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Sistemas Validáveis: garantia dos discussão, congressos e fóruns são alguns dos mecanismos

utilizados para aproximar as agências reguladoras e as


registros na indústria farmacêutica e indústrias.
alimentícia Este enfrentamento saudável dá origem a normas e
Autor: Epifanio Dinis Benitez, Coordenador de Projetos de procedimentos cada vez mais eficientes, que se refletem na
Software alta qualidade dos produtos que chegam aos consumidores
Novus Produtos Eletrônicos dos mais diferentes mercados ou como duras penalidades
para as indústrias que não as levam a sério. O
descumprimento de uma norma regulamentada pode levar
1. Introdução ao fechamento de uma fábrica e à retirada permanente do
Em 1959 já se falava em criar um plano de controle de produto reprovado.
qualidade para implantar a segurança nos processos de Entre as agências citadas podemos destacar o FDA, que
fabricação de alimentos. O plano tinha por objetivo garantir regulamenta o imenso mercado norte-americano de
alimentos 100% seguros para os astronautas da NASA com medicamentos e alimentos. As normas do FDA são
um objetivo ambicioso: zero erro de fabricação. Deste conhecidas como CFR (Code of Federal Regulation),
esforço surge o forte sistema conhecido como HACCP (Hazard semelhantes a uma resolução RDC (Resolução da Diretoria
Analisys and Control of Critical Points), ou em Português Colegiada) da ANVISA. Uma das normas mais populares nos
APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). últimos tempos é a 21 CFR Parte 11. Esta norma trata de
O HACCP pode ser aplicado em qualquer processo assinaturas eletrônicas e registros eletrônicos em sistemas.
industrial, apesar de ter sido concebido para a indústria Esta norma vem assumindo um papel muito interessante
alimentícia. Sua principal característica é ser pró-ativo e não na indústria, pois seu objetivo é substituir por completo o
reativo, agindo de forma preventiva em todas as partes do antigo sistema de registro de dados de monitoração em papel
processo de fabricação. Aplicando esta metodologia os por sistemas que geram registros eletrônicos. Este grande
fabricantes conseguem garantir a segurança do produto, não passo também traz consigo a rastreabilidade dos registros e
sua qualidade. das ações dos usuários dos processos, através da assinatura
Este sistema propõe sete passos que devem ser seguidos eletrônica.
nos processos de fabricação: A aplicação desta norma e o cumprimento de seus
 Analisar os riscos do processo requisitos técnicos são realizados e evidenciados pela
 Identificar os pontos críticos validação dos sistemas computadorizados que operam em
 Estabelecer os limites de controle uma planta industrial. A validação do sistema é um
 Monitorar o atendimento a esses limites procedimento que envolve todos os passos da concepção e
 Estabelecer as ações corretivas execução de um processo. O êxito na validação pode ser
 Manter o registro do processo de fabricação considerado um atestado de segurança nos registros
 Estabelecer procedimentos de validação do eletrônicos e na rastreabilidade das ações do usuário no
sistema para provar que o sistema minimiza sistema. Alguns de seus produtos finais são fortes políticas de
riscos. utilização e procedimentos que devem garantir 100% da
Estes passos formam a base de vários processos de cobertura da parte crítica do processo.
controle de qualidade. A indústria não é obrigada a utilizar Em paralelo às agências reguladoras e às indústrias existe
esta metodologia, pois a adesão ao seu programa é uma importante ferramenta gerenciada pelo ISPE
voluntária. Apesar disto, muitos mercados a consideram um (International Society for Pharmaceutical Engineering) ou
fator qualificador para a escolha de fornecedores. Sociedade internacional para Engenharia Farmacêutica,
Esta nova visão de controle de qualidade aqueceu o conhecida como GAMP (Good Automated Manufactoring
assunto em várias partes do mundo, resultando no Practices) ou Boas Práticas em Sistemas Automatizados. O
surgimento de diversas agências reguladoras para as GAMP é um guia de boas práticas que reflete as últimas
indústrias alimentícias e farmacêuticas. Entre elas podemos tendências em exigências regulatórias e boas práticas que
citar a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no deverão ser implantadas pelas indústrias. Especialistas o
Brasil, ANMAT (Administración Nacional de Medicamentos consideram o caminho mais curto para a validação de
Alimentos y Tecnología Médica) na Argentina, SSA (Secretaria sistemas e interpretação de exigências normativas. Sua
de Salud) no México, EMEA (European Medicines Agency) na aplicação pode levar à conformidade com diversas
Europa e o FDA (U.S. Food And Drug Administration) nos regulamentações.
Estados Unidos. Por não ser uma norma ou regulamento, a indústria pode
A forma de trabalho das agências reguladoras é muito utilizar o guia em partes e aplicar em seus processos somente
interessante, pois elas operam com grande participação da as áreas de interesse, e ainda assim atingir bons resultados
indústria a fim de sintonizar os interesses de controle e em seus produtos. A indústria ainda conta com uma ampla
segurança nos alimentos e medicamentos. Grupos de gama de guias de boas práticas, tais como Gerenciamento de
Calibração, Testes de Sistemas, Clínicas, Distribuição, 5 Aplicações personalizadas
Qualidade e outros. Tabela 1 – Categorias para sistemas computacionais
1. Software de Infra-estrutura: Produto amplamente
aceito no mercado. Em geral desconsiderado no
procedimento de validação. Exemplo: sistemas
2. GAMP operacionais.
A metodologia GAMP está cada vez mais presente nas 3. Produtos não configuráveis: Produtos que não
indústrias que pretendem ampliar seus negócios para podem ser adaptados ao negócio. Estes já possuem
alcançar mercados mais exigentes. No Brasil ela é características bem definidas e são considerados
amplamente difundida nas áreas farmacêuticas e softwares de prateleira (off-the-shelf). Em geral a
alimentícias, mas ainda está por ganhar mais espaço em configuração padrão atende às necessidades.
outras áreas industriais. Exemplo: firmware, antivírus, etc. Baixo risco na
Sua estratégia de validação começa por apresentar as validação.
partes que compõe os sistemas nas indústrias. O GAMP 4. Produtos configuráveis: Misto de funcionalidades
propõe uma representação por pirâmide que aborda em sua definidas e configuráveis. Cada alteração de
base os dispositivos mais próximos da produção e em seu configuração dispara a confecção de um documento
topo os mais próximos do negócio. A Figura 1 apresenta uma de Controle de Mudanças (CM). A sua escolha
representação desta pirâmide. depende de qualificação de fornecedor. Exemplo:
SCADA, ERP, CRM, etc. Médio Risco para a validação.
5. Aplicações personalizadas: Solução personalizada
desenvolvida para atender a uma necessidade
específica. Todos os passos envolvendo configuração
devem ser documentados. Alto risco para a
validação. Na Figura 2 pode ser observado o
procedimento de validação para esta categoria.

Figura 1 – Pirâmide das partes de um sistema


Os componentes da pirâmide proposta pelo GAMP são
facilmente identificáveis na indústria. O que não é fácil de
identificar é quais deles devem ser validados ou ainda como
deve ser realizada a validação. Nas indústrias de pequeno e
médio porte encontramos uma combinação de sistema
SCADA e Sensores/Atuadores. Indústrias de grande porte ou
ainda processos de validação que abrangem sites distribuídos Figura 2 – Procedimento completo de validação
geograficamente podem apresentar a pirâmide completa. Ainda existem duas categorias para hardware, não
Estrategicamente posicionado no meio da pirâmide se menos importantes, mas não tão difundidas. Na
encontra o sistema de supervisão SCADA. Seu baixo custo em categoria 1, considerada como padrão, o hardware deve
relação às demais partes do sistema propicia sua ocorrência vir acompanhado de sua documentação completa
em quase todos os casos. Além de concentrar boa parte da (manuais de instalação e operação). Na categoria 2, o
lógica operacional e apresentar a interface homem máquina hardware é personalizado e deve apresentar sua bateria
(IHM) para iteração com o usuário, o sistema SCADA tem um de testes. Este último está passível de auditoria.
papel fundamental na validação, pois geralmente é ele o Os softwares podem pertencer a mais de uma
encarregado pelo armazenamento dos dados e pelo controle categoria. Para a validação não é problema, pois basta
de acesso de todas as configurações. executar os procedimentos de validação.
O GAMP apresenta várias categorias para os sistemas
computacionais. A cada categoria está associada uma análise 3. 21 CFR Parte 11
de risco para a validação. Em sua última edição (GAMP 5), o O FDA estabeleceu o 21 CFR Parte 11 para que os
guia apresenta 4 categorias, mostradas na Tabela 1: registros eletrônicos pudessem substituir os equivalentes
em papel e que as assinaturas eletrônicas pudessem ser
Categoria GAMP 5 equivalentes àquelas que eram baseadas em papel e
1 Software de Infra-estrutura tinta, feita de forma manual ou impressa.
3 Produtos não configuráveis Para entender melhor o conceito da norma é
4 Produtos configuráveis importante esclarecer o que são os registros eletrônicos
e o que são as assinaturas eletrônicas. Os registros e as Nenhum sistema pode ser denominado conforme
assinaturas são os pilares da norma 21 CFR Parte 11. com a norma 21 CFR Parte 11, pois a validação do
Registros Eletrônicos: são quaisquer combinações de processo é composta pela validação dos sistemas
texto, gráficos, dados, áudio ou representação de computacionais e pela criação de procedimentos
informação em formato digital, que sejam criadas, internos de operação, treinamentos e um amplo
modificadas, mantidas, arquivadas, recuperadas ou conjunto de documentação.
distribuídas por um sistema computadorizado. Esta norma não é exigida no Brasil, pois ela é
Todo registro eletrônico gerado deve ser regulamentada pelo FDA norte-americano. Porém,
armazenado em formato digital mesmo que não seja muitas empresas acabam adotando-a para alcançar
enviado à agência reguladora. Esses registros devem ser visibilidade em comércios regulamentados ou para
gerados de forma criptografada e o sistema deve melhorar a qualidade de seus processos. Vale lembrar
oferecer um mecanismo de detecção de violação de que a idéia de implantar uma norma deve trazer uma
integridade para identificar alteração indevida. Os experiência positiva para o processo. A ANVISA e outras
registros deverão ser visualizados somente dentro do agências reguladoras propõem em suas resoluções idéias
sistema e com a identificação do usuário. Os relatórios que intersectam com o proposto pelo FDA.
dos registros deverão conter as informações que
identifiquem ao usuário. Os registros eletrônicos devem 4. Aplicação prática na indústria
ser retidos por todo o tempo de vida do produto no A validação de sistemas computacionais é um
mercado. processo que pode afetar fatores ambientais internos na
Assinaturas Eletrônicas: são representações organização, pois exige um forte envolvimento das áreas
realizadas através de uma compilação de dados de qualidade e produção.
computadorizados de qualquer símbolo ou série de A conhecida definição sobre validação: “Validação é
símbolos executados, adotados ou autorizados pelo a construção de uma evidência documentada de que o
indivíduo para serem utilizadas legalmente pelo mesmo, sistema faz o que ele deve fazer”: expressa bem o
em substituição de sua assinatura manual. benefício que a validação pode trazer e justifica o
Este mecanismo tem por principal objetivo garantir o esforço.
não-repúdio por parte do usuário. A cada evento A decisão de validar um processo pode vir por uma
importante dentro do sistema será solicitada a assinatura exigência normativa ou por necessidade de proteção e
do usuário e o mesmo deverá entrar com pelo menos garantia dos dados. Tudo se baseia no valor que a
dois dados de identificação. Estes eventos são informação pode representar para o negócio. Uma
registrados no log de eventos do sistema, conhecido leitura de um sensor pode ser simplesmente um valor
como “Audit Trail”. instantâneo, porém, esse valor em uma média cinética,
A norma ainda prevê a execução do sistema em dois pode atestar o comportamento da temperatura em um
modos: aberto ou fechado, descritos de forma breve determinado período de tempo. Ou seja, a informação
abaixo: que o processo fornece pode ter diferentes valores,
 Sistema aberto: o acesso não é controlado por dependendo de quem precise utilizá-los.
usuários que são responsáveis pelos registros
eletrônicos que estão no sistema. Este sistema é 4.1 Análise crítica do processo
o menos indicado, pois incorre no risco de um Muitas indústrias desistem de validar seus processos
usuário despreparado prejudicar um sistema computacionais, pois não realizam a análise crítica para
crítico. identificar as áreas validáveis. Com isto o custo inviabiliza
 Sistema fechado: o acesso é controlado por o investimento ou ainda congela um processo já iniciado.
usuários que são responsáveis pelos registros As normas são criadas para atender casos específicos.
eletrônicos que estão no sistema. Sistema Sobre todo um processo se aplicam metodologias.
dedicado para uma aplicação. Confiabilidade Ao identificar os pontos críticos do processo é
alta e fácil rastreabilidade de ações. necessário classificá-los para tomar ações que possam
Sistemas que oferecem o sistema aberto devem mitigar riscos. Estes riscos podem afetar diretamente a
disponibilizar mecanismos adicionais para proteger o qualidade do produto e se apresentarem como um risco
acesso aos registros eletrônicos e garantir que usuários para o próprio negócio. A Figura 3 apresenta critérios
não identificados não acessem alguma área restrita. para classificação e priorização de riscos.
A manipulação de qualquer informação presente em
um sistema 21 CFR Parte 11 deverá ser registrada e o
executor da ação deverá ser identificado para garantir a
rastreabilidade.
mais segurança ao sistema, que por sua vez
poderá se recuperar melhor de alguma falha
que possa ocorrer nas unidades de
armazenamento. Os dados deverão ser
criptografados e acompanhados de um sistema
de controle de integridade.

 Registro de eventos (Audit Trail): todas as ações


Figura 3 – Priorização de risco importantes, geradas tanto por algum usuário
quanto automaticamente pelo sistema, deverão
ser registradas de forma criptografada. O
 Classe 1: Riscos com média e alta probabilidade sistema deverá prover uma ferramenta para
de ocorrer, alta ou média severidade e baixa ou visualizar esses registros.
média probabilidade de detecção devem ser
mitigados. 4.3 Validação
 Classe 2: Riscos com média probabilidade de A validação é a ato de executar uma extensa bateria
ocorrer e média severidade com média de testes que exploram todas as funcionalidades
probabilidade de detecção devem ser disponíveis pelo sistema. Os testes são descritos
monitorados e controlados. tomando como base as funcionalidades especificadas
 Classe 3: Riscos com baixa probabilidade de como mandatórias. Ao final da bateria de testes, se
ocorrer, baixa prioridade e alta probabilidade de todos os testes foram aprovados, o sistema recebe a
detectar podem ser monitorados. denominação de validado.
Se alguma falha for detectada, o módulo envolvido
A partir da classificação do risco podem ser deve ser corrigido e testado novamente. Se for
identificadas quais ações deverão ser tomadas antes da necessário alterar funcionalidades que afetem áreas
validação, durante e depois da validação, já na operação críticas do sistema, toda a bateria de testes de validação
do sistema. deve ser re-executada.

4.4 Impacto da 21 CFR Parte 11 em sistemas SCADA 5. Solução validável NOVUS


Para atender aos requisitos técnicos da norma, os A identificação da importância da validação dos
sistemas SCADA sofreram adaptações baseados em sistemas computacionais na indústria e o
algumas premissas. A lista de premissas pode ser grande, reconhecimento do valor que este passo pode agregar
dependendo do porte e abrangência do projeto, mas em nos processos de seus clientes levaram a NOVUS a
geral as exigências cobram ferramentas e mecanismos aprimorar seus produtos para que atendessem aos
para: requisitos técnicos da norma 21 CFR Parte 11 e da
ANVISA.
 Autenticação: nenhum acesso ao sistema pode O software de supervisão SuperView é um sistema
ser realizado sem identificação. Cada usuário SCADA validável que atende a esses requisitos técnicos.
deverá ter uma senha configurada e um Sinóticos (Figura 4), registros criptografados, assinaturas
conjunto de políticas que irá estabelecer o eletrônicas, notificações de alarmes e geração de
quanto ele poderá interagir com o sistema. relatórios são algumas das funcionalidades disponíveis.

 Assinaturas eletrônicas: as ações de


manutenção do sistema ou as que alteram
parâmetros críticos para a validação deverão
exigir a identificação do autor da ação. O
sistema deve garantir a expiração periódica de
senhas e não permitir que as mesmas se
repitam. Cada usuário é responsável por sua
Figura 4 – Exemplos de telas do sistema SCADA SuperView
senha, garantindo o não-repúdio de suas ações.
O SuperView e a extensa linha de produtos da
 Registro eletrônico de dados: os dados que NOVUS aplicados na medição, controle e registro de
estão sendo lidos das unidades remotas e dos variáveis físicas são uma solução sólida para
sensores deverão ser gravados em pelo menos implementação de sistemas validáveis. Registradores de
dois lugares diferentes. Esta redundância traz dados, medidores e transmissores para temperatura,
umidade e pressão, controladores de processos,
termostatos são alguns destes produtos.

A solução de validação se torna completa com o


serviço de confecção dos documentos e a execução dos
testes para validar o sistema.

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