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AMOSTRAGENS GEORREFERENCIADAS

1. Conceitos Básicos de Amostragem

Durante o atual cenário da agricultura, se faz necessário trabalhar cada dia mais
com a tecnologia. Sendo assim, toda ação que é realizada no dia a dia, seja ela aplicação
de adubos, defensivos, tratos culturais, são realizadas após uma visita na área. Durante
essa visita, são coletadas informações, que tem por objetivo definir qual o melhor
manejo a ser realizado naquela área.

Essas informações podem ser coletadas de diversas formas, exemplo: coleta


visual, visando retratar o máximo possível da lavoura, e se tiver presença de plantas
daninhas ou se perceber a necessidade de aplicação de cobertura, o produtor já entra
aplicando. Outro exemplo, é a coleta por amostras, sendo mais precisa, definindo em
pontos dentro da área, o que deve ser corrigido ou aplicado em um determinado local.

A amostragem realizada na área, tem como principal objetivo, representar um


todo (área), com base em amostras coletadas dentro da área demarcada. Essa
amostragem, representa um talhão, podendo definir onde o ponto/amostra será coletado.

O tipo de coleta a ser realizado vai depender do que está sendo avaliado,
podendo variar desde coleta de solo até coleta de plantas. Coleta de solo, visa avaliar os
parâmetros físicos e químicos, já a coleta de plantas, visa a parte nutricional, além da
presença de doenças.

Para se obter uma ótima qualidade amostral, quanto maior o número de amostras
coletadas maior a confiabilidade e menor a taxa de erro, aumentando a precisão,
tornando mais eficiente os dados obtidos. As amostras georreferenciadas, visa
caracterizar variabilidade espacial do fator investigado, melhorando ainda mais a
interpretação e qualidade dos dados, além de gerar mapas da área com o auxílio de
software.
2. Estratégias de Amostragem

2.1 Amostragem em grade


A amostragem em grade ou por ponto é a mais utilizada. O campo é
dividido em células e dentro de cada uma delas é coletada uma amostra
georreferenciada composta de subamostras. A grade amostral é gerada por meio de um
software dedicado ao dimensionamento do tamanho das células e a posição do ponto
amostral dentro de cada uma.
Para definir o tamanho da grade é necessário definir a densidade amostral
ou a distância de um ponto ao outro. Para que a estimativa entre os pontos seja razoável,
não podem estar muito distantes entre si, e para tal distanciamento é feito uma análise
geoestatística, fazendo com que as amostras não apresentem dependência espacial, ou
seja, são independentes entre si.
Cada atributo da análise (teores de diferentes elementos químicos no solo,
textura do solo, ocorrência de pragas e etc.) pode exigir uma densidade amostral
especifica, de acordo com a sua dependência espacial, e para diferentes avaliações em
uma mesma amostragem é necessário ajustar a densidade seguindo a demanda do
atributo que exige maior quantidade para a correta caracterização da sua variabilidade
espacial.
A análise geoestatística para determinação da densidade amostral pode ser
utilizada somente para o planejamento de grades futuras, ou seja, é preciso realizar uma
primeira amostragem para se aplicar a análise e posteriormente decidir sobre aumentar
ou diminuir a densidade. Para a primeira investigação deve ser feita mais detalhada,
pode ser empregada em apenas uma ou algumas áreas representativas da fazenda e
posteriormente extrapolar esse resultado para a área num todo. Nos anos seguintes,
pode-se diminuir a densidade o quanto for possível para se reduzir os custos da
operação.
A comunidade acadêmica prega o dimensionamento de grades por meio de
analises geoestatística, as quais normalmente estão entre 0,5 ha e, no máximo, 2 ha por
amostra. A escolha de grades com baixa densidade é oriunda do alto custo da
amostragem em áreas extensas, porem apresenta altos riscos de se obter um produto
final equivocado. Em grades pouco densas, é comum reconhecer grandes manchas no
formato de um círculo ao redor do ponto amostral, coloquialmente chamadas de “olho
de boi”, caso típico de interpolação tendenciosa, não apresentando relação entre a
realidade e ao mostrado no mapa.
A escolha de grade amostral regular (quadrada ou retangular) com pontos
equidistantes tem sido usual, pois facilita a navegação durante a coleta das amostras.
Essa estratégia permite verificar a semelhança entre os pontos bastante próximos e entre
pontos distantes (Figura 1). O mesmo efeito pode ser encontrado ao se acrescentarem
pontos adicionais próximos a alguns pontos da grade regular.

Figura 1 - (A) Grade regular; (B) Alocação aleatória de pontos na célula; (C) Adição de pontos
próximos aos pontos originais.

Determinada a grade amostral, a equipe de amostragem deve navegar até os


pontos por meio de um receptor de GNSS, com um erro de 1 m a 5 m. O ponto então
deve ser deslocado para um local adequado a sua nova coordenada, registrada ao
campo. Em cada ponto de grande amostral, é obtida uma amostra composta de
subamostras. Elas devem ser coletadas ao redor do ponto georreferenciado teórico
(Figura 2), dentro de um raio predefinido. O número de subamostras varia de acordo
com o tipo de amostra.
Figura 2 - Grande amostral de pontos e raios de coleta de subamostras.

Na amostragem de solo, existe o risco de a subamostra ser coletada em


pequenas manchas de altas concentrações de elementos, por isso, quanto maior o
número de subamostras diminui ou dilui esse risco. Neste tipo de amostragem, tem sido
usual em torno de dez subamostras por ponto, no caminhamento zigue-zague (Figura 3).

Figura 3 - Amostragem por célula e coleta de subamostras.

2.2 Amostragem direcionada e por unidade de gestão diferenciada


Nesses casos, o objetivo final não é gerar mapas temáticos, mas sim
fornecer informações sobre locais específicos do campo que necessitam de investigação.
As subamostras são coletadas ao redor de um ponto georreferenciado com local
predeterminado, guiado pela variabilidade de outros atributos. As escolhas desses locais
são baseadas em mapas de condutividade elétrica do solo, mapa de produtividade ou
imagem de satélite, mapas de classificação do solo da área.
A delimitação dessa amostragem segue metodologias elaboradas baseadas
em histórico de dados georreferenciados, dividindo a área e classes de potencial
produtivo. Dessa forma, necessitam de apenas uma ou poucas amostras compostas para
a sua representação. A utilização desses métodos de amostragem é recomendada para
áreas que já apresentam um histórico de dados suficientes para o bom conhecimento da
sua variabilidade, ou seja, não é necessário a aplicação de grades amostrais.
Essa estratégia diminuirá os custos com coletas e analises de amostras e será
utilizada para monitorar e manejar a variabilidade remanescente, aquela oriunda de
fatores não antrópicos e imutáveis com que, invariavelmente, o agricultor terá que
conviver durante os anos de produção.

Figura 4 - Amostragem direcionada (A) por mapa de produtividade e (B) por unidade de gestão
diferenciada.
Equipamentos para Amostragem de Solo

A quantidade demandada na AP, especialmente quando se utiliza a


amostragem em grade, é alta se comparada a amostragem aplicada nos métodos
convencionais. Dessa forma, embora os equipamentos convencionais de amostragem
também possam ser empregados na AP (trado e sonda), é necessário aumentar o
rendimento da operação por meio de sistemas mecanizados e automatizados de
amostragem que são mais rápidos e eficientes. Uma diversidade de soluções tem
surgido no mercado, tornando a coleta de solo operacionalmente viável, mesmo para
grades de alta densidade amostral.
O equipamento amostrador é dividido em duas partes: uma fonte de potência
para seu acionamento e o elemento sacador da amostra, que é inserido no solo para a
retirada do material. Como fontes de potência, tem-se principalmente motores de
combustão interna, que são autônomos, e os motores elétricos, hidráulicos e
pneumáticos, que necessitam de fonte externa. Os amostradores acionados por motores
elétricos são mais leves e práticos, porém menos potentes, o que pode dificultar em
solos mais pesados e compactados. A potência é maior para os equipamentos
acionados por motor de combustão interna ou hidráulico, tornando viável a coleta em
solos de difícil penetração.

Como elemento sacador, têm-se os trados de rosca, caneca ou holandês e


caladores ou sondas. A escolha do tipo de sacador depende da sua compatibilidade com
o sistema mecanizado utilizado e também do tipo de solo a ser amostrado. Os mais
comuns em sistemas mecanizados de amostragem são os trados de rosca e caladores. O
primeiro se ajustando em diversas texturas de solo e o segundo para coleta de solos em
maior profundidade.

Os veículos utilizados no transporte de equipamentos e carregamento de


amostras também são variados. É comum a utilização de caminhonetes, tratores,
quadriciclos, com destaque para o quadriciclo, que se popularizou entre as empresas
prestadoras de serviço de amostragem georreferenciada.

As combinações entre fontes de potência, sacadores e veículos são as mais


diversas, apresentando diferentes níveis de sofisticação, de automação e,
consequentemente, de custo. Os sistemas podem ser operados manualmente,
parcialmente automatizados ou totalmente automatizados. Certamente, a escolha do
equipamento de amostragem depende da capacidade de investimento, demanda de
trabalho e rendimento operacional almejado.

Amostragem de Outros Fatores de Produção

Como já apresentamos anteriormente, a amostragem pode ser empregada na


investigação de inúmeros parâmetros de interesse agronômico. Ocorre o mesmo na
amostragem georreferênciada, utilizada na agricultura de precisão.

Pragas e doenças, vem apresentando alta variação no campo, especialmente


aquelas que ocorrem em reboleiras, essa característica dificulta o mapeamento, os tratos
fitossanitários aplicados em taxas variáveis podem oferecer ganhos econômicos e
ambientais significativos, sendo possível evitar aplica-los em locais que não apresentam
esse tipo de problema.

O manejo de pragas e doenças, na lavoura pode ser beneficado com o uso do


Georreferenciamento e mapeamento de sua variabilidade. Vem sendo utilizado esse tipo
de amostragem na aplicação de acaricida em taxa variável para controle de ácaro da
leprose em roboleiras na cultura dos citros e também, na aplicação de inseticida em taxa
variável para controle em reboleiras, na cultura por exemplo da cana de açúcar.

A coleta e levantamento da ocorrência de pragas e doenças, deve seguir os


mesmos métodos convencionais de amostragem desses flagelos. O georreferenciamento
é feito por meio de um receptor GNSS convencional, ou com embutido no próprio
coletor de dados, utilizado pela equipe de amostragem. Uma estratégia de investigação
pode seguir em grade ou direcionada, quando o levantamento for realizado por meio de
inspeção da lavoura o georreferenciamento da informação vai ser feito somente quando
for observada a ocorrência da prega ou doença investigada.

O mapeamento de pragas, tem como principal gargalo a alta mobilidade de


alguns insetos, fazendo com que muitas vezes o mapa gerado pela amostragem não
representa a ocorrência da praga no campo em momento de aplicação. Alguns estudos
do comportamento do inseto são essenciais para a definição da estratégia de
amostragem e assim determinam o sucesso da aplicação em taxa variável.
No contexto da agricultura de precisão, outro fator que tem sido
amplamente estudado é a compactação do solo, o indicador indireto de cone, uma
relação entre a força aplicada para a penetração é a resistência do solo à penetração,
obtida através de sensores penetrômetros, os quais medem o índice de cone. A
amostragem em grade é uma alternativa para o mapeamento desse parâmetro, mas tem
apresentado algmas dificuldades. Sendo necessário realizar leituras em uma grande
quantidade de subamostras em razão da dificuldade de se representar o ponto amostral.

Além disso, a alta variação desse parâmetro em curtas distâncias, demanda


uma densidade amostral alta, podendo assim inviabilizar a operação. Mesmo
apresentando restrições, a amostragem permanece uma ferramenta importante para a
avaliação desse fator em aplicações de AP.

A amostragem georreferenciada, especialmente em âmbito acadêmico tem


sido empregada no mapeamento da produtividade para culturas em que não há colheita
mecanizada nem monitores de produtividade, como na avaliação de parâmetros de
qualidade do produto colhido. A amostragem é um tipo de investigação bastante
versátil, porque pode ser empregada para os mais diversos fatores agronômicos
utilizando diferentes estratégias no levantamento dos dados.

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