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SUMÁRIO

1 O USO DE DROGAS ............................................................................................ 2

1.1 Definições 6

2 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................... 10

3 AS PRINCIPAIS DROGAS ................................................................................. 13

3.1 Classificação de Chalout (1971)14

3.2 Nomes populares ou comerciais das drogas 14

4 PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS ................................................................ 15

5 CRONOLOGIA DO USO DE DROGAS .............................................................. 19

6 NEUROBIOLOGIA DA ADIÇÃO ......................................................................... 23

7 MECANISMO GERAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA ........................................ 30

8 SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA/ EFEITO REBOTE ........................................... 35

9 RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE DROGAS - 2009 ............................................. 36

9.1 Tendência de declínio nos principais mercados 36

9.2 Provável aumento no uso e na produção de drogas sintéticas nos países em


desenvolvimento 37

9.3 As rotas de tráfico estão mudando 38

9.4 Saúde pública e segurança pública não podem estar dissociadas 39

9.5 Como melhorar o enfrentamento às drogas 40

bibligrAFIA ............................................................................................................... 42

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1 O USO DE DROGAS

Fonte: omicrono.elespanol.com

É bastante sabido que o uso de substâncias no organismo do ser humano


remonta a épocas distantes.
Muitos são os registros de experiências vividas por nossos antepassados.
Antropólogos acreditam que a curiosidade pelas drogas começou na Pré-História, por
acaso. Nossos ancestrais perceberam que algumas plantas e fungos induziam a
estados alterados de percepção e gostaram do que sentiram. Essas plantas passaram
a ser veneradas. Os cretenses tinham uma deusa da papoula, a flor que fornece
matéria-prima para o ópio; os astecas idolatravam cogumelos alucinógenos (VALLE,
1988).
Na época de Galeno, intelectual grego que viveu entre 135 e 201 a.C., surgiram
as teriagas, remédios de formulação complexa utilizados no tratamento de alguns
males, cujo mecanismo de ação deve ser atribuído ao ópio. Nicandro, conterrâneo e
contemporâneo do primeiro, considerado uma autoridade da toxicologia da época,
assim descreveu o efeito desta substância:
“Aquele que ingere uma bebida contendo o suco da papoula cai desde logo
num sono profundo, os membros se esfriam, os olhos se tornam fixos e todo o corpo
fica coberto de suor abundante; a face empalidece, os lábios se intumescem, os

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ligamentos do maxilar inferior se relaxam, as unhas tornam-se lívidas e os olhos
encovados pressagiam a morte” (VALLE, 1988).
Na Idade Média, o conhecimento dos efeitos das drogas sobre o sistema
nervoso central foi utilizado por feiticeiros, mágicos e exploradores da fé pública, com
suas poções para o sono, esquecimento, amor e outras.
O uso da maconha no Brasil tem um registro interessante: desde a chegada
dos portugueses em 1500 existem relatos de viajantes que faziam uso dessa
substância e exaltavam suas qualidades como intensificador de emoções pré-
existentes. Com a formação de duas classes sociais polarizadas e distintas
culturalmente, uma aristocrática e outra formada por escravos e pobres, este uso
parece ter se mantido em ambas nos séculos subsequentes, até o início do século
XX, quando começa a haver uma tentativa de normatização desta substância em
termos legais, influenciada por mudanças que ocorriam neste sentido tanto na Europa
quanto nos Estados Unidos. É interessante notar que no período anterior à abolição
da escravatura no país, o uso de maconha parecia ser de conhecimento dos grandes
latifundiários e este uso não era por eles reprimido, pois havia uma percepção de que
diminuíam sensivelmente as chances de rebelião entre os escravos (YAMADA, 1999).
O termo “droga” já traz em si uma conotação negativa. Popularmente, “droga”
tem como significado algo ruim; é uma interjeição ligada a sentimentos de raiva,
pessimismo.
Em uma linguagem coloquial, droga tem um significado de algo malévolo, sem
qualidade. Já em uma linguagem médica, droga é sinônimo de medicamento.
Conceituar “droga” tecnicamente apresenta dificuldades, pois o significado
pode variar de país para país. Roberto de Lucia (apud Valle, 1988) indica como origem
do termo a palavra droog, do holandês, utilizada para designar “toda substância de
composição química definida ou não, de constituição molecular ou complexa que pode
ou não ter propriedades terapêuticas”.
É o que ocorre nos países de língua inglesa, por exemplo, onde drug é a
designação genérica para os medicamentos, ou seja, a substância ou produto
empregado para curar as doenças, aliviar a dor ou estabelecer diagnóstico.

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Não podemos confundir os termos fármaco, tóxico, entorpecente e narcótico.
Fármaco, segundo Murad, sob o ponto de vista médico ou farmacológico, pode-se
considerar tecnicamente como a designação do princípio ativo, ou seja, a matéria-
prima com que se faz o medicamento (MURAD, 1995).
Para Brito Filho (1988), tóxico é a substância com capacidade de produzir efeito
sobre o organismo em pequeníssima quantidade.
Murad (1995), utilizando definição mais simples, diz que tóxico é tudo que está
ligado a veneno. Já o termo entorpecente, muito utilizado por nossos legisladores,
segundo definição de Di Mattei, citado por Murad (1995, p. 35), é uma categoria de
substâncias, “venenos que agem eletivamente sobre o córtex cerebral, suscetíveis de
promover agradável ebriedade, de serem ingeridos em doses crescentes sem
determinar envenenamento agudo ou morte, mas capazes de gerar estado de
necessidade tóxica, graves e perigosos distúrbios de abstinência, alterações
somáticas e psíquicas profundas e progressivas”. Já narcótico é o termo geral para
substâncias que produzem insensibilidade, suprimem a dor e induzem sono profundo,
podendo causar dependência e determinar perturbações graves da personalidade. Os
conceitos apresentados indicam apenas categorias específicas de substâncias.
No Brasil, o termo droga é muito utilizado para designar as substâncias que são
consideradas ilícitas pelo ordenamento jurídico. No passado, a exemplo dos anglo-
saxões, já se utilizou também o termo no sentido de medicamento, ou seja,
substâncias que causam bem ao organismo, denominando-se os estabelecimentos
que as comercializam de “drogarias”.
Modernamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), segmento da
Organização das Nações Unidas, recomendou que fosse adotada a expressão
“drogas que causam dependência” – dependence producting drugs – para designar
tais substâncias (YAMADA, 1999).
Quando nos referimos às drogas, entendemos que existem não somente
drogas ilícitas como, por exemplo, a maconha, o haxixe, a cocaína, o crack, o ecstasy,
o ópio, a heroína, o LSD-25, etc., bem como drogas lícitas como por exemplo a cafeína
(café, chocolate, chá), a nicotina (tabaco), o álcool, os fármacos (princípio ativo dos
medicamentos vendidos nas farmácias e drogarias), etc. A dependência, por sua vez,

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se dá como um processo que pode se apresentar em duas variantes, a dependência
física/orgânica e a dependência psíquica/emocional.
Desde os primórdios da história da humanidade vamos encontrar referências
às drogas. Durante muito tempo o uso dessas substâncias teve um valor, uma função
e objetivos específicos e claros, diferentes dos que possuem atualmente. Muitas
vezes, as drogas foram usadas para fins medicinais, em outras fazem parte de rituais
sagrados ou, ainda, estiveram inseridas em outros aspectos da cultura de um povo.
Nas sociedades modernas, que vieram a se tornar globalizadas, o uso das drogas
mudou completamente. O consumo de drogas é um fato, não mais (ou pouco)
vinculado a um uso medicinal ou a ritos religiosos, mas a uma procura de prazer que
corre o risco de se tornar desenfreada. Tais efeitos viriam satisfazer a busca da
felicidade e da transcendência, como também amenizar a angústia existencial,
características inerentes ao ser humano, lacunas que impulsionam o homem na
procura incessante das diversas dimensões da existência. A tentativa de
preenchimento desses vazios justifica, por si só, o uso de drogas pelo homem, no
intuito de esquecer problemas existenciais (ansiolíticos, anfetamínicos, solventes,
etc.), na pretensão de entrar em contato com forças sobrenaturais, preenchendo uma
falta decorrente das limitações humanas (no caso dos chás alucinógenos) e na busca
de prazer com alterações do estado de consciência (álcool, ecstasy, LSD e outras).
Dentro desta perspectiva, podemos notar nossa vulnerabilidade frente a
situações que envolvam o uso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Neste sentido,
falar de drogas não é simplesmente informar sobre seus efeitos, mas sim mostrar o
quanto estamos suscetíveis a elas, pelo simples fato de sermos seres humanos e de
termos um corpo que geralmente não sabemos bem como funciona.
Sendo assim, ao longo desse curso falaremos também em prevenção ao uso
de drogas, o que significa conversar sobre a natureza humana e a sua interação com
o meio. Se pensarmos em adolescentes e outras populações de risco, como por
exemplo, aqueles que estão nos presídios, nosso cuidado aumenta, primeiro porque
adolescência, é um dos períodos mais intensos da vida, pelos desafios, descobertas
e oportunidades que apresenta e segundo, porque a população carcerária vive em
situações não muito satisfatórias.

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1.1 Definições

Fonte: psiquiatrarj.com.br

O termo “droga” teve sua origem da palavra “droog”, que significava “folha
seca”, isto porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de
vegetais. Atualmente, a medicina define “droga” como sendo qualquer substância que
é capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em transformações,
variações e modificações fisiológicas ou de comportamento.
As drogas psicotrópicas e psicoativas, são substancias químicas, naturais ou
mesmo sintética, que atuam sobre o nosso sistema nervoso central, provocando
alterações psíquicas, podendo causar sérios danos psicológicos ao seu consumidor,
além de dependência.
As drogas destroem o caráter, comprometem o sentido realístico da vida e
subvertem o senso de responsabilidade, fragilizando a família, afetando a sociedade
e as organizações, afetando os laços comunitários, a própria força do trabalho
nacional e provocando até, alguma alteração de personalidade ao longo prazo.
Percebe-se então a necessidade de uma efetiva prevenção.

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Todas as drogas têm em comum a capacidade de alterar o estado mental do
usuário, seja proporcionando uma sensação de prazer e conforto ou reduzindo a
timidez e aumentando a sociabilidade de quem a usa. Em geral, todas também
causam dependência química e psicológica, transformando o usuário ocasional em
viciado, que acaba dependendo do consumo da droga para manter suas atividades
normais (MAMBRINI, 2002).
A OMS (1981) define droga como qualquer entidade química ou mistura de
entidades que alteram a função biológica e possivelmente a sua estrutura. Em outras
palavras, seria qualquer substância capaz de modificar a função de organismos vivos,
resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento.
Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que introduzida no
organismo modifica suas funções. As drogas podem ser naturais quando obtidas
através de determinadas plantas, de animais e de alguns minerais. Como exemplo
tem-se a cafeína (do café), a nicotina (presente no tabaco), o ópio (na papoula) e o
THC tetrahidrocanabiol (da cannabis). As drogas sintéticas são fabricadas em
laboratório, exigindo para isso técnicas especiais (OMS, 1981).
O termo droga, presta-se a várias interpretações, mas ao senso comum é uma
substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções,
as sensações, o humor e o comportamento.
Do ponto de vista jurídico, segundo prescreve o parágrafo único do art. 1.º da
Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006 (Lei de Drogas) “Para fins desta Lei,
consideram-se como drogas as substâncias ou produtos capazes de causar
dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União”. Isto significa dizer que as normas
penais que tratam do usuário, do dependente e do traficante são consideradas normas
penais em branco. Atualmente, no Brasil, são consideradas drogas todos os produtos
e substâncias listados na Portaria n.º SVS/MS 344/98 (BRASIL, 2006).
Na CID.10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde) a Dependência é definida como:
“Um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se
desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente

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associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo,
à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma maior
prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a
um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física.
A síndrome de dependência pode dizer respeito a uma substância psicoativa
específica (por exemplo, o fumo, o álcool ou o diazepam), a uma categoria de
substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais
vasto de substâncias farmacologicamente diferentes” (BALLONE, 2001).
A dependência química não é uma doença aguda. Trata-se de um distúrbio
crônico e recorrente. E essa recorrência é tão contundente, que raramente ocorre
abstinência pelo resto da vida depois de uma única tentativa de tratamento. As
recaídas da drogadição são a norma. Portanto, a adição deve ser abordada mais como
uma doença crônica, como se fosse diabetes ou hipertensão arterial.
Considerando o fato da dependência química ser um distúrbio recorrente e
crônico, alguns autores mais realistas consideram como um bom resultado
terapêutico, tal como se deseja no tratamento da hipertensão arterial, asma brônquica,
reumatismo, diabetes, etc., uma redução significativa do consumo da droga, e longos
períodos de abstinência, supondo a ocorrência de recaídas ocasionalmente. Muitos
acham que este seria um padrão razoável de sucesso terapêutico, da mesma forma
que em outras doenças crônicas, ou seja, o controle da doença, mas não a sua cura
definitiva.
Vamos chamar de “psicoativas” as drogas psicotrópicas, portanto, com efeito
sobre o Sistema Nervoso Central. Convencionalmente, vamos chamar ainda de
“psicoativas” as drogas de caráter ilícito, cujo efeito por ela produzido é de alguma
forma agradável ao usuário. Pois bem. Quando se usa uma droga psicoativa, o efeito
proporcionado por ela adquire para a pessoa um caráter de recompensa prazerosa.
A maioria das definições de adição a drogas ou dependência de substâncias
inclui descrições do tipo “indivíduo completamente dominado pelo uso de uma droga
(uso compulsivo)” e vários sintomas ou critérios que refletem a perda de controle sobre
o consumo de drogas.

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As pesquisas, hoje em dia, caminham através da Psiquiatria e da Psicologia
Experimental, juntamente com a Neurobiologia. Todas essas áreas se esforçam para
identificar os elementos emocionais e biológicos que contribuem para alterar o
equilíbrio do prazer (homeostase hedonista), alterações esta que dá origem àquilo que
se conhece como drogadição (droga-adição). A palavra “adição”, em português, é um
neologismo técnico que quer dizer, de fato, "drogadição".
O tema “drogas” é muito complexo, multidimensional e tem atraído a atenção
da maioria dos países. Nas últimas duas décadas, importantes avanços nas ciências
do comportamento e nas neurociências vieram contribuir para um melhor
entendimento na questão do abuso de drogas e da drogadição (droga-adição).
A neurociência tem identificando circuitos neuronais envolvidos em todos tipos
de abusos conhecidos, assinalando regiões cerebrais, neuroreceptores,
neurotransmissores e as vias neurológicas comuns afetadas pelas drogas. Também
têm sido identificados os principais receptores das drogas suscetíveis de abuso, assim
como todas as ligações naturais da maior parte desses receptores.
Neurologicamente a drogadição deve ser considerada uma doença. Ela está
ligada a alterações na estrutura e funções cerebrais, e isso torna a drogadição
fundamentalmente uma doença cerebral. Inicialmente, o uso de drogas é um
comportamento voluntário, mas, com o uso prolongado um “interruptor” no cérebro
parece ligar-se, e quando o “interruptor” é ligado, o indivíduo entra em estado de
dependência química caracterizado pela busca e consumo compulsivo da droga.
Em tópico mais adiante falaremos em detalhes sobre a drogadição.

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2 EPIDEMIOLOGIA

Fonte: psiquiatrarj.com.br

Segundo os dados publicados no Relatório Mundial de Drogas de 2007 da


Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, o aumento do uso de cocaína, de
0,4% (em 2001) para 0,7% (em 2005), é considerado um dado importante, assim como
o aumento do uso de maconha. A maconha foi a droga ilícita que apresentou o maior
incremento de uso nos últimos anos, tendo sua porcentagem de uso aumentada de
1%, em 2001, para 2,6% em 2005. A ONU considera que esse aumento é um reflexo
da facilidade de obtenção da droga no país. As anfetaminas também demonstraram
aumento de uso entre a população brasileira, apresentando índices de prevalência
semelhantes aos da América do Norte e da África (WAGNER; ANDRADE, 2008).
Em 2007, a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) publicou uma cartilha
avaliando o consumo de álcool entre a população brasileira. Nesse estudo, foi
encontrado que o uso regular de bebidas alcoólicas pelos adolescentes começa aos
14,8 anos e pelos adultos jovens, aos 17,3 anos. Esses números foram obtidos após
desconsiderar jovens adultos que haviam iniciado o consumo após os 18 anos, ou

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seja, apontando uma redução nas idades médias dos jovens adultos. Pela
vulnerabilidade dessa população, é fundamental monitorar de perto esse fenômeno.
Segundo a SENAD, estudos futuros poderão mostrar se vai ser possível
reverter essa tendência com a implantação de eventuais políticas públicas em relação
ao álcool. Vale a pena ressaltar que não houve diferenças entre os gêneros, quanto à
idade de início de uso e quanto ao padrão de consumo nos adolescentes estudados
(SENAD, 2007).
O consumo de álcool e outras drogas está inserido no cotidiano de grande parte
da população mundial. Tal realidade está associada a uma série de outras situações
de risco à saúde e vem sendo observada em diferentes países, em todos os
continentes.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 10% das
populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente
substâncias psicoativas, independentemente da idade, sexo, nível de instrução e
poder aquisitivo. Salvo variações sem repercussão epidemiológica significativa, essa
realidade encontra equivalência em território brasileiro (MS/BRASIL, 2003).
Um estudo capitaneado pela Universidade de Harvard indica que, entre as dez
doenças mais incapacitantes, cinco são de natureza psiquiátrica: depressão,
transtorno afetivo-bipolar, alcoolismo, esquizofrenia e transtorno obsessivo-
compulsivo (MS/BRASIL, 2003).
Sobre o uso de substâncias psicoativas, o estudo de Harvard sobre a Carga
Global da Doença trouxe a estimativa de que o álcool seria responsável por 1,5% de
todas as mortes no mundo, bem como 2,5% do total de anos vividos com alguma
incapacidade.
No Brasil, o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas,
realizado em 2005 pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas), apontou que 12,3% das pessoas pesquisadas, com idades entre 12 e
65 anos, preenchem critérios para a dependência do álcool, e cerca de 75% já
beberam pelo menos uma vez na vida (CARLINI et al., 2007).
Segundo os dados da pesquisa, o uso na vida de álcool, nas 108 maiores
cidades do país, foi de 74,6%, porcentagem inferior a de outros países (Chile com

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86,5% e Estados Unidos com 82,4%). Em todas as regiões, observaram-se mais
dependentes de álcool do sexo masculino.
O uso na vida para qualquer droga (exceto tabaco e álcool) foi de 22,8%. Essa
porcentagem é, por exemplo, próxima ao Chile (23,4%) e quase metade dos Estados
Unidos (45,8%).
O uso de solventes foi de 6,1%, prevalência superior à verificada na Colômbia
(1,4%) e Espanha (4,0%). Em contrapartida, a prevalência do uso na vida de solventes
nos Estados Unidos foi de 9,5%.
O uso na vida de maconha, nas 108 maiores cidades, foi de 8,8%, resultado
este próximo aos da Grécia (8,9%) e da Polônia (7,7%), porém abaixo dos Estados
Unidos (40,2%) e do Reino Unido (30,8%).
A prevalência de uso na vida de cocaína nas 108 maiores cidades do país foi
de 2,9%, sendo próxima à da Alemanha (3,2%), porém bem inferior a dos Estados
Unidos (14,2%) e do Chile (5,3%). O uso na vida de crack foi de 1,5%, cerca de duas
vezes menor que no estudo norte-americano.
Os dados também indicam o consumo de álcool em faixas etárias cada vez
mais precoces e sugerem a necessidade de revisão das medidas de controle,
prevenção e tratamento.
Outros dados epidemiológicos relevantes são:
20% da população usam substâncias psicoativas no decorrer da vida;
15% no mínimo são portadores da doença da dependência química;
10% a 12% desses usam mais de uma droga concomitante;
A incidência de DQ é de 2 a 6 vezes maior no homem;
DQ evolui do álcool para drogas mais pesadas;
150 mil óbitos/ano por alcoolismo nos USA;
15% dos DQ cometem suicídio (20 vezes maior que na população).
A Associação Norte-americana de Psiquiatria refere, no DSM IV, uma
prevalência de 3% para os Transtornos de Personalidade em homens e de 1% em
mulheres da população geral. Entretanto, essas porcentagens aumentam em
populações clínicas, em geral até 30%, podendo chegar em determinados subgrupos
populacionais como, por exemplo, entre os dependentes crônicos de substância, até

12
92%. As diferenças na incidência dos Transtornos de Personalidade entre pacientes
dependentes químicos despertaram interesses em se relacionar essas duas
condições.

3 AS PRINCIPAIS DROGAS

As drogas psicotrópicas são substâncias psicoativas que alteram o


comportamento, o humor e a cognição, possuindo propriedade reforçadora, sendo,
portanto, passíveis de autoadministração (OMS, 1981), consequentemente podem
levar ao abuso e à dependência.
Reforço ou estímulo reforçador é a capacidade que a droga tem de criar e
manter hábitos e comportamentos relacionados à droga. Essa característica é
considerada fundamental para que a droga seja capaz de induzir dependência. O
reforço pode ser positivo ou negativo. Reforço positivo é a capacidade da droga de
produzir efeitos agradáveis e sensações prazerosas. Reforço negativo é a
capacidade da droga de diminuir sensações desagradáveis. Em muitos casos é difícil
separar qual o tipo de reforço predominante em determinada situação (ALMEIDA,
2006). Por exemplo, o etanol apresenta reforço positivo pela sua capacidade de
produzir euforia e reforço negativo pelo seu efeito ansiolítico e por evitar a síndrome
de abstinência.
A propriedade reforçadora da droga psicotrópica é a característica comum de
todas as drogas de abuso e será discutida mais detalhadamente no tópico de
“Neurobiologia da adição”.
As drogas psicotrópicas podem ser classificadas de várias maneiras, levando
em conta sua estrutura química, seus efeitos farmacológicos ou sua origem natural ou
sintética. A classificação mais utilizada é a proposta por CHALOUT em 1971 para os
psicoativos, que considera o tipo de alteração principal que a droga produz no sistema
nervoso central: estimulante, depressor ou alucinógeno. O quadro a seguir mostra
esta classificação, citando apenas os psicotrópicos.

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3.1 Classificação de Chalout (1971)

Depressores ou Psicolépticos: Álcool, hipnóticos, inalantes, opióides,


ansiolíticos benzodiazepínicos.
Estimulantes ou Psicoanalépticos: Cocaína, anfetaminas, nicotina, xantinas,
outros.
Perturbadores ou Psicodislépticos (Alucinógenos):
Naturais: maconha, mesclalina, psilocibina, caapi +chacrona (Santo Daime) e
outros.
Sintéticos: LSD, anticolinérgicos, ectasy, outros.
Também podemos citar as principais drogas pelas classes mais conhecidas,
inclusive referenciando seus nomes populares ou “de rua”. Normalmente os
profissionais de saúde colocam os nomes dessas classes de drogas em um cartão
plastificado para que os pacientes possam ler e se familiarizar com seus nomes. Esse
cartão é apresentado a seguir.

3.2 Nomes populares ou comerciais das drogas

Produtos do tabaco (cigarro, charuto, cachimbo, fumo de corda);


Bebidas alcoólicas (cerveja, vinho, champanhe, licor, pinga uísque, vodca,
vermutes, caninha, rum tequila, gim);
Maconha (baseado, erva, liamba, diamba, birra, fuminho, fumo, mato, bagulho,
pango, manga-rosa, massa, haxixe, skank, etc);
Cocaína, crack (coca, pó, branquinha, nuvem, farinha, neve, pedra, caximbo,
brilho);
Estimulantes como anfetaminas (bolinhas, rebites, bifetamina, moderine,
MDMA);
Inalantes (solventes, cola de sapateiro, tinta, esmalte, corretivo, verniz, tiner,
clorofórmio, tolueno, gasolina, éter, lança perfume, cheirinho da loló);
Hipnóticos, sedativos (ansiolíticos, tranquilizantes, barbitúricos, fenobarbital,
pentobarbital, benzodiazepínicos, diazepam);
Alucinógenos (LSD, chá-de-lírio, ácido, passaporte, mescalina, peiote, cacto);
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Opiáceos (morfina, codeína, ópio, heroína, elixir, metadona);
Outras - especificar.

4 PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS

Prevenção: Prevenir quer dizer: "preparar; chegar antes de; evitar (um dano ou
um mal); impedir que algo se realize".
A prevenção em saúde indica uma ação antecipada, baseada no conhecimento
que temos das causas de uma doença. Ela tem por objetivo diminuir a chance do
problema aparecer ou, se ele já existe, evitar que piore.
As mais sérias pesquisas sobre a questão nos mostram um aumento do uso de
drogas, mas principalmente, mostram-nos a necessidade de planejarmos ações
preventivas adequadas ao grupo que desejarmos atingir. Prevenir não é banir a
possibilidade do uso de drogas. Prevenir é considerar uma série de fatores para
favorecer que o indivíduo tenha condições de fazer escolhas.
O uso de álcool e outras drogas depende de outros fatores além da vontade do
indivíduo. Há fatores que aumentam as chances do indivíduo iniciar o uso de drogas,
ou ainda, aumentam as chances de que esse uso inicial ou moderado se torne um
uso que traga mais prejuízos para o usuário.
O uso indevido de álcool e outras drogas é fruto de um conjunto de fatores.
Nenhuma pessoa nasce predestinada a usar álcool e outras drogas ou se torna
dependente apenas por influência de amigos ou pela grande oferta do tráfico. Nós
seres humanos, buscamos elementos para aliviar dores e acirrar prazeres. Assim
encontramos as drogas. Algumas vezes experimentamos, outras usamos sem nos
comprometermos, e em outras, ainda abusamos.
Este que usou, se não tiver dentro de um fator biológico importante, se tiver
uma boa relação familiar e se não tiver uma boa sensação com este uso pode, ainda,
fazer só um uso recreacional, mas se suas condições forem de risco ou prazerosas
ele poderá vir a fazer o uso regular de drogas.
Fatores relacionados ao uso de drogas:

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Fatores Pessoais

Habilidades sociais
Cooperação
Habilidades para resolver problemas
De proteção Vínculos positivos com pessoas, instituições e
valores
Autonomia
Autoestima desenvolvida

Insegurança
Insatisfação com a vida
De Risco Sintomas depressivos
Curiosidade
Busca de Prazer

Fatores Familiares

Pais que acompanham as atividades dos filhos


Estabelecimento de regras e de condutas
claras
De proteção
Envolvimento afetivo com a vida dos filhos.
Respeito aos ritos familiares
estabelecendo da hierarquia familiar

Pais que fazem uso abusivo de drogas


Pais que sofrem de doenças mentais
Pais excessivamente autoritários Pais muito
exigentes
De Risco
Famílias que mantêm uma cultura aditiva
(forma de viver de uma família na qual as
soluções são dadas como formas de impedir a
reflexão)

Fatores Escolares

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Bom desempenho escolar
Boa inserção e adaptação no ambiente escolar
Ligações fortes com a escola
Oportunidades de participação e de decisão
Vínculos afetivos com professores e colegas
De
Realização pessoal
proteção
Possibilidade de desafios e expansão da
mente
Descoberta de talentos pessoais
Prazer em aprender
Descoberta e construção de projeto de vida

Baixo desempenho escolar


Falta de regras claras
De Risco
Exclusão social
Falta de vínculos com a aprendizagem

Fatores Sociais

Respeito às leis sociais


Credibilidade da mídia
Oportunidades de trabalho e de lazer
Informações adequadas sobre as drogas e
De
seus efeitos
proteção
Clima comunitário afetivo
Consciência comunitária e mobilização social
Amigos não usuários de drogas e não
envolvidos em atividades ilícitas

Violência
Envolvimento em atividades ilícitas. Amigos
De Risco usuários de drogas
Pressão social para o consumo
Desvalorização das autoridades sociais

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Descrença nas instituições
Falta de oportunidades de trabalho e de lazer

Fatores Relacionados à Droga

Informações contextualizadas sobre


De proteção efeitos Regras e controle para consumo
adequado

Disponibilidade para compra


Propaganda que incentiva e mostra apenas o
prazer que a droga causa
De Risco
Prazer intenso que leva o indivíduo ao uso
Apologia de certos grupos da sociedade ao
uso de drogas (principalmente da maconha).

Devemos ter em mente que vários fatores contribuem para a decisão de alguém
usar drogas, e não somente um fator isolado. Além disso, não é porque um indivíduo
está envolvido em uma vida cheia de fatores de risco que, necessariamente, ele fará
um uso problemático de álcool e outras drogas.
A formação de cada um de nós se inicia na família. É função da família proteger
seus filhos e favorecer neles o desenvolvimento de competências, por exemplo: para
lidar com limites e frustrações. Na adolescência, a falta de proteção da família,
especialmente para o adolescente transgressor, que não sabe lidar com frustrações,
pode favorecer o uso indevido de substâncias psicoativas.
Se o jovem vem de uma família desorganizada, mas encontra em sua vida um
grupo comunitário que faz seu asseguramento, oferecendo-lhe alternativas de lazer e
de desenvolvimento de habilidades pessoais, pode vir a ter sua formação garantida,
aprendendo a criticar por si próprio e pelo grupo social.
A presença de religião na vida do indivíduo é um fator protetor ao uso de
drogas. Diversos estudos têm demonstrado que pessoas que praticam alguma religião
ou que creem em algo superior, tem menores chances de se envolverem com drogas.
Quanto mais religioso o indivíduo, menor seu interesse pelo consumo de substâncias
psicoativas, incluindo as drogas ilícitas.
18
Valores religiosos, em geral, preconizam o bom relacionamento com respeito e
afeto e isto, quando realmente aplicado ao convívio familiar, seria fator de estabilidade
doméstica, permitindo que os jovens cresçam dentro de um ambiente emocionalmente
saudável.
Sabemos que a motivação para o uso de drogas vem de vários fatores, e um
fator de proteção isolado não é garantia que um indivíduo não abusará de
substâncias psicoativas.
Para que se realize um trabalho de prevenção sério e cuidadoso, com um
determinado grupo, é necessário:
Identificar fatores de risco, para minimizá-los;
Identificar fatores de proteção, para fortalecê-los;
Tratar o grupo como específico, para identificar os fatores acima.

5 CRONOLOGIA DO USO DE DROGAS

Com o surgimento da humanidade, surgiu também o uso de certas substâncias


cuja função não é alimentar, mas dar um estado passageiro de euforia, bem-estar e
prazer. Desde os tempos mais remotos, os homens reconheceram esta propriedade
singular nas bebidas alcoólicas e em plantas usadas até hoje para o mesmo
propósito.
A Bíblia num dos seus primeiros registos diz que Noé, tendo saído da arca do
dilúvio, plantou uma vinha e bebeu vinho até se embriagar, seria o vinho a primeira
droga que a humanidade conheceu? Até porque Noé, desnudou-se, depois de beber
o vinho, evidenciando assim o efeito desinibidor e entorpecedor do álcool.
A medicina grega encontrou no ópio um remédio, desde o século X A.C. Foi
proclamado o ópio como o produto mais universal eficaz para a cura das maleitas.
As tábuas de argila feitas pelos Sumérios, achadas na Mesopotâmia,
descrevem o cultivo da papoula e a preparação do ópio, cujas virtudes terapêuticas
eram conhecidas na Pérsia e no Egito, cerca de 1550 A.C.
Os Assírios, utilizavam o cânhamo (maconha) como parte da sua liturgia
religiosa, para adorar seus deuses. Os romanos utilizavam igualmente o ópio para fins

19
medicinais. E suas orgias e bacanais regados a muito vinho são evidências do uso do
álcool para fins recreativos. São os alquimistas que utilizam nas suas pesquisas as
plantas que fazem “voar”. No fim da dinastia Han, os Chineses possuem “o pó das
cinco pedras, o pó que faz comer frio”.
Esta droga é inteiramente mineral, composta de “leite”, de estalactite, de
enxofre, de quartzo, de ametista e de ocre dissolvidos em álcool quente; absorve-se
em pequenas doses e tem virtudes sedativas e euforizantes.
Logo após as primeiras gotas, ela põe “fogo no corpo” e era preciso estar frio
para que os efeitos fossem compensatórios. Era indispensável andar para assimilar
melhor: aquele que “comia o pó” perdia muito rápido a noção do tempo.
O processo de degradação, ligado a um envelhecimento prematuro, era
relativamente rápido: dez anos para um homem jovem e forte, muito menos para todos
os outros. Uma vez iniciado este caminho, já não havia mais volta. Era um verdadeiro
suicídio.
Durante os séculos III e IV, o uso do “pó de cinco pedras”, associado à maconha
e ao gás alquímico expandiu-se maciçamente. Esta primeira dependência em grande
escala desenvolveu-se por ocasião de um “choque” de civilização; já não se apoiava
em nenhum fundamento ritual e já não era justificada pela prática de qualquer religião.
A coca foi conhecida há 600 A.C; as escavações arqueológicas permitiram
descobrir múmias de índios, sepultados com folhas de coca, nos sarcófagos Maias.
Os colonizadores, tudo fizeram para que perdessem o hábito de mascar as folhas de
coca, mas deram-se conta de que essa habituação estimulava as capacidades
laborais dos índios, que trabalhavam em condições deploráveis, passando a incentivar
o cultivo e o consumo e adotaram também o seu uso.
No México, as perseguições pelo Santo Oficio, não foram, durante a
colonização espanhola suficientes para erradicar esse hábito.
No início da idade Média, chega a informação sobre a “mirra”, servia como
tonificante farmacêutico e com o intuito recreativo e medicinais. Os gregos e Romanos
tomaram um preparado de vinho, cânhamo e mirra, “o vino resinato”.
Ao longo da Historia, vários povos serviram-se do consumo de espécies
botânicas enquanto instrumento condutor de uma maior aproximação com as

20
divindades, utilizando-as em rituais religiosos ou em ritos de iniciação e passagem. A
droga tem funcionado entre os Homens e o desconhecido, como uma ponte entre a
vida real e o além.
As descobertas Portuguesas e Espanholas, vieram dar a conhecer um mercado
até então desconhecido. Foi o ópio que se destacou na rota comercial entre a Índia e
Lisboa. Foi até decretado que se cultivasse o ópio para fins de lucro para o Império.
No século VI o consumo de haxixe e ópio era considerado pelos aristocratas
como um vício luxuoso e excêntrico reservado às elites. Quando nos dias de hoje a
comunidade internacional se vê confrontada com o problema da toxicodependência,
verifica-se que este problema já surgiu há muitos séculos. O processo de
desumanidade, empreendeu guerras para defender e impor o seu direito de exportar
estupefacientes, ou seja, de vender com lucro, a destruição e a morte.
Nos finais do século XIX, a cocaína é considerada a droga da moda entre
artistas e intelectuais, substituindo o uso do haxixe e do ópio, sendo que a sua
divulgação atingiu proporções enormes, nos EUA foi utilizada na Coca-Cola, na
Europa com a sua adição foram comercializados vários produtos, como o “vinho
Mariani” que era consumido pelo Papa Leão XIII.
A partir dos anos 50 o uso de drogas dispara de uma forma brutal e gerou o
susto, com o aparecimento do SIDA. O L.S.D. depois de utilizado como terapia a nível
psiquiátrico, é adotado pelo submundo das drogas como um produto privilegiado e
popularizado sobretudo pela cultura “Hippy”. Nos anos 60 viveram-se grandes
iniciativas massificadas tendo a droga como objetivo comum, tais como: a marcha
sobre o Pentágono e o trips festival em São Francisco no ano de 1967; A concentração
de Chicago em 1968: E o mítico Festival Woodstock que reuniu mais de quinhentos
mil espectadores e que tinha como lema: “SEX, DRUGS & ROCK´N`ROLL”.
A partir dos anos 70 assistiu-se ao incremento do consumo de drogas, com
preferência pelas drogas duras como a Cocaína e pela Heroína, por esta altura
começa também a produção de drogas sintéticas. Enquanto isto acontece alargam-se
as faixas etárias que consomem, incluindo crianças e adolescentes.
A droga saiu dos bairros dos intelectuais e artistas e invadiu cidades e vilas,
áreas mais pobres e socialmente mais desfavorecidas. A sociedade contemporânea

21
é altamente competitiva e há quem não olhe os meios para atingir os fins que
pretende. A primazia do prazer, o poder material, tem sobreposto aos valores
culturais, religiosos, e a outros valores sociais, valores do ser humano.
A forma como o jovem se sente na vida face aos seus desejos e inquietações,
em face de autoestima, face aos colegas, face à sua família, pode ser o regulador da
disponibilidade para esta atitude da moda: o consumo.
O êxtase tem sido utilizado principalmente entre jovens e adultos, com boa
formação escolar, inseridos no mercado de trabalho, pertencentes a classes sociais
privilegiadas e sendo poli usuários de drogas. Tendo disseminado seu uso em clubes
e haves.
Já o crack feito a partir da cocaína, é a droga conhecida com o efeito mais
devastador na atualidade. Chega ao sistema nervoso central em 15 segundos, devido
ao fato de a área de absorção pulmonar ser grande e seu efeito dura de 3 a 10
minutos, com efeito de euforia mais forte do que o da cocaína, após o que produz
muita depressão, o que leva o usuário a usar novamente para compensar o mal-estar,
provocando intensa dependência. Não raro, o usuário tem alucinações, paranóia
(ilusões de perseguição).
O uso do crack e sua potente dependência psíquica frequentemente leva o
usuário à prática de delitos, para obter a droga. Os pequenos furtos de dinheiro e de
objetos, sobretudo eletrodomésticos, muitas vezes começam em casa. Muitos
dependentes acabam vendendo tudo o que têm a disposição, ficando somente com a
roupa do corpo. Se for mulher, não terá o mínimo escrúpulo em se prostituir para
sustentar o vício. O dependente dificilmente consegue manter uma rotina de trabalho
ou de estudos e passa a viver basicamente em busca da droga, não medindo esforços
para consegui-la.

22
Fonte: blog.iobconcursos.com

Embora seja uma droga mais barata que a cocaína, o uso do crack acaba sendo
mais dispendioso: o efeito da pedra de crack é mais intenso, mas passa mais
depressa, o que leva ao uso compulsivo de várias pedras por dia.

6 NEUROBIOLOGIA DA ADIÇÃO

A progressão do uso inicial à adição é influenciada por muitos fatores. Entre


eles:
 A droga em si;
 Influências de outras pessoas e ambientais, e,
 As características do usuário como sua personalidade, suas enzimas
metabolizadoras ou sua predisposição geneticamente adquirida.
A interação entre esses fatores é complexa e determina porque alguns
indivíduos apresentam comportamentos aditivos e outros não. O uso inicial da droga
pode ser voluntário, buscando o prazer e as suas propriedades reforçadoras, mas
para a pessoa que apresenta adição, a escolha pelo uso da droga não é mais
voluntária. Na adição, ocorrem neuroadaptações cerebrais semelhantes às que

23
ocorrem no aprendizado de uma tarefa, e o indivíduo procura a droga mesmo na
evidência de consequências pessoais negativas e graves (CHOU; NARASIMNHAN,
2005 apud MPP, 2008).
No entanto, os mecanismos neurobiológicos que determinam essa transição do
uso controlado para o descontrolado ainda não estão totalmente esclarecidos. As
recaídas no uso das drogas é o fator clinico mais difícil de ser controlado no tratamento
da adição. Após longo período de abstinência o craving (compulsão pela droga) pela
droga ou a recaída pode ser iniciado pela presença da droga em si, por pistas
ambientais que estejam associadas à droga ou pelo estresse (SHAHAN; HOPE, 2005
apud MPP, 2008).
As drogas de abuso são substâncias com diversas estruturas químicas e
mecanismos de ação. Na administração aguda cada droga se liga a um sítio de ação
próprio e desencadeia uma série de comportamentos, sensações e efeitos fisiológicos
e dependendo da quantidade usada pode causar um quadro de intoxicação típico da
droga. Essas drogas são todas agudamente recompensadoras (o que leva a repetição
do seu uso) e com o uso crônico, alguns efeitos são compartilhados entre elas, como
produzir sintomas emocionais negativos na sua suspensão, produzir um longo período
de sensibilização e desenvolver um aprendizado associativo droga - pistas ambientais
relacionadas à droga. Acredita-se que esses efeitos crônicos são adaptações que
contribuem para o craving (desejo, compulsão) pela droga e para as recaídas, mesmo
após longos períodos de abstinência.
Existem várias evidências que todas as drogas de abuso convergem a um
circuito comum no sistema límbico cerebral, o qual é responsável pelo controle das
emoções. A principal via que vem sendo investigada é a via dopaminérgica que se
inicia na área tegmental ventral e vai em direção ao núcleo accunbens. Essa via é a
mais importante para os efeitos recompensadores agudos de todas as drogas de
abuso, e várias pesquisas têm mostrado como, apesar de seus diferentes
mecanismos de ação, todas as drogas convergem a essa via, tendo assim efeitos
agudos reforçadores comuns.
Drogas estimulantes (cocaína, anfetaminas) são capazes de ativar diretamente
essa via, principalmente por inibirem a recaptação de dopamina e no caso das

24
anfetaminas, também por aumentarem a liberação deste neurotransmissor. Os
opióides agem como agonistas (são semelhantes a opióides endógenos, assim
“enganam” a célula) em receptores de opióides endógenos (encefalinas, endorfinas e
dinorfina) atuando diretamente em neurônios do núcleo accunbens que promovem
liberação de dopamina. Esses agentes também atuam inibindo interneurônios
gabaérgicos na área tegmental ventral, levando a maior atividade dessa região (MPP,
2008).
A nicotina parece ativar os neurônios da área tegmental ventral diretamente via
receptores nicotínicos e indiretamente pela ativação de neurônios glutamatérgicos que
inervam as células dopaminérgicas. O álcool pela potencialização de receptores
gabaérgicos inibe a função deste neurotrasmissor em terminais de outros
neurotransmissores, aumentando a atividade dos neurônios dopaminérgicos e
também inibe terminais glutamatérgicos que inervam o núcleo accunbens. O álcool
tem vários mecanismos propostos para sua ação, e é a droga que tem o mecanismo
de ação mais complexo e menos conhecido.
O tetrahidrocanabinol, alcalóide presente na maconha, age em receptores para
canabinóides endógenos (como a anandamida), atuando em terminais nervosos
glutamatérgicos e gabaérgicos no núcleo accunbens e diretamente nos neurônios do
núcleo accunbens. Fenciclidina, um potente alucinógeno sintético, inibe receptores
glutamatérgicos pós-sinápticos no núcleo accunbens. Além disso, álcool e nicotina
parecem ativar vias opióides e essas duas drogas e as outras parecem ativar o
sistema canabinóide endógeno (NESTLER, 2005 apud MPP, 2008).
Todas essas drogas causam uma liberação de dopamina cerca de 2 a 10 vezes
maior do que reforçadores naturais e demoram mais para voltar ao normal. Em alguns
casos, como quando as drogas são fumadas ou injetadas endovenosamente, essa
inundação dopaminérgica ocorre quase imediatamente.
Como a dopamina, além das sensações prazerosas, está relacionada com a
motivação, cognição, movimento e emoção, a superestimulação destes sistemas
ensina o indivíduo a repetir o comportamento de busca pela droga. O sistema nervoso
central possui conexões que garantem a repetição de atividades de manutenção da
vida associando essas atividades com prazer ou reforço (como comer, fazer sexo,

25
etc.). Quando o circuito da motivação e recompensa é ativado, o cérebro nota que
algo importante está acontecendo, que precisa ser lembrado e isso ensina a repeti-lo,
muitas vezes sem pensar. Como as drogas de abuso ativam esse sistema, é como se
elas estivessem “sequestrando” esse sistema e “enganando” os circuitos cerebrais
informando que algo importante para a manutenção da vida está acontecendo. Alguns
cientistas dizem que o abuso de drogas é algo que aprendemos a fazer muito bem
(NIH, 2007 apud MPP, 2008).
Essas ações agudas das drogas levam a alterações de membrana e
citoplasmáticas que geralmente são locais e passageiras. Mas elas levam a ativação
de fatores de transcrição da função gênica celular que possivelmente resultam em
mudanças funcionais e morfológicas duradouras (KOOB; SANNA; BLOOM, 1998
apud MPP, 2008).
Um dos fatores de transcrição afetados pelo uso crônico de drogas é o CREB
(cAMP-response-element-binding protein) o qual é expresso em todas as células do
cérebro e é essencial em processos que se iniciam na membrana e levam à alteração
na expressão gênica, ou seja, causa uma modificação no funcionamento das células
cerebrais alvos da droga, podendo assim alterar a função de neurônios
individualmente ou de circuitos neuronais como um todo (CARLEZON; DUMAN;
NESTLER, 2005 apud MPP, 2008).
O uso crônico de cocaína, anfetaminas ou opióides induzem a atividade do
CREB, enquanto álcool e nicotina diminuem sua atividade no núcleo accunbens,
apesar de aumentá-la em outras regiões. O aumento de atividade do CREB no núcleo
accunbens diminui as respostas comportamentais, enquanto a diminuição da sua
atividade aumenta essas respostas. O CREB também é induzido por reforços naturais
(como água com sacarose administrada a animais, e possivelmente na presença de
outros reforçadores naturais) (CARLEZON; DUMAN; NESTLER, 2005 apud MPP,
2008).
Outro fator de transcrição que é afetado pelo uso crônico de drogas é o ÄFosB.
É um fator de transcrição que tem um papel essencial em mudanças adaptativas de
longa duração no cérebro, associadas a diversas condições como adição,
aprendizado, doença de Parkinson, depressão e tratamento antidepressivo. Esse fator

26
de transcrição induz a expressão de várias proteínas da família Fos e que aparecem
em regiões específicas após a administração de várias drogas de abuso, mas
retornam aos níveis basais dentro de algumas horas. Com a administração crônica
dessas drogas, algumas destas proteínas se acumulam nessas mesmas regiões
cerebrais (McCLUNG et al, 2004; NESTLER; BARROT; SELF, 2001 apud MPP,
2008).
Além da via mesolímbica, que envolve o núcleo accunbens, outras regiões que
interagem com ela também se mostram importantes, como amígdala, hipocampo,
hipotálamo e várias áreas do córtex cerebral. Muitas dessas regiões estão associadas
aos sistemas de memória e aprendizado. A via mesolímbica, assim como as outras
regiões citadas, também estão envolvidas com as “adições naturais” como compulsão
por sexo e por jogo (NESTLER, 2005).
Resumidamente, poderíamos dizer que as drogas têm uma ação aguda no
sistema nervoso central da qual se destacam as suas propriedades reforçadoras e os
efeitos observados na intoxicação aguda. Essas ações são passageiras e não
determinam nem a adição nem a dependência, mas promovem a procura inicial pela
droga. Com o uso crônico da droga, ocorrem neuroadaptações, que durante um
período, que varia de droga para droga, de indivíduo para indivíduo e de situação para
situação, ainda são reversíveis e constituem o que se chama de fase de transição
para a adição. É nesta fase que o processo de aprendizado do uso da droga se
desenvolve e todos os estímulos relacionados ao uso estão sendo associados à
presença da droga. É também nesta fase que começam a aparecer os problemas
associados ao uso e que são importantes para motivar o usuário a diminuir ou parar
com o uso, pois nesse período as neuroadaptações ainda são relativamente fáceis de
serem revertidas, desde que o usuário esteja motivado a realizar a mudança do seu
padrão de uso.
Uma das alterações que ocorre nesta fase, é a adaptação do sistema de
recompensa. Como a liberação de dopamina está aumentada e outros
neurotransmissores também estão alterados pela presença da droga, as células
cerebrais se ajustam a esta nova situação, o que se chama de adaptação
homeostática. Essas alterações fazem com que a droga seja menos prazerosa, o

27
indivíduo se sente mal, deprimido, sem vida e fica incapaz de apreciar coisas que
anteriormente lhe davam prazer. Agora, ele necessita de maiores doses da droga para
produzir a ativação dos sistemas de recompensa, fenômeno conhecido como
tolerância. Somado a isso, o sistema nervoso central dele promoveu o aprendizado
do uso da droga e estímulos associados a esse uso adquirem a capacidade de
estimular o circuito de aprendizado fazendo com que a presença de algum destes
estímulos desencadeie a ativação do circuito levando o indivíduo à urgência de usar
a droga (fissura, craving).
Esses estímulos associados podem ser internos e externos ao indivíduo.
Estímulos internos que podem ser associados ao aprendizado de usar a droga são,
por exemplo, certas emoções que o indivíduo experimentava durante ou previamente
ao uso, como alegria, raiva, tristeza, depressão e outras. Estímulos externos
associados ao uso podem ser de várias naturezas, como a presença constante de um
amigo, alguma música ou som característico, luzes do ambiente de uso, local de uso
da droga, entre outros, que dependem da “história” do indivíduo. Esses estímulos
podem ser perceptíveis ao indivíduo ou não. Por exemplo, cita-se na literatura o caso
de um jovem que estava sob tratamento de dependência de cocaína aspirada e que
relatava que em certas ocasiões ele sentia uma forte fissura pela droga, mas não
conseguia identificar o estímulo desencadeante. Após algum tempo de terapia e de
observação do ambiente ao qual estava sendo exposto no momento da fissura, ele
percebeu que quando atravessava uma rua na faixa de segurança ocorria a fissura. A
faixa de segurança é constituída de linhas brancas com fundo escuro, similarmente
ao modo de uso da cocaína aspirada, no qual as “carreirinhas” são linhas brancas
num fundo escuro. Para o cérebro esses estímulos eram generalizados e ativavam o
circuito associado ao uso da droga, causando fissura, ou seja, necessidade urgente
de consumir a droga.
Com o uso continuado da droga, a perda de controle se instala, se
caracterizando a fase da adição. Nesta fase consolidam-se as mudanças adaptativas
da fase de transição, ocorre um redirecionamento de circuitos cerebrais e um aumento
da expressão gênica de proteínas que conferem a vulnerabilidade para a recaída.
Nesta fase o indivíduo necessita de ajuda de profissionais especializados e habilitados

28
para poder enfrentar as suas situações do dia a dia. Nesta fase, normalmente o
indivíduo já obteve muitas perdas: físicas, financeiras, sociais e psicológicas. Muitas
vezes transtornos psiquiátricos se instalam, ou já existiam antes do uso da droga,
complicando muito o quadro do paciente e sua recuperação. Reestruturar os seus
circuitos cerebrais dentro deste panorama bio-psico-social, readquirir motivação para
a mudança de comportamento e ainda atingir sucesso pessoal tornam-se tarefas
“inatingíveis”, e o indivíduo recai. Alguns medicamentos auxiliam no tratamento, mas
não existe “remédio” para essa fase, ainda. Somente a psicoterapia e o forte apoio da
rede social e familiar garantem o sucesso.
Muito se fala da baixa efetividade do tratamento de dependência/adição.
Acredita-se que cerca de 40 a 60% dos pacientes dependentes/adictos que procuram
tratamento se recuperam, quando se considera o primeiro ano de seguimento, mas
estas taxas caem ainda mais quando se acompanha o paciente por um período mais
longo. Pode-se dizer que são taxas baixas, mas quando se compara com outras taxas
de recaída de outras doenças orgânicas crônicas, nota-se que o panorama é parecido.
O jornal JAMA (Journal of the American Medical Association) publicou em 2000 uma
comparação das taxas de recaída de alguns problemas crônicos médicos mais
frequentes. Enquanto para drogadição as taxas de recaída estão entre 40 e 60%, para
diabetes tipo 1 estão entre 30 e 50% e para hipertensão e asma entre 50 e 70%. Isto
demonstra que o tratamento da drogadição, um problema crônico e altamente
estigmatizado, não é diferente de outros problemas crônicos que possuem baixa
estigmatização e que possuem vários programas implantados nos sistemas de saúde
do mundo todo (MPP, 2008).

29
7 MECANISMO GERAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Fonte: gazetainfo.com.br

O renomado médico Dráuzio Varella em entrevista com o médico psiquiatra,


PhD em dependência química, Ronaldo Laranjeiras nos presenteou com respostas a
alguns questionamentos muito pertinentes que vale deixar para apreciação e
esclarecimentos sobre os mecanismos de dependência.
Que mecanismo do corpo humano explica o processo de dependência da
droga?
No cérebro existe uma área responsável pelo prazer. O prazer, que sentimos
ao comer, fazer sexo ou ao expor o corpo ao calor do sol, é integrado numa área
cerebral chamada sistema de recompensa. Esse sistema foi relevante para a
sobrevivência da espécie. Quando os animais sentiam prazer na atividade sexual, a
tendência era repeti-la. Estar abrigado do frio não só dava prazer, mas também
protegia a espécie. Desse modo, evolutivamente, criamos essa área de recompensa
e é nela que a ação química de diversas drogas interfere. Apesar de cada uma possuir
mecanismo de ação e efeitos diferentes, a proposta final é a mesma, não importa se

30
tenha vindo do cigarro, álcool, maconha, cocaína ou heroína. Por isso, só produzem
dependência as drogas que de algum modo atuam nessa área. O LSD, por exemplo,
embora tenha uma ação perturbadora no sistema nervoso central e altere a forma
como a pessoa vê, ouve e sente, não dá prazer e, portanto, não cria dependência.
Vários são os motivos que levam à dependência química, mas o final é sempre
o mesmo. De alguma maneira, as drogas pervertem o sistema de recompensa. A
pessoa passa a dar-lhes preferência quase absoluta, mesmo que isso atrapalhe todo
o resto em sua vida. Para quem está de fora fica difícil entender por que o usuário de
cocaína ou de crack, com a saúde deteriorada, não abandona a droga. Tal
comportamento reflete uma disfunção do cérebro. A atenção do dependente se volta
para o prazer imediato propiciado pelo uso da droga, fazendo com que percam
significado todas as outras fontes de prazer.
A evolução criou, no cérebro, um centro de recompensa ligado diretamente à
sobrevivência da espécie. As abelhas, quando pousam numa flor e encontram néctar,
liberam um mediador chamado octopamina, neurotransmissor presente nas
sensações de prazer. Esses mecanismos são bastante arcaicos?
O sistema de prazer é muito primitivo. É importante para as abelhas e para os
seres humanos também. A droga produz efeito tão intenso porque age nesses
mecanismos biológicos bastante primitivos que representam uma armadilha
poderosa. Na verdade, provoca-se um estímulo forte que está mexendo com milhares
de anos de evolução, portanto, podemos dizer que a droga é um fenômeno
psicossocial amplo, mas que acaba interferindo nesse mecanismo biológico primitivo.
Muitos usuários garantem que a maconha é uma droga fácil de largar, que não
causa dependência. Isso é verdade?
Cada droga tem um perfil de dependência; a maconha não é muito diferente
das demais. Atualmente ela está dez vezes mais forte do que era há 30 anos. Por
isso, não é tão fácil afastar-se dela, principalmente se a pessoa começou a fumar na
adolescência, quando ainda era um ser em formação. O acompanhamento de
usuários de maconha, no ambulatório da Escola Paulista de Medicina, sugere
exatamente o contrário. As pessoas conseguem suspender o uso da droga durante
alguns dias, mas a vontade fica incontrolável e elas voltam a fumar os baseados.

31
No Carandiru, Dráuzio examinava rapazes com tuberculose que fumavam
cigarros de nicotina, de maconha e crack. Explicava-lhes que eles não podiam fumar
de jeito nenhum, porque seus pulmões estavam doentes, muito inflamados. Na
semana seguinte, eles lhe informam que conseguiram suspender o crack e a
maconha, mas o cigarro estava difícil. Isso se repetia nas semanas subsequentes.
Centenas de casos como esse, o convenceram de que o cigarro é mais difícil de largar
do que as outras drogas. É um exagero?

Fonte: www.clinicagaivota.com.br

Embora o efeito da nicotina não seja tão poderoso quanto o da maconha, é


muito mais constante. Imaginemos que o fumante dê dez tragadas em cada cigarro e
fume vinte cigarros por dia. Feitas as contas, num único dia seu cérebro recebeu um
reforço positivo pelo menos duzentas vezes. Cada tragada é igual a uma injeção de
nicotina na veia. Esse estímulo, repetido através dos anos, faz com que a dependência
de nicotina seja mais poderosa do que as outras. A maconha, no momento, passa por
processo semelhante. Mais disponível e mais barata, seu consumo aumentou e,
consequentemente, o número de cigarros fumados por dia e os estímulos cerebrais
que provocam aumentaram também. Portanto, em termos de dependência, as duas
32
drogas não diferem muito. Pelo atual padrão de consumo, mais fácil, accessível e
intenso, maconha e nicotina têm muito em comum. Por isso, Laranjeira não
compartilho a ideia de que maconha seja uma droga leve.
O usuário de cocaína diz que deixará de usar a droga quando quiser. No
entanto, admite que não poderá vê-la, porque entrará em desespero e a vontade de
consumi-la fica incontrolável. Como se pode explicar esse fenômeno?
Ficar longe da droga, quando se está disposto a abandoná-la, faz parte do
processo de aprendizado. No exato instante em que a pessoa vê a cocaína, seu
cérebro começa a preparar-se para recebê-la e dispara um mecanismo que
chamamos de craving ou fissura. Isso vale para qualquer droga. Depois que ficou
dependente, é quase impossível alguém ver a droga e resistir ao desejo de usá-la.
Por isso, na fase inicial do tratamento, aconselha-se que se afaste completamente de
todos esses estímulos, pois ficará menos difícil lidar com o fenômeno da dependência
química.
A maioria das pessoas bebe com moderação, mas algumas fazem uso abusivo
do álcool. Há quem fume maconha ou use cocaína esporadicamente, mas existem os
que fumam crack o dia inteiro. O que explica essa diferença? A resposta está na droga
ou no usuário?
Parte da resposta está na tendência ao uso crônico e na história de cada
pessoa. Quando começou a usar? Como interpreta os sintomas da síndrome de
abstinência? Além disso, o que vai fazer com que repita a experiência não é só a
busca do prazer, mas a tentativa de evitar o desprazer que a ausência da droga
produz.
A dependência é um processo de aprendizado. O fumante, por exemplo, pela
manhã já manifesta sintomas da abstinência. Fica irritado e sua capacidade de
concentração baixa. Ele fuma, o desconforto diminui. Vinte minutos depois, o nível de
nicotina no cérebro cai, voltam os sintomas da abstinência e ele vai aprendendo a
usar a droga pelo efeito agradável que proporciona e para evitar o desprazer que sua
falta produz. A dependência é fruto, então, do mecanismo psicológico que a um só
tempo induz o indivíduo a buscar o prazer e evitar o desprazer e das alterações
cerebrais que a droga provoca. Essa interação entre aspectos psicológicos e efeito

33
farmacológico vai determinar o perfil dos sintomas de abstinência de cada pessoa. A
compulsão é menor naquelas que toleram a abstinência um pouco mais, e maior nas
que a inquietação é intensa diante do menor sinal da síndrome de abstinência.
Resumindo: a dependência química pressupõe o mecanismo psicológico de
buscar a droga e a necessidade biológica que se criou no organismo. Disso resulta a
diversidade de comportamentos dos usuários.
A maconha é um bom exemplo. Seu uso compulsivo hoje é maior do que era
há 20, 30 anos e, de acordo com as evidências, quanto mais cedo o indivíduo começa
a usá-la, maior é a possibilidade de tornar-se dependente. Como garotos de 12, 13
anos, e às vezes até mais novos, estão usando maconha, atualmente o problema se
agrava. Além disso, as concentrações de THC (princípio ativo da maconha)
aumentaram muito nos últimos tempos. Na década de 1960, andavam por volta de
0,5% e agora alcançam 5%. Portanto, a maconha de hoje é 10 vezes mais potente do
que era naquela época.
Diante disso, a Escola Paulista de Medicina sentiu a necessidade de montar
um ambulatório só para atender os usuários de maconha e há uma lista de espera
composta por adolescentes e jovens adultos desmotivados, que fumam 6, 7 baseados
por dia e não conseguem fazer outra coisa na vida. Isso não acontecia quando a
concentração de TSH era mais fraca e o acesso à droga mais restrito.
Quando se conversa com usuários de maconha de muitos anos, eles lastimam
que a droga tenha perdido a qualidade. Sua explicação prova exatamente o
contrário.Terão essas pessoas desenvolvido um grau de tolerância maior à droga?
Laranjeiras acha que a queixa é fruto de um certo saudosismo, uma vez que
há tipos de maconha, entre eles o skank, que chegam a ter 20% de THC. Na Holanda,
foram desenvolvidas cepas que contêm maior concentração desse princípio ativo, o
que faz com que a maconha perca a classificação de droga leve e se transforme numa
substância poderosa para causar dependência. Deve-se considerar, ainda, como
justificativa da queixa que o uso crônico causa sempre certa tolerância.
No Carandiru, a experiência de Varella mostrou que há quem fumasse um
baseado a cada 30 minutos. Uma droga que exija tal frequência de consumo pode ser
considerada leve?

34
Infelizmente não existem drogas leves, se produzirem estímulo no sistema de
recompensa cerebral. Em geral, as pessoas perguntam: mas se a droga dá prazer,
qual é o problema? O problema é que ela não mexe apenas na área do prazer. Mexe
também em outras áreas e o cérebro fica alterado. Diante de uma fonte artificial de
prazer, ele reage de modo impróprio. Se existe a possibilidade de prazer imediato, por
que investir em outro que demande maior esforço e empenho? A droga perverte o
repertório de busca de prazer e empobrece a pessoa. Comer, conversar, estabelecer
relacionamentos afetivos, trabalhar são fontes de prazer que valorizamos, mas não
são imediatas (VARELLA, 2006).

8 SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA/ EFEITO REBOTE

O mecanismo de recompensa cerebral é importante para a preservação da


espécie e ninguém é contra o prazer. Ao contrário, deveríamos estimular o surgimento
de inúmeras fontes de prazer. A dependência química, entretanto, cria uma ilusão de
prazer que acaba perturbando outros mecanismos cerebrais.
Se fumando um baseado a pessoa relaxa, findo o efeito, a ansiedade ganha
força, pois a síndrome de abstinência é imediata. É o chamado efeito rebote.
A cocaína age de forma diferente. O efeito rebote está na impossibilidade de
sentir prazer sem a droga. Passada a excitação que ela provoca, a pessoa não volta
ao normal. Fica deprimida, desanimada. Tudo perde a graça. Como só sente prazer
sob a ação da droga, torna-se um usuário crônico. Às vezes, tenta suspender o uso e
reassumir as atividades normais, mas nada lhe dá prazer. Parece que, por vingança
divina, o cérebro perdeu a capacidade de experimentar outras fontes que não a desse
prazer artificial que a droga proporciona.
Essa é uma das tragédias a que se expõem os dependentes químicos. No
processo de reabilitação, quando a pessoa para de usar droga, é fundamental ajudá-
la a reencontrar fontes de prazer independentes da substância química.
Quem está de fora dificilmente entende o comportamento do dependente.
Quem está passando por isso, vê a realidade de forma diferente?

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Na verdade, essa pessoa está doente. Seu cérebro está doente, com a
sensação de que não existe outro prazer além da droga. Isso acontece também com
o cigarro, uma fonte preciosa de prazer para os fumantes que adiam a decisão de
parar de fumar por medo de perdê-la. De fato, 30% dos fumantes, logo depois que se
afastam da nicotina, apresentam sintomas expressivos de depressão e precisam ser
medicados com antidepressivos.

9 RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE DROGAS - 2009

O Relatório Mundial sobre Drogas - 2009, lançado pelo Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), mostra que o mercado global de cocaína,
opiáceos (ópio, morfina e heroína) e de maconha está estável ou em declínio,
enquanto a produção e o uso de drogas sintéticas estão em crescimento nos países
em desenvolvimento.
O relatório de 314 páginas, elaborado para o Dia Internacional contra o Tráfico
e o Abuso de Drogas, celebrado no dia 26 de junho, foi lançado em Washington pelo
diretor-executivo do UNODC, Antonio Maria Costa, e pelo recém nomeado diretor do
Gabinete de Política Nacional de Fiscalização das drogas (ONDCP, na sigla em
inglês) dos Estados Unidos, Gil Kerlikowske.

9.1 Tendência de declínio nos principais mercados

O cultivo de ópio no Afeganistão, país responsável por 93% da produção


mundial de ópio, diminuiu 19% em 2008. A Colômbia, país que produz a metade da
cocaína no mundo, observou uma redução de 18% no cultivo e uma redução de 28%
na produção da droga, em comparação com 2007. A produção global de cocaína foi
estimada em 845 toneladas, a mais baixa em cinco anos, apesar de terem sido
observados aumentos no cultivo no Peru e na Bolívia.
A maconha continua sendo a droga mais cultivada e consumida em todo o
mundo, ainda que as estimativas sobre essa droga sejam menos precisas. Os dados
mostram também que ela é mais danosa à saúde do que o que se costuma acreditar.

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O índice médio de THC (o componente danoso da droga) observado na maconha na
América do Norte quase dobrou na última década. Essa mudança traz grandes
implicações à saúde, evidenciada por um aumento significante no número de pessoas
em busca de tratamento.
Em termos de consumo, os maiores mercados de maconha do mundo (América
do Norte, Oceania e Europa Ocidental), de cocaína (América do Norte e parte da
Europa Ocidental) e de opiáceos (Sudeste da Ásia e Europa Ocidental) estão estáveis
ou em declínio. Os dados dos países em desenvolvimento são menos confiáveis.

9.2 Provável aumento no uso e na produção de drogas sintéticas nos países


em desenvolvimento

As informações sobre drogas sintéticas - anfetaminas, metanfetaminas e


ecstasy - são mescladas. O uso nos países desenvolvidos se estabilizou. Nos países
em desenvolvimento, há uma preocupação sobre o crescimento na produção e no
consumo, ainda que os dados sejam limitados.
O que antes era uma produção artesanal se transformou em um grande
negócio. Laboratórios de porte industrial no Sudeste Asiático - particularmente na sub-
região do Grande Mekong - estão produzindo quantidades massivas de comprimidos
de metanfetaminas, crystal meth (conhecida como ice) e outras substâncias como a
quetamina.
Alguns países da União Europeia são os principais fornecedores de ecstasy; o
Canadá se transformou no principal eixo de tráfico de meth e ecstasy.
O uso da anfetamina Captagon foi às alturas no Oriente Próximo e no Oriente
Médio. Em 2007, a Arábia Saudita apreendeu um terço de todas as substâncias do
grupo anfetamina no mundo, mais do que o aprendido na China e nos Estados Unidos
juntos.

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9.3 As rotas de tráfico estão mudando

Fonte: www.vivermentecerebro.com.br

“O mercado global de cocaína, que movimenta US$ 50 bilhões, está passando


por mudanças sísmicas”, disse Antonio Costa, diretor executivo do UNODC. “Os
índices de pureza e o número de apreensões (nos principais países consumidores)
estão diminuindo, os preços estão aumentando, e os padrões de consumo estão em
evolução. Isso pode ajudar a explicar o terrível aumento nos índices de violência em
países como o México. Na América Central, os cartéis estão disputando um mercado
em retração”, disse Costa.
Na África Ocidental, o declínio nas apreensões parece refletir a diminuição dos
fluxos de cocaína, após cinco anos de intenso crescimento. “Os esforços
internacionais estão dando resultados”, disse Costa. Mas ainda se observa na região
violência e instabilidade política relacionadas às drogas, principalmente em Guiné-
Bissau. “Enquanto houver demanda por drogas, os países mais vulneráveis
continuarão sendo alvos dos traficantes. Se a Europa realmente quiser ajudar a África,
deve diminuir seu apetite por cocaína”, disse o principal oficial das Nações Unidas
para a questão das drogas.
Enquanto 41% da produção mundial de cocaína é apreendida (principalmente
na Colômbia), apenas um quinto (19%) de todos os opiáceos do mundo são
interceptados. Irã e Paquistão são os países mais afetados pelo tráfico de drogas e

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são eles os responsáveis pelas maiores apreensões de opiáceos (ópio, morfina e
heroína). Em 2007, o Irã apreendeu 85% do ópio produzido no mundo e 28% de toda
a heroína. O Paquistão está na segunda posição em termos de apreensões de heroína
e morfina.
A fim de aperfeiçoar o intercâmbio de informações e a ação conjunta de
operações contra narcóticos, o UNODC desenvolveu uma iniciativa triangular entre o
Afeganistão, o Irã e o Paquistão. “Quanto mais ópio for apreendido no Afeganistão e
em seus vizinhos, menos heroína haverá nas ruas da Europa. E vice-versa: quanto
menos heroína for consumida no Ocidente, mais estáveis estarão os países da Ásia
Ocidental”, disse Costa.

9.4 Saúde pública e segurança pública não podem estar dissociadas

O Relatório chama muita atenção sobre o impacto dos crimes relacionados a


drogas - e o que fazer sobre isso. No prefácio do Relatório, Costa explora o debate
sobre a descriminalização das drogas. Ele admite que a manutenção das drogas como
ilícitas gera um mercado negro de proporções macroeconômicas, que causa violência
e corrupção. Entretanto, ele alerta que a proposta de legalização das drogas como
uma forma de acabar com essa ameaça - como alguns sugerem - seria um “erro
histórico”. “As drogas ilícitas representam um grande perigo à saúde. Por essa razão,
as drogas são e devem permanecer controladas”, disse o diretor do UNODC.
“Quem propõe a legalização se equivoca nos dois sentidos”, disse Costa. “Um
mercado liberado acarretaria em uma epidemia de drogas, enquanto a existência de
um mercado controlado acarretaria na criação um mercado paralelo criminoso. A
legalização não é uma varinha mágica que acabaria tanto com o crime organizado
quanto com o abuso de drogas”, disse Costa. “A sociedade não deve ter de escolher
entre priorizar a saúde pública ou a segurança pública: ela pode e deve optar por
ambas”, disse. Nesse sentido ele pede aos países um maior investimento em
prevenção e tratamento de drogas, e medidas mais pesadas para enfrentar o crime
relacionado às drogas.

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O Diretor do Gabinete de Política Nacional de Fiscalização das drogas
(ONDCP) dos Estados Unidos, Gil Kerlikowske, disse: “O Relatório Mundial sobre
Drogas 2009 demonstra que as drogas são um problema que atinge a todos os países.
Todos nós temos a responsabilidade de enfrentar o abuso de drogas na nossa
sociedade. Internacionalmente, a administração Obama está comprometida em
expandir iniciativas de redução de demanda a fim de garantir que todos aqueles que
lutam para superar o vício tenham acesso a programas efetivos de tratamento,
especialmente nos países em desenvolvimento. Estamos aprendendo muito sobre a
doença da drogadição e sabemos que o tratamento funciona. Por meio de uma ação
abrangente de aplicação da lei, de educação, de prevenção e de tratamento, teremos
êxito em reduzir o uso de drogas ilegais e suas consequências devastadoras”.

9.5 Como melhorar o enfrentamento às drogas

O Relatório oferece uma série de recomendações sobre como melhorar a


política de enfrentamento às drogas. Primeiramente, a questão das drogas deve ser
considerada como uma doença. “Quem usa drogas necessita de assistência médica,
e não de uma sanção criminal”, disse Costa. Ele clama por um acesso universal ao
tratamento de drogas. Considerando que as pessoas com sérios problemas com
drogas são as responsáveis pela maior parte da demanda por drogas, tratar essas
pessoas é a maneira mais efetiva de reduzir o mercado.
Além disso, Costa pede o fim da “tragédia” que são as áreas sem a presença
do Estado. Do mesmo modo em que a maior parte dos cultivos ilícitos ocorre nas
regiões sem a presença do Estado, a maior parte da droga é vendida nas regiões
urbanas nas quais a ordem pública encontra-se fragilizada. “Moradia, emprego,
educação, acesso aos serviços públicos e ao lazer podem fazer que as comunidades
estejam menos vulneráveis às drogas e ao crime”, disse Costa.
Em terceiro lugar, os governos devem aderir aos tratados internacionais contra
o crime organizado. Os instrumentos internacionais de enfrentamento ao crime como
a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado e contra a Corrupção
não estão sendo respeitados. “Por isso, muitos Estados estão enfrentando problemas

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de crime criados por eles mesmos”, disse o diretor do UNODC. Particularmente, ele
destaca que “os instrumentos atualmente usados para enfrentar a lavagem de dinheiro
e os cibercrimes são inadequados”.
Costa pediu também uma maior eficiência na aplicação da lei. Ele estimulou as
polícias a focar seus esforços em um número menor de criminosos com maior
influência e volume de ação do que em um grande número de contraventores de
menor potencial ofensivo. Em alguns países, a taxa de prisão por uso de drogas é de
até cinco vezes maior do que a por tráfico. “Isso é um desperdício de recursos da
polícia, e um desperdício de vidas jogadas nas cadeias. Devemos ir atrás dos peixes
grandes, não dos pequenos”, disse Costa.
Em um esforço para aumentar a transparência e a qualidade dos dados
relacionados às drogas, em 2009 o UNODC introduziu um espectro de variáveis nas
estimativas por país utilizadas no Relatório Mundial de Drogas. Para muitas regiões,
e para alguns tipos de drogas (como maconha e substâncias do tipo anfetamina) a
variação de estimativas é relativamente ampla, já que o acesso à informação é mais
limitado. “É fundamental que os governos se esforcem na coleta de informações. Isso
proporcionará uma análise mais precisa das tendências e, como resultado, melhorará
o enfrentamento às drogas”, disse Costa.

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