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As transformações do conceito de cidade segundo Lefebvre

Os conceitos e definições de cidades estão, basicamente, ligados às formas de


organizações políticas e geográficas ao longo da história da humanidade. Os conceitos e
definições de cidades estão, basicamente, ligados às formas de organizações políticas e
geográficas ao longo da história da humanidade. A aglomeração, ou agrupamento de pessoas
em um lugar comum, inicia-se com a sedentarização dos grupos humanos, historicamente
registrada a partir do século VIII a. C.
Para Raquel Rolnik (1988), o aparecimento da cidade estabelece uma nova
relação homem-natura, “para fixar-se em um ponto para plantar é preciso garantir o
domínio permanente de um território.” Essa sedentarização exigiu uma organização da vida
social e a necessidade da organização da produção coletiva. Para a autora, “ Indissociável à
existência material da cidade está sua existência política.”
Henri Lefebvre, em A Revolução Urbana (1999), classifica e desenvolve o
conceito de cidade ao longo da história. Ele traça uma linha ascendente das transformações
que os agrupamentos das populações sofreram e causaram aos espaços ocupados.
O autor inicia sua análise pelo conceito de cidade política, ou seja, para
organização dos espaços socialmente ocupados, inicia-se a vida social organizada e uma
hierarquização social e geográfica, da ocupação dos espaços. A sociedade medieval era
basicamente agrícola, em que os camponeses (que ocupavam a base da pirâmide social),
trabalhavam e ocupavam o espaço do campo. Enquanto que os nobres e sacerdotes, ocupavam
os espaços urbanos. A organização das cidades se confunde com o desenvolvimento da escrita
já que, neste período que se inicia a necessidade de registro de ocupação dos espaços urbanos,
como a formalização das cidades para a cobrança de impostos, por parte da nobreza.
Assim, para ambos os autores, o conceito de cidade está ligado a uma dimensão
pública de vida coletiva, a ser organizada.
Lefebvre entende que cidade mercantil é o desenvolvimento da comercialização
da produção excedente das cidades políticas (aproximadamente no século XIV, na Europa
Ocidental). Assim, a troca comercial torna-se função urbana; essa função fez surgir uma
forma (ou formas : arquiteturas e/ou urbanísticas) e, em decorrência, uma nova estrutura do
espaço urbano. O espaço que anteriormente era majoritariamente agrário, passa a ser ocupado
pelo espaço urbano, quando a mercadoria e a comercialização ganha destaque na forma da
organização política das cidades. Assim, a troca comercial torna-se função urbana, e essa
função reorganizou a estrutura do espaço urbano. Para o autor, essa inflexão (do agrário para o
urbano) ocorre no final do processo da cidade mercantil (ou comercial). “Nos séculos XVI e
XVII, quando ocorre precisamente essa inversão de sentido, aparecem, na Europa, os planos
de cidades e, sobretudo, os primeiros planos de Paris” (pg. 23). Os comerciantes disputam não
apenas os espaços físicos, mas também os espaços de influência, prestígio e poder, na nova
organização político-social. Essa inversão não pode ser dissociada do crescimento do capital
comercial.
A cidade industrial, para Lefebvre, nasce, necessariamente, da não-cidade, ou
seja, ausência ou ruptura da realidade urbana. As indústrias se implantam próximas às fontes
de energia (carvão, água) e das matérias-primas e das reservas de mão-de-obras.

Nesse movimento, a realidade urbana, a o mesmo tempo amplificada e


estilhaçada, perde os traços que a época anterior lhe atribula: totalidade
orgânica, sentido de pertencer, imagem enaltecedora, espaço demarcado e
dominado pelos esplendores monumentais. Ela se povoa com os signos do
urbano na dissolução da urbanidade; torna-se estipulação, ordem repressiva,
inscrição por sinais , códigos sumários de circulação (percursos) e de
referência. Ela se lê ora como um rascunho, ora como uma mensagem
autoritária. Ela se declara mais ou menos imperiosamente. (Lefebvre, 1999,
pg. 27)

O autor entende que a fase da cidade industrial antecede e anuncia a zona crítica.
Assim a problemática urbana impõe-se à escala mundial. Os conflitos e paradoxos desse
processo histórico (enorme concentração de pessoas, de atividades, de riquezas, de coisas e de
objetos, e a explosão de periferias, de subúrbios, de residências secundárias) se apresentam
como problemáticas da fase crítica, fazem parte da problemática concernente ao fenômeno
urbano.
Compreender historicamente a concretização do atual cenário, nos possibilita
pensar formas alternativas de superar, por meio de políticas públicas, o gerenciamento e as
ocupações dos espaços urbanos.

Referências Bibliográficas

LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Ed. UFMG, Belo Horizonte, 1999


ROLNIK, Raquel. O que é cidade. Editora Brasiliense, São Paulo. 1988.

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