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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


FACULDADE DE DIREITO

BEATRIZ DE ARAÚJO FONSECA

CONCEITO DE CRIME

CAMPINAS
2021
1. CONCEITO DE CRIME NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

O crime é uma categoria das infrações penais. Dito isso, seguiremos com o art. 1º
da Lei de Introdução Penal:

Art 1º Considera-se crime a infração penal que


a lei comina pena de reclusão ou de detenção,
quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei
comina, isoladamente, pena de prisão simples
ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente.

Nesse sentido, os crimes são punidos com reclusão ou detenção. Porém, o STF
compreendeu que existe uma tese de descriminalização da conduta do usuário, isto
é, um crime pode ser punido com uma “pena alternativa” (penas que não são de
reclusão, detenção ou multa) e assim sobressai o conceito analítico de crime e seus
elementos: fato típico, ilícito e culpável.
O crime em nossa sociedade está presente no nosso cotidiano e não consegue ficar
restrito apenas a um conceito, por isso, este conceito é mutável. Dessa maneira, o
crime é conceituado a partir de diversas formas, surgindo conceitos divergentes
como: material, formal e analítico. No qual, iremos discutir sobre o conceito analítico
- indica os elementos que compõem o crime.

1.1 CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME

Este conceito leva a compreensão da estrutura do delito, isto é, “divide” em três


partes: fato típico, ilícito e culpável.

1.1.1 Fato típico

Exige a prática de uma conduta que dá causa a um resultado previsto em lei. Bem
como, a análise da ofensa ao bem jurídico. Como por exemplo o princípio da
insignificância que traz consigo alguns requisitos:

a) Conduta minimamente ofensiva;


b) Baixo grau de reprovabilidade;
c) Ausência de risco social;
d) Lesão melancólica da vítima;
Mas também, é necessário ressaltar os princípios que são direcionados ao
legislador, para criminalizar ou descriminalizar condutas. Vejam os exemplos:

● Princípio da ofensividade - para que uma conduta seja criminalizada


precisamos que haja ofensa ao bem jurídico ou cause perigo;

● Princípio da culpabilidade - a conduta tem que ser praticada com dolo ou


culpa;

● Princípio da adequação social - cabe ao legislador analisar a aceitação ou


não pela sociedade;

● Princípio da intervenção mínima - afirma que o Direito Penal só deve ser


aplicado quando for realmente necessário;

1.1.2 Conduta

Para obtermos uma boa compreensão do que é a tipicidade, iremos analisar o


conceito de conduta. A conduta pode ser fazer (comissiva) ou deixar de fazer algo
(omissiva) e seus elementos são o dolo e a culpa, que está expressamente escrito
no art. 18 do CP.

Art. 18 - Diz-se o crime:

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou


assumiu o risco de produzi-lo;

II - culposo, quando o agente deu causa ao


resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em


lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como
crime, senão quando o pratica dolosamente.

1.1.3 Dolo

O dolo pode ser indireto ou direto (subdividido em 1º e 2º grau). O dolo direto de 1º


grau é quando o agente quer o resultado, já o dolo direto de 2º grau é a certeza, ou
seja, o efeito colateral do que já havia sido previsto. Uma outra subdivisão é o dolo
eventual que acontece quando o agente não se prende ao resultado.
1.1.4 Culpa

A culpa é dividida em consciente e inconsciente. Isto é, a culpa consciente se dá


quando há previsão (agente pressupõe o resultado, mas não acredita que o fato irá
ocorrer). Agora, a culpa inconsciente ocorre quando não há previsão, ou seja, não
visualiza o resultado como algo passível de ocorrência.

Retornando à conduta, ela só existe quando há causa a um resultado previsto em


lei: nexo causal (Art. 13, do CP).

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do


crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido.

§ 1º - A superveniência de causa relativamente


independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto,
imputam-se a quem os praticou.

Isto é, uma hipótese que em tese pode estar diante de análise de nexo de
causalidade, é preciso analisar se a hipótese está sendo referida a exceção prevista
no parágrafo 1º. Verificando que houve uma causa após a conduta do agente
(independente e que produza o resultado), será excluída a imputação do agente
pelo resultado.

Por exemplo, você atropela uma pessoa com a intenção de matar, mas a vítima não
morre e é socorrida. Porém, a caminho do hospital, a ambulância capota e mata
todos que estão dentro do carro. Nesse caso, você responderia por tentativa de
homicídio.

1.2.1 Fato ilícito

Antes de analisarmos o que trata-se a ilicitude, podemos abordar o que é o iter


criminis, ou seja, o caminho percorrido para a prática do crime. No qual, é dividida
em quatro etapas:

a) Cogitação;
b) Preparação;
c) Execução;
d) Consumação;

Os itens a e b não são puníveis, mas, caberá punição caso o agente integre nos
atos de execução (casos em que ele inicia a execução, mas não atinge a
consumação). Mas, de qualquer forma, se não houve consumação, houve tentativa
e isto está previsto no art. 15 (desistência voluntária e arrependimento eficaz),
apenas respondendo pelos atos já praticados.
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste
de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já
praticados

Dessa maneira, quando o agente pratica uma conduta que deu causa a um
resultado com previsão legal, não pode-se afirmar que houve crime, mas sim que o
fato é típico. E após, verificar se houve ilicitude, no qual, é acompanhada de
algumas excludentes que estão dispostas no caput do art. 23, do CP.

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica


o fato: I - em estado de necessidade; II - em
legítima defesa; III - em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito.

1.2.2 Estado de necessidade

O Estado de necessidade é cabível diante de um perigo, podendo ser causado por


conduta humana, calamidade, força da natureza, ataque animal e entre outros;
exigindo que ele seja atual, inevitável e involuntário.

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade


quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem


tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do


direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a
dois terços. É importante ainda que o bem jurídico
salvo por aquele que atuar em estado de necessidade
seja um bem jurídico de maior ou de igual valor ao bem
a ser sacrificado.
1.2.3 Legítima Defesa

É considerada como um direito de atuar contra a uma agressão humana nos


mesmos moldes do estado de necessidade, utilizando de meios
necessários/moderados, ou seja, reagir de maneira suficiente para acabar com a
agressão.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem,


usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem.

Vale ressaltar que o excesso também será punido. E ao observarmos que o fato é
típico e ilícito, levamos a um terceiro molde para análise que é a culpabilidade.

1.3.1 Fato culpável

Ela é formada por três elementos, sendo a imputabilidade, a exigibilidade de


conduta e o potencial consciência da ilicitude, no qual, cada um é passível de
excludente. São inimputabilidade, o erro de proibição inevitável e a inexigibilidade
de conduta diversa.

Em todas as excludentes, a sua consequência será o crime inexistente. Por isso, no


art. 26 e 28, o legislador afirma que, exceto doença mental ou embriaguez completa,
exige que no momento da conduta, o agente esteja incapaz de entender o caráter
ilícito.

A) Inimputabilidade: este assunto é tratado no art. 26/27, do Código


Penal, como também, no art. 28, parágrafo 1o.

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por


doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação
ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são


penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às
normas estabelecidas na legislação especial.
Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal: I -
a emoção ou a paixão; II - a embriaguez,
voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância
de efeitos análogos;

§ 1º - É isento de pena o agente que,


por embriaguez completa, proveniente
de caso fortuito ou força maior, era, ao
tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Nesses casos, cabe ao legislador decidir a situação de inimputabilidade. Os


menores de 18 anos não praticam crime, mas sim, ato infracional. Portanto, são
cabíveis medidas - enquanto crianças, medida de proteção e aos adolescentes,
medidas socioeducativas.

Em relação à embriaguez, é variável conforme ao caso, por exemplo, se a


embriaguez é voluntária ou culposa, o agente realizou crime. Mas, segundo o
parágrafo 1º, do art. 28, é que o agente será isento de pena. Existe um outro
modelo de embriaguez, que o agente se embriaga com o fim de cometer um crime
(embriaguez preordenada), com resultado de pena agravada. (Art. 61).

B) Erro de proibição inevitável: é uma das excludentes, excluindo a


potencial consciência da ilicitude e está previsto no art. 21 do CP.

Art. 21 - O desconhecimento da lei é


inescusável. O erro sobre a ilicitude
do fato, se inevitável, isenta de pena;
se evitável, poderá diminuí-la de um
sexto a um terço

Dito isso, é possível analisar duas consequências, isto é, a isenção e a


redução da pena. Exceto em caso de erro inevitável, a culpabilidade é excluída. Um
exemplo é estrangeiro vem passar uma temporada no Brasil, vê que existe um
grupo de brasileiros utilizando de uma droga e o mesmo, faz o uso. Ou seja, ele tem
consciência do uso, porém, acredita que a conduta é permitida.

Por isso, conseguimos analisar que existem “dois tipos de erro”: o erro de tipo e erro
de proibição. No primeiro caso (art. 20, CP), o agente tem falsa percepção da
realidade, portanto não sabe exatamente o que está fazendo. Por exemplo, portar
drogas sem saber. E, nesses casos, a consequência se dá no diagnóstico do fato
típico, mas permite punição por culpa se for evitável e inescusável.
No segundo caso, também é necessário analisar se o erro é evitável ou inevitável.
Sendo inevitável, exclui a culpabilidade e o evitável, apenas reduz a pena.

C) Inexigibilidade de conduta diversa: trata-se de um outro tipo de


excludente. Sendo que nessas hipótese, é possível afirmar que não
poderia exigir conduta diferente daquela praticada.

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação


irresistível ou em estrita obediência a ordem,
não manifestamente ilegal, de superior
hierárquico, só é punível o autor da coação ou
da ordem.

Contudo, diante da análise deste artigo, vale ressaltar que nem toda coação
irresistível excluirá a culpabilidade.

● Coação Moral Irresistível: exclui a CULPABILIDADE;


● Coação Física Irresistível: exclui a CONDUTA;

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