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Ficha Catalográfica:
Diálogos entre Arte e Público: caderno de textos.
Organizado por Anderson Pinheiro Santos. Recife:
Fundação de Cultura Cidade do Recife, v.3, 2010. 136p.:il.
Bibliografia
ISSN: 1983-9960
CDD- 700
CDU- 70
pg
AC E SS I B I L I DA D E CU T U R A L : A B R I N D O T R I N C H E I R A S
C A M I N H O S PA R A I N C LU S ÃO
14 · Projeto FotoLibras 75
M E D I AÇ ÃO CU LT U R A L P R O M OV E Q U E T I P O D E
AC E S S I B I L I DA D E ?
D I S S E M I N A N D O CU LT U R A
AC E S S A N D O A S M E M Ó R I A S D O D I Á LO G O A N T E R I O R
(2 0 0 9)
24 · RESUMOS 121
Luciana Félix
Fundação de Cultura Cidade do Recife · Prefeitura do Recife
06
Nesta terceira edição buscamos agregar, por meio de uma chamada pública, textos
de colaboradores que discutam questões sobre acessibilidade cultural, compreendida em
um horizonte diverso de discursos e práticas, desejos e demandas, políticas públicas e
iniciativas da sociedade civil.
Assim, reafirmamos nossa meta de uma política pública comprometida com a formação
e o acesso de todos à produção cultural.
M árcio Almeida
Gerente Operacional de Artes Visuais e Design
Fundação de Cultura Cidade do Recife
07
1. W E R N EC K , Cl áu dia. S o c i e d ad e
I n clu s i v a. Q u e m c a b e n o s e u
T O D O S ? R i o d e Ja n e iro: W VA , 19 9 9.
Co le ç ã o I n clu s ã o.
08
Regina Buccini
2. R e s o lu ç ã o 4 5/91 d e 14 d e d e z e m b ro d e 19 9 0 – A s s e m b le ia G e r al d a O r ga ni z a ç ã o
d a s N a çõ e s U ni d a s – O N U, N ov a Yo r k.
09
EDITOR IAL
Por que todos os caminhos são
da rainha de copas?
Anderson Pinheiro
Parece simples, mas como decifrar uma cena cinematográfica onde o silêncio entre
os personagens impera mais que as dúvidas em sua mente?
Sendo assim, o que é preciso para efetuar a acessibilidade cultural para as cerca de
92% das pessoas que nunca foram a um museu ou instituição cultural (IBGE, 2005), já
que cerca de 90% dos municípios brasileiros não possuem sequer salas de cinema, teatro,
museu ou outros espaços culturais públicos? Quais as políticas públicas aplicadas para
melhorar isso? Quais as experiências museais existentes que buscam a redução desse
fosso?
Cabe-nos pensar o que fazemos de concreto no dia a dia (as pequenas ações ou
grandes ações, que seja) que de fato ajuda a consolidar algum tipo de acessibilidade
cultural?
Parece simples e é quando temos tantos profissionais que nos fazem sentir seres
completos, integrantes da grande equipe de seres humanos que transitam, discutem
choram e dialogam sobre os mesmos motivos. Isso sem direcionar o olhar de derrota.
Gabriela Bon 01
om a proximidade de eventos esportivos internacionais que terão o Brasil como
sede, tais como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e as Paraolimpíadas, a questão
da acessibilidade vem se tornando pauta de vários programas de televisão. Mais
recentemente, o assunto virou até tema central de novela. Além disso, encontramos
extensas reportagens em telejornais, em que se discute bastante sobre os acessos a
locais públicos.
Outro destaque importante ao tema foi dado pelo programa Tele Domingo (exibido
aos domingos, às 23 h e 40 min, pela Rede Brasil Sul de Televisão – RBSTV, emissora
afiliada à RGT) no dia 28/03/2010. Nessa reportagem, o advogado Gilberto Stanieski
Filho examina os acessos a cadeirantes de diversos locais públicos da capital gaúcha.
Entres esses locais, ressalta-se sua visita ao Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado
Malagoli – MARGS, onde lhe foi indagado por um segurança que se encontrava no alto da
grande escadaria principal, de forma nada amistosa, o que ele estaria fazendo naquele
museu. Diante dessa situação concreta, verifica-se não só a imposição de barreiras
arquitetônicas de acesso ao museu como o total despreparo de seus funcionários.
REFERÊNCIAS
# Ca d eira nte s te sta m a ce s s ibilid a d e d e ô n ib u s e m cin co ca pita is. Fa nt á s t i co.
R e d e G lo b o d e Te le v i s ã o. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://v i d e o.glo b o.co m/ V i d e o s/Pl aye r/
N ot i c ia s/0,,G I M12 3 8 201-7 8 2 3- C A D EI R A N T E S +T E S TA M +AC E S SI B I L I DA D E+ D E+ O N I B U S + E M + CI
N CO + C A PI TA I S,0 0.ht m l>. A ce s s o e m: 12 m ai o 2010.
# Co n h eça a ca d eira nte d a v id a re a l q u e in s pira a lu cia n a d e v iver a v id a . Fa nt á s t i co.
R e d e G lo b o d e Te le v i s ã o. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://v i d e o.glo b o.co m/ V i d e o s/Pl aye r/
N ot i c ia s/0,,G I M12 24 59 8 -7 8 2 3- CO N H EC A+A+ C A D EI R A N T E+ DA+V I DA+R E A L+ Q U E+I N S PI R A+A+
L U CI A N A+ D E+V I V E R+A+V I DA ,0 0.ht m l>. A ce s s o e m: 12 m ai o 2010.
# Fu n d a çã o bien a l d e a rte s v is u a is d o m erco s ul. Site i n s t itu c i o n al. D i s p o ní ve l e m:
<ht t p://w w w.bi e n alm e rco s u l.ar t.b r >. A ce s s o e m: 11 m ai o 2010.
# Prote ste já. Cu s te O Q u e Cu s t ar. R e d e B a n d e ir a nte s d e Te le v i s ã o. D i s p o ní ve l e m:
<ht t p://w w w.b a n d.co m.b r/cq c/p rote s te _ ja.a s p >. A ce s s o e m: 11 m ai o 2010.
# S e m b a rreira s. S p o rT V.co m. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://s p o r t v.glo b o.co m/s e m-b ar re ir a s >.
A ce s s o e m: 10 m ai o 2010.
# Tele d o min g o. R e d e B r a s il S u l d e Te le v i s ã o. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://m e dia ce nte r.
cli cr b s.co m.b r/te m p l ate s/p l aye r.a s px ? u f=2&co nte ntI D =10 7 213&c h a n n e l= 4 5 >. A ce s s o e m:
11 m ai o 2010.
# Te ste m o stra q u e m oto r ista s d e s re s p eita m va g a s d e id o s o s e d eficiente s. Fa nt á s t i co.
R e d e G lo b o d e Te le v i s ã o. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://v i d e o.glo b o.co m/ V i d e o s/Pl aye r/
N ot i c ia s/0,,G I M12 29 03 6 -7 8 2 3-T E S T E+ M O S T R A+ Q U E+ M O T O R I S TA S + D E S R E S P EI TA M +VAG A S +
D E+I D O S O S + E+ D E F I CI E N T E S,0 0.ht m l>. A ce s s o e m: 12 m ai o 2010.
# V iver a v id a. R e d e G lo b o d e Te le v i s ã o. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://v i ve r av i d a.glo b o.co m>.
A ce s s o e m: 10 m ai o 2010.
14 ACE SSI B I LI DA D E CU T U R A L: DEMOCRATIZAÇÃO DO
ACESSO AOS MUSEUS:
A B R I N D O T R I N CH EI R A S APONTAMENTOS
SOBRE AÇÕES E
POLÍTICAS PÚBLICAS
PARA ACESSIBILIDADE
CULTURAL
Essas ações estão intimamente ligadas à Política Nacional de Museus que, dado o
novo desenho museológico e sua função social, legitima novas perspectivas que ampliam
as possibilidades de interação com a sociedade. Então, a comunidade museológica
debateu o texto-base necessário para a efetivação sistemática de uma política pública
16 que contemplasse exclusivamente o campo museológico brasileiro. Esse processo
foi articulado pelo Ministério da Cultura e envolveu muitos profissionais além de
instituições que colaborou para a construção dessa política. Essa construção resultou
na implantação, em maio de 2003, da Política Nacional de Museus (PNM). O texto-base
para a construção da PNM levou em consideração a Carta de Rio Grande e o documento
elaborado pelo Conselho Federal de Museologia chamado “A imaginação museal a serviço
do Brasil”.
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1.S e r v i ço d o P at r i m ô ni o H i s tó r i co e A r t í s t i co N a c i o n al. E m 1970 p a s s a a s e r o I n s t itu to
d o P at r i m ô ni o H i s tó r i co e A r t í s t i co N a c i o n al (I P H A N)
a Pinacoteca.
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. F E R R EI R A , A u ré li o B u arq u e d e H o l a n d a. N ovo d icio n á r io A u rélio d a lín g u a p o rtug u e s a. 3.
e d. Cu r it i b a: P o s it i vo, 20 0 4.
2. Eco n o mia e p o lít i c a c u ltu r al: a ce s s o, e m p re g o e fi n a n c ia m e nto. Co leçã o Ca d er n o s d e
P o lítica s Cultu ra is. B r a s ília: M i n C/I P E A , 20 0 7. v. 3.
3. O B S E RVAT Ó R I O d e M u s e u s e Ce nt ro s Cu ltu r ai s – Pe s q u i s a Pe r fil – O pi niã o 20 0 6 -20 0 7.
M u s e u s e v is ita nte s d e S ã o P a ulo. D E M U/I P H A N/Fi o cr u z/M A S T.
4. E m 20 0 2, o N A E reali z o u u m a p e s q u i s a d e p e r fil d e p ú b li co v i s it a nte d a P i n a cote c a,
i nt itu l ad a Vo cê e o m u s e u, q u e o bte ve re s u lt ad o s s e m e lh a nte s a o s d a p e s q u i s a d o O M CC.
5. A p e s ar d a e n o r m e v ar i e d ad e q u e o te r m o s itu a çã o d e v uln era bilid a d e s o cia l i m p li c a,
e s p e c ialm e nte n a s o c i e d ad e b r a s ile ir a, o s gr u p o s ate n di d o s p e lo Pro gr a m a tê m e m co m u m,
alé m d o fato d e e s t are m v u ln e r a bili z ad o s, e m s u a gr a n d e m ai o r ia, p o r co n di çõ e s d e
p o b re z a, o fato d e e s t are m v i n c u l ad o s a i ni c iat i v a s d a e d u c a ç ã o n ã o fo r m al. E m b o r a s eja
ad ot ad o p e lo G ove r n o Fe d e r al, o te r m o s itu a çã o d e v uln era bilid a d e s o cia l n ã o é co n s e n s u al
n e m p o d e s e r e nte n di d o co m o s i n ô ni m o d e c arê n c ia d e re n d a. A d ot a m o s n o Pro gr a m a s u a
co m p re e n s ã o co m o u m a s itu a çã o d e v io la çã o d e d ireito s, co nfo r m e ex p re s s o n a “ P o lít i c a
N a c i o n al d e A s s i s tê n c ia S o c ial – ve r s ã o ofi c ial” (I n: Rev ista S er v iço S o cia l & S o cied a d e,
n. 8 0, n ov. 20 0 4. E n c ar te.), e n o ar t i g o d e Fr a n c i s co d e O li ve ir a, A q u e stã o d o e sta d o:
v uln era bilid a d e s o cia l e ca rên cia d e d ireito s (I n: Ca d er n o s A b o n g. 1 ju n. 19 95. S é r i e A s
O N G s e a reali d ad e b r a s ile ir a.).
6. D E H A A N, A r ja n e M A X W E L L, Si m o n. (e d s.). P ove r t y a n d s o c ial exclu s i o n i n N o r t h a n d
S o u t h. I n: I nte r n at i o n al D e ve lo p m e nt Stu di e s B u lle t i n, 19 9 8. V.29, n.1, p.3. A p u d A I DA R ,
G a b r i e l a. M u s e u s e i n clu s ã o s o c ial. I n: P atr im ô n io e Ed u ca çã o, Ciên cia s & Letra s - Rev ista
d a Fa culd a d e P o rto -Ale g ren s e d e Ed u ca çã o, Ciên cia s e Letra s, n. 31. P o r to A le gre: ja n/ju n,
20 0 2. p. 5 4.
7. C H I OVAT T O, M ile n e e A I DA R , G a b r i e l a. A rte +. S ã o P au lo: P i n a cote c a d o E s t ad o, 20 0 9. p3.
8. S e g u n d o a au to r a, a s co m u ni d ad e s i nte r p re t at i v a s p o d e m s e r i d e nt ifi c ad a s p o r gr u p o s
q u e co m p ar t ilh a m a s m e s m a s e s t r até g ia s i nte r p re t at i v a s, o u s eja, p o r gr u p o s q u e at r i b u e m
s e nt i d o s u t ili z a n d o -s e d e e s t r até g ia s i nte r p re t at i v a s co m u n s. “ É d e nt ro d a s co m u ni d ad e s
i nte r p re t at i v a s q u e a co n s t r u ç ã o d e s i g nifi c ad o s d e u m i n di v íd u o é te s t ad a, a p oiad a
e d e s e nvo lv i d a. A co m u ni d ad e i nte r p re t at i v a i m p õ e li mite s a o m e s m o te m p o e m q u e
p o s s i bilit a a co n s t r u ç ã o d e s i g nifi c ad o s.” H O O P E R- G R E E N H I L L, Eilea n (e d.). T h e ed u catio n a l
ro le of th e m u s e u m. L o n d re s e N ov a Yo r k: R o u tle d g e, 19 9 4. p. 13; 5 0.
22 ACE SSI B I LI DA D E CU T U R A L: O GALO INACESSÍVEL:
DA ARTE E DO DEVER
A B R I N D O T R I N CH EI R A S DE AGRADAR
Sonia M arques 04
INTRODUçÃO: DA REIJEIçÃO do galo
Desencontros entre expectativas e obra recebida não fazem sentido quando se trata
de artistas com obra consagrada e conhecida. Contratados, espera-se que deles saia um
determinado produto: um Brennand, um Niemeyer. Se, uma vez expostas ao público,
as esculturas de Brennand escandalizam senhoras pernambucanas pudicas, é fato que
escapa às questões da acessibilidade. Realizações de Niemeyer como o Espaço Ciência
em João Pessoa ou como o parque Dona Lindu, podem, sem dúvida, ser criticadas sob
aspectos diversos. Formalmente, no entanto, umas melhores, outras piores, no conjunto,
as obras recentes de Niemeyer só podem decepcionar aqueles que não conhecem a sua
obra precedente.
Acho, pois, desejável que, mesmo ao artista que se diz obrigado “a vender-se para
poder comer” – palavras recentes de um aluno –, sobrasse algum tempo, a fim de que,
uma vez nutrido, pudesse entregar-se aos desmandos de sua capacidade criadora, sem
a tirania de uma encomenda de uma celebridade qualquer, sem render-se ao populismo
dominante.
Temos uma geração ainda com sólida formação em arquitetura e mesmo alguns 25
Não temos, na minha opinião, uma cultura de qualidade. Nem em arquitetura, nem
em arte, nem em outros domínios. Perdemos aquela que foi de uma geração elitista: os
modernistas. Muitos eram, sem dúvida, voltados para os valores ocidentais, colonizados
e pouco atentos às nossas minorias e às diversidades populares. Mas tinham “senso de
noção”. O que se perdeu na mobilidade social inclusiva em curso.
Conclusão
Mas há ainda um longo caminho que se relaciona à educação, para que finalmente
consigamos convencer os cidadãos a aceitarem de bom grado que seu dinheiro
seja aplicado a um patrocínio num tipo de arte que eles muitas vezes acham
repugnante. A educação pode diminuir esta rejeição, mas não a eliminar. Não há
nenhuma regra a priori que determine que qualquer tipo de arte será apreciado
por todas as pessoas. (DANTO, 2005:131)v
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. E x p re s s ã o u t ili z ad a p e l a p rofe s s o r a Edja Tr i g u e iro (U F R N) re fe r i n d o -s e à e pi d e mia
d e re ve s t i m e nto s ce r â mi co s q u e d ã o à s fa c h ad a s d e n o s s o s e difí c i o s a s p e c to d e
b a n h e iro.
Para que isso ocorra é necessário conhecer um dos principais focos do problema que
é a estrutura de funcionamento dos museus. No aspecto físico de edifícios, após mais de
20 anos de redação da Norma Brasileira de Acessibilidade, NBR 9050, é possível afirmar
que existe legislação e fiscalização das autoridades competentes e da sociedade civil
para que as adequações de acessibilidade sejam implantadas. No aspecto de acesso à
informação, apesar de existirem referências teóricas favoráveis ao uso dos sentidos nas
estratégias de mediação, ainda são raros os casos de projetos e programas que coloquem
esse aspecto em prática e que, consequentemente, tornem a linguagem dos museus mais
acessível a indivíduos com diferentes níveis intelectuais e cognitivos.
Uma receita resulta em um alimento de sabor único que, por sua vez, precisa ser
preservado, já que é aquele sabor que informa as influências de uma ou mais culturas
28 na combinação de ingredientes ou no tipo de utensílio
utilizado para o preparo. Um autêntico “Baião de Dois”
é reconhecido por seu aspecto visual, pelos ingredientes
utilizados no preparo ou por seu sabor peculiar?
Além dos cinco sentidos exemplificados no texto, os indivíduos possuem outros pouco
conhecidos e explorados, mas essenciais para aqueles que perdem um ou mais sentidos.
Como os golfinhos, possuímos a ecolocalização que é a capacidade de identificar a
localização de um corpo ou objeto pelo eco de seu som. A percepção sinestésica permite
decodificar espaços por meio do movimento do vento e da densidade do ar, mesmo em
ambientes fechados.
R E F E R Ê N CI A S:
#AC K E R M A N, D ia n e. U m a histó r ia n atu ra l d o s s entid o s. 1. e d. R i o d e Ja n e iro: B e r t r a n d
B r a s il, 19 9 2.
#A R AU J O, M arce lo M at to s; B R U N O, M ar ia Cr i s t i n a O li ve ir a (O r g.). A m e m ó r ia d o
p en s a m ento m u s e o ló g ico co nte m p o râ n e o: d o c u m e nto s e d e p oi m e nto s. S ã o P au lo:
CO M I T Ê B R A SI L EI R O D O I CO M , 19 95.
#A X E L, E li z a b e t h S al z h au e r; L E V E N T, N i n a S o b o l. A rt b e y o n d s ig ht: a re s o u rce g u i d e to
ar t, creat i v it y, a n d v i s u al i m p air m e nt. N ov a I o rq u e: A r t Ed u c at i o n fo r t h e B li n d I n c. e
A m e r i c a n Fo u n d at i o n fo r t h e B li n d Pre s s, 20 03.
# B AVC A R , Ev g e n; T E S S L E R , E li d a; B A N D EI R A , J o ã o (O r g.). M e m ó r ia d o B ra s il. S ã o P au lo:
Co s a c & N aif y, 20 03.
# C A N O, B e g o ñ a Co n s u e gr a. El a ce s s o a l p atr im ô n io histó r ico d e la s p er s o n a s cie g a s y
d eficiente v is u a le s. O N C E, 1. e d. M ad r i d, 20 0 2.
# CO E L H O N E T O, J o s é Te i xe ir a. D icio n á r io Cr ítico d e P o lítica Cultu ra l. S ã o P au lo:
Edito r a Ilu mi n u r a s, 19 9 9.
# D E B O R D, G u y. A S o cied a d e d o E s p etá culo. R i o d e Ja n e iro: Co nt r a p o nto, 19 97.
# F O U N DAT I O N D E F R A N C E – I CO M , M I N I S T E R I O D E CU LT U R A y O N C E. M u s e u s A bierto s
a To d o s lo s S entid o s: a co g er m ejo r a la s p er s o n a s min u s va lid a s . Tr ad. C ar m e n Pé re z
A n d ré s e A nto nia R a m o s Fu e nte s. O N C E. S al a m a n c a, 19 9 4. p. 27 3.
# G U L L A R , Fe r re ir a (O r g.). A rte B ra s ileira H oje. R i o d e Ja n e iro: P a z e Te r r a, 197 3.
# N OW I L L, D o r i n a d e G o u vêa; D E M A SI, I ve te. O Ce g o. I n. Ca min h o s d a In clu s ã o.
G oiâ nia: Ke lp s, 20 0 8. p. 43- 62.
# P L E S S N E R , H e lm u t. A nt ro p o lo g ia d o s s e nt i d o s. I n: _ _ _ _ _ _ . N ova A ntro p o lo g ia. S ã o
P au lo: Ed u s p.
# R E S E N D E, R i c ard o. Proje to A ex p re s s ã o foto g ráfica e o s ce g o s. Fo ld e r d a ex p o s i ç ã o
“ V i s t a s Táte i s”. S e cre t ar ia d e Cu ltu r a d a Ci d ad e d e L o n d r i n a, 20 0 2.
# S A R R A F, V i v ia n e P a n e lli. A in clu s ã o d o s d eficiente s v is u a is e m m u s e u s : u m a a n áli s e
reali z ad a co m b a s e e m av alia çõ e s s o b re a ce s s i bili d ad e. 95 p., il., 1 a n exo. M o n o gr afia
(E s p e c iali z a ç ã o) – M u s e u d e A rq u e o lo g ia e Et n o lo g ia, U ni ve r s i d ad e d e S ã o P au lo, 20 0 4.
_ _ _ _ _ _ . Re a bilita çã o d o M u s e u: p o lít i c a s d e i n clu s ã o c u ltu r al p o r m e i o d a
a ce s s i bili d ad e. 18 0 p., il., 3 a n exo s. D i s s e r t a ç ã o (M e s t r ad o) – E s co l a d e Co m u ni c a çõ e s
e A r te s, U ni ve r s i d ad e d e S ã o P au lo, 20 0 8.
# S A S S A K I, R o m e u K a z u mi. In clu s ã o: Co n s t r u i n d o u m a s o c i e d ad e p ar a to d o s. 2. e d. R i o
d e Ja n e iro: W VA , 19 97.
# S H A PI R O, J o s e p h P. N o pit y : p e o p le w it h di s a bilit i e s fo r g i n g a n e w c i v il r i g ht s
m ove m e nt. N e w Yo r k: T h re e R i ve r s Pre s s, 19 93.
# I P H A N – I n s t r u ç ã o N o r m at i v a nº 1. 20 03. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.i p h a n.g ov.b r >.
A ce s s o e m a b r. 20 0 6
# I CO M (I nte r n at i o n al Co u n c il of M u s e u m s) Có di g o d e Ét i c a, 20 0 4. D i s p o ní ve l e m:
<ht t p://w w w.i co m.o r g.b r >. A ce s s o e m: a g o. 20 0 6.
# O N U – D e cl ar a ç ã o I nte r n a c i o n al d e D ire ito s H u m a n o s, 19 4 8. D i s p o ní ve l e m: < ht t p://
w w w.o n u-b r a s il.o r g.b r/d o c u m e nto s _ dire ito s h u m a n o s.p h p >. A ce s s o e m: m ai o 20 0 6.
#A B N T- N B R 9 0 5 0 – N o r m a B r a s ile ir a d e A ce s s i bili d ad e. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.
a ce s s i bili d ad e.o r g.b r >. A ce s s o e m: m ai o 20 0 6.
32 C A M I N H O S PA R A AUDIO-DESCRIÇÃO1:
UM NOVO RECURSO
I N CLUS ÃO DE MEDIAÇÃO E
ACESSIBILIDADE
CULTURAL
Alexsandra Leite 06
udio-descrição é um recurso de acessibilidade direcionado às pessoas com
deficiência visual, é a tradução de qualquer imagem transformada em palavras. A audio-
descrição integra o campo da Tradução Visual e é executada com aparato técnico pré-
estabelecido, surgindo como recurso importante em ações de responsabilidade social,
junto às pessoas cegas e com baixa visão. Direito adquirido, a audio-descrição se adapta
às exigências legais como a Lei 10.098/2000 e o Decreto 5.296/2004, que, como outros
dispositivos legais, visam a acessibilidade comunicacional às pessoas com deficiência
visual, em todas as áreas de convívio social.
No âmbito cultural, proporcionar acesso aos cegos e pessoas com baixa visão ao
cinema, teatro, espetáculos de dança, circo, TV e exposições de arte é o principal
objetivo das pesquisas em audio-descrição, buscando modelos de acessibilidade
audiovisual que atendam às necessidades desse público e formando profissionais
competentes em nível de graduação e pós-graduação para atuarem no mercado de
trabalho. Sendo assim, a formação profissional em audio-descrição está atrelada à
formação de público, no sentido de desenvolver uma prática de integração sociocultural,
conscientizando a sociedade a construir uma aprendizagem cooperante que avance na
eliminação das barreiras pragmáticas e atitudinais, garantindo o acesso das pessoas com
necessidades especiais aos serviços que promovem a convivência saudável no tocante à
diversidade.
Flor, Ivanildo Aquino, Matheus Calafange, Natália França, Raquel Lacerda e Paulo
Leonardo, com pós–produção e edição de áudio de Natália França. A apresentação do
curta foi realizada na mostra com o recurso voice over, tradução simultânea com estudo
do objeto audiovisual e composição de roteiro feito por mim com o código de marcação
do tempo.
Essas duas ações contribuíram para uma reavaliação na minha prática enquanto arte/
educadora, atuando como mediadora, entre outras funções, num equipamento cultural
envolto em limitações institucionais. Sendo a audio-descrição uma nova ferramenta
de mediação cultural e de acessibilidade, convém dar continuidade às pesquisas,
articulando encontros de reflexão e sensibilização da comunidade cultural e trabalhando
na disponibilidade da audio-descrição na recepção do público específico a ser
beneficiado nas exposições promovidas pela instituição, democratizando esse recurso.v
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. A u t ili z a ç ã o d a gr afia áu di o - d e s cr i ç ã o e n co nt r a ju s t ifi c at i v a n o tex to “Em D efe s a
d a Á u d io - d e s cr içã o: Ver s o s e Co ntrovér s ia s ” d o Profe s s o r d o Ce nt ro d e E s tu d o s
I n clu s i vo s d a U F P E Fr a n c i s co Li m a, co m co l a b o r a ç ã o d e P au lo V i e ir a: “A o di z e r m o s
áu di o - d e s cr i ç ã o, e s t a m o s di z e n d o d e áu di o e e s t a m o s di z e n d o d e d e s cr i ç ã o. O s te r m o s
m a nté m i n di v i d u alm e nte s e u s e nt i d o o r i g i n al, p o ré m, co n s t itu i n d o n ovo s e nt i d o n u m a
n ov a u ni d ad e s e m â nt i c a. Q u a nto à p ro s ó dia e à gr afia d a s p al av r a s e m s e p ar ad o, e l a s
s ã o m a nt i d a s, lo g o n ã o h ave n d o r a z ã o q u e ju s t ifi c a s s e a s u nir n a gr afia o u a s e s cre ve r
e m s e p ar ad o, s e m hífe n. I s to é, a ju n ç ã o d o s te r m o s áu di o e d e s cr i ç ã o p e lo hífe n le v a
a o e nte n di m e nto d e u m a n ov a co n s t r u ç ã o s e m â nt i c a, co m s e nt i d o p ró p r i o, s e m q u e
c ad a te r m o s e d e s t itu a p o r co m p le to d e s e u s e nt i d o o r i g i n al.”
Estudos revelam que mais de 94% da informação que recebem o homem e mulher
contemporâneos entram no cérebro através da visão e da audição e mais de 80%,
especificamente, através da percepção visual; vivemos, pois, na sociedade da imagem:
“uma obra audiovisual pode supor, além do desfrute das emoções, uma experiência
estética, intelectual ou política. Uma série de imagens pode fazer-nos refletir, recordar
algo, mudar de ideia e inclusive tomar decisões”. (PAYÁ, 2007:81, grifos nossos)
De acordo com os autores Kress e Van Leeuwen (1996), a linguagem visual se constitui
em um sistema simbólico de representação influenciado pelos princípios organizadores
da significação em dadas culturas. Para compreendê-la, fundamentaram uma gramática
visual, que se propõe a fornecer ferramentas técnicas para analisar de que forma as
imagens representam as relações entre os elementos que nela encontramos: pessoas,
lugares e objetos.
Esse quadro, que foi exposto em público uma única vez, em 1961, durante a
comemoração dos 80 anos do pintor, foi comprado na década de 50 pela colecionadora
californiana Frances Lasker Brody, que o conservou em sua família até sua morte, em
novembro de 2009.
“O quadro que descreveremos se chama Nu, folhas verdes e busto. Foi pintado por
Pablo Picasso em 1932, em óleo e mede 162 cm x 130 cm. Apenas como recurso
descritivo, dividiremos o quadro em duas metades, uma superior e uma inferior.
Na metade superior, cobrindo todo o fundo do quadro, uma cortina em tons de
azul cobre uma parede em tons de amarelo e vermelho. À frente do cortinado, ao
lado direito do quadro, um pedestal sustenta uma cabeça ligeiramente inclinada:
é o perfil de um homem meio calvo. Sua cor é levemente amarelada. O olhar do
homem se dirige a um ramo com quatro folhas verdes que ocupa quase toda a
38 metade superior esquerda do quadro. Entre a cabeça
no pedestal e as quatro folhas verdes, projeta-se um
perfil semelhante ao do busto, embora um pouco
maior. É azul como a cor da cortina e seus lábios
entreabertos tocam uma das folhas verdes. Na
metade inferior do quadro, um corpo nu e de formas
arredondadas estende-se em posição horizontal,
de ponta a ponta. Do colo às coxas, o corpo se
apresenta em posição frontal e deixa à mostra os
seios e a genitália feminina, quase oculta pela coxa
esquerda que se superpõe à coxa direita. O restante
do corpo não aparece.O corpo tem matiz rosa, da
cabeça aos seios, e a parte corresponde ao ventre e
púbis é levemente mais clara. A cabeça da mulher
está voltada para cima e pende para trás. Seus
olhos estão cerrados e os lábios estão levemente
entreabertos. Uma mancha em tom lilás se estende
desde a nuca à orelha direita. Os cabelos lisos e em
tons de amarelo se espalham na altura do pescoço
e do ombro direito. Os braços, relaxados atrás da
cabeça, encontram-se em semicírculo. A palma da
mão esquerda está aberta, próxima aos cabelos.
Dois traços oblíquos dividem o corpo da mulher. Um
dos traços estabelece uma linha que vai dos seios à
cabeça no pedestal, como se fosse uma sombra. O
segundo traço oblíquo sobe do pescoço até o galho
de uma das folhas verdes. No extremo inferior
esquerdo do quadro, próximo à mão esquerda e aos
cabelos, uma metade de prato redondo, sem cor,
ostenta três frutas inteiras em tons de vermelho e
laranja.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
possível compartilhar o modo pelo qual seus recursos topológicos se estruturam e dão coesão
a uma obra de arte. Outros elementos como a saliência e a saturação de uma cor, podem
constituir pistas para a apreciação de uma obra de arte. E esse é o principal objetivo deste
trabalho, qual seja, compartilhar com os deficientes visuais uma experiência estética que, de
outro modo, lhe é inacessível.v
R E F E R Ê N CI A S
# B R A SI L . P e s q u is a s o b re d eficiente s n o B ra s il. R i o d e Ja n e iro: I B G E, 20 0 0.
# B R AU N, S. ( 20 0 7 ) A u di o D e s cr i pt i o n fro m a di s co u r s e p e r s p e c t i ve: a s o c ially re le v a nt
fr a m e w o r k fo r re s earc h a n d t r ai ni n g. Lin g u istica A nt ver pien s ia N S 6, A u d iov is u a l
Tra n slatio n: A To o l fo r S o c ial I nte gr at i o n, J o s é lia N e ve s & A li n e R e m a e l (Ed s.).
D i s p o ní ve l e m <ht t p://e p u b s.s u r re y.a c.u k /t r a n s l at i o n/1/>. A ce s s o e m 5 s e t. 20 0 8.
# CI N TA S, D. J. Tr ad u cc i ó n au di ov i s u al y a cce s i bili d ad. I n: Tra d u cció n y a ce s s ibilid a d :
s u bt itu l a c i ó n p ar a s o rd o s y au di o d e s cr i p c i ó n p ar a c i e g o s: n u e v a s m o d ali d ad e s d e
Tr ad u cc i ó n A u di ov i s u al. Fr a n k fu r t: Pe te r L a n g G m b H, 20 0 7.
# K R E S S, G. & VA N L E E U W E N, T. Re a d in g im a g e s : t h e gr a m m ar of t h e d e s i g n v i s u al.
L o n d o n: R o u tle d g e, 19 9 6.
_ _ _ _ _ _ . M ultim o d a l D is co u r s e: t h e m o d e s a n d m e dia of co nte m p o r ar y co m m u ni c at i o n.
N e w Yo r k: O x fo rd U ni ve r s it y Pre s s I n c, 20 01.
# PAYÁ , P. M . L a au di o d e s cr i p c i ó n: t r ad u cc i e n d o e l le n g u aje d e l a s c á m ar a s. I n:
Tra d u cció n y a ce s s ibilid a d: s u bt itu l a c i ó n p ar a s o rd o s y au di o d e s cr i p c i ó n p ar a c i e g o s:
n u e v a s m o d ali d ad e s d e Tr ad u cc i ó n A u di ov i s u al. Fr a n k fu r t: Pe te r L a n g G m b H, 20 0 7.
#<ht t p://s e n ad o.g ov.b r/s f/le g i s l a c a o/co n s t>. A ce s s o e m 2 2 a g o. 20 0 8.
#<ht t p: //ht t p://s e nt i d o s.u o l.co m.b r/c a n ai s/m ate r ia.a s p?co d p a g =1333 6 &co d _ c a n al=15 >.
A ce s s o e m 12 m ai o 2010.
#<ht t p://w w w.c h r i s t i e s.co m/featu re s/P a b lo - P i c a s s o s- N u d e - G re e n- L eave s-a n d-
B u s t- 632-3.a s px >
40 C A M I N H O S PA R A ARTE, EDUCAÇÃO
E INCLUSÃO:
I N CLUS ÃO ORIENTAÇÕES PARA
AUDIO-DESCRIÇÃO EM
Francisco José de Lima MUSEUS
Um meio de minimizar a exclusão cultural a que as pessoas com deficiência têm sido
submetidas está na oferta de um recurso tradutório da imagem em palavras, conhecido
como audio-descrição. Esse recurso não só é de direito constitucional da pessoa com
deficiência visual, uma vez que a todos é devido o direito à informação, à educação e ao
lazer, quanto é viável, empregando recursos econômicos razoáveis na forma da lei.
Foi assim que, inicialmente, a arte foi compreendida como manifestação espontânea
e autoexpressiva do sujeito, o que trouxe contribuições significativas para formação de
um indivíduo valorizado em sua plenitude. Isso se deu mais visivelmente com a reflexão,
iniciada na década de 60, pois, com ela, a arte volta a ganhar reconhecimento como
construtora do desenvolvimento cognitivo e intelectual do cidadão. Atualmente, tem- 41
Assim como cada frase ganha sentido no conjunto do texto, realizando o todo da
forma literária, na arte, cada elemento visual, musical, dramático ou de movimento tem
seu lugar e se relaciona com os demais daquela forma artística específica. E, como cada
elemento artístico “relaciona-se com os demais”, entende-se que quando não se tem
acesso a ele, seja qual for a razão, há prejuízos na compreensão do todo de determinada
construção criativa; daí o esforço de restauradores que empenham-se em recuperar o
que os séculos fizeram esvair, para que se possa ter de volta, por pesquisa e esmerado
trabalho, a íntegra do que nos legou um dado artista, ou grupo deles. A preocupação
em garantir a todos o acesso à totalidade do que nos comunica uma dada obra de arte,
prova de seu valor, também deve ser assegurado ao indivíduo com deficiência visual,
pois se hoje são investidas grandes quantias financeiras para que muitos cidadãos, graças
ao trabalho de restauração, não percam o acesso ao testemunho histórico presente
numa dada forma de arte, não seria razoável permitir que vários outros, por questão de
deficiência, permaneçam alheios ao que lhes pode comunicar uma vasta quantidade de
obras artísticas.
Uma técnica de tradução visual surge na década de 1980 e vem se mostrando eficaz
na comunicação dos elementos visuais às pessoas com deficiência visual, já sendo a sua
utilização prevista em lei no Brasil. Trata-se da audio-descrição, serviço de tecnologia
assistiva que consiste na identificação e elocução de elementos visuais essenciais à
compreensão e apreciação das imagens presentes nas obras teatrais, cinematográficas,
televisivas, literárias, jornalísticas, científicas, artístico-culturais, entre outras,
destinada principalmente às pessoas com deficiência visual, com dislexia, pessoas
analfabetas, ou que não saibam o idioma em que um filme ou programa está sendo
exibido.
Para que se empreendam audio-descrições que sejam, não apenas padronizadas, mas
também fiéis ao conteúdo da obra, algumas diretrizes de caráter geral têm sido aceitas
pelo público com deficiência como sendo razoáveis na comunicação dos elementos
essenciais à sua compreensão.
2.Ser breve – deve-se tomar como referência o tempo que os visitantes videntes
passam na observação de uma dada obra de arte; as imagens presentes nos catálogos e
folders disponíveis nos museus vêm acompanhadas de textos, então o espaço disponível
para a audio-descrição fica fisicamente reduzido, mais uma razão para ser conciso no
trabalho descritivo;
3. Ser descritivo – lançar mão de um vocabulário variado e fiel às diferentes nuances 43
A textura pode ser descrita como lisa, acetinada, grossa, granulada, áspera,
usada, desbotada, coçada, gretada, rota, ondulada, canelada, padronizada,
listrada, às pintas e picotada. A cor pode ser descrita como intensa, nítida,
brilhante, clara, escura, apagada, pálida, desmaiada, sólida ou mesclada. Não há
necessidade em evitar referenciar cores, no pressuposto que não tem sentido para
os visitantes cegos. Em primeiro lugar, as descrições serão usadas por pessoas sem
dificuldades visuais. Segundo, muitas das pessoas que agora são cegas já viram
e conseguem recordar cores. Terceiro, por vezes as cores têm um significado
simbólico nas obras de arte (apesar de frases interpretativas como “warm gold”
ou “red angry” não deverem ser utilizadas). A técnica artística pode ser descrita
como realista, abstracta, não natural, simplificada, detalhada, precisa, imprecisa,
mal definida, borrada, salpicada, pincelada ou marcada.5
4. Ser lógico – várias diretrizes na literatura que vem sendo construída acerca de
audio-descrição sugerem um sequenciamento padronizado nas informações que são
comunicadas. Ir do todo para as partes (ADP Standards, 2009, p. 5); do primeiro plano
passando pelo plano intermediário até ao plano de fundo; ir da esquerda para a direita;
de cima para baixo são algumas delas (Audio Description Coalition, 2009, p. 19-20).
2.Edição – selecionar o que vai ser descrito para que o essencial seja separado do que
não é relevante;
Barreira Atitudinal de Adoração do Herói: não encarar como natural o fato de uma
pessoa com deficiência poder assistir a um filme no cinema ou ir ao teatro, encarando
isso como espetacular o fato em si e não o evento artístico. Deve-se lembrar aqui que
o espetáculo continua sendo o espetáculo e não a pessoa com deficiência que o está
assistindo.
Barreira Atitudinal de Baixa Expectativa: crer que pessoas com deficiência visual
não se interessam por eventos artísticos.
CONCLUSÃO
A arte, via de inclusão social nas mais diversas vertentes, precisa estar disponível a
todos, em todas suas formas.
Logo, propiciar meios com os quais as pessoas com deficiência possam desfrutar do
que oferece o museu é meta que devemos perseguir, mormente derrubando as barreiras
atitudinais, grandes responsáveis por toda sorte de obstáculo à inclusão dessas pessoas
no seio social, cultural, educacional e de lazer.
Quando, então, isso se der, teremos construído a maior das artes, a arte das artes, a
primeira arte:
Uma sociedade humana em que basta ser humano para dela fazer parte, desfrutar,
ser respeitado e respeitar. A pintura estará feita; a escultura, finalizada a obra-prima,
será a mãe de todas as obras, será o sol que ilumina, esquenta e faz viver a vida.v
49
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.au di o d e s cr i c a o.co m/h o m e.ht m>. A ce s s o e m: 0 8 ju n.
2010.
2. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.a ce s s o.u mi c.pt/m u s e u s/i m g m u s e u s.ht m>. A ce s s o e m: 0 2
ju n. 2010.
3. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.l ar r s.o r g/g u i d e li n e s.ht m l>. A ce s s o e m: 0 7 ju n. 2010.
4. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.a c b.o r g/ad p/d o c s/A D P_ St a n d ard s.d o c >. A ce s s o e m: 0 7
ju n. 2010.
5. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.a ce s s o.u mi c.pt/m u s e u s/i m g m u s e u s.ht m>. A ce s s o e m: 0 2
ju n. 2010.
6. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.a ce s s o.u mi c.pt/m u s e u s/i m g m u s e u s.ht m>. A ce s s o e m: 0 2
ju n. 2010.
7. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.au di o d e s cr i b e.co m/a b o u t/ar t i cle s/fu n d a m e nt al s _ of_
ad.p d f>. A ce s s o e m: 01 ju n. 2010.
8. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.au di o d e s cr i pt i o n s o lu t i o n s.co m/au d d e s c m u s e u m.ht m>.
A ce s s o e m: 10 ju n. 2010.
9. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.a c b.o r g/ad p/m u s e u m p ai nt i n g.ht m l>. A ce s s o e m: 01 ju n.
2010.
10. D e s cr i ç ã o d e Er n a ni R i b e iro e Lí v ia G u e d e s. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.r bt v.
a s s o c iad o s d ai n clu s a o.co m.b r/i n d ex.p h p/p r i n c i p al/i s s u e/v i e w/2>
m filme precisa ser terminado, ainda que às cegas”, diz o protagonista cego de
Los abrazos rotos (Abraços partidos, 2009). Será verdade? Pouco importa; não é esse
o tema dessas linhas e a cegueira não é o foco central naquele filme recente de Pedro
Almodóvar. O ator Lluis Homar vê normalmente na vida real, mas desempenha com
eficácia o papel do personagem cego Harry Cane. Isso, em si, já é motivo de destaque,
pois nem sempre a deficiência é representada com a devida fidelidade nas telas do
cinema. City Lights (Luzes da cidade, 1931), estrelado e dirigido por Charles Chaplin
e com Virginia Cherrill no papel da florista cega, é uma das maiores obras-primas da
história do cinema. Muito menos conhecido, mas também uma obra-prima, é La nuit est
mon royaume (A noite é meu reino, 1951), dirigido por Georges Lacombe. Um acidente
traz a cegueira ao ferroviário Raymond Pinsard, interpretado por Jean Gabin, premiado
na Bienal de Veneza daquele mesmo ano, devido à sua atuação magistral. O apoio da
família, de outros cegos e, principalmente, o de sua professora de Braille, por quem
se apaixona e é retribuído, dá novo sentido à vida de Raymond. Gabin levou a sério a
tarefa de interpretar um cego: treinou durante meses, sob a orientação de especialistas.
Estamos longe dos clichês, da demagogia, das caricaturas e da inverossimilhança que
marcam alguns personagens cegos no cinema, tais como a protagonista de Dancer in the
Dark (Dançando no escuro), de Lars von Trier. Isso para não falar no oportunismo e no
desrespeito, beirando o sadismo, que servem de diapasão ao documentário A pessoa é
para o que nasce (2004), do brasileiro Roberto Berliner.
Profumo di donna (Perfume de mulher, 1975), do cineasta Dino Risi e com Vittorio
Gassman no papel principal, inspirado no livro Il buio e il miele (A escuridão e o mel)
de Giovanni Arpino (vencedor do prêmio Moretti d’Oro em 1969), é um filme excelente.
Em essência, Profumo di donna difere muito do posterior Scent of a Woman (Perfume
de mulher, 1992), de Martin Brest, que teve sua fonte inspiradora no mesmo livro
de Giovanni Arpino. O filme de Brest é comprometido pela inverossimilhança. O que
pretendia Brest com a proposta de dar ao cego poderes que ele não é capaz de ter? Se
a intenção era meramente fabulatória – e a arte tem esse poder (que até certo ponto é
dever) de transfigurar a realidade –, o resultado foi negativo, pois foge da clave realista
na qual a história é pautada; o cego “vidente” de Brest soa quase a um deus ex machina,
já condenado por Aristóteles no teatro, o que indica a validade da mesma condenação
para o cinema, arte representativa ele também.
Se Brest queria exaltar o cego perante a sociedade em geral, é provável que tenha 51
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, ensina a sabedoria popular. É um radicalismo
negar sistematicamente ao cego a possibilidade de tocar as esculturas, conforme
apontou a artista plástica Virginia Vendramini na sua palestra. Mas o extremo oposto
também é nocivo, como ela mesma destacou: se todos os visitantes passarem a tocar
as esculturas, muitas delas se desgastarão num espaço curto de tempo. Encontrar o
meio-termo adequado é um dos desafios que se apresentam aos museólogos e demais
responsáveis por projetos dessa envergadura.
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. Fale i d e s s e m e s m o p ro b le m a a nte r i o r m e nte (c f. G A NZ A R O L L I D E O L I V EI R A . 20 0 0: 10;
_ _ _ _ _ _ . 20 0 2: 15 6 a 161; _ _ _ _ _ _ . 20 0 7: 162 e 163).
2.Ve r, p o r exe m p lo, o exce le nte li v ro d o e s p a n h o l J e s ú s M o nto s o M ar t í n e z: L o s cie g o s
en la histo r ia, M ad r i, O N C E, 19 9 2; e t a m b é m o d o fr a n cê s L o u i s Ci cco n e: Le s m u s icien s
a ve ugle s d a n s l’histo ire, P ar i s, L’H ar m at t a n, 20 01.
O mundo da deficiência visual nos era totalmente desconhecido. O ver e o não ver
apresentavam um grande desafio. E foi exatamente esse desafio que nos levou a procurar
compreender como a pessoa com deficiência visual percebe o mundo e como dar a ela
acesso à cultura e à arte.
Segundo Vigotsky (1997: 19 - 27) o que realmente decide o destino de uma pessoa
não é a deficiência em si mesma, mas sim as consequências sociais, suas realizações
psicossociais. Uma criança com alguma imperfeição não é inevitavelmente uma criança
deficiente. O grau da sua imperfeição e da sua normalidade irá depender do equilíbrio
social (la compensación social). Somente a cegueira ou outros defeitos parciais não 55
A nossa cultura muitas vezes faz com que a exploração do mundo por outros sentidos
que não o da visão seja dificultado. Quantos “não toque”, “não cheire”, “não pise” ou
“não sinta”, nos são impostos sem que percebamos?
Pensar o corpo como uma grande razão é o modo que encontramos para desenvolver
os trabalhos dentro do ateliê.
Nossa grande questão era como dar acesso às poéticas artísticas, às experiências do
mundo, tendo como referencial não a percepção da pessoa com visão, mas sim, o não
vidente.
Estar diante de uma pessoa cega ou com baixa visão é estar diante de experiências
conflitantes, diferentes das nossas, e este contato nos coloca diante de diferentes
percepções, diferentes maneiras de perceber o mundo.
Por meio dos estudos feito pela professora Elcie Masini compreendemos que “para
poder saber do DV, é pois necessário aproximar-se de seu corpo e da experiência que ele
tem através dos sentidos de que dispõe, de maneira total e não fragmentada”. (MASINI,
1994: 91)
Por ser a visão o sentido que mais nos coloca em contato com as coisas,
principalmente à distancia e em detalhes, parece no mínimo intrigante pensar
como o cego estrutura seu mundo mental e como se apropria do conhecimento
das coisas que não pode vivenciar pelo tato, olfato e audição – como o conceito de
lua e nuvem, por exemplo. (ORMELEZI 2000: 37)
A pessoa com deficiência visual parece ser alvo constante de interrogação por parte
daquele que possui o sentido da visão.
Para que uma pessoa com deficiência visual se organize no mundo é preciso fornecer
oportunidades para a exploração de todas as experiências perceptivas. Precisamos
derrubar as placas do “Não toque”, e levar em conta os outros sentidos e relembrar
que existem muitos receptores sensoriais para conhecermos o mundo em que vivemos,
uma vez que “Há mais razão no teu corpo do que na tua melhor sabedoria.” (NIETZSCHE
2009: 44)
56 Então, qual é a chave de acesso para tornar visível o invisível, dizível o indizível,
pensável o impensável? Como afirmar a potência criadora da arte para todas as pessoas?
Masini (2008: 74), de acordo Merleau-Ponty (2006), considera que para compreender
a complexidade do aprender destes sujeitos é preciso ter conhecimento de suas
experiências perceptivas. É preciso acompanhar suas manifestações e sua relação com os
objetos no uso de seu corpo como fonte de sentidos. É preciso ouvi-lo sobre o que faz e
como percebe o que o cerca e como é para ele essa experiência, ou seja, ouvi-lo sobre
sua experiência perceptiva.
Não se poderia, pois pensar no aprender senão pelo seu viver factualmente. Isso
torna claro que é preciso partilhar com o aprendiz do conjunto dos caminhos de
seu corpo, no fazer do dia-a-dia, para saber da sua experiência perceptiva (Ibid.
: 79).
Repetindo Merleau-Ponty (2004: 16), assim como o artista empresta seu corpo ao
mundo para tornar visível o que passou por ele, a pessoa com deficiência visual pode
fazer uma descrição de sua experiência perceptiva de situações vividas e encontrar
novas formas de linguagem e expressão. O deficiente visual irá compreender a obra
de arte por meio de distintas fontes de informação (cinestésica, háptica, auditiva e
proprioceptiva).
1. e 2. Ateliê de Artes.
(Foto AC. Nogueira)
58
R E F E R Ê N CI A S
# Ca rta p a ra o Terceiro M ilên io. D i s p o ní ve l e m: ht t p://w w2.p re fe itu r a.s p.g ov.b r//
arq u i vo s/s e cre t ar ia s/s au d e/d e fi c i e n c ia/0 0 0 8/C ar t a _ p ar a _Te rce iro _ M ile ni o.p d f. A ce s s o
e m: 2 3 s e t 20 03.
# C H AU I, M ar ile n a. O b r a d e A r te e Filo s ofia. I n: C H AU I, M ar ile n a. E x p er iên cia d o
P en s a m ento: E n s ai o s s o b re a o b r a d e M e r leau- P o nt y. 1. e d. S ã o P au lo: M ar t i n s Fo nte s,
20 0 2. p. 151-195. Co le ç ã o tó pi co s.
# K L E E, P au l. S o b re a a rte m o d er n a e o utro s en s a io s. R i o d e Ja n e iro: J o r g e Z a h ar, 20 01.
P. 126.
# L E H R E R , J o n a h. Pro u st era u m N e u ro cientista: Co m o a ar te a nte c i p a a c i ê n c ia. 1. e d.
A lfr a g i d e: L u a d e P a p e l, 20 0 9. P. 271. Tr ad u ç ã o A n a C ar n e iro.
# M A SI N I, E lc i e; F. S al z a n o. O P erce b er e o Rela cio n a r-s e d o D eficiente
V is u a l: o r i e nt a n d o p ro fe s s o re s e s p e c iali z ad o s. B r a s ília: Co o rd e n ad o r ia N a c i o n al p ar a
I nte gr a ç ã o d a Pe s s o a P o r t ad o r a d e D e fi c i ê n c ia, 19 9 4. P. 159.
# M E R L E AU - P O N T Y, M au r i ce. O o lh o e o e s p ír ito: s e g u i d o d e A li n g u a g e m i n dire t a e a s
vo z e s d o s ilê n c i o e A d ú v i d a d e Cé z a n n e. S ã o P au lo: Co s a c & N aif y, 20 0 4. P. 16 6.
# M E R L E AU - P O N T Y, M au r i ce. Fen o m en o lo g ia d a P erce p çã o. 3. e d. S ã o P au lo: M ar t i n s
Fo nte s, 20 0 6.
# N I E T Z S C H E, Fr i e d r i c h. A s s im Fa lo u Za ratu stra. 4. e d. S ã o P au lo: M ar t i n Cl are t, 20 0 9.
p. 27 2. 2ª R e i m p re s s ã o.
# O R M E L IZI, E lia n a M ar ia. O s Ca min h o s d a A q u is içã o d o Co n h ecim ento e a Ce g u eira : d o
u ni ve r s o d o co r p o a o u ni ve r s o s i m b ó li co. 20 0 0. f. 27 3. D i s s e r t a ç ã o (M e s t r ad o) – Cu r s o
d e Ed u c a ç ã o, D e p ar t a m e nto d e P s i co lo g ia e Ed u c a ç ã o, U ni ve r s i d ad e d e S ã o P au lo, S ã o
P au lo, 20 0 0.
# V YG O T S K I, L e v S e m e n ov itc h. O b ra s e s co g id a s V: fu n d a m e nto s d e d e fe c to lo g ia.
M ad r i d: V i s o r, 19 97.
C A M I N H O S PA R A 59
PROJETO APRENDER PARA
I N CLUS ÃO
ENSINAR: A MEDIAÇÃO
EM MUSEUS POR MEIO DA
LÍNGUA BRASILEIRA DE
SINAIS (LIBRAS)
Cibele Lucena
Joana Zatz Mussi
Daina Leyton 11
“Aprender para Ensinar” e a cultura surda
jovens surdos como educadores, para que eles possam receber o público surdo no museu
em “língua primeira” 2.
Para o linguista Élie Bajard, que observou o projeto “Aprender para Ensinar” entre
2005 e 2006, é um desafio para o MAM e seus professores-artistas (PA), que conduzem
o processo de formação, orientar os jovens que não partilham sua língua. Uma vez que
não existe, entre os PAs e os alunos Surdos, uma intercompreensão linguística, a situação
requer a presença de professores-intérpretes (PI) que dominem ambas as línguas. Nessa
singular situação de formação artística, a questão da diversidade das linguagens (com
uso considerável de fotografias, vídeos, esquemas e filmes) se torna um ponto crucial.
Por duas razões: a primeira, porque a imagem é uma linguagem que não pressupõe
alfabetização prévia para ser compreendida; a segunda, porque o objeto de estudo é a
própria arte (Bajard, 2005).
Segundo Oliver Sacks (1998), o fato dos surdos não disporem de uma “língua
primeira” os deixavam privados da capacidade de se comunicar, prejudicando a
apreensão do conhecimento.
A existência milenar de línguas puramente escritas não foi suficiente para que se
difundisse a noção de que a compreensão das ideias independe do som das palavras.
Essa ainda é uma noção estranha para a maioria, porém sua compreensão é fundamental
para o desenvolvimento da comunicação dos surdos.
O linguista Élie Bajard, ao contrário da concepção que vigorou até o final do século
19, considera que a língua utilizada pela comunidade surda
60 é uma verdadeira língua, com um léxico e uma
gramática singulares. [...] Ela é natural, isto é, um
instrumento construído por um lento processo de
elaboração, através da experiência comunicativa de
várias gerações de uma mesma comunidade, e não
por um inventor único, como é o caso do esperanto,
por exemplo. Realizada por gestos, é uma língua
que possibilita pensamento e comunicação. É um
lugar-comum atribuir aos surdos uma capacidade
de abstração baixa, sob o argumento das limitações
dos sinais abstratos. Podemos fazer duas ressalvas
a esse tipo de comentário. Primeiramente, muitas
dificuldades de comunicação podem ser atribuídas
à conquista tardia da língua. Em segundo lugar,
limitações da Língua de Sinais podem encontrar sua
origem num uso conjuntural por uma comunidade,
e não na pretendida insuficiência de uma língua
gestual.” (Bajard, 2005:16)
O que o projeto “Aprender para Ensinar” evidencia que o ato de mediar deve ser
entendido de forma ampla, abarcando aspectos não apenas relacionados à educação
e, nesse caso, à arte, mas também às transformações culturais que os encontros entre
diferentes agentes e espaços sociais provocam.v
N O TA S E R E F E R Ê N C I A S 63
1. O p roje to “A p re n d e r p ar a E n s i n ar ” é p ar te d o p ro gr a m a I g u al D ife re nte d o S e to r
Ed u c at i vo d o M A M -S P. D e 20 0 2 a 20 0 7, o p roje to foi reali z ad o e m p arce r ia co m a e s co l a
d e e d u c a ç ã o i nfa nt il e e n s i n o fu n d a m e nt al p ar a cr ia n ç a s e jove n s S u rd o s D E R D I C
(D i v i s ã o d e Ed u c a ç ã o e R ea bilit a ç ã o d o s D i s tú r bi o s d a Co m u ni c a ç ã o d a P U C-S P). E m
20 0 8, o “A p re n d e r p ar a E n s i n ar ” a m p li o u s u a s p arce r ia s. Atu alm e nte, i nte gr a m o
c u r s o alu n o s e p rofi s s i o n ai s d a D E R D I C, d a E s co l a p ar a Cr ia n ç a s S u rd a s R i o B r a n co, d a
Fu n d a ç ã o B r ad e s co, d o Co lé g i o R adial e I n s t itu to S a nt a Te re z i n h a.
2 . D e a co rd o co m o li n g u i s t a É li e B ajard ( 20 0 5, p. 6), “(...) o s u rd o n a s c i d o d e p ai s
o u v i nte s d e fro nt a-s e co m a difí c il s itu a ç ã o d e n ã o h e rd ar u m a lí n g u a d e s u a fa mília.
P ar a co n q u i s t ar a Lí n g u a d e Si n ai s, a cr ia n ç a s u rd a p re c i s a, i m p e r at i v a m e nte, co nv i ve r
d e nt ro d e u m a co m u ni d ad e d e cr ia n ç a s s u rd a s. A s s i m, a nte s d o dia g n ó s t i co e d o
co nt ato co m e s s a co m u ni d ad e, n ã o p o s s u i u m a lí n g u a m ate r n a. Fre q u e nt a n d o u m a
co m u ni d ad e S u rd a d e u m a i n s t itu i ç ã o e d u c at i v a, a p re n d e u m a ‘p r i m e ir a lí n g u a’.
D e p oi s, e m s u a fa s e d e alfa b e t i z a ç ã o, d e s co b re a lí n g u a p o r tu g u e s a, co m o ‘s e g u n d a
lí n g u a’.” P o r t a nto, u t ili z are m o s o s co n ce ito s d e “lí n g u a p r i m e ir a” e “lí n g u a s e g u n d a”,
q u e s e a p li c a m m e lh o r a o s s u rd o s d o q u e o s co n ce ito s d e lí n g u a m ate r n a e lí n g u a
e s t r a n g e ir a.
3. E m u m i m p o r t a nte Co n gre s s o I nte r n a c i o n al d e Ed u c ad o re s d e S u rd o s, reali z ad o e m
18 8 0, e m M il ã o, o o r ali s m o s aiu ve n ce d o r e o u s o d a Lí n g u a d e Si n ai s, n a s e s co l a s, foi
“ofi c ialm e nte” a b o li d o (ve r S a c k s, 19 9 8, p.4 0).
4.Co nfo r m e a le i nº. 10.43 6, cr iad a e m 20 0 2 e re g u l a m e nt ad a e m 20 0 5, e nte n d e -
s e co m o Lí n g u a B r a s ile ir a d e Si n ai s (Li b r a s) a fo r m a d e co m u ni c a ç ã o e ex p re s s ã o,
e m q u e o s i s te m a li n g u í s t i co d e n atu re z a v i s u al-m oto r a, co m e s t r u tu r a gr a m at i c al
p ró p r ia, co n s t itu i u m s i s te m a li n g u í s t i co d e t r a n s mi s s ã o d e i d é ia s e fato s, o r iu n d o s d e
co m u ni d ad e s d e p e s s o a s s u rd a s d o B r a s il. D e ve s e r gar a nt i d o, p o r p ar te d o p o d e r
p ú b li co e m g e r al e e m p re s a s co n ce s s i o n ár ia s d e s e r v i ço s p ú b li co s, fo r m a s
i n s t itu c i o n ali z ad a s d e a p oiar o u s o e difu s ã o d a Li b r a s co m o m e i o d e co m u ni c a ç ã o
o bje t i v a e d e u t ili z a ç ã o co r re nte d a s co m u ni d ad e s s u rd a s d o B r a s il.
5. A l g u m a s d e s s a s co n ce itu ali z a çõ e s p ar a a s q u ai s s i n ai s p re c i s ar a m s e r cr iad o s s ã o
fi x a s, o u s eja, s e re p e te m a o lo n g o d o s a n o s p o r s e re m e i xo s co n s t a nte s d o c u r s o,
co m o, p o r exe m p lo, “ar te co nte m p o r â n ea” e “e d u c a ç ã o co nte m p o r â n ea”. O u t ro s
a p are ce m e tê m q u e s e r a p rofu n d ad o s e di s c u t i d o s co nfo r m e a s ex p o s i çõ e s q u e e s t ã o
e m c ar t a z n o M A M co m o, p o r exe m p lo, “a nt ro p ofa g ia”, “p a n o r a m a”, “ i d e nt i d ad e”,
“d e s lo c a m e nto” e tc.
# B A JA R D, É li e. E s q u e m a s d e co m u ni c a ç ã o n o p roje to A p re n d e r p ar a E n s i n ar. 20 0 5.
Pe s q u i s a d e o b s e r v a ç ã o d o p roje to “A p re n d e r p ar a E n s i n ar ”, p at ro c i n ad a p e l a
Co m p a n hia B r a s ile ir a d e M e t alu r g ia
e M i n e r a ç ã o.
# G E E R T Z, Clif fo rd. O s a b e r lo c al. Pe t ró p o li s: Vo z e s, 19 9 9.
PA R S O N S, M i c h a e l. M u d a n d o dire çõ e s n a ar te - e d u c a ç ã o co nte m p o r â n ea. I n: V E n co nt ro
s o b re a co m p re e n s ã o e
o p r a z e r d a ar te. S ã o P au lo: S E S C, 19 9 8.
# S AC K S, O li ve r. Ve n d o vo z e s: U m a v ia g e m a o m u n d o d o s s u rd o s. S ã o P au lo: Co m p a n hia
d a s L e t r a s, 19 9 8.
64 C A M I N H O S PA R A
A INCLUSÃO DE PÚBLICOS
I N CLUS ÃO
ESPECIAIS EM MUSEUS: O
PROGRAMA EDUCATIVO
Amanda Fonseca Tojal PARA PÚBLICOS ESPECIAIS
DA PINACOTECA DO
Margarete de Oliveira ESTADO DE SÃO PAULO
Cabe, portanto, aos museus, bem como a todas as instituições culturais, estar
em sintonia com o pensamento contemporâneo de respeito e reconhecimento da
diversidade cultural e social, trabalhando a favor, não somente da comunicação de seus
objetos culturais, sob o ponto de vista multicultural, como também contribuindo para a
democratização social e cultural por meio dos processos de inclusão social.
Dentro desse quadro de referências, o museu, como instituição pública, deve ter por
objetivo não somente a preservação do patrimônio cultural nele abrigado, mas também
o importante papel de promover ações culturais, enfocando o seu potencial educacional
e de inclusão social.
Exemplificando esse relevante papel social que o museu pode e deve cumprir, 65
A Pinacoteca do Estado de São Paulo tem como uma de suas prioridades a ampliação
de ações educativas que possam aprofundar a compreensão das obras de seu acervo a
públicos cada vez mais amplos, iniciativa esta reveladora de uma visão contemporânea
da museologia, que defende a necessidade de tornar os acervos cada vez mais acessíveis
ao público.
Assim, com essa orientação, no ano de 2003 foi implantado o Programa Educativo
para Públicos Especiais (PEPE) como parte das iniciativas da ação educativa da
instituição1.
Esse programa visa atender grupos especiais, compostos por pessoas com deficiências
sensoriais (visuais e auditivas), intelectuais, físicas e com transtornos emocionais, como
também grupos inclusivos, compostos por pessoas com e sem essas deficiências, tendo
como objetivo incentivar e ampliar o acesso desse público ao importante patrimônio
artístico e cultural brasileiro, representado pelo acervo da Pinacoteca.
Uma educadora surda especializada também integra essa equipe, com a função de
realizar visitas educativas para o público surdo, levando em consideração o interesse e
as necessidades desses participantes no universo da arte, por meio da comunicação em
Libras (Língua Brasileira dos Sinais). Durante as visitas educativas são disponibilizados os
seguintes recursos multissensoriais:
1.1. Liberação para apreciação sensorial por meio do toque de obras tridimensionais
originais, principalmente para pessoas com deficiências visuais, acompanhadas pela
equipe de educadores do programa.
2. Publicações especializadas
Entre as parcerias efetuadas, cumpre destacar as que foram realizadas entre a SMPED
(Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida) do Município de
São Paulo, bem como a parceria com a UPPM (Unidade de Preservação do Patrimônio
Museológico) da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, implantando o Programa
de Formação em Acessibilidade e Ação Educativa Inclusiva em Museus, tendo por objetivo
oferecer subsídios para a formação técnico-especializada de educadores e funcionários
de museus, principalmente aqueles pertencentes à rede de museus da UPPM, localizados
tanto no interior como também na capital do Estado.
Por outro lado, acreditando que um programa dirigido a um público específico deva
ser compartilhado por todos que direta ou indiretamente se relacionem com o público
frequentador dessa instituição, o PEPE realiza periodicamente encontros de Consciência
Funcional para recepcionistas, vigias de sala, seguranças e outros funcionários do museu.
Considerações Adicionais
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. O P E P E foi i m p l a nt ad o n a g e s t ã o d o dire to r M arce lo M at to s A r aújo, s e n d o
co o rd e n ad o r a d o N ú cle o d e A ç ã o Ed u c at i v a M il a C hi ov at to.
2. Fa z e m p ar te atu alm e nte d a e q u i p e d o P E P E: A m a n d a Fo n s e c a Tojal (co o rd e n ad o r a),
M ar gare te d e O li ve ir a (a s s i s te nte d e co o rd e n a ç ã o), M ar ia C h r i s t i n a Co s t a (e d u c ad o r a),
S a b r i n a R i b e iro (e d u c ad o r a i nté r p re te d e Li b r a s) e N at ali Co u t i n h o d e S o u z a
(e s t a g iár ia).
3. Proje to e reali z a ç ã o d e A lfo n s o B alle s te ro, co m a s s i s tê n c ia d e J o ã o B at i s t a d e
O li ve ir a.
4. I d e m.
5. Proje to e reali z a ç ã o d e D ay s e d e A n d r ad e Tar r i co n e, co m a s s i s tê n c ia d e M a g d a
P ia n o w s k i.
6. Si n e s te s ia: co m bi n a ç ã o d e d u a s o u m ai s s e n s a çõ e s p ro ce d e nte s d e dife re nte s
d o mí ni o s s e n s o r iai s co m o, p o r exe m p lo, m ú s i c a s, aro m a s o u p al ad are s q u e p rovo q u e m
a a s s o c ia ç ã o co m i m a g e n s, fo r m a s o u s e n s a çõ e s re l a c i o n ad a s co m o s s e nt i d o s d a v i s ã o,
t ato, g o s to, au di ç ã o e o lfato.
7. Proje to e reali z a ç ã o d e I z a b e l B e r te ve lli.
8. Proje to e reali z a ç ã o d e D ay s e d e A n d r ad e Tar r i co n e e R e g i n a M ar t i n e lli.
9. Pro d u ç ã o e n ar r a ç ã o d o au di o g u ia: H é li o Zi s k i n d co m a p oi o d a e q u i p e d o P E P E.
PROPOSTA DE SENSIBILIZAÇÃO
a qualificação profissional vai além das habilidades manuais. (...) Não basta
mais que o trabalhador ‘saiba fazer’ é preciso também ‘conhecer’ e acima de
tudo ‘saber aprender’. (...) As habilidades são atributos relacionados não apenas
ao ‘saber fazer’, mas ao saber agir. (...) Implicam, pois, dimensões variadas:
cognitivas, motoras e atitudinais. (MIRANDA, 2008)
Seguindo esse pensamento, buscamos John Dewey, no livro El Arte como experiência,
que comenta que “a experiência adequada original não é fácil de alcançar, sua
realização é uma prova de sensibilidade natural e de uma experiência madura por
meio de diversos contatos” (DEWEY, 2008:339, tradução minha). São esses contatos
que buscamos proporcionar nas atividades, por meio da interação entre os mais
distintos elementos de Inhotim como obras, pessoas, idéias, etc. Cada nova experiência
transforma a posição do sujeito em relação ao mundo e às pessoas. Ele é capaz de
desenvolver o senso crítico e de ter um olhar transformador.
PARA ALÉM DA MUDANÇA DO OLHAR 73
Em nosso caso, além dos resultados apresentados pela própria Rosemary, obtivemos
também resultados na equipe de monitoria, que experimentou a convivência diária
com uma SD. As melhoras são vivíveis no que se refere à parceria no trabalho. A equipe
de arte-educação aprendeu a aprender através da experimentação e observação. Com
essa ação, Inhotim, enquanto instituição que promove cultura e defende princípios de
acessibilidade, avança para o aperfeiçoamento de suas práticas nesse campo, tentando
aplicar conceitos que permeiam as instituições culturais de todo Brasil.v
74
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. A PA E – A A s s o c ia ç ã o d e P ai s e A mi g o s d o s E xce p c i o n ai s é u m a s o c i e d ad e c i v il,
b e n e fi ce nte d e a s s i s tê n c ia s o c ial, d e c ar áte r c u ltu r al e e d u c a c i o n al vo lt ad a a o
ate n di m e nto d o s p o r t ad o re s d e n e ce s s i d ad e s e s p e c iai s.
2. S D - Sí n d ro m e d e D o w n
#A L M EI DA , M ar i n a d a Silve ir a R o d r i g u e s. Em p re g a bilid a d e d a p e s s o a co m s ín d ro m e
d e d o w n. 20 0 7. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.p s i co lo g ia.co m.pt/ar t i g o s/i m p r i mir_ o.
p h p?co di g o =AO P 0116 >. A ce s s o e m: 2 5 s e t 20 0 8.
# D E W E Y, J o h n. El a rt co m o ex p er ien cia. B arce lo n a: P ai d ó s, 20 0 8.
# F E R N Á N D E Z, A li c ia. O s id io m a s d o a p ren d ente: a n á lis e s d a s m o d a lid a d e s en s in a nte s
co m fa mília s, e s co la s e m eio s d e co m u n ica çã o. P o r to A le gre: A r t m e d, 20 01.
# M E R L E AU - P O N T Y, M au r i ce. A fen o m en o lo g ia d a p erce p çã o. S ã o P au lo: M ar t i n s Fo nte s,
20 0 6.
# M I R A N DA , T h e re s i n h a G u i m ar ã e s. O p la n o n a cio n a l d e q u a lifica çã o d o tra b a lh o: u m a
ex p e r i ê n c ia co m p e s s o a s p o r t ad o r a s d e d e fi c i ê n c ia. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.
a n p e d.o r g.b r/re u ni o e s/2 3/tex to s/1516t.P D F> A ce s s o e m: 0 9 s e t 20 0 8.
# PI R E S, A n a B. M .; B O N F I M , D aia n a; B I A N C H I, L a n a C. P. In clu s ã o s o cia l d a p e s s o a co m
s ín d ro m e d e d o w n: u m a q u e s t ã o d e p rofi s s i o n ali z a ç ã o. 20 0 7. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://
w w w.c i e n c ia s d a s au d e.fa m e r p.b r/r a c s _ o l/vo l-14 - 4/I D2 37.p d f>. A ce s s o e m: 13 s e t 20 0 8.
PROJETO 75
FOTOLIBRAS
14
Mais informações:
www.fotolibras.org
comunicação@fotolibras.org
Amélia Garcia 15
prendemos sempre. Aprendemos até mesmo quando não nos damos conta disso.
Tenho aprendido muito com a professora Luiza Christov, do Instituto de Artes da
UNESP. Num desses dias, diante de alguns formadores de professores, em um curso de
aprofundamento de estudos, lá estava ela trazendo a possibilidade da experiência de
transformar cinzas em rosas.
Muito além dos conteúdos conceituais, Luiza nos ensinou a “provisoriedade”. Isso
quer dizer que, hoje, provisoriamente, teremos a história que se apresenta e sempre
podemos substituí-la, em outras ocasiões, por outras histórias, também provisórias.
Igualmente são as inúmeras informações que recebemos em nosso dia a dia, advindas de
diversos meios e formas: informações provisórias.
Nesse novo cenário, não há lugar para imediatismo, ou seja, buscar resultados sem
reflexão e sem a problematização necessária que os conceitos pré-estabelecidos nos
oferecem. Estamos preparando nossas crianças para serem adultos capazes de interagir
em situações repletas de diversidade e de transformações constantes? Permitimos e
mediamos acessibilidade cultural aos nossos alunos? Possibilitamos ações que permitam
que a acessibilidade e a inserção no universo cultural aconteça? O que hoje é acessível?
Quem são as pessoas que têm acessibilidade aos espaços culturais?
São questões que demandam urgência por ser a cultura uma das portas de entrada
para inserção social. Os currículos escolares, hoje, não permitem que essa acessibilidade
aconteça aos educandos quando não proporcionam ações que possibilitem o contato com
os bens culturais existentes em nosso país, tais como museus, cinemas, galerias, núcleos
históricos, bibliotecas, sítios arqueológicos, entre outros.
78 As políticas públicas pensadas para a sociedade em geral pretendem eliminar as
barreiras físicas e sociais dos espaços, edificações e serviços, garantidos na Constituição
Federal. Para a cultura, a Constituição afirma no Art. 215: “O Estado garantirá a todos
o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional1 (...)”.
A Escola proporciona esses direitos? A área do conhecimento de Arte atua de forma
a garantir que os educandos tenham acesso a visitações, a exposições, a museus, a
espaços e espetáculos, teatros, shows, entre outros?
O texto de Jorge Luis Borges2 “A Rosa de Paracelso”, pode nos oferecer inúmeras
possibilidades de reflexões a partir de um olhar mais cuidadoso em relação à educação
e à cultura, um olhar que nos instigue a pensar e a criar estratégias para vencermos
o desafio de mudar nossa postura diante do inevitável mundo que se anuncia: o do
conhecimento.
De uma experiência em que alguém, a principio, era de uma maneira, ou não era
nada, pura indeterminação, e, ao final, converteu-se em outra coisa. Trata-se de
uma relação interior com a matéria de estudo, de uma experiência com a matéria
de estudo, na qual o aprender forma ou transforma o sujeito. Na formação
humanística, como na experiência estética, a relação com a matéria de estudo
é de tal natureza que, nela, alguém se volta para si mesmo, alguém é levado
para si mesmo. (...) Porque se alguém lê ou escuta ou olha com o coração aberto,
79
aquilo que lê, escuta ou olha ressoa nele; ressoa no silêncio que é ele, e assim o
silêncio penetrado pela forma se faz fecundo. E assim, alguém vai sendo levado à
sua própria forma” (LARROSA, 2004:52).
Essa forma que Larrosa nos aponta de conhecer algo com o organismo todo é uma das
formas de vivenciar uma experiência estética, que pode acontecer de um momento para
o outro ou durante nossa trajetória de vida e formação.
Assim, num conto breve, Borges (2000) traz o que o século XXI aponta e formula
em termos de conhecimento, a oportunidade de dizer de outro modo essa nossa
herança: copiar, reproduzir, transmitir. Os professores-alunos sabem as teorias, possuem
as informações (acesso a internet, cursos, livros), mas precisam se apropriar dos
conhecimentos didático-metodológicos capazes de gerar saberes de como transformar as
informações em conhecimentos para construir situações de aprendizagens.
Escolhemos criar estratégias para que cada aluno encontre o melhor de si e, assim,
possam crer, ter fé e superar-se o tempo todo, fazendo a diferença onde atuarem?
Ou escolhemos transmitir os conceitos culturalmente produzidos pela humanidade,
reproduzindo velozmente cópias e mais cópias de homens não reflexivos, o que na
analogia do conto de Borges (2000) seria fazermos ressurgir a rosa?v
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. Co n s t itu i ç ã o d a R e p ú b li c a Fe d e r at i v a d o B r a s il. T ítu lo V II- D a O rd e m S o c ial. C a pítu lo
III- D a Ed u c a ç ã o, d a Cu ltu r a e d o D e s p o r to. S e ç ã o II- D a Cu ltu r a. A r t i g o 215.
2. B O R G E S, J o r g e L u i s. A ro s a d e P a ra cel s o. I n: O b r a s co m p le t a s. Ed. G lo b o: 20 0 0
3. L A R R O S A , J o r g e. Lin g u a g e m e ed u ca çã o d e p o is d e B a b el. t r ad u z i d o p o r Cy nt hia
Far i n a. B e lo H o r i z o nte: A u tê nt i c a, 20 0 4. p. 161.
M ED I AÇ ÃO CU LT U R A L ARTE, COTIDIANO E 81
CULTURA VISUAL:
PRO M OV E QU E T I P O D E PERSPECTIVAS DE
ACE SSI B I LI DA D E ? UMA ARTE/EDUCAÇÃO
DIALÓGICA
Fernanda Mélo
M aria Juliana Sá 16
arte contemporânea tem oferecido possibilidades para aproximar espectador
e Arte, pois, ao levantar indagações acerca de elementos do cotidiano, a postura
contemplativa do público em relação à Arte pode ser substituída por um caráter
questionador, permitindo uma interlocução mais próxima da realidade e favorecendo a
acessibilidade. Contudo, é fundamental refletir sobre o real sentido da acessibilidade nas
instituições.
Durante as exibições do vídeo Burning Car (2008), foi comum o tema ser tachado
por alguns visitantes como banal. Contudo, ter ao alcance informações sobre protestos
e outras situações envolvendo o símbolo do carro queimado, dava às pessoas a
possibilidade de enxergar uma realidade mais próxima e assumir uma posição crítica em
relação à obra. A partir da junção entre a arte institucionalizada, elementos midiáticos e
o repertório visual individual, foi possível ampliar os elementos reflexivos, superando as
colocações que refletiam apenas um juízo de gosto.
naquele lugar, mas em outras reflexões que poderiam ser suscitadas a partir do tema.
Pensar uma relação entre público e obra onde os múltiplos aspectos da cultura visual
estejam presentes é uma tarefa difícil. Diante do repertório amplo de elementos visuais
que cada indivíduo possui, torna-se quase impossível pensar estratégias educativas que
consigam abranger os aspectos pertencentes à bagagem visual de todos os sujeitos.
Tivemos como prova dessa aproximação, um e-mail que a professora Sandra Buarque
da Escola Aníbal Cardoso nos enviou, contando como a experiência de mediação
vivenciada na exposição havia sido significativa. A professora lembrou que durante o
trajeto da escola para a Fundaj, no dia da mediação, os alunos haviam passado pelo
lixão do município de Ipojuca – PE, colocando esse fato como um aliado importante
para a leitura que o grupo fez do vídeo. Ressaltando inclusive que “A correlação entre a
imagem do lixão e o vídeo (...), será alvo de estudo neste próximo ano”.
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. G r u p o di n a m arq u ê s s u r g i d o e m 19 93, o Co le t i vo S u p e r f lex a p re s e nt a o b r a s q u e
q u e s t i o n a m e alfi n e t a m a reali d ad e e co n ô mi c a e p o lít i c a m u n dialm e nte. É co m p o s to
p e lo s ar t i s t a s Bjo r n s tje r n e R e u te r C h r i s t ia n s e n (19 69), Ja ko b Fe n g e r (19 6 8) e R a s m u s
N i e l s e n (19 69). E nt re a s o b r a s d o co le t i vo, d e s t a c a-s e o G u a ra n á P o wer, t r a b alh o q u e
c au s o u p o lê mi c a n o c irc u ito ar t í s t i co a o s e r i m p e di d o d e p ar t i c i p ar d a 27 º Bi e n al d e
S ã o P au lo. M ai s i nfo r m a çõ e s s o b re o gr u p o p o d e m s e r e n co nt r ad a s n o s ite: ht t p://w w w.
s u p e r f lex.d k /, e m i n glê s.
2. B u r n in g Ca r / Ca rro e m Ch a m a s ( 20 0 8, 11mi n) ex i b e u m c ar ro q u e é i n ce n dia n d o até
q u e s o b re a p e n a s fe r ro s re to rc i d o s e c i n z a s.
3. Tr ad u ç ã o u t ili z ad a n a ex p o s i ç ã o d a Fu n d aj.
4. Flo o d ed M cD o n a ld’s / M cD o n a ld’s In u n d a d a ( 20 0 9, 20 mi n) ex i b e u m a ré p li c a d a
l a n c h o n e te M c D o n ald’s s e n d o p ro gre s s i v a m e nte al a gad a p e l a á g u a q u e a i nv ad e n ã o s e
s a b e d e o n d e, a p o nto d e fi c ar tot alm e nte s u b m e r s a. A i m a g e m i ni c ial é d e u m lu gar
q u e foi a b a n d o n ad o à s p re s s a s, re p le to d e ve s t í g i o s d e li xo e co mi d a.
# B A R B O S A , A n a M a e. A im a g e m n o en s in o d e A rte. 6. e d. S ã o P au lo: Pe r s p e c t i v a, 20 0 5.
p. 13 4. Co le ç ã o E s tu d o s.
_ _ _ _ _ _ . D ile m a s d a A r te/Ed u c a ç ã o co m o m e dia ç ã o c u ltu r al e m n a m o ro co m
a s te c n o lo g ia s co nte m p o r â n ea s. I n: B A R B O S A , A n a M a e (O r g.). A rte/Ed u ca çã o
co nte m p o râ n e a : co n s o n â n c ia s I nte r n a c i o n ai s. 2. e d. S ã o P au lo: Co r te z, 20 0 8. p. 9 8 -112.
# D I A S, B e li d s o n. E nt re A r te/Ed u c a ç ã o m u lt i c u ltu r al, c u ltu r a v i s u al e te o r ia q u e e r. I n:
B A R B O S A , A n a M a e (O r g.). A rte/Ed u ca çã o co nte m p o râ n e a : co n s o n â n c ia s I nte r n a c i o n ai s.
2. e d. S ã o P au lo: Co r te z, 20 0 8. p. 27 7-291.
# FA I R C H I L D, M ar g u e r ite; S E V I G N Y, M au r i ce J. A p re n di z ad o v i s u al: u m a a n áli s e s ó c i o -
li n g ü í s t i c a s o b re a cr ít i c a d e ar te n o e n s i n o d e ar t i s t a s. I n: B A R B O S A , A n a M a e (O r g.).
A rte/Ed u ca çã o co nte m p o râ n e a : co n s o n â n c ia s I nte r n a c i o n ai s. 2. e d. S ã o P au lo: Co r te z,
20 0 8. p. 3 8 8 - 4 03.
# H E R N Á N D E Z, Fe r n a n d o. Cultu ra v is u a l, m u d a n ça ed u cativa e p rojeto d e tra b a lh o.
P o r to A le gre: A r te s M é di c a s S u l, 20 0 0.
# M O R R I S, B alle n g e e. Q u e s tõ e s d e di ve r s i d ad e n a Ed u c a ç ã o e Cu ltu r a V i s u al:
co m u ni d ad e, ju s t i ç a s o c ial e p ó s- co lo niali s m o. I n: B A R B O S A , A n a M a e (O r g.). A rte/
Ed u ca çã o co nte m p o râ n e a : co n s o n â n c ia s I nte r n a c i o n ai s. 2. e d. S ã o P au lo: Co r te z, 20 0 8.
p. 26 4 -276.
# T H I S T L E WO O D, D av i d. A rte co nte m p o râ n e a n a ed u ca çã o: co n s t r u ç ã o, d e s co n s t r u ç ã o,
re - co n s t r u ç ã o, rea çõ e s d o s e s tu d a nte s b r a s ile iro s e b r it â ni co s a o co nte m p o r â n e o. I n:
B A R B O S A , A n a M a e (O r g.). A r te/Ed u c a ç ã o co nte m p o r â n ea: co n s o n â n c ia s I nte r n a c i o n ai s.
2. e d. S ã o P au lo: Co r te z, 20 0 8. p. 113-12 5.
M ED I AÇ ÃO CU LT U R A L MECANISMOS DE 85
MEDIAÇÃO DA OBRA DE
PRO M OV E QU E T I P O D E ARTE: POSSIBILITANDO
ACE SSI B I LI DA D E ? EXPERIÊNCIA OU
AMPLIANDO O ACESSO À
INFORMAÇÃO?
Mas será que essas informações, trazidas pelos livros especializados, catálogos,
folders, textos curatoriais e até percursos cenográficos, podem sinalizar ao público o
início do caminho em direção à fruição na leitura da obra de arte? Será que, de fato,
diante de todas essas possibilidades de mediação que a contemporaneidade nos oferece,
o educador passa a ser dispensável? Ou será que esses mecanismos apenas nos permitem
acessar as informações antes desconhecidas? E se a presença do educador ainda é
importante, por que é? Para avaliar a acessibilidade proporcionada por esses mecanismos
é preciso refletir um pouco sobre o papel da obra de arte e analisar a intenção desses
elementos que medeiam a relação entre obra e público.
Segundo Larrosa, o papel da obra de arte – mais precisamente de sua leitura – não
é apenas nos trazer novos conhecimentos, mas proporcionar uma relação mais estreita
entre esses conhecimentos e o que somos. Segundo ele,
Para Dewey (1974:102), nossa relação com a obra de arte não pode ser passiva. Ao
acessarmos esses mecanismos mediadores e recebermos as informações oferecidas
por eles, precisamos conseguir desdobrá-las em reflexões e respostas que nos ajudem
a construir um conhecimento e não apenas a acumular informações. Segundo ele,
“receptividade não é passividade. É também um processo que consiste numa série de
atos de respostas que se acumulam, direcionados para a culminância objetiva.”
Assim, nesse espaço possibilitador de experiências que a obra de arte nos oferece,
o educador pode ser o agente que cria situações, que ordena conceitos, que propõe
gestos de interrupção, nesse tempo que nos ocorre, que desestabiliza e convence o
público, acumulador de informações e cheio de opiniões, a se expor para assim ouvir
as interpelações da obra, permitindo-a cumprir seu papel formador e trans-formador. A
partir de então, o acesso às informações sobre a arte, proporcionados pelos textos, livros
e catálogos poderão transformar-se em mecanismos que abrem janelas e que disparam
dispositivos de reflexão, discussão e questionamentos.
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. C AU Q U E L I N, 20 0 5. p. 5 0.
Não se pode negar que ainda persiste, para muitas pessoas, um imaginário museal
carregado de conceitos e preconceitos obscuros e tortuosos, como aqueles que remetem
museus à imagem de espaço silencioso, bolorento e destinado a poucos. Mas verdade
é que essa ideia vem sendo paulatinamente substituída pela concepção de museu
como instituição viva, acolhedora e aberta aos diferentes públicos. É justamente por
essa pluralidade de sentimentos e experiências vivenciados na relação do público
com os museus que estes estão, dia a dia, sendo mais procurados. Já não é mais justo
afirmarmos genericamente que as pessoas não vão aos museus. Certamente ainda não
vão tanto quanto gostaríamos, mas as políticas culturais, em particular, as museais,
mudaram muito no cenário brasileiro dos anos recentes. Hoje o papel educativo dos
museus volta a ganhar força, mas já com outros contornos e preocupações – entre elas, a
questão da acessibilidade.
como esse, outros tantos museus, brasileiros e estrangeiros, vêm buscando redefinir seu
papel educativo, criando uma pedagogia museal – o que nos interessa neste artigo são as
estratégias voltadas, particularmente, aos pequeninos.
Portanto, embora tenha um acervo que abriga obras antigas caracterizadas por sua
não interatividade, a Tate Britain procura reforçar, através de seus processos mediáticos,
a perspectiva de acessibilidade; de museu como espaço de congregação e produção de
sentidos; espaço de criação. Winstanley (2007) chama esse papel híbrido dos museus de
edutenimento (edutainment = education + entertainment). Essa mesma perspectiva é
encontrada na Tate Modern – outro museu londrino que trago para nosso diálogo.
Nesse espaço museal a proposta educativa varia com cada mediador, mas
genericamente entendem que as crianças são mais sensíveis e, portanto, mais abertas
aos estímulos sensoriais. Por isso, em muitas de suas propostas para elas, partem do
corpo; vão para a experiência vivida; e, por fim, o ambiente. Diferentemente da Tate
Britain, que atua o tempo todo na galeria, na Tate Modern fazem esse preâmbulo inicial
90 em salas especialmente destinadas ao público infantil e só depois as levam para as
galerias. Brincar de perceber os “círculos” e também as “bolas” (esferas) que temos
no corpo; em seguida nos objetos que estão dentro de um “saco surpresa”, podendo
brincar então com diversas esferas e círculos de diferentes tamanhos, cores e texturas;
depois, seguir pelo Museu procurando círculos nas obras de arte expostas, comentando-
os, discutindo semelhanças e diferenças; e, ao final, ainda fazer uma atividade plástica
coletiva envolvendo esse mote – é um tipo de proposta oferecida nesse Museu londrino
para os pequeninos.
O Museu tem uma série de programas para famílias e comunidades, com o objetivo
maior de encorajar o aprendizado ativo e construir uma relação de segurança com a
arte contemporânea, procurando explorar seus temas e ideias através da ludicidade.
Um quiosque disponibiliza uma espécie de cardápio com os jogos a serem escolhidos. Os
profissionais que ali trabalham devem explicar cada um e avaliar, pela idade e número
de pessoas do grupo familiar, qual é a melhor sugestão: existem “detetives de arte” e
“inspetores de arte”, que são mais investigativos; quebra-cabeças e dominós, que são
bem requisitados; ou jogos para famílias mais numerosas – propostas que privilegiam
o desenvolvimento da observação e do olhar de forma lúdica e criativa, nas quais o
papel da imaginação é destacado como sendo de máxima importância na constituição
de sentidos e que, na maioria das vezes, acolhem diferentes respostas. Há ainda sofás
e mesas com livros, ou com dispositivos eletrônicos e interativos; bem como diferentes
materiais para as pessoas registrarem suas experiências no Museu; além da distribuição
permanente de propostas de atividades voltadas às obras da coleção que podem ser
feitas na galeria, ou em casa.
Vários museus brasileiros têm estruturado seus setores educativos de forma a acolher
o público infantil, embora não sejam todos os que recebam crianças pequenas. Parece
que isso se dá porque, no que concerne ao atendimento aos grupos escolares, nos
museus em geral, podemos encontrar basicamente duas posturas que refletem a relação
deste com a criança: aquela na qual parecem solicitar mais a participação das crianças
em sua dimensão imaginativa, dando-as oportunidade de experimentar, testar hipóteses,
falar, perguntar, ao mesmo tempo em que são desafiadas a problematizarem suas
descobertas, recebendo informações que desestabilizam as aparentes certezas – como
os exemplos supracitados; e uma segunda, que privilegia um conhecimento exterior à
criança e que se concentra em transmitir informações, alicerçadas em conhecimentos
de História ou, em muitos casos, buscando uma fala ligada aos conteúdos programáticos.
Certamente essa segunda opção dificulta o acesso dos pequeninos.
Mas o que dizem as próprias crianças sobre isso? Flores (2007) reuniu grupos de
escolares de 9, 10 anos, de um colégio particular no Rio de Janeiro, com experiência
prévia em visitação de museus, e investigou o que eles achavam sobre as mediações
que tinham experienciado nos diferentes espaços museias. Só para destacar alguns
comentários:
João Vitor (4ª série) – Quando o guia fala é chatão. Ele fala um tempão e depois
a gente tem que gravar tudo! Ele fala, a gente fica umas três horas no museu! Ele fica
falando umas três horas no museu. Não deixa a gente ver! Quando a gente vê, “Isso
daqui é tarará, tarará e tarará.”. Não dá nem espaço pra gente ver. Já sai falando tudo e
não dá pra gravar nada!
Beatriz Melo (3ª série) – Uma coisa que eu não gosto e que a maioria das pessoas
falou é que tem que ficar escutando o guia e também não pode tocar nas coisas (...).
Aymara (3ª série) – Eu acho legal que a gente aprende várias coisas e eu acho chato 91
três coisas: ouvir o guia, não poder ficar tocando nas coisas, nem passar das linhas
marcadas.
Clara (3ª série) – Eu adoro quando pode mexer, fazer coisas no museu e não gosto
que na maioria das vezes não pode tocar, e você chega perto finge que vai tocar aí já
falam “Não pode tocar!” (Fazendo uma cara feia.)
A informação exterior que parece ignorar a opinião daquele que contempla causa
incômodo. Também as crianças mostram que seus cinco sentidos estão aguçados na
visitação – e não apenas os olhos que veem os objetos, ou os ouvidos que escutam o
mediador. Se considerarmos crianças menores isso fica ainda mais evidenciado.
Young (2007) destaca que o mais importante, nos processos de fruição, é que todas
as crianças, de qualquer nível de habilidade, devem sentir-se convidadas a participar.
Para isso, costuma dizer aos grupos que cada um deve envolver-se com a exposição
“do nosso jeito pessoal/particular uma vez que todos vamos olhá-la através de nossos
próprios olhos; mas se partilharmos nossas percepções individuais, então esta imagem
vai ter um sentido mais acurado para nós na medida em que aprendemos com as
observações dos outros” (p. 2) – e assim ampliam-se as possibilidades de cada um
“expressar suas próprias ideias, valores e sentimentos” (idem).
A questão que se coloca para ela é como levar o diálogo adiante; o desafio maior
é saber perguntar e ouvir. Sublinha que crianças fazem perguntas inesperadas e, se
não satisfeitas com as respostas, insistem na questão. Por isso defende que seja tão
importante que, de um lado, saibamos ao máximo sobre aquilo que iremos explorar com
elas; de outro, possamos favorecer seu processo imaginativo, respeitando seu tempo e
sua fala.
Para Hosak (2007), o objetivo do mediador é abrir perguntas que ajudem a explorar
os objetos de forma a despertar o olhar do contemplador; fazer da visita um momento
prazeroso que suscite o desejo de o espectador voltar ao museu. Nos museus de arte,
por exemplo, não se trata de dar aulas sobre o pintor, sobre a pintura, ou mesmo de
História da Arte. “O desafio é fazer a criança penetrar na pintura, e imaginação é a
palavra-chave para isso”, diz ela.
Na mesma linha que Flores (op. cit.), Ganzer (2007) também investigou a opinião
de crianças, mas as de sete a dez anos, da rede pública do Rio Grande do Sul,
majoritariamente sem experiências museias anteriores. Indagando se a menina Luiza,
que acabara de visitar um museu de arte pela primeira vez, achava que deveria mudar
alguma coisa na mediação feita, ela prontamente respondeu:
Luisa – É, é que eu começava a olhar uma coisa que me interessava e já tinha que
olhar outra, fica difícil.
O autor sinaliza, também, para outra importante questão, tão presente nas diversas
práticas educativas: as obras podem ser inspiradoras, mas não devemos estimular
as crianças a copiá-las – ao contrário, devem ser entusiasmadas a criar suas próprias
respostas e expressões a partir do visto. A relevância dada à autoria está presente não
apenas na perspectiva da produção, mas também da apropriação. Sugere que as crianças
devem aprender a interrogar o estranho, enfrentando e adentrando seus mistérios:
“uma imagem ou objeto tem o potencial de nos estimular, nos desafiar e enriquecer
nossas vidas” (p. 261). Encorajar a multiplicidade de visões e autorias está na base
da pergunta feita às crianças: “Estamos todos vendo o mesmo quadro?” – a partir da 93
Alguns museus brasileiros, assim como a londrina Tate Modern anteriormente citada,
criam salas especialmente destinadas às atividades com turmas escolares. Embora
possam favorecer o desenvolvimento de atividades bastante interessantes, o cuidado
que se deve ter diz respeito à diluição de fronteiras entre o museu e as instituições de
ensino formal, como a escola, podendo gerar a tão indesejada escolarização dos museus
(Leite, 2005). Santos (1997) aponta para o risco desse tipo de associação, uma vez que “a
‘escolarização’ do museu seria um equívoco, visto que este deveria procurar promover
atividades baseadas em metodologias próprias – um ‘fazer educativo-museológico’ – que
também poderia chamar-se de ‘museologia criativa’ (p. 28)” (apud Leite, 2005: 37).
No museu pode-se melhor desenvolver a aprendizagem sensorial, espacial, estética e
tantas outras específicas que diferem das escolares; e ainda sem a pressão da avaliação,
do tempo espremido, das exigências curriculares. Isso diz ainda do fortalecimento da
parceria museu-escola – como outras relações sociais, essa também não se constitui
sem conflitos; talvez a ambos falte o exercício de alteridade; de perceber que o papel
educativo dos museus não é o mesmo da escola; bem como o papel do educador de
museu tampouco é o do professor; assim como as atividades propostas em cada uma das
instituições guarda especificidades; e, ainda, que o próprio espaço do museu é diferente
do escolar.
Cabe ressaltar que quando penso as diversas formas de exponibilidade, não defendo
que crianças pequenas devam participar exclusivamente de exposições interativas.
Os exemplos dados anteriormente acerca das experiências na Tate Britain e Modern
mostram que é totalmente possível pensar em formas de fruição sensoriais que não
94 incluam tocar os objetos quando esses não podem ser manipulados. Entretanto, isso não
exclui que pensemos em outras possibilidades para o toque, como o uso de réplicas,
oferecidas na galeria tátil do Museu do Louvre, em Paris, só para citar um exemplo.
Mesmo não sendo condição, é inegável que poder tocar ou viver experiências diretas
com os objetos favorece a apropriação dos pequeninos, facilitando sua experiência
estética singular – o desafio é criar formas diferentes para isso. Phillips (2007) destaca
que um dos maiores desafios para a educação em museus hoje, diante de tantas
possibilidades que se configuram, é oferecer ao visitante propostas também criativas;
uma surpresa, uma nova possibilidade de aproximação dos objetos museais – afinal, para
o autor, as experiências museais devem ser a base de um pensamento reflexivo mais
autônomo e autoral.
Por fim, cabe lembrar que crianças pequenas não vão sozinhas aos museus e esse
talvez seja o primeiro e maior obstáculo a ser enfrentado – aquele que diz respeito ao
adulto que a leva:
(...) não é difícil perceber e reconhecer o papel que o adulto assume como
mediador da criança frente aos equipamentos culturais disponíveis em seu
entorno. Desta forma, enquanto adultos considerarem museu espaço de coisa
morta, mais remota será a possibilidade de a criança ressiginificar esta visão
e poder, então, experimentar a relação com o museu como espaço de troca,
descoberta, produção de sentido, criação, espaços de memória, de história, de
vida. (LEITE, 2006:81)
Este artigo não se pretende conclusivo, mas mais um convite a novas questões. Suas
reflexões, embora sempre provisórias, possibilitam a percepção dos diferentes modos
de entender o papel social do museu (que variou desde espaço sagrado e silencioso, a
espaço de troca e de produção de conhecimento); bem como defender a importância
e urgência de se solidificar políticas de inclusão nas diferentes instituições de cultura,
entendendo que o acesso à mesma é direito inalienável de todos – incluindo nesse todos,
as crianças pequenas. Nesse sentido, indica que a fruição e a criação das crianças
necessitam da consolidação do museu como espaço encantamento e o afloramento da
emoção... Bases essenciais dos processos de fruição e criação infantis.v
95
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. E s te tex to i n co r p o r a p ar te s d o ar t i g o “O m u s e u co m o e s p a ço d e a p ro p r ia ç ã o
e p ro d u ç ã o ar t í s t i co - c u ltu r al i nfa nt il”, a p re s e nt ad o n o M i n h o/P o r tu gal, e m 20 0 8.
A s re f lexõ e s n e le p re s e nte s e s t ã o p re s e nte s e m mi n h a p e s q u i s a d e p ó s- d o u to r ad o
i nt itu l ad a “M u s e u m’s a n d g a ller ie s’ ed u catio n in L o n d o n – a n o ut s id er v iew ”,
d e s e nvo lv i d a d e ja n e iro a ju n h o d e 20 0 7, n a Ro eh a m pto n U n iver s it y, L o n d re s-
I n gl ate r r a. S e u o bje t i vo foi p e rce b e r d e q u e fo r m a s e te d o s m u s e u s b r it â ni co s (M u s e u m
of Child h o o d; P o llo ck’s To y M u s e u m; Fo u n d lin g M u s e u m; S cien ce M u s e u m; Tate B r ita in;
Tate M o d er n e T h e N atio o n a l G a ller y) favo re c ia m, o u n ã o, o s p ro ce s s o s d e a p ro p r ia ç ã o
e p ro d u ç ã o d e co n h e c i m e nto s p o r p ar te d e p rofe s s o re s e alu n o s.
No “grande dia”, ou os três grandes dias já que foram muitas turmas, cada aluno
tinha uma felicidade tão grande no olhar, no gesto, na fala, que lembrei logo de minhas
saídas da escola para essas atividades extracurriculares e o quanto eu gostava delas.
O quanto as mesmas tocaram-me de uma maneira que até hoje se torna um marco em
minha vida. Voltemos aos alunos. Lá, todos os procedimentos adotados (DURANTE)
nos museus e instituições culturais foram praticados: uma conversa anterior como um
processo de sondagem do conhecimento do grupo e encaminhamentos de processos de
visualização do acervo. E foi exatamente nesse momento que tivemos um problema onde
era para haver uma possibilidade de concretizar uma experiência única. A comunicação
entre educador e público aconteceu, segundo alguns estudantes, com ruídos de
compreensão.
Para qualquer um dos exemplos acima citados o espectador sai do rumo de sua
trajetória já programada, portanto automática, de recepção dos elementos do mundo e
passa a analisar criticamente (e ativamente) o que acontece no seu entorno até se sentir
seguro para prosseguir. Sai do automatismo racional. Fazendo-se assim, nesse processo
de sedução, que seja executada uma corporificação do conhecimento (Duarte, 2008:36).
Segundo Duarte, a corporificação acontece quando temos conhecimento de fato do que
estamos observando; é como se sentíssemos o estopim, o eureka, de uma situação, ou
como o mesmo explana:
A cada imagem assimilada, incluindo aqui cada som, cheiro ou gosto, novas
informações poderão ser acrescentadas e novas memórias poderão ser escritas. Mas, não
é suficiente. Nosso estar no mundo parece depender da busca cada vez mais centrada
em ações que nos deem um novo sentido para o que nós já conhecemos, e isso não é
apenas uma busca pela inferência2 dos fatos do mundo. É a pura concretização de uma
experiência, a partir da assimilação dos fatos que nos acontecem, que nos modificam.
Buscar nos meios que nos circunda a resposta para as situações em que nos
encontramos parece ter sido sempre um desdobramento da própria vivência humana.
Constatamos que a ação constante que fazemos ao selecionarmos imagens comuns
a nossa percepção diária, presentes nos nossos cotidianos (principalmente quando
apresentadas num novo contexto) e transformá-las numa nova imagem-informação, faz-
nos espectador-participador mais ativo nas reflexões que nos são direcionadas (algumas
vezes, condicionadas) a partir do uso do espaço-tempo.
Isso porque o tempo todo nós absorvemos informações que nos conectam através
dos sentidos a nossa presença no mundo, passando a ser um desafio compreender
os mecanismos que as transformam num elemento diferencial que termina por nos
98 modificar. Poderíamos citar como exemplo desse encontro, o som do mundo. Som esse
que se transforma em sensações, que gera imagens, que cria conceitos, que nomeia as
coisas, que elabora status, que gera barreiras (ou aproximações), que acomete o juízo,
que se desdobra num gesto, que... que..., ou seja, que está em constante transformação
em nossos registros de inferências.
Para que percebêssemos essa nova informação, segundo Larrosa (2004:152), seria
preciso que acontecesse “um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos
tempos atuais” que fosse o produto da experiência vivenciada. Pois, “a experiência é um
encontro”. Isso porque a mesma não é a simples conclusão de uma ação, e sim “o que
nos passa, ou o que nos acontece, ou o que nos toca” (grifo nosso).
Sendo assim, podemos considerar que ela tem sua existência comprovada,
geralmente, quando observarmos algo, a partir de estímulos ocasionados pelo uso de
recursos diversos (o “gesto de interrupção”) e somos levados a transitar em espaços que
são compreendidos como alicerces de memórias (individuais e coletivas) que se retêm na
malha nostálgica4 enquanto registro de uma presença vitalícia no mundo.
Aparentemente tudo se resume aos modos de percepção. Mas para que isso aconteça
é preciso empenho.5 Podemos compreender a percepção se levarmos em conta o
processo pela qual a mesma acontece. Segundo Ching (2007:4), quando recepcionamos
uma informação imagética são os olhos que captam através de “impulsos energéticos em
forma de luz” o que de mais simples podemos captar diante do todo da forma observada,
e é dessa observação que são extraídas “as características visuais básicas” que nos
ajudarão a efetuar a interpretação mental, “a inferência sobre o mundo”. Mas, para que
esse processo fixe-se em nossa mente é preciso que utilizemos essas características que
foram assimiladas de modo a melhor compreendermos o que observamos criando um 99
único significado que possa facilitar o registro mental, ocasionando assim a inferência.
Sendo assim, acrescentamos informação ao que percebemos a cada vez que não
sentimo-nos satisfeito com a quantidade de dados que foram levantados, ou que foram
possíveis de serem organizados acerca do elemento visualizado. Quando sentimo-nos
satisfeitos, armazenamos e partimos para o próximo item a ser conhecido-memorizado-
armazenado, ad continuum.
Até porque,
Que malha invisível, portanto, existe entre o público e a obra, que parece ser repleta
de recordações, reconhecimentos de si, percepção do meio em que está inserido,
entre tantos outros fatores, e que cria formas de memórias individuais e coletivas
que se emergem a partir do contato desse público com os elementos imagéticos
constantemente, embora nem sempre visualmente, reconfigurados?
Sendo assim, a relação de ser aquele que produz ou absorve (o que é uma constante)
sempre é intercambiada por aquele que escolhe. Pois, o que acontece é uma troca (logo,
um diálogo) constante entre as partes, mesmo que seja no mesmo ser, que seleciona as
imagens e informações do mundo e compõe suas próprias inferências e as transmitem
através de opiniões, gestos ou produções. Podemos, inclusive, chamar esse ato de
intercambiar de interação, já que a mesma permite uma troca constante de informações
que são transformadas, retransformadas e facilitando inclusive uma nova abordagem
Bom, é por isso que foi dito que “a comunicação (...) aconteceu (...) com ruídos de
compreensão”. Alguns alunos receberam tantas informações, algumas das quais eles
não compreenderam do que se tratava, que terminaram com uma ideia equivocada da
mediação. É verdade que amaram ver fora da sala de aula as imagens que havíamos
trabalhado na disciplina e gostaram do lugar em que foram expostas. Mas, acharam que
“visitar o museu era chato demais. Falam muito e não entende nada”. Que pena! Vai ser
preciso uma nova chance para conquistar esse público de modo que disseminem o que
de bom há numa visita a um espaço cultural e percebam nos objetos e ideias expostas
meios de se perceber no mundo.v
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S 101
1. E nt re v i s t a p u b li c ad a n o Ca d er n o d e tex to s D iá lo g o s entre A rte e P ú blico: d o s
d iá lo g o s q u e te m o s a o s d iá lo g o s q u e q u ere m o s, v. 1 (Pre fe itu r a d o R e c ife, 20 0 8).
2. Te o r ia d e s e nvo lv i d a p o r C h r i s A r g y r i s, e m 19 9 0, co n h e c i d a co m o “ E s c ad a d a
I nfe rê n c ia” (L a d d er of Inferen ce), q u e s u g e re q u e ad ot a m o s co n ce ito s b a s ead o s e m
co n clu s õ e s e fe tu ad a s dia nte d o q u e o b s e r v a m o s (m e s m o s e m te re m s i d o co m p rov ad o s),
a cre s c i d o s p o r ex p e r i ê n c ia s p a s s ad a s. A p ó s ve r o u o u v ir al g u é m fal ar o u a g ir, a s
p e s s o a s a b s o r ve m e s o m a m a s n ov a s o b s e r v a çõ e s/i nfo r m a çõ e s co m s e u co nju nto d e
s u p o s i çõ e s já ex i s te nte, al g u m a s ve z e s i n c it a n d o a çõ e s q u e tê m a p e n a s u m a re l a ç ã o
di s t a nte e m re l a ç ã o a o q u e foi o r i g i n alm e nte o b s e r v ad o o u o u v i d o. (D e gr au s d a e s c ad a
d a i nfe rê n c ia: M in h a s cren ça s influ en cia m o s d a d o s q u e s elecio n o = Co leto to d a s a s
info r m a çõ e s d o m u n d o co m o o s d a d o s e a s ex p er iên cia s o b s er vá veis » Eu s elecio n o
d a d o s a p a rtir d o q u e o b s er vo » Eu a b s o r vo s ig n ifica d o s (cultu ra is e p e s s o a is) » Eu
fa ço s u p o s içõ e s b a s e a d a s n o s s ig n ifica d o s q u e a b s o r v i » Eu tiro co n clu s õ e s » Eu a d oto
cren ça s s o b re o m u n d o » Eu ajo d e a co rd o co m min h a s cren ça s.)
3. A q u i a p al av r a co n u rb a rd a é u s ad a e n q u a nto v ar ia ç ã o d a p al av r a co n u r b a ç ã o, q u e
é e s s a u nifi c a ç ã o d a m alh a u r b a n a. S e n d o e n co nt ro n o q u al n ã o s e p e rce b e, a n ã o
s e r gr afi c a m e nte, o s e u i ní c i o n e m fi m g e r a n d o a s s i m n u m a u ni d ad e. Co n u r b ard a,
p o r t a nto, é a d e n o mi n a ç ã o u s ad a p ar a d e m o n s t r ar, hi p ote t i c a m e nte, a di s t â n c ia e nt re
lo c ali d ad e s q u e, n a ve rd ad e, ex i s te co m o co nt i n u i d ad e.
4. A m alh a n o s t ál g i c a, q u e é u m e le m e nto o n d e o co r re o s e n co nt ro s, é i n co r p ó rea e
co n s i s te d o s e le m e nto s i n co r p o r ai s co m o o lu gar, o te m p o, o v a z i o e o ex p r i mí ve l.
A n n e C au q u e li n (Freq ü enta r o s in co r p o ra is : co nt r i b u i ç ã o a u m a te o r ia d a ar te
co nte m p o r â n ea. S ã o P au lo: M ar t i n s Fo nte s, 20 0 8.) n o s fa z re f le t ir s o b re e s s e e s p a ço
i n co r p o r al o n d e i s s o o co r re, p oi s, “n a re co rd a ç ã o d e u m e n co nt ro, d á-s e o m e s m o:
fo r m a s – u m ro s to, u m g e s to, u m a co nve r s a, o p e d a ço d o jardi m o n d e o e n co nt ro te ve
lu gar – d e s t a c a n d o -s e co m o fi g u r a s co nt r a u m fu n d o.”
5. “Ate n ç ã o: a p e rce p ç ã o re q u e r e m p e n h o” é fr a s e c h ave d e to d a s a s o b r a s d o ar t i s t a
c at al ã o A nto ni M u nt ad a s d e s d e a d é c ad a d e 9 0, q u e e n co nt r a n o s p ro d u to s d a s mídia s
u m m o d o d e c au s ar u m a re co nfi g u r a ç ã o d a s a çõ e s h u m a n a s, di v u l gad a p e l a mídia,
p r i n c i p alm e nte n o c a m p o p o lít i co. Pe r mit i n d o a s s i m u m a re f lex ã o co n s t a nte dia nte
d a p e rce p ç ã o d o s m o d o s q u e a i nfo r m a ç ã o é mi diat i z ad a e m a ni p u l ad a, le v a n d o o
e s p e c t ad o r à p e rce p ç ã o d e s i. A i m a g e m e a i nfo r m a ç ã o m a ni p u l ad a s n o s c au s a m
t a m b é m re f lexõ e s s o b re a te m p o r ali d ad e d o s di s c u r s o s, g e r a n d o n ov a s i nte r p re t a çõ e s a
c ad a n ov a co n ex ã o q u e é e fe tu ad a n o ato d e o b s e r v ar, e n ã o a p e n a s d e ve r.
6. A it i n e r â n c ia é u m co n ce ito u t ili z ad o n o s m e i o s d e co m u ni c a çõ e s e e s t á re l a c i o n ad o
co m a c a p a c i d ad e d e u m di s p o s it i vo d e m ove r-s e d e u m e s p a ço p ar a o u t ro. O ve r b e te
t a m b é m é e n co nt r ad o co m o te r m o itin era nte n a s área s d a s c i ê n c ia s s o c iai s, p o lít i c a s
e d a hi s tó r ia e re l a c i o n a-s e a p e rce p ç ã o d e u m co m p o r t a m e nto d o le ito r (c uja a ç ã o d e
le r é g e r alm e nte co n s i d e r ad o u m ato d e a b s o rç ã o p a s s i v a), d e m o n s t r ad o p e lo e s tu di o s o
R o g e r C h ar t i e r (q u e c it a M i c h e l d e Ce r teau), co m o o ato d e c ar áte r di n â mi co n a le itu r a
q u e p e r mite u m a co n s t a nte i nte r at i v i d ad e e nt re a s p ar te s (le ito r e le itu r a).
7. “A fu n ç ã o d a ar te/1” é u m p e q u e n o tex to d e Ed u ard o G alea n o (O li v ro d o s a b r a ço s,
19 91) q u e fal a d a re l a ç ã o d e u m m e ni n o co m o m ar. Co m o n ã o o co n h e c ia, p e d e a o p ai
e s s a v i s u ali d ad e. Ve r o m ar d e p e r to lh e t ir a a fal a e g e r a n u m p e di d o: “– M e aju d a a
o lh ar ”.
8. N a le itu r a d e i m a g e n s h á al g u n s p e s q u i s ad o re s q u e c h a m a m o p ro ce s s o d e
a m ad u re c i m e nto d o s m o d o s d e p e rce b e r/le r u m a i m a g e m d e e s t á g i o s. Co m o exe m p lo,
p o d e m o s c it ar A bi gail H o u s e n (19 83) e M i c h a e l P ar s o n s (19 8 7 ), d e nt re o u t ro s, q u e fal a m
d e c ad a e t a p a d o p ro ce s s o (q u e p o d e m d u r ar te m p o s d e dife re nte s m e di d a s).
Onde ocorre?
Direção
Departamento de Música
Professores
O Projeto prevê, nas ações dos professores, um embasamento nos Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCNs (1998) e os objetivos pedagógicos gerais propostos são enunciados a seguir:
• Desenvolver os aspectos: físico, intelectual, emocional, psicomotor e perceptivo dos alunos das
escolas regulares atendidos pelo Projeto;
• Partilhar conhecimentos para que o aluno demonstre prazer em compreender a música como
disciplina e forma de expressão;
• Trabalhar o indivíduo e seu meio, considerando-o um elo com sua própria comunidade e com a
natureza.1
Psico-emocional e motor
Autoconhecimento e autoestima
Integração social
Quadro 1. Abrangência e expectativas dos objetivos pedagógicos gerais do Projeto “Música na Escola”
10 4 O Conteúdo Programático adotado apresenta, de início, algumas questões
conceituais, relativas à teoria, à prática, ou à Literatura. São elas:
• que é som?
• que é escuta?
• que é música?
• Consciência e domínio motor para manuseio dos instrumentos musicais e da voz, tanto
para a fala, quanto para o canto (interpretação e execução musicais), principalmente na
busca de procedimentos lúdicos e forma interativas entre os grupos de instrumentos e o
canto coral.
Como reflexo do trabalho musical nas escolas, espera-se que os alunos desenvolvam
a concentração, a escuta reflexiva e crítica, a criatividade, a integração, a sociabilidade
e o senso de coletividade. Esse processo permite a fixação do conteúdo desenvolvido
em sala de aula, bem como as possíveis adaptações, por vezes, necessárias pelas
peculiaridades de cada escola: estrutura física, número de alunos, faixa etária,
interesses, habilidades e outros.
pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores talentosos
ou músicos profissionais. (pcns, 1998:77)
De forma cronológica, o Plano de Ensino prevê duas etapas com a duração de dois anos
letivos cada. Esta procura adequar as estratégias de ensino à grade curricular dos quatro
anos, correspondentes ao período da 1a à 4a séries (Ciclos I e II) e ao período da 5a à 9a
séries (Ciclos III e IV).2 No entanto, observe-se que, na maior parte das escolas, o Projeto
atende ao período da primeira fase: 1a à 4a séries escolares.
• Percepção sonora: observação e análise do som ambiente, internos e externos, e reprodução dos
mesmos (onomatopeias);
Parte-se, então, após dois anos, à segunda etapa, na qual o conteúdo trabalhado é
mais denso e específico do que o desenvolvido na etapa anterior. Os objetivos se voltam
para a técnica e conhecimento aprofundado da linguagem musical, apoiando-se nas ações
procedimentais do desenvolvimento musical. Essas ações englobam:
• Jogos cantados que reforcem o desenvolvimento estrutural de elementos como ritmo, afinação,
concentração e criação musical em conjunto;
• Exercícios vocais e aplicação nas aulas de Canto Coral: prática de exercícios de relaxamento,
10 6 respiração, vocalizes, canto de melodias simples em uníssono ou em várias vozes e
improvisação;
• o comportamento dos alunos diante das eventuais frustrações sofridas por eles, em
relação ao próprio desempenho técnico ou dos conteúdos trabalhados e ajuda a encontrar
formas de superação de dificuldades.
• a capacidade de conhecimento dos alunos, no que se refere aos aspectos de gênero, estilo
e época, dentro do repertório estudado ou interpretado.
• o manuseio consciente dos materiais musicais, tais como: partituras, cifras e registros
fonográficos, com respeito, e a sua valorização pela conscientização de sua importância 10 7
histórico-cultural.
Essa observação permite a discussão, por meio de avaliação conjunta, dos progressos
observados nos alunos avaliados, priorizando-se, na valoração do observado, as conquistas
por eles realizadas; analisam-se, também, as possíveis frustrações dos alunos, de forma
consciente, sensível e crítica. Além disso, discute-se o alcance social das aulas de música nas
escolas e seu reflexo na comunidade local.
Considerações
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. Fo nte: p roje to “m ú s i c a n a e s co l a” ( 20 0 6/20 0 7 )
2.O b s e r v a-s e q u e d e s d e 20 0 7 o c u r s o fu n d a m e nt al au m e nto u p ar a n ove a n o s d e d u r a ç ã o,
a b s o r ve n d o, n o n ovo 1º a n o, cr ia n ç a s d e 6 a n o s d e i d ad e, q u e, a nte s, c u r s av a m o p ré -
e s co l ar.
Vivimos en una cultura de transposiciones. Tal como ha sido señalado por Steimberg
(2005), el estudio de estos fenómenos informa no solamente acerca de la vida de los
géneros en el seno de la vida social, sino también de un fenómeno general de nuestra 10 9
cultura. Consideramos que digitalizar danzas –patrimonio intangible-, o bien la labor
de los grupos de danzas, no es equivalente a la digitalización de fuentes escritas o
fotografías. Afirmamos junto a Rojas Sola (2006) que el patrimonio digitalizado no sólo
es la transformación de objetos en formatos digitales utilizando escáneres, cámaras
fotográficas digitales, infografías o técnicas de reproducción 3D, sino lo que es más
importante, el asociar a esos formatos digitales la información del objeto original y
servicios añadidos.
En el caso de las danzas y/o de los grupos de danza de migrantes, entendemos que
en la digitalización, que implica considerar al ítem digital como poseedor de las mismas
características que el objeto analógico, no puede plantearse la existencia de una
relación lineal entre un original y una copia. En todo caso, lo que existe es una selección
de imágenes de movimientos corporales, coreografías, vestuarios e iconografías que
hacen los bailarines y/o los directores de los grupos –en el caso de las danzas, de
los contextos en los que las performances tienen lugar-, que serán distintos de la
experimentación que tiene de la performance el intérprete o el público. En la “copia”
está implícita la representación que se hacen los migrantes de esos “originales” y de sus
reproducciones.
Lo anterior nos permite pensar que las páginas web de los grupos de baile
constituyen “Museos Virtuales”2, acercándose a aquellos “Museos como folletos
electrónicos”, que suelen ser puramente informativos, y donde sólo se presentan
informaciones acerca del horario de la visita, el precio, y una descripción general
de los contenidos o hasta venta de productos. En efecto, las páginas web muestran
información sobre el lugar y horario de los ensayos de los grupos, así como descripciones
del significado e historia de las danzas. Asimismo, estos sitios se asemejan a los “Museos
interactivos”3, donde el usuario accede a la información que no se encuentra en el
museo con una visita presencial y, por tanto, complementa dicha visita. Una de las
implicancias que tiene la digitalización de danzas en la recepción de las mismas es que
justamente, la mera asistencia a los ensayos de los grupos (entendida como “visita”), no
implica obtener la información descriptiva de las danzas que se presenta en las páginas,
ni permite acceder a la “historia del conjunto”. Son distintas las experiencias y los
conocimientos que circulan en los dos ámbitos.
110 ¿Cómo son presentadas las danzas en estos “Museos Virtuales”?. Creemos que esta
problemática puede ser abordada desde los conceptos de “género” y de “transposición”
desarrollados por Steimberg. Para este autor, un “género” constituye un horizonte
de expectativas en el intercambio discursivo, que puede dar cuenta de una demanda
de saber pero también de la búsqueda de repetición y de olvido propia de cada
imaginario social (Steimberg, 2005:136). Tomando en cuenta que tanto la danza como
la música reflejan y constituyen identidades sociales, nos parece pertinente abordar
la transposición mediática de los géneros dancísticos que son interpretados por los
migrantes peruanos en Buenos Aires en el contexto de los grupos de baile folklóricos.
Siguiendo a Steimberg, entendemos que “…hay transposición cuando un género o un
producto textual particular cambia de soporte o de lenguaje; cuando una novela o
tipo de novelas pasa al cine, o la adivinanza oral a la televisión, o un cuento o tipo de
cuentos a la radio…”. En este caso, nos referimos a la transposición que tiene lugar
cuando los migrantes muestran en las páginas web de los grupos de baile las danzas que
ellos interpretan.
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. E n G a gliardi, J o r g e y C ar lo s Gi n d z b e r g: A n áli s i s co n ce ptu al y cl a s ifi c a c i ó n d e l a
i nfo r m a c i ó n au di ov i s u al. Fi c h a d e c áte d r a. N ú cle o A u di ov i s u al B u e n o s Aire s. Ce nt ro
Cu ltu r al S a n M ar t í n. M i ni s te r i o d e Cu ltu r a. G o bi e r n o d e l a Ciu d ad d e B u e n o s Aire s.
20 0 7.
2. S e g ú n M c Ke n z i e (19 97 ) “… U n m u s e o v ir tu al e s u n a co le cc i ó n o r ga ni z ad a d e
ar te fa c to s e le c t ró ni co s y re c u r s o s d e i nfo r m a c i ó n, v ir tu alm e nte al g o q u e p u e d e
di g it ali z ar s e. L a co le cc i ó n p u e d e i n clu ir pi ntu r a s, di b ujo s, foto gr afía s, dia gr a m a s,
gr áfi co s, gr a b a c i o n e s, s e g m e nto s d e v i d e o s, ar t í c u lo s d e p e r i ó di co s, t r a n s cr i p c i o n e s
d e e nt re v i s t a s, b a n co s d e d ato s n u m é r i co s …”
3. S e g u i m o s aq u í l a cl a s ifi c a c i ó n d ad a p o r R oja s S o l a ( 20 0 6) e n “ P at r i m o ni o c u ltu r al
y te c n o lo g ía s d e l a i nfo r m a c i ó n: p ro p u e s t a s d e m ejo r a p ar a lo s m u s e o s d e c i e n c ia y
te c n o lo g ía y ce nt ro s i nte r a c t i vo s d e Ve n e z u e l a”. I nte rc i e n c ia. C ar a c a s, Ve n e z u e l a.
Penso que uma saída para o impasse em que se encontram as ações educativas é
tentar reverter a lógica desse sistema excludente. Ao invés de mediações diretivas e
unidirecionais, proponho mediações dialógicas e multidirecionadas. Não um falando por
todos e para todos, mas a instauração de diálogos, a circulação da palavra, em processos
de interpretações que levam em conta os diferentes lugares de fala dos indivíduos, as
diferentes comunidades interpretativas. Uma prática aberta a múltiplas narrativas.
Elaborei seis questões/instruções em pares: duas sobre aquele museu, duas sobre o
homem no contexto daquele Museu e duas sobre a ideia de Nordeste, pensando também
naquele contexto. As questões/instruções em pares foram elaboradas sob distintas
perspectivas ideológicas: uma tendo como princípio o peso da tradição e a outra tendo
como norte uma perspectiva de transformação social. O grupo foi dividido em seis
pequenos grupos e as instruções foram distribuídas sem inicialmente os participantes
terem conhecimento sobre as distinções entre as questões – eles sabiam apenas que cada
grupo teria uma tarefa diferenciada a exercitar.
Sei que o confronto de ideias gerado nesse desafio provocou desconforto em alguns
educadores e alimentou outros, como a mim mesma, com possibilidades de ações
educativas mais consistentes e coerentes com desejos de transformação.v
R E F E R Ê N CI A S
#A g u ir re, I m a n o l. El a cce s o a l p atr im o n io cultu ra l: re to s y d e b ate s. P a m p lo n a: U P N A –
Cu ad e r n o s d e l a C áte d r a J o r g e O te i z a, 20 0 8.
# B A R B O S A , A n a M a e; CO U T I N H O, R eja n e G alv ã o (O r g.). A rte/ed u ca çã o co m o m ed ia çã o
cultu ra l e s o cia l. S ã o P au lo: Edito r a U N E S P, 20 0 9.
ACE SS A N D O A S APRENDIZES DA 115
ARTE, MEDIADORES E
MEMÓRIAS DO PROFESSORES:
D I Á LO G O A N T ER I O R OLHARES
(20 09) COMPARTILHADOS?
magine-se neste jogo: frente a uma exposição (lembre-se de uma) o que você como
professor gostaria de trabalhar? E se você fosse o mediador da instituição cultural?
Haveria diferença entre o foco da visita para o professor e o mediador? E se você fosse
um aluno das séries iniciais ou do Ensino Médio, o que gostaria de ver?
Qual o espaço da troca entre eles? Antes? Durante? Depois? O que é esperado por
um e por outro? Há informações anteriores trocadas entre escola e instituição cultural
para tentar garantir um acesso mais aberto às expectativas do grupo visitante? O que
acontece no acolhimento, no início da visita? Uma avaliação por escrito do professor
pode gerar a formação contínua de mediadores e a busca de alternativas adequadas?
Essas e outras tantas problematizações se ofereceram como mote para criar uma
proposição no Laboratório Metodológico, utilizando o espaço do Museu do Homem do
Nordeste disponibilizado para essa ação. Para prepará-la, uma troca intensa de e-mails
com Anderson Pinheiro, um dos coordenadores3 do encontro.
116 Na quente manhã da bela Recife, no acolhedor museu nos reunimos. Depois de
uma rápida apresentação dos participantes, dividimos o grupo de participantes em
três, colocando-os em papéis diferenciados. Assim, os estudantes universitários4 se
transformaram em mediadores do museu; os professores se transformaram em alunos
escolhendo a própria faixa etária e os mediadores tornaram-se professores.
Cada grupo experimentando outra função deveria ver a exposição buscando objetos/
obras e ou conceitos que gostaria de aprofundar. Desse modo, os grupo de mediadores
(formado pelos estudantes universitários), de alunos (formado pelos professores) e de
professores (formado pelos mediadores) deveriam fazer suas escolhas, justificá-las,
pensar conexões que poderiam ser feitas para além da exposição e quais os recursos
poderiam ser utilizados sem qualquer limite financeiro.
Fechando o Laboratório Metodológico, nos reunimos para uma conversa que focalizou
a proposta final apenas como resultado de pressões, resistências e acordos entre os
vários integrantes do grupo que viviam por sua vez papéis também diferentes e que
haviam proposto antes um determinado modo de abordar o rico acervo.
De certo modo já esperava que essa troca de papéis iria gerar confrontos de ideias e
traria do acervo exposto no Museu do Homem do Nordeste vários aspectos que poderiam
ser abordados, possibilitando o acesso pela aproximação mais significativa com o que
ali estava exposto. O que foi mais surpreendente para mim foram as ações pensadas
por aqueles que se colocaram no lugar de estudantes. Ao contrário dos mediadores ou
professores que ficaram mais presos ao discurso do próprio museu, o olhar da criança ou
dos adolescentes trouxe um frescor frente ao acervo. Foi, ao pensar como aprendiz da
arte, que descobertas, inquietações, sensações foram desveladas.
“Tornar vivo o conteúdo”, disse uma participante. Fala-síntese de muitas vozes que
permitiram que o olhar de aprendiz invadisse seus próprios modos de ver. O acervo
parece que congela dentro do museu aspectos que estão do outro lado de sua porta e
conectá-lo com eles foi o pedido. Partir de um trabalho sensorial, propor a experiência
de provar um “rolete de cana”, provocar o olfato, a audição, o tato, foram algumas das
situações propostas. Foram os participantes vivendo o papel de alunos que propuseram
o computador dentro do museu, a possibilidade de usar o celular para tirar fotos, para 117
enviá-las por bluetooth, o encontro com os grupos e a culinária nordestina, com oficinas,
propor intervenções na rua, registro da oralidade, vestir roupas típicas em oficina de
dança.
Também tiveram voz os “alunos” frustrados porque não foram ouvidos, o aluno da 8ª
série “metido à besta”, a “estudante” da zona rural, os que estavam lá obrigados ou que
queriam muito saber sobre as filmadoras porque adoram cinema, mas o foco da visita
era o bumba meu boi.
Vimos muitas vezes a “professora” autoritária querendo que sua ideia prevalecesse
justificada pelos conteúdos da escola, talvez. Ou a “mediadora” frustrada porque
pensara uma determinada ênfase em sua visita, mas o “professor” ou os “alunos”
queriam tantas outras...
“Tem de haver diálogo, senão não se vai a legar nenhum”. “Fortificar a ideia de
mediação compartilhada com o professor e o aluno, a importância da parceria”. “Não ser
o sujeito que explica”. Essas são algumas das falas que perceberam no jogo proposto a
importância de cada papel, mas que revelaram também como no discurso de professores
e mediadores prevalece muitas vezes o discurso formalizado, congelado, restringindo
o conteúdo ao invés de ampliá-lo e torná-lo mais vivo, mais experienciado, mais
significativo.
Vimos na proposição vivida e aqui relatada que o olhar do estudante, mesmo que
trazido pelos professores vestidos nesse papel, trouxe um novo frescor ao modo de
abordar o acervo. Obrigou a saída de um discurso da curadoria ou do conteúdo escolar
para fortalecer a conversação, o diálogo, o olhar sobre o que não havia sido visto, para
perceber faltas que não haviam sido percebidas. “Estar entre muitos” nos coloca na
posição de quem também há de viver uma experiência, potencializando-a aos outros,
pois a vivemos com intensidade. Atentos às falas, aos silêncios, às trocas de olhares, ao
que é desvelado e velado, aos conceitos e repertórios que ditam os gostos, os modos
de pensar, perceber e deixar-se ou não envolver pelo [con]tato, com a experiência de
conviver com a arte. Mas um cuidado é fundamental: não apenas como conduzimos
a conversa, mas especialmente como e com que cuidado ampliamos as conexões
potenciais.
Jorge Larrosa (2004:84) nos convida a pensar uma comunidade realmente plural,
uma comunidade babélica: “qualquer comunicação é babélica porque, no ato mesmo
de comunicar-se, qualquer sentido se multiplica e nos multiplica, confunde-se e nos
confunde”. Habitar babelicamente nossa condição babélica é “habitar uma língua
múltipla”, valorizando e não escamoteando as diferenças, os ruídos, a estranheza. A
mediação é perigosa quando, ao contrário, se toma o mediador como o “sujeito da
compreensão”, como um “tradutor etnocêntrico e o leitor etnocêntrico: não o que nega
a diferença, mas o que se apropria da diferença, traduzindo-a a sua própria linguagem”
(LARROSA, 2004:74). Assim, Larrosa nos aponta o perigo da trabalhosa e desesperada
mediação como ponte com uma única direção de um “sujeito de compreensão” que quer
compreender tudo a partir de sua cultura, sua sensibilidade, de sua riqueza para tornar
compreensível ao outro, tapando as diferenças. Habitar babelicamente nossa condição
babélica expõe e provoca a singularidade da experiência, ramificando-a qual rizoma em
múltiplas significações que presentificam diferenças.
N O TA S E R E F E R Ê N CI A S
1. Fr a g m e nto d a le t r a d e O s e u o lh a r d e A r n ald o A ntu n e s e P au lo Tat it n o C D Nin g u é m
(19 95). L e t r a s di s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.ar n ald o a ntu n e s.co m.b r/s e c _ di s co gr afia _
o b r a.p h p? i d =26 >. A ce s s o e m 15 m ai 2010.
2. (N ota d o ed ito r) L a b o rató r io M eto d o ló g ico é u m a ofi c i n a re f lex i v a q u e fu n c i o n o u
n u m tu r n o d e h o r ár i o q u e a nte ce d e u a p ale s t r a e s e r v iu co m o m e i o d e ex p e r i m e nt a ç ã o
n a p r át i c a d a s i d e ia s t r a z i d a s p e lo s p ale s t r a nte s d o E n co nt ro D iálo g o s e nt re A r te e
P ú b li co.
3. (N ota d o Ed ito r) O En co ntro s e m p re foi o r ga ni z ad o p r i n c i p alm e nte p o r A n d ré A q u i n o.
O 4 º e 5º e s t ã o s e n d o o r ga ni z ad o s t a m b é m p o r R e g i n a B u cc i ni.
4. (N ota d o Ed ito r) N e s te 4 º e n co nt ro o p ú b li co p ar t i c i p a nte d o s L a b o r ató r i o s fo r a m,
p r i n c i p alm e nte, e s tu d a nte s u ni ve r s it ár i o s.
5. A s mi n h a s a n ot a çõ e s a o fi n al d o e n co nt ro n ã o m e p e r mit ir a m i d e nt ifi c ar to d a s
a s fal a s. P ar a n ã o i n co r re r e m e r ro s, o pte i p o r n ã o n o m ear, m a s a gr ad e ço a c ad a
p ar t i c i p a nte p e l a s u a p ar t i c i p a ç ã o e p e lo b r ilh o d e s u a s re f lexõ e s fi n ai s.
6. Veja al g u m a s i m a g e n s d e A lé c i o d e A n d r ad e. D i s p o ní ve l e m: <ht t p://w w w.
ale c i o d ea n d r ad e.co m/p h oto gr a p hi e s-le -lo u v re - e t-s e s-v i s ite u r s.ht m l>. A ce s s o e m 15 m ai
2010.
7.O co n ce ito d a m e dia ç ã o co m o u m “e s t ar e nt re m u ito s” te m s i d o co lo c ad o p o r mi m
p ar a s u p e r ar a i d e ia d e p o nte.
8. D E L E UZE, Gille s. A t r a n s fo r m a ç ã o d o p ad e iro. I n: Co nver s a çõ e s, 197 2-19 9 0. R i o d e
Ja n e iro: Ed. 3 4, 19 9 2, p. 15 6. E s s e tex to m e foi e nv iad o p o r mi n h a m ai o r i nte rce s s o r a –
Gi s a P i co s q u e.
R ESUMOS
> Palavras-chave: Acessibilidade. Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Bienal de Artes Visuais
do Mercosul.
> Palavras-chave: Cinco sentidos. Espaços culturais. Acessibilidade. Inclusão social e cultural.
Este artigo é uma reflexão sobre a arte e o perceber no ateliê de artes para pessoas
com deficiência visual.
Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre a importância do papel social dos
museus e das ações educativas dirigidas aos públicos específicos ressaltando, neste caso,
as ações educativas dirigidas ao público especial, composto por pessoas com deficiências
sensoriais, físicas e intelectuais como também ao público inclusivo, composto por
pessoas com e sem essas deficiências, tendo como referência o Programa Educativo para
Públicos Especiais do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo,
implantado e desenvolvido nessa instituição desde o ano de 2003.
Este artigo pretende dialogar com a atual prática pedagógica dos arte-educadores
num contexto de informações provisórias. O grande questionamento é como o professor
pode transformar essas informações para gerar conhecimentos e experiências, a fim de
tornar acessível ao aluno o seu universo cultural.
· Criança pequena e museu: uma relação possível (e desejada) [M aria Isabel Leite]
Los gestores de los grupos de danzas folklóricas peruanas en Buenos Aires son
también “archiveros” de contenidos audiovisuales ya que hacen circular por la web
fotografías, textos y videos de shows. De esta forma, las páginas web de los grupos se
transforman en “Museos Virtuales” pues muestran información sobre el lugar y horario
de los ensayos de los grupos, así como descripciones del significado e historia de las
danzas, mediando en el acceso del público. La digitalización de las danzas se hace
posible gracias a la “transposición” de los géneros dancísticos, creándose el Patrimonio
Digital Intangible.
Daina Leyton é psicóloga formada pela Francisco José de Lima é professor Adjunto
Puc-SP atua desde 2000 na coordenação e da Universidade Federal de Pernambuco
gestão de projetos sociais. É coordenadora (UFPE); Coordenador do Centro de
do Programa Igual Diferente do MAM-SP. Estudos Inclusivos (CEI/UFPE); Idealizador
Com seu amplo trabalho em constituição e Formador do Curso de Tradução Visual
de redes e conexões de diferentes com ênfase em Áudio-descrição “Imagens
linguagens, foi coordenadora do “Projeto que Falam” (CEI/UFPE); editor da Revista
Irradiando”, “Projeto Divercidade” diretora Brasileira de Tradução Visual http://
e é sócia-fundadora da ONG “Vida em www.rbtv.associadosdainclusao.com.br
Ação” e co-idealizadora e realizadora limafj@associadosdainclusao.com.br
dos eventos “I Encontro Regional de
Acessibilidade em Museus” da “Copa da Gabriela Aidar é graduada em História
Inclusão” e do “Movimento Luzcidade”. pela USP, Especialista em Estudos de Museus
daina_leyton@mam.org.br de Arte pelo MAC/USP e em Museologia pelo
MAE/USP. Obteve o título de Master of Arts
Danielle A maro é mestranda em Artes in Museum Studies pela Universidade de
pela Unicamp e graduada em História da Leicester, na Inglaterra, com revalidação
Arte pela UERJ. Tem atuado em ações pelo Programa de Mestrado em Museologia
educativas de instituições do Rio de Janeiro da UNIRIO. É coordenadora do Programa
e de São Paulo, destacando-se o Museu de Inclusão Sociocultural do Núcleo de
de Arte Contemporânea de Niterói (2004- Ação Educativa da Pinacoteca (PISC-NAE).
2007) e a Pinacoteca do Estado de São gaidar@pinacoteca.org.br
Paulo, onde é hoje educadora do PISC-NAE.
educainclusiva@pinacoteca.org.br Gabriela Bon possui graduação em Artes
Plásticas com habilitação em História,
Ediles Revorêdo Rodrigues possui Teoria e Crítica de Arte pela Universidade
Licenciatura pela Universidade Federal Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e
de Pernambuco e Curso de Pós-Graduação especialização em Museolgia e Patrimônio
Latu Sensu em Psicopedagogia Escolar. Cultural pela mesma universidade.
dica.revoredo@hotmail.com Mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Educação da UFRGS, sob a orientação
Fernanda Mélo é graduanda do curso da Profa. Dra. Analice Dutra Pillar. Bolsista
de Licenciatura em Educação Artística CAPES. Vice-Coordenadora de Educação
com habilitação em Artes Cênicas na a Distância do Curso de Formação de
Universidade Federal de Pernambuco e Mediadores e Professores-Mediadores para
membro temporário da Equipe de Ações 7ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul e
Educativas da Fundação Joaquim Nabuco. assistente do Projeto Pedagógico da mesma
fernanda.meelo@gmail.com
mostra, supervisora da 6ª Bienal do Mercosul bolsista de Iniciação Científica no MAC/ 129
Realização
Prefeitura do Recife | Fundação de Cultura Cidade do Recife Gerência
Operacional de Artes Visuais e Design
FUNARTE - Fundação Nacional de Artes
Apoio
Centro de Estudos Inclusivos - UFPE
CEPE - Companhia de Editoração de Pernambuco
Fundação Joaquim Nabuco | Museu do Homem do Nordeste
Instituto Ricardo Brennand
MAMAM - Museu de Arte Moderna Aluísio M agalhães
REMIC - Rede de Educadores de Museus e Instituições Culturais
Colaboradores
A m é l i a N ata l i n a C o n s ta n t e G a r c i a (S P)
A n a C a r m e n F r a n c o N o g u e i r a (S P)
A l e x s a n d r a L e i t e (P E)
Á lv a r o H e n r i q u e B o r g e s (M G)
A m a n d a F o n s e c a T o j a l (S P)
A n d e r s o n P i n h e i r o S a n t o s (P E)
C i b e l e L u c e n a (S P)
D a i n a L e y t o n (S P)
D a n i e l l e A m a r o (S P)
E d i l e s R e v o r ê d o R o d r i g u e s (P E)
F e r n a n d a M é l o (P E)
F l á v i a P a l o m a C a b r a l B o r b a (P E)
F r a n c i s c o J o s é d e L i m a (P E)
G a b r i e l a A i d a r (S P)
G a b r i e l a B o n (RS)
J o a n a Z at z (S P)
J o ã o V i c e n t e G a n z a r o l l i d e O l i v e i r a (R J)
L a r a C e r e s d e C a r v a l h o (M G)
L u i s R o b e r t o S o a r e s (S P)
M a g . S i lv i a B e n z a (A r g e n t i n a )
M a r g a r e t e d e O l i v e i r a (S P)
M a r i a C h r i s t i n a d a S i lv a C o s ta (S P)
M a r i a I s a b e l L e i t e (SC)
M a r i a J u l i a n a S á (S P)
M a r i s a F e r r e i r a A d e r a l d o (CE)
M i l e n e C h i o v at t o (S P)
M i r i a n C e l e s t e M a r t i n s (S P)
P a u l o A n d r é d e M e l o (P E)
R e j a n e G a lv ã o C o u t i n h o (S P)
S a b r i n a D e n i s e R i b e i r o (S P)
S i m o n e L u i z i n e s (P E)
S i m o n e S ã o M a r c o s P a s s o s (P E)
S o n i a M a r q u e s (P B)
V i v i a n e P a n e l l i S a r r a f (S P)
Agradecimentos
Eva Duarte, Beto Rezende, Geraldo de Fraga,
Diretoria de R ádio e Comunicação Popular,
Lia Menezes, Heloísa Arcoverde, Luiz Arrais,
Ricardo Melo, Ana M aria Pereira, Danuza
Montenegro, Serginho Cruz, Edimilson Silva,
André Aquino, Francisco Lima, Paulo Vieira,
Ernani Ribeiro, Anderson Tavares, Comitê
Intergestor de Políticas Públicas para Pessoa
com Deficiência e a todos os funcionários da
Fundação de Cultura que contribuíram para
realização deste projeto.
Esta obra foi composta em trebuchet ms e impressa em ofsete pela Gráfica
CEPE sobre papel reciclato 90g/m2 para miolo e triplex 350g/m2 para capa,
em outubro de 2010.