Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O papel da transferência:
Será por meio da transferência que serão atualizados os desejos infantis insatisfeitos, os
protótipos de relações, estabelecidas pelo paciente com figuras ímpares na sua vida,
possibilitando a compreensão dos sintomas. A transferência trás a possibilidade de uma
busca das origens inconscientes destas manifestações, possibilitando a expressão e o
conhecimento dos conteúdos do inconsciente.
É um importante instrumento do processo psicanalítico, pois traz à tona objetos,
documentos, registros de uma história, por vezes, desconhecidos pelo protagonista.
A arqueologia psíquica:
Ao investigar os processos psíquicos, a psicanálise encontra pontos de contato com a
arqueologia. Esta, segundo o dicionário, é a ciência que estuda a vida e a cultura dos povos
antigos por meio de escavações ou através de documentos, monumentos, objetos, etc. por
eles deixados. A psicanálise é o método de tratamento das desordens mentais e
emocionais mediante profunda investigação psicológica dos processos mentais.
Uma diferença é que a psicanálise, para chegar no material psíquico “enterrado”, será
guiada pela força que estes seguem exercendo na vida atual da pessoa desde o
intrapsíquico (sonhos, atos falhos sintomas, repetições transferenciais).
“A psico-análise como a havia chamado alguns meses antes, parece-lhe agora como uma
arqueologia do psiquismo individual”. O interesse de Freud pelo passado, a criação de um
método que o privilegia, dando-lhe espaço através da escuta, ao mesmo tempo em que
implica um olhar para o que foi vivido, libera o homem para um olhar mais autônomo e livre
em direção ao seu futuro.
O recalcamento:
O recalcamento no sentido próprio, é a operação pela qual o indivíduo procura repelir ou
manter no inconsciente representações (imagens, pensamentos, recordações), ligadas a
uma pulsão. Produz-se em casos em que a satisfação de uma pulsão, suscetível de por si
mesma, proporcionar prazer, ameaçaria provocar desprazer relativamente a outras
exigências.
É um processo psíquico universal, pois está na origem da constituição do inconsciente
como domínio separado do resto do psiquismo. É um termo próximo de uma “defesa”,
contudo, o recalcamento tem um custo de energía psíquica, seu motivo é sempre a
produção de desprazer que pode ser gerada por um afeto e o inconsciente que funciona
pelo princípio do prazer, recalca até que possa dar uma forma mais “tolerável” para o
significante reprimido, podendo assim trazê-lo para a consciência de uma forma menos
angustiante que a inicial. (retorno do recalcado)
Em 1915, Freud escreve que o recalcamento não é um mecanismo defensivo que já esteja
presente desde o início, ele só surge quando tiver ocorrido algo marcante e que a essência
do recalcamento consiste em afastar determinada coisa do campo da consciência.
O recalcamento deve considerar: ponto de vista tópico (manutenção dos conteúdos fora da
consciência), ponto de vista econômico (existência de mecanismos complexos de
desenvolvimento, reinvestimentos e contra investimentos que incidirão sobre os
representantes pulsionais), ponto de vista dinâmico (o conflito entre os sistemas).
Recalcamento originário: fixa a pulsão ao inconsciente e estabelece barreiras entre os
sistemas e definindo a tópica psíquica. A fixação inscreve os representantes da pulsão no
psiquismo, ao mesmo tempo em que delimita as instâncias do mesmo.
Recalcamento propriamente dito: desloca para o inconsciente e mantém ali, as
representações intoleráveis para a consciência, que são atraídas pelas representações
originariamente recalcadas. A força deste, incide sobre o representante pulsional e faz com
que seu conteúdo ideacional e seu afeto tenham destinos diferentes.
Retorno do recalcado: mesmo recalcados, os conteúdos tendem a exercer pressão para
retornarem ao sistema pré consciente/ consciente. Esse retorno acontece por meio de atos
falhos, sonhos, chistes…
Mais a frente, Freud rompe a teoria do recalcamento originário ao entender que possuímos
uma instância que viria constituída filogeneticamente, o Id. A ideia de um inconsciente
originário e biológico, exclui a de um recalcamento originário.
O inconsciente originário é o Id e, alguns conteúdos a partir dele, tentarão irromper no ego,
e serão secundariamente recalcados, aparecendo somente aí, a barreira do recalcamento.
Há, portanto, duas partes no Id: uma originária e outra secundária que é o propriamente
recalcado. A parte originária substitui o recalcamento originário.
A partir do recalcamento em seus três tempos, encontramos uma relação entre psicanálise
e neurose.
O recalcamento originário, que inscreve algo ao fundar o psiquismo, deixa marcas de algo
vivido e intraduzível, psiquicamente. Inscreve algo que seguirá vivo e atual em nós, mesmo
com o passar do tempo. O recalcamento propriamente dito, ao apontar para um recurso
defensivo ante o conflito é a defesa privilegiada das neuroses. O retorno do recalcado, o
terreno da patologia, onde a pulsão encontra no sintoma uma forma de expressão.
Quando retorna sob a forma de sonhos ou atos falhos, diremos que estamos no território da
vida cotidiana, mas, quando se sobrepõem os sintomas, abre-se a possibilidade de acesso
ao terreno das neuroses.
No texto O inconsciente, Freud fazia referência à sua capacidade de separar o
representante ideal do afeto que investia e aos diferentes destinos dados a cada um deles,
a partir daí, descreve os processos distintos que ocorrerão em cada neurose.
A histeria de angústia, por exemplo, aponta para o surgimento de um afeto desqualificado, a
angústia que, em um segundo tempo, irá se deslocar por via associativa a um objeto
externo, constituindo, então, a fobia. Este é o fracasso do recalcamento.
Ou seja, o recalcamento apenas eliminou ou substituiu a representação original, mas não
conseguiu resolver a situação de desprazer.