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Mercantilismo

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Quadro de Claude Lorrain que representa um porto de mar francês de 1638, no momento fundamental do mercantilismo.

Mercantilismo é o nome dado a um conjunto de práticas econômicas desenvolvido na Europa na Idade Moderna, entre o século XV e o final

do século XVIII. O mercantilismo originou um conjunto de medidas econômicas diversas de acordo com os Estados. Caracterizou-se por uma

forte intervenção do Estado na economia. Consistiu numa série de medidas tendentes a unificar o mercado interno e teve como finalidade a

formação de fortes Estados-nacionais.

É possível distinguir três modelos principais: bullionismo (ou metalismo), colbertismo ou balança comercial favorável e mercantilismo comercial e

marítimo.

Segundo Hunt, o mercantilismo originou-se no período em que a Europa estava a passar por uma grave escassez de ouro e prata, não tendo,

portanto, dinheiro suficiente para atender ao volume crescente do comércio. [1]

As políticas mercantilistas partilhavam a crença de que a riqueza de uma nação residia na acumulação de metais preciosos (ouro e prata),

advogando que estes se atrairiam através do incremento das exportações e da restrição das importações (procura de uma balança

comercial favorável). Essa crença é conhecida como bulionismo ou metalismo.

O Estado desempenha um papel intervencionista na economia, implantando novas indústrias protegidas pelo aumento dos direitos alfandegários

sobre as importações, (protecionismo), controlando os consumos internos de determinados produtos, melhorando as infra-estruturas e

promovendo a colonização de novos territórios (monopólio), entendidos como forma de garantir o acesso a matérias-primas e o escoamento de

produtos manufaturados. A forte regulamentação da economia pelo mercantilismo será contestada na segunda metade do século XVIII

por François Quesnay e pelo movimento dos fisiocratas.

O mercantilismo é um conjunto de ideias econômicas que considera a prosperidade de uma nação ou Estado dependente do capital que possa

ter. Os pensadores mercantilistas preconizam o desenvolvimento econômico por meio do enriquecimento das nações graças ao comércio

exterior, o que permite encontrar saída aos excedentes da produção. O Estado adquire um papel primordial no desenvolvimento da riqueza

nacional, ao adotar políticas protecionistas, e em particular estabelecendo barreiras tarifárias e medidas de apoio à exportação.

Os princípios do mercantilismo podem ser resumidos como:

Metalismo ou bulionismo (do inglês bullion


"ouro em lingotes"): O capital é representado pelos metais preciosos que o Estado tem no seu poder. Procurava-se com essa crença

evitar a saída de metais preciosos do país. Mais tarde surgiriam outras escolas como o colbertismo (ou "mercantilismo francês") que

se inclina para aindustrialização; e o comercialismo (ou "mercantilismo britânico") que vê no comércio exterior a fonte da riqueza de

um país.

Incentivos às manufaturas

O governo estimulava o desenvolvimento de manufaturas em seus territórios. Como o produto manufaturado era mais caro do que as

matérias-primas ou gêneros agrícolas, sua exportação era certeza de bons lucros.

Protecionismo alfandegário

O governo de uma nação deve aplicar uma política protecionista sobre a sua economia, favorecendo a exportação e desfavorecendo

a importação, sobretudo mediante a imposição de tarifas alfandegárias. Incentiva-se, portanto, a balança comercial positiva com

outras nações. Eram criados impostos e taxas para evitar ao máximo a entrada de produtos vindos do exterior. Era uma forma de

estimular a indústria e manufaturas nacionais e também evitar a saída de moedas para outros países.

Balança comercial favorável

O esforço era para exportar mais do que importar, desta forma os ingressos de moeda seriam superiores às saídas, deixando em boa

situação financeira.

Soma zero

Acredita que o volume global do comércio mundial é inalterável. Os mercantilistas viam o sistema econômico como um jogo de soma

zero, no qual o lucro de uma das partes implica a perda da outra.

Colônias de exploração

A riqueza de um país está diretamente ligada à quantidade de colônias de que dispunha para exploração. O mercantilismo

indiretamente impulsionou muitas das guerras europeias do período e serviu como causa e fundamento do imperialismo europeu,

dado que as grandes potências da Europa lutavam pelo controlo dos mercados disponíveis no mundo. Sob este aspecto, vale

salientar que, nas expansões marítimas e comerciais das nações, um país não poderia invadir o caminho percorrido constantemente

por outro, como no caso da procura pelas Índias Ocidentais. Isto perdurou até que, após o descobrimento da América, a Inglaterra

decidiu "trilhar" o seu próprio caminho. Portugal e Espanha se mostraram insatisfeitos com o fato, o que motivou a célebre frase do rei

da Inglaterra:

O sol brilha para todos! E eu desconheço a cláusula do testamento de Adão que dividiu a terra entre portugueses e espanhóis.

Comércio colonial monopolizado pela metrópole

As colônias europeias deveriam comercializar exclusivamente com suas respectivas metrópoles. Para as metrópoles tratava-se de

vender caro e comprar barato. Dentro desse contexto ocorreu o ciclo do açúcar no Brasil Colonial.[2]
Jakob Fugger "o rico", retratado porAlbrecht Dürer (1519) na época em que negociava um empréstimo a Carlos I da

Espanha para financiar sua eleição imperial e assim tornar-se Carlos V da Alemanha. Os impostos com os quais

pensava devolver o crédito provocaram a Guerra das Comunidades de Castela. Pouco antes, as manobras teológico-

financeiras do papado provocaram aReforma luterana na Alemanha.

O mercantilismo enquadra-se historicamente na Idade Moderna, com a progressiva

autonomia da economia frente à moral e a religião bem como frente à política. Esta

enorme ruptura realizar-se-á por meio de conselheiros dos governantes e pelos

comerciantes.[3] Esta nova disciplina chegará a ser uma verdadeira ciência

econômica com a fisiocracia. Entre os muitos autores mercantilistas, há que

destacar a Martín de Azpilicueta (1492-1586), Tomás de Mercado (1525-1575),

Jean Bodin (1530–1596), Antoine de Montchrétien (1576–1621), ou William Petty

(1623–1687).

O mercantilismo foi a teoria predominante ao longo de toda a Idade

Moderna (do século XVI ao XVIII), época que aproximadamente indica o surgimento

da ideia do Estado-nação e a formação econômico social conhecida como Antigo

Regime na Europa Ocidental. Marca o final da proeminência da ideologia

econômica do cristianismo (a crematística), inspirada em Aristóteles e Platão, que

recusava a acumulação de riquezas e os empréstimos com juros (vinculados

ao pecado da usura). Numa época que os reis desejavam possuir o máximo

de ouro possível, as teorias mercantilistas buscavam esse objetivo e desenvolviam

uma problemática baseada no enriquecimento, com base numa análise simplificada

dos fluxos econômicos, em que, por exemplo, não se leva em conta o papel do

sistema social.

Como agente unificador tendente à criação de um Estado nacional soberano, o

mercantilismo contrapõe-se a duas forças: a primeira, mais espiritual e jurídica do


que político-econômica, era constituída pelos poderes universais: a Igreja e o Sacro

Império Romano Germânico; a segunda, de caráter predominantemente econômico

foi o particularismo local, com a dificuldade que produz para as comunicações e a

sobrevivência da economia natural (em determinadas zonas as rendas do Estado

eram em espécie e não em dinheiro), enquanto a pretensão mercantilista era de

que o mercado fechado fosse substituído pelo mercado nacional, e as mercadorias

fossem substituídas por ouro, como medida de valor e meio de troca. O

mercantilismo vê a intervenção do Estado como o meio mais eficaz para

o desenvolvimento econômico.

Outra tendência do mercantilismo era fortalecer o poder do Estado no exterior,

subordinando a atividade econômica a esse objetivo, e interessando-se pela

riqueza enquanto servisse como base para isso. O liberalismo considerará a

riqueza como preciosa para o indivíduo e, portanto, digna de ser atingida como um

fim em si mesmo: se o particular não deve pensar em nada mais senão em

enriquecer, é um fato puramente natural e involuntário que a riqueza dos cidadãos

contribua para aumentar a riqueza do Estado. Por outro lado, para os

mercantilistas, a riqueza privada é simplesmente um meio, e como tal fica

subordinado ao Estado e aos seus fins de domínio.

A confiança no mercantilismo começou a decair em finais do século XVIII, quando

as teorias de Adam Smith e de outros economistas clássicos foram ganhando

prestígio no Império Britânico e, em menor grau, no restante da Europa (exceto

na Alemanha, onde a Escola Histórica de Economia foi a mais importante durante

todo o século XIX e começo do XX).[4] Adam Smith, na sua obra "A riqueza das

nações", critica o mercantilismo com dureza, qualificando-o como uma "economia

ao serviço do Príncipe". Curiosamente, embora tenha sido uma antiga colônia

britânica, os Estados Unidos não aderiram à economia clássica. Em vez disso,

adotaram uma forma de neomercantilismo preconizada pela chamada "escola

americana" - organizada em torno das políticas de Alexander Hamilton, Henry

Clay e Abraham Lincoln, as quais posteriormente seriam defendidas pelo Partido

Republicano. Essa corrente seria dominante nos EUA até ao surgimento do New

Deal, após a crise de 1929. A escola americana também influenciaria os

economistas da Escola Histórica de Economia, como Friedrich List.

Atualmente a teoria do mercantilismo é recusada pela maioria dos economistas, se

bem que alguns dos seus elementos sejam ocasionalmente vistos de modo positivo

por alguns, entre os quais cabe citar a Ravi Batra, Pat Choate, Eammon Fingleton,

ouMichael Lind.[5]

Índice

 [esconder]
1 Doutrina econômica mercantilista

o 1.1 O mercantilismo como conjunto de

ideias econômicas

o 1.2 Interpretação histórica do

mercantilismo

o 1.3 A época mercantilista

o 1.4 As ideias mercantilistas

o 1.5 O mercantilismo como processo

econômico

2 Políticas mercantilistas

o 2.1 Na França

o 2.2 Na Inglaterra

o 2.3 Na Espanha

o 2.4 Em Portugal

o 2.5 Outros países

3 Críticas

4 Legado

o 4.1 Ideias mercantilistas sobreviventes

o 4.2 Herança política

5 Notas e referências

o 5.1 Fontes

o 5.2 Outras leituras

6 Ver também

7 Ligações externas

[editar]Doutrina econômica mercantilista

[editar]O mercantilismo como conjunto de ideias econômicas

Quase todos os economistas europeus dentre 1500 e 1750 são considerados

atualmente como mercantilistas. Contudo, estes autores não se consideravam

partícipes de uma única ideologia econômica. O termo só foi cunhado em 1763,

por Vitor Riquetti, Marquês de Mirabeau, e popularizado por Adam Smith, em 1776.

O termo mercantilismo foi criado a partir da palavra latina mercari, que significa

mercantil, no sentido de levar a cabo um negócio, e que procede de la

raíz merx que significa mercadoria. De início foi usado apenas por críticos, como

Mirabeau e o próprio Smith, mas foi logo adotada pelos historiadores.De fato, Smith
foi quem primeiro organizou formalmente muitas das contribuições dos

mercantilistas no seu livro A Riqueza das Nações.[6]

O mercantilismo em si não pode ser considerado como uma teoria unificada de

economia. Na realidade não houve escritores mercantilistas que apresentassem um

esquema geral do que seria uma economia ideal, tal como Adam Smith faria mais

adiante para a economia clássica. O escritor mercantilista tendia a concentrar a sua

atenção numa área específica da economia. [7] Somente após o período

mercantilista é que estudiosos, como Eli F. Heckscher, integrariam as diversas

ideias no que chamariam mercantilismo.[8] Heckscher vê, nos escritos da época, um

sistema de poder político e, ao mesmo tempo, um sistema de regulamentação da

atividade econômica, um sistema protecionista e um sistema monetário com a

teoria da balança comercial. Contudo, alguns teóricos recusam completamente a

ideia mesma de uma teoria mercantilista, alegando que esta dá "uma falsa unidade

a fatos díspares".[9] O historiador do pensamento econômico Mark Blaug faz notar

que o mercantilismo foi qualificado posteriormente como "bagagem incômoda",

"diversão de historiografia", e de "gigantesco globo teórico". [10]

Até certo ponto, a doutrina mercantilista, em si mesma, tornava impossível a

existência de uma teoria geral da economia. Os mercantilistas viam o sistema

econômico como um jogo de soma zero, onde a ganância de uma das partes

supunha a perda da outra ou, seguindo a famosa máxima deJean Bodin, "não há

nada que alguém ganhe e que outrem não perca".[11] Assim, por definição, qualquer

sistema político que beneficiasse a um grupo faria dano a outro (ou outros), não

existindo a possibilidade de a economia servir para maximizar a riqueza comum ou

para o bem comum.[12]Aparentemente, os escritos dos mercantilistas foram feitos

mais para justificar a posteriori uma série de práticas, do que para avaliar o impacto

dessas práticas e determinar o melhor modo de implementá-las. [13]

O mercantilismo é, portanto, uma doutrina ou política econômica que aparece num

período intervencionista e descreve um credo econômico que prevaleceu à época

de nascimento do capitalismo, antes da Revolução Industrial.[14]

As primeiras teorias mercantilistas desenvolvidas a princípios do Século

XVI estiveram pontuadas pelo bullionismo. A esse respeito, Adam Smith escrevia:

A dupla função que cumpre o Dinheiro, como instrumento de comércio e


como medida dos valores, fez com que se produza de jeito natural essa ideia
popular de que o Dinheiro faz a riqueza, ou que a riqueza consiste na
abundância de ouro e prata [...]. Razoa-se do mesmo jeito com referência a
um país. Um país rico é aquele no que abunda o dinheiro, e o meio mais —Adam
simples de enriquecer o seu, é amassar o ouro e a prata [...]. Devido ao Smith[15]
crescente sucesso destas ideias, as diferentes nações da Europa dedicaram-
se, embora sem sucesso suficiente, a buscar e acumular ouro e prata de todas
as maneiras possíveis. Espanha e Portugal, possuidoras das principais minas
que provêm à Europa desses metais, proibiram a sua exportação ameaçando
com graves represálias, ou submeteram-na a enormes taxas. Esta mesma
proibição fez parte da política da maioria das nações da Europa. É
encontrada mesmo onde menos se aguardaria, em algumas antigas atas do
parlamento da Escócia, que proíbem, sob fortes penas, transportar ouro e
prata fora do reino. A mesma política pôs-se em prática na França e na
Inglaterra

Thomas Gresham, comerciante e financeiro inglês.

Durante esse período, importantes quantidades de ouro e prata fluíam desde as

colônias espanholas do Novo Mundo para a Europa. Para os escritores bullionistas,

como Jean Bodin ou Thomas Gresham, a riqueza e o poder do Estado medem-se

pela quantidade de ouro que possuem. Cada nação deve, pois, acrescentar as suas

reservas de ouro à custa das demais nações para fazer crescer o seu poder. A

prosperidade de um Estado mede-se, segundo os bullionistas, pela riqueza

acumulada pelo governo, sem mencionar a Renda Nacional. Este interesse para as

reservas de ouro e prata é explicado em parte pela importância dessas matérias-

primas na época de guerra. Os exércitos, que contavam com muitos mercenários,

eram pagos com ouro e exceto os poucos países europeus que controlavam as

minas de ouro e prata, a principal maneira de obter essas matérias-primas era o

comércio internacional. Se um Estado exportava mais do que importava, a sua

"balança do comércio" (o que corresponde atualmente à balança comercial) era

excedentária, o qual se traduzia numa entrada neta de dinheiro.

Isto levou os mercantilistas a propor como objetivo econômico o de ter

um excedente comercial. Era estritamente proibida a exportação de ouro. Os

bullionistas também eram partidários de altas taxas de juros para animar os

investidores a investir o seu dinheiro no país.

No Século XVIII foi desenvolvida uma versão mais elaborada das ideias

mercantilistas, que recusava a visão simplista do bullionismo. Esses escritores,

como Thomas Mun, situavam como principal objetivo o crescimento da riqueza

nacional, e embora continuavam considerando que o ouro era a riqueza principal,

admitiam que existiam outras fontes de riqueza, como as mercadorias.


(…) não é a grande quantidade de ouro e prata o que constitui a verdadeira
riqueza de um Estado, já que no mundo há países muito grandes que
contam com abundância de ouro e prata, e que não se encontram mais
cômodos, nem são mais felizes [...]. A verdadeira riqueza de um Reino
consiste na abundância das Mercancias, cujo uso é tão necessário para o —
sustento da vida dos homens, que não podem passar delas" Vauban[16]

O objetivo de uma balança comercial excedentária continuava a ser perseguido,

mas desde esse momento era visto interessante importar mercadorias da Ásia por

meio de ouro para revender depois esses bens no mercado europeu com

importantes benefícios.

E para deixar a coisa ainda mais clara, quando dizemos [...] que 100.000
livras exportadas em efetivo podem servir para importar o equivalente
aproximado de 500.000 livras esterlinas em mercadorias das Índias
Orientais, há que entender que a parte dessa soma que pode chamar-se com
propriedade a nossa importação, ao ser consumida no reino, tem um valor
de umas 120.000 livras esterlinas anuais. De maneira que o resto, é dizer
380.000 livras, é mercadoria exportada ao estrangeiro sob a forma do
nossos tecidos, o nosso chumbo, o nosso estanho, ou de qualquer outro

produto do nosso país, com grande aumento do patrimônio do reino e isso
no tesouro, pelo qual podemos concluir que o comércio das Índias Orientais Thomas
prove a esse fim. Mun"[17]

Esta nova visão recusava a partir desse momento a exportação de matérias-primas,

que uma vez transformadas em bens finais constituíam uma importante fonte de

riqueza. Enquanto o bullionismo favorecera a exportação massiva de lã de Grã-

Bretanha, a nova geração de mercantilistas apoiava a proibição total de exportar

matérias-primas e propugnava o desenvolvimento de indústrias manufatureiras

domésticas. Ao precisar as indústrias importantes capitais, no Século XVIII houve

uma redução das limitações contra a usura. Como muito bem demonstrou William

Petty, a taxa de interesse vê-se como uma compensação pelas moléstias

ocasionadas ao prestador ao ficar sem liquidez. Um resultado dessas teorias foi a

posta em prática das Navigation Acts a partir de 1651, que deram aos barcos

ingleses a exclusiva nas relações entre Grã-Bretanha e as suas colônias, proibindo

aos holandeses o acesso a certos portos para restringir a expansão dos Países

Baixos.

As consequências em matéria de política interior das teorias mercantilistas estavam

muito mais fragmentadas do que os seus aspetos de política comercial.

Enquanto Adam Smith dizia que o mercantilismo apelava a controles muito estritos

da economia, os mercantilistas não concordavam entre si. Alguns propugnavam a

criação de monopólios e outras cartas patentes. Mas outros criticavam o risco de

corrupção e de ineficácia de tais sistemas. Muitos mercantilistas também

reconheciam que a instauração de quotas e de controlo dos preços propiciava

o mercado negro.

Por outro lado, a maior parte dos teóricos mercantilistas estavam de acordo na

opressão econômica dos operários e agricultores que deviam viver com uma renda

perto do nível de sobrevivência, para maximizar a produção. Uma maior

renda, tempo de lazer suplementar ou uma melhor educaçãodessas populações


contribuiriam para favorecer a folgança e prejudicariam a economia. [18] Esses

pensadores viam uma dupla vantagem no fato de dispor de abundante mão-de-

obra: as indústrias desenvolvidas nessa época precisavam de muita mão-de-obra e,

ademais, isso reforçava o potencial militar do país. Os salários eram mantidos,

portanto, em um baixo nível para incitar a trabalhar. As leis de pobres (Poor Laws)

em Inglaterra perseguem os vagamundos e fazem obrigatório o trabalho. O ministro

Colbert fará trabalhar as crianças com seis anos nas manufaturas do Estado.

A reflexão sobre a pobreza e o seu papel social na Idade Moderna cobrou

importância, sobretudo após a Reforma Protestante e os diferentes papéis que

à predestinação e o triunfo pessoal davam a teologia de Lutero, Calvino ou

a Contra-reforma. A opinião católica tradicional associava-se ao mantimento

do Antigo Regime, sancionando o lazer dos privilegiados e considerando a

condenação do trabalho como um castigo divino, enquanto as sociedades onde

triunfou o protestantismo pareciam adequar-se mais aos novos valores burgueses.

[19]
 Tradicionalmente os pobres eram vistos como os mais próximos a Deus, e as

instituições de caridade não se viam como meios de erradicar a pobreza, senão de

paliar os seus efeitos. Porém, entre os católicos também se inclui a obra de Juan

Luis Vives De subventione pauperum. Sive de humanis necessitatibus libri II (Os

dois livros da subvenção aos pobres ou da necessidade humana. Bruxas, 1525),

que trata o problema da mendicidade procurando soluções nas instituições

públicas, que devem socorrer os verdadeiros pobres e fazer trabalhar aos que

somente são vagos; para isso considerava precisa uma organização da

beneficência e uma reforma do sistema sanitário, de asilo. Seguindo as suas ideias

foi organizada a atuação contra a pobreza na cidade de Bruxas.

[editar]Interpretação histórica do mercantilismo

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Em efeito, não se pode falar de uma escola mercantilista, pois, para poder falar de

uma escola deve existir uma série de características como a presença de um

mestre que crie um pensamento que seja seguido pelos membros da escola, além

de homogeneidade no pensamento. Assim, por exemplo, podemos falar da Escola

Clássica com Adam Smith como epicentro do pensamento, ou seja, como mestre, e

a afinidade entre os diferentes autores da mesma. No caso do pensamento

chamado mercantilista não encontramos nenhum dos atributos necessários para

identificá-lo com uma escola de pensamento.

O mercantilismo teve diversas interpretações ao longo do tempo. Desde Adam

Smith até o presente sucedem-se explicações do que foram e significaram todos


estes autores chamados mercantilistas. John Maynard Keynes, Gustav

Schmoller, William Cunningham e o já mencionado Adam Smith, entre muitos

outros, achegaram a sua perspectiva do mercantilismo. É sinalado

particularmente Eli Heckscher que, influenciado pelos três últimos autores

mencionados, reúne as interpretações destes para logo acrescentar a sua. Fala do

mercantilismo do ponto de vista da sua política protecionista e as suas atitudes

monetárias (como já refere Smith), como uma doutrina na construção do Estado

(recolhido de Schmoller), como um sistema de poder (propugnado por

Cunningham) e acrescenta a sua tese a estas quatro: descreve o mercantilismo

como uma concepção social que quebrou com as formas, tanto morais quanto

religiosas, que determinavam o comportamento dos agentes econômicos.

Destaca-se Cantillon entre os autores que acreditam que o mercantilismo é a

antecipação da doutrina clássica. Este autor, entre o pensamento mercantilista e

clássico, aperfeiçoa o conceito de "balança de comércio" em termos de trabalho.

Desta óptica é levado em conta o aumento do emprego como término positivo nas

ganâncias da balança comercial. Assim, pois, Cantillon, advoga por medidas de

estabilidade dos preços e impedir a sua subida (pela acumulação do dinheiro) e, em

consequência, a sobrevivência de um nível alto de emprego

[editar]A época mercantilista

O conceito de mercantilismo define-se a partir dos grandes descobrimentos,

consequência da abertura das rotas comerciais marítimas pelos portugueses entre

o século XV e 1500 (data do descobrimento do Brasil) e a consolidada corrente do

metal precioso (ouro e prata nomeadamente) levado dos territórios novos para

a Europa, em particular depois do estabelecimento dos vice-reinos da Nova

Espanha e do Peru pelos castelhanos.

Intimamente ligado à emergência do Estado-nação moderno e baseado na

existência do binômio "metrópole – colônias", o mercantilismo assumiu formas

nacionais, das quais podem citar-se, em ordem

cronológica: Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda, França, Dinamarca e Suécia d

urante os séculos XVI, XVII e XVIII. Nesta época, o mercantilismo evolui de tal

maneira que gera um estudo apropriado e traduz-se como uma atividade

econômica, em tal grau que se fala de políticas econômicas e normas econômicas.

O mercantilismo começa a ser conhecido com outras denominações, as mesmas

que dão senso ao seu conceito: sistema mercantil, sistema restritivo, sistema

comercial, colbertismo na França e cameralismo na Alemanha.

Derivado da expansão militar europeia e do incipiente desenvolvimento

manufatureiro, como complemento da produção clássica da agricultura, o


mercantilismo incrementou notavelmente o comércio internacional. Os

mercantilistas foram os primeiros em identificar a importância monetária e política

deste.

O mercantilismo desenvolveu-se numa época na que a economia europeia estava

em transição do feudalismo ao capitalismo. As monarquias feudais medievais

estavam sendo substituídas pelas novas nações-estado centralizadas, em forma

de monarquias absolutas ou (em Inglaterra e Holanda)parlamentares. Os câmbios

tecnológicos na navegação e o crescimento dos núcleos urbanos também

contribuíram decisivamente ao rápido acréscimo do comércio internacional. [20] O

mercantilismo focava em como este comércio podia ajudar melhor os Estados.

Outro câmbio importante foi a introdução da contabilidade moderna e as técnicas

de dupla entrada. A nova contabilidade permitia levar um claro seguimento do

comércio, contribuindo para a possibilidade de fiscalizar a balança de comércio. [21] E

evidentemente, também não se pode ignorar o impacto do descobrimento

da América. Os novos mercados e minas descobertas impulsionaram o comércio

exterior a cifras até não concebidas. Isto levou a um grande acréscimo dos preços e

a um acréscimo na própria atividade comercial.[22] Curiosamente, a relação entre a

chegada de metais preciosos americanos e a inflação europeia do século XVI (um

fenômeno a uma escala até então desconhecida) não foi plenamente estabelecido

até as pesquisas de Earl J. Hamilton numa data tão tardia quanto 1934 (O tesouro

americano e a revolução dos preços na Espanha, 1501-1650).

Antes do mercantilismo, os estudos econômicos mais importantes realizados na

Europa foram as teorias da Escolástica medieval. O objetivo destes pensadores era

encontrar um sistema econômico que fosse compatível com

as doutrinas cristãs com respeito à piedade e a justiça. Eram centrados

nomeadamente nas questões microeconômicas e nas trocas locais entre

indivíduos. O mercantilismo, por sua vez, estava alinhado com as outras teorias e

ideias que estavam substituindo o ponto de vista medieval.

Nesta época foram adotadas também as teorias da Realpolitik impulsionadas

por Nicolau Maquiavel e a primazia do interesse nacional nas relações

internacionais. A ideia mercantilista de o comércio ser uma soma zero na qual cada

parte fazia o possível para ganhar numa dura concorrência, integrava-se dentro das

teorias filosóficas de Thomas Hobbes. Os jogos de soma zero, como o dilema do

prisioneiro, podem ser consistentes com um ponto de vista mercantilista. No

mencionado dilema, os jogadores são premiados por atraiçoar os seus

companheiros, embora todos ficassem melhor se todos cooperassem.


Esse ponto de vista pessimista sobre a natureza humana também se encaixa

na visão de mundo puritana, que inspirou parte da legislação mercantilista mais

dura, como as Atos de Navegação (Navigation Acts) introduzidos pelo governo

de Oliver Cromwell.[23]

[editar]As ideias mercantilistas

O pensamento mercantilista pode ser sintetizado através das nove regras de Von

Hornick:[24]

1. Que cada polegada do chão de um país seja utilizada para a

agricultura, a mineração ou as manufaturas.

2. Que todas as primeiras matérias que se encontrem num país sejam

utilizadas nas manufaturas nacionais, porque os bens acabados têm

um valor maior que as matérias-primas

3. Que seja fomentada uma população grande e trabalhadora.

4. Que sejam proibidas todas as exportações de ouro e prata e que todo o

dinheiro nacional seja mantido em circulação.

5. Que seja obstaculizado tanto quanto for possível todas as importações

de bens estrangeiros

6. Que onde sejam indispensáveis determinadas importações devam ser

obtidas de primeira mão, em troca de outros bens nacionais, e não de

ouro e prata.

7. Que na medida em que for possível, as importações sejam limitadas às

primeiras matérias que possam acabar-se no país.

8. Que sejam procuradas constantemente as oportunidades para vender

o excedente de manufaturas de um país aos estrangeiros, na medida

necessária, em troca de ouro e prata.

9. Que não seja permitida nenhuma importação se os bens que se

importam existissem suficiente e adequadamente no país.

Contudo, a política econômica interna que defende o mercantilismo estava ainda

mais fragmentada do que a internacional. Enquanto Adam Smith apresentava um

mercantilismo que apoiava o controlo estrito da economia, muitos mercantilistas

não se identificavam com tais ideias. Durante os começos da era moderna estava

na ordem do dia o uso das patentes reais e a imposição governamental

de monopólios. Alguns mercantilistas apoiavam-nos, enquanto outros viam a

corrupção e ineficiência desses sistemas.

Um dos elementos nos quais os mercantilistas estavam de acordo era a opressão

econômica dos trabalhadores. Os assalariados e os granjeiros deviam viver nas


"margens de subsistência". O objetivo era maximizar a produção, sem nenhum tipo

de atenção sobre o consumo. O fato de as classes mais baixas terem mais

dinheiro, tempo de lazer, ou educação era visto como um problema que

degeneraria em poucas ganhas de trabalhar, danando a economia do país. [25]

Por outro lado, os estudiosos não se põem de acordo no motivo pelo qual o

mercantilismo foi a ideologia ou teoria econômica dominante durante dois séculos e

meio.[26] Um grupo, representado por Jacob Viner, argumenta que o mercantilismo

foi simplesmente um sistema muito direto e que contava com senso comum.

Contudo, sustentava-se sobre uma série de falácias lógicas que não podiam ser

descobertas pelas pessoas da época, dado que não tinham as ferramentas

analíticas necessárias. Outra escola, apoiada por economistas como Robert B.

Ekelund, entende que o mercantilismo não era um erro, mas o melhor sistema

possível para aqueles que o desenvolveram. Esta escola argumenta que as

políticas mercantilistas foram desenvolvidas e postas em prática por comerciantes e

governos, cujo objetivo era incrementar ao máximo os benefícios empresariais. Os

empresários beneficiavam-se enormemente, e sem que isso lhes supusesse um

esforço, pela imposição de monopólios, as proibições às importações e a pobreza

dos trabalhadores. Os governos, pela sua vez, beneficiavam-se do cobro das tarifas

alfandegárias e os pagamentos dos mercadores. Se bem que as ideias econômicas

mais tardias foram desenvolvidas com freqüência por acadêmicos e filósofos, quase

todos os escritores mercantilistas eram comerciantes ou pessoas com cargos no

governo.[27]

[editar]O mercantilismo como processo econômico

Dentro da doutrina econômica mercantilista emergiram, de maneira natural, três

questões fundamentais que gerava esta lucrativa atividade comercial:

 O monopólio da exportação.

 O problema dos câmbios e a sua derivação.

 O problema da balança comercial.

Na obra The Circle of Commerce (O círculo do comércio, 1623), Edward

Misselden desenvolveu um conceito de balança comercial expressado em termos

de débitos e créditos, apresentando o cálculo da balança comercial para

a Inglaterra do dia de Natal de 1621 até o de 1622.

A ideia mercantilista de "balança de comércio multilateral" corresponde à atual

noção de "balança de pagamentos" e é composta de cinco contas:

Balança de comércio multilateral


1. Conta corrente (=balança comercial)

1. Mercadorias (A)

2. Invisíveis (fretes, seguros, etc.) (A)

2. Contas de capital

1. A curto prazo (C)

2. A longo prazo (A)

3. Transferências unilaterais (doações, ajuda militar, etc.) (A)

4. Ouro (C)

5. Erros e Omissões

[editar]Políticas mercantilistas

As ideias mercantilistas foram a ideologia econômica dominante em toda Europa a

princípio da Idade Moderna. Contudo, como conjunto de ideias não sistematizadas,

a sua aplicação concretiza diferiu na prática de cada país.

[editar]Na França

Ministro francês de finanças e mercantilista, Jean-Baptiste Colbert.

Na França, o mercantilismo nasce a princípios do Século XVI, pouco tempo depois

do reforço da monarquia. Em 1539, um real decreto proíbe a importação de

mercadorias têxteis de lã provenientes da Espanha e de uma parte de Flandres. O

ano seguinte são impostas restrições à exportação de ouro.[28] Multiplicam-se as

medidas protecionistas ao longo do século. Jean-Baptiste Colbert, ministro de

finanças durante 22 anos, foi o principal impulsionador das ideias mercantilistas na

França, o que fez com que alguns falaram de colbertismo para designar o

mercantilismo francês. Com Colbert, o governo francês implicou-se muito na


economia para acrescentar as exportações. Colbert eliminou os obstáculos ao

comércio ao reduzir as taxas alfandegárias interiores e ao construir uma importante

rede de estradas e canais. As políticas desenvolvidas por Colbert em conjunto

resultaram eficazes, e permitiram que a indústria e a economia francesas

crescessem consideravelmente durante esse período, tornando a França numa das

maiores potências europeias. Não teve tanto sucesso à hora de tornar França numa

grande potência comercial equiparável à Inglaterra e a Holanda. [29]

Também é característico do colbertismo empreender uma decidida política de

criação de Manufaturas Reais que fabricavam produtos estratégicos ou de luxo

(os Gobelinos, para tapetes e cristais), em ambos os casos consumíveis em

primeiro lugar pela demanda da própria monarquia, ao tempo que produziam a

emulação do seu consumo tanto dentro como fora do reino. Tal emulação também

se viu na criação de manufaturas similares em outros países europeus, entre os

que destacaram as Reales Fábricas espanholas de produtos de luxo,[30] de armas,

[31]
 e de artigos de grande consumo monopolizadas pelo Estado como regalias:

tabaco,[32] aguardente, naipes.

[editar]Na Inglaterra

William Petty.

Na Inglaterra, o mercantilismo atinge o seu apogeu durante o período chamado

do Long Parliament (1640–1660). As políticas mercantilistas também se aplicaram

durante os períodos Tudor e Stuart, especialmente com Robert Walpole como

principal partidário. O controle do governo sobre a economia doméstica era menor

que no restante da Europa, devido à tradição da Common law e o progressivo

poder do parlamento.[33]
Os monopólios controlados pelo Estado estenderam-se, especialmente antes

da guerra civil inglesa, apesar de serem com frequência questionados. Os autores

mercantilistas ingleses estavam divididos com a respeito da necessidade de

controlo da economia interior. O mercantilismo inglês adotou a forma de controle do

comércio internacional. Foi posto em prática um amplo leque de medidas

destinadas a favorecer a exportação e penalizar a importação. Foram instauradas

taxas alfandegárias sobre as importações e subvenções à exportação. Foi proibida

a exportação de algumas matérias-primas. As Navigation Acts (Ato de Navegação)

proibiam aos comerciantes estrangeiros fazer comércio no interior da Inglaterra.

Inglaterra aumentou o número de colônias e, uma vez estavam sob controle, eram

instauradas regras para autorizar a produzir apenas matérias-primas e a comerciar

unicamente com Inglaterra. Isto conduziu a progressivas tensões com os habitantes

dessas colônias e foi uma das principais causas da Guerra de Independência dos

Estados Unidos.

Estas políticas contribuíram em larga medida a tornar a Inglaterra na maior potência

comercial do mundo, e uma potência econômica internacional. No interior, a

transformação de terras não cultivadas em terreno agrícola teve um efeito

duradouro. Os mercantilistas pensavam que para fazer crescer o poderio de uma

nação, todas as terras e recursos deviam ser utilizadas ao máximo, o que levou a

se embarcarem em grandes projetos como a drenagem da região

dos fens ("pântanos" da planície de Bedford).[34]

[editar]Na Espanha

Casa de Contratação, que atualmente cumpre a função de Archivo de Indias, junto à Catedral de Sevilha.

Centro econômico do mundo no século XVI,  Sevilha afundou-se numa profunda crise no seguinte,

enquanto Londres  e Amsterdamentravam no seu apogeu.

A revolução dos preços que afetou a toda Europa desde o século XVI, teve a sua

origem na chegada a Espanha das remessas anuais de metais preciosos que trazia

a frota de Índias, com o que a reflexão sobre as suas causas e possíveis soluções

produziu o primeiro pensamento econômico digno de tal nome. A isso era

acrescentada a tradição de petições econômicas nas Cortes, tanto


as castelhanasquanto as dos reinos da Coroa de Aragão. Castela, desde a Baixa

Idade Média presenciara um confronto entre os interesses vinculados à exportação

da lã (a aristocrática Mesta, e a alta burguesia de mercadores de Burgos,

as feiras e portos ligados com Flandres) e os vinculados à produção interna de

panos (a baixa burguesia e o patriciado urbano das cidades centrais,

como Segóvia e Toledo), que se expressaram nas guerras civis dos Trastâmara e

mesmo na Guerra das Comunidades de Castela. Esse modelo simplificado não

oculta a confluência de múltiplos interesses, tanto pessoais como dinásticos,

institucionais e estamentais, como os das diferentes partes do clero, e mesmo a

presença de minorias como judeus e conversos e a grande maioria social que é o

campesinato.[35] A mesma construção da monarquia autoritária tem muito para ver

com a sua habilidade para arbitrar estes conflitos socioeconômicos e a sua

dimensão política.[36] A mesma organização do monopólio do comércio americano,

através da Casa de Contratação de Sevilha, conjugado com os empréstimos

adiantados por banqueiros alemães (família Fugger) ou genoveses, e os

mecanismos da dívida pública (juros) dão uma amostra do necessário e complicado

que era entender os fenômenos econômicos e agir politicamente sobre eles. Era

vital para o funcionamento do complexo aparato militar, burocrático e de Fazenda

da Monarquia Hispânica (veja-se Instituições espanholas do Antigo Regime), no

que os impostos (uns do rei, outros do reino, outros dos municípios), as múltiplas

isenções, e os direitos e regalias do monarca formavam um tecido caótico.

Martín de Azpilicueta.

Os economistas espanhóis dos séculos XVI e XVII [37] eram chamados de arbitristas,

por ser chamado de arbítrio a medida que, pela sua mera vontade, podia o rei

tomar em benefício do reino, e que esses autores solicitavam. Seu papel foi infra-
valorado pela mesma historiografia econômica espanhola nos seus primeiros

estudiosos, como é o caso de Manuel Colmeiro.[38] Já na sua própria época eram

ridicularizados por propor medidas extravagantes, como o fez Quevedo, que em

várias ocasiões descreve bem-intencionados arbitristas ("arcigogolantes") causando

toda classe de catástrofes; um de eles está tão concentrado em escrever as suas

teorias que não se dá conta de que se tirou a sim mesmo um olho com a caneta. [39]

Zenón de Somodevilla, marquês da Ensenada.

Durante a crise econômica da Espanha no Século XVII (de fato foi a principal

afetada pela geral crise do século XVII) puseram-se em prática muitas políticas

econômicas com certa incoerência, incluindo alterações monetárias e fiscais que

mais que remediar, contribuíram para o seu aprofundamento. O Estado ruinoso de

finais desse século, durante o reinado de Carlos II, porém presenciou uma

reativação da economia nas zonas periféricas (exceto Andaluzia). Após a Guerra de

Sucessão Espanhola (1700-1714), implicou um indubitável sucesso econômico a

adoção, pelos governos de Filipe V, de uma série de medidas mercantilistas de

inspiração colbertista importadas da França (ministros Jean Orry eMichael-Jean

Amelot).

No século XVIII, a herança do arbitrismo mudou para o

chamado projectismo ilustrado com maior elevação intelectual. No reinado

de Fernando VI as medidas associadas ao Cadastro de Ensenada, muito

ambiciosas, não foram aplicadas com decisão. O mesmo ocorreu com as

do Marquês de Esquilache com Carlos III (decreto de abolição da taxa do trigo e

livre comércio de grão, 1765), que foi apartado após o motim que leva o seu

nome(1766). O final do século XVIII é o da ascensão de políticos com ideias

econômicas mais próximas à fisiocracia e o liberalismo

econômico (Campomanes e Jovellanos), destacando-se o projeto de lei agrária e a


liberalização do comércio americano; que também não conseguiram um

desenvolvimento eficaz, já na crise do Antigo Regime.

[editar]Em Portugal

Ver artigo principal: Mercantilismo português

[editar]Outros países

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fontes: Google — notícias, livros, acadêmico — Scirus

As demais nações também adotaram as teses mercantilistas em diferente

grau. Os Países Baixos, que se tornaram no centro financeiro da Europa

graças à sua muito desenvolvida atividade comercial, estavam pouco

interessados em restringir o comércio e somente na última hora adotaram

algumas políticas mercantilistas.

O mercantilismo desenvolveu-se em Europa Central e

em Escandinávia após a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648),

quando Cristina da Suécia e Cristiano IV da Dinamarca passaram a

preconizá-lo. Os imperadores Habsburgo interessaram pelas ideias

mercantilistas, mas a extensão e a relativa descentralização deste Império

fazia difícil a adoção de tais medidas. Alguns Estados do Império adotaram

as teses mercantilistas, especialmente a Prússia, que teve sob o mandato

de Frederico II a economia mais rígida da Europa. Com esta base doutrinal,

a Alemanha ia gestar uma escola chamada dos "cameralistas" que teria

influência até o Século XIX.

Rússia sob Pedro o Grande tratou de pôr em prática o mercantilismo sem

muito sucesso devido à ausência de uma classe significativa de

comerciantes ou de uma base industrial.

A batalha de Scheveningen, 10 de Agosto de1653 por Jan Abrahamsz Beerstraaten, por volta

de 1654, representa a batalha final da Primeira Guerra Anglo-Holandesa.

As ideias mercantilistas também alimentaram os períodos de conflito

armado nos séculos XVII e XVIII. Ao ser a ideia dominante que o stock de


riqueza é algo fez, o único jeito de aumentar a riqueza de um país era em

detrimento de outro. Muitas guerras, entre as quais é preciso contar as

guerras anglo-holandesas, franco-holandesa, e franco-inglesa foram

ocasionadas pelas doutrinas que preconizavam o nacionalismo econômico.

O mercantilismo contribuiu também para o desenvolvimento

do imperialismo, pois todas as nações tratavam de apoderar-se de

territórios para ficar com matérias-primas. Ao longo deste período o poder

das nações europeias estendeu-se por todo o planeta. À custa da economia

interior, esta expansão criou monopólios, quer as britânicas Companhia das

Índias quer a Companhia da Baía de Hudson, quer a francesa Companhia

das Índias Orientais.

Estas companhias privilegiadas tinham precedentes desde o século XIV nas

cidades italianas de Pisa, Gênova, Florença e Veneza; a Hansa é omitida

por responder a outra categoria funcional. Em Inglaterra surgirão algumas a

partir de guildasmedievais preexistentes, como as diferentes Company of

Merchant Adventurers (séculos XV e XVI). Foi na Holanda independente

da Monarquia Católica que apareceram as primeiras dignas do nome de

companhias privilegiadas: a VOC (1602) e aWIC (1621). Outras nações

tiveram companhias privilegiadas, notavelmente as nórdicas (Dinamarca,

Suécia…). Na Espanha, apesar de contar com precedentes medievais,

como os Consulados do Mar aragoneses ou as instituições similares

castelhanas, a figura é de incorporação mais tardia: no século XVIII o

monopólio do porto de Cádiz (sucessor do de Sevilha), já muito castigado

pelas consequências comerciais do Tratado de Utrecht, foi admitindo a

presença de alguma companhia similar, como a Compañía Guipuzcoana de

Caracas (1728).

[editar]Críticas

Um bom número de estudiosos assinalou já alguns erros importantes nas

teorias mercantilistas bem antes que Adam Smith desenvolvesse uma

ideologia que o pudesse substituir completamente. Houve críticos

como Dudley North, John Locke ouDavid Hume que atacaram os

fundamentos do mercantilismo, e ao longo do século XVIII foi perdendo o

favor que tivera. Os mercantilistas eram incapazes de entender noções

como a da vantagem competitiva (embora esta ideia apenas chegasse a ser

entendida com David Ricardo em 1817) e os benefícios do comércio. Por

exemplo, Portugal era um produtor muito mais eficiente de vinho do que

Inglaterra, enquanto na Inglaterra era relativamente mais barata a produção


têxtil. Pelo tanto, se Portugal se especializava em vinho e a Inglaterra em

têxteis, ambos os Estados sairiam beneficiados se comerciavam. Nas

teorias econômicas modernas, o comércio não se entende como uma soma

zero entre competidores, pois que ambas as partes podem ser

beneficiadas, pelo qual se trata mais de um jogo de soma positiva. Mediante

a imposição das restrições à importação, ambas as nações terminam sendo

mais pobres que se não existissem travas ao comércio.

Grande parte de "A Riqueza das Nações" de Adam Smith é um ataque ao mercantilismo.

David Hume, pela sua vez, apontou a impossibilidade do grande objetivo

mercantilista de conseguir uma balança comercial positiva constante. À

medida que os metais preciosos entravam num país, a oferta incrementar-

se-ia e o valor desses bens nesse Estado começaria a reduzir-se com

referência a outros bens de consumo. Pelo contrário, no Estado que

exportasse os metais preciosos, o valor começaria a crescer. Chegaria um

momento no que não compensasse exportar bens do país com altos preços

ao outro país, que agora teria níveis de preços menores, e a balança

comercial terminaria revertendo por si mesma. Os mercantilistas não

entenderam este problema, e argumentaram durante muito tempo que um

acréscimo na quantidade de dinheiro simplesmente significava que todo o

mundo era mais rico.[40]

Outro dos objetivos principais à hora de criticar as teorias do mercantilismo

foi a importância que dada aos metais preciosos, mesmo quando alguns

mercantilistas começaram a tirar a importância do ouro e a prata. Adam


Smith apontou que os metais preciosos eram exatamente iguais que

qualquer outro bem de consumo, e que não havia razão alguma para lhe

dar um tratamento especial. O ouro não era mais do que um metal de cor

amarela que era valioso simplesmente por não ser abundante.

A primeira escola que recusou completamente o mercantilismo foi a

da Fisiocracia, na França. Contudo, as suas teorias também apresentavam

uma série de importantes problemas, e a substituição do mercantilismo não

se produziu até que Adam Smith publicou a sua famosa obra "Uma

investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"

em 1776. Este livro amostra as bases do que atualmente se conhece como

a economia clássica. Smith dedica uma parte considerável do livro a rebater

os argumentos dos mercantilistas, se bem que estes são com freqüência

versões simplistas ou exageradas dos seus pensamentos. [27]

Os acadêmicos também estão divididos à hora de estabelecer uma causa

para o final do mercantilismo. Aqueles que crêem que a teoria era

simplesmente um erro deduzem que a sua substituição era inevitável desde

o momento em que as ideias de Smith, muito mais exatas, foram expostas

ao público. Aqueles que opinam que o mercantilismo era uma procura de

formas de enriquecimento para uma parte da sociedade entendem que

somente terminou quando se produziram importantes câmbios na

sociedade, e nomeadamente no sistema de poderes. No Reino Unido o

mercantilismo foi desaparecendo a partir de que o Parlamento açambarcou

o poder que o monarca tinha para estabelecer monopólios. Se bem que os

ricos capitalistas que controlavam a Casa dos Comuns se beneficiavam

desses monopólios, o Parlamento via difícil levá-los a cabo por causa do

grande custo que supunha tomar essas decisões coletivas. [41]

Os regulamentos mercantilistas foram eliminados pouco a pouco ao longo

do século XVIII no Reino Unido, e durante o século XIX o governo britânico

adotou abertamente o livre comércio e as teorias econômicas de Smith

do laissez faire. No continente o processo foi algo diferente. Na França as

prerrogativas econômicas da monarquia absoluta foram mantidas até

a Revolução Francesa, sendo então que terminou o mercantilismo.

Na Alemanha o mercantilismo continuou sendo uma importante ideologia

até começos do século XX.[42]

[editar]Legado

[editar]Ideias mercantilistas sobreviventes


Alexander Hamilton preside os bilhetes de 10 dólares USA.

Pode afirmar-se que as críticas de Adam Smith ao mercantilismo foram

aceitas no Império Britânico, mas recusadas nos Estados Unidos por figuras

tão importantes quanto Alexander Hamilton, Friedrich List, Henry

Clay, Henry C. Carey e Abraham Lincoln. No século XX, a maioria de

economistas de ambos os lados do Atlântico chegaram a aceitar que em

algumas áreas as teorias mercantilistas eram corretas. O mais importante

foi o economista John Maynard Keynes, que explicitamente apoiou algumas

das suas teorias.

Adam Smith recusara a ênfase que até então os mercantilistas puseram na

quantidade de dinheiro argumentando que os bens, a população e as

instituições eram as causas reais de prosperidade. Keynes argumentou que

a quantidade de dinheiro em circulação, a balança comercial e os tipos de

interesse tinham uma grande importância na economia. Este ponto de vista

foi logo a base do monetarismo, cujos defensores atualmente recusam

muitas das teorias econômicas keynesianas, mas que se desenvolveu e é

atualmente uma das escolas econômicas mais importantes. Keynes

também fez notar que o enfoque nos metais preciosos também era razoável

na época na que se deu (começos da era moderna). Numa época anterior

aopapel moeda, um acréscimo dos metais preciosos e das reservas do

Estado era a única forma de incrementar a quantidade de dinheiro em

circulação.

Adam Smith, por outro lado, também recusou a ênfase do mercantilismo

para a produção, argumentando que a única forma de fazer crescer à

economia era através do consumo (que, pela sua vez, impulsionava a


produção de bens). Keynes, porém, defendeu que a produção era tão

importante quanto o consumo.

John Maynard Keynes.

Keynes e outros economistas do período também retomaram a importância

que tinha a balança de pagamentos, e visto que desde a década dos anos

1930 todas as nações controlaram as entradas e saídas de capital, a

maioria dos economistas está de acordo em que uma balança de

pagamentos positiva é melhor que uma negativa para a economia de um

país. Keynes também retomou a ideia de que o intervencionismo

governamental é uma necessidade econômica.

Contudo, se bem que as teorias econômicas de Keynes tiveram um grande

impacto, não tiveram tanto sucesso os seus esforços de reabilitar a

palavra mercantilismo, que atualmente segue a ter conotações negativas e

é usado para atacar uma série de políticas protecionistas. [43] Por outro lado,

as similaridades entre o keynesianismo e as ideias dos seus sucessores

com o mercantilismo às vezes fizeram que os seus detratores as

categorizassem como neomercantilismo.

Por outro lado, alguns sistemas econômicos modernos copiam algumas das

políticas mercantilistas. Por exemplo, o sistema do Japão ocasionalmente

também é qualificado de neo-mercantilista. [44]

Uma área do uso da informação, Smith foi rebatido antes mesmo do que

Keynes. Os mercantilistas, que eram geralmente mercadores ou

funcionários públicos do governo, tinham em suas mãos uma grande

quantidade de dados de primeira mão sobre o comércio, e usavam-nos

consideravelmente nas suas pesquisas e escritos. William Petty, um

mercantilista importante, é com freqüência considerado o primeiro

economista em usar uma análise empírica para estudar a economia. Smith


recusava este sistema por entender que o método dedutivo era o método

correto para descobrir as verdades econômicas. Atualmente, porém, a

maioria das escolas econômicas aceitam que ambos os métodos são

importantes (se bem que a escola austríaca supõe uma notável exceção).

Friedrich List.

Em instâncias específicas, as políticas mercantilistas protecionistas também

tiveram um impacto positivo no Estado que as pôs em prática. O mesmo

Adam Smith (sem importar a contradição em que incorria ao patrocinar

olivre comércio para as demais e não para a sua própria nação) elogiou

as Atas de Navegação inglesas por terem servido para expandir

enormemente a frota mercante britânica, e por ter um papel central em

tornar o Reino Unido na superpotência naval e econômica que foi desde

então.[45] Alguns economistas argumentaram que o protecionismo era bom

para indústrias em desenvolvimento, e que se bem que causa alguns danos

a curto prazo, pode ser benéfico a longo (teoria das "indústrias infantis" do

alemão Friedrich List).

Em qualquer caso, A Riqueza das Nações teve um profundo impacto no

final do mercantilismo e a adoção posterior da política de livre mercado.

Para 1860, a Inglaterra já eliminara os últimos vestígios do mercantilismo

(por exemplo, as protecionistas leis do grão ou corn laws). As

regulamentações industriais, os monopólios e as tarifas alfandegárias foram

retiradas. Convertida em "a oficina do mundo", com uma indústria e uma

frota mercante com a que ninguém podia competir, Inglaterra converteu-se

na grande defensora e propagandista da política de livre mercado, justo no

momento em que mais a beneficiava, e o continuou a ser até a Primeira

Guerra Mundial, quando a segunda revolução industrial trouxe

competidores sérios.
[editar]Herança política

A posteridade do mercantilismo foi sem dúvida maior na prática política que

na teoria econômica. Se o pensamento econômico do Século XIX é

dominado pelas escolas clássica e neoclássica, mais bem favoráveis

ao livre-comércio, a prática política esteve influenciada durante muito tempo

por ideias mercantilistas. Como faz ver o historiador Paul Bairoch, apesar

de "os homens deixarem de razoar em termos de nível de desenvolvimento

a conseguir em maior ou menor tempo passando a fazê-lo em termos de

apropriação de uma parte maior de riqueza", em 1815 e em 1913, o mundo

ocidental é "um oceano de protecionismo rodeando alguns ilhotes liberais".

[46]

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, assiste-se a uma liberalização

contínua do comércio mundial sob o impulso das grandes instituições de

livre-comércio como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco

Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI). Contudo alguns

economistas como Paul Krugman opinam que estas instituições estão

guiadas por um "mercantilismo ilustrado", que não tenta favorecer os

princípios do livre-comércio, senão favorecer as concessões comerciais

mutuamente vantajosas.[47] Outros economistas radicais e pensadores

chegam a afirmar que essas organizações, com a escusa do livre-comércio,

impõem a forma de comércio internacional que desejam as grandes

potências econômicas que os controlam. [48]

Manifestação para a manutenção doprotecionismo à agricultura no Japão. Os

protestosantiglobalização incluem habitualmente a defesa de posições similares ao mercantilismo.

Segundo Daniel Cohen, os recentes insucessos das negociações no seio

da OMC resultam reveladores desse "mercantilismo ilustrado". Se as

negociações das anteriores etapas chegaram a ter sucesso, foi graças a

comprometimentos, a concessões recíprocas e eqüitativas. Os países ricos


aceitavam, por exemplo, liberalizar o setor têxtil em troca de vantagens em

matéria de serviços financeiros concedidos pelos países emergentes. Por

outro lado, após a cimeira de Cancún em2003, as negociações entre países

ricos e pobres mudaram de natureza. Os debates focalizam-se no tema

agrícola no que as oportunidades de um intercâmbio mutuamente benéfico

apareceram impossíveis. Longe de ser um "jogo de soma positiva", o

comércio internacional aparece como um "jogo de soma zero", o desafio da

cimeira passou a ser: "nossos agricultores ou os vossos", como se as

ganâncias de uma nação significassem perdas para outra. [49]

O término neo-mercantilismo serve para designar, quase sempre de jeito

pejorativo, as políticas contemporâneas que lembram as dos mercantilistas

do Século XVIII. Consistem quase sempre em medidas protecionistas ou

em políticas comerciais agressivas nas quais o Estado se implica para

fomentar a competitividade das empresas nacionais.

No contexto da globalização, o neo-mercantilismo baseia-se no conceito de

"competência mundial", vindo a ser uma "guerra econômica" entre os

países. Diz-se que a proteção às empresas nacionais e o apóio à sua

competitividade nos mercados mundiais é proveitosa para a economia

nacional. Assim algumas grandes potências são acusadas de neo-

mercantilistas quando apóiam à sua indústria nacional por meio de

subvenções ou de encargos estatais, ao mesmo tempo em que impõem

quantidades, taxas ou normas à importação, para proteger o seu mercado

interior. O conflito Boeing-Airbus, unido às subvenções atribuídas a cada

uma das suas empresas por parte dos governos norte-americano (em forma

de encargos) e europeus, pode ser visto como exemplo de neo-

mercantilismo.

O conceito de "guerra comercial" alimenta as campanhas políticas das

grandes potências econômicas: é preciso "fazer Europa para chegar ao

peso" dizia um cartaz do Partido Socialista Francês que apresentava a

Europa frente de um lutador desumo japonês e um obeso norte-americano

durante a campanha eleitoral para o referendum sobre o Tratado de

Maastricht em 1992. Segundo alguns, essas políticas servem de contrapeso

para os efeitos supostamente negativos da globalização econômica sobre a

justiça social, enquanto os economistas do livre-comércio opinam que

favorecem interesses particulares de algumas indústrias e prejudicando ao

interesse geral. Contudo, o conceito de preferência comunitária não é uma

realidade jurídica, nem sequeira econômica. Se foi sancionado pelo Tribunal


de Justiça da União Europeia a 13 de Março de 1968 em matéria de política

agrária comum (em função de um direito de alfândega sobre os produtos

procedentes de países terceiros), pronto topou-se com os objetivos

do GATT. Atualmente é mantida uma tarifa exterior comum, que provoca

com freqüência duras discussões entre os países membros da União

Europeia e a Organização Mundial do Comércio.

Notas e referências

1. ↑ HUNT, E. K. História do pensamento econômico; tradução de José Ricardo

Brandão Azevedo. 7a. edição - Rio de Janeiro : Campus, 1989, p. 44 (ISBN 85-

7001-421-X).

2. ↑ Como exemplo: os habitantes do atual Haiti (a colônia) forneciam de açúcar,

café e algodão apenas para a França (a metrópole) e compravam somente dos

franceses os tecidos e outros manufaturados que necessitassem.

3. ↑ Antoine de Montchrétien é conselheiro do príncipe, Jean Bodin e Charles de

Montesquieu são magistrados, Jean-Baptiste Colbert e Jacques Necker ministros

de finanças, Thomas Mun e Josiah Child dirigentes da Companhia Inglesa das

Índias Orientais, William Petty um homem de negócios, John Law e Richard

Cantillon financeiros. (Etner 2005, p.3012)

4. ↑ Fundamentos teóricos e metodológicos do estudo da história econômica, por

Tamás Szmrecsányi. História econômica & história de empresas XI. 2 (2008), 31-

43.

5. ↑ * Lind, Michael: "Durante o século XIX a escola predominante de economia

política americana foi o sistema americano de desenvolvimento de nacionalismo

econômico(…) O padroeiro da escola era Alexander Majorie, cujo Informe sobre

Manufaturas (1791) tinha feito um chamamento para o ativismo do governo

federal para patrocinar um desenvolvimento das infra-estruturas e uma

industrialização protegida por tarifas alfandegárias que afastassem os produtos

manufaturados britânicos (…) A escola americana, criada no século XIX por

economistas como Henry Carey (assessor do presidente Lincoln), inspiravam o

"sistema americano" de Henry Clay e as políticas protecionistas de substituição

de importações até bem entrado o século XX."(de "Hamilton's Republic" Part III

"The American School of National Economy" pg. 229-230 Ed. Free Press, Simon

& Schuster (USA), 1997 - ISBN 0-684-83160-0)

 Richardson, Heather Cox: "Por volta de 1865 os republicanos

desenvolveram uma série de altas tarifas alfandegárias que refletiam as

teorias econômicas de Carey e Wayland e estavam desenhadas para

fortalecer e beneficiar todas as partes da economia americana,


incrementando o nível de vida de todos. Como concluiu um republicano

(…) O Congresso deve adaptar a sua legislação para ajudar todos os

ramos da indústria, fazer que as pessoas prosperem, e permitir-lhes

pagar os impostos (…) para as despesas ordinárias de governo" (cfr. "The

Greatest Nation of the Earth" Capítulo 4 : "Directing the Legislation of the

Country to the Improvement of the Country: Tariff and Tax Legislation" pg.

136-137 published 1997 by the President and Fellows of Harvard College

in the USA - ISBN 0-674-36213-6)

 Boritt, Gabor S: "Lincoln, portanto, teve o prazer de tornar em lei grande

parte do programa que levara a cabo durante a melhor parte da sua vida

política. E isto, como o historiador Leornard P. Curry há escrito, implicou

uma "pegada/rasto para a América moderna" e "O homem que Lincoln

escolheu para a posição de Secretário do Tesouro, Salmon P. Chase, foi

um ex-democrata, mas da variedade moderada de economistas, um a

quem Joseph Dorfman pôde mesmo descrever como 'um bom

Hamiltoniano, e um progressista ocidental do selo de Lincoln em tudo,

desde um selo até ao banco nacional.'" (de "Lincoln and the Economics of

the American Dream" Capítulo 14: "The Whig in the White House" pp.

196-197 publicado em 1994 por Memphis State University Press - ISBN

0-87870-043-9; ISBN 0-252-06445-3)

6. ↑ Jürg Niehans. A History of Economic Theory pg. 6

7. ↑ Harry Landreth and David C. Colander History of Economic Thought. pg. 44

8. ↑ Eli F. Heckscher, Mercantilism, trad. inglesa 1935, vol. I, p. 19

9. ↑ Robert B. Ekelund and Robert D. Tollison. Mercantilism as a Rent-Seeking

Society. pg. 9

10. ↑ Mark Blaug, 4ª edição, p. 11.

11. ↑ Em Os Seis livros da República

12. ↑ Landreth and Colander. pg. 48

13. ↑ David S. Landes The Unbound Prometheus. pg. 31

14. ↑ Ekelund e Hébert, Historia de la Teoría Económica y de su método, p. 43, ed.

MacGrawHill

15. ↑ Riqueza das Nações, Livro IV, capítulo I

16. ↑ Vauban, Projet de Dime royale, 1707, pp. 77-78

17. ↑ Thomas Mun, A Discourse of Trade from England unto the East-Indies, 1621

18. ↑ Robert B. Ekelund e Robert F. Hébert, A History of Economic Theory and

Method p. 46.
19. ↑ É muito conhecida a tese de Max Weber: La ética protestante y el espíritu del

capitalismo, Alianza Editorial, Madrid, 2001.

20. ↑ Landreth and Colander. pg. 43

21. ↑ Charles Wilson. Mercantilism. pg. 10

22. ↑ John Kenneth Galbraith. "A Critical History." pg. 33-34

23. ↑ Landreth and Colander. pg. 53

24. ↑ Ideias citadas por Ekelund e Hebert, op. Cit. Pág. 44

25. ↑ Robert B. Ekelund and Robert F. Hébert. A History of Economic Theory and

Method. pg. 46

26. ↑ Ekelund and Hébert. pg. 61

27. ↑ a b Niehans. pg. 19

28. ↑ Hermann Kellenbenz, The Rise of the European Economy, p. 29

29. ↑ E.N. Williams, The Ancien Regime in Europe, p. 177-83.

30. ↑ Porcelana del Buen Retiro, Cristal de la Granja, Real Fábrica de Tapices

31. ↑ Real Fábrica de Artillería de A Cavada

32. ↑ A Real Fábrica de Tabacos de Sevilha e a de Madrid

33. ↑ E. Damsgaard Hansen. European Economic History. p. 65

34. ↑ Wilson p. 15.

35. ↑ Madrazo Madrazo, Santos (1969) Las dos Españas. Burguesía y nobleza, los

orígenes del precapitalismo español Editorial ZYX.

36. ↑ Anderson, Perry (1979) El estado absolutista, Madrid, Siglo XXI.

37. ↑ Tomás de Mercado, Sancho de Moncada e Martín de Azpilicueta, teólogos

vinculados à Escola de Salamanca; Luis Ortiz, contador de fazenda, Martín

González de Cellorigo, advogado na Chancelaria de Valladolid, Pedro Fernández

de Navarrete, militar e governador de Guipúzcoa, Luis Val de la Cerda, que

propõe em 1600 a criação dos Montes de Piedad com o apoio das Cortes…

38. ↑ Colmeiro, Manuel: (1883) História de la Economía Política en España;

(1880) Biblioteca de los economistas españoles de los siglos XVI, XVII y XVIII.

39. ↑ Chopis-Fontes, Roger (1991) O personagem do arbitrista segundo Cervantes e

Quevedo Cincinnati Romance Review 10, pp. 111-122. Consultável em internet

há um estudo de Mercedes Blanco Del infierno al Parnaso. Escepticismo y sátira

política en Quevedo y Trajano Boccalini [1]

40. ↑ Ekelund and Hébert. pg. 43

41. ↑ Ekelund and Tollison

42. ↑ Wilson pg. 6

43. ↑ Wilson pg. 3


44. ↑ Robert S. Walters and David H. Blake. The Politics of Global Economic

Relations.

45. ↑ Hansen pg. 64

46. ↑ Paul Bairoch, Mythes et paradoxes de l'histoire économique, La Découverte,

1994

47. ↑ P. R. Krugman, "Does the New Trade Theory Require a New Trade Policy ?",

The World Economy, vol 15, n° 4, Julho 1992, pp. 423 – 441, pp. 429 – 431.

48. ↑ Noam Chomsky fala sobre a OMC. Freedom, 1992.

49. ↑ Daniel Cohen, « L'OMC est morte », le Monde, 9 de Outubro 2003

[editar]Fontes

 HUNT, E. K.. História do pensamento econômico; tradução de José Ricardo Brandão

Azevedo. 7a. edição - Rio de Janeiro : Campus, 1989 (ISBN 85-7001-421-X).

 Robert B. EKELUND e Robert D. TOLLISON. Mercantilism as a Rent-Seeking Society:

Economic Regulation in Historical Perspective. Collegen Station: Texas A&M University

Press, 1981. (em  inglês)

 Robert B. EKELUND e Robert F. HÉBERT. A History of Economic Theory and

Method. New York: McGraw-Hill, 1997. (em inglês)

 François ETNER, Mercantilisme, Encyclopédie thématique Universalis, 2005 (em francês)

 Eli F. HECKSCHER Mercantilism. tradução de Mendel Shapiro. London: Allen & Unwin.

1935. (em inglês)"Notes on Mercantilism, the Usury Laws, Stamped Money and the

Theories of Under-Consumption." General Theory of Employment, Interest and

Money. (em inglês)

 Harry LANDRETH e David C. COLANDER. History of Economic Thought. Boston:

Houghton Mifflin, 2002. (em inglês)

 NIEHANS, Jürg. A History of Economic Theory: Classic Contributions, 1720-

1980. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1990. (em inglês)

 Jean-Pierre POITIER, Histoire de la pensée économique [2] (em francês)

 Gianni VAGGI e Peter GROENEWEGEN. A Concise History of Economic Thought: From

Mercantilism to Monetarism. New York: Palgrave Macmillan, 2003. (em inglês)

 Charles WILSON. Mercantilism. London: Historical Association, 1966 (em inglês)

[editar]Outras leituras

 Rothbard, Murray N. Economic Thought Before Adam Smith. An Austrian Perspective on

the History of Economic Thought. Volume I

 Rothbard, Murray N. Classical Economics. An Austrian Perspective on the History of

Economic Thought. Volume II

[editar]Ver também
A Wikipédia possui o

Portal de Economia e negócios

 História do pensamento econômico


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