Você está na página 1de 14

JUDEUS NO BRASIL:

explorando os dados censitários*

René Daniel Decol

Introdução Isto se deve à existência da categoria “judeus” na


pergunta sobre religião. Diferentemente de muitos
Embora tenha crescido o número de traba- países do mundo, o censo brasileiro traz uma
lhos sobre a presença judaica no Brasil, ainda falta pergunta sobre religião, o que nos permite traçar
muito para que tenhamos um amplo panorama um amplo panorama das transformações religiosas
histórico. A história da imigração judaica ainda não ocorridas no Brasil nos últimos 50 anos (Decol,
foi mapeada com a mesma abrangência de outros 1999). No caso específico dos judeus, a existência
grupos, como italianos e japoneses, talvez porque de informação censitária desde 1940 é uma vanta-
envolva dificuldades únicas — afinal, ao contrário gem interessante para o pesquisador interessado
da italiana ou japonesa, a imigração judaica partiu em resgatar a sua história.
de dezenas de países diferentes (Grün, 1999). Para O objetivo deste artigo é investigar algumas
reconstruí-la é necessário compreender o contexto características sociodemográficas deste grupo, uti-
em que judeus viviam em regiões e situações tão lizando os dados censitários colhidos pelo IBGE
diversas como a Europa Central no período entre nos censos decenais realizados entre 1940 e 1991.
as duas guerras mundiais e o Oriente Médio depois A questão da identidade judaica é assunto amplo
do aparecimento do Estado de Israel. demais para ser aqui discutido a fundo. Para a
Por outro lado, devido também a suas caracte- finalidade deste artigo é importante mencionar que
rísticas únicas, judeus formam um dos únicos gru- os dados obtidos pelos censos demográficos são
pos imigrantes sistematicamente pesquisados pelos de natureza auto-identificatória: os entrevistados
censos demográficos brasileiros a partir de 1940. são convidados a responder qual a religião de cada
um dos membros do seu domicílio. Embora a
* Este artigo resume alguns tópicos desenvolvidos em definição de quem é judeu ou não possa ganhar
minha tese de doutorado, Imigrações urbanas para o diferentes enfoques, na maior parte dos estudos
Brasil: o caso dos judeus, defendida no Instituto de quantitativos a única definição operacionalmente
Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, em
1999, sob a orientação de Daniel Hogan. Agradeço os viável é justamente a autodefinição (Schmelz e
comentários dos pareceristas anônimos da RBCS. DellaPergola, 1992, p. 486n).

RBCS Vol. 16 no 46 junho/2001


148 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46

As dificuldades envolvendo a definição de em um levantamento censitário); estendida (a po-


quem é judeu, para fins de pesquisa social empíri- pulação nuclear mais aqueles que, embora de
ca, foram exaustivamente analisadas por Schmelz e origem judaica, não se definem atualmente como
DellaPergola (1992, p. 486): tais); e finalmente, ampliada (a população estendi-
da mais os membros não-judeus de suas famílias,
Em muitos aspectos, judeus partilham das dificul- tais como cônjuges e filhos em casamentos mistos).
dades enfrentadas quando se tenta definir, identi- De um ponto de vista operacional, os dados
ficar e enumerar minorias nas sociedades contem- censitários se referem apenas à população nuclear
porâneas. As dificuldades são ampliadas pelas e se referem àqueles que se definem como judeus
características únicas deste grupo, onde se mistu- por religião (já que a pergunta é formulada nos
ram componentes religiosos, étnicos, culturais e seguintes termos: “qual é a religião de cada um dos
históricos, bem como pela sua dispersão geográfi- membros do domicílio?”). Outras definições, mais
ca e estrutura socioeconômica muito particular. amplas, provavelmente nos levariam a números
Nas sociedades contemporâneas que experimen- diferentes, abarcando outras definições. É o caso,
tam processos intensos de secularização, acultura- por exemplo, dos descendentes de judeus que, no
ção e interação social, as linhas demarcatórias que contexto de uma sociedade em processo intenso
separam diferentes grupos religiosos, étnicos e de secularização como a brasileira, em número
culturais não são mais rígida e claramente demar- cada vez maior se dizem sem religião. É possível
cadas, como acontecia no passado. Múltiplas ba- que muitos se definiriam como judeus por outras
ses de identificação entre indivíduos e grupos características (sociais, étnicas, culturais ou históri-
podem coexistir. Como a identificação não é cas) se a pergunta tivesse outra natureza.1 A
regulada legalmente, indivíduos podem mudar experiência dos levantamentos censitários sobre
suas preferências durante seu ciclo vital. Indiví- judeus em outros países, como o Canadá (Millman,
duos de origem judaica podem vivenciar diferen- 1983), mostra que o grupo que se define como
tes níveis de vinculação ao judaísmo ou à comuni- judeu por religião forma um núcleo central ao
dade judaica, e podem resolver cortar os respecti- redor do qual gravita uma população maior e que
vos elos, adotando ou não outra identidade. Estas envolve judeus por outro tipo de definição, além
mudanças atitudinais são reversíveis: pessoas que de familiares não-judeus. Os dados censitários,
negam seu vínculo com o judaísmo podem mudar portanto, embora não abarquem outras definições
de idéia mais tarde. Alguns, ainda, podem admitir possíveis da população judaica, jogam alguma luz
ou negar a identidade judaica dependendo das sobre um componente importante — seu núcleo
circunstâncias. Outro elemento deste quadro é a central.
freqüência crescente de casamentos mistos. Al- Os dados são importantes não apenas para a
guns casais preferem unificar a família, um dos comunidade judaica brasileira mas também para
cônjuges adotando a religião do outro; outros pesquisadores do ciclo da imigração internacional
preferem manter as diferentes identidades religio- para o Brasil. Afinal, oferecem a rara oportunidade
sas. Filhos de casais mistos, por sua vez, estão da rastrear a evolução de um grupo de imigrantes
sujeitos a serem expostos às diferentes tradições ao longo de sua trajetória de assimilação na socie-
de seus pais, a partir das quais sua própria identi- dade brasileira. Dada a condição singular dos
dade será moldada. judeus, o grupo carrega um “marcador”: a religião
judaica, que pode ser rastreada ao longo de suces-
Para contornar as dificuldades impostas pela sivas gerações pela pergunta do censo. Uma per-
definição fluida e voluntarista de quem é judeu, os gunta sobre país de nascimento, para pessoas não-
autores desenvolveram um quadro referencial naturais do Brasil, permite identificar imigrantes
onde definem três conceitos diferentes de popula- pelo país de origem — mas isto é possível apenas
ção judaica: nuclear (aqueles que se definem para a geração dos que imigraram. Para seus filhos,
como judeus quando perguntados, por exemplo, já nascidos no Brasil, a informação sobre a origem
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 149

se perde. Portanto, não é possível utilizar dados Revisão da literatura


censitários para outros grupos étnicos por mais de
uma geração. Judeus são uma notável exceção Entre os estudos que têm sido publicados
porque o “marcador” religião é uma característica, sobre judeus no Brasil, nota-se uma preocupação
em geral, transmitida ao longo de gerações. em definir os principais parâmetros quantitativos,
Portanto, além de todas as incertezas ineren- preocupação esta fundamental quando se analisa
tes a qualquer tentativa de medição quantitativa um grupo pequeno e com características tão peculi-
em ciências sociais (King, Keohane e Verba, 1994), ares. Sendo um grupo cuja chegada no Brasil é mais
os dados censitários ainda trazem um nível adicio- recente que a dos imigrantes “clássicos” (alemães,
nal de incerteza, devido às complexidades envolvi- italianos e japoneses, por exemplo), é natural que
das na definição de quem é judeu. Como judeus haja um interesse em determinar o seu tamanho e
eram discriminados em boa parte de seus países de suas características demográficas e socioeconômi-
origem (inclusive legalmente), esta incerteza era cas. Devido ao foco específico deste artigo, a
menor no passado mas cresce à medida que seus revisão da literatura a seguir se refere apenas aos
filhos se integram na sociedade brasileira. estudos relevantes para um enfoque demográfico.
Outra incerteza adicional está relacionada Rattner (1972) é um pioneiro neste tipo de
com a metodologia censitária, já que a pergunta estudo, tendo coordenado uma pesquisa realizada
sobre religião provém do questionário da amostra, por instituições comunitárias em fins dos anos 60,
aplicado apenas a um subconjunto da população. no município de São Paulo. Utilizando seus resul-
Esta incerteza, decorrente do erro amostral, incide tados, este autor publicou em 1977 um amplo perfil
apenas nos levantamentos a partir de 1960, quando quantitativo, com foco em aspectos culturais e
foi introduzido o procedimento — nos censos de sociológicos. Deve-se a Rattner, ainda, a divulga-
1940 e 1950 a pergunta sobre religião era feita no ção entre nós de textos clássicos sobre a imigração
questionário universal. O erro amostral, por outro judaica, principalmente Lestschinsky (1961) e En-
lado, deve ser maior para 1991 do que para 1980, gelman (1961), publicados em sua antologia Nos
já que a amostra utilizada em 1991 foi menor do caminhos da diáspora (Rattner, 1972).
que a de 1980. Outras incertezas podem ainda ter Lesser (1995) trouxe uma contribuição im-
afetado os dados mais recentes: como argumenta portante aos estudos de cunho demográfico ao
Grün (1999, p. 363n), evangélicos podem ter se focalizar um período específico, aquele em que a
declarado judeus, principalmente a partir de 1991, chamada “questão judaica” emergiu no país. Com
quando a presença deste grupo se torna mais sua pesquisa, Lesser supriu lacunas importantes na
significativa. historiografia, localizando algumas das principais
Estes diferentes níveis de incerteza, que inci- correntes migratórias que marcaram a chegada do
dem de forma diferenciada ao longo da série grupo. Autores como Grün (1999) têm explorado
histórica, alertam sobre a cautela que se faz neces- interpretações históricas de diversos aspectos do
sária na análise. Ainda assim, os dados são relevan- perfil social e cultural da comunidade, baseados
tes. Como lembram os metodólogos, um tópico em dados quantitativos históricos e naqueles reve-
importante em ciências sociais merece ser estuda- lados por Rattner. Outros autores, como Blay
do mesmo que a qualidade dos dados seja limitada. (1997), têm se concentrado em correntes específi-
As conclusões assim obtidas podem ter seu alcance cas dentro do mosaico étnico judaico.
limitado pela qualidade dos dados e devem ser Poucos, no entanto, têm usado os dados
relativizadas; mas, uma vez que o pesquisador provenientes da pergunta sobre religião dos cen-
reporte o nível de incerteza envolvido, é possível sos demográficos decenais. A rigor, apenas dois
obter ganhos significativos em conhecimento so- pesquisadores israelenses, Schmelz e DellaPergola
bre o tópico em questão (King, Keohane e Verba, (1985), detiveram-se sobre os dados censitários
1994, p. 6). brasileiros ao elaborar um panorama demográfico
sobre os judeus da América Latina. O interesse pelo
150 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46

conjunto da comunidade latino-americana, no en- fico, onde estão concentrados? A ausência deste ma-
tanto, impediu que os autores se aprofundassem peamento inicial prejudica tentativas de se fazer um
mais detidamente no caso brasileiro. Além disso, mapeamento mais abrangente da comunidade. Parte
os últimos dados disponíveis quando da publica- desta ausência pode ser explicada pelas dificuldades
ção do seu artigo eram os do censo de 1980. inerentes ao tema, já apontadas.
Muito importante, do ponto de vista metodo- Uma maneira de se suprir estas lacunas é
lógico, é o artigo de Schmelz (1981) onde estão utilizando dados dos censos demográficos, que,
delineados os principais conceitos necessários a evidentemente, trazem informações não apenas de
uma análise demográfica de qualquer comunidade judeus proeminentes. Embora poucos estudos te-
judaica (ou, de resto, de qualquer grupo religioso), nham usado esta fonte de dados, “judeus” é, como
seja em Israel ou na diáspora. Neste artigo seminal, vimos, uma das categorias investigadas pela decla-
Schmelz mostra que, com exceção dos Estados ração de religião dos censos do IBGE desde 1940.2
Unidos, na maioria dos países da diáspora os judeus Há dados censitários publicados, portanto, cobrin-
já enfrentavam, por volta do início da década de do todo o período que vai de 1940 a 1991, com
1980, taxas negativas de crescimento populacional. exceção de 1970, quando o grupo foi incluído em
Em geral, são significativas as observações de uma categoria genérica e residual, “outros”.
Levine (1995) de que, em grande parte, a literatura Além disso, com o avanço recente das ferra-
sobre judeus ainda guarda um tom de celebração, mentas de informática, dados censitários relativos
típico dos primeiros escritos sobre grupos imigran- aos levantamentos de 1970 em diante estão agora
tes, onde predominam tentativas de mostrar que à disposição dos pesquisadores em discos laser, o
importantes personagens da história eram judeus, que permite uma grande flexibilidade na obtenção
ou descendentes de cristãos-novos. Levine lembra dos mais diversos tipos de cruzamentos entre
também que, enquanto muito se fala sobre judeus variáveis. Assim, é possível extrair um grande
famosos, pouco sabemos sobre o grosso da comu- conjunto de dados demográficos e socioeconômi-
nidade: cos relativos à subpopulação de religião judaica no
âmbito dos últimos dois censos, o de 1980 e o de
Sabemos muito sobre empresários de sucesso [...], 1991. No presente artigo, procurei fazer uma aná-
escritores e artistas de origem judaica [...] Por outro lise de alguns aspectos sociodemográficos da co-
lado, a literatura nos diz pouco sobre judeus munidade judaica brasileira utilizando dados pu-
brasileiros menos proeminentes [...] A maior parte blicados dos censos de 1940 em diante e processa-
do que foi publicado procura fazer uma crônica da mentos especiais dos censos de 1980 e 1991. Uma
história de sinagogas, clubes e instituições comu- análise mais abrangente, incluindo aspectos socio-
nitárias, passando ao largo da vida de pessoas econômicos, pode ser encontrada na minha tese
comuns, e sem colocar a vida de judeus brasileiros de doutorado (Decol, 1999). Além de atualizar a
no contexto mais amplo da sociedade brasileira, série histórica, é a primeira vez que se utilizam
como se judeus vivessem em um vácuo. [...] Não processamentos especiais para se estudar uma
sabemos praticamente nada, por exemplo, sobre minoria religiosa brasileira.
os cerca de 30% dos judeus brasileiros que não Antes da análise propriamente dita, vale a
estão engajados na indústria, nos negócios ou nas pena discutir por que estes dados existem — ou
profissões liberais e que, portanto, não pertencem seja, as razões pelas quais judeus passaram a ser
à classe média afluente. (Levine, 1995) pesquisados pelos censos demográficos brasilei-
ros. Afinal, o censo é fundamentalmente um instru-
É sensível também a falta de informações bási- mento de coleta de informações que possam nor-
cas sobre a comunidade do ponto de vista demográ- tear políticas públicas. Mas o censo é também um
fico: afinal, quantos são os judeus brasileiros, de onde espelho da sociedade: muitas das suas questões
vieram, em que época e onde se instalaram? Onde vi- provêm de interesses políticos existentes no mo-
vem hoje, como estão distribuídos no espaço geográ- mento em que o levantamento é organizado (Ro-
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 151

bey, 1984; Anderson, 1988). Em diversos momen- estabelecera como um importante destino da mi-
tos da história e em vários países, censos foram gração internacional, tornou-se uma alternativa na-
utilizados também para obter informações sobre tural. Sucessivamente, judeus provenientes do Im-
minorias indesejáveis, muitas vezes com o objetivo pério Russo, dos Bálcãs e da Europa Central passa-
de subsidiar políticas restritivas. Isto aconteceu ram a chegar em números crescentes: calcula-se
com judeus, por exemplo, na Rússia czarista do que, entre 1920 e o início da Segunda Guerra
século XIX (Rowland, 1986). E com grande sofisti- Mundial, mais de 50 mil judeus tenham aqui aporta-
cação organizacional e tecnológica no censo da do (Lestschinsky, 1961; Wischnitzer, 1948).
Alemanha nazista de 1939 (Seltzer, 1998; Black, Desde as últimas décadas do século XIX, o
2001). Até que ponto o namoro de Getúlio Vargas Brasil havia recebido alguns milhões de imigrantes
com o nazismo era o pano de fundo para a europeus, vindos principalmente da Itália, Alema-
existência de uma categoria independente para os nha, Portugal, Espanha e Polônia. Embora, a prin-
judeus no censo brasileiro de 1940 é assunto cípio, a maior parte desta imigração fosse rural,
aberto a discussões. Vale lembrar que Giorgio começava a crescer a participação de fluxos com
Mortara, demógrafo italiano de ascendência judai- destino às cidades (Klein, 1999; Fausto, 1991). O
ca que foi o diretor técnico do censo de 1940, conta grosso da imigração, no entanto, era rural. Calcula-
em sua autobiografia que quando assumiu o cargo se que 70% da imigração italiana tenha tido origem
encontrou as perguntas já prontas (Mortara, 1985). e destino rural (Alvim, 1998; Trento, 1989). Este
Uma vez introduzida, a categoria acabou permane- seria o caso de 50% da imigração portuguesa
cendo nos questionários dos levantamentos se- (Klein, 1989). Mesmo com metade do seu contin-
guintes, tradição que persiste até hoje.3 gente se dirigindo para destinos rurais, a imigração
portuguesa é considerada a mais urbana de todas
as migrações “clássicas” (Klein, 1989).
Dados censitários sobre judeus:
Neste contexto, alguns grupos, como judeus,
interesse político ou curiosidade
sírios e libaneses, se diferenciavam por apresentar ca-
sociológica?
racterísticas singulares (Truzzi, 1997). Em primeiro lu-
Como se sabe, a presença judaica no Brasil gar, o fato de serem mais urbanos. Esta característica
data do período colonial. Banidos da Península é particularmente significativa no caso dos judeus. Os
Ibérica a partir de fins do século XV, judeus judeus se urbanizaram mais cedo do que a maioria
convertidos em cristãos-novos tiveram participa- dos grupos populacionais e de forma universal (En-
ção importante nos primórdios da formação da gelman, 1961; Lestschinsky, 1961). Já na Antiguidade
população brasileira. No entanto, não fizeram isso apresentavam características peculiarmente urbanas
como judeus, com uma identidade religiosa, cultu- (Baron, 1957) e, por circunstâncias históricas muito
ral e histórica distinta. específicas, continuaram sendo um grupo essencial-
A presença judaica assumida como tal tem mente urbano ao longo de sua história. Claro que a
início apenas no século XIX, após a Constituição de própria definição do que é “urbano” variou conside-
1824 ter instituído formalmente a liberdade religio- ravelmente ao longo deste período. De qualquer for-
sa no país. Como fenômeno de massa, no entanto, a ma, pode-se afirmar que judeus estiveram quase sem-
imigração judaica começou depois do desenvolvi- pre, e em grande maioria, no nível mais urbano pos-
mento da navegação a vapor e do estabelecimento sível em cada momento histórico.
de linhas comerciais entre a Europa e o Brasil, o que O resultado disto foi sua marginalização du-
aconteceria só na segunda metade do século XIX rante o período feudal, quando o poder era basea-
(Moya, 1998). Mas o movimento ganharia volume do na posse da terra e o comércio, desprezado.
significativo apenas na segunda metade da década Impedidos de terem acesso à terra, judeus foram
de 1920, quando Estados Unidos e Argentina intro- mantidos à margem da economia senhorial, estig-
duziram restrições à entrada de determinados gru- matizados e legalmente discriminados. Com as
pos. O Brasil, que desde fins do século XIX se revoluções comercial e industrial, judeus viram nas
152 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46

cidades em expansão uma oportunidade que se Estado Novo, durante o debate sobre a “questão
abria para escapar desta posição subalterna (Lests- judaica”, alguns faziam estimativas altamente exa-
chinsky, 1961). geradas. “400 mil judeus vivem no Brasil; 150 mil
Quando começaram a chegar em números entraram nos últimos seis meses”, publicou no final
maiores ao Brasil, já na década de 20, o país iniciava de 1940 o Meio-Dia, jornal carioca financiado por
sua transição para uma nação cada vez mais urbana alemães (Lesser, 1995, p. 231). Quando os dados
e industrializada. Com uma vocação urbana bem censitários foram finalmente publicados, soube-se
mais acentuada que todos os outros grupos imi- que a comunidade judaica tinha algo ao redor de 50
grantes, os judeus se dirigiram, em sua grande mil pessoas — cerca de oito vezes menos do que
maioria, principalmente para três grandes centros apregoava a manchete alarmista do Meio-Dia.
urbanos: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.4 Durante o período em que a “questão judaica”
Uma vez instalados, os judeus começaram a era debatida publicamente começaram os trabalhos
atrair atenção, devido às suas características peculi- de preparação do censo de 1940. Provavelmente
ares. Da concentração urbana decorria uma estrutu- devido ao interesse pela questão, judeus foram
ra ocupacional singular, em que predominava o enumerados em uma categoria independente da
comércio e os pequenos empreendimentos domés- pergunta sobre religião. Note-se que a pergunta
ticos.5 Devido às suas diferenças, incluindo sua sobre religião já aparecera nos censos do Império, o
concentração residencial nos bairros centrais das que talvez possa ser atribuído ao interesse, na
cidades onde se fixaram, judeus eram mais “visí- época, pela chegada dos primeiros imigrantes ale-
veis” do que outros grupos de imigrantes. Logo mães de religião protestante e a conseqüente for-
membros da elite católica que governava o país mação do primeiro núcleo populacional não-católi-
começariam a se alarmar: a população judaica co do país. E judeus já haviam sido tabulados
estava crescendo rápido demais — ou pelo menos separadamente em 1900, embora na época não
assim parecia. passassem de algumas centenas. De forma que,
A partir de 1937, com a ascensão do Estado quando o censo de 1940 investigou a presença de
Novo de Getúlio Vargas, começa a tomar corpo a judeus, não havia aí nenhuma grande novidade na
versão brasileira da “questão judaica” (Tucci Carnei- metodologia do censo. A novidade era, no entanto,
ro, 1988; Lesser, 1995).6 Logo começaria uma dis- que agora havia algumas dezenas de milhares deles
cussão pública se era conveniente ou não a presen- no país.
ça de judeus no Brasil. Parte da discussão envolvia Qualquer que tenha sido o contexto político
uma questão política: Getúlio, como acontecia na no qual surgiu o interesse na enumeração em
Alemanha nazista, procurava identificar judeus e separado de pessoas de religião judaica, quando os
comunistas. Parte da discussão envolvia uma ques- resultados foram finalmente publicados o cenário
tão demográfica: segundo alguns, centenas de mi- já havia mudado: Getúlio Vargas abandonara sua
lhares de judeus já haviam entrado e se instalado no simpatia pelo Eixo e se juntara aos aliados. A
país. Se nada fosse feito, outros milhares, ou talvez “questão judaica” desapareceu — ou pelo menos
até milhões, poderiam procurar refúgio em terras submergiu. Ao lado dos argumentos que faziam
brasileiras. restrições à presença do grupo no Brasil, uma nova
A rigor, o tamanho exato da comunidade voz surgira no debate, argumentando que a pre-
judaica não era conhecido nesta época. O Brasil sença judaica seria benéfica, porque traria capital,
não realizava um censo desde 1920. E mesmo este além de habilidades técnicas e comercias, coisas
levantamento, que deixara muito a desejar em importantes para um país em pleno processo de
termos de qualidade, não trouxera uma questão modernização e industrialização (Lesser, 1995).
sobre religião. As primeiras informações estatísticas A persistência do grupo como categoria nos
confiáveis sobre a presença judaica no Brasil pro- censos de 1950 em diante pode ser explicada,
vêm do censo de 1940, cujos resultados só seriam talvez, pelo interesse sociológico em uma minoria
conhecidos em 1943. Ainda assim, no auge do com características sociodemográficas muito espe-
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 153

cíficas. Parece inegável, no entanto, que a introdu- A partir dos anos 60, tanto a imigração geral
ção da categoria no censo de 1940 tenha se dado como a judaica entrariam em declínio. Privada do
por razões políticas. que fora sua principal fonte de crescimento no
passado, a população judaica teria de contar, daí
em diante, apenas com seu próprio crescimento
A imigração judaica no contexto da
vegetativo para manter seu contingente demográ-
imigração internacional para o Brasil
fico. Como judeus provenientes da Europa forma-
Nos cem anos entre as décadas de 1870 e vam, em qualquer momento, a maioria da popula-
1970, mais de 5 milhões de imigrantes chegaram ao ção judaica, o grupo como um todo teve suas
Brasil (Bassanezi, 1996). A imigração em geral teve características demográficas fortemente determina-
seu auge na última década de século XIX, tendo das pelo componente shkenazi.7
voltado a crescer nas primeiras décadas do século Como outros grupos descendentes de euro-
XX e nos anos 50. Comparada aos demais fluxos, a peus, judeus ashkenazis já apresentavam, desde as
imigração judaica é relativamente recente nas ter- primeiras décadas do século, baixas taxas de nata-
ras brasileiras: judeus participaram muito pouco do lidade. Atualmente, na maioria dos países da diás-
primeiro e mais intenso fluxo imigratório, em que pora8 onde se estabeleceram, suas taxas de fecun-
predominava o elemento rural. didade já estão abaixo do nível de reposição
Judeus começaram a imigrar com mais inten- necessário para a reprodução intergeracional (Sch-
sidade já nos anos 20, com a chegada de dezenas melz, 1981). Estimativas para os judeus brasileiros,
de milhares, provenientes sobretudo da Europa baseadas nos dados dos censos, sugerem que já
Central, do Leste, e da região dos Bálcãs. A emigra- em 1980 o grupo apresentava taxas de fecundidade
ção era freqüentemente apontada como solução abaixo do nível de reposição.9
para o problema das minorias na Europa do Cen- Como conseqüência, uma vez extinta a imi-
tro-Leste (Mendelsohn, 1983). A Tabela 1 compara gração, a partir dos anos 60, a comunidade como
a imigração em geral para o Brasil com a judaica, um todo apresentaria baixas taxas de crescimento,
mostrando a defasagem entre ambas. como mostra a Tabela 2.

Tabela 1 Tabela 2
Brasil – Imigração Geral e Judaica, por Períodos, Brasil – População Judaica, de Acordo
1872-1972 com os Censos

Período Geral Judaica 1940 1950 1960 1980 1991


Censos 55.563 69.955 96.199 91.795 86.417
1872-1879 176.337 3,3% 500 0,5%
Ajustada* 56.000 70.000 86.000 90.000 86.000
1880-1889 448.622 8,4% 500 0,5%
1890-1899 1.198.327 22,4% 1.000 1,1% * Ajustes propostos por Schmelz e DellaPergola, refletindo as
1900-1909 622.407 11,6% 5.000 5,4% incertezas em torno das informações censitárias.
1910-1919 815.453 15,2% 5.000 5,4% Fontes: IBGE, Censos demográficos; Schmelz e DellaPergola
1920-1929 846.647 15,8% 30.316 32,5% (1985, p. 74).

1930-1939 332.768 6,2% 22.452 24,1%


Os dados mostram que, se a comunidade judai-
1940-1949 114.085 2,1% 8.512 9,1%
ca cresceu significativamente nos anos 40 e 50, este
1950-1959 583.068 10,9% 15.243 16,3%
crescimento perdeu seu ímpeto em algum momento
1960-1969 197.587 3,7% 4.258 4,6%
a partir dos anos 60. Em 1980 a comunidade teria ex-
1970-1972 15.558 0,3% 450 0,5%
perimentado seu auge, com cerca de 90 mil indivídu-
Total 1872-1972 5.350.859 100,0% 93.231 100,0%
os, tendo entrado em declínio desde então. De fato,
provavelmente pela primeira vez neste século, o ta-
Fontes: Para imigração geral, Bassanezi (1996, p. 8); para a
judaica, estimativas do autor baseadas nos censos do IBGE, em manho da população judaica diminuiu entre 1980 e
Wischnitzer (1948, p. 293) e em Lestschinsky (1961, p. 1.554). 1991: 86 mil pessoas se identificaram (ou foram iden-
154 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46

tificadas por membros do domicílio) como judeus em em 1980 quanto em 1991 era o de nascidos na
1991 — quatro mil a menos do que os 90 mil de 1980. Polônia.
Resultado do interesse crescente no país pelo Houve decréscimo no número de nascidos,
tema das migrações, os censos de 1980 e 1991 para cada um dos países de origem, entre 1980 e 1991,
perguntaram aos não-naturais, isto é, aos não devido ao efeito acumulado da mortalidade num con-
nascidos no Brasil, seu país de nascimento; o de texto de imigração pouco significativa. A intensidade
1991 perguntou ainda a data de chegada no Brasil. do declínio depende da maior ou menor antiguidade
Estas informações, quando cruzadas com a decla- dos fluxos. Para poloneses e outros da Europa, o de-
ração de religião, permitem obter um quadro dos clínio foi maior, pois chegaram ao Brasil ainda nas pri-
principais países de origem da imigração judaica. meiras décadas do século. Já o declínio entre sefara-
Naturalmente, estes “instantâneos” refletem tam- dis11 nascidos no Egito e no Líbano foi menor por-
bém o efeito da mortalidade e da reemigração que esta migração é mais recente.
acumulada até a ocasião das pesquisas. O resulta- Enquanto as gerações mais antigas sofreram o
do deste cruzamento está na Tabela 3. impacto da mortalidade, membros das novas coortes,
já nascidos no Brasil, são afetados cada vez mais pela
Tabela 3 assimilação, casamentos mistos (Sorj, 1997a) e secu-
Brasil – Pessoas de Religião Judaica, larização. Uma taxa alta de casamentos mistos aumen-
por País de Nascimento, nas Datas dos Censos ta a possibilidade de perdas atitudinais, isto é, o fluxo
de 1980 e 1991 de pessoas formal ou informalmente se convertendo
para outra religião ou, como ocorre cada vez mais fre-
1980 1991 qüentemente no Brasil, para os “sem religião”.
Total 91.795 86.417 De fato, há indícios de que a secularização, pelo
Nascidos no Brasil 62.903 67.131 menos para certos setores da sociedade, seja um fe-
Fora do Brasil 28.892 19.286 nômeno em crescimento, afetando principalmente as
Polônia 7.684 4.219 religiões tradicionais (Wilson, 1985). Este processo é
Romênia 3.281 2.030 visível no aumento significativo da proporção de pes-
Alemanha 2.727 1.691 soas que se definem como “sem religião” nas entre-
Egito 2.222 1.504
vistas censitárias.12 As pessoas que assim se identifi-
Israel 1.835 1.443
cam cresceram de menos de 1% de todos os brasilei-
URSS 1.786 1.076
ros em 1940 para quase 5% em 1991. Este crescimen-
Argentina 1.459 1.340
to é ainda mais intenso nas principais regiões metro-
Líbano 937 826
Hungria 893 487 politanas. No Rio de Janeiro, quase 14% dos respon-
Itália 536 337 dentes disseram não ter nenhuma filiação religiosa em
1991, um crescimento considerável sobre os 5% que
Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1980 e 1991, tabulações havia assim se manifestado no censo anterior, como
especiais do autor. se vê na Tabela 4.

Como vemos na Tabela 3, o contingente mais Tabela 4


Estado do Rio de Janeiro – Distribuição
significativo veio da Europa do Centro-Leste (Polô- Relativa da População por Grupos Religiosos,
nia, Romênia e Hungria), seguido pelos da Europa 1940-1991
Central (Alemanha) e do Leste (União Soviética).10 (%)
Um outro fluxo importante teve origem no Oriente 1940 1950 1960 1970 1980 1991
Católicos 91,7 89,1 88,8 86,1 80,9 67,3
Médio (Egito e Líbano). A presença nesta lista de Sem religião 0,4 1,3 1,3 2,1 4,9 13,9
Israel e Argentina, destinos tradicionais da imigra- Evangélicos 3,1 4,3 5,3 7,1 8,3 12,8
ção judaica, reflete a importância de fluxos circula- Outros 4,8 5,2 4,6 4,7 5,9 6,1
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
res entre as diversas comunidades da diáspora.
Vale ressaltar que o grupo mais significativo tanto Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1940 a 1991.
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 155

O crescimento dos sem religião é um fenô- Tabela 5


meno ainda pouco estudado entre nós (Fonseca, Brasil — População Judaica, por Municípios
Selecionados
1998). A maior parte dos trabalhos sobre mudança
religiosa tem enfocado o extremo oposto do espec- Cidade 1940 1950 1980 1991
tro religioso, ou seja, a revitalização, expansão e São Paulo (1) 17.219 22.808 41.308 38.843
multiplicação das religiões no país (Pierucci, 1998). Rio de Janeiro (2) 19.743 25.222 27.699 24.754
Importante assinalar que as duas hipóteses não são Porto Alegre (3) 4.331 5.557 7.051 7.118
excludentes: é possível que estejamos assistindo a Subtotal (1+2+3) 41.293 53.587 76.058 70.715
uma polarização — isto é, setores da sociedade BRASIL (4) 55.563 69.955 91.795 86.416
podem estar se tornando mais religiosos enquanto (1+2+3)/4 74,3% 76,6% 82,9% 81,8%
outros setores se tornam menos religiosos (Glenn,
Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1940, 1950, 1980 e
1987). O censo, evidentemente, não é uma pesqui- 1991.
sa específica sobre religião e não pode nos dar
muitas respostas. Não temos informação, também, Como mostra ainda a Tabela 5, até pelo
sobre o impacto diferencial da secularização em menos a década de 1950 o Rio de Janeiro era sede
cada um dos diferentes grupos religiosos.13 da maior colônia judaica no país. Sendo a capital,
além de centro portuário e comercial, o Rio havia
atraído a maior parte dos novos imigrantes, além
Distribuição espacial
dos que haviam se instalado inicialmente em ou-
Quando o Brasil começou a atrair imigrantes tros portos de chegada: Belém, Recife e Salvador.
da Europa, ainda era um país largamente rural, com Assim, a colônia do Rio chegou ao censo de 1950
a maior parte da sua população ocupada na agricul- com pouco mais de 25 mil pessoas. Mas, a partir de
tura. Por isso, a imigração internacional teve, pelo então, esta comunidade cresceria muito pouco,
menos no início, um caráter rural. Com o tempo, foi tendo atingido um tamanho máximo de quase 28
se tornando mais urbana, à medida que avançava a mil em 1980. Já em 1991, no entanto, as pessoas
urbanização não só no Brasil, como também nos identificadas como de religião judaica somaram
países de origem. Há indícios, porém, de que pelo menos do que as 25 mil registradas em 1950.
menos até a década de 20 ainda havia contingentes Se a população judaica do Rio estagnou em
rurais significativos chegando ao país (Alvim, 1998). algum ponto entre os anos 50 e 80, São Paulo logo
No balanço final, a imigração para o Brasil teve um assumiria a liderança como principal concentração
resultado muito diferente daquele da imigração de pessoas de religião judaica no Brasil. Isto se
para os Estados Unidos. Enquanto lá predominou o deve, é claro, ao importante papel desempenhado
elemento urbano (Bodnar, 1985), aqui predominou por São Paulo no processo de industrialização no
o elemento rural. período posterior à Segunda Guerra Mundial. Lide-
Neste contexto, os judeus que chegaram ao rando o processo, São Paulo torna-se a maior
Brasil tiveram uma trajetória única. Como tinham metrópole nacional do país, vindo a concentrar,
pouca ou nenhuma experiência rural, dirigiram-se em 1970, cerca de 15% da população urbana, 36%
para as cidades bem mais cedo e de forma pratica- do emprego industrial, e 43% do valor de transfor-
mente universal. O resultado é que estiveram sem- mação industrial do país (Araújo, 1992, p. 45).
pre mais concentrados nas cidades do que qualquer Tamanho dinamismo gerava oportunidades
outro grupo imigrante, sem falar no conjunto da não só na indústria, mas também no comércio e
população brasileira como um todo. Como mostra a nos serviços, e a cidade converteu-se em um pólo
Tabela 5, por volta de 1940, cerca de 74% do total de de atração inevitável para as novas levas de imi-
judeus residentes no Brasil já vivia em apenas três grantes recém-chegados, incluindo duas novas
cidades: Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. importantes correntes de judeus: sobreviventes da
Em comparação, apenas 8% de todos os brasileiros Segunda Guerra Mundial e judeus expulsos dos
viviam nestas cidades na mesma época. países árabes depois da criação do Estado de Israel
156 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46

(Stillman, 1991). São Paulo chega a 1991, portanto, Tabela 6


com mais de 41 mil judeus, quase o dobro do Município de São Paulo — População Judaica e
Total, por Distritos Selecionados, na Data do
tamanho verificado em 1950.
Censo de 1980
Nem esse dinamismo econômico, no entan-
to, conseguiu compensar as forças dispersivas, de Distrito População % População % Judeus
caráter demográfico e atitudinais, que a comunida- Judaica A c u m . Total A c u m . c/
% do
de tem experimentado nas últimas décadas. Com o total
fim do ciclo migratório, São Paulo também regis-
Sta. Cecília 7.052 17,1 84.951 1,2 8,3
trou uma perda significativa a partir de 1980: os Bom Retiro 5.364 30,1 25.074 1,5 21,4
que se identificaram como judeus diminuíram de Cerqueira César 4.223 40,4 65.451 2,5 6,5
41 mil em 1980 para menos de 39 mil em 1991.14 Jardim Paulista 4.174 50,5 116.464 4,1 3,6
Consolação 4.079 60,4 72.359 5,1 5,6
Porto Alegre, a terceira maior comunidade Jardim América 2.096 65,4 55.286 5,9 3,8
brasileira, por sua vez, continuou a crescer até Perdizes 2.022 70,3 127.938 7,7 1,6
1980, mas estagnou desde então em algo próximo Vila Mariana 1.644 74,3 108.289 9,2 1,5
a 7 mil pessoas. No conjunto, as três maiores Ibirapuera 1.266 77,4 158.409 11,4 0,8
Bela Vista 1.114 80,1 79.371 12,6 1,4
comunidades concentravam quase 83% de todos Outros 8.205 100,0 6.220.666 100,0 0,1
os judeus brasileiros em 1980, tendo esta percenta- TOTAL 41.239 7.114.258 0,6
gem decaído cerca de um ponto percentual no Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1980, vol. 1, tomo 4,
censo seguinte. Teriam os judeus brasileiros em- número 19 (São Paulo).
barcado no processo de desconcentração metro-
politana verificado no país a partir dos anos 80 Os dados do censo de 1980 apenas confir-
(Martine, 1994)? mam um padrão comum a outros destinos de
Independente de processamentos especiais, imigração judaica na América: a concentração na
o censo de 1980 publicou os resultados da variável região central das metrópoles, em geral ao redor
religião ao nível mais básico dos distritos, tornando do centro financeiro e comercial (Taschner e De-
assim possível uma análise do padrão de distribui- col, 1992). Enquanto 80% dos judeus paulistanos
ção espacial dos judeus no interior da própria viviam nos dez distritos listados na Tabela 6 por
célula urbana. Como São Paulo abriga a maior ocasião do censo de 1980, a mesma região reunia
concentração de judeus no país, este município foi apenas 12,6% da população total do município.
escolhido para a análise neste nível geográfico. Esta concentração no centro expandido da cidade
Mesmo no interior do Município de São pode ser melhor visualizada na Figura 1.
Paulo, judeus estão altamente concentrados, como A metrópole paulista, por sua vez, experi-
revela a Tabela 6: apenas dez distritos da capital mentaria crescimento intenso na segunda metade
paulista eram responsáveis por mais de 80% de do século XX, tendo chegado a 1996 com 16,6
todos os judeus vivendo no município por ocasião milhões de habitantes. Na esteira deste intenso
do censo de 1980. Mais da metade deles estava crescimento vieram os problemas urbanos: pobre-
concentrada em apenas quatro distritos. E só Santa za de grandes contingentes da população, margi-
Cecília abrigava mais de 17% de todo grupo. Com nalidade, violência, desequilíbrios ambientais e
mais de 7 mil pessoas, Santa Cecília tinha em 1980 muitas outras atribulações típicas das megacidades
mais judeus que todo o Estado do Rio Grande do do Terceiro Mundo. Neste contexto, setores aflu-
Sul. Em nenhum destes bairros, no entanto, judeus entes da classe média têm reagido simplesmente
eram a maioria da população. Mesmo em Santa deixando para trás os grandes centros metropolita-
Cecília, judeus representavam pouco mais de 8% nos. Como a distribuição de renda entre judeus
da população local. Apenas o Bom Retiro, tradi- tem uma configuração diferente da maioria da
cional assentamento de judeus em São Paulo, população brasileira, com participação bem mais
exibia uma percentagem mais elevada: 21,4% do significativa da classe média, é lícito imaginar que
total. estejam envolvidos nestes fluxos de contra-urbani-
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 157

Figura 1
Município de São Paulo —
Distritos com Maiores Concentrações de Judeus,
por Ocasião do Censo de 1980

Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1980, vol 1, tomo 4, número 19 (São Paulo).

zação (Martine, 1994) em proporção maior do que gens quantitativas. No caso de uma minoria cujos
o conjunto da população. números são tão pequenos quando comparados à
O certo é que este movimento pode contri- população brasileira em geral, uma visão quantita-
buir para aumentar ainda mais as perdas atitudi- tiva é um ponto de partida fundamental. No caso
nais, já que longe dos centros urbanos tornam-se dos judeus, uma abordagem deste tipo é facilitada
mais escassas as oportunidades de cultivar a iden- pelo fato de o grupo ter sido sistematicamente
tidade judaica. A dispersão espacial, portanto, é pesquisado como categoria da pergunta sobre
mais um fator a aumentar ainda mais as dificulda- religião nos censos demográficos do IBGE.
des para que o grupo possa manter seu vigor Dada a incerteza que cerca os dados relativos
demográfico e sua singularidade sem se dissolver assim obtidos, qualquer conclusão deve ser relativi-
completamente no caldeirão étnico brasileiro. zada e vista com cautela. Apesar disto, algumas
conclusões parecem se impor, em consonância
com resultados obtidos para outras comunidades
Conclusão
judaicas da diáspora. Devido a taxas de fecundida-
Os estudos sobre a minoria judaica no país de muito baixas, um número crescente de casamen-
têm crescido ultimamente, assim como as aborda- tos mistos, e ao complexo emaranhado de fatores
158 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46

que contribuem para uma erosão progressiva da diversos países da Europa Central no período do entre-
identidade cultural em um contexto de seculariza- guerras. Para alguns, a presença dos judeus era um
problema para o qual se deveria achar uma solução
ção, judeus brasileiros estão enfrentando dificulda- política, que muitas vezes era a emigração (Mendel-
des cada vez maiores para manter seu contingente sohn, 1983).
populacional. De fato, o número de pessoas que se 7 O termo ashkenazi, em hebraico, ou asquenaze (segun-
identificaram como judeus diminuiu entre 1980 e do o Aurélio) designava originalmente judeus de ascen-
dência alemã. Como a maioria dos judeus dos países da
1991, provavelmente pela primeira vez desde que Europa do Centro e do Leste eram descendentes de
membros deste grupo começaram a imigrar em judeus franco-alemães, o termo veio a ser aplicado a
massa para o Brasil, a partir da década de 1920. judeus europeus em geral, em oposição a judeus sefara-
ditas, provenientes dos países islâmicos do Oriente
A se manter estas tendências, judeus poderão Médio e Norte da África.
estar cada vez mais expostos às poderosas forças 8 Diáspora é o termo comumente usado para referir-se às
de assimilação e de secularização da sociedade comunidades judaicas fora de Israel.
brasileira. No limite, correm o risco de perder sua 9 Nível de reposição é um conceito-chave em Demogra-
identidade como um grupo social específico, com fia, definido como o nível de fertilidade de uma coorte
de mulheres necessário para apenas “repô-las” e manter
uma história e uma cultura distintas. o tamanho da população estável. Em geral, aproximada-
Claro que estas tendências podem ser reverti- mente 2,1 filhos por mulher.
das por um movimento de ordem cultural, que 10 A lista de países pesquisados pelo IBGE reflete o mapa
revalorize a identidade religiosa. Embora esta seja político da Europa por ocasião da preparação dos
trabalhos censitários.
uma possibilidade, e embora se verifiquem proces-
11 Sefaradis (ou sefaraditas, segundo o Aurélio) é a deno-
sos de contra-secularização nas sociedades moder- minação dada aos judeus de origem espanhola ou
nas e em modernização, como é o caso da brasilei- portuguesa que se espalharam pela África do Norte e
ra, estes movimentos são posteriores ao período em pelo Império Otomano após sua expulsão da Península
Ibérica no fim do século XV. Muitos permaneceram em
estudo. Se este movimento já se fez sentir ao nível países do Oriente Médio até que o aparecimento do
da dinâmica demográfica da comunidade judaica, é Estado de Israel, em 1948, desse início a conflitos que
algo que só o censo do ano 2000 poderá revelar. acabariam resultando na sua expulsão (Millman, 1983).
12 Para uma discussão sobre os “sem religião” em pesqui-
sas e censos, ver Glenn (1987).
NOTAS 13 Berger (1985) sugere que a secularização seja ainda
mais intensa entre judeus do que entre outros grupos
religiosos.
1 Importante frisar a ausência, nesta lista, de atributos 14 Importante lembrar que o censo de 1991 utilizou uma
raciais. Judeus podem ser tudo, menos uma raça (Sha- amostra menor do que o precedente, podendo, portan-
piro, 1970). to, incorrer em erros amostrais maiores.
2 Os dados provenientes da pergunta sobre religião dos
censos têm sido pouco explorados em geral desde o
desaparecimento de Cândido Procópio Ferreira de Ca- BIBLIOGRAFIA
margo. ALVIM, Zuleika. (1998), “Imigrantes: a vida privada
3 Faz parte da tradição censitária brasileira que categorias dos pobres do campo”, in Nicolau Sevcenko
introduzidas em um levantamento permaneçam nos (ed.), História da vida privada no Brasil, vol. 3,
levantamentos posteriores para efeito de compatibilida- São Paulo, Companhia das Letras.
de nas comparações.
4 O interior do Estado de São Paulo, onde vigorava a rede
ANDERSON, Margo J. (1988), The American census –
urbana do café, parece ter sido o máximo do rural a que a social history. New Haven/Londres, Yale
se lançaram algumas famílias. Ainda assim, mesmo estes University Press.
acabariam imigrando para a capital (Fausto, 1997). ARAÚJO, Maria de F. Infante. (1992), “Os cem últimos
5 A presença pouco expressiva dos judeus no então anos na história da cidade e a formação da
nascente proletariado industrial urbano é assunto com- Grande São Paulo”, in Fundação Seade, Cená-
plexo demais para ser tratado aqui. Para uma discussão rios da urbanização paulista — a Região Ad-
sobre a estrutura ocupacional dos judeus na Europa do ministrativa de São Paulo, São Paulo, Funda-
entre-guerras ver Mendelsohn (1983). ção Seade, Coleção São Paulo no Limiar do
6 Questão judaica era a expressão tradicionalmente usa- Século XXI, n. 6, pp. 53-92.
da em referência ao “problema” da minoria judaica em
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 159

AVNI, Haim. (1992), Judíos en América. Madri, Edito- GLENN, Norval D. (1987), “The trend in ‘no religion’
rial Mapfre. respondents to U.S. national surveys, late
BARON, Salo. (1957), A social and religious history of 1950s to early 1980s”. Public Opinion Quarter-
the jews. 2ª ed., Nova York/Londres, Columbia ly, 51, Fall: 293-314.
University Press. GRÜN, Roberto. (1999), “Construindo um lugar ao
__________. (1964), The Russian jew under tsars and Sol: os judeus do Brasil”, in Boris Fausto (org.),
soviets. Nova York, Macmillan. Fazer a América — a imigração em massa
para a América Latina, São Paulo, Edusp.
BASSANEZI, Maria Silvia C. Beozzo. (1996), “Imigra-
ções internacionais no Brasil, um panorama IBGE. Censos demográficos de 1940, 1950, 1960, 1980
histórico”, in Neide Patarra (org.), Emigração e e 1991. Vários volumes. Rio de Janeiro, IBGE.
imigração internacionais no Brasil contempo- KING, Gary, KEOHANE, Robert O. e VERBA, Sidney.
râneo, São Paulo, FNUAP/Nesur/NEPO. (1994), Designing social inquiry — scientific
BLACK, Edwin. (2001), A IBM e o Holocausto — a inference in qualitative research. Princeton,
aliança estratégica entre a Alemanha nazista e New Jersey, Princeton University Press.
a mais poderosa empresa americana. Rio de KLEIN, Herbert S. (1989), “A integração social e
Janeiro, Campus. econômica dos imigrantes portugueses no Bra-
BERGER, Peter L. (1985), O dossel sagrado, elementos sil no fim do século XIX e no século XX”.
para uma sociologia da religião. São Paulo, Revista Brasileira de Estudos de População, 6,
Paulinas. 2:17-37.

BLAY, Eva Alterman. (1997), “Judeus na Amazônia”, __________. (1999), “Migração internacional na histó-
in Bila Sorj (org.), Identidades judaicas no ria das Américas”, in Boris Fausto (org.), Fazer
Brasil contemporâneo, Rio de Janeiro, Imago. a América — a imigração em massa para a
América Latina, São Paulo, Edusp.
BODNAR, John. (1985), The transplanted: a history of
immigrants in urban America. Bloomington, LESSER, Jeffrey Howard. (1995), O Brasil e a questão
Indiana University Press. judaica: imigração, diplomacia e preconceito.
Rio de Janeiro, Imago.
CAMARGO, Cândido Procópio Ferreira de. (1984), “A
categoria ‘religião’ em censos brasileiros”, in LESTSCHINSKY, Jacob. (1961), “Jewish migrations,
ABEP, Censos, consensos, contra-sensos, São 1840-1956”, in Louis Finkelstein (ed.), The
Paulo, ABEP, pp. 215-22. jews, their history, culture and religion, vol. 2,
Londres, Peter Owen.
DECOL, René Daniel. (1999), Imigrações urbanas
para o Brasil: o caso dos judeus. Tese de LEVINE, Robert M. (1995), “Research on Brazilian
doutorado. Campinas, Universidade Estadual jewry: an overview”. Canadian Journal of
de Campinas. Latin American and Caribbean Studies, 20, 39-
40:227-37.
ENGELMAN, Uriah Z. (1961), “Sources of Jewish
statistics”, in Louis Finkelstein (ed.), The jews, MARTINE, George. (1994), A redistribuição espacial
their history, culture and religion, vol. 2, Lon- da população brasileira durante a década de
dres, Peter Owen. 80. Brasília, IPEA.

FAUSTO, Boris. (1991), Historiografia da imigração MENDELSOHN, Ezra. (1983), The jews of East Central
para São Paulo. São Paulo, Sumaré/FAPESP. Europe between the World Wars. Bloomington,
Indiana University Press.
__________. (1997), Negócios e ócios: histórias da
imigração. São Paulo, Companhia das Letras. MILLMAN, Ivor I. (1983), “Data on diaspora Jewish
populations from official censuses”, in P. Glik-
__________. (1998), “Imigração, cortes e descontinui- son, S.J. Gould e U.O. Schmelz (eds.), Studies
dades”, in Lilia Moritz Schwarcz (ed.), História in jewish demography — survey for 1972-
da vida privada no Brasil, vol. 4, São Paulo, 1980, Jerusalém, Institute of Contemporary
Companhia das Letras. Jewry, The Hebrew University, pp. 31-120.
FONSECA, Alexandre Brasil. (1998), “Nova era evan- MORTARA, Giorgio. (1985), “Memories of a life-time”,
gélica, confissão positiva, e o crescimento dos in A tribute to Giorgio Mortara, Roma, Universi-
sem religião”, in VIII Jornada sobre as Alterna- tà Degli Studi di Roma “La Sapienza”, Facoltà di
tivas Religiosas na América Latina, São Paulo, Sicenze Statistiche Demografiche e Attuariali,
digital. Dipartimento di Scienze Demografiche, pp. 61-94.
160 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46

MOYA, Jose C. (1998), Cousins and strangers — __________. (1992), “World jewish population,
Spanish immigrants in Buenos Aires, 1850- 1990”. American Jewish Year Book, Nova York,
1930. Berkeley/Londres/Los Angeles, Univer- The American Jewish Committee, 92: 484-512.
sity of California Press.
SELTZER, William. (1998), “Population statistics, the
PATARRA, Neide Lopes (org). (1996), Emigração e Holocaust, and the Nuremberg Trials”. Popula-
imigração internacionais no Brasil contempo- tion and Development Review, 24, September:
râneo. São Paulo, FNUAP/Nesur/NEPO. 511-52.
PIERUCCI, Antônio Flávio. (1998), “Secularização em SHAPIRO, Harry L. (1970), “O povo da terra prometi-
Max Weber: da contemporânea serventia de da”, in Juan Comas et al., Raça e ciência I, São
voltarmos a acessar aquele velho sentido”. Paulo, Perspectiva, pp. 111-88.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, 37 (13):
SORJ, Bila. (1997a), “Conversões e casamentos ‘mis-
43-73.
tos’: a produção de ‘novos judeus’ no Brasil”,
PIERUCCI, Antônio Flávio e PRANDI, Reginaldo. in Bila Sorj (ed.), Identidades judaicas no
(1996), A realidade social das religiões no Bra- Brasil contemporâneo, Rio de Janeiro, Imago.
sil — religião, sociedade e política. São Paulo,
_________. (1997b), “‘Normalizando’ o povo judeu: a
Hucitec.
experiência da Jewish Colonization Associati-
RATTNER, Henrique (org). (1972), Nos caminhos da on no Brasil”, in Bila Sorj (ed.), Identidades
diáspora. São Paulo, Centro Brasileiro de Estu- judaicas no Brasil contemporâneo, Rio de Ja-
dos Judaicos/USP. neiro, Imago.
__________. (1977), Tradição e mudança: a comuni- STILLMAN, Norman A. (1991), The jews of Arab lands
dade judaica em São Paulo. São Paulo, Ática. in modern times. Filadélfia/Nova York, The
Jewish Publication Society of America.
ROBEY, Bryant. (1984), “The 1990 census: a view
from 1984”. American Demographics, July: 24- TASCHNER, Suzana P. e DECOL, René D. (1992),
46. População judaica no Brasil: um estudo demo-
gráfico — projeto de pesquisa. São Paulo,
ROWLAND, Richard H. (1986), “Geographical pat-
mimeo.
terns of the jewish population in the pale of
sattlement of late nineteenth century Russia”. TRENTO, Angelo. (1989), Do outro lado do Atlântico:
Jewish Social Studies, Nova York, 48, 3-4, Sum- um século de imigração italiana no Brasil. São
mer-Fall: 207-34. Paulo, Nobel.
SCHMELZ, U.O. (1972), “Análise demográfica do ju- TRUZZI, Oswaldo Mário Serra. (1997), Patrícios —
daísmo mundial”, in Henrique Rattner (org.), sírios e libaneses em São Paulo. São Paulo,
Nos caminhos da diáspora, São Paulo, Centro Hucitec.
Brasileiro de Estudos Judaicos/USP.
TUCCI CARNEIRO, Maria Luiza. (1988), O anti-semi-
__________. (1981), “Jewish survival: the demogra- titsmo na era Vargas (1930-1945). São Paulo,
phic factors”. American Jewish Year Book, Brasiliense.
Nova York, The American Jewish Committee,
__________. (1996), Brasil, um refúgio nos trópicos —
81: 61-117.
a trajetória dos refugiados do nazi-fascismo.
__________. (1983), “Evolution and projection of São Paulo, Estação Liberdade/Instituto Goe-
world jewish population”, in P. Glikson, S.J. the.
Gould e U.O. Schmelz (eds.), Studies in jewish
WILSON, Bryan. (1985), “Secularization, the inherited
demography — survey for 1972-1980, Jerusa-
model”, in Philip E. Hammond (ed.), The
lém, Institute of Contemporary Jewry, The
sacred in a secular age: toward revision in the
Hebrew University.
scientific study of religion, Berkeley, University
SCHMELZ, U.O. e DELLAPERGOLA, Sergio. (1985), of California Press.
“The demography of Latin American jewry”.
WISCHNITZER, Mark. (1948), To dwell in safety: the
American Jewish Year Book, Nova York, The
story of jewish migration since 1800. Philadel-
American Jewish Committee, 85: 51-102.
phia, The Jewish Publication Society of Ameri-
ca.

Você também pode gostar