Você está na página 1de 1

Notas sobre os primórdios das Ciências Naturais e Etnocentrismo no Brasil

Sucintamente, é necessário destacar que sempre houve interesse e curiosidade sobre as coisas
do Brasil: as paisagens, os animais, o imenso mundo vegetal, os nativos, etc. Os europeus
quando chegam por essas regiões ficaram impressionados, e trataram de descrever o que viam
conforme os modos característicos de seus tempos. Lembremos que um dos primeiros
informes sobre o Brasil foi feito em forma de carta, por Pero Vaz de Caminha, descrevendo
com certa surpresa o que se colocava à sua vista. É preciso sempre ressaltar que o relato deve
sempre ser contextualizado para um melhor entendimento. Desconfiar das descrições muito
detalhadas e objetivas é essencial, mesmo por detrás desses “retratos fiéis” da realidade, estão
os preconceitos e modos de ver do autor.

As ciências, como hoje entendemos, foram consolidadas em suas bases a partir do


século XVIII, e é deste período os primeiros relatos sobre o Brasil que seguem uma
metodologia dita científica, mesmo que rudimentar em certos momentos. O naturalista luso-
brasileiro, Alexandre Rodrigues Ferreira, nascido em Salvador em meados do século XVIII e
formado em Filosofia Natural (como se chamavam as ciências naturais no período) na
Universidade de Coimbra é o que podemos chamar de um dos primeiros a fazer uma
expedição científica pelo Brasil. Conhecida como Viagem Filosófica, Ferreira percorreu, no
final do século XVIII, mais de 32.000 km pela Amazônia e interior brasileiro. Descreveu com
muito detalhes os lugares por onde passou, com destaque para os habitantes nativos, os
espécimes zoológicos e botânicos.

Algo em comum perpassa a viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira bem como a de


outros cientistas e naturalistas, que mesmo que tenhamos uma sensação de objetividade e
descrição fiel da realidade, são impressões que levam em conta os contextos de formação dos
autores. As informações acerca das populações nativas carregam visões de mundo que passam
a sensação e credibilidade científica, mas que podem ser questionadas, tendo em vista que
hoje temos a possibilidade de criticar e entender como foram construídos esses relatos. Os
indígenas são descritos nesses relatos de viagens de forma passiva, quase nunca agentes de
suas próprias histórias. No atual momento temos a possibilidade de construir em conjunto
esse conhecimento, aliando o discurso científico, feitas as devidas ressalvas, com o saber das
próprias populações nativas.

Você também pode gostar