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CANOAS, 2007
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CANOAS, 2007
2
TERMO DE APROVAÇÃO
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel
em Relações Internacionais do Centro Universitário La Salle – UNILASALLE, pela seguinte
banca examinadora:
_________________________________________________________
Prof. Dr.Alfa Oumar Diallo
UNILASALLE
_________________________________________________________
Prof. Dra. Ana Maria Colling
UNILASALLE
_________________________________________________________
Prof. Maria Cristina Caminha de Castilhos França
UNILASALLE
DEDICATÓRIA
A todas as mulheres que conseguiram libertar-se e para as que estão por conseguir.
4
AGRADECIMENTO
A todas as mulheres que viveram por nós. Aquelas que romperam o silêncio e
tornaram-se protagonistas de suas próprias vidas e histórias. Que não tiveram medo de amar.
Aos meus pais por tudo que sou e pelo amor incondicional que me faz superar a
saudade.
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“Há quem observa a realidade assim como é, e se pergunta por que; e há quem imagina a
realidade como nunca foi, e se pergunta por que não.”
RESUMO
A violência contra a mulher está fundamentada na desigualdade de poder entre os sexos, cuja
causa está vinculada às estruturas políticas, econômicas, culturais, educacionais, religiosas.
Afeta a vida de milhões de mulheres em todo o mundo, em todos os aspectos físicos e
psicológicos. Ultrapassa todas as barreiras culturais e religiosas, impedindo o direito das
mulheres à participação plena na sociedade. Ela engloba uma vasta gama de violações dos
direitos humanos e deve ser encarada como uma questão de grave preocupação para a
sociedade internacional.
Palavras-chaves: gênero, violência, mulheres, relações internacionais.
ABSTRACT
Violence against women is based on the inequality of power between sexes, which cause is
bond to political, economic, cultural, educational and religious structure. It affects the lives of
millions of women around the world, in all physical and psychological aspects. It exceeds all
cultural and religious barriers, impeding the right of women to participate fully in society. It
encompasses a wide range of human rights violations and should be taken as a matter of
serious concern to the international society.
Keys words: gender, violence, women, international relations.
RESUMEN
La violencia contra la mujer esta fundada en la desigualdad de poder entre los sexos, cuya
causa esta vinculada en las estructuras políticas, económicas, educacionales, religiosas.
Afecta la vida de millones de mujeres en todo el mundo, en todos los aspectos físicos y
psicológicos. Pasando todas las barreras culturales y religiosas, impidiendo el derecho de las
mujeres a participar plenamente en la sociedad. Esto engloba una vasta gama de violaciones a
los derechos humanos y debe ser encarada como una cuestión de grave preocupación por la
sociedad internacional.
Palabras claves: género, violencia, mujeres, relaciones internacionales.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................09
2 RELAÇÕES DE GÊNERO ................................................................................................12
2.1 Gênero ...............................................................................................................................13
2.2 Sistema de pares binários – dualismo sexual .................................................................15
2.3 A dominação masculina ...................................................................................................18
2.4 Sistema patriarcal ............................................................................................................20
2.5 Feminismo .........................................................................................................................21
3 VIOLÊNCIA DE GÊNERO ...............................................................................................26
3.1 Causas da violência ..........................................................................................................29
3.2 Tipos de violência .............................................................................................................32
3.2.1 Violência doméstica ........................................................................................................33
3.2.2 Práticas tradicionais ........................................................................................................34
3.2.2.1 Mutilação genital feminina ..........................................................................................35
3.2.2.2 Preferência por filhos homens ......................................................................................35
3.2.2.3 Crimes relacionados ao dote e os casamentos precoces ..............................................36
3.2.3. Estupro ...........................................................................................................................37
3.2.4 Assédio sexual .................................................................................................................38
3.2.5 Prostituição e tráfico .......................................................................................................38
3.2.6 Violência contra a mulher migrante ................................................................................40
3.2.7 Pornografia ......................................................................................................................41
3.2.8 Violência contra a mulher sob custódia ..........................................................................41
3.2.9 Violência contra a mulher em situações de conflitos armados .......................................42
3.2.10 Violência contra a mulher refugiada ou deslocada .......................................................43
3.3 Conseqüências da violência .............................................................................................44
4 VIOLÊNCIA DE GÊNERO COMO PROBLEMÁTICA INTERNACIONAL ...........47
4.1 As Organizações das Nações Unidas e as iniciativas para combater a violência de
gênero ......................................................................................................................................49
4.2 Normas jurídicas internacionais .....................................................................................54
4.3 Responsabilidade do Estado ............................................................................................57
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5 CONCLUSÃO .....................................................................................................................60
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................62
ANEXOS..................................................................................................................................65
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1 INTRODUÇÃO
Utiliza-se o termo gênero para designar as relações entre homens e mulheres, pois
gênero é a construção cultural e social da diferença entre os sexos. Gênero não significa o
mesmo que sexo, ou seja, enquanto sexo se refere à identidade biológica de uma pessoa,
gênero é um elemento das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos
e é uma forma primária de dar significado às relações de poder.
As relações de poder, dominação e exploração instituídas ao logo dos tempos estão
sob a forma de princípios de divisão que classificam todas as coisas e práticas do mundo
segundo oposições. A questão dos pares binários como entre masculino e feminino, público e
privado, noite e dia, etc. é a hierarquização dos pares, onde sempre um é qualificado
automaticamente desqualificando o outro. Nesta lógica a mulher tem sido colocada no lado
inferior, negativo e dominado nesse sistema de dualismos.
Através das práticas rituais praticadas ao longo do tempo, a dominação masculina
incorporou-se ao coletivo, tornando-se uma construção social naturalizada, excluindo assim
todo questionamento quanto à legitimidade e continuação desta dominação em todas as
culturas.
Esta subordinação internalizada tem-se perpetuado ao longo dos séculos, sendo a
mulher sempre submetida a uma estrutura que coíbe seus desejos e direitos e a delimita ao
que foi considerado como sua natureza feminina: sua função de fêmea, mãe, esposa, dona de
casa, objeto, etc. Em sua vida restrita ao privado a violência é uma constante, pois esta está
intimamente ligada com sua dominação.
A violência contra a mulher é a arma primeira do patriarcado, ela reflete e perpetua a
dominação masculina. Não se restringe a pobreza, ignorância, a determinados países, etc.
senão que ocorre em todas as sociedades, em todos os âmbitos da vida. Apresenta-se em
muitas formas, desde a violência no seio da família e comunidade até a perpetrada pelo
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Estado. Entretanto, em todas suas formas, a violência contra as mulheres acarreta inúmeras
conseqüências às suas vítimas.
Esta questão tem ganhado visibilidade ao logo da história, a começar com o
surgimento das idéias de igualdade e direitos humanos até o atual florescimento dos
movimentos internacionais de mulheres.
As relações de gênero são um tema que atinge a todos, pois não possuem fronteiras
geográficas, econômicas, ideológicas, religiosas e/ou raciais; estando presentes em todas as
culturas da humanidade. Por este motivo, torna-se imprescindível que a comunidade
internacional crie normativas para promover a igualdade entre os sexos e a eliminação da
violência contra a mulher.
O presente trabalho aborda inicialmente a condição de subordinação da mulher que
está presente nas relações de gênero. A começar com a explanação do significado de gênero
baseando-se no sistema binário de oposições, que cria assim uma dominação masculina. Esta
dominação é internalizada pelas práticas e hábitos humanos perpetrando-se na forma do
sistema patriarcal.
Com o surgimento do movimento feminista, este sistema e as concepções existentes
sobre a natureza da mulher serão contestados. A busca pela igualdade entre os sexos fez com
que a mulher ganhasse mais espaço nas questões públicas, desta forma a violência contra a
mulher ganha visibilidade.
Assim, dando seqüência a este trabalho será abordada tal violência, seu conceito, suas
causas, tipos e conseqüências.
Por fim, considerando que a violência contra a mulher é uma questão internacional,
faz-se fundamental conhecer o desenvolvimento da questão da mulher e da violência
cometida contra ela nas Organizações das Nações Unidas, bem como as normas jurídicas
internacionais pertinentes a este tema e a responsabilidade dos Estados.
Cabe salientar que não serão abordadas as iniciativas das organizações não-
governamentais, por estas formarem um leque muito vasto de atividades. Entretanto, sua
atuação é de fundamental importância para a comunidade internacional, pois é através destas
organizações que muitas vezes se colocam em prática as pesquisas no campo da violência
contra a mulher, bem como são efetivadas as recomendações internacionais e nacionais para o
combate e eliminação desta violência.
Ainda é preciso mencionar a existência de instrumentos regionais de proteção à
mulher, que por tratarem de recomendações já mencionadas nos instrumentos das Nações
11
Unidas e, por vezes, recomendações especificas, não serão citados neste trabalho. Todavia é
interessante salientar que alguns destes instrumentos regionais trazem considerações e
recomendações mais abrangentes que as das Nações Unidas.
Este trabalho traz uma compilação de anexos considerados importantes documentos
referentes à questão dos direitos humanos da mulher, assim como sobre a violência exercida
contra esta. Estes são: Declaração da Mulher e Cidadã de Olympe de Gouges; Declaração
Universal dos Direitos Humanos; Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a
Mulher; Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher; Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher;
Declaração de Pequim; Protocolo Facultativo à CEDAW.
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2 RELAÇÕES DE GÊNERO
Deste modo, a mulher passa a ocupar, como regra geral, uma posição subordinada ao
homem, dando início às relações de gênero. O conceito de gênero que em sua formulação
tinha como princípio a diferença de sexo em uma conotação biológica, dividindo o mundo em
feminino e masculino, a partir da década de 1960 começou a ser utilizado nas ciências sociais
com um significado especifico para designar um conjunto de atitudes, comportamentos e
normas que cada cultura atribui a cada um dos sexos de maneira diferenciada. Daí o sistema
de gênero passa a ser uma construção sociocultural dos sexos, de forma binária e de exclusão,
que põe o homem e a mulher em uma relação hierárquica e de poder, especificamente de
dominação de gênero masculino sobre o feminino, sendo a violência arma de coerção e de
imposição de tal dominação.
2.1 Gênero
Utiliza-se o termo gênero para designar as relações sociais entre os sexos. “Gênero não
pretende significar o mesmo que sexo, ou seja, enquanto sexo se refere à identidade biológica
de uma pessoa, gênero está ligado à sua construção social como sujeito masculino ou
feminino.” (LOURO, 1996, p. 9). Em sua definição conforme Scott (1995, p. 86), gênero é
um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os
sexos e é uma forma primária de dar significado às relações de poder em que suas
representações são apresentadas como naturais e inequivocaveis.
Isto implica que a condição de subordinação da mulher não está determinada pela
natureza, pelo seu sexo, mas é resultante do jogo de poder, da dominação masculina e da
estrutura social e política onde esta dominação já está internalizada. Nas palavras de Joan
Scott:
Por gênero me refiro ao discurso da diferença dos sexos. Ele não se relaciona
simplesmente às idéias, mas também às instituições, às estruturas, as práticas
cotidianas, como aos rituais, e tudo o que constitui as relações sociais. O discurso é
o instrumento de entrada na ordem do mundo, mesmo não sendo anterior à
organização social, é dela inseparável. Segue-se, então, que o gênero é a organização
social da diferença sexual. Ele não reflete a realidade biológica primeira, mas ele
constrói o sentido desta realidade. A diferença sexual não é causa originária da qual
a organização social poderia derivar: ela é antes, uma estrutura social móvel que
deve ser analisada nos seus diferentes contextos históricos. (1998, p. 15, tradução
nossa)
Deste modo, as relações entre gênero podem ser interpretadas como um fato não natural, mas
uma relação social construída e incessantemente remodelada ao longo dos séculos.
14
Assim, para Scott (1995, p.75) o termo gênero é uma forma de indicar as construções
culturais sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres, sendo o gênero assim, uma
categoria imposta sobre o corpo sexuado à qual concepção é criada pelo próprio gênero, ou
seja, o gênero não é um determinismo a ser inscrito em corpos anatomicamente diferenciados.
Neste sentido Butler afirma que:
O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de
significado num sexo previamente dado (uma concepção jurídica); tem de designar
também o aparato mesmo de produção mediante o qual os próprios sexos são
estabelecidos. Resulta daí que o gênero não está para a cultura como o sexo para a
natureza; ele também é meio discursivo/cultural pelo qual ‘a natureza sexuada’ ou
‘um sexo natural’ é produzido e estabelecido como ‘pré-discursivo’, anterior à
cultura, uma superfície politicamente neutral sobre a qual age a cultura. (2003, p. 25,
grifo do autor).
daquilo que ele não é e, portanto, uma lembrança essencial daquilo que ele é. (1983,
p.143).
Deste modo, o conceito de gênero tem a finalidade de deslocar o foco das relações
entre os homens e mulheres, antes concebidas no âmbito biológico e, por conseguinte tidas
como naturais, para o âmbito social e culturalmente criado, percebendo-se assim que as
realidades históricas são construídas, determinando o social, o cultural e as subjetividades que
definem o que é ser homem e o que é ser mulher.
Para Sayão (2003, p.122), passamos a ser homens ou mulheres e as construções
culturais provenientes dessa diferença são a origem de inúmeras desigualdades e hierarquias
que podem ser presenciadas ao longo da história humana, produzindo significados,
representações, estruturas e meios para que se perpetuem.
Scott nesse sentido afirma:
Gênero é uma das referências recorrentes pelas quais o poder político foi concebido,
legitimado e criticado. Ele se refere à oposição homem/mulher e fundamenta ao
mesmo tempo o seu sentido. Para reivindicar o poder político, a referência tem que
parecer segura e fixa, fora de qualquer construção humana, fazendo parte da ordem
natural ou divina. Desta forma, a oposição binária e o processo social das relações
de gênero tornam-se, ambos, partes do sentido do próprio poder. (1995, p.92).
Deste modo:
Pelo fato de estar inscrito tanto nas divisões de mundo social ou, mais precisamente,
nas relações sociais de dominação e de exploração instituídas entre os sexos, como
nos cérebros, sob a forma de princípios de divisão que levam a classificar todas as
coisas do mundo e todas as práticas segundo distinções redutíveis à oposição entre o
masculino e o feminino, o sistema mítico-ritual é continuamente confirmado e
legitimado pelas próprias práticas que ele determina e legitima. Tendo sido
colocadas pela taxonomia oficial, no lado do inferior, do úmido, do baixo, do curvo,
do contínuo, as mulheres vêem atribuir todos os trabalhos domésticos, isto é, os
trabalhos privados e escondidos e até mesmo invisíveis ou vergonhosos, como a
criação das crianças e dos animais, e uma boa parte dos trabalhos exteriores,
principalmente aqueles referente à água, às plantas, ao verde (como a capina e a
jardinagem), ao leite, à madeira, e muito especialmente os mais sujos (como o
transporte do estrume), os mais monótonos, os mais penosos e os mais humildes.
Quanto aos homens, estando situados no lado do exterior, do oficial, do público, do
direito, do seco, do alto, do descontínuo, eles se arrogam todos os atos ao mesmo
tempo breves, perigosos e espetaculares que, como a matança do boi, a lavragem ou
a colheita, sem falar do assassinato ou da guerra, marcam rupturas no curso comum
da vida, e fazem intervir instrumentos fabricados pelo fogo. (BOURDIEU, 1995, p.
138).
Outros tipos de associações entre sexo e fenômenos naturais, como luz e sombra,
reforçam as dualidades. Neste caso o sol está associado ao homem e a lua está associada à
mulher. Identificando o quente com o homem e o frio com a mulher. O quente também está
associado com a vida, a luz, o dia, a claridade e a energia. O frio, ao contrário, está associado
com a morte, a escuridão, a noite, a sombra e a inércia.
Assim, por mecanismos diretos ou tortuosos as diferenças genitais são associadas com
todas estas dicotomias. O pênis, órgão sexual externo e bastante visível penetra a vagina,
órgão sexual interno e quase invisível. Daí existir uma associação da penetração como sendo
1
Surge com o sociólogo Pierre Bourdieu e é considerado como constituindo todas as experiências passadas,
matriz de percepções, apreciações e ações. É uma percepção interacionista da sociedade. O habitus está inerente
a cada actor social e de certa forma define-o, tal como aos seus gostos e estilo de vida, estando associado à
pertença a uma classe social, e tendo de ser ajustado quando existe mobilidade.
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um ato ativo e o ser penetrado como passivo. Mas ativo é definido como atuante, intenso,
vivo, ágil e enérgico. Mesmo considerando que no ato sexual existe ação de ambas as partes,
o sexismo consiste exatamente em identificar o ativo com a ação masculina e o passivo com a
ação feminina, uma vez que o senso comum associa a ereção do pênis com rigidez, energia,
ação e potência, que são associadas ao ativo e não ao passivo. Assim:
Não é o falo (ou sua ausência) que é o princípio gerador dessa visão de mundo, mas
é essa visão do mundo que, estando organizada [...] segundo a divisão em gêneros
relacionais, masculino e feminino, pode instituir o falo [...] em princípio da
diferença entre os sexos (no sentido de gêneros), e basear na objetividade de uma
diferença natural entre os corpos biológicos a diferença social entre duas essências
hierarquizadas. (BOURDIEU, 1995, p.149)
2
Fobia a ágora, aos espaços públicos.
3
Ágora era a praça principal na constituição cidade grega da Antigüidade clássica. Enquanto elemento de
constituição do espaço urbano, a ágora manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública na urbanística
grega, sendo o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro, onde ocorrem as
discussóes políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania.
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A luta das mulheres pela sua inclusão na categoria de cidadãos, tanto na defesa do
sufrágio universal quanto no ataque à sua menoridade civil, que as transformavam em
propriedade privada de seus maridos é um exemplo concreto da dicotomia entre o público e o
privado.
Os valores femininos são estabelecidos como os avessos dos valores masculinos, estes
tomados como a regra e padrão. O homem é o verso e a mulher o reverso. Em vários casos, a
mulher é definida pelo inverso do homem, como algo menos perfeito. Ser homem é não ser
mulher, diferenciação esta que está vinculada ao dualismo sexual.
Assim, o sistema de pares binários transforma todos os fenômenos em um dualismo
sexuado, legitimando as desigualdades de gênero na sociedade, reforçando o poder e a
dominação masculina e contribuindo para limitar os direitos das mulheres. Deste modo, a
mudança dos comportamentos dos indivíduos dificilmente ocorrerá sem a alteração deste
sistema.
Uma vez que dominantes e dominados possuem a mesma percepção de suas relações
de gênero, a dominação masculina é tida como condição verdadeira universal, pois seus
conceitos formadores acham-se inscritos na subjetividade e no habitus humano. Desta forma,
o habitus é um conceito fundamental para entender como a prática da dominação adquire um
caráter natural, dado e quase divino, em outras palavras, é a objetividade das práticas
subjetivas. Pois segundo Bourdieu:
É, com efeito, através dos corpos socializados, isto é dos habitus, e das práticas
rituais parcialmente retiradas do tempo pela estereotipagem e pela repetição
indefinida, que o passado se perpetua na longa duração da mitologia coletiva,
relativamente libertada das intermitências da memória individual. Assim, o princípio
de divisão que organiza esta visão de mundo, não se revela jamais de modo tão
evidente e tão coerente quanto no caso limite e, por isso mesmo paradigmático, de
um universo social onde ele recebe o reforço permanente das estruturas objetivas e
de uma expressão coletiva e pública. (1995, p. 135).
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Forma invisível de coação que se apóia, muitas vezes, em crenças e preconceitos coletivos. A violência
simbólica se funda na fabricação contínua de crenças no processo de socialização, que induzem o indivíduo a se
enxergar e a avaliar o mundo seguindo critérios e padrões do discurso dominante.
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a mulher eternamente a ser o subordinado, o outro. “Ela não é senão o que o homem decide
que seja”. (BEAUVOIR, 1970, p.14). Todas as mulheres são educadas desde a infância na
crença de que o ideal de seu caráter é absolutamente oposto ao homem, que não podem ter
iniciativa e guiar-se segundo sua vontade, que sua natureza às restringe a submissão e ao
consentimento da vontade dos demais.
Na medida em que a família e as relações entre os sexos mudaram, o patriarcado
também se modificou, entretanto a idéia de dominação masculina contida no patriarcado já
cristalizada da dominação masculina perpetua-se, pois a estrutura patriarcal impossibilita
pensar em uma mudança. Conforme Narvaz e Koller:
O patriarcado moderno vigente alterou sua configuração, mas manteve as premissas
do pensamento patriarcal tradicional. O pensamento patriarcal tradicional envolve as
proposições que tomam o poder do pai na família como origem e modelo de todas as
relações de poder e autoridade, o que parece ter vigido nas épocas da Idade Média e
da modernidade até o século XVII. O discurso ideológico e político que anuncia o
declínio do patriarcado, ao final do século XVII, baseia-se na idéia de que não há
mais os direitos de um pai sobre as mulheres na sociedade civil. No entanto, uma
vez mantido o direito natural conjugal dos homens sobre as mulheres, como se cada
homem tivesse o direito natural de poder sobre a esposa, há um patriarcado moderno.
(2006).
A despeito das conquistas sociais e legais das mulheres, papéis e relações assentados
em discriminações e desigualdades de gênero permanecem neste novo século, internalizados
em nossas vidas, tidos ainda por muitos como natural. Fazendo assim que um dos objetivos
dos movimentos feministas seja a busca por uma desconstrução das relações de gênero, o
repensar das estruturas sociais e seus conceitos já tidos como verdades absolutas imutáveis.
2.5 Feminismo
O feminismo busca repensar e recriar a identidade de sexo sob uma ótica em que o
indivíduo, seja ele homem ou mulher, não tenha que adaptar-se a modelos
hierarquizados, e onde as qualidades femininas e masculinas sejam atributos do ser
humano em sua globalização. [...] Que as diferenças entre os sexos não se traduzam
em relações de poder que permeiam a vida de homens e mulheres em todas as suas
dimensões: no trabalho, na participação política, na esfera familiar, etc. (ALVES;
PITANGUY, 1991, p. 09-10).
Assim, para Varela (2005, p. 14), o feminismo é um discurso político que se baseia na
justiça, onde as mulheres, depois de analisar a realidade em que vivem, tomam consciência
das discriminações que sofrem pela única razão de serem mulheres e decidem organizar-se
para acabar com elas, para mudar a sociedade.
23
5
Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze (Montauban, 7 de maio de 1748 — Paris, 3 de novembro de
1793) foi uma feminista, revolucionária, jornalista, escritora e autora de peças de teatro francesa. Devido aos
escritos e atitudes pioneiras, foi acusada como contrarevolucionária e guilhotinada na praça da Revolução em
Paris.
6
Documento proposto à Assembléia Nacional da França em 1791, durante a Revolução Francesa, com o intuito
de igualar-se a Declaração dos Direitos do Homem e Cidadão aprovada pela Assembléia Nacional.
24
como subordinada ao homem. Isso revela-se nas palavras de Rousseau, um dos principais
ideólogos do Iluminismo e suas revoluções subseqüentes:
Toda a educação das mulheres deve ser relacionada ao homem. Agradá-los, ser-lhes
útil, fazer-se amada e honrada por eles, educá-los quando jovens, cuidá-los quando
adultos, aconselhá-los, consolá-los, tornár-lhes a vida útil e agradável – são esses os
deveres das mulheres em todos os tempos e o que lhes deve ser ensinado desde a
infância. (ROUSSEAU apud ALVES; PITANGUY, 1991, p. 35).
7
A Declaração de Sêneca Falls ocorreu de 19 a 20 de julho de 1848 na localidade de Sêneca Falls, no estado de
Nova Iorque, sendo a primeira convenção sobre os Direitos da Mulher nos Estados Unidos. Resultou desse
encontro, pois, a publicação da famosa Declaração de Sêneca Falls ou a Declaração de sentimentos, como elas a
chamaram, que foi um documento baseado na Declaração de Independência dos Estados Unidos e no qual foram
denunciadas as restrições, sobretudo no campo da política, às quais estavam submetidas as mulheres: Não poder
votar, não comparecer a eleições, não poder ocupar cargos públicos, não poder afiliar-se a quaisquer
organizações políticas ou prestar quaisquer assistência em reuniões políticas.
25
fatalidade biológica e sim uma construção social. Assim, além da luta pela igualdade de
direitos, incorpora o questionamento das raízes culturais das desigualdades.
Desta forma, o feminismo afirma que os limites e insuficiências da cidadania feminina
estão estreitamente vinculados a sua própria gênesis. O fato de que o cidadão, na constituição
da democracia moderna, fosse homem, marcou poderosamente a noção de cidadania. Assim
são numerosos os limites, e muitas vezes invisíveis, que restringem esse direito político para
as mulheres, não somente o gênero, também as classes sociais, a sexualidade, as etnias e as
culturas.
A teoria feminista indaga as fontes religiosas, filosóficas, cientificas, históricas,
antropológicas para desarticular as falsidades, preconceitos e contradições que legitimam a
dominação sexual. Pode-se dizer que “o feminismo questiona à ordem estabelecida. E a
ordem estabelecida está muito bem estabelecida para quem a estabeleceu, isto é, para quem se
beneficia dela.” (VARELA, 2005, p. 13).
A medida que a sociedade aceita os princípios feministas, o que antes parecia absurdo
se torna convencional e inquestionável. O feminismo é assim “uma teoria da justiça que está
mudando o mundo e trabalha dia a dia para conseguir que os seres humanos sejam o que
querem ser e que vivam como querem viver, sem um destino marcado pelo sexo com que
nasceram.” (VARELA, 2005, p. 20).
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O Segundo Sexo (francês: Le Deuxième Sexe, 1949) é uma das mais conhecidas obras da francesa Simone de
Beauvoir. Beauvoir escreveu o livro após a tentativa de escrever sobre si mesma. A primeira coisa que ela
escreveu era que ela era uma mulher, mas ela percebeu que era necessário definir o que era uma mulher, que se
tornou a intenção do livro. Trata - se de um trabalho sobre o tratamento das mulheres ao longo da história e
muitas vezes considerado como um importante trabalho feminista. Nele ela argumenta que as mulheres ao longo
da história têm sido definidas como o "outro" sexo, uma aberração do "normal" sexo masculino.
9
Simone de Beauvoir (9 de janeiro de 1908 - 14 de abril de 1986) foi uma filósofa e escritora francesa. Escreveu
romances, monografias sobre filosofia, política e questões sociais, ensaios, biografias, e uma autobiografia. Mais
conhecida por seu livro O Segundo Sexo, uma análise detalhada da opressão da mulher e um marco fundacional
do feminismo contemporâneo.
26
3 VIOLÊNCIA DE GÊNERO
A subordinação da mulher, colocada como ser inferior, segundo a teoria dos dualismos
hierarquizados é a raiz da violência de gênero. Na medida em que se buscam desconstruir os
papéis estabelecidos, encontrando resistência dos que querem manter o “statu quo” 11 , “a
violência de gênero não é mais do que o resultado das relações de dominação masculina e de
subordinação feminina, em que o homem pretende evitar que a mulher lhe escape, pois não
deseja separar-se da mulher, mantendo-a sujeita a uma submissão sem escapatória”.
(CASIQUE; FUREGATO, 2006). Pode-se concluir que a violência de gênero concentra-se em
ações que transcendem o nível social refletindo, sem dúvida, a dominação de um grupo e a
subordinação do outro.
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Aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1993, a Declaração sobre a Eliminação da Violência
contra as Mulheres é o primeiro instrumento internacional de direitos humanos que explicitamente
exclusivamente trata a questão da violência contra as mulheres. Ele afirma que o fenômeno viola, afeta ou
impede a mulher de exercer os seus direitos humanos e liberdades fundamentais.
11
O conceito de "statu quo" origina-se do termo diplomático "statu quo ante bellum", que significa "estado
actual antes da guerra". Emprega-se esta expressão, geralmente, para definir o estado atual das coisas ou
situações.
28
O patriarcado está formado por uma série de características que definem a dicotomia
de inferioridade e superioridade entre os sexos. A crença de “ter direito” a utilizar a violência
contra as mulheres é uma característica patriarcal com uma larga história onde o fato do
direito à violência foi considerado legítimo por parte dos homens, especialmente para os que
tiveram papel de maridos ou pais.
A lógica patriarcal gerou uma grande quantidade de mitos que dão legitimidade a
violência contra a mulher, desde a violência cultural ou simbólica até a violência física que
leva a morte da mulher. Assim, por internalizarem a dominação masculina e o patriarcado,
muitas mulheres vítimas da violência assumem a responsabilidade desta, culpando-se e
consideram-se as responsáveis por sofrerem tais atos, por não terem sido capazes de evitá-los
ou sair da situação que os originou.
A violência é um mecanismo de controle, vingança e poder. Não se restringe a pobreza,
ignorância, países subdesenvolvidos, etc. senão que se dá em todos os âmbitos sociais,
educativos e em todos os países já que sua base sustenta-se no patriarcado. A violência contra
a mulher está fundamentada na desigualdade de poder entre os sexos, cuja causa está
vinculada às estruturas políticas, econômicas, culturais, educacionais, religiosas etc. Afeta a
vida de milhões de mulheres em todo o mundo, em todos os aspectos físicos e psicológicos.
Ela ultrapassa todas as barreiras culturais e religiosas, impedindo o direito das mulheres à
participação plena na sociedade.
Na Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres 12 , realizada em Pequim em
Setembro de 1995, o “Secretário - Geral das Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali, disse que
“a violência contra as mulheres é um problema que continua a crescer e tem de ser
universalmente condenado.” (ONU13, 1996).
Na Plataforma de Ação de Pequim14, Governos declararam que a violência contra as
mulheres representa uma violação dos direitos humanos fundamentais e é um obstáculo à
realização dos objetivos de igualdade, desenvolvimento e paz.
12
A Quarta Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher (FWCW/QCMM ou Conferência de
Pequim), realizada em Pequim, China, de 4 a 15 de setembro de 1995, foi a maior e a mais influente de todas as
conferências mundiais sobre a mulher. Cerca de 180 delegações governamentais e 2.500 organizações não-
governamentais reuniram-se para discutir uma ampla série de questões relacionadas com a mulher. Em Pequim,
pela primeira vez na história declarou-se que os direitos da mulher são direitos humanos.
13
ONU, abreviação para Organizações das Nações Unidas.
14
O Plano de Ação que resultou ao final da Convenção de Pequim afirma os direitos básicos das mulheres de
todo o mundo a controlar sua própria sexualidade e o processo reprodutivo, e considera delitivos a mutilação
genital e os maus tratos infligidos às mulheres no âmbito público ou privado.
29
A questão da promoção dos direitos das mulheres tem preocupado as Nações Unidas
desde a fundação da Organização. No entanto, as alarmantes dimensões globais da violência
feminina não foram expressamente reconhecidas pela comunidade internacional até dezembro
de 1993, quando a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração sobre a
Eliminação da Violência contra as Mulheres. Até então, a maioria dos governos tendiam a
considerar que a violência contra as mulheres em grande parte como um assunto privado entre
indivíduos, e não como uma questão de direitos humanos que exigem a intervenção do Estado.
A violência entre os seres humanos foi um dos principais fatores para a violação dos
direitos humanos no século XX. A guerra, a repressão e a insensibilização da vida pública e
privada eliminaram toda a possibilidade de dar um caráter universal ao desfrute dos direitos
humanos. Em particular, a violência de que as mulheres são vítimas, as impediu como grupo
desfrutar plenamente de seus direitos humanos.
Como se afirma no preâmbulo da Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a
Mulher da ONU (DA GUERRA, 1997, p. 116), este fenômeno constitui uma manifestação de
relações de poder historicamente desiguais entre o homem e a mulher. A violência forma
parte de um processo histórico que não é natural e nem nasce do determinismo biológico. O
sistema de domínio masculino tem raízes históricas e suas funções e manifestações variam
com o tempo. Conseqüentemente, a opressão da mulher é uma questão política e é necessário
analisar as instituições do Estado e a sociedade, o condicionamento e a socialização dos
indivíduos e o caráter de exploração econômica e social. O uso da força contra a mulher é
somente um dos aspectos deste fenômeno, que a submete pela intimidação e medo.
Segundo conclusões do Relatório Especial da ONU 15 (1994), a mulher é vítima de
algumas formas universais de abuso, como o estupro e a violência do lar. Como também de
algumas formas culturais específicas de determinados países e regiões. Deste modo, toda
tentativa de universalizar a violência contra a mulher servirá somente para esconder outras
15
Em vista do alarmante crescimento no número de casos de violência contra as mulheres em todo o mundo, a
Comissão de Direitos Humanos aprovou resolução 1994/45, de 4 de Março de 1994, na qual se decidiu nomear
um Relatório Especial sobre a violência contra as mulheres, incluindo a sua causas e conseqüências. O Relatório
Especial tem um mandato para recolher e analisar dados completos e de recomendar medidas destinadas a
eliminar a violência ao nível internacional, nacional e regional.
30
quem domina os princípios que regem a ciência, a cultura, a religião, a linguagem e excluiu a
mulher após criar sistemas simbólicos ou interpretar experiências históricas baseadas na sua
dominação. Por falta de influência sobre os sistemas de conhecimento, a mulher, não só é
vítima da violência, senão também é parte de um ciclo que freqüentemente à legitima. A
capacidade de minimizar a experiência contra a violência da mulher impede que o Estado ou a
sociedade civil adotem medidas corretivas.
Além das relações históricas de poder, a questão da sexualidade feminina é outra causa
da violência contra a mulher, utiliza-se a violência geralmente como instrumento para regular
sua conduta sexual e por essa razão, não é raro que essa violência se expresse sexualmente. A
violação, a difamação, o abuso sexual, a mutilação genital feminina são todas formas de
violência que representam uma agressão à sexualidade feminina.
A regulação da conduta sexual feminina tem por fim assegurar a castidade da mulher,
para que somente tenha filhos de seu conjugue, e evitar alem disso que os bens sejam
herdados por quem não pertença à mesma linha de parentesco. Esse desejo de garantir a
castidade pode adotar distintas formas, das quais a mutilação genital feminina é a
manifestação mais extrema, pois esta forma de violência contra a mulher reduz sua expressão
sexual para que siga sendo casta e fiel ao esposo. Em muitas tradições, os conceitos sobre a
honra vinculam-se com a sexualidade feminina, assim, a violência contra a mulher se justifica
freqüentemente pelo argumento de que sua conduta sexual atentou contra a honra.
Sendo a sexualidade feminina, freqüentemente, a causa da violência contra a mulher, é
importante que a sociedade “proteja” a suas mulheres da violência “dos outros”. Esta proteção
com freqüência acarreta restrições para a mulher, seja em forma de código social sobre sua
conduta ou indumentária ou sua liberdade de circulação. Também implica que a mulher que
respeita estas normas esteja protegida, enquanto que a que defende a igualdade e a
independência está mais exposta à violência. A mulher que questiona estes códigos é com
freqüência alvo da violência masculina.
No Relatório Especial da ONU (ONU, 1994), afirma-se que o medo à violência e a
agressão sexual masculina segue sendo o aspecto mais importante da vida da mulher em todas
as sociedades. Considera-se que as atitudes com respeito à sexualidade feminina são os
principais fatores responsáveis de violência contra a mulher. Estas atitudes não somente
condicionam a conduta de homens e mulheres na sociedade, senão que terminam justificando
a violência. Temas como a reivindicação da honra, os conceitos de vingança familiar e a
necessidade de “proteger” mulheres “decentes” ao tempo que se castiga às outras, são alguns
32
dos fatores que condicionaram as atitudes masculinas com respeito à sexualidade feminina e o
uso da violência contra a mulher.
Aparte da história e da sexualidade, a existência de ideologias que justificam a posição
subordinada da mulher é outra causa da violência da qual ela é objeto. Em muitas ideologias
tradicionalmente, autoriza-se o uso da violência contra a mulher. Estas ideologias baseiam
seus argumentos em uma interpretação especial da identidade sexual. A interpretação da
masculinidade exige a capacidade de exercer poder sobre terceiros, especialmente mediante o
uso da força, a masculinidade dá ao homem o poder de dirigir as vidas de quem o rodeia, em
especial as mulheres. A interpretação da feminilidade nessas ideologias impõe a mulher uma
atitude passiva e submissa que deve aceitar a violência como parte de sua condição de mulher.
Conforme o artigo 4 da Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher
(DA GUERRA, 1997, p. 118) “os Estados devem condenar a violência contra a mulher e não
invocar nenhum costume, tradição ou consideração religiosa para evitar sua obrigação de
procurar eliminar-la.” Lamentavelmente, a experiência internacional sinala uma realidade
diferente. Freqüentemente invocam-se os costumes, a tradição e a religião para justificar o uso
da violência.
Algumas práticas tradicionais e aspectos da tradição são freqüentemente causa dessa
violência. Uma adesão cega a estas práticas e a passividade do Estado com respeito a estes
costumes e tradições há possibilitado uma violência contra a mulher em grande escala. Apesar
de que os Estados estão promulgando novas leis e disposições, a esfera dos direitos das
mulheres demora em aceitar a mudança, pois, por mais que as leis sejam fundamentais para a
punição da violência, esta não é apenas uma questão jurídica, trata-se de um problema amplo
que envolve todas as esferas da vida humana, culturais, educacionais, econômicas, políticas,
etc.
Para muitas mulheres e crianças, o lar é uma local de violência. A violência doméstica
constitui a forma mais comum de violência contra as mulheres em todo o mundo, sem
exceção de região. Outras formas de violência na família incluem o abuso sexual de mulheres
e crianças, violência relacionada ao dote das noivas, violência física e sexual que comumente
são acompanhadas de abuso emocional, humilhação, intimidação e controle sobre a vítima.
Segundo Vlachovd e Biason (2005) entre 16 a 41% das mulheres foram agredidas
fisicamente por um parceiro masculino em uma relação intima, de acordo com estudos
realizados entre 1986-1997, no Camboja, Índia, Correia, Tailândia, Egito, Israel, Quênia,
Canadá, Nova Zelândia, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos e Uganda. E 40 a 70% das
mulheres vítimas de assassinato são mortas pelos maridos ou namorados, frequentemente no
contexto de uma relação abusiva.
A violência contra as mulheres no seio da família ocorre em países desenvolvidos e
em desenvolvimento também. Ela tem sido há muito tempo considerada um assunto privado
por observadores, incluindo vizinhos, a comunidade e o governo. Mas esses assuntos privados
têm uma tendência de se tornar tragédias públicas.
Os ordenamentos jurídicos tradicionais sancionavam a violência na família ao
reconhecer ao marido o “direito ao castigo”. Este direito era reconhecido pelos tribunais de
muitos países, além de, muitos ordenamentos jurídicos permitirem que os homens
recorressem à força para exigir o cumprimento dos “deveres conjugais”. Portanto, nos
ordenamentos jurídicos fazia-se a omissão dos casos das mulheres maltratadas a menos que
34
existisse lesão grave ou escândalo público. Em alguns países a defesa da “honra” permitia a
fácil absolvição dos homens que matavam suas esposas.
De acordo com o Relatório Especial da ONU (ONU, 1994), muitos governos já
reconhecem a importância de proteger as vítimas de abuso doméstico e tomar medidas para
punir os culpados. A criação de estruturas que permitam funcionários para lidar com casos de
violência doméstica e suas conseqüências é um passo significativo no sentido da eliminação
da violência contra as mulheres no seio da família.
O Relatório (op. cit.) ainda sublinha a importância da adoção de legislação que prevê a
punição do agressor. Sublinha também a importância de um treinamento especializado de
autoridades policiais, bem como médicos e profissionais forenses, e a instauração de uma
comunidade de serviços de apoio às vítimas, inclusive o acesso à informação e abrigos.
Em muitos países, as mulheres são vítimas de práticas tradicionais que violam os seus
direitos humanos. A persistência do problema tem muito a ver com o fato de a maioria destes
costumes estarem profundamente enraizados na tradição e na cultura da sociedade.
Segundo o Relatório Especial (op. cit.), o delicado de por em foco o julgamento da
existência destas práticas, profundamente enraizadas na tradição, na cultura e nas
desigualdades de poder das sociedades, é que frequentemente elas servem de ritos de
iniciação para a integração e a aceitação das jovens em uma comunidade, assim como a falta
de informação e educação em muitas regiões em que existem estas praticas, são todos fatores
que contribuem para a sua perpetuação.
Vários países ainda se praticam crimes para “limpar a honra”. Segundo Vlachovd e
Biason (2005), na Índia e Paquistão, milhares de mulheres são mortas porque seu dote é
considerado insuficiente pela família do noivo; em um estudo no Egito, 47% das mulheres
foram assassinadas por um parente após terem sido vítimas de um estupro por terceiros; os
ataques são, na maioria das vezes, realizados com fogo ou ácido, se deixam a mulher viva, ela
fica desfigurada ou cega.
Estes crimes não são punidos, nem sequer julgados, uma vez que não são entendidos
pelas autoridades locais como um crime e sim como o direito do homem de ter sua honra
limpa e restaurada.
35
A mutilação feminina não está restrita a uma religião ou classe social. Sua prática está
ligada à restrição da sexualidade feminina e ritos de passagem da puberdade e casamento. Em
algumas comunidades, meninas que não foram submetidas à mutilação são consideradas
impuras ou incapazes de casar.
Segundo o Relatório Especial (ONU, 1994), a mutilação feminina possui diversas
modalidades que vão desde remoção parcial do clitóris e a excisão total do clitóris e lábios
menores que constituem aproximadamente 85% das mutilações genitais femininas, até a sua
forma mais extrema, a remoção total do clitóris e dos lábios menores, assim como a da
superfície interior dos lábios maiores e ao final a saturação a vulva, mantendo apenas uma
pequena abertura para a urina e o fluxo menstrual.
Ainda conforme o Relatório da ONU (op. cit.), tais operações são realizadas por
parteiras tradicionais ou anciãs designadas para esta tarefa; usam-se facas especiais, tesouras,
navalhas, pedaços de vidro ou laminas de barbear. Em geral não se utilizam anestésicos, nem
anti-sépticos, a utilização de materiais rudimentares e a falta de higiene causam uma grande
incidência de infecções e complicações à saúde da mulher.
A mutilação genital causa duradouros traumas psicológicos, dor extrema, infecções
crônicas, sangramento, tumores, infecções do trato urinário, infertilidade e pode até levar a
morte da mulher. Em alguns casos, a mulher não pode dar a luz sem ter sua vulva cortada
novamente.
Conforme Vlachovd e Biason (2005) programas de erradicação da mutilação genital
feminina precisam ser estreitamente ligados às comunidades relevantes, em vez de serem
impostos. Existe um consenso crescente de que a melhor forma de eliminar essas práticas é
através de campanhas educativas que enfatizam as suas perigosas conseqüências à saúde.
Segundo o Relatório Especial (ONU, 1994), todo ciclo vital feminino pode ver-se
afetado por esta prática, desde suas formas mais extremas de feticídio16 ou infanticídio até o
descuido das meninas e mulheres por seus irmãos e maridos no que concerne a uma nutrição
adequada, atenção básica da saúde, acesso a educação e informação, recreação e recursos
econômicos.
Na China e na Índia, algumas mulheres optam por encerrar as suas gravidezes quando
esperam filhas, mas continuam com gravidez ate o fim quando esperam filhos. Segundo os
relatórios da ONU (ONU, 1996), na Índia, testes genéticos para seleção sexual tornou-se um
negócio florescente, especialmente nas regiões do norte do país. Clínicas indianas de
identificação de sexo atraíram protestos de grupos de mulheres após o aparecimento das
propagandas sugerindo que era melhor gastar $38 17 agora para abortar um feto do sexo
feminino do que $3.800 mais tarde pelo seu dote.
É pouco provável que as estratégicas jurídicas tenham eficácia a este respeito, já que
esta prática está enraizada culturalmente nestas sociedades, mais efetivos são os programas
especiais de educação e saúde para evitar estas práticas discriminatórias.
16
Termo utilizado para designar a mortandade de fetos.
17
Não é citada a espécie da moeda.
37
3.2.3. Estupro
Estupros podem ocorrer em qualquer lugar, mesmo no seio da família, onde se pode
tomar a forma de estupro conjugal ou incesto. Ocorre na comunidade, onde a mulher pode ser
vítima de qualquer agressor. Ele também ocorre em situações de conflito armado e em
campos de refugiados.
Na legislação penal da maioria dos países considera-se que o acesso carnal constitui
violação somente quando existe penetração do pênis na vagina. Entretanto, frequentemente, o
violador prefere não fazê-lo, e em troca obriga sua vítima a realizar atos de sexo oral, a
penetra em outras partes do corpo e com outros objetos, ou a agride de outra maneira.
Entretanto, em alguns países, considera-se inadequado limitar-se o estupro a penetração do
pênis. Em algumas leis a definição de acesso carnal inclui os atos sexuais anais e orais. Outras
vão mais além e compreendem a introdução de objetos em determinados orifícios, enquanto
que outras incluem o sexo oral praticado pelo homem na mulher. Esta ampliação da noção de
estupro é fundamental para se destacar todos os aspectos humilhantes e violentos em que as
vítimas são submetidas.
Todavia, em muitos países agressões sexuais de um marido sobre sua esposa não é
considerado um crime: pois é da natureza da mulher “submeter-se”. Assim, é muito difícil na
prática para uma mulher provar que têm sofrido agressões sexuais, a menos que ela possa
demonstrar lesões graves.
O Relatório Especial (op. cit.) sublinha a importância da educação para sensibilizar o
público sobre os horrores especiais de estupro, e de sensibilizar a formação da polícia e do
pessoal hospitalar que trabalham com as vítimas.
38
Muitas mulheres são forçadas à prostituição, por seus pais, maridos ou namorados, ou
como resultado das difíceis condições econômicas e sociais em que se encontram. Elas
também são atraídas para a prostituição, muitas vezes por agências que prometem encontrar-
lhes um marido ou um posto de trabalho em um país estrangeiro. Como resultado, muitas
39
integrados nos esforços preventivos, tanto no nível governamental quanto na sociedade civil.
Nos países de destino, a procura pelo trafico também necessita de atenção urgente.
O tráfico afeta desproporcionalmente as mulheres, políticas sexuais devem constituir a
base das estratégias anti-tráfico, assim como políticas de longo prazo devem abordar
necessariamente a pobreza e a discriminação sexual como suas causas profundas.
3.2.7 Pornografia
O tema da pornografia tem tido muita importância nos movimentos feminista de todo
o mundo. Muitas feministas consideram a pornografia como a essência do patriarcado. A
pornografia erotiza o domínio masculino e a diferenciação de atribuições entre os sexos. Ou
seja, a pornografia dá um caráter sexual ao poder, e também converte a subordinação da
mulher em um fenômeno natural. A pornografia sexualiza a violação, a agressão física, o
abuso sexual, a prostituição e o abuso de menores. Deste modo, exalta, promove, autoriza e
legitima a dominação masculina e a violência contra a mulher.
Deste modo define-se pornografia como:
A subordinação sexualmente explícita da mulher mediante imagens ou palavras que
também incluem a desumanização das mulheres como objetos sexuais, coisas ou
mercadorias, que gozam com a dor, a humilhação ou violência, atadas, cortadas,
mutiladas, machucada ou lesionadas fisicamente, em posturas de submissão,
servilismo ou exibição sexual, reduzidas a partes corporais, penetradas por objetos
ou animais, ou apresentadas em cenários de degradação, torturas, lesões; mostradas
como imundas ou inferiores, sangrentas, quebradas ou feridas, em contexto que
confere a todas estas circunstancias um caráter sexual. (DWORKIN; MACKINNON
apud ONU, 1994, tradução nossa).
Ainda segundo o Relatório (ONU, 1994), a violência durante a detenção não tem
relação com o delito cometido pela mulher. As mulheres são vulneráveis a abusos, tanto se
estão acusadas de furto como de desvio sexual ou formação de quadrilha.
As mulheres são violentadas física ou verbalmente; elas também sofrem tortura física
e sexual. Milhares de mulheres detidas sob custódia são rotineiramente violadas nos centros
de detenção policial em todo o mundo. O Relatório Especial (op. cit.) salienta a necessidade
de Estados julgarem os acusados de abuso sobre as mulheres, enquanto estas estão em
detenção.
Conforme Vlachovd e Biason (2005), as mulheres que são abusadas ou exploradas
pelos agentes custodiais têm pouca oportunidade de fugir de seu agressor. Aquelas que
apresentam queixa ou tomam ações jurídicas sofrem o risco de sofrer retaliação. A violência
contra a mulher sob custódia é uma agressão particular aos direitos humanos da mulher, pois
essas pessoas estão privadas de sua liberdade pela autoridade pública e é função do Estado
proteger os indivíduos da violência.
Segundo relatório da ONU (ONU, 1996), o estupro tem sido amplamente utilizado
como arma de guerra, sempre que surgem conflitos armados entre diferentes partes. Mulheres
e meninas são frequentemente vítimas de estupro cometidos por soldados de todos os lados de
um conflito. Tais atos são feitos principalmente para ferir a dignidade das vítimas e são
utilizados ainda como uma arma de limpeza étnica. Ele tem sido usado em todo o mundo: em
Chiapas, no México, no Ruanda, no Kuwait, no Haiti, na Colômbia.
43
Segundo o Relatório da ONU (op. cit.), calcula-se que existam, em todo o mundo,
algo como 20 milhões de refugiados e 24 milhões de pessoas deslocadas internamente. Os
refugiados e deslocados internos são vitimas de perseguições, violações dos direitos humanos,
e de conflitos étnicos ou bélicos. Vivem fora da cultura e da comunidade que lhes é familiar,
frequentemente em países muitos diferentes dos de sua origem. Também podem vir a sofrer
descriminações lingüísticas, raciais e legais e em muitos casos não têm sua segurança física e
psicológica garantida. Em geral também é muito difícil conseguir alimentos, medicamentos,
alojamentos e água, em parte devido às circunstâncias dos conflitos armados e hostilidades. A
questão da proteção dos refugiados possui problemas muito especiais; em particular, devem
18
As Convenções de Genebra são uma série de tratados formulados em Genebra, na Suíça, definindo as normas
para as leis internacionais relativas aos Direitos Humanos. Esses tratados definem os direitos e os deveres de
pessoas, combatentes ou não, em tempo de guerra. Tais tratados são consistituem a base dos direitos
humanitários internacionais. A quarta Convenção foi escrita em 1949. Ela revisou as três Convenções anteriores
e acrescentou uma quarta, relativa à proteção dos civis em período de guerra.
44
19
Em 1951, foi adotada a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados que estabeleceu o status de refugiados
e a documentação legal para que assim o fosse considerado um refugiado, definindo sua obrigação legal em
relação ao Estado. Em 1967 foi removida as restrições geográficas e temporal que haviam, esse protocolo
unificou diversas resoluções a respeito.
20
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, com a sigla em português ACNUR e UNHCR em
inglês, é um órgão das Nacoes Unidas, criado por uma Resolução em 14 de Dezembro de 1950, tem como
missão dar apoio e protecção a refugiados de todo o mundo. Possui um mandato para proteger os refugiados e
buscar soluções duradouras para os seus problemas. As principais soluções duradouras são repatriação voluntária,
integração local e reassentamento em um terceiro país.
45
por ele muitas mulheres de todas as partes do mundo não se atrevem a sair sozinhas. O medo
as obriga a vestirem-se de forma “não provocativa”, para que ninguém possa dizer que
“deram motivos” se sofrem uma agressão violenta. O medo da violência as leva a buscar a
proteção do homem para evitar serem vítimas da violência. Esta proteção pode trazer consigo
uma situação de vulnerabilidade e dependência que não é propícia para a realização da mulher.
Não se aproveitam suas possibilidades e com freqüência se reprime uma energia que poderia
utilizar-se para melhorar a sociedade.
Para Casique e Furegato (2006), a violência contra a mulher provoca conseqüências
com impactos à sua saúde física e emocional da mulher. Tais como:
a. Conseqüências físicas: lesões abdominais, toráxicas, contusões, edemas e hematomas,
síndrome de dor crônica, invalidez, fibromialgias, fraturas, distúrbios gastrintestinais,
cefaléias, dor abdominal, síndrome de intestino irritável, queimaduras, lacerações e
escoriações, dano ocular, funcionamento físico reduzido, fadiga crônica, mudanças
bruscas de peso;
b. Conseqüências sexuais e reprodutivas: distúrbios ginecológicos, fluxo vaginal
persistente, sangramento genital, infertilidade, doença inflamatória pélvica crônica,
complicações na gravidez, aborto espontâneo, disfunção sexual, doenças sexualmente
transmissíveis, inclusive HIV/AIDS, aborto sem segurança, gravidez indesejada,
retardo no desenvolvimento intra-uterino, morte fetal e materna;
c. Conseqüências psicológicas e comportamentais: abuso de álcool e drogas, depressão,
ansiedade, distúrbios da alimentação e do sono, sentimentos de vergonha e culpa,
fobias e síndrome de pânico, inatividade física, baixa auto-estima, distúrbios de
estresse pós-traumático, tabagismo, comportamentos suicidas e autoflagelo,
comportamento sexual inseguro.
Em alguns contextos culturais, especialmente naqueles em que se prática a mutilação
genital feminina, se nega a existência da mulher como ser sexual que tem necessidades e
expectativas. Esta negação da sexualidade feminina mediante a mutilação do corpo também
deve considerar-se violação de um direito humano fundamental.
Segundo o Relatório Especial da ONU (ONU, 1994), a violência na família em
particular, tem graves conseqüências para a mulher e o filho. Os filhos com freqüência
apresentam sintomas de esgotamento pós-traumático e transtornos de conduta e emocionais.
Além disso, em um estudo canadense demonstrou-se que os homens proveniente de lares em
que um conjugue exercia violência sobre o outro tem 1.000% mais de probabilidade de
46
agredir a sua própria esposa que os que provêem de famílias em que ditas agressões não
existiam. A principal conseqüência de tolerar a violência é que se perpetua o ciclo de
violência na família e na sociedade.
Enquanto o desenvolvimento da violência impede a mulher de participar plenamente
na vida da família, da comunidade e da sociedade. Inibe-se a energia que a ela cabia utilizar
para o beneficio e desenvolvimento da sociedade. As possibilidades da mulher e sua
contribuição ao crescimento são aspectos importantes do processo de desenvolvimento. A
violência contra a mulher impede que ela e também a sociedade realizem todas as suas
possibilidades.
Contudo, nada se compara ao custo individual que a violência acarreta para cada
mulher, este é um custo intangível que tem a ver com a qualidade de vida, a supressão dos
direitos humanos e a negação dos direitos da mulher a participar plenamente na sociedade em
que vive.
47
dentro de suas próprias paredes através da violência doméstica, neste contexto, estima-se que
milhares de mulheres são queimadas até a morte todos os anos em “acidentes domésticos".
Índices sucumbem aos horrores especiais e dificuldades que conflitos, guerras e situações pós-
conflitos reservam para meninas e mulheres. O estupro e a exploração sexual continuam
sendo uma realidade para inúmeras mulheres.
A plena magnitude do problema só se apresenta quando se colocam os números em
perspectiva. Assim, o número de mulheres "desaparecidas", mortas por motivos relacionados
ao gênero, é da mesma ordem de grandeza que os estimados 191 milhões de seres humanos
que perderam suas vidas, direta ou indiretamente, em resultado de todos os conflitos e guerras
do Século 20.
Segundo Vlachovd e Biason (2005), globalmente, as mulheres com idades
compreendidas entre os quinze e quarenta e quatro anos têm mais probabilidade de ser feridas
ou morrerem em decorrência da violência masculina do que através de câncer, acidentes de
transito, malária ou por causa da guerra. Para cada menina ou mulher morta pela humanidade,
existem outras mais que estão física ou psicologicamente feridas, se não mutiladas para toda a
vida.
A lista de horrores é interminável. Somos confrontados com um sistemático genocídio
de proporções trágicas. Embora os fatos sejam conhecidos e os números facilmente
disponíveis pelas Nações Unidas e outras publicações dedicadas a questão, não lhes são dada
a atenção que merecem. Deste modo, a violência contra as mulheres pode ser considerada a
maior perpetuação ainda menos reconhecido abuso dos direitos humanos no mundo.
Entretanto, não se pode negar, que devido ao florescimento do movimento
internacional de mulheres, a visibilidade da violência de gênero tem aumentado. Desta forma,
atualmente, tornou-se politicamente correto analisar questões por uma perspectiva de gênero,
trata-se, evidentemente, um passo na direção certa, mas é claramente insuficiente. A violência
contra as mulheres deve ser reconhecida como uma questão-chave que deve ser analisada,
discutida e combatida, como uma das maiores causas de mortes em nosso planeta, comparável
em importância apenas com a guerra, da fome e da doença.
A luz desta questão, nos últimos anos, a comunidade mundial tem tomado algumas
tentativas importante, instando passos em direção a uma maior atenção para a questão do
gênero. Vários organismos das Nações Unidas, incluindo a Assembléia Geral, o Conselho
Econômico e Social, bem como à Comissão do Crime Prevenção e Controle e outros órgãos,
49
O compromisso das Nações Unidas para a promoção das mulheres iniciou-se com a
assinatura da Carta das Nações Unidas em São Francisco em 1945. Dos 160 países signatários,
apenas quatro tinham mulheres como representantes: Minerva Bernardino (República
Dominicana), Virginia Gildersleeve (Estados Unidos), Bertha Lutz (Brasil) e Wu Yi - Fang
(China). Entretanto, elas conseguiram inscrição dos direitos da mulher na fundação
Documento da ONU, que reafirma em seu preâmbulo "fé nos direitos humanos fundamentais,
na dignidade do ser humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e das
Nações grandes e pequenas." (ONU, 1945).
Já em 1946, uma Sub-comissão dedicada ao Status da Mulher foi estabelecida no
âmbito da Comissão dos Direitos Humanos. Muitas mulheres delegadas e representantes de
organizações não-governamentais (ONGs), no entanto, acreditam que um organismo
especificamente dedicado às questões da mulher era necessário.
Assim, em junho de 1946, a Sub-Comissão formalmente tornou-se a Comissão sobre o
Status da Mulher (CSW), dedicado a garantir a igualdade das mulheres e a promoção de seus
direitos. Seu mandato era para preparar recomendações e relatórios ao Conselho Econômico e
Social sobre a promoção dos direitos da mulher na política, econômica, sociedade civil e
educação e fazer recomendações sobre problemas urgentes que requerem atenção imediata no
domínio dos direitos da mulher.
O primeiro encontro da Comissão sobre o Status da Mulher realizou-se em Lake
Success, Nova Iorque, em Fevereiro de 1947. Desde o início, a CSW forjou uma relação
estreita com as organizações não governamentais, sua abertura à sociedade civil tem
continuado até o presente momento, o que permitiu que muitas ONGs contribuíssem com as
conclusões e resoluções das Nações Unidas.
Os membros da Comissão também construíram estreitas relações com os organismos
internacionais de direitos humanos, a Comissão dos Direitos Humanos, a Comissão de
Desenvolvimento Social e da Sub-Comissão sobre a Prevenção da Discriminação e Proteção
das Minorias, e agências especializadas, como a UNESCO e a UNICEF.
50
A não discriminação implica que toda forma de violência contra a mulher que possa
interpretar-se como uma ameaça à vida, à liberdade e à seguridade da pessoa, ou constitua um
ato de tortura ou um trato cruel, desumano ou degradante, é incompatível com a Declaração
Universal de Direitos Humanos, e que constituem uma violação das obrigações internacionais
dos Estados-Membros.
55
Mulheres. Segundo a Convenção, a discriminação não se limita aos atos cometidos pelo
Estado ou em seu nome; com respeito à violência esta noção está expressamente reconhecida
na Recomendação 19:
É importante ressaltar que, de acordo com a Convenção, a discriminação não inclui
somente a ações cometidas pelos governos ou em nome deles, (ver artigo 2.e, 2.f e
5). Por exemplo, em conseqüência do inciso e) do artigo 2 da Convenção, os Estados
comprometem-se a adotar todas as medidas adequadas a fim de eliminar a
discriminação contra a mulher praticadas por quaisquer pessoas, organizações ou
empresas. Como resultado do direito internacional e dos pactos específicos dos
direitos humanos, os Estados podem também ser considerados responsáveis pelas
ações de índole particular caso não adotarem medidas com a devida prontidão a fim
de impedir a violação dos direitos ou de investigar e punir os atos de violência e
proporcionar indenização. (DA GUERRA, 1997, p. 74).
5 CONCLUSÃO
O silêncio foi quebrado. Isso se deve às vozes de todas as mulheres que clamaram por
seus direitos e liberdades. Todavia a dominação ainda persiste, impregnada nas nossas vidas e
nos contextos sociais, políticos, econômicos, culturais e religiosos que regem as estruturas da
sociedade. E com ela persiste a violência contra a mulher.
Tal violência que possui proporções alarmantes e globais, está presente em todas as
sociedades e culturas e restringe a nenhuma religião, país, política, condição econômica, grau
de instrução, raça, cor ou nacionalidade.
Entretanto, por muitos ela ainda é negada ou reduzida, o que faz com que se perpetue
e assim também prossiga o sofrimento de milhares de mulheres em todo o mundo. Essa
violência nega à mulher seu direito de gozo pleno da vida, a restringe e limita.
Deste modo, esta questão é de fundamental importância para a sociedade internacional,
uma vez que cerca de metade de seus cidadãos estão à mercê desta violação de seus direitos
fundamentais. Assim, são observadas com satisfação as considerações internacionais de
igualdade entre os sexos, bem como os avanços das normas jurídicas para proteger as
mulheres e no combate a violência exercida contra elas.
Contudo, o ordenamento jurídico, por mais que seja um passo adiante no processo de
igualdade, não pode mudar os costumes e práticas já enraizadas pela dominação masculina. É
extremante necessário que a sociedade internacional crie uma cultura de igualdade e essa
cultura seja difundida por todo o mundo.
De vital importância neste processo está a responsabilidade do Estado, em primeiro
lugar ao reconhecer os direitos da mulher, em combater a violência contra esta e punir seus
agressores. Em segundo, cabe a ele por em prática as resoluções internacionais e difundir uma
cultura igualitária entre os cidadãos.
É importante destacar que a comunidade internacional não tem poder coercitivo sobre
a soberania dos Estados e que não pode obrigá-los a impor normativas de direitos humanos a
61
REFERÊNCIAS
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Brasiliense, 1991.
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Paz e Terra, 2002. v. 2.
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MEYER, Dagmar Estermann; WALDOW, Vera Regina (Orgs.). Gênero e Saúde. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 7-18.
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SAYÃO, Débora Thomé. Corpo, poder e dominação: um diálogo com Michelle Perrot e
Pierre Bourdieu. Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 21 n. 1, jan./jun. 2003.
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Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.
______. La citoyenne paradoxale: lês feministes francaises et lês droits de l’homme. Paris:
Albin Michel, 1998.
Preâmbulo
ARTIGO PRIMEIRO
A mulher nasce e vive igual ao homem em direitos. As distinções sociais não podem ser
fundadas a não ser no bem comum.
II
A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis
da mulher e do homem: estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança, e sobretudo
a resistência a opressão.
III
O princípio de toda soberania reside essencialmente na Nação, que não é nada mais do que a
reunião do homem e da mulher: nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade
que deles não emane expressamente.
IV
A liberdade e a justiça consistem em devolver tudo o que pertence a outrem; assim, os
exercícios dos direitos naturais da mulher não encontra outros limites senão na tirania
perpétua que o homem lhe opõe; estes limites devem ser reformados pelas leis da natureza e
da razão.
V
As leis da natureza e da razão protegem a sociedade de todas as ações nocivas: tudo o que não
for resguardado por essas leis sábias e divinas, não pode ser impedido e, ninguém pode ser
constrangido a fazer aquilo a que elas não obriguem.
VI
A lei dever ser a expressão da vontade geral; todas as Cidadãs e Cidadãos devem contribuir
pessoalmente ou através de seus representantes; à sua formação: todas as cidadãs e todos os
cidadãos, sendo iguais aos seus olhos, devem ser igualmente admissíveis a todas as dignidade,
66
lugares e empregos públicos, segundo suas capacidades e sem outras distinções, a não ser
aquelas decorrentes de suas virtudes e de seus talentos.
VII
Não cabe exceção a nenhuma mulher; ela será acusada, presa e detida nos casos determinados
pela Lei. As mulheres obedecem tanto quanto os homens a esta lei rigorosa.
VIII
A lei não deve estabelecer senão apenas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode
ser punido a não ser em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito
e legalmente aplicada as mulheres.
IX
Toda mulher, sendo declarada culpada, deve submeter-se ao rigor exercido pela lei.
X
Ninguém deve ser hostilizado por suas opiniões, mesmo as fundamentais; a mulher tem o
direito de subir ao cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de subir à Tribuna; contanto
que suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela Lei.
XI
A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos os mais preciosos da
mulher, pois esta liberdade assegura a legitimidade dos pais em relação aos filhos. Toda
cidadã pode, portanto, dizer livremente, eu sou a mãe de uma criança que vos pertence, sem
que um prejulgado bárbaro a force a dissular a verdade; cabe a ela responder pelo abuso a esta
liberdade nos casos determinados pela Lei.
XII
A garantia dos Direitos da mulher e da cidadã necessita uma maior abrangência; esta garantia
deve ser instituída para o benefício de todos e não para o interesse particular daquelas a que
tal garantia é confiada.
XIII
Para a manutenção da força pública e para as despesas da administração, as contribuições da
mulher e do homem são iguais; ela participa de todos os trabalhos enfadonhos, de todas as
tarefas penosas; ela deve, portanto, ter a mesma participação na distribuição dos lugares, dos
empregos, dos encargos, das dignidades e da indústria.
XIV
As Cidadãs e os Cidadãos têm o direito de contestar, por eles próprios e seus representantes, a
necessidade da contribuição pública. As cidadãs podem aderir a isto através da admissão em
uma divisão igual, não somente em relação à adiministração pública, e de determinar a quota,
a repartição, a cobrança e a duração do imposto.
XV
A massa das mulheres integrada, pela contribuição, à massa dos homens, tem o direito de
exigir a todo agente público prestação de contas de sua administração.
67
XVI
Toda sociedade, na qual a garantia dos direitos não e assegurada, nem a separação dos
poderes determinada, não tem qualquer constituição; a constituição é nula, se a maioria dos
indivíduos que compõem a Nação não cooperam à sua redação.
XVII
As propriedades pertencem a todos os sexos, reunidos ou separados; constituem para cada um,
um direito inviolável e sagrado; ninguém disto pode ser privado, pois representa verdadeiro
patrimônio da natureza, a não ser nos casos de necessidade pública, legalmente constatada,
em que se exige uma justa e prévia indenização.
Conclusão
Mulher, desperta-te; a força da razão se faz escutar em todo o universo; reconhece teus
direitos. O poderoso império da natureza não está mais envolto de preconceitos, de fanatismo,
de superstição e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou todas as nuvens da tolice e da
usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças e teve necessidade de recorrer às tuas,
para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação a sua companheira.
Oh mulheres.
68
Preâmbulo
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos
direitos fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de
direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso social e
a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta
importância para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como
ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos
e todos os orgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e
pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por
medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua
aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros
como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.
Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão
e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2°
69
Artigo 3°
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4°
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos,
sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5°
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes.
Artigo 6°
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua
personalidade jurídica.
Artigo 7°
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm
direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8°
Toda a pessoa direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os
actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9°
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10°
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
Artigo 11°
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que
todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não
constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo,
não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o
acto delituoso foi cometido.
70
Artigo 12°
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio
ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou
ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.
Artigo 13°
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no
interior de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e
o direito de regressar ao seu país.
Artigo 14°
1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo
em outros países.
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente
por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das
Nações Unidas.
Artigo 15°
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de
mudar de nacionalidade.
Artigo 16°
1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir
família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento
e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros
esposos.
3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção
desta e do Estado.
Artigo 17°
1. Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18°
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito
implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em
privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19°
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de
não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração
de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.
71
Artigo 20°
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21°
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu
país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas
do seu país.
3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve
exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio
universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a
liberdade de voto.
Artigo 22°
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode
legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis,
graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os
recursos de cada país.
Artigo 23°
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe
permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e
completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em
sindicatos para defesa dos seus interesses.
Artigo 24°
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável
da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.
Artigo 25°
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua
família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem
direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou
noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da
sua vontade.
2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social.
Artigo 26°
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O
72
ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores
deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos
direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos,
bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção
da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos
filhos.
Artigo 27°
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade,
de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste
resultam.
2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer
produção científica, literária ou artística da sua autoria.
Artigo 28°
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem
capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente
Declaração.
Artigo 29°
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e
pleno desenvolvimento da sua personalidade.
2. No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às
limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade
democrática.
3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente e aos
fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 30°
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para
qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de
praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.
73
A Assembléia Geral,
Considerando que os povos das Nações Unidas têm reafirmado, na Carta, sua fé nos Direitos
Humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos entre
homens e mulheres;
Preocupada porque, apesar da Carta das Nações Unidas, da Declaração Universal de Direitos
Humanos, dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos e de outros instrumentos das Nações
Unidas e dos organismos especializados e apesar dos progressos realizados em matéria de
igualdade de direitos, continua existindo considerável discriminação contra a mulher;
Considerando que a discriminação contra a mulher é incompatível com a dignidade humana e com o
bem-estar da família e da sociedade, impede sua participação na vida política, social, econômica e
cultural de seus países, em condições de igualdade com os homens, e constituiu um obstáculo ao
desenvolvimento completo das potencialidades da mulher no serviço aos seus países e à
humanidade;
Tendo em mente a grande contribuição da mulher na vida social, política, econômica e cultural, assim
como sua função na família e especialmente na educação das crianças;
Convencida de que a máxima participação tanto das mulheres como dos homens em todos os
campos é indispensável para o desenvolvimento completo de um país, o bem-estar do mundo e a
causa da paz;
Artigo 1º
A discriminação contra a mulher, porque nega ou limita sua igualdade de direitos com o homem, é
fundamentalmente injusta e constitui uma ofensa à dignidade humana.
Artigo 2º
Deverão ser tomadas todas as medidas apropriadas para abolir leis, costumes, regras e práticas
existentes que constituam discriminação contra a mulher, e para estabelecer a adequada proteção
legal à igualdade de direitos entre homens e mulheres, em particular:
a) O princípio de igualdade de direitos constará na Constituição ou será garantido por lei;
b) Os instrumentos internacionais das Nações Unidas e os organismos especializados relativos à
eliminação da discriminação contra a mulher serão ratificados ou aceitos e completamente
implementados assim que possível.
74
Artigo 3º
Deverão ser tomadas todas as medidas apropriadas para educar a opinião pública e dirigir as
aspirações nacionais para a erradicação do preconceito e abolição dos costumes e de todas as
outras práticas que estejam baseadas na idéia de inferioridade da mulher.
Artigo 4º
Deverão ser tomadas todas as medidas apropriadas para assegurar às mulheres a igualdade de
condições com os homens, sem qualquer discriminação:
a) O direito de votar em todas as eleições e ser elegível para integrar qualquer organismo constituído
mediante eleições públicas;
b) O direito de votar em todos os referendos públicos;
c) O direito de ocupar cargos públicos e exercer todas as funções públicas.
Estes direitos deverão ser garantidos pela legislação.
Artigo 5º
A mulher terá os mesmos direitos do homem para adquirir, mudar ou manter sua nacionalidade. O
matrimônio com um estrangeiro, não afetará automaticamente a nacionalidade da esposa, tornando-
a apátrida ou impondo-lhe a nacionalidade do seu marido.
Artigo 6º
§1. Sem prejuízo da proteção da unidade e da harmonia da família que permanece a unidade básica
de qualquer sociedade, serão tomadas todas as medidas apropriadas, particularmente medidas
legislativas, para assegurar à mulher, casada ou solteira, igualdade de direitos com o homem, no
campo do direito civil, e em particular:
a) O direito de adquirir, administrar e herdar bens e a desfrutar e dispor deles, incluindo os adquiridos
no matrimônio;
b) O direito de igualdade de capacidade legal e de seu exercício;
c) Os mesmos direitos do homem na legislação sobre a circulação de pessoas.
§2. Deverão ser tomadas todas as medidas necessárias para assegurar o princípio de igualdade de
condição do marido e da esposa, e em particular:
a) A mulher terá o mesmo direito do homem de escolher livremente um cônjuge e contrair matrimônio
somente mediante seu pleno e livre consentimento;
b) A mulher terá os mesmos direitos do homem durante o matrimônio e após sua dissolução. Em
todos os casos o interesse das crianças deverá ser prioritário;
c) Os pais terão direitos e deveres iguais em relação aos seus filhos.
Em todos os casos o interesse das crianças deverá ser prioritário.
§3. Deverão ser proibidos o casamento de crianças e o noivado de meninas jovens antes da
puberdade, e deverão ser tomadas medidas eficazes, inclusive legislativas, para especificar uma
idade mínima para contrair o matrimônio e tornar obrigatória a inscrição do matrimônio em registro
oficial.
Artigo 7º
Todas as disposições dos códigos penais que constituam discriminação contra a mulher serão
revogadas.
Artigo 8º
Deverão ser tomadas todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para combater todas as
formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição de mulheres.
Artigo 9º
Deverão ser tomadas todas as medidas necessárias para assegurar às jovens e às mulheres,
casadas ou não, igualdade de direitos com os homens em relação à educação, em todos os níveis, e
em particular:
a) Iguais condições de acesso a instituições educacionais de todos os tipos, inclusive universidades e
escolas técnicas e profissionais, e iguais condições de estudo nessas instituições;
b) A mesma seleção de programas de curso, os mesmos exames, pessoal docente do mesmo nível
pedagógico, locais e equipamentos da mesma qualidade, seja em instituições educacionais mistas,
ou não;
c) Iguais oportunidades na obtenção de bolsas de estudos e outras subvenções de estudo;
75
Artigo 10º
§1. Deverão ser tomadas todas as medidas necessárias para assegurar à mulher, casada ou não, os
mesmos direitos que ao homem, na esfera da vida econômica e social, e em particular:
a) O direito, sem discriminação alguma por seu estado civil ou qualquer outro motivo, de receber
formação profissional, trabalhar, escolher livremente emprego e profissão e de progredir no emprego
e na profissão;
b) O direito a igual remuneração que o homem e a igualdade de remuneração em relação a um
trabalho de igual valor;
c) O direito a férias remuneradas, à aposentadoria e às medidas que lhes dêem garantias contra o
desemprego, a doença, a velhice ou qualquer outro tipo de incapacidade para o trabalho;
d) O direito de receber pensões familiares em condições de igualdade com o homem.
§2. A fim de prevenir a discriminação contra a mulher por razões de casamento ou maternidade e
assegurar o direito efetivo ao trabalho, deverão ser tomadas medidas para evitar sua demissão no
caso de casamento ou maternidade, proporcionando licença maternidade remunerada, com a
garantia de retorno ao seu emprego, e para que lhe prestem os serviços sociais necessários,
incluindo os destinados ao cuidado das crianças.
§3. As medidas tomadas para proteger a mulher em certos tipos de trabalho, por razões inerentes à
sua natureza física, não serão consideradas discriminatórias.
Artigo 11
§1. O princípio de igualdade de direitos do homem e da mulher exige que todos os Estados o
apliquem em conformidade com os princípios da Carta das Nações Unidas e da Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
§2. Em conseqüência, se solicita aos governos, às organizações não-governamentais e aos
indivíduos que façam tudo que estiver ao seu alcance para promover a aplicação dos princípios
contidos nesta Declaração.
76
Considerando que a Carta das Nações Unidas reafirma a fé nos direitos fundamentais do
homem, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e
das mulheres;
Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma o princípio da não
discriminação e proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
em direitos e que cada pessoa pode prevalecer-se de todos os direitos e de todas as liberdades
aí enunciados, sem distinção alguma, nomeadamente de sexo;
Considerando que os Estados Partes nos pactos internacionais sobre direitos do homem têm a
obrigação de assegurar a igualdade de direitos dos homens e das mulheres no exercício de
todos os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos;
Preocupados pelo fato de que em situações de pobreza as mulheres têm um acesso mínimo à
alimentação, aos serviços médicos, à educação, à formação e às possibilidades de emprego e à
satisfação de outras necessidades;
Conscientes de que é necessária uma mudança no papel tradicional dos homens, tal como no
papel das mulheres na família e na sociedade, se se quer alcançar uma real igualdade dos
homens e das mulheres;
Acordam no seguinte:
PARTE I
Artigo 1.º
Para os fins da presente Convenção, a expressão «discriminação contra as mulheres» significa
qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo que tenha como efeito ou como
objetivo comprometer ou destruir o reconhecimento, o gozo ou o exercício pelas mulheres,
seja qual for o seu estado civil, com base na igualdade dos homens e das mulheres, dos
direitos do homem e das liberdades fundamentais nos domínios, político, econômico, social,
cultural e civil ou em qualquer outro domínio.
Artigo 2.º
Os Estados Partes condenam a discriminação contra as mulheres sob todas as suas formas,
acordam em prosseguir, por todos os meios apropriados e sem demora, uma política tendente
a eliminar a discriminação contra as mulheres e, com este fim, comprometem-se a:
a) Inscrever na sua constituição nacional ou em qualquer outra lei apropriada o princípio da
igualdade dos homens e das mulheres, se o mesmo não tiver já sido feito, e assegurar por via
legislativa ou por outros meios apropriados a aplicação efetiva do mesmo princípio;
78
Artigo 3.º
Os Estados Partes tomam em todos os domínios, nomeadamente nos domínios político, social,
econômico e cultural, todas as medidas apropriadas, incluindo disposições legislativas, pana
assegurar o pleno desenvolvimento e o progresso das mulheres, com vista a garantir-lhes o
exercício e o gozo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais, com base na
igualdade com os homens.
Artigo 4.º
1 - A adoção pelos Estados Partes de medidas temporárias especiais visando acelerar a
instauração de uma igualdade de fato entre os homens e as mulheres não é considerada como
um ato de discriminação, tal como definido na presente Convenção, mas não deve por
nenhuma forma ter como conseqüência a manutenção de normas desiguais ou distintas; estas
medidas devem ser postas de parte quando os objetivos em matéria de igualdade de
oportunidades e de tratamento tiverem sido atingidos.
2 - A adoção pelos Estados Partes de medidas especiais, incluindo as medidas previstas na
presente Convenção que visem proteger a maternidade, não é considerada como um ato
discriminatório.
Artigo 5.º
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para:
a) Modificar os esquemas e modelos de comportamento sócio-cultural dos homens e das
mulheres com vista a alcançar a eliminação dos preconceitos e das práticas costumeiras, ou de
qualquer outro tipo, que se fundem na idéia de inferioridade ou de superioridade de um ou de
outro sexo ou de um papel estereotipado dos homens e das mulheres;
b) Assegurar que a educação familiar contribua para um entendimento carreto da maternidade
como função social e para o reconhecimento da responsabilidade comum dos homens e das
mulheres na educação e desenvolvimento dos filhos, devendo entender-se que o interesse das
crianças é consideração primordial em todos os casos.
Artigo 6.º
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas, incluindo disposições legislativas,
para suprimir todas as formas de tráfico das mulheres e de exploração da prostituição das
mulheres.
PARTE II
79
Artigo 7.º
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra
as mulheres na vida política e pública do país e, em particular, asseguram-lhes, em condições
de igualdade com os homens, o direito:
a) De votar em todas as eleições e em todos os referendos públicos e de ser elegíveis para
todos os organismos publicamente eleitos;
b) De tomar parte na formulação da política do Estado e na sua execução, de ocupar empregos
públicos e de exercer todos os cargos públicos a todos os níveis do governo;
c) De participar nas organizações e associações não governamentais que se ocupem dia vida
pública e política do país.
Artigo 8.º
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para que as mulheres, em condições
de igualdade com os homens e sem nenhuma discriminação, tenham a possibilidade de
representar os seus governos à escala internacional e de participar nos trabalhos das
organizações internacionais.
Artigo 9.º
1 - Os Estados Partes concedem às mulheres direitos iguais aos dos homens no que respeita à
aquisição, mudança e conservação da nacionalidade. Garantem, em particular, que nem o
casamento com um estrangeiro nem a mudança de nacionalidade do marido na constância do
casamento produzem automaticamente a mudança de nacionalidade da mulher, a tornam
apátrida ou a obrigam a adquirir a nacionalidade do marido.
2 - Os Estados Partes concedem às mulheres direitos iguais aos dos homens no que respeita à
nacionalidade dos filhos.
PARTE III
Artigo 10.º
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra
as mulheres com o fim de lhes assegurar direitos iguais aos dos homens no domínio da
educação e, em particular, para assegurar, com base na igualdade dos homens e das mulheres:
a) As mesmas condições de orientação profissional, de acesso aos estudos e de obtenção de
diplomas nos estabelecimentos de ensino de todas as categorias, nas zonas rurais como nas
zonas urbanas, devendo esta igualdade ser assegurada no ensino pré-escolar, geral, técnico,
profissional e técnico superior, assim como em qualquer outro meio de formação profissional;
b) O acesso aos mesmos programas, aos mesmos exames, a um pessoal de ensino possuindo
qualificações do mesmo nível, a locais escolares e a equipamento da mesma qualidade;
c) A eliminação de qualquer concepção estereotipada dos papéis dos homens e das mulheres e
a todos os níveis e em todas as formas de ensino, encorajando a co-educação e outros tipos de
educação que ajudarão a realizar este objetivo, em particular revendo os livros e programas
escolares e adaptando os métodos pedagógicos,
d) As mesmas possibilidades no que respeita à concessão de bolsas e outros subsídios para os
estudos;
e) As mesmas possibilidades de acesso aos programas de educação permanente, incluindo os
programas de alfabetização para adultos e de alfabetização funcional, com vista,
nomeadamente, a reduzir o mais cedo possível qualquer desnível de instrução que exista entre
os homens e as mulheres;
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f) A redução das taxas de abandono feminino dos estudos e a organização de programas para
as raparigas e as mulheres que abandonarem prematuramente a escola;
g) As mesmas possibilidades de participar ativamente nos desportos e na educação física;
h) O acesso a informações especificas de caráter educativo tendentes a assegurar a saúde e o
bem-estar das famílias, incluindo a informação e o aconselhamento relativos ao planeamento
da família.
Artigo 11.º
1 - Os Estados Partes comprometem-se a tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a
discriminação contra as mulheres no domínio do emprego com o fim de assegurar, com base
na igualdade dos homens e das mulheres. os mesmos direitos, em particular:
a) O direito ao trabalho, enquanto direito inalienável de todos os seres humanos;
b) O direito às mesmas possibilidades & emprego, incluindo a aplicação dos mesmos critérios
de seleção em matéria de emprego;
c) O direito à livre escolha da profissão e do emprego, o direito à promoção, à estabilidade do
emprego e a todas as prestações e condições de trabalho e o direito à formação profissional e a
reciclagem, incluindo a aprendizagem, o aperfeiçoamento profissional e a formação
permanente;
d) O direito à igualdade de remuneração, incluindo prestações, e à igualdade de tratamento
para um trabalho de igual valor, assim coma à igualdade de tratamento no que respeita à
avaliação da qualidade do trabalho;
e) O direito à segurança social, nomeadamente às prestações de reforma, desemprego, doença,
invalidez e velhice ou relativas a qualquer outra perda de capacidade de trabalho, assim como
o direito a férias pagas;
f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições de trabalho, incluindo a
salvaguarda da função de reprodução.
2 - Com o fim de evitar a discriminação contra as mulheres por causa do casamento ou da
maternidade e de garantir o seu direito efetivo ao trabalho, os Estados Partes comprometem-se
a tomar medidas apropriadas para:
a) Proibir, sob pena de sanções, o despedimento por causa da gravidez ou de gozo do direito a
um período de dispensa do trabalho por ocasião da maternidade, bem como a discriminação
nos despedimentos fundada no estado matrimonial;
b) Instituir a concessão do direito a um período de dispensa do trabalho por ocasião da
maternidade pago ou conferindo direito a prestações sociais comparáveis, com a garantia da
manutenção do emprego anterior, dos direitos de antiguidade e das vantagens sociais;
c) Encorajar o fornecimento dos serviços sociais de apoio necessários para permitir aos pais
conciliar as obrigações familiares com as responsabilidades profissionais e a participação na
vida pública, em particular favorecendo a criação e o desenvolvimento de uma rede de
estabelecimentos de guarda de crianças;
d) Assegurar uma proteção especial às mulheres grávidas cujo trabalho é comprovadamente
nocivo.
3 - A legislação que visa proteger as mulheres nos domínios abrangidos pelo presente artigo
será revista periodicamente em função dos conhecimentos científicos e técnicos e será
modificada, revogada ou alargada segundo as necessidades.
Artigo 12.º
1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação
contra as mulheres no domínio dos cuidados de saúde, com vista a assegurar-lhes, com base
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na igualdade dos homens e das mulheres, o acesso aos serviços médicos, incluindo os
relativos ao planeamento da família.
2 - Não obstante as disposições do parágrafo 1 deste artigo, os Estados Partes fornecerão às
mulheres durante a gravidez, durante o parto e depois do parto serviços apropriados e, se
necessário, gratuitos, assim como uma nutrição adequada durante a gravidez e o aleitamento.
Artigo 13.º
Os Estados Partes comprometem-se a tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a
discriminação contra as mulheres em outros domínios da vida econômica e social, com o fim
de assegurar, com base na igualdade dos homens e das mulheres, os mesmos direitos, em
particular:
a) O direito a prestações familiares;
b) O direito a empréstimos bancários, empréstimos hipotecários e outras formas de crédito
financeiro;
c) O direito de participar nas atividades recreativas, nos desportos e em todos os aspectos da
vida cultural.
Artigo 14.º
1 - Os Estados Partes têm em conta os problemas particulares das mulheres rurais e o papel
importante que estas mulheres desempenham para a sobrevivência econômica das suas
famílias, nomeadamente pelo seu trabalho nos sectores não monetários da economia, e tomam
todas as medidas apropriadas para assegurar a aplicação das disposições da presente
Convenção às mulheres das zonas rurais.
2 - Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação
contra as mulheres nas zonas rurais, com o fim de assegurar, com base na igualdade dos
homens e das mulheres, a sua participação no desenvolvimento rural e nas suas vantagens e,
em particular, assegurando-lhes o direito:
a) De participar plenamente na elaboração e na execução dos planos do desenvolvimento a
todos os níveis;
b) De ter acesso aos serviços adequados no domínio da saúde, incluindo a informação,
aconselhamento e serviços em matéria de planeamento da família;
c) De beneficiar diretamente dos programas de segurança social;
d) De receber qualquer tipo de formação e de educação, escolares ou não, incluindo em
matéria de alfabetização funcional, e de poder beneficiar de todos os serviços comunitários e
de extensão, nomeadamente para melhorar a sua competência técnica;
e) De organizar grupos de ajuda e cooperativas com o fim de permitir a igualdade de
oportunidades no plano econômico, quer se trate de trabalho assalariado ou de trabalho
independente;
f) De participar em todas as atividades da comunidade;
g) De ter acesso ao crédito e aos empréstimos agrícolas, assim como aos serviços de
comercialização e às tecnologias apropriadas e de receber um tratamento igual nas reformas
fundiárias e agrárias e nos projetos de re-ordenamento rural;
h) De beneficiar de condições de vida convenientes, nomeadamente no que diz respeito a
alojamento, saneamento, fornecimento de eletricidade e de água, transportes e comunicações.
PARTE IV
Artigo 15.º
1 - Os Estados Partes reconhecem às mulheres a igualdade com os homens perante a lei.
82
Artigo 16.º
1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas necessárias para eliminar a discriminação
contra as mulheres em todas as questões relativas ao casamento e às relações familiares e, em
particular, asseguram, com base na igualdade dos homens e das mulheres:
a) O mesmo direito de contrair casamento;
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de só contrair casamento de livre e
plena vontade;
c) Os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades na constância do casamento e quando
da sua dissolução;
d) Os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades enquanto pais, seja qual for o estado
civil, para as questões relativas aos seus filhos; em todos os casos, o interesse das crianças
será a consideração primordial;
e) Os mesmos direitos de decidir livremente e com todo o conhecimento de causa do número
e do espaçamento dos nascimentos e de ter acesso à informação, à educação e aos meios
necessários para permitir o exercício destes direitos;
f) Os mesmos direitos e responsabilidades em matéria de tutela, curatela, guarda e adoção das
crianças, ou instituições similares, quando estes institutos existam na legislação nacional; em
todos os casos, o interesse das crianças será a consideração primordial;
g) Os mesmos direitos pessoais ao marido e à mulher, incluindo o que respeita à escolha do
nome de família, de uma profissão e de uma ocupação;
h) Os mesmos direitos a cada um dos cônjuges em matéria de propriedade, aquisição, gestão,
administração, gozo e disposição dos bens, tanto a titulo gratuito como a título oneroso.
2 - A promessa de casamento e o casamento de crianças não terão efeitos jurídicos e todas as
medidas necessárias, incluindo disposições legislativas, serão tomadas com o fim de fixar
uma idade mínima para o casamento e de tornar obrigatório o registro do casamento num
registro oficial.
PARTE V
Artigo 17.º
1 - Com o fim de examinar os progressos realizados na aplicação da presente Convenção, é
constituído um Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (em seguida
denominado Comitê), que se compõe, no momento da entrada em vigor da Convenção, de
dezoito e, depois da sua ratificação ou da adesão do 35° Estado Parte, de vinte e três peritos
de uma alta autoridade moral e de grande competência no, domínio abrangido pela presente
Convenção. Os peritos são eleitos pelos Estados Partes de entre os seus nacionais e exercem
as suas funções a titulo pessoal, devendo ter-se em conta o principio de uma repartição
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geográfica eqüitativa e de representação das diferentes formas de civilização, assim como dos
principais sistemas jurídicos.
2 - Os membros do Comitê são eleitos por escrutínio secreto de entre uma lista de candidatos
designados pelos Estados Partes. Cada Estado Parte pode designar um candidato escolhido de
entre os seus nacionais.
3 - A primeira eleição tem lugar seis meses depois da data da entrada em vigor da presente
Convenção. Pelo menos três meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas dirige uma carta aos Estados Partes para os convidar a
submeter as suas candidaturas num prazo de dois meses. O Secretário-Geral elabora uma lista
alfabética de todos os candidatos, indicando por que Estado foram designados, lista que
comunica aos Estados Partes.
4 - Os membros do Comitê são eleitos no decurso de uma reunião dos Estados Partes
convocada pelo Secretário-Geral para a sede da Organização das Nações Unidas. Nesta
reunião, em que o quorum é constituído por dois terços dos Estados Partes, são eleitos
membros do Comitê os candidatos que tenham obtido o maior número de votos e a maioria
absoluta dos votos dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.
5 - Os membros do Comitê são eleitos para um período de quatro anos. No entanto, o
mandato de nove dos membros eleitos na primeira eleição termina ao fim de dois anos; o
presidente do Comitê tira à sorte os nomes destes nove membros imediatamente depois da
primeira eleição.
6 - A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê realiza-se nos termos das disposições
dos parágrafos 2, 3 e 4 do presente artigo, a seguir à 35.ª ratificação ou adesão. O mandato de
dois dos membros adicionais eleitos nesta ocasião termina ao fim de dois anos; o nome destes
dois membros é tirado à sorte pelo presidente do Comitê.
7 - Para suprir eventuais vagas, o Estado Parte cujo perito tenha cessado de exercer as suas
funções de membro do Comitê nomeia um outro perito de entre os seus nacionais, sob reserva
da aprovação do Comitê.
8 - Os membros do Comitê recebem, com a aprovação da Assembléia Geral, emolumentos
retirados dos fundos da Organização das Nações Unidas, nas condições fixadas pela
Assembléia, tendo em conta a importância das funções do Comitê.
9 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas põe à disposição do Comitê o
pessoal e os meios materiais que lhe são necessários para o desempenho eficaz das funções
que lhe são confiadas pela presente Convenção.
Artigo 18.º
1 - Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas, para exame pelo Comitê, um relatório sobre as medidas de ordem legislativa,
judiciária, administrativa ou outra que tenham adotado para dar aplicação às disposições da
presente Convenção e sobre os progressos realizados a este respeito:
a) No ano seguinte à entrada em vigor da Convenção para o Estado interessado;
b) Em seguida, de quatro em quatro anos, e sempre que o Comitê o pedir.
2 - Os relatórios podem indicar os fatores e dificuldades que afetam a medida em que são
cumpridas as obrigações previstas pela presente Convenção.
Artigo 19.º
1 - O Comitê adota o seu próprio regulamento interior.
2 - O Comitê elege o seu secretariado para um período de dois anos.
Artigo 20.º
84
Artigo 21.º
1 - O Comitê presta contas todos os anos à Assembléia Geral da Organização das Nações
Unidas, por intermédio do Conselho Econômico e Social, das suas atividades e pode formular
sugestões e recomendações gerais fundadas no exame dos relatórios e das informações
recebidas dos Estados Partes. Estas sugestões e recomendações são incluídas no relatório do
Comitê, acompanhadas, sendo caso disso, das observações dos Estados Partes.
2 - O Secretário-Geral transmite os relatórios do Comitê à Comissão do Estatuto das Mulheres
para informação.
Artigo 22.º
As instituições especializadas têm o direito de estar representadas quando do exame da
aplicação de qualquer disposição da presente Convenção que entre no âmbito das suas
atividades. O Comitê pode convidar as instituições especializadas a submeter relatórios sobre
a aplicação da Convenção nos domínios que entram no âmbito das suas atividades.
PARTE VI
Artigo 23.º
Nenhuma das disposições da presente Convenção põe em causa as disposições mais propícias
à realização da igualdade entre os homens e as mulheres que possam conter-se:
a) Na legislação de um Estado Parte;
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo internacional em vigor nesse Estado.
Artigo 24.º
Os Estados Partes comprometem-se a adotar todas as medidas necessárias ao nível nacional
para assegurar o pleno exercício dos direitos reconhecidos pela presente Convenção.
Artigo 25.º
1 - A presente Convenção está aberta à assinatura de todos os Estados.
2 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas é designado como depositário da
presente Convenção.
3 - A presente Convenção está sujeita a ratificação e os instrumentos de ratificação são
depositados junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
4 - A presente Convenção está aberta à adesão de todos os Estados. A adesão efetua-se pelo
depósito de um instrumento de adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas.
Artigo 26.º
1 - Qualquer Estado Parte pode pedir em qualquer momento a revisão da presente Convenção,
dirigindo uma comunicação escrita para este efeito ao Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas.
2 - A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas decide das medidas a tomar,
sendo caso disso, em relação a um pedido desta natureza.
85
Artigo 27.º
1 - A presente Convenção entra em vigor no 30.· dia a seguir à data do depósito junto do
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas do 20.º instrumento de ratificação ou de
adesão.
2 - Para cada um dos Estados que ratifiquem a presente Convenção ou a ela adiram depois do
depósito do 20.· instrumento de ratificação ou de adesão, a mesma Convenção entra em vigor
no 30.º dia a seguir à data do depósito por esse Estado do seu instrumento de ratificação ou de
adesão.
Artigo 28.º
1 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas recebe e comunica a todos os
Estados o texto das reservas que forem feitas no momento da ratificação ou da adesão.
2 - Não é autorizada nenhuma reserva incompatível com o objeto e o fim da presente
Convenção.
3 - As reservas podem ser retiradas em qualquer momento por via de notificação dirigida ao
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o qual informa todos os Estados Partes
na Convenção. A notificação tem efeitos na data da recepção.
Artigo 29.º
1 - Qualquer diferindo entre dois ou mais Estados Partes relativamente à interpretação ou à
aplicação da presente Convenção que não seja resolvido por via de negociação é submetido a
arbitragem, a pedido de um de entre eles. Se nos seis meses a seguir à data do pedido de
arbitragem as Partes não chegarem a acordo sobre a organização da arbitragem, qualquer
delas pode submeter o diferindo ao Tribunal Internacional de Justiça, mediante um
requerimento nos termos do Estatuto do Tribunal.
2 - Qualquer Estado Parte pode, no momento em que assinar a presente Convenção, a ratificar
ou a ela aderir, declarar que não se considera vinculado pelas disposições do parágrafo 1 do
presente artigo. Os outros Estados Partes não estão vinculados pelas mesmas disposições nas
suas relações com um Estado Parte que tiver formulado uma tal reserva.
3 - Qualquer Estado Parte que tenha formulado uma reserva conformemente às disposições do
parágrafo 2 do presente artigo pode em qualquer momento retirar essa reserva por uma
notificação dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
Artigo 30.º
A presente Convenção, cujos textos em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e russo fazem
igualmente fé, é depositada junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
O Vice-Presidente da Assembléia da República, em exercício, Nuno Aires Rodrigues dos
Santos.
86
ANEXO E – Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher
(ONU, 1993).
A Assembléia Geral
Preocupada porque a violência contra a mulher constitui um obstáculo não só para a conquista
da igualdade, do desenvolvimento e da paz, tal como se reconhece nas estratégias de Nairobe
orientadas para o futuro com vistas ao avanço da mulher, onde se recomendaram um conjunto
de medidas voltadas para o combate à violência contra a mulher, mas também para a plena
aplicação da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher.
Afirmando que a violência contra a mulher constitui uma violação dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais e impede total ou parcialmente a mulher de gozar de ditos direitos e
liberdades e preocupada pelo descuido, desde há muito, da proteção e fomento destes direitos
e liberdades frente à violência contra a mulher.
Preocupada pelo fato de alguns grupos de mulheres, como por exemplo, as indígenas, as
refugiadas, as migrantes, as que habitam regiões rurais, as indigentes, as detentas, as menores,
as deficientes, as idosas e as mulheres em situação de conflito armado, são particularmente
vulneráveis a violência.
Alarmada pelo fato de que as oportunidades de que dispõe a mulher para alcançar sua
igualdade jurídica, social, política e econômica na sociedade, se vêem limitadas, ente outras
coisas, por uma violência continua e endêmica.
Convencida de que, à luz das considerações anteriores se requerem uma definição clara e
completa da violência contra a mulher, uma formulação clara dos direitos que deverão ser
aplicados para se alcançar a eliminação da violência contra a mulher em todas as suas formas,
um compromisso dos Estados com vistas a eliminar a violência contra a mulher.
Artigo I
Para efeito da presente Declaração por “Violência contra a mulher” se entende todo ato de
violência baseado no fato da pessoa pertencer ao sexo feminino, que tenha ou possa ter como
resultado um dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para a mulher, inclusive as
ameaças, a coação ou privação arbitraria da liberdade, tanto as que se produzem na vida
pública quanto na privada.
Artigo II
Entender-se-á que a violência contra a mulher abarca os seguintes atos, ainda que nao se
limitem a eles:
a. Violência física, sexual e psicológica que ocorre dentro da família, incluindo os ataques;
abuso sexual de crianças do sexo feminino no lar; violência relacionada ao dote da mulher;
estupro conjugal; mutilação genital feminina e outras práticas tradicionais nocivas para as
mulheres; violência extraconjugal; e violência relacionada com a exploração;
b. Violência física, sexual e psicológica que ocorre dentro da comunidade geral, incluindo
estupro; abuso sexual; intimidação e assédio sexual no local de trabalho, nas instituições
educativas e em outras partes; tráfico de mulheres; e prostituição forçada;
c. Violência perpetrada ou tolerada pelo Estado, onde quer que ocorra.
Artigo III
A mulher tem direito, em condições de igualdade, ao gozo e a proteção de todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais, nas esferas política, econômica, social, cultural, civil ou
qualquer outro campo.
Estes direitos incluem inter alia
a. Direito à vida;
b. Direito à igualdade;
c. Direito à liberdade e segurança pessoal;
d. Direito a igual proteção diante a lei;
88
Artigo IV
Os Estados devem condenar a violência contra a mulher e não invocar nenhum costume,
tradição ou consideração religiosa para evitar sua obrigação de procurar eliminá-la. Os
Estados devem aplicar por todos os meios e sem demora uma política destinada a eliminar a
violência contra a mulher.
Artigo V
Os órgãos e organismos especializados do sistema das Nações Unidas deverão contribuir, em
suas respectivas esferas de competência, para o reconhecimento e exercício dos direitos e para
a aplicação dos princípios estabelecidos na presente declaração e, para este fim, deverão, inter
alia:
Artigo VI
Nada do que foi enunciado na presente declaração afetará qualquer disposição que possa fazer
parte da legislação de um Estado e de qualquer convenção, tratado ou instrumento
internacional vigente nesse Estado e seja mais efetiva para a eliminação da violência contra a
mulher.
91
5. Reconhecemos que o status das mulheres tem avançado em alguns aspectos importantes
desde a década passada; no entanto, este progresso tem sido heterogêneo, desigualdades entre
homens e mulheres têm persistido e sérios obstáculos também, com consequências
prejudiciais para o bem-estar de todos os povos,
6. Reconhecemos ainda que esta situação é agravada pelo crescimento da pobreza que afeta a
vida da maioria da população mundial, em particular das mulheres e crianças, tendo origem
tanto na esfera nacional, como na esfera internacional,
9. Assegurar a plena implementação dos direitos humanos das mulheres e das meninas como
parte inalienável, integral e indivisível de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais;
10. Impulsionar o consenso e o progresso alcançados nas anteriores Conferências das Nações
Unidas - sobre as Mulheres em Nairóbi em 1985, sobre as Crianças em Nova York em 1990,
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, sobre Direitos
Humanos em Viena em 1993, sobre População e Desenvolvimento no Cairo em 1994 e sobre
Desenvolvimento Social em Copenhagem em 1995, com os objetivos de atingir a igualdade, o
desenvolvimento e a paz;
92
15. A igualdade de direitos, oportunidades e acesso aos recursos, a distribuição equitativa das
responsabilidades familiares entre homens e mulheres e a harmônica associação entre eles são
fundamentais para seu próprio bem-estar e de suas famílias, como também para a
consolidação da democracia;
18. A paz local, nacional, regional e global é alcançável e está necessariamente relacionada
com os avanços das mulheres, que constituem uma força fundamental para a liderança, a
solução de conflitos e a promoção de uma paz duradoura em todos os níveis;
22. Intensificar esforços e ações para alcançar, até o final deste século, os objetivos e
estratégias de Nairobe orientados para os avanços das mulheres,
24. Adotar todas as medidas necessárias para eliminar todas as formas de discriminação
contra mulheres e meninas e remover todos os obstáculos à igualdade de gênero e aos avanços
e fortalecimento das mulheres;
28. Adotar as medidas positivas para assegurar a paz para os avanços das mulheres e,
reconhecendo o papel de liderança que as mulheres têm apresentado no movimento pela paz,
trabalhar ativamente para o desarmamento geral e completo, sob o estrito e efetivo controle
internacional, e apoiar as negociações para a conclusão, sem demora, de tratado universal e
multilateral de proibição de testes nucleares, que efetivamente contribua para o desarmamento
nuclear e para a prevenção da proliferação de armas nucleares em todos os seus aspectos;
31. Promover e proteger todos os direitos humanos das mulheres e das meninas;
35. Assegurar às mulheres a igualdade de acesso aos recursos econômicos, incluindo a terra,
o crédito, a ciência, a tecnologia, a capacitação profissional, a informação, a comunicação e os
mercados, como meio de promover o avanço e o fortalecimento das mulheres e meninas,
inclusive através da promoção de sua capacidade de exercer os benefícios do acesso
igualitário a estes recursos, para o que se recorre, dentre outras coisas, à cooperação
internacional;
36. Assegurar o sucesso da Plataforma de Ação que exigirá o sólido compromisso dos
Governos, organizações e instituições internacionais de todos os níveis. Nós estamos
firmemente convencidos de que o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e a
proteção do meio ambiente são interdependentes e componentes mutuamente enfatizadores do
desenvolvimento sustentável, que é o marco de nossos esforços para o alcance de uma melhor
qualidade de vida para todos os povos. Um desenvolvimento social equitativo que reconheça
a importância do fortalecimento dos pobres, particularmente das mulheres que vivem na
pobreza, na utilização dos recursos ambientais sustentáveis, é uma base necessária ao
desenvolvimento sustentável. Nós também reconhecemos que um crescimento econômico
sustentado, com ampla base, no contexto do desenvolvimento sustentável, é necessário para
estimular o desenvolvimento social e a justiça social. O sucesso da Plataforma de Ação ainda
exigirá uma adequada mobilização de recursos nos âmbitos nacional e internacional, como
também novos e adicionais recursos para os países em desenvolvimento, provenientes de
todos os mecanismos de financiamento disponíveis, incluídas as fontes multilaterais, bilaterais
e privadas, a fim de que se promova o fortalecimento das mulheres; recursos financeiros para
aumentar a capacidade de instituições nacionais, sub-regionais, regionais e internacionais; o
compromisso de garantir a igualdade de direitos, a igualdade de responsabilidades, a
igualdade de oportunidades e a igualdade de participação de mulheres e homens em todos os
órgãos e processos de formulação de políticas públicas no âmbito nacional, regional e
internacional; o estabelecimento ou o fortalecimento de mecanismos em todos os níveis para
prestar contas às mulheres de todo mundo;
37. Garantir também o êxito da Plataforma de Ação em países cujas economias estejam em
transição, o que requer contínua cooperação e assistência internacional;
Observando que na Carta das Nações Unidas se reafirma a fé nos direitos humanos
fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos entre
homens e mulheres,
Observando, ainda, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama que todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que cada pessoa tem todos os
direitos e liberdades nela proclamados, sem qualquer tipo de distinção, incluindo distinção
baseada em sexo,
Artigo 1
Cada Estado Parte do presente Protocolo (doravante denominado "Estado Parte") reconhece a
competência do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (doravante
denominado " o Comitê") para receber e considerar comunicações apresentadas de acordo
com o Artigo 2 deste Protocolo.
Artigo 2
As comunicações podem ser apresentadas por indivíduos ou grupos de indivíduos, que se
encontrem sob a jurisdição do Estado Parte e aleguem ser vítimas de violação de quaisquer
dos direitos estabelecidos na Convenção por aquele Estado Parte, ou em nome desses
indivíduos ou grupos de indivíduos. Sempre que for apresentada em nome de indivíduos ou
grupos de indivíduos, a comunicação deverá contar com seu consentimento, a menos que o
autor possa justificar estar agindo em nome deles sem o seu consentimento.
Artigo 3
As comunicações deverão ser feitas por escrito e não poderão ser anônimas. Nenhuma
comunicação relacionada a um Estado Parte da Convenção que não seja parte do presente
Protocolo será recebida pelo Comitê.
Artigo 4
96
Artigo 5
1. A qualquer momento após o recebimento de comunicação e antes que tenha sido alcançada
determinação sobre o mérito da questão, o Comitê poderá transmitir ao Estado Parte em
questão, para urgente consideração, solicitação no sentido de que o Estado Parte tome as
medidas antecipatórias necessárias para evitar possíveis danos irreparáveis à vítima ou vítimas
da alegada violação.
2. Sempre que o Comitê exercer seu arbítrio segundo o parágrafo 1 deste Artigo, tal fato não
implica determinação sobre a admissibilidade ou mérito da comunicação.
Artigo 6
1. A menos que o Comitê considere que a comunicação seja inadmissível sem referência ou
Estado Parte em questão, e desde que o indivíduo ou indivíduos consintam na divulgação de
sua identidade ao Estado Parte, o Comitê levará confidencialmente à atenção do Estado Parte
em questão a comunicação por ele recebida no âmbito do presente Protocolo.
2. Dentro de seis meses, o Estado Parte que receber a comunicação apresentará ao Comitê
explicações ou declarações por escrito esclarecendo o assunto e o remédio, se houver, que
possa ter sido aplicado pelo Estado Parte.
Artigo 7
1. O Comitê considerará as comunicações recebidas segundo o presente Protocolo à luz das
informações que vier a receber de indivíduos ou grupos de indivíduos, ou em nome destes, ou
do Estado Parte em questão, desde que essa informação seja transmitida às partes em questão.
2. O Comitê realizará reuniões fechadas ao examinar as comunicações no âmbito do presente
Protocolo.
3. Após examinar a comunicação, o Comitê transmitirá suas opiniões a respeito, juntamente
com sua recomendação, se houver, às partes em questão.
4. O Estado Parte dará a devida consideração às opiniões do Comitê, juntamente com as
recomendações deste último, se houver, e apresentará ao Comitê, dentro de seis meses,
resposta por escrito incluindo informações sobre quaisquer ações realizadas à luz das opiniões
e recomendações do Comitê.
5. O Comitê poderá convidar o Estado Parte a apresentar informações adicionais sobre
quaisquer medidas que o Estado Parte tenha tomado em resposta às opiniões e recomendações
do Comitê, se houver, incluindo, quando o Comitê julgar apropriado, informações que passem
a constar de relatórios subseqüentes do Estado Parte segundo o Artigo 18 da Convenção.
Artigo 8
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1. Caso o Comitê receba informação fidedigna indicando graves ou sistemáticas violações por
um Estado Parte dos direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê convidará o Estado Parte
a cooperar no exame da informação e, para esse fim, a apresentar observações quanto à
informação em questão.
2. Levando em conta quaisquer observações que possam ter sido apresentadas pelo Estado
Parte em questão, bem como outras informações fidedignas das quais disponha, o Comitê
poderá designar um ou mais de seus membros para conduzir uma investigação e apresentar
relatório urgentemente ao Comitê. Sempre que justificado, e com o consentimento do Estado
Parte, a investigação poderá incluir visita ao território deste último.
3. Após examinar os resultados da investigação, o Comitê os transmitirá ao Estado Parte em
questão juntamente com quaisquer comentários e recomendações.
4. O Estado Parte em questão deverá, dentro de seis meses do recebimento dos resultados,
comentários e recomendações do Comitê, apresentar suas observações ao Comitê.
5. Tal investigação será conduzida em caráter confidencial e a cooperação do Estado Parte
será buscada em todos os estágios dos procedimentos.
Artigo 9
1. O Comitê poderá convidar o Estado Parte em questão a incluir em seu relatório, segundo o
Artigo 18 da Convenção, pormenores de qualquer medida tomada em resposta à investigação
conduzida segundo o Artigo 18 deste Protocolo.
2. O Comitê poderá, caso necessário, após o término do período de seis meses mencionado no
Artigo 8.4 deste Protocolo, convidar o Estado Parte a informá-lo das medidas tomadas em
resposta à mencionada investigação.
Artigo 10
1. Cada Estado Parte poderá, no momento da assinatura ou ratificação do presente Protocolo
ou no momento em que a este aderir, declarar que não reconhece a competência do Comitê
disposta nos Artigos 8 e 9 deste Protocolo.
2. O Estado Parte que fizer a declaração de acordo com o Parágrafo 1 deste Artigo 10 poderá,
a qualquer momento, retirar essa declaração através de notificação ao Secretário-Geral.
Artigo 11
Os Estados Partes devem tomar todas as medidas apropriadas para assegurar que os
indivíduos sob sua jurisdição não fiquem sujeitos a maus tratos ou intimidação como
conseqüência de sua comunicação com o Comitê nos termos do presente Protocolo.
Artigo 12
O Comitê incluirá em seu relatório anual, segundo o Artigo 21 da Convenção, um resumo de
suas atividades nos termos do presente Protocolo.
Artigo 13
Cada Estado Parte compromete-se a tornar públicos e amplamente conhecidos a Convenção e
o presente Protocolo e a facilitar o acesso à informação acerca das opiniões e recomendações
do Comitê, em particular sobre as questões que digam respeito ao próprio Estado Parte.
Artigo 14
O Comitê elaborará suas próprias regras de procedimento a serem seguidas no exercício das
funções que lhe são conferidas no presente Protocolo.
Artigo 15
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1. O presente Protocolo estará aberto à assinatura por qualquer Estado que tenha ratificado ou
aderido à Convenção.
2. O presente Protocolo estará sujeito à ratificação por qualquer Estado que tenha ratificado
ou aderido à Convenção. Os instrumentos de ratificação deverão ser depositados junto ao
Secretário-Geral das Nações Unidas.
3. O presente Protocolo estará aberto à adesão por qualquer Estado que tenha ratificado ou
aderido à Convenção.
4. A adesão será efetivada pelo depósito de instrumento de adesão junto ao Secretário-Geral
das Nações Unidas.
Artigo 16
1. O presente Protocolo entrará em vigor três meses após a data do depósito junto ao
Secretário-Geral das Nações Unidas do décimo instrumento de ratificação ou adesão.
2. Para cada Estado que ratifique o presente Protocolo ou a ele venha a aderir após sua entrada
em vigor, o presente Protocolo entrará em vigor três meses após a data do depósito de seu
próprio instrumento de ratificação ou adesão.
Artigo 17
Não serão permitidas reservas ao presente Protocolo.
Artigo 18
1. Qualquer Estado Parte poderá propor emendas ao presente Protocolo e dar entrada a
proposta de emendas junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral deverá,
nessa ocasião, comunicar as emendas propostas aos Estados Partes juntamente com
solicitação de que o notifiquem caso sejam favoráveis a uma conferência de Estados Partes
com o propósito de avaliar e votar a proposta. Se ao menos um terço dos Estados Partes for
favorável à conferência, o Secretário-Geral deverá convocá-la sob os auspícios das Nações
Unidas. Qualquer emenda adotada pela maioria dos Estados Partes presentes e votantes na
conferência será submetida à Assembléia-Geral das Nações Unidas para aprovação.
2. As emendas entrarão em vigor tão logo tenham sido aprovadas pela Assembléia-Geral das
Nações Unidas e aceitas por maioria de dois terços dos Estados Partes do presente Protocolo,
de acordo com seus respectivos processos constitucionais.
3. Sempre que as emendas entrarem em vigor, obrigarão os Estados Partes que as tenham
aceitado, ficando os outros Estados Partes obrigados pelas disposições do presente Protocolo
e quaisquer emendas anteriores que tiverem aceitado.
Artigo 19
1. Qualquer Estado Parte poderá denunciar o presente Protocolo a qualquer momento por
meio de notificação por escrito endereçada ao Secretário-Geral das Nações Unidas. A
denúncia terá efeito seis meses após a data do recebimento da notificação pelo Secretário-
Geral.
2. A denúncia não prejudicará a continuidade da aplicação das disposições do presente
Protocolo em relação a qualquer comunicação apresentada segundo o Artigo 2 deste
Protocolo e a qualquer investigação iniciada segundo o Artigo 8 deste Protocolo antes da data
de vigência da denúncia.
Artigo 20
O Secretário-Geral das Nações Unidas informará a todos os Estados sobre:
(a) Assinaturas, ratificações e adesões ao presente Protocolo;
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(b) Data de entrada em vigor do presente Protocolo e de qualquer emenda feita nos termos do
Artigo 18 deste Protocolo;
(c) Qualquer denúncia feita segundo o Artigo 19 deste Protocolo.
Artigo 21
1. O presente Protocolo, do qual as versões em árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol
são igualmente autênticas, será depositado junto aos arquivos das Nações Unidas.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas transmitirá cópias autenticadas do presente
Protocolo a todos os estados mencionados no Artigo 25 da Convenção.