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CINTURÕES E ROTAS:
O PROGRAMA DE INVESTIMENTOS
GLOBAIS DA CHINA E AS OPORTUNIDADES
PARA O BRASIL
Maurício Santoro
CRESCIMENTO
DA CHINA:
PREOCUPAÇÕES
DEVERIAM ESTAR
MAIS ELEVADAS
Fabiana D’Atri
Bruno Ferla
Vice-Presidente Institucional, Jurídico e de Compliance da BRF SECRETARIA EXECUTIVA
SOBRE O CEBC:
Secretário Executivo
Fundado em 2004, o Conselho Empresarial Brasil-China é uma insti-
tuição bilateral sem fins lucrativos formadas por duas seções inde- DIRETORES Roberto Fendt
pendentes, uma no Brasil e outra na China, e dedicada à promoção André Clark roberto.fendt@cebc.org.br
do diálogo entre empresas nos dois países. CEO da Siemens no Brasil Coordenador de Análise e Pesquisa
O CEBC concentra sua atuação nos temas estruturais do relaciona- Luiz Felipe Trevisan Tulio Cariello
mento bilateral sino-brasileiro, com o objetivo de aperfeiçoar o am- Diretor Corporate & Investment Banking do Itaú BBA tulio.cariello@cebc.org.br
biente de comércio e investimento entre os países. Em 2015, o CEBC
Nelson Salgado Analista de Eventos
foi reconhecido oficialmente, no Plano de Ação Conjunta assinado
Vice-Presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade
entre o Brasil e a China, como o principal interlocutor dos governos Denise Dewing
da Embraer
na promoção das relações empresariais entre os dois países. denise.dewing@cebc.org.br
Pedro Aguiar de Freitas
Administração
Sócio do Veirano Advogados
Jordana Gonçalves
Reinaldo Ma jordana.goncalves@cebc.org.br
PATROCINADOR OFICIAL Sócio da TozziniFreire Advogados
DESTA PUBLICAÇÃO: Estagiária
Roberto Amadeu Milani
Vice-Presidente da Comexport Juliana Nadalutti
O Banco Bradesco apresenta produtos e serviços para diferentes per- juliana.nadalutti@cebc.org.br
fis de clientes e também atua com a proposta de suprir as demandas
Projeto Gráfico
de empresas interessadas em estabelecer e estreitar relações comer- DIRETORA DE ECONOMIA
ciais nos mercados brasileiro e chinês. Para isso, o segmento Corpora- Presto Design
Fabiana D’Atri
te mantém uma gestão de relacionamento centralizada, oferecendo
Economista Coordenadora do Departamento de Pesquisas e
soluções estruturadas – Tailor Made e de Mercado de Capitais – e ge-
Estudos Econômicos do Bradesco
rentes especializados em visões de risco, mercado e setores econômi-
cos. Os atendimentos são exclusivos para que as empresas recebam
soluções customizadas de acordo com os negócios realizados. Ao mes-
ASSOCIADOS 99 Tecnologia • Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) • Alubar • Assistencial
mo tempo, as Agências e Subsidiárias no Exterior (Nova York, Londres,
Consulting • Associação das Empresas de Biotecnologia na Agricultura e Agroindústria (AGROBIO) • Bahia Mineração • Banco
Grand Cayman, Luxemburgo, Hong Kong, Buenos Aires e México) têm
BOCOM BBM • Banco Bradesco • Banco Itaú BBA • Banco Modal • Bank of Montreal (BMO) • BRF • CHUBB • Comexport •
como objetivo a obtenção de recursos no mercado internacional para Construtora Queiroz Galvão • Embraer • Fundação Dom Cabral (FDC) • GonPetro • Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) •
repasses a clientes, principalmente por meio de financiamento a ope- Instituto Inclusartiz • Norton Rose Fulbright • NUCLEP • Reynolds Ventures • Siemens • Souto, Correa, Cesa, Lummertz &
rações de comércio exterior brasileiro. Para mais informações acesse o Amaral Advogados • Suzano • TozziniFreire Advogados • Vale • Veirano Advogados
site bradesco.com.br
A Carta Brasil-China tem reiterado há tempos a para o Brasil em um ambiente de rápida expansão chine-
sa no exterior, sobretudo por meio do ambicioso projeto
necessidade de um olhar de longo prazo no que se global de infraestrutura conhecido como a “Nova Rota da
Seda” (Belt and Road Initiative).
refere não apenas às relações com a China, mas ao Fabiana D’Atri, diretora de economia do CEBC e economis-
ta coordenadora do DEPEC-Bradesco, compila em seu arti-
conjunto das relações exteriores do Brasil. go indicadores relevantes da economia chinesa, recomen-
dando pontos que devem ser observados com atenção em
um momento no qual o país asiático passa por uma série
O mundo está imerso em um processo de transição ace- A segunda questão tem a ver com o fato de que o presi- de incertezas político-econômicas.
lerada, quando as relações de poder, que constituem um dente Trump tem endurecido politicamente o enfrenta- Com foco na disputa comercial e tecnológica entre Esta-
dos fundamentos mais importantes das relações interna- mento com a China, até agora essencialmente voltado dos Unidos e China, a análise de Marcos Cordeiro Pires (co-
cionais, têm como característica a instabilidade. Os recen- para questões mais diretamente ligadas ao comércio e ordenador do IEEI-Unesp) e Luís Antonio Paulino (diretor
tes eventos internacionais, como, por exemplo, a reunião finanças internacionais, como tarifas, investimentos, do Instituto Confúcio na Unesp) aponta a necessidade de
do G-7 em Biarritz, evidenciaram a dificuldade de sequer propriedades intelectual, etc. (a única exceção era o setor o Brasil não tomar partido em uma disputa tão complexa
ter uma agenda que tratasse dos temas mais importantes de alta tecnologia por seu óbvio impacto no setor de de- como o atual contencioso entre Washington e Pequim.
que afetam a economia mundial. A própria precariedade fesa). Exemplo recente dessa mudança de enfoque foi a
Karin Vazquez, diretora executiva do Centro de Estudos
da agenda pareceu criar espaços para que outros temas declaração do presidente dos EUA de dar “ordens” às em-
Africanos, Latino-Americanos e Caribenhos da O.P. Jindal
pudessem ser incluídos, como foi o caso das queimadas presas norte-americanas de saírem da China, bem como
Global University (India), aponta os possíveis caminhos
na Amazônia e a tentativa de incluir o chanceler do Irã no qualificar o presidente Xi Jinping como “inimigo” (e não
para o Novo Banco de Desenvolvimento, iniciativa dos
encontro de cúpula. como “adversário” ou “competidor”).
BRICS que tem a China como elemento central.
Duas questões chamam a atenção daqueles que acompa- Esse pano de fundo acima descrito leva à percepção de
Por fim, a equipe de análise e pesquisa do CEBC colaborou
nham a evolução da conjuntura internacional. A primeira que o mundo está a atravessar uma conjuntura política e
com um mapeamento abrangente do comércio bilateral, in-
é a percepção cada vez mais generalizada de que o en- econômica extremamente instável – talvez a característi-
cluindo análises sobre a posição de cada estado brasileiro
frentamento econômico-comercial entre China e Estados ca predominante dos momentos que estamos a viver seja
nas trocas comerciais com o país asiático, além dos impac-
Unidos, ademais de não ter trazido até agora qualquer precisamente a instabilidade, ingrediente essencial das
tos da epidemia de peste suína africana na China sobre as
benefício às duas partes, parece ter como subproduto o grandes transições.
exportações brasileiras de proteína animal para o mundo.
aumento de risco de uma recessão mundial. Desde a crise
Nesse contexto de rápidas transformações, a presente
de 2008 percebe-se certa ansiedade, tanto por parte das
edição da Carta Brasil-China oferece visões de estudiosos
economias desenvolvidas, como das em desenvolvimen-
de diversas áreas que cobrem aspectos econômicos e polí-
to, à espera da retomada do crescimento da economia glo- Embaixador Luiz Augusto
ticos da China contemporânea, bem como análises sobre
bal. Essa ansiedade tem levado os governos dos principais de Castro Neves
as relações sino-brasileiras.
países desenvolvidos a pressionarem o governo Trump a Presidente do Conselho
chegar a algum entendimento com a China que permita A publicação conta com artigo de Maurício Santoro, doutor Empresarial Brasil-China
definir novas bases para a retomada do crescimento da em ciência política e professor do Departamento de Rela-
economia mundial. ções Internacionais da UERJ, que indica as oportunidades
A
Iniciativa do Cinturão e da Rota, também co- nações, a maioria de seu comércio internacional se dá
nhecida como Nova Rota da Seda, é um proje- pela via marítima. Contudo, o acesso da China ao Oce-
to de investimentos globais em infraestrutura ano Pacífico é relativamente restrito, vulnerável a blo-
lançado pela China em 2013. É o mais importan- queio de pontos de estrangulamento como o estreito de
te empreendimento de política externa chinesa desde o Malaca ou as cadeias de ilhas em seu litoral.
início de suas reformas econômicas, há 40 anos. Embo-
ra seus números não sejam precisos, analistas estimam A maneira de a China contornar essas limitações geo-
que ele mobilizará pelo menos US$1 trilhão em obras gráficas é investir na construção de infraestrutura que
como estradas, ferrovias, portos, gasodutos e oleodu- melhore suas conexões aos países vizinhos, na Ásia Cen-
tos realizadas em cerca de 70 países até seu término tral e no Sudeste Asiático. O custo econômico é maior
em 2049, quando o regime chinês pretende celebrar o que o do transporte por navios, mas há um ganho polí-
centenário de fundação da República Popular da China1. tico em termos de segurança e de ampliação do acesso
a recursos naturais. A Iniciativa do Cinturão e da Rota
O presidente Xi Jinping lançou a iniciativa no início de é também a oportunidade para estimular a internacio-
seu governo, mas é em grande medida a continuidade nalização das empresas chinesas de construção civil e
e aprofundamento de uma série de projetos individuais de incentivar o desenvolvimento das regiões ocidentais
que os chineses realizavam na Ásia e na África. À medi- do país, que não colheram tantos benefícios das refor- O presidente Xi Jinping lançou a
da que o desenvolvimento chinês se acelerou, cresceu a mas econômicas quanto as províncias litorâneas, e têm
iniciativa no início de seu governo,
demanda do país por recursos naturais do exterior: ali- muito a ganhar com o incremento das relações com as
mentos, gás natural, minério, petróleo. Como as demais nações próximas. mas é em grande medida a
continuidade e aprofundamento
de uma série de projetos
* Maurício Santoro é doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e professor do Departamento de Relações In-
ternacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi pesquisador-visitante nas universidades New School (Nova York) e Torcuato di Tella (Buenos individuais que os chineses
Aires). É autor do livro “Ditaduras Contemporâneas” (Editora da FGV) e de dezenas de artigos acadêmicos. Seus textos jornalísticos foram publicados nos
principais jornais brasileiros (Globo, Folha de São Paulo, Valor, Estado de São Paulo) e na imprensa internacional, no New York Times, Guardian, Le Monde
Diplomatique, Deutsche Welle. Recebeu prêmios e bolsas de governos e instituições educacionais da Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos e Itália.
realizavam na Ásia e na África. “
1. Belt and Road: the sinews of Chinese power, Bruno Maçães (Hurst, 2019)
A
ordem internacional idealizada e liderada pe- e Coreia do Sul, ao deixar de ser um mero imitador de
los Estados Unidos no pós-II Guerra Mundial tecnologias ocidentais e está se convertendo em líder
está passando por um brusco processo de em alguns segmentos da nova economia, notadamente
transformação e isso não está relacionado ape- em telecomunicações 5G e inteligência artificial. Proje-
nas aos ataques de Donald Trump aos fundamentos da tos como “Made in China 2025” e “Internet Plus” estão
institucionalidade multilateral, mas também às profun- ajudando o país a avançar rapidamente nesses setores
das modificações nas estruturas econômicas e políticas e desafiar a liderança dos Estados Unidos.
internacionais. O mesmo processo de globalização que
garantiu a continuidade da liderança tecnológica dos Por conta disso, importantes setores do establishment
Estados Unidos agora está contribuindo para a erosão dos Estados Unidos buscam associar a ascensão econô-
dos fundamentos do poder norte-americano e viabili- mica e tecnológica da China como uma ameaça à sua
zando a emergência de novos atores, principalmente da hegemonia e tratam de potencializar as diferenças exis-
República Popular da China. tentes entre ambas as nações como o prenúncio de um
conflito de grandes proporções. Isto é o que postula o
O mesmo processo de globalização
O país asiático se transformou na fábrica do mundo e cientista político Graham Alisson, que aventa a possibi-
se converteu no segundo maior mercado consumidor, lidade de uma guerra pela hegemonia mundial ao apli- que garantiu a continuidade da
tornando-se o maior trader mundial. Desde a crise de car o conceito de “Armadilha de Tucídides”, que trata da liderança tecnológica dos Estados
2008, a China se converteu na outra “turbina” da econo- inevitabilidade de uma guerra entre a potência estabe-
Unidos agora está contribuindo
mia mundial, ao lado dos Estados Unidos. Do ponto de lecida e a potência em ascensão, às disputas entre Chi-
vista tecnológico, está repetindo a experiência de Japão na e Estados Unidos1. para a erosão dos fundamentos
do poder norte-americano e
viabilizando a emergência de
* Marcos Cordeiro Pires é Livre Docente em Economia Política Internacional. Professor da Unesp, Campus de Marília. Coordenador do Instituto de Estudos novos atores, principalmente da
Econômicos e Internacionais - IEEI-Unesp.
** Luís Antonio Paulino é Livre Docente em Economia Internacional. Professor da Unesp, Campus de Marília. Diretor do Instituto Confúcio na Unesp. República Popular da China.”
1. Graham Alisson. How Trump Could Stumble From a Trade War Into a Real War with China. Apr. 20, 2018. The National Interest. Disponível em: https://www.
belfercenter.org/publication/how-trump-could-stumble-trade-war-real-war-china. Acesso em 07/ago/2019.
A
s grandes economias emergentes do Brasil, bal. Três aspectos diferenciam o NDB dos demais ban-
Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) per- cos multilaterais de desenvolvimento: seu compromis-
correram um longo caminho desde sua primei- so de reduzir o déficit de infraestrutura em economias
ra cúpula em 2009, provando ser mais do que emergentes e países em desenvolvimento sem atrasos
um “casamento arranjado” como recentemente procla- nem imposição de condicionalidades; desenvolvimento
mado na mídia em meio a desentendimentos entre os sustentável; e equidade na partilha de poder.
cinco países membros sobre a crise na Venezuela e a
reforma da Organização Mundial do Comércio. Olhando Em quatro anos de operações, o NDB estabeleceu bases
para a história do agrupamento, até mesmo o impasse razoavelmente sólidas. O banco recebeu AAA da agên-
em Doklam e o desacordo entre China e Índia sobre o cia de classificação de risco do Japão e AA+ de duas das
Paquistão tiveram uma solução negociada. A questão, maiores agências internacionais de rating, e construiu
portanto, não é o que separa os BRICS mas o que ainda uma carteira de 35 projetos em áreas como energia re-
mantém os cinco países juntos uma década após a cria- novável, saneamento, irrigação e transporte no valor de
ção do agrupamento. US$ 9,2 bilhões. Atualmente, os BRICS são os maiores
investidores globais em infraestrutura, com 40% do to-
Para responder essa questão, é importante entender tal dos investimentos no setor e expectativa de alcan-
que os BRICS surgiram não como um agrupamento cuja çar 42% em 2030 segundo projeções do próprio NDB. Os BRICS surgiram não como um
força reside na capacidade individual de cada país, mas Cerca de 22% desses investimentos deverão ser oriun-
como uma relação pragmática que reúne a influência de
agrupamento cuja força reside na
dos de empréstimos do banco, principalmente para paí-
seus membros para alcançar objetivos comuns. Este é ses como a África do Sul, Rússia e Brasil.
capacidade individual de cada país,
o caso do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e seu mas como uma relação pragmática
potencial para reformar a governança econômica glo- Ainda este ano, o NDB deverá acelerar os desembolsos
que reúne a influência de seus
membros para alcançar objetivos
* Karin Costa Vazquez é Distinguished Scholar, Centro de Estudos dos BRICS da Universidade de Fudan, China. Associate Professor, Assistant Dean para comuns.”
engajamento global e Diretora Executiva do Centro de Estudos Africanos, Latino-Americanos e Caribenhos (CALACS) da escola de relações internacionais da
O.P. Jindal Global University, India.
A
s tensões entre EUA e China já completaram um ano entre agentes, tanto da economia real como dos mercados
e ainda há muitas incertezas acerca do futuro das re- financeiros, diferentemente de anos atrás. O crescimento
lações político-econômicas entre os dois países. De projetado para o PIB deste e do ano que vem assume ape-
concreto até agora, além do declarado confronto en- nas discreta desaceleração e as preocupações com o nível
tre as duas nações, as tarifas de importação foram elevadas, de endividamento da economia não parecem ter a relevân-
para quase totalidade, dos dois lados. Os desdobramentos cia de outros momentos.
para o restante do mundo, principalmente no que se refere
a tarifas e restrições a mercados, continuam também indefi- Dois indicadores, contudo, sugerem que os riscos neste
nidos. Cadeias produtivas podem ser afetadas pelo desfecho momento merecem ser monitorados: (1) a China passa pelo
das negociações. Essas dúvidas continuam decisivas para a seu momento mais elevado de incerteza de política econô-
economia chinesa, que vem desacelerando nesse período. So- mica (gráfico 1) e (2) a produção industrial vem mostrando
mado a isso, o espaço restrito para estímulos de curto prazo a menor taxa de crescimento das últimas décadas (gráfico
acentua as assimetrias negativas para o desempenho chinês 2). Há, de fato, dissenso entre as lideranças chinesas sobre
neste e no próximo ano. A meta de crescimento do PIB, entre como equilibrar os estímulos de curto prazo, para preser-
6,0% e 6,5%, corre risco relevante de não ser cumprida. var crescimento, e a estabilidade financeira de médio pra-
zo, haja vista o elevado nível de alavancagem da economia. O crescimento projetado
Tanto na China como no restante do mundo, há a percepção Ainda que a participação do setor de serviços venha cres-
de que um acordo definitivo dificilmente será fechado neste cendo nos últimos anos, o papel da indústria não deve ser para o PIB deste e do ano
ano e que as negociações entre EUA e China levarão tempo. desprezado, à medida que ele reflete a temperatura da de- que vem assume apenas
Há analistas, mais radicais, que ainda preveem uma ruptura manda interna (do lado do consumo, mas principalmente discreta desaceleração e as
definitiva. A despeito dessa leitura não otimista acerca de dos investimentos) e externa (lembrando que a China ainda
um desfecho favorável entre os dois países, não há pânico é a maior exportadora mundial de manufaturados). preocupações com o nível de
endividamento da economia
não parecem ter a relevância
* Fabiana D´Atri é atualmente economista coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Ela também foi economista do BBI Banco
Bradesco de Investimento. Além da experiência no Bradesco, também trabalhou na Mauá Asset Managment, na Tendências Consultoria e no Banco Real ABN AMRO. de outros momentos.”
Graduada em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Economia pela Escola de Economia Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV). Sua linha de
pesquisa atual é focada na análise de economia chinesa, além do acompanhamento das questões macroeconômicas brasileiras.
1.000% 25,0%
800%
20,0%
600%
15,0%
400%
10,0%
200%
5,0%
0% 4,8
-200% 0,0%
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Três possíveis explicações para essa relativa tranquilidade em relação ao desempe- frágil saúde dos governos locais, há limitações para uma arrancada de investimentos
nho da economia chinesa estão: na expectativa de mais estímulos; no aumento da em infraestrutura.
tolerância de um crescimento mais moderado por parte do governo chinês; e na visão
de que há incentivos econômicos (e não necessariamente políticos) do lado dos EUA Selecionamos os principais indicadores que nos preocupam, dada a tendência dos
e da China para um acordo. Além disso, no relativo, podem existir preocupações maio- últimos trimestres, já considerando os dados encerrados de julho.
res, como a política monetária dos EUA.
TABELA 1 - INDICADORES DE ATIVIDADE ECONÔMICA
Acompanhando os indicadores econômicos desde o ano passado, a desaceleração não
foi interrompida (com surpresas positivas apenas em fevereiro e março deste ano) Variação maio a Variação 12 meses atrás
julho/2019 (yoy) para mesmo período
e essa vem se tornando mais espraiada, mesmo com alívio das políticas econômicas
adotadas desde o ano passado. Ou seja, o impacto e/ou a intensidade dos estímu- Produção industrial 5,3% 6,3%
los indicam que algo não está funcionando como no passado, quando a economia Investimentos em infraestrutura 3,8% 5,7%
respondia rapidamente ao afrouxamento da política econômica. De fato, o aumento Vendas de imóveis residenciais -0,4% +4,2%
da regulação dos últimos anos restringe uma expansão monetária e creditícia mais Exportação 1,0% 11,4%
expressiva. O elevado nível de endividamento faz com que parte importante das Venda de terras
-29,6% +7,6%
concessões de crédito seja direcionada à reestruturação de dívida antiga. A queda da (antecedente para novos lançamentos)
confiança interna, em grande medida atrelada ao ambiente mais tensionado entre
FONTE: CEIC, BRADESCO
EUA e China, impacta as decisões, principalmente de investimentos. Por fim, com a
Com base nessas motivações, entendemos que o cenário mais provável é de não acordo 5,0%
neste ano, sem reversão do que foi implementado até agora. As conversas continuarão
avançando, mas sem se chegar a um acordo fechado. Essa nossa visão se baseia na ex- 4,5% sem escalada com escalada
pectativa de que a rodada de estímulos monetários em curso, intensificada pelo corte
de juros ocorrido no mês passado nos EUA, dará algum suporte à economia mundial. 4,0%
Ou seja, a urgência para um acordo – pensando na preservação do crescimento – poderá
/17
17
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17
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18
18
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19
19
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20
20
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n/
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ar
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se
se
se
de
de
de
ju
ju
ju
se
de
ser minimizada pelos juros mais baixos com os quais conviveremos na segunda metade
ju
m
m
deste ano. Outros cenários são possíveis, como trazemos no gráfico abaixo.
FONTE: BRADESCO
do comércio Brasil-China
Análise e Pesquisa
do CEBC
BALANÇA COMERCIAL
GRÁFICO 1 - COMÉRCIO BRASIL-CHINA: JANEIRO-JULHO DE 2019 EM COMPARAÇÃO A JANEIRO-JULHO DE 2018
Segundo dados divulgados pelo Ministério (US$ BILHÕES)1
da Economia, a corrente comercial entre
Brasil e China no período de janeiro a julho 2018 2019
60,0 2%
de 2019 somou US$ 57 bilhões, indicando
um leve acréscimo de 2% em relação a igual
50,0 55,9 57,0
período do ano anterior. -1%
Comparado aos primeiros sete meses de 40,0
2018, as exportações para o país asiático
no mesmo período de 2019 chegaram a US$ 30,0 36,7 36,2
36,2 bilhões, representando queda marginal 8% -11%
de 1%. As importações apresentaram au- 20,0
mento de 8%, tendo atingido valor de US$ 19,3 20,8 17,4
20,8 bilhões. 10,0 15,4
O saldo comercial foi favorável ao Brasil em
0,0
cerca de US$ 15,4 bilhões, ainda que esse va- Corrente Exportações Importações Saldo
lor seja 11% inferior ao saldo verificado nos
meses de janeiro a julho de 2018. FONTE: MINISTÉRIO DA ECONOMIA (COMEX STAT) | ELABORAÇÃO: CEBC
1. Cálculos de porcentagem ao longo do texto podem apresentar ligeira diferença devido a arredondamento de valores
900
jan-jul 2018 jan-jul 2019
21% Rio de Janeiro (US$ 7,6 bilhões) 800
12% Pará (US$ 4,4 bilhões)
838
11% Minas Gerais (US$ 4,1 bilhões) 700 729
10% Mato Grosso (US$ 3,7 bilhões) 658
600
9% São Paulo (US$ 3 bilhões)
7% Rio Grande do Sul (US$ 2,5 bilhões) 500
6% Paraná (US$ 2,3 bilhões) 469
4% Goiás (US$ 1,5 bilhão) 400
4% Mato Grosso do Sul (US$ 1,4 bilhão)
3% Bahia (US$ 1 bilhão) 300
262
2% Santa Catarina (US$ 764 milhões)
1% Maranhão
200 180
1% Tocantins 0
9% Outros | Participação individual < 1% Carne bovina Carne de aves Carne suína
FONTE: MINISTÉRIO DA ECONOMIA (COMEX STAT) | ELABORAÇÃO: CEBC FONTE: MINISTÉRIO DA ECONOMIA (COMEX STAT) | ELABORAÇÃO: CEBC
2. Uma parcela de 7% das exportações do Brasil para a China foi classificada pelo Ministério da Economia como origem “não declarada”, totalizando US$ 2,4 bilhões.