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SHEPIA

Sociedade de Estudo Psicanalíticos E Hipnose Aplicada


Psicanálise I

Aluna: Geovânia Alves da Silva

PROPOSTA DE TRABALHO

1. A psicanálise como ciência;


2. O processo psicanalítico;
3. E a importância do psicanalista no atendimento ao paciente, sua postura
em consultório, a performance ideal e o nível de preparo necessário

1. A psicanálise como Ciência

Embora Freud tenha sido um cientista, formado no espírito científico de sua


época, as relações da psicanálise com a ciência nunca foram fáceis. Desde o
“Projeto”, de 1895, até seus últimos textos, Freud nunca abandonou seu
propósito de fazer com que a psicanálise fosse reconhecida como ciência.
Jacques Lacan, a partir de sua teoria dos discursos, afirma que a psicanálise é um
novo campo do saber que mantém conexões com o campo de saber da ciência,
mas com ele se confunde. O sujeito da psicanálise é o mesmo sujeito da ciência -
o sujeito do desejo - mas Freud subverte o cogito cartesiano ao descobrir o
inconsciente.

Com Freud, Nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão seria imaginar que
aquilo que a ciência não nos dá podemos conseguir em outro lugar” (Freud,
[1927] 1974, v. XIX).

Nosso objetivo, na abordagem sobre a questão da psicanálise e da ciência, é


verificar como a psicanálise conquista para a ciência um novo continente - o
do psiquismo inconsciente - e como esse inconsciente, erigido como objeto,
não era nada de que a ciência do tempo de Freud pudesse dar conta e, muito
menos, a ele conferir legitimidade científica.

Partiremos do conceito de “ciência normal”, tal como Thomas S. Kuhn a


descreve, o que vem a significar “a pesquisa firmemente baseada em uma ou
mais realizações científicas passadas expostas e relatadas em manuais
científicos elementares ou avançados” (1970, p. 101). Esses manuais e livros
tornaram-se bastante populares no começo do século XIX. Entre eles,
podemos exemplificar: o “Princípio e a óptica”, de Newton, a “Eletricidade”, de
Franklin, e a “Química”, de Lavoisier, entre outros, que serviram, por um
longo tempo, para definir implicitamente os problemas e os métodos legítimos
de um campo de pesquisa para uma geração de praticantes da ciência.

Ainda, para melhor esclarecer seu conceito de “ciência normal”, Thomas Kuhn
irá lançar mão de exemplos aceitos na prática científica, que incluem, ao
mesmo tempo, lei, teoria, aplicação e instrumentação, gerando modelos dos
quais brotaram as tradições coerentes e específicas ‘da’ pesquisa científica,
tais como a “Astronomia Copernicana” e a “Dinâmica Aristotélica” ou
“Newtoniana”, entre outros modelos ou paradigmas muitas vezes bem mais
especializados.

E com Lacan, Não há ciência do homem, o que nos convém entender no


mesmo tom do ‘não existem pequenas economias’. Não há ciência do homem
porque o homem da ciência não existe, mas apenas seu sujeito” (Lacan,
1998, p. 873).

Falar em psicanálise é, também, falar em processo, em interação e em


desprendimento ao se tentar alcançar a verdade em realidades fixas e
imutáveis. É abrir mão do tempo vigente, cronológico, é propor trabalhar em
uma dimensão de tempo em que um sujeito se estrutura, se cria, se inventa,
e que, por isso, é um tempo singular, inaplicável a outro, é um tempo que só
tem lógica se considerado na dimensão da lógica da estrutura do sujeito em
questão na psicanálise, o sujeito do inconsciente.

Lacan, em 1964, em seu Seminário 11, os quatro Conceitos Fundamentais da


Psicanálise, nos adverte que o Inconsciente é “algo de não nascido, de não
realizado, que fica em espera na área... não é nem ser nem não ser” (Lacan,
1964, p. 29).

Verificamos a insistência de Lacan em destacar o que para nós consiste na


grande ruptura entre as ciências em geral e a psicanálise, ou seja, a natureza
de seu objeto, o inconsciente. Ao afirmar que, para os pensamentos
inconscientes, existe uma mera possibilidade de existência, Freud propõe um
“conceito” de inconsciente que aponta mais para a desconstrução de uma
idéia do que propriamente para um indicativo conceitual, desde os primórdios
da psicanálise, exatamente entre os anos de 1893-1895, em seu artigo
“Sobre a psicoterapia da histeria”.

Indagamo-nos: como algo que se apresenta como “nem ser, nem não ser”,
“não realizado”, para o qual só existe a “mera possibilidade de existência”,
que só pode ser verificado e conhecido diretamente pela via da interpretação
e que só se manifesta pela via de um sintoma e no sonho, no ato que falha e
no chiste pôde vir a se constituir como “algo” que anseia pertencer a uma
categoria científica?

Lacan, na sua lição “O objeto da psicanálise”, publicada em seus Escritos sob


o título “A ciência e a verdade”, declara que o sujeito sobre o qual operamos
em psicanálise só pode ser o sujeito da ciência, perguntando-se se o status

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de sujeito na psicanálise já fora fundamentado, uma vez que o que se pôde
estabelecer foi “uma estrutura que dá conta do estado de fenda, de ‘Spaltung’
em que o psicanalista o situa em sua práxis” (Lacan, [1965-1966] 1998, p.
869). Tal fenda é admitida na base em que o reconhecimento do inconsciente
basta para motivá-Ia na medida em que ela é que o faz submergir em sua
constante tentativa de manifestar-se.

2. O processo Psicanalítico

O processo psicanalítico acontece a partir de um contrato pré-estabelecido entre


paciente e analista, onde ambas as partem aceitam se implicar no processo
psicanalítico.

Para a psicanálise, as fontes dos conflitos psíquicos estão ligadas à aspectos


inconscientes e o analista deve auxiliar o paciente a descortinar aspectos
encobertos, fazendo emergir à consciência o que está reprimido. Dessa forma, o
paciente poderá lidar com seus conflitos, antes inconscientes, conscientemente.

Ao descortinar conflitos inconscientes que são causas de sofrimento, o processo


psicanalítico oferece aos pacientes a possibilidade de se apropriarem de
conteúdos antes inacessíveis, que permaneceram por muito tempo
inconscientes.

O processo psicanalítico realiza-se através da fala, que acontece sob a forma de


associação livre, ou seja, o paciente verbaliza todos os pensamentos que
surgirem em sua mente, falando sobre seus sonhos, desejos e fantasias
livremente.

Ao localizar e compreender conflitos internos, o processo psicanalítico permite


ao paciente entender as razões de repetições que lhe causam sofrimento,
abrindo possibilidades de mudança e de reconstrução da própria história.

3. E a importância do psicanalista no atendimento ao paciente, sua postura em


consultório, a performance ideal e o nível de preparo necessário

A função do psicanalista, através de sua escuta atenta, é ajudar o paciente a trazer


para a consciência desejos reprimidos. O analista busca manter uma atitude neutra e
de não julgamento, para que o seu paciente se sinta seguro e confiante para falar. Um
ponto importante em relação a função do analista é o retorno que este dá ao paciente.
Não cabe ao psicanalista dar conselhos ou orientações ao paciente. É preciso que o
analista se abstenha dessas atitudes, uma vez que os pacientes devem tomar suas
decisões por si mesmo. O analista, por meio de inferências, retorna ao paciente aquilo

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que ele considera sinais do inconsciente, e que pôde captar no discurso do paciente. O
feedback do analista tem como objetivo levar o paciente a tomar consciência por si só
de sua condição. Por esse motivo, no processo psicanalítico o analista se abstém de
falar suas opiniões e julgamentos, pois o que irá levar o paciente a cura de seus
sintomas será fruto de suas próprias conclusões e esclarecimentos, trabalhados no
processo psicanalítico. O analista funciona como um espelho que reflete os medos,
desejos e fantasias do paciente, o que o leva a reconhecer os seus processos psíquicos.
A formação do analista é um processo longo que requer estudo, análise pessoal e a
supervisão dos casos feita geralmente por analistas mais experientes. A liberação dos
conteúdos reprimidos, faz com que impulsos destrutivos que se repetiam percam a sua
força amenizando o sofrimento do paciente. A energia antes destinada a manter
inconsciente o material recalcado, denominada libido, é liberada a partir do momento
que esses conteúdos se tornam conscientes, podendo ser utilizada para atividades
mais produtivas. Para a psicanálise, os efeitos do processo psicanalítico estão para
além de efeitos terapêuticos. Muito mais do que o bem-estar, a análise leva o paciente
que se implica no processo psicanalítico, a mudanças profundas relacionadas ao seu
modo de ser e estar no mundo.

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