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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES


UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROFESSORA DRA. VIVIANE GOMES DE CEBALLOS
ANTONIO EDSON PARENTE DA SILVA
JOSÉ TOMAZ DE AQUINO
DAMIANA BRASIL ROLIM
KAROLAINE KELLY DA SILVA
LUCIANA ABRANTES NOBRE
TEOFILO DE OLIVEIRA NETO

CAJAZEIRAS – PB
2021
A GÊNESE DA ARTE ENGAJADA NO BRASIL E SUAS RELAÇÕES COM A
INDÚSTRIA CULTURAL

Em nossa vida, a arte está presente desde os tempos mais longínquos da


humanidade. Ela nos dá um entendimento de mundo mais amplo, nos auxilia na
compreensão da vida, é um meio de comunicação entre sociedades, pessoas e
povos, e por meio dela conseguimos unir a nossa racionalidade com a nossa
emoção. Dentro desse extenso mundo, nós temos algo que é chamado de “arte
engajada”, um instrumento em que os artistas usam suas habilidades para discutir
temas importantes e que reflete a realidade social, a cultura de uma determinada
sociedade, sua complexidade e o tempo histórico em que é produzida. A sua
importância está além da apreciação, pois a “arte engajada” é utilizada em
denúncias, manifestações e impasses sociais, pode estimular a reflexão e o
pensamento crítico, além de auxiliar na desconstrução de padrões culturais e
sociais.
Depois de uma breve pesquisa sobre o tema proposto, pode-se constatar que
não há trabalhos que carreguem em seu corpo o tema da gênese da arte engajada
brasileira e sua relação com a Indústria Cultural. É importante colocar que mesmo se
tratando apenas sobre a gênese da arte engajada brasileira, poucos são os
trabalhos encontrados, o que leva à conclusão de que não há muitos estudos a
respeito.
A arte engajada no Brasil tem suas raízes bem antes do final dos anos 50 e
início dos 60, ela tem sua base na Literatura Regionalista dos anos 30 com Jorge
Amado e Graciliano Ramos, pois é nela que se figura uma narrativa de conflito e
uma personagem popular, tem como base também o Cinema Nacional dos anos 50
feito sobretudo pelos comunistas que irão se atentar em se apropriar da linguagem
do cinema carnavalesco, musical e da chanchada, na tentativa de construir algo
realista e sério, com temas relacionados à conflitos e dilemas sociais brasileiros.
Além disso, temos como influência o Modernismo Engajado com Tarsila do Amaral,
e a Arte Realista com os Clubes de Gravuras do PCB.
Arte engajada de fato, tem suas primeiras manifestações no final dos anos 50
e início dos anos 60, ela pôde dar voz para quem nunca teve. O foco, agora, não é
apenas contar histórias. A arte ganha a função de intervenção, na qual problematiza
questões vividas pelos indivíduos, em seus determinados lugares sociais.
Para exemplificar, trago a discussão sobre a primeira peça de teatro engajado
brasileira escrita pelo autor Gianfrancesco Guarnieri, que ganhou uma produção
cinematográfica no ano de 1981, pelas mãos do diretor Leon Hirszman: Eles não
usam black-tie. A peça, que tem seu lugar na gênese do teatro engajado brasileiro,
mostra o cotidiano dos trabalhadores de uma fábrica, que iniciam um movimento
grevista, devido às condições precárias de salário e estrutura que os operários
passavam naquele momento. Como colocado mais acima, a arte engajada surge
como movimento de denúncias sociais através das artes, não só isso, ela surge
como artefato educativo, no qual conscientiza as pessoas dos seus direitos dentro
da sociedade. E Eles não usam black-tie não é apenas sobre cotidiano, mostra aos
seus espectadores, o que é uma greve, como articular uma greve, qual o direito e o
dever do trabalhador, como se colocar diante de uma situação como essa, ou seja, a
função educativa desse gênero artístico, está nas entrelinhas, quando se consegue
esquivar das repressões, e mostra através do teatro que é o caso, o que é e como
agir em determinadas situações.
A função educativa das peças e a busca por autorias nacionais bem como
ampliação do público faziam parte das estratégias para conseguir despertar uma
consciência popular nacional através da cultura. Seguindo essa perspectiva, temos o
Teatro Paulista do Estudante (TPE), considerado aquele que fundou as bases da
nova arte engajada de esquerda sob o lema do nacional-popular, e temos o
surgimento do Centro Popular de Cultura da UNE (CPC), que vai tentar explicar o
mecanismo usado para exploração capitalista através de uma linguagem bem
humorada.
Ao que se refere à música engajada, temos na Bossa Nova a primeira forma
de expressão, com bases nacionalistas somadas a um discurso de crítica. Unindo o
Jazz e o Rock, vertentes musicais consumidas pelas elites da época, a Bossa Nova
logo caiu nas graças do público jovem da alta e da baixa classe média, estendendo
a sua simpatia às classes populares urbanas logo após incorporar elementos do
samba tradicional, até então característico de espaços marginalizados como os
morros, por exemplo. Alguns intelectuais defendiam que a Bossa Nova tornasse um
movimento cultural nacionalista fazendo a conscientização e uma ligação entre as
classes sociais, os jovens de classe média e populares urbanos já que era um
público fiel ao samba tradicional, autores como Lins e Barros via na Bossa Nova
uma ponte que ligaria o morro, o terreiro, e o sertão em uma sociedade não muito
longe. A pretendida união entre o samba tradicional e o samba moderno em um só
estilo, assim como a ligação entre a classe média e “povo” em um só público, faria
da Bossa Nova a maior manifestação musical de conscientização nacional da época,
no entanto, isso de fato nunca aconteceu. Por mais que os dois espaços - centro e
periferia - tenham se encontrado, isso não resultou em uma estética musical
integrada e dessa forma a Bossa Nova não conseguiu atingir um patamar de
popularidade nacional como manifestação de uma arte engajada. Esse panorama de
visitação a um novo espaço - principalmente, mas não inteiramente musical -
realizado pela classe média aos morros é retratado de forma crítica e artística nos
episódios da série produzida pela Netflix chamada “Coisa mais linda” (2019).
A trajetória da arte engajada no Brasil, além de nos fazer entender a
conjuntura política, social e cultural no país durante a metade do século XX, também
nos faz perceber como se desenvolveu a indústria cultural nacional.
De uma forma resumida, tentaram popularizar o teatro, cinema e música, com
intuito de espalhar um projeto político, fugindo dos meios da Industrial Cultural.
Contudo, o único que se popularizou foi a música, especificamente o tropicalismo, e
justamente, de forma inesperada e imprevista, por causa da sua entrada na Indústria
Cultural: rádio, tv, festivais, etc.
Tanto o teatro, quanto o cinema, ficaram dependentes de incentivos do
estado. Além de todo o processo que levou à implosão do público do teatro, a
entrada do cinema no mercado contribuiu para enfraquecê-lo. Já o cinema engajado,
além do fato de procurar outros meios que não a indústria cultural, também concorria
com o cinema americano e ele se fechou para seu público, trazendo tramas muito
complexas para atingir um público que não fosse a elite intelectual brasileira.
Esse fechamento do cinema engajado foi diferente do que aconteceu em
outros países há alguns anos antes, com o mesmo intuito de expandir uma ideologia
e projeto político. Por exemplo, na URSS, o cinema era todo focado em construir
uma identidade operária e reforçar o ideal revolucionário. Todo conteúdo era voltado
aos trabalhadores soviéticos.
Contudo, não cedendo à Indústria Cultural e não buscando criar uma
identificação com as massas, o cinema se fechou a uma classe média e elite
intelectual do país. E de forma geral, nos três aspectos artísticos trazidos pelo autor,
percebemos que a esquerda, e a cultura do nosso país nunca buscou
verdadeiramente atingir as massas. O que ainda pôde ser visto foi uma imposição.
Da mesma forma que o samba foi descriminalizado, o funk hoje é. Dessa forma,
podemos perceber uma tradição que perdura até hoje e como a ação da esquerda
do nosso país é fechada e não é identificada pelas classes de trabalhadores do país.

REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W., HORKHEIMER, M. A indústria cultural: o esclarecimento como
mistificação das massas. Dialética do Esclarecimento. 2. Ed. Trad. Guido Antônio
de Almeida. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1986. p. 113-156.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. 1936.


FERRO, Marc. Cinema e História. 2ª Ed. Editora Terra e Paz, São Paulo – SP.
2010.

NAPOLITANO, Marcos. A arte engajada e seus públicos (1955/1968). Estudos


Históricos, Rio de Janeiro, nº 28, 2001, p. 103-124.

USP, Canal. Cultura e engajamento nos anos 1950 e 1960 (aula 7, parte 2).
Youtube, 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=2CqGGtMo0P4>. Acesso em: 06/09/2021.

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