Gabriela Gonçalves Silva Rocha N° USP 10270411 Luísa Carolina Goulart N° USP 11323752 INTRODUÇÃO TEXTO: "A viravolta machadiana", ensaio de Roberto Schwarz In. Martinha versus Lucrécia, 2012 -> o particular e o universal A produção machadiana se divide em dois momentos; essa divisão é demarcada pela "viravolta" A principal mudança se percebe na figura e nos recursos do narrador Texto proporcionou a descoberta dessa "primeira fase" menos difundida da produção de Machado de Assis CONTEXTO HISTÓRICO Proprietários X Dependentes Sociedade burguesa e escravocrata O trabalho assalariado não era desenvolvido PRIMEIRA FASE MACHADIANA Os primeiros romances de Machado possuíam em comum: sua temática e suas heroínas “heroínas pobres, inteligentes e lindas — além de muito suscetíveis —, faziam frente à injustiça de que eram vítimas, ou seja, manobravam para se fazer adotar por um clã abastado.” (p. 257) Essas heroínas estavam sempre à mercê das escolhas de seus benfeitores que poderiam escolher tratá-las bem, e torná-las esposas, ou as submeterem a todas as humilhações que considerassem pertinentes O narrador traz luz à vida dos dependentes, mas sem tornar, abertamente, seus problemas sociais o foco da narrativa PRIMEIRA FASE MACHADIANA Sua crítica era tímida e estava mesclada a um tema romântico: amores que precisam superar as distâncias sociais Machado escrevia sobre a perspectiva da ilusão de que através do respeito entre as partes da aliança, o modelo benfeitor x dependente poderia ser benéfico, e as mazelas sociais seriam resolvidas Em seu último romance da primeira fase, "Iaiá Garcia", Machado parece demonstrar seu primeiro traço de um crítico mais corajoso A VIRAVOLTA MACHADIANA patriarcas, padrinhos e protetores, senhores de escravos, proprietários, chefe dependentes, escravos, cooptados, de parentela, cooptadores, padrinhos, agregados, pobres, clientela, oprimidos, arbítrio proprietário, benfeitores, vida ao deus-dará dos pobres protetores, classes satisfeitas, opressores, beneficiário, narrador de elite, autoridade literária e social
relações de favor, sociedade paternalista, propriedade de
feição colonial, relações semicoloniais, situação de clientela, regime de classe escancarado, conservadorismo encarniçado A VIRAVOLTA MACHADIANA Sociedade diferente, mas igual > a burguesia ascende no Brasil, porém a dinâmica social permanece, em "combinações dissonantes de liberalismo e exclusão" O narrador é o expoente da revolução formal percebida na segunda fase de produção literária machadiana; passa da perspectiva do dependente à do proprietário Ao mudar a perspectiva narrativa através da mudança de posicionamento social do narrador, Machado é capaz de expor as contraditoriedades que permeavam a sociedade brasileira usando como intermédio a consciência de um representante da classe opressora O narrador representa, ao mesmo tempo, "a razão e o obscurantismo": é "civilizado à europeia e incivil à brasileira" “(...) o narrador machadiano realizava em grau superlativo as aspirações de elegância e cultura da classe alta brasileira, mas para comprometê-la e dá-la em espetáculo” (p. 271) SEGUNDA FASE MACHADIANA Pelo fato de o narrador ser senhor de escravo, ele desfruta do acesso aos avanços tecnológicos, científicos e filosóficos e, por isso, as referências à modernidade passam a ser elementos corriqueiros na produção machadiana após 1880 Ao mesmo tempo, esse narrador é responsável por manter a ordem social baseada na violência para garantir seus benefícios; é sobre o aspecto da ambiguidade que Machado contrói a crítica social "O narrador integralmente sofisticado e livre, quase se diria emancipado, dono de seus meios e da tradição, reitera em pensamento e conduta os atrasos de nossa formação social, em vez de os superar" (p. 275) Ao eleger um indivíduo da elite patriarcal para dar voz ao narrador, Machado é capaz de veicular críticas sociais tão realistas que eleva a mimese a uma perspectiva original na literatura brasileira para além da caracterização fotográfica e chega no âmbito sociohistórico O universal em Machado: diálogo com a literatura clássica e a nacional ao exibir uma narrativa localizada espacial e temporalmente SEGUNDA FASE MACHADIANA A violência que está na base da relação submissiva entre proprietários e agregados é exposta de forma escancarada e despudorada nos romances a partir de 1880, diferentemente da primeira fase, que tratava da desigualdade social de maneira velada Dessa forma, Machado assume uma abordagem incisiva e sarcástica sobre a dinâmica social da época e não esboça nenhuma perspectiva de mudança em relação à mesma, diferente da expectativa romântica de reparação social pós-abolição, de certa forma antecipando os rumos da história "(...) no curto período entre Iaiá Garcia (1878) e Memórias póstumas (1880), quase dez anos antes da Abolição (1888), o escritor se terá dado conta do curso decepcionante das coisas, que não ia se pautar pelo providencialismo laico das doutrinas do progresso, nem pelos bons conselhos que os protegidos pudessem dar a seus protetores" (p. 271) SEGUNDA FASE MACHADIANA A viravolta machadiana acontece em 1880 com a produção de "Memórias póstumas de Brás Cubas" Ao contrário do primeiro momento, a partir de Memórias póstumas, Machado: 1. Elege o narrador como um representante da classe dominante 2. Exibe a contradição da classe burguesa que se autointitula como "moderna" e "civilizada" e, ao mesmo tempo, é "retrógrada" e "grotesca" por se autobeneficiar das iniquidades sociais 3. Expõe abertamente sobre as mazelas sociais causadas pela relação desigual entre proprietários e subjugados, além de incluir o tema da escravidão 4. Abandona a expectativa romântica de reparação social frente à abolição CRONOLOGIA A primeira fase machadiana é de críticas mais tímidas Romances da primeira fase: 1872 Ressurreição 1874 A mão e a luva 1876 Helena 1878 Iaiá Garcia CRONOLOGIA Machado refina sua produção literária e através de seu narrador sarcástico, torna-se um crítico mais duro Romances da segunda fase: Textos analisados em sala: 1881 Memórias Póstumas de Brás Cubas 1882 Teoria do medalhão 1885 Casa Velha 1882 O espelho 1891 Quincas Borba 1886 Terpsícore 1899 Dom Casmurro 1888 Crônica 19 de maio de 1888 1904 Esaú e Jacó 1899 O caso da vara 1908 Memorial de Aires 1906 Pai contra mãe CONCLUSÃO Machado retrata em suas obras cenários nacionais, e situações carregadas de cultura brasileira Em contrapartida, sua crítica está em um comportamento previsível, existente no passado, e que com certeza (segundo o próprio autor que prevê a ausência de mudanças pós abolicionismo) continuará se repetindo no futuro. Não apenas no Brasil, mas em todo o globo, para que o rico desfrute de todo o seu privilégio, o pobre é desumanizado e humilhado. Deste modo, Machado de Assis vai do particular ao universal REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CÂNDIDO, Antônio. "Temas e expressão". Formação da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1971, ed. 4, v. 2, p. 115-118. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Machado de Assis: Vida e obra. Acesso em 20 de setembro de 2021. Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/obra-completa- lista/itemlist/category/23-romance>. SCHWARZ, Roberto. "A viravolta machadiana". In Martinha versus Lucrécia: Ensaios e entrevistas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 247-279. MACHADO de ASSIS. "O punhal de Martinha". In SCHWARZ, Roberto. Martinha versus Lucrécia: Ensaios e entrevistas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 307-310.