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1.

Introdução
A padronização de dimensões possibilita uma redução significativa da quantidade de
produtos a serem utilizados e, portanto, simplifica a necessidade de manterem-se
estoques para reposição nas fábricas, diminuindo os custos de produção,
melhorando a qualidade, aumentando a segurança, possibilitando melhor controle na
comercialização do produto e evitando a realização de retrabalhos.

Segundo Corrêa e Gianesi (1994), os estoques têm sido utilizados para evitar
descontinuidades do processo produtivo, diante de problemas de produção que
podem ser classificados principalmente em: problemas de qualidade, problemas de
quebra de máquinas e problemas de preparação de máquinas. Assim, o estoque
funciona como um investimento necessário quando problemas como os citados
estão presentes no processo produtivo.
A figura 1.1 mostra esquematicamente o problema dos estoques. O estoque e, o
investimento que este representa, pode ser simbolizado pela água de um lago que
encobre as pedras que, por sua vez, representam os diversos problemas do
processo produtivo. Desse modo, o fluxo de produção, representado pelo barco,
consegue seguir à custa de altos investimentos em estoque.

Figura 1.1 – Nível elevado. Fonte: LOSEKANN, C. R e FERROLI, P. C., 2006.


Reduzir os estoques assemelha-se a baixar o nível da água, tornando visíveis os
problemas que devem ser eliminados com o objetivo de ter um fluxo mais ajustado
da produção. Reduzindo-se os estoques gradativamente, tornam-se visíveis os
problemas mais críticos da produção, ou seja, permite um ataque direcionado. À
medida que estes problemas vão sendo eliminados, reduzem-se mais e mais os
estoques, localizando e atacando novos problemas emergentes, conforme ilustra a
figura 1.2.

Figura 1.2 – Nível baixo. Fonte: LOSEKANN, C. R e FERROLI, P. C., 2006.


Pode-se dizer que os estoques são mantidos por duas causas principais

• Eventual dificuldade de coordenação entre a demanda de um item e seu


processo de obtenção (devido a um grande número de produtos ou componentes
diferentes);

• A presença de incertezas (quantidades e datas para entrega de matéria prima


ou produto acabado).

Exemplo: Em um processo produtivo de fabricação em que há duas operações


sequenciais: A = torneamento de eixo e; B = retifica de eixo, onde há grande
quantidade de estoque para cada operação, um problema gerado na operação anterior
“A” (causado por desatenção do operador ou perda de ajuste no equipamento, por
exemplo) demora a ser identificado pela operação seguinte “B”, fazendo com que seja
produzida grande quantidade de peças defeituosas.
Com a redução dos estoques entre fases o problema gerado na operação “A” é
rapidamente identificado pelo operador da operação posterior “B”, e consequentemente
os ajustes necessários são imediatamente acionados. (LOSEKANN, C. R E FERROLI,
P. C., 2006)
2. Números Normalizados
Considerando a padronização na produção de peças ou produtos, os números
normalizados têm por finalidade o escalonamento racional de peças e máquinas
semelhantes. É muito utilizado para fabricação de peças do tipo: parafuso, eixo, pino e
bucha, entretanto, o escalonamento de produto nem sempre segue as regras dos
números normalizados nas quais são determinadas pelas necessidades dos
consumidores, como por exemplo, volume de embalagens de refrigerantes (300 ml, 500
ml, 600 ml, 1000 ml, 2000 ml).

Uma outra aplicação de grande importância para números normalizados, obedecendo a


proporcionalidade de grandezas físicas (velocidade, força,...) com relação as
propriedades mecânicas do material (tensão de escoamento, peso específico,...), é a de
construção de modelos de máquinas, reduzidos ou aumentados, na qual é possível
simular forças, pressões, acelerações, e etc. que podem propiciar progressos e
conhecimentos técnicos através de cálculos e experimentação. Exemplo, simulação de
um modelo de aeronave em túnel de vento.
O escalonamento de peças ou elementos de máquinas pode ser feito obedecendo as
seguintes séries (STEMMER, 1974):

1) Série aritmética
Como o próprio nome diz, é baseada nas progressões aritméticas.

A equação de progressão aritmética é:

an = a1 + (n – 1) . r ou an = an-1 + r (1.1)

Onde: “ an ” é o último termo; “ an-1 ” é o penúltimo termo; “ a1 ” é o primeiro termo; “ r


” é a razão da progressão; “ n ” é o número de termos.

Salto Percentual – Representa a variação percentual entre os termos da série.

an - an-1
Salto = ----------- x 100
an-1
Exemplo: Supõe-se que 5 peças são fabricadas padronizando 5 tamanhos diferentes
conforme as dimensões em milímetros abaixo:
10 – 20 – 30 – 40 – 50
Utilizando a equação de progressão aritmética obtém-se razão igual a 10, ou seja, o
salto de um termo ao outro é de razão 10, entretanto, percentualmente, do 1º ao 2º
termo o salto foi de 100%, mas do 4º ao 5º termo o salto foi de 25%.

Do 1º ao 2º termo:

an  an  1 20  10 10
Salto = . 100  . 100  . 100  100%
an  1 10 10

Do 4º ao 5º termo:

an  an  1 50  40 10
Salto = . 100  . 100  . 100  25%
an  1 40 40
Considerando unidades lineares ou de 1ª potência, pode-se utilizar a série aritmética,
mas não é muito aconselhável devido à variação percentual. Além disto, a série
aritmética não serve para escalonar superfícies (unidade quadrática ou de 2ª potência);
volumes (unidade cúbica ou de 3ª potência).

Exemplo da aplicação prática do escalonamento realizado através das séries aritmética


, temos:
Roupas e calçados são produtos escalonados segundo uma série aritmética.
2) Série geométrica
É baseado em progressões geométricas, logo o escalonamento é variável, mas o salto
percentual permanece constante ao longo do escalonamento e têm uma melhor
distribuição dos termos limites.

A equação de progressão geométrica é:

an = a1 . qn-1 ou an = an-1 . q (1.2)

Onde: “ an ” é o último termo; “ an-1 ” é o penúltimo termo; “ a1 ” é o primeiro termo; “ q


” é a razão da progressão; “ n ” é o número de termos.
Exemplo: Supõem-se as 5 peças a serem escalonadas com dimensão mínima de 10
mm e dimensão máxima de 50mm:

10 mm ≤ dimensão ≤ 50 mm
Utilizando a fórmula de progressão geométrica obtém-se razão igual a 1,49,
conforme mostra os cálculos abaixo.
a) Dados:
an = 50 mm;
a1 = 10 mm
q=?
n = 5.

b) Fórmulas:
an = a1 . qn-1

c) Solução:
an = a1 . qn-1 ⇔ 50 = 10 . q5-1 ⇔ q4 = 50 ⇔ q=4 5 ⇔ q= 1,49
10
Assim, o escalonamento será:

10,00 – 14,90 – 22,20 – 33,08 – 49,29

Conforme se pode observar, o último termo não é exatamente igual a 50 mm, mas de
acordo com a condição de que a dimensão deve ser menor ou igual a 50 mm, o último
termo se aproxima deste com um erro que se deve ao arredondamento do valor da
razão (q = 1,495348781...). Entretanto, o salto de um termo ao outro é de razão 1,49
com salto percentual de 49%.

Do 1º ao 2º termo:

Do 4º ao 5º termo:
Séries Renard
Charles Renard (STEMMER, 1974) propôs escalonamentos utilizando séries
k
geométricas com razão q = √10, onde “k“ pode ter os seguintes valores: 5, 10, 20, 40,
80 denominando-se série principal. Dividindo-se k por números inteiros, geralmente
ímpares, obtêm-se séries derivadas como: 20/3, 20/9; 40/3, 40/5, 40/7, 40/9. Estas
séries são representadas pela letra maiúscula R (de Renard) seguida do número da
série, como segue (KIRCHOFF, 1980):
Determinar a melhor série de Renard em um escalonamento significa determinar a
razão de uma série geométrica e utilizar uma série de Renard (principal ou derivada)
com razão muito próxima (levemente inferior) da geométrica.

Considerando o exemplo do escalonamento de 5 peças cujas dimensões deveriam


compreender 10 mm e 50 mm, pode-se dizer que a série de Renard utilizada foi R40/7.

Em geral, parte-se para um escalonamento utilizando série de Renard R5 ou R10 (as


mais utilizadas).
Exemplo: projetar, escalonando de acordo com a melhor série de Renard, 5 buchas
conforme a figura abaixo. Para cada dimensão indicar a série de Renard utilizada:

Figura 1.3 – Vista em corte de uma bucha.


Fonte: LOSEKANN, C. R e FERROLI, P. C., 2006.
A solução deste problema consiste em determinar a razão da série
geométrica, considerando os últimos e primeiros termos para cada dimensão
e, posteriormente utilizar uma série Renard que mais se aproxima da série
geométrica, sendo que a razão deve ser ligeiramente menor.

Em “a” (20 mm ≤ a ≤ 87,1mm)


Utilizando a fórmula de progressão geométrica obtém-se:

a) Dados:
an = 87,1 mm;
a1 = 20,0 mm
q=?
n = 5.

b) Fórmulas:
c) Solução

Verificando as razões das séries principais e derivadas de Renard têm-se:

Assim, o escalonamento será:

Uma outra possibilidade de escalonamento que satisfaz a condição da dimensão é:


É importante no escalonamento de peças, que envolve a fabricação, verificarem
a importância dos décimos ou centésimos de milímetros ou outra unidade de
grandeza, ou seja, deve-se considerar se estas frações são quesitos de projeto.
Se não for, procura-se escalonamento em números inteiros.

Em “b” (45 mm ≤ b ≤ 180 mm)

Utilizando a fórmula de progressão geométrica obtém-se:

a) Dados:

an = 180 mm;
a1 = 45 mm
q=?
n = 5.
b) Fórmulas:

c) Solução

Verificando as razões das séries principais e derivadas de Renard têm-se:

Assim, o escalonamento será:

45,00 – 63,45 – 89,46 – 126,14 – 177,86


Em “c” (10 mm ≤ c ≤ 40 mm)

Utilizando a fórmula de progressão


geométrica obtém-se:
a) Dados:
an = 40 mm;
a1 = 10 mm
q=?
n = 5.

b) Fórmulas:

c) Solução
Verificando as razões das séries principais e derivadas de Renard, novamente,
têm-se:

Assim, o escalonamento será:

10,00 – 14,10 – 19,88 – 28,03 – 39,52

Os valores calculados do escalonamento do problema em questão são tabelados


no quadro abaixo:
Os valores calculados do escalonamento do problema em questão são tabelados
no quadro abaixo:

Em “a” utilizou-se R20/3;


Em “b” utilizou-se R20/3;
Em “c” utilizou-se R20/3;
Exercícios de fixação
1.1) Projetar, escalonando de acordo com a melhor série de Renard, 5 buchas
conforme a figura abaixo e preencher o quadro abaixo com os valores calculados
para cada dimensão, indicando a série de Renard utilizada
1.2) Achar a melhor série de Renard para escalonar 6 peças dentre as dimensões
especificadas e preencher o quadro abaixo com os valores calculados para cada
dimensão, indicando a série de Renard utilizada:
20 mm < a < 30,0 mm
45,0 mm < b < 81,5 mm
1.3) Determinar a série de Renard utilizada no escalonamento do eixo, mostrado
na figura abaixo, em relação às dimensões lineares no sentido longitudinal
(comprimento) e transversal (diâmetro).

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