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Lilia M Schwarcz e Heloisa M.

Starling
Carta ao rei d. Manuel,
dando notícias do
descobrimento de Vera
Cruz, hoje brasil, pela
armada de Pedro Alvares
Cabral, manuscrito de Pero
Vaz de Caminha, 1º de maio
de 1500.
▪ Das vicissitudes de um mundo novo, novo.
No diário de sua primeira viagem ao Caribe (1492 a 1493) o explorador
menciona que os nativos das ilhas tinham o costume de comer carne humana,
e assim os chama de “caribes” ou “canibes”. [...] A difusão da prática do
canibalismo nas Américas ajudou a consolidar um novo propósito: o de
escravizar os nativos. (p.21)

O sucesso do discurso de Américo Vespúcio sobre os moradores do Novo


Mundo contribuiu para a representação negativa dos moradores da América
como “homens sem fé, sem ordem, sem noção de propriedade, território e
dinheiro, ignorantes de instituições como a família e o casamento. (p. 22)
Memória das Armadas
que de Portugal partiram à
Índia, ou Livro da Armada
da Índia. (1497 -1640)
'Imagem do Novo Mundo', xilogravura
aquarelada à mão de Johann
Froschauer, c. 1505, publicada em
Mundus Novus, de Américo Vespúcio.
Terra Brasilis: Tabula hec regionis
magni Brasilis, de Lopo Homem,
Pedro Reinel e Jorge Reinel (1519)
Durante dez longos meses, Hans
Staden permaneceu como refém
numa aldeia tupinambá. Lá, dedicou-
se a não ser comido e a compreender
o significado cultural dos rituais
antropofágicos. A ilustração destaca a
bravura dos prisioneiros que tanto
impressionou o viajante. Antes de ser
morto o corajosos guerreiro, digno de
ser devorado insultava seus algozes e
gritava que seria vingado pelos
membros de sua tribo. Esse era o
princípio da antropofagia, que, mais
que um costume alimentar, constituía
uma prática ritual de troca entre iguais
Antecedente a Bula Inter Caetera,
assinada pelo papa Alexandre VI
Portugal inicia a exploração marítima,
uma atividade no limite privada, mas
totalmente financiada pela família real
e supervisionada de perto pelo rei.
Implicava investimentos vultuosos e
representava enorme risco pessoal
que precisava ser bem
recompensado para valer a pena. Em
troca, a monarquia ser reservava o
direito de controlar qualquer
conquista, distribuir terras e ter
monopólio dos ganhos.
1534. Metrópole dividiu o Brasil em 14
capitanias.
Terra de Vera Cruz, da Santa Cruz
(1500)
Terra dos Papagaios
Pau Brasil ou “Ibirapitanga”, nome
dado pelos Tupis.
A madeira e o corante já eram
conhecidos da Europa com nome
como “brecillis”, “bersil”, “brezil”,
“brazily” (p. 32)
1512. Brasil: nome oficial da América
Portuguesa
▪ Paraíso ou inferno: a natureza e os naturais nos relatos seiscentista
Brasil, Terra de Santa Cruz, Terra dos Papagaios, América Portuguesa,
ou qualquer que fosse o nome escolhido, designava uma ambivalência e
uma certeza: esse local nascera desempenhando o papel de um “outro”,
fosse na sua natureza ou nos seus naturais. (p. 33)
Natureza foi considerada edênica – eterna primavera coberta por
animais pacíficos - , já a humanidade gerava desconfiança.
Nas narrativas de viajantes, padres, corsários predominavam as
descrições imaginárias e sobrenaturais. Nessas, o paraíso das primeiras
cartas de Colombo convivia com monstros animais. Até 1550, essas
narrativas proliferaram e motivaram a as discussões sobre a índole dos
gentios: descendentes de Adão e Eva para alguns, bestas-feras para
outros. (p. 34)
▪ Cristóbal Acosta:Tractado de las drogas, y medicinas
de las Indias Orientales. Burgos 1578
▪ Pero de Magalhães Gandavo (1570): Tratado da Terra do Brasil; História da Província
de Santa Cruz (1576); obras que visavam incentivar a imigração. Obras elogiavam o
clima, a abundância e eterna primavera. No que se refere aos “índios da terra”,
apresenta-os como seres de falta:
▪ “A língua deste gentio toda pela costa é uma: carece de três letras- não se acha nela
nem F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei,
nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça, desordenadamente”. (p. 35)
▪ Em História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil e afirma
que os nativos “vivem todos muito descansados e que são inconstantes e mutáveis”,
e não adoram coisa alguma, não respeitam seu rei ou outro gênero de justiça. (p.36
▪ Insiste na preguiça e na lascívia simbolizadas pela rede, sempre presente nas
gravuras. (p. 36)
Hans Staden em uma rede,
prisioneiro dos tupinambás
▪ Seu objetivo era o de desfazer “mentiras” e erros” contidos no livro do francês André
de Thevet. Léry, pastor e membro da Igreja na fase inicial da Reforma, era sapateiro e
estudante de teologia em Genebra, quando Villegagnon solicitou reforços à Igreja de
Calvino.
▪ O seminarista partiu em 1558 para a França Antártica, junto com ministros e artesãos
protestantes e conviveu com Tupinambá (p. 39).
▪ Contrariando outros relatos, Léry mostra que os que os “caraíbas” faziam a guerra a
partir de regras internas e que a vingança se constituía em valor partilhado. Ele
explica como os “selvagens” produzem pão, preparam a farinha, fabricam o vinho e
moqueiam a carente”.
▪ Para os indígenas de Jean de Léry, a guerra e as práticas de canibalismo não
significavam a satisfação de demandas alimentares: representavam sim, formas de
comunicação interna, práticas de dádiva, quando se trocavam valores, símbolos,
bens. Abria-se, pois um novo capítulo nessa história de encontros e desencontros.
▪ Este era mesmo um Novo Mundo “diferente” do europeu (p. 39)
▪ Novo Mundo em relação à Europa que se reconhecia como velha. Há muita
controvérsia sobre a antiguidade dos povos da América. Pesquisas recentes arriscam
projetar 35 mil anos (p.40)
▪ A colonização levou à exploração do trabalho indígena e foi responsável pela
dizimação. Por causa da colonização houve um recrudescimento das guerras entre
os indígenas.
▪ Índios aldeados e aliados dos portugueses e índios inimigos espalhados pelos
“sertões” (p. 41)
▪ A diferença entre os índios amigos e gentios bravos gerava divisão na legislação
indianista.
▪ Guerra justa (p.41)
A inimizade entre jesuítas e colonos
não tardaria a se manifestar. Colonos
querendo escravizar e jesuítas
tentando salvaguardar seu novos
fieis.
A pressão resultou na Carta Régia de
1570 que proibia a escravização dos
indígenas, exceto quando motivada
por “guerra justa”.
A Companhia de Jesus se
transformou em uma potência
econômica, formada a partir das
aldeias e do rico comércio de
especiarias. Foram expulsos de
Portugal e das colônias em 1759.
Modelo de Aldeia jesuítica.
▪ Portugueses se aliaram aos Tupiniquim; os franceses aos Tamoios e aos Tupinambá
e holandeses se uniram aos Tapuias contra os portugueses.(p. 43)
▪ Ameríndios eram os povos que viviam em um continente depois nomeado América.
Eles eram unidos por relações culturais.
▪ América foi uma homenagem a Américo Vespúcio, que se imaginava o primeiro a por
os pés neste lugar.
▪ O grupo de povos indígenas que habitava a costa quando os portugueses chegaram.
De norte a sul, o litoral era habitado pelo grupo bastante homogêneo: um
mundo tupi-guarani.
▪ Ao sul, os Guarani que viviam nas bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai e no
litoral até o atual estado de São Paulo;
▪ Ao norte, dominavam os Tupinambá, desde Iguape (SP) até o estado do Ceará (p.
46)
▪ “Sertão”, termo usado por Caminha, designava o vasto e
desconhecido interior da colônia, longe do mar. Sertão, com o
tempo, passou a demarcar um espaço simbólico, mais que um
lugar geográfico (p. 47)
▪ “Povoado” era a região “ordenada pela Igreja Católica”, sertão
era o local da falta de da ausência de ordem.
▪ Com a introdução da produção açucareira as guerras entre
grupos indígenas levaram à demanda de um número crescente
de braços para a nascente economia.
▪ No momento da fundação de São Vicente, em 1548, existiam 3
mil escravos índios no litoral da capitania.
▪ Segundo Fernão Cardim, “Este Brasil é outro Portugal” (p. 49)

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