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II SEMINÁRIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO JURÍDICA

COMISSÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO JURÍDICA


31 DE MARÇO E 01 DE ABRIL DE 2011- RIO DE JANEIRO (RJ)

CARTA DO RIO DE JANEIRO

 Os participantes do II Seminário Nacional de Educação Jurídica promovido pela Comissão


Nacional de Educação Jurídica (antiga Comissão Nacional de Ensino Jurídico) – CNEJ, do Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - CFOAB, reunidos na cidade do Rio de Janeiro nos dias 31
de março e 1º de abril de 2011, debateram o tema “Necessidades Sociais e Expectativas da Educação
Jurídica de Qualidade”, distribuído em oito painéis a seguir detalhados.

 Nesta ocasião, as exposições e debates realizados envolvendo docentes, estudantes,


representantes de cursos jurídicos, entidades civis voltadas à educação, advogados e autoridades do
Ministério da Educação - MEC evidenciaram a importância da parceria OAB/MEC na busca da educação
jurídica de excelência, bem como a importância da OAB ter oportunidade de indicar representante para o
Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior – CNE/CES.

 Os trabalhos desenvolvidos em cada painel apresentaram as seguintes conclusões que compõem


essa Carta. No tocante aos módulos temáticos desenvolvidos no Seminário, concluem que:

1. O reconhecimento de que o grupo de professores do Núcleo Docente Estruturante - NDE deve ter
um efetivo e contínuo comprometimento com a elaboração, desenvolvimento e consolidação do projeto
político-pedagógico da Instituição de Ensino Superior - IES.

2. O NDE, por sua importância para os cursos jurídicos, deve ser pensado e avaliado não apenas
quanto à observância das formalidades legislativas pertinentes à sua composição e quantitativo de
membros, mas principalmente quanto à sua atuação na busca de uma educação jurídica de excelência.

3. As atribuições do NDE devem ser conduzidas, pela sua importância, no estímulo à


interdisciplinaridade e indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

4. Deve haver consenso na diferença entre os programas de pós-graduação stricto sensu, no que
diz respeito a sua natureza acadêmica ou profissionalizante.

5. Os mestrados acadêmicos devem ter por finalidade o desenvolvimento social e a formação de


professores capacitados para a pesquisa e a valorização da reflexão crítica.

6. Eventuais mestrados profissionalizantes devem ter por escopo o desenvolvimento de


necessidades do mercado e, por esta razão, seu corpo docente possuir uma composição diferenciada,
não tendo por fim imediato a formação de professores pesquisadores, mas o aperfeiçoamento da prática
profissional, não podendo tais programas de mestrado profissionalizante desvirtuar a natureza da
formação stricto sensu.

7. A ampliação dos instrumentos de avaliação é consequência da proliferação do número de cursos


autorizados, da sua interiorização e da ausência de diversidade de oferta, verificando-se a concentração
de grande quantidade de estudantes em poucos cursos.

8. É necessário a revisão do instrumento de avaliação para pontuar a titulação do Coordenador do


Curso de forma a contemplar os mestres com conceito positivo.

9. Devem ser aplaudidas as ações adotadas pelo MEC consistentes na sensível redução da
autorização de novos cursos, permitindo a abertura apenas daqueles em que haja comprovados
diferenciais de excelência; a redução de vagas de cursos de baixa qualidade, de forma proporcional ao
desempenho obtido; indução da oferta de novos cursos para estimular a sua procura, em atendimento
ao mercado.

10. Sejam realizadas gestões para que os pareceres da Comissão Nacional de Educação Jurídica do
Conselho Federal da OAB, pela importância que representam nos processos de autorização,
reconhecimento, renovação de reconhecimento e aumento de vagas, bem como a contribuição que
oferecem ao MEC, tenham maior valorização, especialmente quando analisados pelo Conselho Nacional
de Educação - CNE.

11. Merecem reflexão profunda as eventuais tentativas de pedidos de ordem político-partidária ao


Conselho Nacional de Educação, no sentido de se aprovar cursos que tenham obtido parecer negativo
da OAB e decisão indeferitória do MEC.

12. Há necessidade de regulamentação adequada no que concerne à regulação dos cursos de pós-
graduação lato sensu no Brasil.

13. A admissão de diplomas obtidos em países do Mercosul de acordo com a legislação vigente
refere-se a parcerias entre IES dos seus países membros, direcionada a estrangeiros que
temporariamente realizam pesquisa e docência no Brasil e vice-versa, não se considerando como
revalidação do título obtido e não legitimando a docência ou pesquisa de forma permanente, tampouco
ocorrendo de forma automática.

14. A revalidação de diplomas deve ocorrer de maneira igual para todas as IES, integrantes ou não
do Mercosul, e deve seguir o mesmo procedimento para todos os títulos obtidos no exterior.

15. A educação jurídica brasileira, na forma hoje realizada, compromete a qualidade da pesquisa ou a
torna simplesmente inexistente.

16. Torna-se importante fazer a distinção conceitual entre ensino e pesquisa, entendendo-se o ensino
não apenas de forma meramente informativa, sem criar conhecimento, e a pesquisa devendo partir do
estudo de problemas e da formação de teses, sem ser enclausurada na pós-graduação.

17. A pesquisa jurídica pode ser doutrinária, jurisprudencial ou estudo de caso, devendo, em qualquer
modalidade, revelar seu contexto. Não há pesquisa sem problematização, aspecto que constitui o
impulso indispensável para alcançar a tese pretendida e deve ocorrer em qualquer modalidade de curso
jurídico, sendo indispensável para obtenção e transmissão de conhecimento. Vale salientar a
necessidade de se ter apoio governamental, critérios claros e rígida fiscalização.

18. A pesquisa é ação ao mesmo tempo individual e institucional, de natureza crítico-reflexiva, e


comprometida com as questões sócio-culturais, políticas e jurídicas da realidade social.

19. A necessidade social diz respeito não apenas à titulação acadêmica formal, mas também à
experiência prática dos professores, pois as atividades profissionais trazem muitas e proveitosas
informações para todos os envolvidos. Uma infra-estrutura e um projeto político-pedagógico
qualitativamente diferenciados também cooperam para atender ao critério da necessidade social.

20. A aferição do critério de necessidade social para autorização de novos cursos envolve a
existência de diferenciais qualitativos suficientes para atingir o grau de excelência pretendido, ainda que
haja outros cursos jurídicos na região.

21. É necessário inibir os interesses econômicos e políticos e as demandas de mercado em prol de


critérios distintivos para aferição da necessidade social, os quais não podem ser inteiramente objetivos,
pois dependem do contexto de cada região.

22. A dimensão política de um projeto reúne um conjunto de valores, princípios e objetivos que
identifiquem a missão e o comprometimento do curso, sendo que a implantação do projeto apenas em
sua concepção pedagógica não atende aos objetivos da Lei de Diretrizes e Bases.

23. A definição do corpo docente deve levar em consideração a dimensão política do projeto de
curso.

24. O selo OAB, como proposta de uma nova denominação do Selo OAB RECOMENDA, não tem
objetivo de classificação qualitativa dos cursos, mas sim de premiação àqueles que se destacam por sua
excelência.

25. Deve-se estimular a construção de projetos político-pedagógicos inovadores, inibindo assim a


reprodução de modelos ultrapassados.

26. Os cursos jurídicos devem, para além do perfil legal do egresso, contemplar as expectativas do
próprio bacharel, do mercado de trabalho e as necessidades da sociedade contemporânea.

27. A formação do bacharel envolve uma dimensão ética que abrange as questões política, técnica e
humanista.

28. Os cursos jurídicos devem envidar esforços para o acompanhamento de seus egressos,
promovendo a educação continuada para o aperfeiçoamento profissional e para a vocação acadêmica.

29. A importância da implantação dos fóruns de educação jurídica, espécies de seminários regionais,
com o objetivo de discutir a educação jurídica da atualidade e de práticas pedagógicas inovadoras, já se
indicando as cidades de Porto Velho e Teresina para as primeiras experiências.

 Além disso, foram recebidas e acolhidas proposições para tomada de providências pela Comissão
Nacional de Educação Jurídica dentro de sua esfera de competência, a saber:

1. Encaminhar ofício ao Ministério da Educação pleiteando a alteração da legislação que trata da


composição do CNE, a fim de que seja incluída a Ordem dos Advogados do Brasil com poderes de
indicar representante para ter assento no Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação
Superior – CNE/CES.

2. Recomendar a alteração do Inciso I, do Artigo 3º, da Resolução nº 01, de 17 de junho de 2010, da


Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior – CONAES, que normatizou o Núcleo Docente
Estruturante para alterar o número de integrantes e estabelecer exigências adicionais, propondo-se a
seguinte redação:

“Art. 3º. (...)

I – ser constituído por um mínimo de 10% (dez por cento) dos docentes do curso em cada unidade
educacional, nunca inferior a 5 (cinco) docentes mais o coordenador, não podendo o professor atuar em
mais de um núcleo constituído, exceto se o integrar além dos números mínimos em quaisquer deles;

3. Propor a alteração da denominação do Programa “OAB RECOMENDA” para Programa “SELO


OAB”.

Rio de Janeiro (RJ), 1º de abril de 2011.

Prof. Rodolfo Hans Geller


Presidente da CNEJ

Regina Toledo Damião


Integrante da Comissão de Elaboração da Carta

Eroulths Cortiano Junior


Integrante da Comissão de Elaboração da Carta

João Maurício Leitão Adeodato


Integrante da Comissão de Elaboração da Carta

Ademar Pereira
Integrante da Comissão de Elaboração da Carta e Coordenador do Evento

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