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Artigo Sobre a Diversidade por Pierre de Freitas, palestrante do Seminário em Boa Vista

A Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais nos


permite, como nunca antes aconteceu na história deste país, construir idéias e ações mais
exatas sobre o tema. É um momento de reflexão, discussão e planejamento de ações.

Acredito que estas ações devem ser palpáveis, não aquelas mirabolantes ou de teor demasiado
intelectual que acabam não saindo do papel ou, se saem, são inacessíveis do grande público.
Neste sentido, parabenizo o MINC pelo prêmio de culturas populares e pelo seu formato, que
consegue inserir e desburocratizar.

Necessitamos, além de clareza e objetividade, também sermos patrióticos e democráticos neste


momento. Não podemos esquecer que cultura tem que ser vista como necessidade básica do
homem e da sociedade a qual ele faz parte.

Muito me interessa falar sobre Diversidade Cultural, principalmente pelo exercício que nos
propõe o assunto e sua abrangência.

Ao falarmos de Diversidade Cultural, dificilmente não falaremos de civilizações pretéritas, de


economia e sociedade e ainda de globalização. Dificilmente não serei levado às lembranças da
minha cidade natal, Brasília, e da cidade que atualmente escolhi para viver, Palmas – TO. Ambas
com algo em comum: foram previamente elaboradas e suas construções foram realizadas por
pessoas vindas de todas as partes do Brasil, ou seja, de situações culturais e sociais distintas. Eu
mesmo sou fruto desta diversidade, pois sou filho de um capixaba com uma goiana.

Mas, vamos por partes! Comecemos pela globalização: o mundo, no meu entendimento, não é
uma cidade global, mas antes um arquipélago planetário, onde a unidade não deve se fazer
pela uniformidade, mas por uma gestão de homogeneidade. O mundo hoje é muito mais
complexo que há décadas e, por conseqüência, a Diversidade Cultural é diariamente
bombardeada, transformada e mudada pela intensidade de fluxos migratórios, pela rapidez da
circulação das informações, o fim dos sistemas de filosofia de destruição… o mundo realmente
é bem mais complexo e ágil nos tempos de hoje.

Toda esta facilidade de circulação de homens, idéias, produtos, ideologias e informações nos
deixam em situação de vulnerabilidade. O Brasil se encontra muitas vezes nesta situação, de
vulnerabilidade ideológica. Enfraquecido pela hegemonia cultural estrangeira, sobretudo a
norteamericana, que nos é imposta pelo cinema, pelos modismos e pelos fast foods e
refrigerantes (que oprimem nosso takaká, nossa pamonha, nosso biju…).

Por outro lado, não nos esqueçamos de que isto não é de forma alguma um problema exclusivo
do Brasil, não diferente dos países emergentes ou pobres da Ásia, África e Américas Central e
do Sul. A maior parte das sociedades ocidentais e orientais se confronta com problemas
nascidos da heterogeneidade sociocultural. Cada uma dessas sociedades se mobiliza e reage de
maneira diferente, segundo suas tradições históricas, religiosas, sociais e econômicas. Estas
sociedades não deixam de ser reconduzidas às novas situações que acabam trazendo
desconforto entre as tradições do passado e as novas metodologias do presente e do futuro,
gerando assim um olhar preocupado do eu coletivo face à diversidade cultural que se
manifesta: certa da importância da preservação das manifestações culturais pretéritas, como
também seguras de que não poderão se esquivar das novas propostas e linguagens da
contemporaneidade. Porém, acontece com muita freqüência esquecermos que tudo isso
pertence de maneira igual a nós mesmos.

Nós, seres efêmeros, somos biologicamente únicos e carregamos nossa carga genética que
assim determina que sejamos únicos. Porém, pertencemos a um grupo de seres vivos: a
humanidade. Este grupo é determinado por certo número de características semelhantes e que
nos distanciam de outros grupos de seres vivos. Temos uma capacidade intelectual que nos
diferencia de qualquer outro ser vivo, nos proporcionando extraordinária condição de
autonomia em relação aos seus determinantes biológicos, individuais ou coletivos.

O homem é um ser de cultura que, no sentido antropológico do termo, é “um conjunto


complexo que inclui os saberes, as crenças, a arte, o direito, os costumes, assim como todas as
maneiras e regras usadas pelo homem que vive em sociedade”. Este tipo de definição nos leva
ao menos a duas conseqüências. De um lado, liga a dimensão de cultura à dimensão social do
homem: implica as criações que operam o homem que vive em sociedade, e para que esta
existência social se realize e se reproduza. Se cada individuo deve ter seu direito reconhecido de
aceitar, recusar ou modificar sua herança cultural, então a cultura pertence a uma dimensão
coletiva essencial. De outro lado, esta dimensão coletiva pode visar grupos de dimensões ainda
fracos, grupos definidos a partir de critérios não menos diversos, coerentes e legítimos. Sob a
reserva desta última condição, poderemos então falar de cultura, de direitos culturais e de
diversidade cultural, que não deve pertencer a somente um grupo, mas sim à universalidade.

Eu poderia ainda completar dizendo que o universal não nasce somente das experiências
particulares, mas das suas transformações interativas. A pluricultura deve conduzir ao
intercultural.

Devemos, todos, apoiar e difundir a diversidade cultural que é, sem dúvida, uma das mais
importantes marcas do nosso país.

Data: 3 de outubro de 2009

Autor: Eduardo Alves

Categorias: Palestrantes, Seminário da Diversidade Cultural

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