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Momento de dipolo magnético

O momento angular orbital está associado à rotação da partícula em torno do centro de força.
Mas cargas em rotação dão origem a campos magnéticos. A fonte mais simples de campo
magnético é o chamado dipolo magnético. O seu protótipo é um anel de corrente elétrica. Se
uma corrente circula em torno de uma área o (vetor) momento magnético associado é:

µ=IA

em que A um vetor de módulo igual à área A, orientado perpendicularmente à superfície com


o sentido dado pela regra da mão direita em relação à corrente.

De acordo com o Experimento de Oersted, ao se colocar uma


bússola próxima a um fio percorrido por uma corrente elétrica, a
agulha dessa bússola sofre um desvio. Assim, Oersted concluiu
que, a exemplo dos imãs, toda corrente elétrica gera, no espaço ao
seu redor, um campo magnético.

A direção do vetor dipolo magnético também é dada pela regra da mão direita. A enrolar os
dedos da mão como um círculo, na direção da corrente, o polegar aponta na direção do vetor
do dipolo magnético. (Isto é na direção norte).

Um momento magnético é caracterizado pela sua resposta a um campo magnético externo, B.


Esta resposta pode ser caracterizada atribuindo-se ao sistema uma energia potencial dada por

U= - µ.B= - µcos θ

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onde Ɵ é o ângulo entre o vetor µ e o campo B. O torque que age sobre o dipolo é
perpendicular ao plano definido pelos dois vetores e tem módulo

∂U
¿ τ ∨¿ = =µBsen θ
∂Ɵ

o que é equivalente a τ = µB

O torque é no sentido de orientar µ paralelamente a B. Lembre-se, da Mecânica, que o torque


determina a derivada temporal do momento angular:

∂L

∂t

O torque é definido a partir da componente perpendicular ao eixo de rotação da força aplicada


sobre um objeto que é efetivamente utilizada para fazê-lo girar em torno de um eixo ou ponto
central, conhecido como ponto pivô ou ponto de rotação.

No caso de uma agulha imantada, como a de uma bússola, não existe uma proporcionalidade
entre o momento magnético e o momento angular. Este último é devido, principalmente, ao
movimento de rotação da agulha, e é proporcional ao seu momento de inércia. Assim, quando
colocada num campo magnético inicialmente desalinhada, o seu momento angular inicial é
praticamente nulo. Assim, o torque magnético tem o efeito de provocar o movimento da
agulha de forma a orientar o seu momento magnético na direção do campo aplicado, como
estamos acostumados a observar.

Se o campo magnético é uniforme este é o único efeito do campo sobre o dipolo. Se,
entretanto, o campo depende da posição, ele exerce uma força sobre o dipolo magnético. Se
chamarmos a direção do vetor µ de z, ou seja, µ=µz, a força será

∂B
Esta força é paralela ao vetor µ e seu sentido dado pelo sinal de , ou seja, o dipolo é
∂z
atraído para a região em que a componente do campo paralela a ele é mais intensa.

Momento magnético de uma carga realizando um movimento orbital

Considere uma partícula clássica de massa M e carga Q numa órbita circular de raio r com
v
freqüência angular ω = . O vetor momento angular será perpendicular ao plano da órbita.
r
Podemos definir o vetor freqüência angular ω, perpendicular ao plano da órbita e com o

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sentido dado pela regra da mão direita em relação ao movimento da partícula. O vetor
momento angular fica:

L = rp= Mr2w
Momento magnético

Partícula de massa M e carga Q


em movimento

A carga Q passa por um ponto qualquer da órbita ω /2π vezes por unidade de tempo, de forma
que a corrente correspondente é I=Q/(2 π/ ω). Assim, o momento magnético associado ao
movimento orbital da carga é

Q
Ou seja, µ= L
2M

os vetores momento magnético e momento angular são proporcionais, e paralelos. Os sentidos


são os mesmos se a carga é positiva e opostos, se a carga é negativa.

A fórmula acima foi obtida num caso particular muito simples. Entretanto ela é válida para
qualquer situação em que a densidade de massa é proporcional à densidade de carga.

O efeito do torque magnético sobre um momento magnético deste tipo (proporcional ao


momento angular) é diferente do efeito que ele tem sobre a agulha de uma bússola. A equação
∂L
mecânica é exatamente a mesma, = τ, mas agora ela se traduz em
∂t

∂L
Isso significa que é sempre perpendicular a L. O resultado disto é que o vetor momento
∂t
angular L executa um chamado movimento de precessão. Ele gira em torno da direção do
campo magnético B, O resultado disto é que o vetor momento angular L executa um chamado
movimento de precessão. Ele gira em torno da direção do campo magnético:

Onde γ=µ/L, chamado de fator giromagnético, é neste caso γ=|Q|/2M. O sentido do


movimento de precessão depende do sinal da carga da partícula. A figura abaixo ilustra o
movimento de precessão do momento angular (e conseqüentemente do momento magnético)
de uma partícula com carga negativa.
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Movimento de precessão de L e µ associados a uma partícula de carga negativa na presença
de um campo magnético B.

O momento magnético orbital do elétron

A relação entre momento de dipolo magnético e momento angular orbital pode ser aplicada
para o caso de um elétron, em que Q=-e e M=me. Mas, segundo a teoria de Schrödinger (e
também as teorias de Bohr e Sommerfeld) o momento angular é quantizado. Sua componente
só pode assumir valores múltiplos inteiros de h, Lz=ml x h. Assim, temos para a componente
do momento magnético orbital

Aqui aparece o chamado magneton de Bohr, que é a grandeza natural para se expressar o
momento magnético do elétron. Seu valor no SI é

(Os números entre parênteses ao final do valor numérico representam a incerteza padrão, e
correspondem aos últimos 2 dígitos no valor declarado.)

O movimento de precessão do momento magnético também ocorre na Mecânica Quântica.


Aqui, entretanto, ele envolve o valor esperado da componente de no plano perpendicular ao
campo magnético aplicado. A freqüência angular do movimento de precessão quântico é dada
pela mesma expressão deduzida classicamente, wc=γB. O fator giromagnético associado ao
momento orbital do elétron fica

Para , a freqüência do movimento de precessão seria .


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Na presença de um campo magnético externo temos que considerar a energia do
acoplamento do dipolo magnético com o campo; Umag.= µ B. Como o momento magnético é
quantizado, esta energia também é quantizada. Se tomarmos na direção teremos

Consideremos os 2l + 1 auto-estados do momento angular orbital. Eles são normalmente


degenerados, ou seja, têm a mesma energia para todos os valores de m l. Na presença de um
campo magnético, entretanto, esta degenerescência é quebrada: a parcela magnética da
energia é diferente para cada valor de ml. Esta separação (desdobramento) de níveis
inicialmente degenerados provocada por um campo magnético é conhecido como efeito
Zeeman. Observe que a separação entre níveis de energia com m l sucessivos, Δml=1, é
ΔE=µBB. Para campos magnéticos de laboratório, da ordem de a separação é muito
-5
menor que 1 eV(da ordem de 6.10 ), mas este efeito já era conhecido antes do nascimento da
Mecânica Quântica.

Note também que a separação entre níveis sucessivos pode ser escrita como ΔE=wch.

Isto significa que o sistema poderia sofrer uma transição entre níveis sucessivos pela absorção
(ou emissão) de um fóton de freqüência idêntica á freqüência de Larmor, do movimento de
precessão

O experimento de Stern-Gerlach

Stern e Gerlach, em 1922, realizaram um experimento para verificar a previsão da


quantização do momento angular. Como vimos antes, o momento angular de uma carga está
relacionado com o seu momento magnético. Assim, quantização de momento angular conduz,
necessariamente, à quantização do momento magnético.

O arranjo experimental de Stern-Gerlach está esquematizado na figura a seguir. O coração do


arranjo é uma região em que há um gradiente de campo magnético. Ao passar por esta região
um dipolo magnético sofrerá a ação de uma força, na direção vertical ( z), que será
dBz
proporcional à componente do momento de dipolo magnético nesta direção. Supondo ,
dz
uniforme, a força é constante ao longo de todo o trajeto dentro do gradiente de campo. Esta
força provoca um desvio na trajetória da partícula. O desvio depende de µz e, portanto,
partículas com diferentes valores de µz sofrem diferentes desvios e se chocam com o anteparo
em alturas diferentes. O ponto de choque depende também da velocidade horizontal da
partícula, vh.

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No experimento de Stern-Gerlach as partículas eram átomos neutros de prata (Ag) obtidos por
evaporação do metal em um forno. Átomos de prata deixam o forno pela abertura, com uma
distribuição de velocidades determinada pela temperatura do forno, e os que conseguem
passar pelos colimadores tem uma velocidade praticamente horizontal. O feixe de átomos
colimado atravessa a região de gradiente de campo magnético, onde cada átomo é desviado de
acordo com seu valor de µz. Assim, o aparato de Stern-Gerlach divide o feixe de átomos
original em tantos feixes quantos os forem os valores de µz presentes. Por causa da dispersão
na distribuição das velocidades vh , os feixes de cada µz são alargados.

A figura mostra, esquematicamente, o que Stern e Gerlach observaram. Os átomos de prata


são divididos em dois feixes: um para cima, que corresponde a µz= +µB e outro para baixo,
que corresponde a µz= -µB. O experimento demonstrou de forma inequívoca a quantização do
momento angular (também chamada de quantização espacial), mas sua interpretação correta
só foi possível depois da descoberta do spin do elétron.

Spin do elétron

Se você quiser um relato muito interessante, e até mesmo divertido, sobre a descoberta do
spin do elétron veja The discovery of the electron spin - S. A. Goudsmit. Aqui vamos nos
concentrar nos aspectos essenciais.

O elétron (e outras partículas como o próton e o nêutron) possui um outro grau de liberdade
além dos representados pelas três coordenadas espaciais. Ele têm um outro momento angular,
adicional ao momento angular orbital, que chamamos de momento angular de spin. Não se
trata de um momento angular devido à rotação do elétron em torno de si mesmo: até onde
sabemos o elétron não tem estrutura. Além disso, se fosse um momento angular de rotação no
espaço, ele seria quantizado em números inteiros de h. Uma componente qualquer do
momento angular de spin do elétron, Sz por exemplo, entretanto, assume os valores h=±1/2h,
ou seja múltiplos semi-inteiros de h.

Mas o momento angular de spin é um momento angular e as variáveis dinâmicas S2 e Sz a ele


associadas têm auto-valores exatamente similares aos correspondentes do momento angular
orbital L2 e Lz.

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com a diferença de que l pode ser qualquer inteiro não negativo, = 1, 2, 3 ..., enquanto para o
spin do elétron s=1/2. Por isso, para um único elétron, só há dois estados de spin possíveis,
Sz=1/2h e Sz= -1/2h, a que também nos referimos como spin para cima e spin para baixo, ou
spin + e spin -, ou ↑↓.

Assim, para a descrição do estado quântico de um elétron, é necessário, além de especificar a


função de onda ψ(r), especificar o seu estado de spin. Um estado de spin genérico é uma
combinação linear dos dois auto-estados de S z, ↑ e ↓. No caso de auto-estados da energia, eles
estarão associados a quatro números quânticos, os três da auto-função mais um para
especificar o spin. Assim um auto-estado de um elétron no átomo de hidrogênio, por exemplo,
pode ser especificado por n, l,ml e ms. Na teoria de Schrödinger a energia é independente do
spin, e as funções de onda são idênticas para os estados com ms.= + ½ e ms.= - ½. Os auto-
estados podem ser:

ambos com energia

Assim, a degenerescência de um nível n, que era n2 devido à multiplicidade de , l e ml (n


valores para l e 2l+1 valores de ml para cada l) passa a ser 2n2 devido à degenerescência de
spin.

Na verdade, a descoberta do spin veio da existência da chamada estrutura fina no espectro do


hidrogênio. Isto é, quando analisado com precisão suficiente observa-se a presença de linhas
múltiplas, que correspondem a transições com pequenas diferenças de energia. Foi depois de
muitas tentativas de explicar a multiplicidade das linhas na estrutura fina deste espectro (e
espectros de outros átomos) que se chegou à descoberta do spin. Os n2 estados de um nível n
do hidrogênio não são exatamente degenerados. Existe uma pequena diferença de energia
entre alguns deles que provém de um efeito que veremos mais adiante.

O momento magnético de spin do elétron

A relação entre momento de dipolo magnético e momento angular orbitais do elétron já foi
discutida anteriormente:
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Já vimos que o momento angular de spin não é um momento angular usual. Esta peculiaridade
também se reflete no momento magnético a ele associado. O fator de proporcionalidade entre
momento magnético e momento angular de spin é aproximadamente o dobro do mesmo fator
para o momento angular orbital. Embora a componente z do momento angular de spin seja ±
1/2h, o momento magnético associado é µsz= ± µB (e não metade de µB, como seria obtido
fazendo ml= ± ½ na expressão para µLz). Este fato só tem explicação na teoria quântica
relativística. A relação entre spin e momento magnético se escreve:

µSz= - gsmsµB

onde gs=2.0023. Normalmente, usamos gs=2 para o spin.

Momento angular total

Um elétron tem o momento angular orbital L, e o momento angular do spin, S. Podemos


então, definir o seu momento angular total: J.

J= L + S

Isto é importante porque, sob certas circunstâncias, os momentos orbital, L e do spin, S,


podem não ser conservados individualmente.

As grandezas J2 e Jz associadas ao momento angular total também têm auto-valores similares


aos correspondentes orbital e de spin, ou seja:

J2 → j (j + 1) h2

Jz → mj x h

Com mj= -j,- j+1, ..., j – 1, j

Mas agora, o número quântico j pode assumir valores tanto inteiros quanto semi-inteiros. Os
correspondentes mj são séries de números inteiros ou semi-inteiros, separados em ambos os
casos de 1 unidade.

Quando somamos dois vetores clássicos, o módulo do vetor soma pode ter qualquer valor
entre a diferença e a soma dos módulos dos dois vetores, dependendo da orientação relativa
dos dois vetores somados. As regras para a soma de dois momentos angulares quânticos J = J 1
+ J2 são similares, mas se expressam em termos dos números quânticos j, j1 e j2. Os possíveis
valores de são separados de uma unidade e limitados:

|j1 – j2| ≤ j ≤ (j1 – j2)

No caso do momento angular total de um elétron, J = L + S, j1 = l (qualquer inteiro não nulo)


e j2 = s = ½. Neste caso, para um dado l, há no máximo dois valores possíveis para o j, que
são j=| l -1/2| e j= l + ½ (se l =0, há apenas um, j = ½).
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Os auto-estados do hidrogênio que escrevemos na seção anterior são estados em que L2, S2, Lz
e L2 têm valores exatamente definidos. Como as auto-energias são independentes de ml e ms
(os auto-valores de Lz e Sz) podemos combinar estados de mesmo l (e s) e diferentes valores
de ml e mS que continuaremos tendo auto-estados da energia. Escolhendo combinações
apropriadas podemos construir auto-estados da energia que serão também auto-estados de J2 e
Jz. Em tais estados, L2 e S2 são extremamente definidos, mas não Lz ou Sz.

ue continuaremos tendo auto-estados da energia. Escolhendo combinações apropriadas


podemos construir auto-estados da energia que serão também auto-estados de n, l, ml , s=1/2
e ms, é possível construir auto-estados para o hidrogênio caracterizados pelos números
quânticos: n, l, ml j, e mj. Na teoria de Schrödinger, na ausência de campo magnético, a
energia continua dependendo apenas de n.

Podemos verificar que a multiplicidade de estados é a mesma nos dois casos.

- Dados l e s=1/2, há 2l + 1 possibilidades para ml e 2s + 1 = 2 possibilidades para MS. O


número total de estados é 2(2 l +1 ).

- Para l e s= ½ dados, há duas possibilidades para j. Para j = | l - 1/2| há 2j + 1=2l valores


possíveis para mj. Com j= l+ ½ há 2j + 1= 2 l + 2 valores possíveis para mj. O número total
de estados é 4l + 2, idêntico ao anterior.

O momento magnético total do elétron

Um elétron com momento angular orbital e momento angular de spin terá um momento
magnético total dado aproximadamente por

Como o momento angular total do elétron é J= L + S, vemos que, em geral, o vetor momento
magnético não será paralelo ao momento angular total. Entretanto, pode-se mostrar que a
componente z do momento magnético, µz, é proporcional à mesma componente do momento
angular total Jz. Para auto-estados de L2, S2, J2 e Lz, esta relação se expressa na forma

onde o fator g, chamado de fator de Landé, é dado por

Note que fazendo s=0 e j=l, obtemos g=1, valor correspondente ao momento magnético
orbital. Se tomarmos l =0 e j=s, a expressão resulta g=2, correspondente ao momento
magnético do spin.

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O efeito Zeeman, neste caso, resulta num desdobramento dos estados com diferentes valores
de mj

Por motivos históricos, nos casos em que g≠1 (que se tem quando s≠0) o efeito se denomina
efeito Zeeman anômalo.

Notação espectroscópica

Os números quânticos apropriados para caracterizar os estados do elétron no hidrogênio (e


também dos elétrons de outros átomos) são aqueles que contém o momento angular total. Isto
porque há outros efeitos não incluídos na teoria de Schrödinger que faz com que os momentos
orbitais e de spin não sejam grandezas conservadas. O momento angular total de qualquer
sistema isolado, entretanto, é sempre conservado e, portanto, têm valores exatamente
definidos.

O processo de adição de momentos angulares pode ser estendido para átomos com mais de
um elétron. Podem-se definir o momento angular orbital total de um sistema de N elétrons, L
= L1 + L2 + ... + LN, o spin total S= S1 + S2 + ...+ SN, e o momento angular total, J= J1 + J2
+ ... JN. Os estados dos átomos são caracterizados pelos números quânticos destes três
momentos angulares.

Note que o spin total de um sistema com um número par de elétrons vai ser caracterizado por
um número inteiro. Para dois elétrons, por exemplo, com s1=s2=1/2, as possibilidades para o
spin total S= S1 + S2 são: s= s1 – s2= 0 e s= s1 + s2 = 1.

A notação espectroscópica consiste numa convenção para representar os números quânticos


dos momentos angulares totais L, S e J (ou l, s e j) e, em alguns casos o número quântico
principal n. Observe que não se especifica o número quântico MJ. Na ausência de campo
magnéticos os 2J + 1 com estados diferentes MJ são degenerados (Esta degenerescência é
quebrada pelo efeito Zeeman, na presença de um campo magnético aplicado).

A representação é feita utilizando-se letras para representar o momento angular orbital. Os


auto-valores l= 0,1,2,3 são representados, respectivamente, pelas letras S, P, D e F. Para os
valores maiores (mais raros nos casos atômicos) usa-se a seqüência em ordem alfabética G, H
e I, etc., para representar os valores 4, 5, 6, etc. Quando nos referimos a átomos com mais de
um elétron as letras normalmente são maiúsculas. No caso dos estados do hidrogênio é
comum utilizar minúsculas para denotar o estado de seu único elétron. O spin, ao invés de ser
dado através do número quântico s, é dado por 2s+1, ou seja, pela multiplicidade de estados
de spin. A notação para um estado com números quânticos L, S e J se escreve:
2S+1
LJ

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Em que L representa a letra correspondente S, P, D, F, ..., 2S + 1 e J representam os números
correspondentes. A tabela baixo mostra exemplos de estados fundamentais de alguns átomos.
Nosso assunto seguinte vai nos ajudar a entender o porquê destes números.

Elemento L S J Notação
2
H 0 ½ 1/2 S1/2
1
He 0 0 0 S0
3
C 1 1 0 P0
5
Fe 2 2 4 D4
4
Co 3 3/2 9/2 Fe9/2
2
Ag 0 1/2 ½ S1/2

Note que o momento magnético de um átomo é determinado pelo seu momento angular total.
Assim, se um feixe de átomos com momento angular total J for utilizado no experimento de
Stern-Gerlach, serão produzidos 2J + 1 feixes separados, cada um correspondendo a um dos
valores possíveis de MJ. No caso da prata a situação é tal que o momento angular orbital de
todos os seus elétrons é nulo L=0, e o momento total de spin de todos os seus elétrons é S= ½,
de forma que J=1/2 e g= 2. Ou seja, o momento magnético de um átomo de prata é idêntico ao
momento magnético de spin de um único elétron, por isso Stern e Gerlach observaram apenas
dois feixes emergindo do seu aparato.

Estrutura fina do espectro do hidrogênio

Como já mencionamos a degenerescência dos níveis do átomo de hidrogênio prevista pela


teoria de Schrödinger é apenas aproximada. A figura abaixo (7) mostra um diagrama com
uma visão de alta resolução da linha de maior comprimento de onda na série de Balmer do
espectro do hidrogênio. Esta linha é gerada no decaimento dos estados do nível para o
nível . A energia dos fótons emitidos na transições entre quaisquer dois estados é,
segundo a teoria de Schrödinger, a mesma. Observe, entretanto, que há 7 comprimentos de
onda diferentes, separados de uma pequena fração de Å. A presença de diferentes
comprimentos de onda significa que há diferentes diferenças de energia entre os estados com
e . O entendimento deste fato, chamado de estrutura fina, só foi possível depois
da descoberta do spin do elétron.

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Desdobramento fino da linha de maior comprimento de onda da série de Balmer do espectro
do hidrogênio. À esquerda, representação das 7 linhas componentes, em função do

comprimento de onda (no ar). Note que o comprimento de onda médio é ,ea

escala varre apenas . As cores não são reais: todas as 7 linhas são alaranjadas. Cores
diferentes foram usadas para identificar as linhas com as transições representadas no diagrama
da direita. Neste diagrama a separação em energia dos níveis e não é real. A
escala representa corretamente as separações entre os níveis de mesmo . (Fonte: NIST
Atomic Spectra Database em http://physics.nist.gov/cgi-bin/AtData/main_asd).

Acoplamento spin-órbita

A explicação é o chamado acoplamento spin-óbita, que faz com que a energia do elétron
dependa da orientação relativa entre os seus dois momentos angulares, orbital e de spin.
Estritamente, este acoplamento é um efeito relativístico, mas ele pode ser interpretado de uma
forma simples (embora incorreta). Considere um elétron orbitando em torno do núcleo. No
referencial do elétron é o núcleo que gira em torno dele. Este movimento orbital da carga

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positiva do núcleo dá origem a um campo magnético sobre o elétron, e portanto, uma
diferença de energia entre as duas possíveis orientações do seu spin, via o acoplamento
Zeeman. Pode-se verificar que este campo é paralelo ao momento orbital do elétron no
referencial do átomo, . Assim, a energia do elétron na presença do campo do núcleo pode
ser escrita como

A diferença de energia entre os dois estados de spin é, portanto, , ou seja, da ordem


de por tesla. Como o momento magnético é oposto ao momento angular (porque a
carga do elétron é negativa), o estado de energia mais baixa é com o spin apontando na

direção oposta a , e portanto a .

Como é proporcional a e é proporcional a , esta energia pode ser escrita como:

No caso do hidrogênio é um parâmetro positivo, que depende do nível .

A existência deste acoplamento faz necessária a utilização dos auto-estados do momento

angular total , porque e não são mais bons números quânticos. É claro

que os dois valores de , e correspondem, respectivamente, a


orientações iguais e opostas de e . Os auto-valores da energia do acoplamento spin-órbita
são

Regras de Seleção

Note no diagrama da figura anterior (7) que nem todos os pares de estados, um no nível
e outro no nível , dão origem a linhas espectrais. Certas transições são ditas
"proibidas": não se observam os fótons correspondentes no espectro. Isto é resumido por duas
regras de seleção. Só se observam fótons provenientes de transições entre estados para os
quais:
(7)

(8)

As duas regras devem ser satisfeitas simultaneamente. O fato de que as variações de e são
limitadas a 1 (em módulo) vem do fato de que o fóton tem momento angular igual a .
Como o momento angular deve ser conservado, uma variação de momento angular do átomo
é compensada pelo momento angular do fóton. Mas este só pode ser no máximo .

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A regra vem do fato de que a emissão de radiação de dipolo decorre de uma
oscilação do momento de dipolo elétrico da distribuição de carga quando o átomo se encontra
num estado que é uma combinação do estado inicial e final (veja NA 1). Devido a simetria de
paridade dos harmônicos esféricos, esta oscilação só ocorre quando os dois estados têm de
paridade diferente (um par e outro ímpar). A possibilidade , que satisfaz esta
condição, é proibida por causa do momento angular dos fótons.

Observe o digrama de níveis da figura (7) e verifique que as transições indicadas satisfazem a
ambas as regras de seleção. As não indicadas são proibidas por pelo menos uma regra.
Indentifique a(s) regra(s) violada(s) em cada caso. O grande triunfo da teoria de Goudsmit e
Uhlenbeck foi a explicação da estrutura fina observada no espectro do hidrogênio.

Note que não há nenhum campo magnético aplicado na situação descrita (a menos do campo
fictício do núcleo que dá origem ao acoplamento spin-órbita). Cada sub-nível representado na
figura (7) é, ainda, degenerado. Dizemos que são multipletos. A degenerescência de cada sub-

nível é . Os sub-níveis com são dubletos, aqueles com são


quadrupletos, etc. Na presença de um campo magnético externo haverá um desdobramento

dos multipletos: a energia do acoplamento Zeeman, , depende de e


quebra a degenerescência dos multipletos. Isto gera um número maior de linhas espectrais na
presença de um campo magnético, o que permite a verificação da existência dos multipletos.

http://plato.if.usp.br/1-2005/fnc0376n/na5/na5.html

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