais, que também pode ser
considerada de família ampliada.
Diante do que já foi explicitado, pode-se dizer que não existe família e sim
famílias, visto que, na contemporaneidade brasileira, não há apenas um único
modelo de família e, assim, formam-se novas configurações dessa instituição.
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A C.F de 1988 através do Título VIII - Da Ordem Social, capítulo VII e dos artigos 229 e 230
colocam a família como o centro de amparo ao idoso, assim, nesse sentido, tem que existir a
responsabilidade mútua entre os pais e filhos e o Estado, este último, por sua vez, tem o dever de
oferecer programas de amparo ao idoso, porém esses programas têm preferencialmente a execução
nos lares. O artigo 229 coloca os filhos como ser responsável pelos pais na velhice, na carência ou
na doença, mas também atribui aos pais o cuidado com os filhos na infância e na adolescência. Já o
artigo 230 tem-se a tríade família, sociedade e Estado com o dever de amparar o idoso afirmando a
sua participação na comunidade e garantindo o direito à vida. Na PNI, o seu artigo 3º inciso I também
tem a tríade família, sociedade e Estado como provedores e de garantirem aos idosos todos os seus
direitos: cidadania, participação na comunidade, defendendo a sua dignidade, bem-estar e direito à
vida.
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A figura da mulher tem uma associação muito forte no que diz respeito ao
cuidar do lar, dos filhos, dos netos, ser esposa, avó. Apesar já das mudanças
transcorridas na sociedade, a mulher já conquistou vários direitos como votar,
trabalhar fora de casa, ser chefe de família, entre outras. Porém, essa visão do
senso comum de relacionar a mulher aos fazeres domésticos ainda está presente e
isso é bem notório nas falas das idosas que compartilham da mesma opinião.
Ser mulher, pra mim, eu acho que é ser mãe, cuidar da casa, dos filhos, dos
netos, é isso. (Jasmim, 73 anos).
...cuidar da casa da gente né? É ter nossos filhos, bisnetos, nossos netos, é a
família. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
mas o cuidado com o neto, bisneto assim como as falas anteriores das idosas se
apresentaram.
A partir das falas das idosas, nota-se que elas viveram em uma sociedade
que apresentava o modelo de família nuclear, em que a figura do pai é bastante
forte, isto é, ele era a autoridade máxima do domicílio. É o que retrata a coloção de
Jasmim na página 44, em que ela coloca privação em não ter liberdade para sair de
casa e só saía para a missa com seus pais e irmãos.
Meu pai foi muito marcante pra mim e pra meus irmãos, ele se separou da minha
mãe, eu era pequena e ficou com nós. Ele era cantador, repentista, viajava,
passava a semana fora pra sustentar a gente e nós ficava com meu irmão mais
velho que tomava conta da gente. Meu pai e meu irmão foram pai e mãe. (Comigo
Ninguém Pode, 77 anos).
... fico aqui com minha netinha de 09 anos porque a minha filha e meu genro
trabalha o dia todo. A minha filha é professora da prefeitura, e minha netinha
estuda de tarde aqui pertinho, aí ela fica comigo até a hora de ir pro colégio, é
minha companhia (Jasmim, 73 anos, grifos nossos).
A condição das idosas nos domicílios vem revelando um novo papel para
esses atores sociais em que elas passam a exercer o papel de “cuidadora” dos
netos e chefes de famílias. É o que revela a pesquisa Perfil dos Idosos
Responsáveis por Domicílio no Brasil (IBGE, 2002). Essa pesquisa do Censo
Demográfico de 2000 apontou em 1991 que os idosos chefes de família
representavam 60,4% e que, no ano 2000, houve um aumento para 62,4% de
idosos, que são responsáveis pelos lares brasileiros. Dentro desse número, 54,5%
estão vivendo com seus filhos e são considerados a principal fonte de renda da
família.
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Criei meu neto (referindo-se ao Raí seu vitimizador) desde 24 horas de nascido. O
motivo foi a separação dos pais dele. Quando ela (se referindo a sua ex-nora) saiu
daqui, ela tava grávida do menino e a menina tinha dois anos e foi para a casa da
irmã dela, e ela teve o menino nessa época. Eu trabalhava na Unifor, aí o menino
nasceu. Da maternidade, ela veio para a casa do meu irmão que é vizinho, era à
noite, eu estava trabalhando, ela jogou o menino em cima do sofá, na casa do
meu irmão nuzinho, sem nada e foi embora. O povo aqui estava tudo doido porque
o menino estava nuzim, não tinha nada. Trabalhava e cuidava dele e quando eu ia
trabalhar eu deixava ele na casa de uma vizinha, era desse jeito pelejando,
pelejando, pelejando, criei ele. (Jasmim, 73 anos).
A família tem que ser unida. Só que hoje em dia é muito difícil, não tem união nas
famílias, a violência tomou de conta de tudo. Tem mais é violência, os filhos
maltratam os pais, não têm o respeito, grita, fala palavras desagradáveis. A
família da gente é muito importante né? A gente podendo agir né? É uma coisa
muito importante, enquanto eu estiver viva e podendo me mexer ninguém manda
no que é meu, quem manda sou eu. E já disse aqui pra meus filhos que enquanto
eu tiver mexendo o caroço do olho, eu manobro. A minha família representa
pessoas boas graças a Deus até agora. Não tenho medo de ninguém da minha
família. (Jasmim, 73 anos).
A família representa alegria. Filhos, netos, bisnetos é muito bom. Tenho uns filhos
bons que me ajuda, que gosta de mim. Me sinto feliz, mesmo assim sem marido
né?!. Meu marido é Deus e nossa Senhora. Sentimento pelos familiares. Peço a
Deus que todos sejam felizes. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
desemprego afeta a família e muitos retardam a saída da casa dos pais, pois como
não têm como prover sua subsistência, ficam na dependência dos pais e quanto
mais elevado o número de filhos, maior é a possibilidade de residir com eles
(Camarano et all, 2004).
Teve um tempo que morava todo mundo na parte de cima. Eu, meu neto, minha
filha, meu genro e minha netinha. Morava todo mundo lá, porque eles não tinha
casa, essa parte de baixo, morava uma sobrinha minha. Nesse tempo, não tinham
como pagar aluguel, minha filha não estava trabalhando era só meu genro. Eles
me ajudavam com as despesas, assim, ajudava no mercantil, na água nessas
continhas. Aí quando minha sobrinha saiu pra outro lugar, eles foi morar aqui
embaixo. (Jasmim, 73 anos).
19
Revolução Francesa XVII; a Primeira Guerra Mundial 1914; Revolução Russa 1917 e a Segunda
Guerra Mundial 1939.
59
20
Barra Pesada (TV Jangadeiro); Comando 22 (TV Diário) e 190 (TV Cidade).
21
Aborda-se a violência como uma expressão da questão social, porque ela se expressa de múltiplas
formas: violência contra a mulher, violência contra o idoso, contra a criança e adolescente, pobreza,
luta por terras entre outras. Para Iamamoto (2009, p. 27), é a partir dos conjuntos das expressões das
desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada
vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus
frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. [...]”.
60
desigual, em que há muitos com pouco e poucos com muito. Logo, é necessário
compreendê-la, levando em consideração o contexto sócio histórico presente na
sociedade e as análises dos pesquisadores da temática.
mundial e de saúde pública. A OMS aponta que por ano mais de um milhão de
pessoas no mundo perdem suas vidas e outras sofrem lesões não fatais, vítimas de
diferentes formas de violência. Desta maneira, a OMS (2002, p.5) a define como:
A violência é uma coisa muito horrível, muito triste a violência. Porque causa
muita coisa ruim na vida: morte, sofrimento para a família. Morte é uma coisa
muito violenta, isso a morte que o povo sai matando por motivos bestas. A droga
no mundo tá grande, e tem gente que vai roubar para comprar a droga e mata
porque a pessoa reage ao assalto, é muito triste isso. (Jasmim, 73 anos, grifos
nossos).
...é tanta coisa a violência. Esse mundo tá terrível, a violência tomou conta
mesmo, a droga tá aí né? É tanta coisa ruim que acontece é assalto, é morte, é
tanta coisa que não sei dizer. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos grifos nossos).
Hannah Arendt (2011), em sua obra “Sobre a Violência”, faz uma reflexão a
respeito da violência a partir da discussão dos meio violentos do século XX, mais
precisamente da rebelião estudantil de 1968, e da guerra do Vietnã. A autora inicia
sua análise das palavras-chaves: poder, vigor, força e autoridade e violência, que,
comumente, são utilizadas como sinônimos. A pesquisadora faz um alerta para o
cuidado em usar os sinônimos, pois seus significados possuem um contexto. Assim,
a autora faz uma crítica com as interpretações errôneas das palavras e da
banalização como elas são utilizadas.
62
...é insuficiente dizer que poder e violência não são o mesmo. Poder e
violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro está
ausente. A violência aparece onde o poder está em risco, mas, deixa a
seu próprio curso, conduz à desaparição do poder. [...] A violência pode
destruir o poder; ela é absolutamente incapaz de criá-lo. [...] Com isso,
não pretendo equiparar a violência ao mal; quero apenas enfatizar que a
violência não pode ser derivada de seu oposto, o poder, e que, a fim de
compreendê-la pelo que é, teremos de examinar suas raízes e suas
naturezas.
funções pelo qual o homem se utiliza para dominar o homem, logo são tomados
como sinônimos porque têm a mesma função.
Ainda em seu estudo sobre a violência, Arend (2011) faz uma crítica às
ciências sociais e às ciências naturais, pois elas estão preocupadas em desvendar a
agressividade do homem, fazendo testes em animais para revelarem as ações
violentas do ser humano. A crítica que a autora faz é que os cientistas estão
tentando fazer com que o comportamento violento seja uma reação natural e a
agressividade seja um impulso instintivo. Para os pesquisadores das ciências sociais
e naturais, a violência sem a provocação é “natural”, quando perde a sua “rationale”
o homem age “irracional”. O homem é um ser teleológico, ou seja, tem uma
finalidade em suas ações e o animal é um ser irracional, logo age por instinto,
porém, muitas vezes, os homens podem ser mais “bestiais” do que os outros
animais, pois o uso da razão o torna perigosamente irracional.
tendo como base a questão de gênero, ou seja, por ser mulher é vista apenas pela
figura da doméstica e da maternidade (SAFFIOTTI, 1994; 2004; OSTERNE, 2001).
22
Para Pateman (apud SAFFIOTI, 2004, p. 53) o patriarcado é: “A dominação dos homens sobre as
mulheres e o direito masculino de acesso sexual regular [...]”.
65
violência dos dias atuais nas suas mais diversas formas sutis e destrutivas e a
violência secundária é desestruturante e desagregadora.
Contudo, pode-se concluir que a violência não é recente, nem natural nem
instintiva e muito menos um fenômeno, mas é uma expressão da questão social,
pois a sociedade capitalista, a qual é regida por um modelo econômico neoliberal,
configura uma sociedade com contradições em que o desemprego, a criminalização
estão em alta. Portanto, a violência está ligada à desigualdade social, à exclusão
social e o que há de contemporâneo são as novas roupagens, isto é, as novas
expressões de violência, que se manifestam nas agressões físicas, psicológicas,
patrimoniais e econômicas, sendo esta última manifestada por meio da exploração
financeira. Todas essas expressões surgem na atual sociedade e, muitas vezes, de
forma sutil e destrutiva.
A questão da violência, por não ser específico de uma única área, tem
chamado a atenção das ciências sociais e da saúde 23, pois é um problema que está
presente na história da humanidade, atingindo a todos. Dessa maneira, os
23
A violência é tratada como uma demanda da saúde pública, porque a mortalidade com relação à
violência tem afetado a todos os grupos etários, classes sociais e quando não se leva à morte causa
lesões, traumas físicos e emocionais (MACHADO; QUEIROZ, 2002).
68
estudiosos da área da saúde, assim como também das ciências sociais têm buscado
explicações para esse tema, pois não é só um caso de segurança pública, mas sim
um assunto que diz respeito a todos.
24
A síndrome do bebê espancado é um termo que denomina as práticas de violência contra crianças
e adolescentes, que por sua vez foi considerada um grave problema para o desenvolvimento infantil e
tornou-se um problema de saúde pública (MACHADO; QUEIROZ, 2002).
69
...é um ato único ou repetido, ou ainda a ausência de uma ação devida, que
cause sofrimento ou angústias, e que ocorre dentro de qualquer
relacionamento onde há uma expectativa de confiança [...] pode ser: maus
tratos físico; abuso psicológico; abuso sexual; abandono; negligência e
auto-negligência. (WHO/INPEA, 2002, p. 3).
Não que maus tratos não sejam uma forma de violação dos Direitos
Humanos, mas a questão da violência contra o idoso tem que ser tratada além da
compreensão adotada pelos órgãos internacionais. Pois, como uma expressão da
questão social, os sujeitos sociais estão em uma sociedade antagônica e desigual,
portanto a violência se promulga nas mais variadas formas como, por exemplo, nas
relações familiares, institucionais e interpessoais.
25
As causas externas que a autora se refere são: homicídios, suicídios, óbito por acidente em geral,
lesões e traumas provocados pelas violências, acidentes em geral e pelo envelhecimento estão
contempladas na Classificação Internacional de Doenças (CID) (MINAYO, 2005).
71
a) Abuso físico, maus tratos físicos ou violência física: são tipos de violência
exercidos através da força física, com o intuito de ferir, provocar dor,
incapacidade ou morte do idoso. Exemplo: quando o corpo sofre qualquer
agressão como chutes, tapas, socos, empurrões, beliscões etc;
b) Abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos:
correspondem às agressões verbais ou gestuais com objetos que aterrorizam,
humilham, restringem a liberdade ou isolam os idosos do convívio social.
Exemplo: chantagens, intimidação, insultos, desvalorização da pessoa, entre
outros;
c) Abuso sexual ou violência sexual: ato que se refere ao jogo sexual de caráter
homo ou hetero-relacional, utilizando o idoso, visando obter excitação, relação
sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.
Exemplo: esse tipo de violência também pode ser expresso por meio da
dominação da vítima em que ela é obrigada a manter a relação sexual para
satisfazer o prazer do agressor. Também pode vir acompanhada de ameaças
como uma forma de intimidar a vítima e essa, por sua vez, não denunciar;
d) Abandono: manifesta-se pela ausência ou deserção dos responsáveis
governamentais, institucionais ou familiares de prestarem socorro a uma pessoa
idosa que necessite de proteção. Exemplo: A família deixar a idosa residir
sozinha;
e) Negligência: referente à recusa ou à omissão de cuidados devidos e necessários
aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou institucionais. Exemplo:
Uma idosa com problemas de saúde e a família ou algum órgão não prestar
assistência necessária;
f) Abuso financeiro e econômico: exploração ou o uso ilegal dos recursos
financeiros ou dos bens materiais do idoso. Exemplo: uma pessoa de confiança
do idoso (filho/a, irmã/o, neta/o) pode usufruir de seus bens a seu favor, fazer
72
26
Para maior aprofundamento consultar os Anais da I Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa
Idosa.
27
“O plano constitui-se como um instrumento que reforça os objetivos de implementar a Política de
Promoção e a Defesa dos Direitos aos segmentos da população idosa do Brasil, dentro de um
enfoque do respeito, da tolerância e da convivência intergeracional [...]”. Tendo como objetivo:
“Promover ações que levem ao cumprimento do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, 1º de outubro de
2003), que tratem do enfrentamento da exclusão social e das formas de violência contra esse grupo
social” (BRASIL, 2005, p. 7/10).
74
...Tem a lei que protege o idoso que se alguém fizer alguma coisa com a gente, o
idoso pode denunciar qualquer coisa, a gente pode denunciar. Ônibus, qualquer
28
Para um estudo mais específico consultar os Anais da II Conferência Nacional dos Direitos da
Pessoa Idosa.
29
Para obter um estudo com maior abrangência ver os Anais da III Conferência Nacional dos Direitos
da Pessoa Idosa.
75
coisa, a gente tem que ligar, se fizer alguma coisa com a gente tem que ligar.
Lá no grupo temos todo o apoio e eles ligam denunciando. No grupo, é só o que
fala, é no Estatuto do Idoso, só sei dele e tem outro? (Jasmim,73 anos grifos
nossos).
Estatuto do idoso. Na reunião fala muito que o idoso não pode ser maltratado e
se ele for violentado com palavra e agressão, não precisa bater, basta que as
pessoas tratem o idoso mal e que não respeite e que a gente denuncie que
tem que levar a causa, só que eu nunca levei não. Às vezes os netos são
grosseiros comigo, mas a complicação maior é a convivência com o Messias.
(Comigo Ninguém Pode, 77 anos grifos nossos).
Nas palavras das idosas, percebe-se que elas têm conhecimento dos seus
direitos e dos riscos que correm no seu cotidiano, e quando há a violação dos
direitos, é imprescindível fazer a denúncia. Jasmim faz menção à violação dos
direitos dos idosos nos ônibus, em nosso diálogo ela expôs: “tem gente que não dá
a cadeira para o idoso, finge que tá dormindo e o idoso fica em tempo de cair com
uma freada do motorista”. Na colocação da Comigo Ninguém Pode, nota-se o receio
de denunciar principalmente quando se é um ente da família, para os idosos
denunciarem a agressão vinda de seus familiares é muito mais complexo do que
outro de terceiros. Na explanação da Comigo Ninguém Pode, percebe-se o
conhecimento da violência psicológica, as agressões por meio das palavras e não
somente da ação da força física.
Britto da Motta (2009) faz uma crítica em relação ao feminismo, uma vez
que, a discussão da violência contra a mulher está mais voltada para as mulheres
jovens e, dessa forma, a violência contra a mulher idosa não detém tanto
desenvolvimento teórico. Assim a autora explana:
Assim sendo, não é de negar que a violência contra a mulher idosa tem um
enfoque que se estende para o mesmo fim, isto é, para as relações de gênero. A
violência que é praticada pela maioria dos filhos(as), netos(as), genros e noras, é
percebida como conflitos nas relações intergeracionais. Portanto, a violência contra
a idosa deve ser compreendida como uma violência que se desenvolve no âmbito
geracional que, por sua vez, ganha uma maior aparição por ser uma questão de
gênero, por ser exercida, em maioria, sobre as mulheres e pelo processo de
envelhecimento estar em constante crescimento, devido à queda na taxa de
fecundidade (BRITTO DA MOTTA, 2009).
...A mãe dele (referindo-se à mãe do Raí, sua ex-nora) judiava comigo, me
maltratava, colocava meu filho contra mim. Dizia que quando eu ia pro centro, eu
ia atrás dos homens lá na Praça dos Leões, que eu ficava lá sentada na Praça dos
Leões atrás dos homens. [...] Ainda bem que meu filho sabia que jeito eu era, ai
ele foi e disse: “não diga uma coisa dessas com minha mãe não, que eu conheço
a minha mãe.” Sofri muito com isso.
... me chamava de doida, nem me lembro mais, era tanta coisa, coisa
desagradável. Eu me sentia triste, uma tristeza dentro de mim, eu dizia: “não diga
isso comigo não.” Nessa época, uma vez, ele chegou até me dar um empurrão,
mas esse empurrão eu não cai não, me segurei na parede. Eu disse: “ô você
me empurrou.” Aí ele disse assim: “me desculpe.” Aí me abraçou e me
beijou nessa hora, aí pronto, tá perdoado. (Jasmim,73 anos, grifos nossos).
...se eu não fosse a mãe dele ia me matar, um bocado de coisa, que sou isso, sou
aquela, que sou analfabeta. Só que quem é analfabeto é ele, que não sabe nem
ler e nem escrever, eu pelo menos ainda sei ler e escrever, pouco, mais sei. O
Messias fala muita besteira, não me dá valor. Acha que eu não faço nada por ele,
diz que eu sou a causa do sofrimento dele. Ele diz essas coisas desagradáveis.
Eu penso que eu não merecia isso, que eu deveria ser mais bem tratada, dos 10
filhos que tenho, só ele faz isso comigo, só ele mesmo. Às vezes meus netos me
respondem grosseiros [...] tem uma filha, a mais nova que fala grosseira comigo
também, ela tem um problemazinho, mas ela não abala meu sistema nervoso,
quem faz isso é o Messias. Eu não posso abandonar ele, tenho que viver com ele
até quando Deus quiser. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
No primeiro relato, Jasmim se refere aos maus tratos que vivenciou durante
quinze anos com a sua nora e em nenhum momento ela expôs o nome. Narra que
sua ex-nora denegria sua imagem para seu filho, que sempre demonstrou ser uma
pessoa violenta. Quando tinha desentendimento com seu filho, quebrava tudo em
casa. Na segunda colocação, mencionam-se as ofensas que vivenciou no período
de dois anos (dos quinze aos dezesseis anos), quando seu neto Raí residia com ela.
78
Tudo começou desde quando ele foi aposentado, porque, pelo gosto dele,
esse dinheiro era nas mãos dele pra ele beber e fumar, aí é proibido ele
beber e fumar, porque ele tem problema de saúde, pressão alta, mas
sempre dou uma parte do dinheiro pra ele, mas o dinheiro é pra alimentação
dele, pra me ajudar a pagar água, luz, pra ajudar nas despesas, também
tem medicamento, que eu preciso comprar que não é barato. Ele ficou mais
agressivo, revoltado comigo por causa da aposentadoria, tem mais ou
menos uns 15 anos que ele mudou né?! Por causa da aposentadoria. Ele
me chama de ladrona de todo nome, porque ele quer que eu dê o dinheiro
todinho, só que não dou, não tem como. Ele ficou mais assim depois da
aposentadoria, ele era mais calmo. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
Não. É da família, é meu filho, só quero que consiga alguma coisa para ele se
ocupar, ele é mais assim devido ele não fazer nada né?! Ele sofre muito e eu
também sofro, é muito sofrimento. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos).
Nesse sentido, a colocação de Jasmim revela que seu sofria calada e que
não procurava a sua família com receio de alguém fazer alguma coisa com seu neto.
Logo, percebe-se uma cumplicidade nas agressões, uma vez que ela silencia diante
das agressões verbais e não compartilha com seus demais familiares. Jasmim tem
receio que alguém faça o seu neto sofrer, porém, ao mesmo tempo, ela reconhece
que Raí a agredia e nas suas palavras define o rapaz como ruim. Também se revela
a pressão psicológica dos demais membros da família por Jasmim não expor as
agressões sofridas, e eles acabavam culpando-a pelas atitudes de seu neto.
...as palavras machucam muito é uma pancada muito forte ainda mais quando é
uma pessoa que a gente ama e faz tudo, tudo, tudo, passei muitas noites
acordada com ele doente, muitas noites acordada, sofri muito [...]. A gente cuida
daquela pessoa e tem todo carinho com aquela pessoa, e a pessoa maltrata
a gente, não há essa pessoa que goste e fique satisfeita, mas eu suportava
tudo calada, não dizia nada pra minha família que não era para ninguém ficar
machucando ele. As minhas irmãs até diziam as coisas com ele também, mas,
muitas vezes, eu escondia muita coisa, porque eu não queria que ninguém
machucasse tanto ele. Eu sabia que ele era ruim, ainda hoje, a minha família tem
essa mágoa de mim, que eu escondia muita coisa, que ele era assim por causa de
mim. (Jasmim, 73 anos, grifos nossos).
...Ela (referindo-se a sua ex-nora) dizia que tudo isso aqui era dela (se referindo à
propriedade da casa) que quem mandava era ela, eu dizia: “mas não pode que eu
tenho a escritura, isso aqui foi herança do meu pai.” E ela ficava dizendo que era
dela. As amigas dela chegavam aqui e ela dizia assim: “isso tudo aqui é meu,
quem manda aqui é eu.” Um dia, eu fui ao Fórum e o oficial de justiça a botou pra
fora depois de quinze anos que ela morava aqui. [...] ela (ex-nora) brigava comigo,
queria bater em mim, muitas vezes, meu filho já pegou a cadeira dela, que ela
queria bater em mim e se tô viva, agradeço ao meu filho, porque ela já quis jogar
duas cadeiras em cima de mim. (Jasmim, 73 anos).
...ele diz que qualquer dia que eu sair, ele vai tocar fogo na casa, só fala besteira,
eu digo você não é nem doido de tacar fogo na minha casa [...]. É por isso que
meu neto dorme aqui comigo, porque eu posso precisar de alguma coisa. (Comigo
Ninguém Pode, 77 anos).
Ele não pensava direito, era muito criança né?! 15, 16 anos, não pensava direito,
não sabia o que fazia. (Jasmim, 73 anos).
Ele saía e não me avisava. Dizia que ia pro colégio e ficava na pracinha com os
amigos, saía 7 horas da noite e chegava no outro dia e eu ficava acordada,
esperando por ele e eu reclamava e ele não gostava. Era assim, porque ele era
muito novinho. (Jasmim, 73 anos).
Ele é muito nervoso, não faz nada e isso deixa ele assim né?! Tenho certeza que
ele não faz isso porque ele quer, ele é revoltado pela condição dele. Ele só fica
agressivo quando ele tá nervoso, não sendo, ele é ótimo. (Comigo Ninguém Pode,
77 anos).
Eu avançava em cima dele, pegava um pau, tacava nele, o que eu tinha na mão,
jogava nele, eu enfrentava. Uma vez eu tava com uma panela de pressão no fogo,
fervendo e uma panela de arroz, ele tinha medo das minhas coisas também. Sei
que o que eu fazia era violência, mas eu sei que não ia fazer aquilo, era na hora
do desespero, eu não fazia, eu não tinha coragem. (Jasmim, 73 anos).
Só Deus. Não recorria à minha filha por medo de acontecer alguma coisa. Uma
vez, morava todo mundo na casa de cima: eu, minha filha, meu genro, minha
netinha e ele, nós cinco. Meu genro é uma pessoa muito boa, mas ele, às vezes, é
violento e, nesse dia, ele tava dizendo não sei o que comigo, tava botando o
almoço dele, ele estava até pronto pra ir pro colégio. Aí minha filha falou uma
coisa que não me lembro com ele, aí ele disse: “cala a boca.” Isso, meu genro
estava lá na sala, ele tava almoçando na mesa, aí da viagem que ele deu saindo
82
da sala foi logo esmurrando ele, batendo nele. Eu disse: “não faça uma coisa
dessa não.” Foi logo batendo nele, esculhambando ele, ele arrudiando a mesa,
atrás de socorrer sem poder. Aí gritei: “corre para meu quartinho.” E era lá que ele
dormia comigo. Aí quando ele correu pra dentro do meu quarto, ele correu
também e empurrou ele pra cima da cama, aí ele começou a esmurrar e gritei que
ele não fizesse aquilo. Ainda hoje, ele não gosta nem dele, aí minha menina viu
que foi demais e brigou com ele, meu genro, “não faça isso não.” Ainda hoje eu
sinto isso aí uma tristeza. Aí ele nem almoçou, pegou os livrinhos e foi pro colégio.
Comecei a chorar nessa hora e disse que não tinha precisão dele fazer isso, ele
não disse nada demais, ele só mandou ela calar a boca, porque minha filha falou
com ele, aí nisso meu genro sentiu e fez isso. Isso foi uma desavença, mas depois
acalmou tudo. Isso a gente sente porque é família. (Jasmim, 73 anos).
Eu falo pra minha filha que mora aqui perto e pro meu filho, o mais novo. Eles
dizem: “mas mamãe o que é que eu posso fazer? A gente já falou pra ele, ele não
muda, ele é uma pessoa revoltada.”. Meus outros filhos não conversam muito com
ele não, porque ele é uma pessoa muito agressiva, para conversar com ele tem
que ser uma pessoa paciente, que ele não conheça, porque o da família, se for
falar com ele, ele sai na maior ignorância, estupidez, isso é com a família, porque
com a pessoa de fora, você nem acredita que ele faz essas coisas. (Comigo
Ninguém Pode, 77 anos).
Tem tanta idosa que é tratada mal por tudo mundo: é o filho, neto, na rua
né? Tem pessoas na sociedade que é honesto com a idosa, faz coisa boa
para os idosos, como, às vezes, dá o lugar no ônibus, outros dizem coisas
com nós, idosos, é muito triste isso. (Jasmim, 73 anos).
Casei cedo com um pobre, analfabeto, era um salário só, muitos filhos. [...].
Ele era um bom marido, só que nossa vida foi muito sofrida, sem condições,
muitos filhos, como eu disse foi isso. Nunca tive nenhum problema com ele
não, só mesmo essa questão das coisas ser difícil. (Comigo Ninguém Pode,
77 anos).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda hoje ele não gosta nem dele (referindo-se que seu neto Raí não gosta de
seu genro), aí minha menina viu que foi demais e brigou com ele, meu genro: “não
faça isso não”. Ainda hoje eu sinto isso aí, uma tristeza grande dentro de mim.
Aí foi grande o sofrimento, tinha que trabalhar e cuidar dele e a mãe dele por aí no
meio do mundo, aí não tem nada não, eu tenho fé em Deus que eu venço.
Agradeço a Deus por tudo que já passei, chegar à idade que tô é muita coisa.
(Jasmim, 73 anos, grifos nossos).
Eu tenho um sentimento muito grande dentro de mim, esse é o maior, foi na época
que ele paralisou, eu não sabia, não tinha rádio, não tinha televisão, não sabia que
existia essa doença infeliz de paralisia. Tive dois casos, ele e a outra menina que
faleceu, ele foi primeiro, eu não tive como evitar, não conhecia, ela me pegou sem
me avisar, sem nem saber de nada. Eu notei que ele (referindo-se à paralisia
infantil) estava doente porque ele era bem durim, ficava em pé, e quando eu fui
pegar ele para botar em pé, as pernas dele bum, estavam mole. Eu nem vi quando
ele teve a paralisia, quando eu peguei ele com as pernas mole, que não ficava em
pé, fiquei maluca, aí ganhei esse mundo de meu Deus aqui em Fortaleza, só que
os médicos disseram que não tinha mais condições, que a paralisia já tinha dado,
já tinha ido embora e ele ficou derrotado. Era muito lento o tratamento pra ele
voltar resistir, mas ele resistiu e está aí com 46 anos, forte. Eu peço a Deus muita
paciência pra vencer, pra ver ele numa situação melhor, mais conformado,
pra que apareça alguém, que me ajude, para ele fazer um tratamento, um
exercício, alguma coisa, é isso que eu queria. Eu tenho fé em Deus que
assim como apareceu você pra essa pesquisa apareça alguém pra ajudar
ele. (Comigo Ninguém Pode, 77 anos, grifos nossos).
atinge por igual os sexos. A mulher tem mais possibilidade de sofrer com as
agressões, isso não só nessa fase da vida, isto é, na velhice, pois são violentadas
na infância, na juventude, na vida adulta e na velhice. Sendo assim, não há a
imunidade, visto que, em qualquer momento da vida, pode-se ser surpreendida pela
violência.
É no espaço doméstico, ou seja, no lar que as mulheres são mais
vulneráveis às agressões por parte de seus familiares, pois é o espaço que se
revela, usando as palavras de Faleiros (2009), o conluio do silêncio, visto que
adentrar nesse espaço e romper com o silêncio não é tão simples, já que o medo, a
vergonha, a impotência diante da violência deixam as vítimas reféns do vitimizador e
de si, pois entregar o ente amado da família é muito forte e, às vezes, acaba se
culpando.
...Ele faz isso devido à condição dele. Ele é revoltado com isso por ser paralítico e
eu me sinto culpada por isso, porque eu não sabia dessa doença, tenho certeza
que se ele não fosse assim, ele não era tão revoltado. (Comigo Ninguém Pode, 77
anos).
ele não pensava direito por isso que ele dizia que eu era doida, mas agora ele é
tão bonzinho pra mim, tá trabalhando, me ajuda a comprar algum remédio quando
eu preciso. (Jasmim, 73 anos).
um filho, então diante dessa suposta atenção, que é dada por traz pode-se revelar
mais cenas de violência que ela não quis tornar-se visível.
É uma violação do direito de nós idosos, não precisa bater é só dizer palavras, já é
violência, é só tratar o idoso mal. Quando acontece isso, eu fico aqui na solidão e
quando eu fico assim, eu saio, vou pra Aldeota, tenho dois filhos que mora lá, um
homem e uma mulher, tenho irmão que mora lá também, é meu irmão mais velho.
Vou pra lá pra esquecer de tudo e volto bem. Messias é sofrido, revoltado da vida.
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95
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ANEXOS
97
ANEXO I
TERMO DE CONSENTIMENTO
TERMO DE CONSENTIMENTO
Nome:
Assinatura:
Fortaleza_______ de _____________2012.
ANEXO II
ROTEIRO DE ENTREVISTA
02. A senhora pode expor sobre a sua história de vida? Como era a sua relação
com seus irmãos e pais?
04. Velhice:
a) Para a senhora, o que representa a velhice? Como a Sra. se vê?
05. Família:
a) Para a senhora, o que é família? O que ela representa?
b) Como é a sua relação com seus familiares?
c) Quais os seus sentimentos em relação a seus familiares?
06. Violência:
a) Para a senhora, o que é violência?
b) O que a senhora entende por violação dos direitos da pessoa idosa?
c) A senhora se sente agredida? Como são essas agressões? É com
frequência? Como começaram as agressões?
d) A que a senhora atribui à violência que a vivencia?
e) Como a senhora percebe a violência?
f) Quando a senhora se sente agredida tem a quem recorrer? Quem?
g) A senhora tem medo de algo? Por quê?
h) Gostaria de falar alguma coisa em especial sobre a situação que a
senhora vivencia?
i) Como é que a senhora lida com essa situação de violência?
07. Denúncia:
a) Acha importante fazer a denúncia? Por quê?
b) Sabe onde pode fazer a denúncia para superar a violação dos direitos?
c) Como está a sua relação com o agressor após as agressões? E após a
denúncia?
08. Leis
a) Conhece alguma Lei que protege o idoso? Qual?
b) Conhece o Conselho do Idoso? Já participou de alguma conferência ou
assembleias do Conselho?
c) Já registrou Boletim de Ocorrência contra o agressor?
d) Já solicitou medida de proteção?