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Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

Professor: Júlio César Martins soares


Filósofo, Teólogo, Psicanalista e Mestre em Educação

VIDA E OBRA DE FREUD

(A grande utopia do homem é achar um ouvinte Nelson Rodrigues).


Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

Fortaleza, 02 de Janeiro de 2020

Boas vindas ao curso de Psicanálise.

Gostaria de te dar as boas vindas ao curso de formação em Psicanálise. A


seguir passaremos a você uma série de informações sobre a estrutura e o
funcionamento do curso. As informações são baseadas nas perguntas mais
frequentes que cada aluno usualmente faz ao efetuar a matrícula. Se,
porventura, ao término destas informações você ainda tiver alguma dúvida, por
favor, escreva para claudiabrazilpsicanalista@gmail.com, que procurará
atender da melhor forma possível.

O que é a Psicanálise?

Psicanálise é um método criado pelo médico e neurólogo austríaco Sigmund


Freud (1856-1939) que tem como objetivo a investigação e o tratamento das
doenças mentais. Tem por base a análise dos conflitos sexuais inconscientes
que são originados desde a infância.

Qual o objetivo do curso?

A doutrina psicanalítica defende que os impulsos que são reprimidos pela


consciência permanecem no inconsciente e afetam o sujeito. Importante
considerar que o inconsciente não é observável pelo paciente: compete ao
psicanalista tornar acessíveis esses conflitos inconscientes através da
interpretação dos sonhos, dos atos falhos e da associação livre. Portanto, uma
das atividades do psicanalista é a clínica psicanalítica.

Qual a habilitação que terei ao fazer o curso?


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Uma boa formação em Psicanálise completa, contempla o quesito teórico e o


tripé básico da formação em Psicanálise que é formado pelo tripé: teoria,
supervisão e análise Ao concluir o curso de formação em psicanálise, o
estudante tem elementos suficientes para iniciar um processo para se tornar
Psicanalista..

Ao que se segue que, para que este seja um profissional qualificado é


importante que se busque uma formação completa, que englobe todos os
meios psicanalíticos para uma boa formação e sucessivamente, e alcance os
seus objetivos.

O que me ampara enquanto psicanalista?

Além disso, o Psicanalista também é amparado pela Lei de Diretrizes e Bases


da Educação Nacional (Lei n° 9394/96), pelo Decreto Federal n° 2.494/98 e
Decreto n° 2.208, de 17/04/97.

Duração do curso?

24 meses, com aulas mensais O curso inicia em ................................e termina

em .........................................................................................................................

Endereço do lugar em que acontecerão as aulas?

Nas dependências da Multiclinic Saúde & vida Fortaleza – Ceará. Rua Padre
Guerra, 1088 - Parquelândia. Fortaleza / Ceará.

Horário das aulas?

Manhã: das 8:00 hs-12:00 hs.

Tarde: das 13:00 hs-17:00 hs.


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Lembrete:

O curso de formação em Psicanálise é extensivo. Isso quer dizer que não para.
Sua formação é por toda a vida. Estudar é dialogar com a cultura, com as
artes. Assim como o universo está em constante transformação, pensemos
pois, como dizia Heráclito de Éfeso: “o homem é um eterno devir, um constante
vir a ser”. Preocupemo-nos com a nossa formação e com a qualidade do nosso
estudo.

1) Nascimento e infância

O nome Freud significa alegria em alemão (Freude) e é derivado de


Freide, que era o pré-nome da bisavó materna de Jakob Freud. Nasce em
1856 Sigismund Schlomo Freud, na pequena cidade de Freiberg na Morávia,
então parte do Império Austro-Húngaro, em uma família de abastados
comerciantes judeus. Seu pai, Kallamon Jakob Freud, que exercia o ofício de
comerciante de lã e têxteis, casou-se, pela primeira vez, aos 17 anos, com
Sally Kanner, falecida em 1852, com quem teve dois filhos (Emmanuel e
Philippe).

Quando após a morte de sua primeira mulher, Jakob voltou a se casar.


Muito pouco se sabe de sua segunda mulher, Rebecca, à parte o fato de o
casamento ter durado apenas dois ou três anos. Aparentemente, não houve
filhos. Viúvo, aos 41 anos, casa-se novamente com Amália Nathanson, de 20
anos, idade do segundo filho de Jakob. Freud será o mais velho dos oito filhos
do segundo casamento de seu pai, e seu companheiro preferido de brinquedos
foi seu sobrinho John, filho de Emmanuel, que tinha um ano a mais do que ele.
A constelação familiar era incomum pois, os dois meio-irmãos de Freud,
Emmanuel e Philipp, tinham praticamente a mesma idade de sua mãe. Esta
situação peculiar pode ter estimulado o interesse de Freud em dinâmica
familiar, levando-o às suas posteriores formulações sobre o Complexo de
Édipo.

Do casamento de Jacob e Amália nasceram os seguintes irmãos de


Freud: Julius, Anna, Débora (Rosa), Marie (Mitzi), Adolfine (Dolfi), Pauline
(Paula) e Alexander. Circuncidado ao nascer, o jovem Sigmund recebeu uma
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educação judaica não tradicionalista e aberta à filosofia do Iluminismo. Era


adorado pela mãe, que o chamava “meu Sigi de ouro”, e amado pelo pai, que
lhe transmitiu os valores do judaísmo clássico. Tinha uma afeição especial por
sua governanta tcheca e católica, Monika Zajic, apelidada Nannie, que o levava
para visitar igrejas, falava-lhe do “bom Deus” e lhe revelou outro mundo além
do judaísmo e da judeidade. Talvez ela também tenha desempenhado um
papel em sua aprendizagem da sexualidade.

Em outubro de 1859, aos 3 anos, Jacob e a família deixaram Freiberg,


onde seus negócios não prosperavam em virtude da introdução do maquinismo
e do desenvolvimento da industrialização o que provocou uma queda dos
rendimentos familiares e também devido ao aumento do anti-semitismo na
Morávia.

Foi, então, para Leipzig (Alemanha), esperando encontrar nessa cidade


melhores condições para o comércio de têxteis. Para Freud, essa partida
permanecerá sempre dolorosa. Merece ser lembrado um ponto que ele próprio
menciona: o amor sem desfalecimentos que sua mãe sempre lhe votou, ao
qual atribui a confiança e a segurança que demonstrou em todas as
circunstâncias. Por sua vez, Emanuel e Philipp emigraram para Manchester
(Inglaterra). Um ano depois, não tendo conseguido modificar sua má situação
econômica, Jacob decidiu estabelecer-se em Leopoldstrasse, o bairro judeu de
Viena. Era a época da abertura liberal do império dos Habsburgos, que permitiu
aos judeus nutrir esperanças de progresso econômico, participação política e
aceitação social. A cosmopolita Viena, entretanto não via com bons olhos estes
10% de seus 2 milhões de habitantes que eram judeus, mas foi nessa cidade
onde Freud viveu até os 82 anos de idade, quando, em 1938, foi obrigado a
sair pela ameaça do nazismo.

O pai de Freud ocupava na vida de seu filho, Sigmund, um lugar


preponderante, mas suas relações foram extremamente ambivalentes. Poucos
homens expressariam com tanta convicção quanto Sigmund Freud, na sua
teoria do complexo de Édipo, seu desejo de matar o pai.

Freud sempre foi brilhante nos estudos e primeiro da classe. Devido à


sua performance acadêmica e uma preferência de sua mãe e apesar da
limitada posição financeira de sua família, o que obrigou os seus oito membros
a viverem em um apartamento pequeno, Freud, o primogênito, tinha seu
próprio quarto e até mesmo uma lâmpada de óleo para estudar. O resto da
família arranjava-se com velas. No ginásio continuou seu excelente
desempenho acadêmico.

Nos anos de 1865 e 1873, o jovem Sigmund freqüentou o


Realgymnasium e depois o Obergymnasium, onde ficou conhecendo Eduard
Silberstein, com quem manteve sua primeira grande correspondência
intelectual, notadamente a respeito de Franz Brentano. Nessa época,
apaixonou-se por Gisela Fluss, filha de um negociante amigo do seu pai. Mais
tarde, fez amizade com Heinrich Braun (1854-1927), que despertaria seu
interesse pela política e depois se orientaria para o socialismo.
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Na escola secundária, o jovem Freud já sabia latim, grego, iídiche


(judeu), alemão, francês, inglês e tinha ainda noções de italiano e espanhol.
Devemos lembrar que os primeiros anos de Freud são pouco conhecidos, já
que ele destruíra seus escritos pessoais em duas ocasiões: a primeira em 1885
e novamente em 1907. Além disso, seus escritos posteriores foram protegidos
cuidadosamente nos Arquivos de Sigmund Freud, aos quais só tinham acesso
Ernest Jones (seu biógrafo oficial) e uns poucos membros do círculo da
psicanálise.

2) Estudo e formação

Aos 17 anos Freud inicia os estudos na universidade (1873), os quais


tomam-lhe bastante tempo, até a graduação, em 1881. Registros de amigos
que o conheciam naquela época, assim como informações nas próprias cartas
escritas por Freud, sugerem que ele foi menos diligente nos estudos de
medicina do que devia ter sido. Na verdade, Freud matriculou-se na faculdade
de Medicina da Universidade de Viena, buscando não uma carreira tradicional
de médico, mas assumindo uma postura filosófico-científica que, com sua sede
de conhecimento e curiosidade, o levariam a aceitar o desafio de desvendar
alguns dos enigmas que assolam a humanidade.

As teorias de Darwin atraíram-lhe a atenção, “pois ofereciam esperanças


de extraordinário progresso em nossa compreensão do mundo” e foi ouvindo o
ensaio de Goethe sobre a Natureza, lido em voz alta numa conferência popular
pelo professor Carl Brühl, pouco antes de ter deixado a escola, que Freud
resolveu tornar-se estudante de medicina.

Além do mais, visto ser judeu, todas as carreiras profissionais fora a


Medicina e o Direito foram-lhe vedadas, tal era o clima anti-semita prevalecente
na época. Suas experiências na Universidade de Viena, onde foi tratado como
"inferior e estranho" por ser judeu, fortaleceram sua capacidade de suportar
críticas e de enfrentar adversidades.

Freud concluiu seus estudos de medicina em 1881, tendo permanecido


como estudante de medicina durante oito anos, três a mais do que o habitual,
e, de acordo com os registros, ele completa o curso satisfatoriamente, mas
sem distinção especial.
Em lugar dos estudos, ele atinha-se à pesquisa científica, inicialmente pelos
estudos dos órgãos sexuais de enguias — um estranho, mas interessante
presságio das teorias psicanalíticas que estariam por vir vinte anos mais tarde.
Nos anos de faculdade trabalhou num laboratório de neurofisiologia até sua
formatura, mostrando-se brilhante pesquisador, profundo observador e dotado
de ceticismo científico. Herdou de seus mestres o rigoroso positivismo, que não
deixava espaço à especulação metafísica na interpretação dos fenômenos
naturais.

Aos 17 anos, o adolescente pretensioso e visionário escreveu ao amigo


Silberstein: "como amigo desinteressado, eu o aconselho a conservar estas
cartas.... nunca se sabe...". Já se mostrava ansioso por ser pessoa importante,
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este rapazinho que conseguira que a mãe tirasse de casa o piano da irmã que
atrapalhava seus estudos.
Seus heróis de então eram Aníbal, inimigo de Roma, Napoleão, filho da
Revolução Francesa, e Oliver Cromwell, estadista inglês (um de seus filhos
chamou-se Oliver). Era um revolucionário com imperioso desejo de
independência, e que, portanto, não podia deixar de sentir uma ponta de
desprezo pelo pai que, por volta de seus 10 anos, se deixara desalojar
grosseiramente da calçada em que vinha, por um anti-semita.

A figura do pai atravessava sua existência, seja pelos insucessos seja


pelas fortes marcas. Os sonhos de Freud trouxeram à tona a lembrança de
quando o menino Freud urinou na cama aos 2 anos e seu pai afirmou que
"...este menino nunca vai chegar a ser gente...". Foi Freud quem disse que a
morte de um pai é o acontecimento mais importante na vida de um homem;
que não conseguia imaginar uma necessidade mais forte na infância que a
proteção de um pai e que a essência do sucesso é ir mais longe que o próprio
pai.

Em 1875 Freud visitou, em Manchester, seus irmãos mais velhos,


Emanuel e Philipp, que haviam deixado a Áustria com suas famílias para viver
na Inglaterra. A viagem tinha por finalidade, também, ver se poderia encontrar
para si uma profissão com a qual pudesse se manter.

No ano seguinte (1876) obteve uma bolsa para trabalhar no Laboratório


de Zoologia Marinha de Trieste, onde estudou os órgãos sexuais das enguias e
publica "Observações sobre a configuração e estrutura fina dos órgãos lobados
das enguias descritos como testículos".

Em 1877, desapontado com os resultados e talvez menos excitado em


enfrentar mais dissecações de enguias, Freud vai ao laboratório de Ernst
Brücke, que torna-se seu principal modelo de ciência. Nesse mesmo ano
(1877), Freud mudou seu nome para Sigmund Freud.

Com Brücke, Freud entra em contato com a linha fisicalista da Fisiologia.


O interesse de Brücke não era apenas descobrir as estruturas de órgãos ou
células particulares, mas sim, suas funções. Dentre as atribuições de Freud,
nesta época, estavam o estudo da anatomia e da histologia do cérebro
humano. Durante os estudos, identifica várias semelhanças entre a estrutura
cerebral humana e a de répteis, o que o remete ao então recente estudo de
Charles Darwin sobre a evolução das espécies e à discussão da
"superioridade" dos seres humanos sobre outras espécies.

Um pouco da crença de Freud nas origens biológicas da consciência


pode ser devida às próprias posições de Brücke. Freud fez pesquisas
independentes sobre histologia e publicou artigos sobre anatomia e neurologia.
Aos 26 anos, recebeu seu diploma de médico. Continuou seu trabalho com
Brücke por mais um ano e morou com sua família. Aspirava preencher a vaga
seguinte no laboratório, mas Brücke tinha dois excelentes assistentes à frente
de Freud.
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Entre 1879 e 1880, obteve uma licença na universidade para prestar o


serviço militar obrigatório. Durante o período, realizou traduções para o alemão
de textos do filósofo e economista inglês John Stuart Mill. Na mesma época,
iniciou o hábito de fumar, o qual cultivou até a morte. Apesar de várias
tentativas, Fliess, seu amigo otorrinolaringologista, não conseguiria curar Freud
de sua paixão pelo fumo: “Comecei a fumar aos 24 anos, escreveu em 1929,
primeiro cigarros, e logo exclusivamente charutos [...]. Penso que devo ao
charuto um grande aumento da minha capacidade de trabalho e um melhor
autocontrole”.

Freud, então (1882), conhece Martha Bernays, uma delicada e atraente


jovem de Hamburgo (Alemanha), neta do Rabi Isaac Bernays, o primeiro a
formular a ortodoxia judaica moderna. Parece ter sido amor à primeira vista.
Freud se apaixonou por ela e noivaram secretamente, pois eram pobres
demais para arcar com o padrão de vida burguês que ele e sua noiva
consideravam essencial.

O seu desejo de desposar Martha, o baixo salário e as poucas


perspectivas de carreira na pesquisa científica - fazem-no abandonar o
laboratório e a começar a trabalhar no Hospital Geral, o principal hospital de
Viena, passando por vários departamentos do mesmo. O próprio Brücke
aconselha-o a mudar, apesar de seu bom desempenho, já que Freud precisava
ganhar dinheiro.

Foi só quatro anos depois, em 14 de setembro de 1886, em Hamburgo,


quando Freud tinha já um consultório particular, e com a ajuda de presentes de
casamento e empréstimos, que o casal pode realizar sua união. O casamento
foi determinante para o surgimento da psicanálise porque levou Freud a
abandonar a pesquisa médica em hospitais e o levou a atender pacientes em
sua clínica particular, à procura do dinheiro que a pesquisa não lhe daria.

Freud escreveu pelo fim da vida que fora muito feliz no casamento. De
uma forma tradicional, Martha e ele tinham suas esferas separadas. Ela não
interferia no seu trabalho e ele não interferia nas questões domésticas.
Entre 1883 e 1885 ele terminou sua pesquisa de anatomia da medula, tornou-
se Professor em Neuropatologia, sendo nomeado Privatdozent.

Com o apoio de Brücke, Freud obteve uma bolsa e foi para Paris
trabalhar com Jean-Martin Charcot. Este demonstrou que era possível induzir
ou aliviar sintomas histéricos com sugestão hipnótica. Freud percebeu que, na
histeria, os pacientes exibem sintomas que são anatomicamente inviáveis.
Tornou-se claro para Freud que a histeria era uma doença psíquica cuja
gênese requeria uma explicação psicológica.

De volta ao Hospital Geral e entusiasmado pelos estudos de Charcot,


Freud passa a atender, na maior parte, jovens senhoras judias que sofriam de
um conjunto de sintomas aparentemente neurológicos que compreendiam
paralisia, cegueira parcial, alucinações, perda de controle motor e que não
podiam ser diagnosticados com exames. O tratamento mais eficaz para tal
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doença incluía, na época, massagem, eletroterapia, terapia de repouso e


hipnose.

Devido a sua situação financeira desfavorável, Freud se viu impelido a


abandonar a carreira de teórico e ingressou no Hospital Geral como Aspirant
(assistente clínico). Logo depois foi promovido a Sekundararzt (médico
estagiário ou interno), e trabalhou em vários departamentos do hospital, entre
outros por mais de seis meses sob a orientação de Meynert, cujo trabalho e
personalidade muito lhe haviam impressionado quando ainda era estudante.

Meynert propôs que Freud devia dedicar-se inteiramente à anatomia do


cérebro e prometeu passar-lhe suas atividades como conferencista, visto
sentir-se velho demais para lidar com os métodos mais novos. Havia naquela
época, em Viena, poucos especialistas em neurologia.

O trabalho na França, contudo, havia aumentado seu interesse pela


hipnose como instrumento terapêutico. Com a cooperação do célebre e
experimentado médico Joseph Breuer, Freud explorou a dinâmica da histeria.
Suas descobertas foram resumidas por Freud: "Os sintomas de pacientes
histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande
impressão, mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada,
consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências em um estado de
hipnose (catarse)".

Ele achou, no entanto, por força de sua experiência, que a hipnose não
era tão efetiva quanto esperava. Afinal abandonou-a por completo passando a
encorajar seus pacientes a falarem livremente e a relatarem o que quer que
pensassem independentemente da aparente relação – ou falta de relação –
com seus sintomas.

Enquanto ainda trabalhava no laboratório de Brücke, Freud travara


conhecimento com o Dr. Josef Breuer, que era um dos médicos de família mais
respeitados de Viena. Antes da viagem de Freud a Paris, Breuer já havia lhe
falado sobre um caso de histeria que, entre 1880 e 1882, ele havia tratado de
maneira peculiar, o qual lhe permitira penetrar profundamente na acusação e
no significado dos sintomas histéricos. Freud fez um esboço desse caso a
Charcot, que não demonstrou nenhum interesse no assunto.

A associação, com o professor Breuer, em torno do estudo do caso de


sua cliente histérica Anna O (pseudônimo de Bertha Pappenheim), foi crucial
para o desenvolvimento do método catártico, em termos de uma pré-história da
futura psicanálise. Ela, que cunhou seu processo terapêutico com Breuer como
uma "limpeza de chaminé" (chimney sweeping) através de uma "cura pela
palavra" (talking cure), propiciou um início de interesse de Freud pela psique
humana que jamais se interrompeu. Este método de Breuer, baseado na
hipnose, logo foi abandonado por Freud, que seguiu caminho próprio,
explicando a formação da estrutura patológica por um processo que chamou de
recalcamento, e que em seguida percebeu poder se referir também à
normalidade de sonhos, lendas, contos de fada, atos falhos e ao acaso, ditos
espirituosos, ou seja, a quaisquer eventos psíquicos.
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“O tratamento catártico deu excelentes resultados terapêuticos, mas


verificou-se que não eram permanentes e que não eram independentes da
relação pessoal entre o paciente e o médico.”

Joseph Breuer aceitou partilhar com Freud o seu método terapêutico que
designou "catarsis" e que consistia em levar o paciente a recordar, pela
hipnose ou por conversação, o trauma psicológico sofrido, uma descarga
emocional que conduzia à cura. Em 1893, publicaram juntos "O mecanismo
físico do fenômeno da histeria". Dois anos depois, em 1895, novamente
publicaram juntos "Estudos sobre a histeria"; o artigo publicado antes é a parte
inicial do livro, e é seguido pela descrição de cinco casos, um ensaio teórico
por Breuer e um capítulo final por Freud. Essa obra pode ser considerada o
marco inicial da psicanálise. Porém, as críticas que provocou no meio médico
desalentaram Breuer. O que se passava com Breuer já acontecera antes, mas
Freud só o compreenderia muito mais tarde.

Ele conta que, quando sua teoria da sexualidade lhe granjeou uma
hostilidade geral, a partir de 1905, voltaram-lhe certas lembranças. Três
homens (Breuer, Charcot e Chrobak) lhe haviam transmitido um saber que, a
rigor, não possuíam. Breuer explicara o estado de certa paciente por “segredos
de alcova”. Charcot, a propósito de um caso análogo, exclamara: Mas nesses
casos é sempre a coisa genital, sempre, sempre! E Chrobak (eminente
ginecologista), mais licencioso, declarara que não se podia dar a uma histérica
a única receita eficaz: “Penis normalis, doses repetidas...”.

A paciente de Breuer, Bertha Pappenheim, na ficha médica "Fraulein


Anna 0.", de 21 anos, era depressiva e hipocondríaca (um quadro na época
denominado "histeria"); ela se acreditava paralítica em algumas ocasiões, ou
não conseguia beber água mesmo estando com sede, se sentia incapaz de
falar seu próprio idioma, o alemão, recorrendo ao francês ou inglês para se
comunicar. Breuer submeteu-a à hipnose, ela relatou casos de sua infância e
essa recordação fez com que se sentisse bem após o transe hipnótico.
“É perfeitamente verdade que a psicanálise emprega o instrumento da
sugestão (ou transferência). Mas a diferença é esta: na análise não é permitido
desempenhar o papel decisivo na determinação dos resultados terapêuticos.”
O Episódio da Cocaína

Entre 1884 e 1887, querendo tornar-se famoso e se livrar da pobreza,


começou a pesquisar sobre alcalóides da cocaína, acreditando nas virtudes
terapêuticas dessa droga.
Inspirado nas pesquisas de Schroff de Von Anrep, Freud decidiu estudar a
cocaína e deixou escrito: “Um interesse secundário, mas, no entanto, muito
vivo, incitou-me, em 1884, a mandar buscar a cocaína, aquele alcalóide ainda
pouco conhecido, a fim de estudar os efeitos fisiológicos”.

Diversos pesquisadores admitem que Freud fez uso da cocaína em sua


forma alcalóide (pó) de modo regular dos 28 aos 39 anos de idade (de 1884 a
1895). Durante essa época, ele publicou três importantes artigos.
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1º) “Sobre a Coca”, publicado em 1884, durante sua residência médica


no Hospital de Viena, Freud descreveu historicamente o uso da cocaína nos
países de origem; as regiões onde era cultivada; as propriedades botânicas do
arbusto Erythroxilon coca, descrevendo o processo de preparação das folhas;
os efeitos fisiopatológicos em animais e humanos saudáveis; as ações
terapêuticas (antimelancólica, antiemética e sedativa) e citou os resultados
obtidos no tratamento de algumas doenças (cardiopatias, esgotamento
nervoso, diabetes melittus, etc).

Ao final desse trabalho, Freud declarou: “A propriedade da cocaína e de


seu sal, isto é, o entorpecimento da pele e da mucosa com que entra em
contato em soluções concentradas, deve levar a outros usos, especialmente
em doenças das mucosas, e permite pensar que será possível empregá-la no
futuro, sobretudo nos casos de infecções locais. (...) Graças a essa
propriedade anestésica, o uso da cocaína difundir-se-á em um próximo
amanhã”.

2º) “Uma contribuição para o conhecimento da cocaína”, publicado em


1885, marcou Freud como um dos fundadores da moderna psicofarmocologia.
Ele relacionou os resultados psicofisiológicos e os associou às mudanças de
percepção e até mesmo de humor durante a ação da droga. Com isso,
conseguiu estabelecer dosagens e tempo de ação da substância.

3º ) “Observações sobre a compulsão e o medo da cocaína”, no qual


defende a cocaína contra a acusação de ser perigosa e causar dependência,
enfatizando suas qualidades terapêuticas.

Chegou, ele próprio, a usar essa droga como tônico estimulante e a


administrá-la em seu amigo Ernst von Fleischl-Marxow, desconhecendo sua
ação anestesiante e a de provocar a dependência, porém, o fato de seu amigo
se tornar viciado deixou-o mal visto no círculo médico de Viena.

Para sua infelicidade, o efeito anestesiante da cocaína seria oficialmente


descoberto pelo oftalmologista Carl Koller, amigo a quem ele havia relatado
suas experiências, no caso, o estudo dos efeitos terapêuticos da cocaína, que
na época ainda era uma droga relativamente desconhecida (havia sido isolada
em 1859 por Albert Niemann e começara a ser produzida em larga escala
somente na década de 1880).

Existem suposições de que os estudos de Freud com a cocaína tenham


cessado em 1887, após a descoberta da anestesia local: “A utilidade geral da
cocaína é limitada por um elemento de inconfiabilidade. Com exceção do seu
efeito anestésico, que é invariável, a reação à cocaína varia de acordo com o
estado individual de excitabilidade e o estado específico dos nervos
vasomotores, sobre os quais ele atua”.

Entretanto, sabe-se que Freud usou a cocaína até 1895, mas não
publicou mais nada a respeito dela, passando a dedicar-se a outras questões.
Em 1887 conheceu Wilhelm Fliess, judeu berlinense, otorrinolaringologista,
com quem Freud tinha grande prazer em discutir suas idéias e com quem
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trocou extensa correspondência íntima e científica, ocasião em que iniciou sua


auto-análise. Foi também durante essa amizade que Freud substituiu a teoria
da sedução (toda neurose derivaria de um trauma real) pela doutrina da
fantasia, concebendo então uma nova teoria do sonho e do inconsciente,
fundamentada no recalque e no complexo de Édipo, inspirado pela tragédia de
Sófocles. Essa renúncia, fundamental para a história da psicanálise, ocorreu
em 21 de setembro de 1897. Freud comunicou-a a Fliess em tom enfático, em
uma carta que se tornaria célebre: “Não acredito mais na minha Neurótica.”

Porém, sua principal preocupação no período é a auto-análise, termo


que irá empregar por pouco tempo. Eis o que diz sobre isto, na carta a W.
Fliess, de 14 de novembro de 1887: “Minha auto-análise continua sempre em
projeto, agora compreendi o motivo. É porque não posso analisar a mim
mesmo a não ser me servindo de conhecimentos adquiridos objetivamente
(como para um estranho). Uma verdadeira auto-análise é realmente
impossível, de outro modo não haveria mais doença”.

Fliess, dois anos mais novo, estava mais avançado na vida e na


profissão. É certo que Freud via nele uma imagem idealizada de si mesmo.
Aliás, chamava-o de “meu alter ego”. No início dos anos 1890 passou a anotar
seus próprios sonhos, cada vez mais convencido de que eles poderiam
fornecer pistas para a atividade inconsciente, uma noção que já era parte do
romantismo na literatura e parte do conhecimento psicológico no século XIX,
como no livro "A filosofia do inconsciente", de Karl von Hartmann, publicado em
1893. Sua intenção era utilizar tanto o material colhido em suas análises
clínicas quanto o que obtinha por sua própria introspecção.

Em 1891 mudou-se para um apartamento da Rua Berggasse 19,


vivendo com sua esposa, os seis filhos e a cunhada Minna Bernays,
permanecendo até seu exílio em 1938.
Os filhos de Sigmund e Martha Freud

1) MATHILDE, nascida em Viena, 1887. Casou-se com Robert Hollischer em


1909. Morreu em Londres, em 1978. (Registrada em homenagem à Mathilde,
esposa de Josef Breuer).
2) JEAN-MARTIN, nascido em Viena, 1889. Casou-se com Ernestine Drucker
em 1919. Advogado e editor. Morreu em Londres, 1967. (Registrado em
homenagem a Jean-Martin Charcot). 3) OLIVER, nascido em Viena, 1891.
Casou-se com Henny Fuchs em 1920. Engenheiro civil. Morreu em
Massachusetts – USA, 1969. (Registrado em homenagem a Oliver Cromwell,
um dos heróis do pai)
4) ERNST, nascido em Viena, 1892. Casou-se com Lucie Brusch em 1920.
Arquiteto. Morreu em Londres, 1970. (registrado em homenagem a Ernst
Brücke)
5) SOPHIE, nascida em Viena, 1893. Casou-se com Max Halberstadt. Morreu
na Alemanha, de pneumonia, 1920.
6) ANNA, nascida em Viena, 1895. Psicanalista. Morreu em Londres, 1982.
Em 1896 Freud iniciou sua célebre coleção de antiguidades, composta por
mais de 2000 peças, das mais variadas procedências, que testemunha o
grande interesse de Freud por civilizações antigas e pela arqueologia.
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Em 1897, o nome de Freud foi proposto para receber o prestigioso título


de professor extraordinário. Sua nomeação foi ratificada pelo imperador
Francisco-José no dia 5 de março de 1902.

…”Minha auto-análise é realmente a coisa mais essencial que me ocupa


atualmente e promete adquirir o maior valor para mim, se chegar a seu término.
A meio caminho, ela subitamente cessou por três dias, e tive a sensação de
estar amarrado por dentro, coisa de que tanto se queixam os pacientes; e fiquei
realmente inconsolável”… (Carta a Fliess, Viena, 15/10/1897)

Em novembro de 1899, com data de edição de 1900, ele publicou “A


Interpretação dos Sonhos", considerada por muitos como seu mais importante
trabalho, apesar de, na época, não ter recebido quase nenhuma atenção.

Quando lançada, a “Interpretação dos Sonhos” caiu no vazio. A tiragem


da edição foi muito modesta: 600 exemplares. Levou dois anos para se
esgotar. Não chocou os leitores, não fez escândalo, como o fariam outras
publicações suas. Tomaram-no por um livro místico, que dava as costas à
ciência. Não o compreenderam.

A obra “A Interpretação dos Sonhos” fala do mecanismo de


"condensação" (uma fusão de uma pessoa em outra), "deslocamento"
(deslocamento de uma pessoa), e elaboração secundaria (o detalhamento
minucioso do tema onírico) e discute o conteúdo latente dos sonhos, além de
explicar como representam a realização dos desejos, descreve o complexo de
Édipo e fala da importância da vida infantil no condicionamento da vida do
adulto. O sétimo capítulo tem a exposição da teoria da mente de Freud. A partir
do momento em que Freud deixou que seus pacientes associassem livremente,
era inevitável que estes lhes contassem seus sonhos. Não é por acaso que o
“sonho da injeção de Irma” será o primeiro dos exemplos de “A Interpretação
dos Sonhos”.

Para Freud, “quem não for capaz de explicar a origem das imagens do
sonho buscará em vão compreender as fobias, as obsessões, as ideias
delirantes e exercer sobre elas uma influência terapêutica”.

Já a partir de 1902, Freud passou a reunir-se em casa com alguns


convidados, médicos neurologistas e psiquiatras como ele, para discutir e
opinar sobre sua teoria psicanalítica. Entre os primeiros a participar, estavam
Alfred Adler, Sandor Ferenczi, Otto Rank, Steckel e Karl Abraham. Eram as
chamadas “Assembléias das Quartas-Feiras”. Mais tarde integrou o grupo
também Carl Gustav Jung, Hans Sachs, Abrham Arden Brill, Max Eitingon e
Ernest Jones. O grupo evoluiu para a constituição, no ano de 1908, da
Sociedade Psicanalítica de Viena, a qual, dois anos depois, em 1910, se
tornaria a Associação Internacional de Psicanálise. Documentos foram escritos,
uma revista foi publicada e o movimento psicanalítico começou a expandir-se.

Em 1904, Freud publicou “Psicopatologia da vida cotidiana" em que


mostra evidências comuns da ação do inconsciente e do subconsciente nas
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pessoas sadias. Essas evidências simples são os "Atos Falhos", tais como o
inexplicável esquecimento súbito de um nome familiar e a troca involuntária de
palavras no meio de uma frase. Estes acidentes revelam a luta do consciente
com o subconsciente (conteúdo evocável) e com o inconsciente (conteúdo não
evocável).

Em 1905 Freud publicou os "Três Ensaios sobre a Sexualidade". Nunca


antes na literatura médica o tema do desenvolvimento da sexualidade normal e
patológica tinha sido abordado de forma tão aberta. Freud afirmava que o
impulso sexual, ou libido, vivido nos primeiros quatro ou cinco anos de vida
representava uma força determinante. Também de 1905 é o trabalho "Os
chistes e sua relação com o inconsciente".

Em 1906 Freud publicou "A psicanálise e o estabelecimento dos fatos


nos processos legais" e "Meus pontos de vista sobre a parte representada pela
sexualidade na etiologia das neuroses".

Ao contrário de muitos intelectuais vienenses marcados pelo “ódio de ser


judeu”, Freud, judeu infiel e incrédulo, avesso a todos os rituais e à religião,
nunca negaria sua judeidade. Ele continuaria sendo um judeu consciente, que
não dissimulava a ninguém sua origem, proclamando-a, ao contrário, com
dignidade e frequentemente com orgulho. Muitas vezes, afirmou que detestava
Viena e que se sentia como que libertado a cada vez que se afastava dessa
cidade, onde crescera e à qual ficaria ligado, entretanto, por laços
indestrutíveis. Sua consciência da identidade judaica permaneceria assim, pois
sua origem nunca foi para ele uma fonte de sentimentos de inferioridade,
embora ela lhe causasse problemas e dificuldades suplementares,
principalmente em sua vida profissional.

Até 1906, Freud já havia lançado as bases fundamentais da psicanálise:


a primeira tópica com a divisão do psiquismo em três instancias (consciente,
pré-consciente e inconsciente); as fases psicossexuais da sexualidade infantil;
Complexo de Édipo; os conceitos de transferência e contratransferência e a
importância da resistência.

Por mais de dez anos após o seu afastamento de Breuer, Freud não
teve seguidores. Ficou completamente isolado. Em Viena, foi evitado; no
exterior, ninguém lhe deu atenção.

Após 1906 seu isolamento gradativamente chegou ao fim. Para


começar, um pequeno círculo de alunos reuniu-se em torno de Freud em
Viena; depois chegou a notícia de que os psiquiatras de Zurique, E. Bleuler,
seu assistente C. G. Jung e outros, estavam adquirindo vivo interesse pela
psicanálise. Entraram em contato pessoal, e na Páscoa de 1908 reuniram-se
em Salzburg, concordaram com a realização regular de congressos informais
semelhantes e adotaram providências para a publicação de um órgão que foi
organizado por Jung e que recebeu o título de Anuário de Pesquisas
Psicanalíticas e Psicopatológicas. Veio a lume sob direção de Freud e Bleuler,
deixando de ser publicado no início da Primeira Guerra Mundial.
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No dia 3 de março de 1907, Carl Gustav Jung, aluno e assistente de


Bleuler, foi a Viena para conhecer Freud. Depois de várias horas de conversa
(13 hs), ficou encantado com esse novo mestre. Seria o primeiro discípulo não-
judeu de Freud.

Em 1908, o grupo já tem 22 membros, entre eles o médico suíço Jung,


dezenove anos mais moço que Freud e a quem este se referia como "querido
filho e herdeiro". Nesse mesmo ano, o círculo se transforma na Sociedade
Psicanalítica de Viena e, em 1910, na Associação Psicanalítica Internacional,
com Jung na presidência por determinação de Freud. Mas, no ano seguinte,
quando Jung rompe com Freud após uma série de desentendimentos por
causa da "excessiva importância" que este concedia à sexualidade, Freud
comentou "Finalmente estamos livres do bruta santarrão". O santarrão ia por
conta do misticismo de Jung, intoleravelmente racionalista do outro.

Apesar de tudo, essa foi a defecção que Freud mais lamentou. Jung, um
protestante suíço, era talvez o único não judeu do grupo, a quem Freud
admirava e pensava que seria seu sucessor.

Durante o primeiro quarto do século, a doutrina freudiana se implantou


em vários países: Grã-Bretanha, Hungria, Alemanha, costa leste dos Estados
Unidos. Na Suíça produziu-se um acontecimento maior na história do
movimento psicanalítico: Eugen Bleuler, médico-chefe da clínica do Hospital
Burghölzli de Zurique, começou a aplicar o método psicanalítico ao tratamento
das psicoses, inventando ao mesmo tempo a noção de esquizofrenia. Uma
nova “terra prometida” se abriu assim à doutrina freudiana: ela podia a partir de
então investir o saber psiquiátrico e tentar dar uma solução para o enigma da
loucura humana.

Ao mesmo tempo em que os psiquiatras suíços ingressavam no


movimento, o interesse pela psicanálise começou também a ser despertado em
toda a Alemanha, tornando-se tema de grande número de comentários escritos
e de vivos debates em congressos científicos. Mas sua acolhida em parte
alguma foi amistosa ou mesmo benevolentemente neutra. Segundo Freud,
após travar o mais leve conhecimento com a psicanálise, a ciência alemã
estava coesa para rejeitá-la.

Temendo o anti-semitismo e que a psicanálise fosse assimilada a uma


“ciência-judaica”, Freud decidiu “desjudaizá-la”, pondo Jung à frente, como
presidente, do movimento. Depois de um primeiro congresso, que reuniu em
Salzburgo em 1908 todas as sociedades locais, criou com Ferenczi, em
Nuremberg, em 1910, uma associação internacional, a Sociedade Psicanalítica
de Viena “Internationale Psychoanalytische Vereinigung” (IPV).

Em 1909, a convite do reitor Stanley Hall, Freud foi, em companhia de


Jung e de Ferenczi, à Clark University de Worcester, em Massachusetts (EUA),
para dar cinco conferências, que seriam reunidas sob o título de “Cinco lições
de psicanálise”. Apesar de um sucesso considerável, Freud não gostou do
continente americano. Durante toda a vida, desconfiaria do espírito pragmático
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e puritano desse país que acolhia suas idéias com entusiasmo ingênuo e
desconcertante.

Ainda em 1909, com a “Análise de uma fobia em um menino de cinco


anos” (O Pequeno Hans), Freud verifica a exatidão das “reconstituições”
efetuadas no adulto. Também em 1909, com “Notas sobre um caso de neurose
obsessiva” (O Homem dos Ratos), a análise é dominada por um voto
inconsciente de morte, e Freud se espanta ao verificar, “ainda mais” em um
obsessivo, as descobertas feitas no estudo da histeria.
Entre 1909 e 1913, Freud publicou mais duas obras: “Leonardo da Vinci e uma
lembrança da sua infância” (1910) e “Totem e tabu” (1912-1913).

A partir de 1910, a expansão do movimento se traduziu por dissidências,


tendo como motivo simultaneamente querelas pessoais e questões teóricas e
técnicas. Às rivalidades narcísicas se acrescentaram críticas sobre a duração
dos tratamentos, a questão da transferência e da contratransferência, o lugar
da sexualidade e a definição da noção de inconsciente.

Às dissidências seguiram-se posteriormente as cisões: em 1911 Adler e


Stekel se separaram do grupo freudiano, e dois anos depois (1913), Jung e
Freud romperam todas as suas relações. Não suportando desvios em relação à
sua doutrina, Freud publicou, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, um
verdadeiro panfleto, “A história do movimento psicanalítico”, no qual denunciou
as traições de Jung e Adler. Depois, atendendo sugestão de Ernest Jones,
criou o Comitê Secreto, composto de seus melhores paladinos, que defenderia
os postulados de sua doutrina, e presenteou a cada um de seus membros com
um anel contendo a gravação de uma figura grega antiga. O emblema
representava o compromisso de sustentar a existência dos processos
psicológicos inconscientes, a teoria da resistência e repressão, e o
reconhecimento da parte representada pela sexualidade no Complexo de
Édipo.

Longe de evitar as dissidências, essa iniciativa levou a novas querelas.


Apoiados por Jones, os berlinenses (Abraham e Eitingon) preconizava a
ortodoxia institucional, enquanto os austro-húngaros (Rank e Ferenczi) se
interessavam mais pelas inovações técnicas.

Descontente, Adler, médico e ativo socialista, e um dos quatro primeiros


colegas convidados de Freud para o seu círculo, decidiu, em 1911, fundar sua
própria corrente psicanalítica. Substituiu o desejo sexual da teoria freudiana
pelo desejo de poder que é agravado pela necessidade de superar o
"Complexo de Inferioridade" ou de afirmar a masculinidade.

Em 1911, publica “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de


um caso de paranoia” (Dementia paranoides) (O Presidente Schreber). A
particularidade dessa análise se prende ao fato de que Freud nunca encontrou
o paciente, contentando-se em trabalhar com as “Memórias” nas quais este
descrevera sua doença, dando a elas um interesse científico.
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Entre 1914 e 1917 Freud produz seus “artigos metapsicológicos” que


buscavam sintetizar o conhecimento teórico até então construído. Sobre o
Narcisismo (1914) As Pulsões e suas Vicissitudes (1915), ‘Repressão’ (1915),
‘O Inconsciente’ (1915), ‘Luto e Melancolia’ (1917), vêm fazer parte dessa
tentativa de construção de uma Metapsicologia. Com isso Freud queria
construir um método de abordagem de acordo com o qual todo processo
mental é considerado em relação com três coordenadas, as quais descreveu
como dinâmica, topográfica e econômica, respectivamente.

Em sua Teoria Sobre o Narcisismo (1914) Freud atribui novas


dimensões ao conceito de libido e, consequentemente, à psicanálise. O
desenvolvimento do conceito de narcisismo coloca à prova o dualismo entre
pulsões do ego (pulsões de autopreservação) e pulsões sexuais.

I Guerra Mundial

Em 1914 o movimento psicanalítico evoluiu mais lentamente. O fim da


guerra trouxe grandes modificações político-geográficas e os tratados eram
particularmente severos com os países vencidos. Viena sofria de fome, frio e
desespero. Voltaram epidemias mortais, como tuberculose e gripe.

Os filhos de Freud lutaram na guerra e viram seus horrores. Alguns


médicos, que também eram analistas, foram mobilizados na frente de guerra
para tratar dos feridos. Como muitos austríacos, os Freud passaram fome e
ficavam gratos por doações de alimentos. Algumas delas foram feitas por Max
Eitingon, um analista rico que ajudou Freud e sua família de muitas formas
práticas no período difícil da 1ª Guerra Mundial.

A miséria do pós-guerra se abateu dolorosamente sobre Freud, que, em


1920, perdeu a amada segunda filha Sophie, casada em Hamburgo e mãe de
dois filhos, vítima de pneumonia. Martha ficou arrasada. Sophie tinha apenas
27 anos, era feliz no casamento e deixava dois filhos. E o golpe se repetiria em
1923 com a morte prematura de seu neto Heinz, aos cinco anos de idade:
“Esse menino era a criança mais inteligente e doce que eu conheci”.

Ao final da guerra, em 1918, Freud perdeu todas suas economias, as


quais havia aplicado em bônus do governo austríaco.

Suavizando sua ênfase no instinto sexual como força propulsora do


comportamento, Freud derivou para um bastante banal e menos interessante
conceito de "Princípio do prazer e desprazer", envolvendo o ajustamento entre
o impulso pelo prazer e a dura realidade do mundo exterior. Em Além do
Princípio do Prazer (1920), Psicologia de Grupo e a Análise do Ego (1921),
Freud considera uma nova solução para o problema das pulsões. Combinou as
pulsões para a autopreservação e para a preservação da espécie sob o
conceito de Eros e contrastou com ele um instinto de morte ou destruição
(Tanatos) que atua em silêncio.
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

A pulsão, em geral, é considerada como uma espécie de elasticidade


das coisas vivas, um impulso no sentido da restauração que outrora existiu,
mas que foi conduzida a um fim por alguma perturbação externa. Esse caráter
essencialmente conservador dos instintos é exemplificado pelos fenômenos da
compulsão de repetição. O quadro que a vida nos apresenta é o resultado da
ação simultânea e mutuamente oposta de Eros e do instinto de morte.

CASOS CLÍNICOS FAMOSOS

I. ANNA O. – Bertha Pappenheim


II. O HOMEM DOS RATOS - Ernst Lanzer
III. O PEQUENO HANS - Herbert Graf
IV. DORA – Ida Bauer
V. O HOMEM DOS LOBOS - Sergei Pankejeff
VI. O CASO SCHREBER
I. ANNA O. – Bertha Pappenheim
Este caso encontra-se descrito ao longo do capítulo “2. Os anos de formação”.
II. O HOMEM DOS RATOS - Ernst Lanzer
O paciente, um jovem de educação universitária, apresentou-se a Freud com a
queixa de obsessões desde sua infância, mas com uma maior intensidade nos
últimos 4 anos de sua vida. Sofria de TEMORES de que algo acontecesse a
duas pessoas de quem mais gostava - seu pai e uma jovem a quem admirava.
Além disso, tinha consciência de IMPULSOS COMPULSIVOS - muitas vezes
em conexão com coisas triviais, como no dia em que a jovem de quem gostava
ia partir, e ele bateu com o pé numa pedra da estrada em que caminhava, e foi
obrigado a afastá-la do caminho, pondo-a à beira da estrada, pois lhe veio a
idéia de que o carro dela iria passar e poderia acidentar-se nessa pedra.
Contudo, minutos depois pensou que era um absurdo, e foi obrigado a voltar e
recolocar a pedra à sua posição original.

A análise de Freud concentrou-se na ambivalência do paciente para com


seu pai e a jovem a quem cortejava, originada em sua sexualidade precoce e
intensa e sentimentos antigos de raiva contra seu pai - que haviam sido
severamente reprimidos. O símbolo do rato levou Freud e o paciente a uma
série de associações que incluíam erotismo anal, lembranças de excitações
anais quando o paciente em criança eliminava lombrigas (que Freud
interpretava como simbolizando um pênis), e o fato de ter sido espancado pelo
pai aos 4 anos de idade por ter mordido uma pessoa.

Associou ainda com problemas antigos do pai do paciente com o jogo, a


idéia infantil do parto anal e a própria experiência real de haver tido verminose
quando criança. Após um ano de análise, o paciente curou-se de seus
sintomas e, nas palavras de Freud, "o delírio dos ratos desapareceu".

III. O PEQUENO HANS - Herbert Graf


Nascido em 1903, aos três anos, Hans demonstrava muito interesse em seu
genital, o “pipi”, tocando-o e sendo ameaçado por sua mãe, de ser levado ao
médico para cortá-lo fora. Começa a ter uma série de fantasias eróticas,
sofrendo de ansiedade, desenvolve várias fobias, inicialmente por cavalos
brancos que iam mordê-lo, derivando para meios de transportes da época que
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

ele conhecia, elaborando associativamente com seu medo de se afastar de


casa, efeito dos traumas sofridos de cirurgia de amídalas, afastamentos
gradativos e diminuição de atenção da mãe, na gestação e parto da irmãzinha
Hanna.

O pequeno Hans foi piorando com o tempo, as mentiras sobre cegonhas


e omissões sobre vaginas, cópula e gestação. Com material intelectual e
preconceituoso da era pós-vitoriana, ele construiu as respostas ‘as suas
dúvidas, associando o prazer escretório ao parto, insistindo em ir ao banheiro
assistir sua mãe evacuar e posteriormente fantasiando ter filhos de “salsicha”
pela evacuação, limpando-os e cuidando deles.
Na busca de objetos para investir sua libido, Hans se apaixonava por suas
amigas e amigos demonstrando na escolha objetal um traço homossexual, uma
ausência de gênero, chamando-os de seus filhos e declarando seu amor.

Freud fala para Hans, na única visita em que seu pai o levou, que seu
medo é uma bobagem porque gosta da mãe e tem medo do pai, que parasse
de se masturbar e não tivesse medo algum de seu pai. O menino aceita o
tratamento e esforça-se para não se masturbar. É um período de diálogos entre
Hans e seu pai, e cartas com Freud. Hans apresenta mudanças estruturais de
comportamento. A fobia é eliminada e o menino mantém apenas um traço de
ficar fazendo perguntas

IV. DORA – Ida Bauer


Ida Bauer aparece nos textos de Sigmund Freud, o pai da psicanálise, sob o
nome fictício de Dora. É uma moça bonita, de 15 anos, perturbada por tosses
nervosas e incapacidade ocasional de falar.

Chegou ao divã do médico vienense queixando-se de duas coisas:


assédio sexual de um amigo da família e indisposição do pai em protegê-la.
Freud aceitou os fatos, mas desenvolveu uma interpretação própria sobre eles.
O nervosismo e as doenças se explicavam porque a moça se sentia
sexualmente atraída pelo molestador, mas reprimia a sensação prazerosa e a
transformava, histericamente, em incômodo físico.

Como Ida se recusou a aceitar essa versão sobre seus sentimentos,


largou o tratamento. Os sintomas só diminuíram quando ela enfrentou o pai e o
molestador, tempos depois. Freud estava errado; ela, certa. Anos mais tarde,
refletindo sobre a experiência, Freud escreveu uma passagem famosa: “A
grande questão que nunca foi respondida, e que eu ainda não fui capaz de
responder, apesar de 30 anos de pesquisa sobre a alma feminina, é: o que
querem as mulheres?”.

V. O HOMEM DOS LOBOS - Sergei Pankejeff


Ele tinha 22 anos de idade quando foi consultar Freud em 1910; acabara de
herdar uma grande fortuna de seu pai morto há dois anos.
Tratava-se de um jovem que aos 18 anos, depois de uma blenorragia viu a sua
saúde desmoronar.
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

Tornou-se totalmente dependente dos outros e estava desadaptado


quando começou seu tratamento psicanalítico.
Levara uma existência mais ou menos normal durante os anos que precederam
a eclosão de seu estado e sem muitas dificuldades, terminara os seus estudos
secundários.
Seus anos de infância tinham sido dominados por graves perturbações
neuróticas que eclodiram pouco antes do seu quarto aniversário sob a forma de
uma histeria de angústia (fobia de animais) e depois se transformaram em
neurose obsessiva de conteúdo religioso, perturbações que se manifestaram,
assim como seus derivados, até os doze anos do doente.

VI. O CASO SCHREBER. O caso de Daniel Paul Schreber foi um dos casos
mais emblemáticos de Sigmund Freud, já que o pai da psicanálise nunca teve
um encontro com Schreber. Sua análise sobre o caso foi publicado em Notas
psicanalíticas sobre um relato de paranoia em 1911, depois da leitura do livro
de Schreber, Memórias de um doente dos nervos (1903).

Schreber nasceu em julho de 1842 em uma renomada família alemã. Em


1884, apresentou sinais de distúrbios mentais. Schreber ocupava uma posição
de destaque, sendo presidente da corte de apelação e renomado jurista. Seu
distúrbio ocorreu após a sua derrota para ser candidato do partido conservador.

Em 1893, Schreber foi promovido a presidente do tribunal de apelação


de Dresden. Sete anos depois foi interditado e teve os seus bens colocados
sob tutela.
Em seu livro, Schreber apresenta um sistema delirante de uma pessoa
perseguida por Deus. Seu discurso apontava para uma existência terrível: sem
estômago, laringe, perseguições de pássaros etc. Ele se transformaria em uma
mulher que engravidaria de Deus.

Com todo esse discurso Freud viu na “revolta” contra Deus de Schreber,
a figura de seu pai e a homossexualidade recalcada (a base de seu delírio). A
transformação do amor em ódio é o mecanismo essencial da paranoia.

O surgimento do delírio para Freud foi uma tentativa de cura, cujo


objetivo de Schreber era um consolo para a morte do pai, já que não havia tido
um filho algum. Deus em seu sistema delirante seria o seu pai.

VELHICE E FALECIMENTO

Misérias pessoais, nem sempre moderadas, não lhe faltaram ao longo da vida.
Houve as intermináveis brigas no interior do movimento psicanalítico. Houve o
câncer na boca, provocado seguramente pelos charutos. Os primeiros
sintomas apareceram em 1917.

Em 1922 Freud trabalha o "Uma neurose demoníaca do século XVIII" e


em 1923 publica "O Ego e o Id" no qual expõe sua teoria tripartite da mente,
constituída do Id, Ego, e do Superego. O conceito do Id, o reservatório dos
impulsos instintivos, é uma cópia da
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

parte concupiscente da alma na doutrina de Platão; o Ego trata com a realidade


do mundo exterior e o Superego é o inibidor dos instintos, tais como a parte
sábia e a parte vigilante da alma, da mesma doutrina platônica.

Porém, como ateu e materialista convicto, para Freud o homem é o que


ele é, um produto da evolução natural, sujeito, em última análise, às leis da
física e da química. Nada do que uma pessoa diz ou faz é casual ou acidental;
o homem nem é perfeitamente livre nem racional - obedece a causas
inconscientes. A força que orienta o comportamento estaria nesse inconsciente
e era o instinto sexual; essa força não se apresentava consciente devido à
"repressão" tornada também inconsciente.

Em 1923, quase com setenta anos, em seu estudo clássico "O Ego e o
Id", completou a revisão de suas teorias. Formulou um modelo estrutural da
mente como constituída de três partes distintas, mas que interagem entre si.
Naquela época o movimento psicanalítico florescia e Freud era reconhecido
mundialmente. Nesse mesmo ano, 1923, Freud sofreu a primeira de uma série
de 33 cirurgias para a extirpação de um tumor no palato, que o obrigaria a usar
uma prótese, deixando-o com dificuldades para falar e nunca mais ele se veria
livre da dor e do desconforto.

Com a filha predileta, Anna, que se tornaria também uma importante


psicanalista e uma zelosa guardiã de seu legado teórico, ele fez um pacto: a
doença deveria ser encarada sem sentimentalismo, com frio distanciamento.
Dois dias antes de completar 68 anos, em 1924, Freud foi agraciado com o
título de cidadão honorário da cidade de Viena. Viena podia ter uma longa
história de antissemitismo, mas agora reconhecia um dos seus grandes judeus.
Esta honraria faria com Freud relutasse tanto mais em deixar a cidade.

É de 1925 "Um estudo autobiográfico" e de 1926 "Inibições, sintomas e


ansiedade", e o "A questão da análise leiga".
Os primeiros volumes da Coletânea das Obras de Sigmund Freud surgiram em
1925, época em que estava com sérios conflitos com Otto Rank, devido à
teoria do trauma do nascimento.

Em 1926, depois de um processo contra Theodor Reik, Freud assumiu a


defesa dos psicanalistas não-médicos publicando A questão da análise leiga.
Tinha grande estima e acolhia no seio do movimento mulheres de vanguarda
como Marie Bonaparte, Lou Andreas-Salomé, entre outras, contribuindo assim
com a emancipação feminina. Na obra de Freud, dois textos possuem,
aparentemente, um estatuto um tanto especial. São eles “O futuro de uma
ilusão”, publicado em 1927, que examina a questão da religião, e “O mal-estar
na civilização”, em 1929, dedicado ao problema da felicidade, considerada por
Freud inatingível, e às exigências exorbitantes da organização social ao sujeito
humano.

Na realidade, como sempre acontece com Freud, o ângulo escolhido


para tratar de qualquer questão serve-lhe, antes de tudo, para dar
esclarecimentos ou indicações sobre aspectos importantes da experiência. Isso
ocorre, em “O Futuro”, com a questão do pai e a de Deus, como seu corolário;
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

em “O mal-estar”, a maldade fundamental do ser humano e a constatação


paradoxal de que quanto mais o sujeito satisfaz os imperativos morais, os do
supereu, mais este se mostra exigente.

Ainda em 1926 Freud viria a assumir a análise de uma paciente


estrangeira, rica e integrante de família real, com quem viria a manter
posteriormente uma amizade intelectual e fraternalmente muito próxima.
Tratava-se da princesa Marie Bonaparte, bisneta de Napoleão, casada com o
príncipe George da Grécia. Foi a ela que Freud, vendo seu interesse científico
sobre a sexualidade feminina, fez a sua confissão tão frequentemente citada:
“A grande pergunta que nunca foi respondida, e que eu ainda não pude
responder, apesar dos meus trinta anos de pesquisa da alma feminina, é: o que
quer uma mulher?”.

Em 1927 teve problemas de relacionamento com seu amigo o pastor


Oskar Pfister ao publicar O futuro de uma ilusão, em que defendia a tese de
que a religião é uma neurose coletiva.

No "O futuro de uma ilusão", de 1927, Freud fez uma especulação


filosófica adiantando o que pensava que fosse a natureza humana, a religião e
Deus.
E em 1930 a publicação de O mal-estar da cultura, pondo em dúvida a
capacidade das sociedades democráticas controlar as pulsões destrutivas.

Por volta de 1930, o fenômeno da dissidência deu lugar às cisões,


característica da transformação da psicanálise em um movimento de massa. A
partir daí eram os grupos que se enfrentavam, não mais os discípulos ou os
pioneiros em rivalidade com o mestre. Isolado em Viena, mas célebre no
mundo inteiro, Freud prosseguiu sua obra, sem conseguir controlar a política
de seu movimento.
Freud foi agraciado com o "Prêmio Goethe de Literatura", em 1930, e foi eleito
Membro Honorário da "English Royal Society of Medicine" (1935). O interesse
artístico-literário de Freud se infiltra profundamente na psicanálise; de fato, o
estilo freudiano de escrita e argumentação é bastante “literário”. A prosa
elegante de Freud foi admirada por muitos críticos e o único prêmio que Freud
recebeu em vida, o Prêmio Goethe (1930), foi-lhe atribuído pelas qualidades
literárias de sua obra. E houve, enfim o nazismo, com a ascensão de Hitler e,
com ele, o recrudescimento da perseguição aos judeus.

Em 1934, Freud escreveu a Marie Bonaparte: “Se os nazistas chegarem


aqui trazendo o mesmo desrepeito à lei que na Alemanha, é claro que teremos
que partir”. E, no mesmo ano, escreveria a seu amigo Arnold Zweig: “Você está
perfeitamente certo ao supor que pretendemos ficar por aqui resignadamente.
Pois para onde eu poderia ir, em meu estado de dependência e fragilidade
física? E qualquer lugar no estrangeiro é tão inóspito. Só mesmo se houvesse
um sátrapa de Hitler governando Viena eu certamente teria de partir, para onde
quer que fosse”.

As angústias políticas tinham prosseguimento. Em março de 1937,


Freud escreveu a Ernest Jones que provavelmente não haveria meios de
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

impedir que os nazistas invadissem a Áustria: “Minha única esperança é que eu


não esteja vivo para vê-lo. É uma situação semelhante à de 1681, quando os
turcos assediavam Viena. Se nossa cidade cair, os bárbaros nazistas tomarão
toda a Europa.”

Com a anexação da Áustria, em 1938 os nazistas marcharam sobre


Viena sendo recebidos por uma população exultante e as violências anti-
semitas espontâneas tornaram-se ainda mais frequentes.

No dia seguinte à entrada dos nazistas em Viena (13/03/1938), Martin


Freud foi a seu escritório na Bergasse 7, que também funcionava como
escritório da livraria pertencente ao movimento psicanalítico. Escreveria ele
mais tarde: “Eu sabia que precisava destruir documentos de grande
importância. Como parte de minhas atividades normais de advogado, eu
investira dinheiro dos meus clientes em moedas estrangeiras respeitáveis e
estáveis, o que era perfeitamente legal no tolerante sistema jurídico austríaco,
mas eu sabia que seria um crime aos olhos dos nazistas, sedentos de dólares.”
Ele precisava proteger seus clientes, entre eles seu pai, destruindo qualquer
prova dessas transações.

No apartamento de Freud também houvera uma invasão de comando


nazista, composto de vários soldados da Gestapo. Martha Freud manteve-se
calma. Ela lhes disse que em sua casa não se permitia que os convidados
ficassem de pé esperando, e assim os convidou a sentar. E teve então a
gentileza de dizer à Gestapo que havia algum dinheiro em casa. “Sirvam-se,
senhores” disse Martha.
Estava ali reunida a soma nada desprezível de 6.000 schillings
(aproximadamente 1.500 dólares). Freud então entrou na sala, com ar
preocupado, mas nada disse. Os “cavalheiros das SS” lançaram mão do
dinheiro e, estranhamente, passaram formalmente um recibo.
Freud disse à mulher, ao ver os nazistas se apoderarem do dinheiro: “Eu nunca
recebi tanto por uma única visita”.

No dia 22 de março de 1938 Anna Freud foi detida, mas não foi
despreparada ao encontro da Gestapo. Compreensivelmente, ela temia ser
torturada e convenceu Max Schur a lhe dar dois comprimidos de Veronal, como
eventual último recurso. Considerava perigoso ter de ficar esperando muito
tempo nos corredores, qualquer poderia desaparecer nos porões sem que
alguém se desse conta.

A detenção de Anna aterrorizou Freud, representando a grande virada.


Depois de anos de hesitação, ele sabia que não tinha escolha, embora não lhe
restasse muito tempo de vida. Nos dias subsequentes, preparou para o cônsul
britânico em Viena uma relação daqueles que desejava que o acompanhassem
à Inglaterra. Max Schur reproduziu a lista na íntegra:

- Sigmund Freud, 82 anos;


- Martha Freud, 77 anos;
- Minna Bernays, 73 anos;
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

- Anna Freud, filha, 42 anos;


- Jean Martin Freud, filho, 48 anos;
- Esti Freud, mulher de Martin, 41 anos;
- Walter Freud, filho de Martin, 16 anos;
- Sophie Freud, filha de Martin, 14 anos;
- Enkel Ernst Halberstadt, neto, 24 anos;
- Mathilde, filha, 50 anos;
- Robert Hollitscher, marido de Mathilde, 62 anos;
- Max Schur, médico particular de Freud, 39 anos;
- Helen, mulher de Schur, 26 anos;
- Os dois filhos pequenos dos Schur;
- Paula Fichtl, governanta, 36 anos e
- Mitzi, outra criada dos Freud, 30 anos.

Diante desse quadro, a permanência em Viena era algo fora de


cogitação: cedendo aos insistentes chamados do psicanalista inglês Ernest
Jones, que viria a ser também seu principal biógrafo, Freud, então
extremamente doente, concordou em seguir para a Inglaterra.

Os judeus não eram autorizados a deixar a Áustria se não tivessem


quitadas todas as suas dívidas e as de suas empresas. Freud precisaria juntar
muito dinheiro para pagar o que era devido pela sua editora, além da taxa de
voo para ele próprio e sua família.
Naturalmente, de nada adiantava autorizar a entrada de Freud na Inglaterra se
ele não podia deixar Viena. Toda aquela incerteza o deixava deprimido. Foi
então que Anna teve uma conversa com o pai, quando já não parecia haver
nenhuma chance de fugir.

- “Não seria melhor se todos nós nos matássemos?”, perguntou ela ao


querido pai.
Freud mostrou-se irredutível.

- “Por quê? Por que eles gostariam?”. Ele não tinha a menor intenção de lhes
dar essa satisfação.

Um movimento internacional de pressão forçou as autoridades nazistas


a lhe permitirem a saída. Levou meses para se cumprir o resgate extorsivo que
o governo nazista exigira.

Houve um último obstáculo burocrático, exatamente como temia Freud.


A Gestapo insistia numa declaração sua, pois não queria ser acusada de
brutalidade com um homem famoso. Solicitava a Freud que confirmasse que
tinha sido tratado adequadamente. Antes de embarcar no trem, a Gestapo o
coagiu a assinar um documento, que dizia:

“Eu, prof. Freud, afirmo que, após a anexação da Áustria ao Reich


alemão, tenho sido tratado pelas autoridades alemãs e, particularmente, pela
Gestapo com todo o respeito e consideração devidos à minha reputação
científica; que eu poderia viver e trabalhar em plena liberdade; que eu poderia
continuar a exercer minha atividade de todas as maneiras que desejasse; que
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

eu tive pleno apoio de todos os interessados nesta questão, e que não tenho a
mínima razão para fazer qualquer reclamaçaõ”.

Freud assinou, mas, em seguida, acrescentou uma frase simples:


“Recomendo calorosamente a Gestapo a qualquer um”. A Gestapo não
percebeu, ou fingiu não perceber, a ironia de sua resposta

No dia 04 de junho, às 3h25min o trem que os levaria ao exílio partiu da


estação de Viena. Às 14h 45min, o Orient Express chegou à Fronteira da
Alemanha com a França. Ao cruzarem o Reno, o alívio foi enorme. Freud
escreveu em seu diário: “Passada a ponte do Reno, estávamos livres”. Anna
abriu o vermute e eles brindaram à fuga. Em 6 de junho, finalmente, Freud,
acompanhado por sua família, desembarcava em Londres.

Por um curto espaço de tempo, ele residiu em 20 Maresfield Gardens,


local que 48 anos mais tarde veio a se tornar o Freud Museum London. Em
Londres passou seus últimos meses trabalhando quase até o fim em seu
derradeiro livro, Moisés e o Monoteísmo, que foi concluído em 1939.

Nesses últimos dias, as dores de Freud se agravavam. Max Schur


oferecia-lhe sedativos cada vez mais fortes, mas Freud continuava se
recusando a tomar qualquer coisa além de aspirinas. Dizia que preferia pensar
num tormento de dores do que não pensar, estando fortemente sedado.
Schur afirma que “jamais ouviu Freud dizer uma palavra irritada ou impaciente”
a quem quer que fosse.
Em 21 de setembro de 1939, Freud tomou a mão de Max Schur e
lembrou o primeiro encontro dos dois: “Você prometeu não me abandonar
quando chegasse a hora. Agora é só uma tortura sem sentido.” Depois,
acrescentou: “Fale com Anna; se ela achar que está bem, vamos acabar com
isso.” Consultada, Anna quis adiar o instante fatal, mas Schur insistiu e ela
aceitou a decisão. Aquele sofrimento já não fazia sentido. Freud despediu-se
de sua mulher, Martha, dos filhos, em particular, de Anna, que insistia para que
ele desistisse da ideia. Mas Freud não via sentido em prolongar sua vida, e se
preparou com lucidez e muita serenidade.

Por três vezes, ele deu a Freud injeções de três centigramas de morfina,
ao longo das 48 horas subsequentes (21 e 22). Em 23 de setembro, às três
horas da manhã, depois de dois dias de coma, Freud morreu tranquilamente,
gozando de liberdade, mas na qualidade de refugiado apátrida.

Seu corpo foi cremado três dias depois, a 26 de setembro, e as cinzas


guardadas numa urna grega de sua coleção. Encontram-se até hoje no
cemitério judaico de Golders Green, em Londres.

A família solicitara a Ernest Jones que fizesse a oração fúnebre, e ele se


mostrou à altura do compromisso. Jones, entre tantas memórias, evocou a
personalidade forte e o “instintivo amor à verdade” de Freud e concluíra
afirmando: “Podemos dizer, a seu respeito, que assim como nenhum homem
jamais amou tanto a vida, nenhum outro temeu menos a morte”.
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

Nos tempos do nazismo, Freud perdeu quatro irmãs (Rosa, Dolfi, Paula,
e Marie Freud). Embora Marie Bonaparte tenha tentado retirá-las do país, elas
foram impedidas de sair de Viena pelas autoridades nazistas e morreram nos
campos de concentração de Auschwitz e de Theresienstadt.

INFLUÊNCIAS

René Descartes (1596 —1650), também conhecido como Renatus Cartesius -


filósofo, físico e matemático francês. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho
revolucionário na filosofia e na ciência, tendo criado o método cartesiano que
consiste no Ceticismo Metodológico : duvida-se de cada idéia que não seja
clara e distinta. Baseado nisso, Descartes busca provar a existência do próprio
eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - cogito ergo sum , penso logo sou).
Dele, Freud absorveu os critérios do cientificismo.

Gustav Theodor Fechner (1801 -1887) filósofo, matemático e físico alemão.


Fechner foi um dos pioneiros da psicologia experimental, sendo a data de
publicação do seu "Elementos de psicofísica" um dos marcos para o início da
psicologia enquanto ciência.
“Sempre me mostrei receptivo às ideias de Fechner e segui esse pensador em
muitos pontos importantes”.

Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872) - filósofo alemão, reconhecido pela


teologia humanista e pela influência que o seu pensamento exerceu sobre a
visão religiosa de Freud, que se manifesta na publicação do seu livro “O Futuro
de Uma Ilusão”. Freud via a religião como uma ilusão; a crença em Deus não
passava de uma neurose e Deus não passava de resultado dos desejos
humanos.
“Dentre todos os filósofos, reverencio e admiro muitíssimo esse homem.”

Charles Robert Darwin (1809 -1882) - naturalista britânico que alcançou fama
ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma
teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual. Esta
teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central para
explicação de diversos fenômenos na Biologia.
“ ... as teorias de Darwin, que eram então de interesse atual, atraíram-me
fortemente, pois ofereciam esperanças de extraordinário progresso em nossa
compreensão do mundo.”

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) - escritor e pensador alemão que


também incursionou pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das
mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos
finais do século XVIII e inícios do século XIX.
“ Desde a infância, meu herói secreto é GOETHE. Não fiz nada mais que levar
pacientes a agir como ele, isto é, a não ser mais alienados por um desejo que
não reconhecem como seu.”
Ernst Wilhelm von BRÜCKE - Uma influência muito especial - Fisiologista
alemão sob cuja supervisão Freud trabalhou por mais de seis felizes anos,
entre 1876 a 1882.
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

“ ... sob a inspiração de Brücke, a personalidade que teve mais influência na


minha vida”.

Franz Anton MESMER - Mesmer foi um médico austríaco que dedicou sua vida
na busca da cura de enfermidades, através de energias que ele pressentia
existir. Estudou o poder de atração do ímã e descobriu que o homem pode
curar o seu semelhante. Mesmer era doutor em medicina e filosofia, advogado,
teólogo e músico. Nasceu em Iznang, Áustria, em 1734, numa época em que
tudo deveria ser demonstrado matematicamente para ser aceito como verdade.
A condição de atração do ímã o intrigava e, mesmo sujeito a críticas, ele afirma
que o mundo não é um espaço vazio e inanimado, mas um todo onde ondas
invisíveis se cruzam e transpassam a todo o momento. Tais "misteriosas"
correntes produziriam reações mútuas que só a alma poderia perceber.

James Braid (1795-1860) - médico e cirurgião britânico.


Foi um dos pioneiros a trabalhar clínica e investigativamente com o estado
hipnótico. É considerado o iniciador da hipnose científica. Trabalhando com
hipnose, em 1842 cunhou o termo "hipnotismo" para se referir ao procedimento
de indução ao estado hipnótico. Essa escolha deveu-se a acreditar, na ocasião,
tratar-se de uma espécie de "sono artificial", numa alusão a Hipnos, deus grego
do sono. Reconhecido o equívoco — por ele mesmo — não mais foi possível
corrigir a impropriedade do termo, pois já se achava consagrado.
Foi somente assistindo a uma cirurgia efetuada por Mesmer com anestesia
geral provocada pelo uso da hipnose, que passou a estudar o processo vindo a
reformular a teoria de Mesmer.

Jean-Martin Charcot (1825-1893) - médico e cientista francês.


Alcançou fama no terreno da psiquiatria na segunda metade do século XIX. Foi
um dos maiores clínicos e professores de Medicina da França e fundador da
moderna neurologia. Durante as suas investigações, concluiu que a hipnose
era um método que permitia tratar diversas perturbações psíquicas, em
especial a histeria.

“Muitas das demonstrações de Charcot começaram por provocar em


mim e em outros visitantes um sentimento de assombro e uma inclinação para
o ceticismo, que tentávamos justificar recorrendo a uma das teorias do dia.”

PREDECESSORES

Josef Breuer - descobriu, em 1880, que ele havia aliviado os sintomas de


depressão e hipocondria (histeria) de uma paciente, Bertha Pappenheim,
depois de induzi-la a recordar experiências traumatizantes sofridas por ela na
infância. Para isso Breuer fez uso da hipnose e de um método novo, a terapia
da conversa.
Chamou a esse processo CATARSE. Breuer não publicou de imediato os
resultados do tratamento de Bertha, porém falou de seu método a Sigmund
Freud.
Em 1893 ambos publicaram em conjunto um artigo sobre o método
desenvolvido, e dois anos depois fizeram o livro que marcou o início da teoria
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

psicanalítica, "Estudos sobre a histeria”, que é considerado o marco inicial da


psicanálise.

A parceria entre os dois analistas foi interrompida, devido a Breuer não


aceitar o ponto de vista de Freud quanto a recordações infantis de sedução.
Freud acreditava que as suas pacientes tinham sido realmente seduzidas
quando crianças. Só mais tarde Freud reconheceu que Breuer estava certo ao
contestar, quando dissera que essas memórias eram fantasias infantis.

Se há um mérito por ter posto no mundo a psicanálise, esse mérito não


me pertence... Eu ainda era estudante... no momento em que um médico
vienense, o dr. Joseph Breuer, pela primeira vez utilizou esse modelo junto a
uma jovem histérica.
Paul Eugen Bleuler (1857-1939) - foi um psiquiatra suíço notável pelas suas
contribuições para o entendimento da esquizofrenia.
Estudou medicina em Zurique e mais tarde em Paris, Londres e Munique.
Em 1886 foi nomeado diretor da clínica psiquiátrica de Rheinau, que era
famosa pelo seu atraso e Bleuler melhorou condições para os pacientes que
viviam ali.
Bleuer é conhecido por nomear a esquizofrenia, doença que era anteriormente
conhecida como dementia praecox. Bleuler entendeu que a condição não era
uma demência ou exclusiva de indivíduos jovens.

Theodor Hermann Meynert - foi um psiquiatra austríaco nascido na cidade de


Dresden em 1833 e falecido em Klosterneuburg (Áustria) em 1891. Foi
professor em Viena a partir de 1870.

Em 1861 foi titulado doutor, e em 1875 se tornou diretor da clínica


psiquiátrica associada à Universidade de Viena. Um de seus melhores e mais
famosos alunos foi Sigmund Freud, que em 1883 trabalhou na clínica de
Meynert.
Meynert se distanciou de Freud por não aceitar suas práticas nos estudos da
histeria, como a técnica da hipnose. Meynert também ridicularizava a ideia de
Freud acerca da histeria em homens.

Johann Friedrich Herbart (1776-1841) - foi um filósofo e psicólogo alemão,


fundador da pedagogia como uma disciplina acadêmica.
Para Herbart, a mente funciona com base em representações – que podem ser
imagens, idéias ou qualquer outro tipo de manifestação psíquica isolada.

A dinâmica da mente estaria nas relações entre essas representações,


que nem sempre são conscientes. Elas podem se combinar e produzir
resultados manifestos ou entrar em conflito entre si e permanecer, em forma
latente, numa espécie de domínio do inconsciente.
A descrição desse processo viria, muitos anos depois, a influenciar a
teoria psicanalítica de Sigmund Freud.

BERNHEIM, Hippolyte (1840-1919) - Recusando as teorias fluídicas e


magnéticas, negando a ação do ímã e qualquer fenômeno "maravilhoso", fazia
do sono hipnótico ou provocado um estado fisiológico que se podia obter mais
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

ou menos facilmente em qualquer indivíduo. O estado de hipnose não era, de


modo algum, privilégio da histeria, e o mecanismo em jogo era a sugestão. Isso
equivalia a contradizer as teorias defendidas por Charcot.

Freud, "com a intenção de aperfeiçoar a sua técnica hipnótica" como ele


próprio relatou em "Minha vida e a psicanálise", passou várias semanas
durante o verão de 1889 a serviço de Bernheim, de quem até traduziu duas
obras importantes: Da sugestão e suas aplicações à terapêutica em 1889 e
Hipnotismo, sugestão, psicoterapia em 1892.
AMIGOS

Wilhelm Fliess (1858 — 1928) - foi um médico alemão, especializado em


cirurgia e otorrinolaringologia, mas que foi um protagonista importante da pré-
história da psicanálise. Fliess encontrou-se com Sigmund Freud em 1887, por
sugestão de Josef Breuer. Após assistir a algumas conferências de Freud em
Viena, formou fortes laços de amizade com ele, tornando-se seu confidente
frequente e apoiador moral para a maioria da atividades produtivas de Freud.
Iniciou atividades em psicanálise, e trocavam correspondência intensamente.
Fliess, não obstante, era mais do que um ouvinte crítico das idéias de Freud -
ele mesmo fez algumas contribuições científicas ambiciosas para a psiquiatria
da época, para as quais pediu a confirmação de Freud.

Alfred Ernest Jones (1879 – 1958) - foi um neurologista e psicanalista galês,


além de biógrafo oficial de Sigmund Freud. Como pioneiro da psicanálise em
língua inglesa e como Presidente da British Psycho-Analytical Society e da
Associação Psicanalítica Internacional em 1920 e 1930, Jones, tendo
aprendido o idioma alemão, a fim de ser capaz de compreender as ideias de
Freud com mais clareza, exerceu inigualável influência na difusão da
psicanálise tanto na Inglaterra como na América. Seu último grande trabalho foi
a biografia autorizada de Freud, que publicou entre 1953 e 1957.

Stefan Zweig (Viena, 1881-Brasil, 1942) - foi um escritor austríaco de


ascendência judaica. Filho de uma família burguesa e educado na Áustria, na
França e na Alemanha, Stefan Zweig graduou-se em filosofia e letras.
Seu círculo de amizades incluía Sigmund Freud, com o qual se correspondeu
entre 1908 e 1939. Escreveu "Brasil, um país do futuro", que constitui não só
um retrato do Brasil, como também uma interpretação do espírito brasileiro.
Suicidou-se no Brasil, em Petrópolis, onde veio a residir após ter residido em
Inglaterra, depois de decidir-se pelo exílio voluntário da Áustria, então sob
dominação alemã.

DISCÍPULOS E COLABORADORES

Carl Gustav Jung (Kesswil, 1875 -1961- Küsnacht) - foi um psiquiatra suíço e
fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.

Alfred Adler (Viena, 1870 — Aberdeen, 1937) - psicólogo austríaco. Filho de


judeus húngaros, formou-se em medicina, psicologia e filosofia pela
Universidade de Viena. Praticou clínica geral antes de se dedicar à psiquiatria.
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

Em 1902 foi trabalhar com Sigmund Freud, realizando pesquisas no campo da


psicanálise.
Mais tarde, desliga-se dele por considerar o fator sexual superestimado por
Freud. Adler é o fundador da psicologia do desenvolvimento individual.

Sándor Ferenczi (Miskolc, 1873- Budapeste, 1933) - foi um psicanalista


húngaro.
Foi um dos mais íntimos colaboradores de Freud, tornou-se famoso pelas
experiências psicanalíticas. Formou-se em medicina aos 21 anos pela
universidade de Viena. Conheceu Freud em 1908 e já se especializava em
neurologia e neuropatologia e depois estudou hipnose. Sua publicação mais
importante foi “The Development of Psychoanalysis” (1924), em parceria com
Otto Rank. Ferenczi foi responsável pela terapêutica do “aqui e agora”, que
motivou Carl Rogers mais tarde a desenvolver a sua Abordagem Centrada na
Pessoa.

Otto Rank (1884,Viena - 1939,Nova Iorque) - Psicanalista e psicólogo


austríaco.
Na sua juventude, entrou para o círculo de discussão de Freud e, em 1906,
tornou-se secretário da Sociedade Psicanalítica de Viena. Rank explorou
também o conceito de inconsciente social.
Divergindo de Freud, que valorizava o complexo de Édipo, Rank deu
importância ao trauma, fator principal na psiconeurose, pois considerava que a
ansiedade neurótica era uma repetição do fenômeno fisiológico do nascimento.
Nesse sentido, Rank procurou diminuir o tempo da terapia psicanalítica para
apenas alguns meses. O psicólogo preocupou-se ainda em clarificar o
significado profundo dos mitos, utilizando, para isso, as técnicas freudianas.

SEUS SUCESSORES

Anna Freud - Foi a sexta e última filha do casal Sigmund e Martha Freud.
Conhecida como uma das personalidades mais importantes da psicanálise
infantil, Anna Freud foi a única a seguir os passos do pai no campo da
psicanálise, sendo intérprete e defensora constante de suas teorias. Seu
primeiro caso de análise de criança foi W. Ernest Freud, um sobrinho que ela
tratou em duas ocasiões.
Teve várias divergências com Melanie Klein, psicanalista dissidente do
freudismo ortodoxo, que fundou a escola inglesa.

Foi a primeira a dar ênfase ao ego na personalidade. não rejeitando as


forças do id e as restrições do superego, Anna Freud concebeu o ego humano
com certa funcionalidade pró-ativa e independente. Ela também é responsável
pelo estudo dos mecanismos de defesa, tema sobre o qual ela estudou mais a
fundo.

Melanie Klein (Viena, 1882 — Londres, 1960) foi uma psicanalista austríaca.
Em geral é classificada como uma psicoterapeuta pós-freudiana. Melanie Klein
foi pioneira na Psicanálise Infantil. Considerava que o modo de expressão
natural da criança é o brincar. Na sua abordagem analítica, disponibilizava
miniaturas diversas para a brincadeira das crianças, pois reconhecia o lúdico
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

como expressão simbólica de sua vida interior, tal como a associação livre dos
adultos. Interpretava a brincadeira infantil e o comportamento da criança
juntamente com a sua comunicação verbal. Para Melanie Klein, a análise
infantil só deveria ser assumida por profissionais altamente qualificados e com
longa experiência com a análise de adultos.

Donald Woods Winnicott (1896 -1971) - pediatra e psicanalista inglês.


Em 1927 Winnicott foi aceito como iniciante na Sociedade Britânica de
Psicanálise, qualificado como analista em 1934 e como analista de crianças em
1935.
O tratamento de crianças mentalmente transtornadas e das suas mães lhe deu
a experiência com a qual ele construiria a maioria das suas originais teorias.
E o curto período de tempo que ele poderia dedicar-se a cada caso o conduziu
ao desenvolvimento das suas "inter - consultas terapêuticas." outra inovação
da prática clínica que introduziu.

Jacques-Marie Émile Lacan (Paris,1901-Paris,1981) foi um psicanalista


francês.
Formado em Medicina, passou da neurologia à psiquiatria.
Teve contato com a psicanálise através do surrealismo e a partir de 1951,
afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado, propõe um retorno a
Freud. Para isso, utiliza-se da lingüística de Saussure e da antropologia
estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo.
Seu ensino é primordialmente oral, dando-se através de seminários e
conferências. Em 1966 foi publicada uma coletânea de 34 artigos e
conferências, os Écrits (Escritos). A partir de 1973 inicia-se a publicação de
seus 26 seminários, sob o título Le Séminaire (O Seminário).

SUAS CASAS

Em 1938, depois que a Áustria foi anexada pelos nazistas, Freud,


relutantemente, deixou Viena, onde vivia e trabalhava (no famoso endereço,
Bergasse, 19), e transferiu-se com a família para Londres. A mudança foi
penosa para o homem idoso e doente – lutando com um câncer, ele viria a
falecer em setembro do ano seguinte. Na casa aprazível no noroeste da capital
inglesa Freud pôde contar com um ambiente confortável e, muito importante,
com o apoio da família. Moravam com ele a esposa, Martha, a cunhada Minna,
a empregada, Paula Fichtl, e a filha, e também terapeuta, Anna.
Extraordinariamente dedicada ao pai, ela continuou vivendo ali até morrer, em
1982.

Casa onde Freud nasceu

A casa na qual Freud viveu seus últimos dias, em Londres, foi reconstituída por
seu filho Ernst Freud, arquiteto, baseando-se no apartamento no qual seu pai
viveu cerca de 50 anos, em Viena.

ESTRUTURA TEÓRICA
(Principais conceitos)
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

“As teorias da resistência e da repressão, do inconsciente, da significância


etiológica da vida sexual e da importância das experiências infantis – tudo isto
forma os principais constituintes da estrutura teórica da psicanálise.”

DETERMINISMO PSÍQUICO - Freud afirmou que nada ocorre por acaso e


muito menos os processos mentais. Há uma causa para cada pensamento,
para cada memória revivida, sentimento ou ação. Cada evento mental é
causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos
que o precederam. CONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE, INCONSCIENTE

Consciente: O consciente é somente uma pequena parte da mente, inclui tudo


do que estamos cientes em um dado momento. Embora Freud estivesse
interessado nos mecanismos da consciência, seu interesse era muito maior
com relação às áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele
denominava pré-consciente e inconsciente.

Inconsciente: Para Freud há conexões entre todos os eventos mentais. Quando


um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos pensamentos
e sentimentos que o precedem, as conexões estão no inconsciente. Uma vez
que estes elos inconscientes são descobertos, a aparente descontinuidade
está resolvida. No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram
conscientes e que não são acessíveis à consciência. Além disto, há material
que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é
esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser lembrado. O pensamento ou
a memória ainda afetam a consciência, mas apenas indiretamente. Há uma
vivacidade e imediatismo no material inconsciente. Memórias muito antigas
quando liberadas à consciência, não perderam nada de sua força emocional. A
maior parte da consciência é inconsciente. Ali estão os principais
determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica, e pulsões ou
instintos.

Pré-Consciente: É uma parte do inconsciente, mas uma parte que pode tornar-
se consciente com facilidade. As porções da memória que são acessíveis
fazem parte do pré-consciente, ele é como uma vasta área de posse das
lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções.

INSTINTOS BÁSICOS – Eros e Tanatos, Princípios do Prazer e da Realidade


“Combinei os instintos para a preservação da espécie sob o conceito de EROS
e contrastei com ele um instinto de morte ou destruição que atua em silêncio. O
quadro que a vida nos apresenta é o resultado da ação simultânea e
mutuamente oposta de EROS e do instinto de morte”.

Freud desenvolveu duas descrições dos instintos básicos. O primeiro


modelo descrevia duas forças opostas, a sexual (ou, de modo geral, a erótica,
fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Estas forças são vistas
como ou mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte (ou destruição).
Ambas as formulações pressupõem dois conflitos instintivos básicos,
biológicos, contínuos e não-resolvidos. Este antagonismo básico não é
necessariamente visível na vida mental pois a maioria de nossos pensamentos
e ações é evocada não por apenas uma destas forças instintivas, mas por
Vida e Obra de Freud | APOSTILA 2020

ambas em combinação. Os instintos são canais através dos quais a energia


pode fluir. Esta energia obedece às suas próprias leis.
LIBIDO - Libido (da palavra latina para "desejo" ou "anseio") é a energia
aproveitável para os instintos de vida. A libido tem como característica a sua
mobilidade, isto é, a facilidade com que pode passar de uma área de atenção
para outra.
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE (SEGUNDA TÓPICA)
“Em meus mais recentes trabalhos entreguei-me à tarefa de dissecar nosso
aparelho mental e o dividi em EGO, ID e SUPEREGO. O superego é o herdeiro
do complexo edipiano e representa os padrões éticos da humanidade”. Freud
ordenou três componentes básicos estruturais da psique: o id, o ego e o
superego.

O Id: Contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento, que
está presente na constituição. É a estrutura da personalidade original, básica e
mais central, exposta tanto às exigências somáticas do corpo como aos efeitos
do ego e do superego. Embora as outras partes da estrutura se desenvolvam a
partir do id, ele próprio é amorfo, caótico e desorganizado. Impulsos
contraditórios existem lado a lado, sem que um anule o outro, ou sem que um
diminua o outro.

O Ego: É a parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade


externa. Como a casca de uma árvore, ele protege o id mas extrai dele a
energia, a fim de realizar isto. Tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e
sanidade da personalidade. O ego se esforça pelo prazer e busca evitar o
desprazer. O ego é originalmente criado pelo id na tentativa de enfrentar a
necessidade de reduzir a tensão e aumentar o prazer. Para fazer isto, o ego,
por sua vez, tem de controlar ou regular os impulsos do id de modo que o
indivíduo possa buscar soluções menos imediatas e mais realistas.

O Superego: Atua como um juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos


do ego. É o depósito dos códigos morais, modelos de conduta e dos
constructos que constituem as inibições da personalidade. Freud descreve três
funções do superego: consciência, auto-observação e formação de ideais.

FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO

Fase Oral: Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão ambas


concentradas predominantemente em volta dos lábios, língua e, um pouco,
mais tarde, dos dentes. A pulsão básica do bebê não é social ou interpessoal, é
apenas receber alimento para atenuar as tensões de fome e sede. No início,
ela associa prazer e redução da tensão ao processo de alimentação.
Características adultas que estão associadas à fixação parcial na fase oral:
fumantes, pessoas que costumam comer demais, gostar de fazer fofoca,
sarcasmo.

Fase Anal: À medida que a criança cresce, novas áreas de tensão e


gratificação são trazidas à consciência. Entre dois e quatro anos, as crianças
geralmente aprendem a controlar os esfíncteres anais e a bexiga. A obtenção
do controle fisiológico é ligada à percepção de que esse controle é uma nova
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fonte de prazer. Características adultas que estão associadas à fixação parcial


nesta fase: ordem, parcimônia e obstinação.

Fase Fálica: É a fase que focaliza as áreas genitais do corpo. É o período em


que uma criança se dá conta de seu pênis ou da falta de um. É a primeira fase
em que as crianças tornam-se conscientes das diferenças sexuais. Nesta fase
é vivida a primeira etapa do Complexo de Édipo (a segunda será vivenciada na
adolescência). Na infância, todo complexo é reprimido. Mantê-lo inconsciente,
impedi-lo de aparecer, evitar até mesmo que se pense a respeito ou que se
reflita sobre ele, essas são algumas das primeiras tarefas do superego em
desenvolvimento.

Período de Latência: Na idade de 5 a 6 anos até o começo da puberdade, é


compreendido como um tempo em que os desejos sexuais não-resolvidos da
fase fálica não são atendidos pelo ego e cuja repressão é feita, com sucesso,
pelo superego. Durante este período, a sexualidade normalmente não avança
mais, pelo contrário, os anseios sexuais diminuem de vigor e são abandonadas
e esquecidas muitas coisas que a criança fazia e conhecia.

Fase Genital: A fase final do desenvolvimento biológico e psicológico ocorre


com o início da puberdade e o consequente retorno da energia libidinal aos
órgãos sexuais. Neste momento, meninos e meninas estão ambos conscientes
de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer
suas necessidades eróticas e interpessoais.

SONHOS “...a psicanálise conseguiu alcançar uma coisa que parecia não ser
de importância prática alguma, mas que de fato conduziu necessariamente a
uma atitude totalmente nova e a uma nova escala de valores no pensamento
científico. Tornou-se possível provar que os sonhos têm um significado, e
descobri-lo.”
Os sonhos são a disfarçada satisfação de um desejo infantil reprimido,
expresso como uma experiência alucinatória durante o sono. Freud chama o
sistema de transformações (condensação, deslocamento, representação,
elaboração secundária) que articula esses dois níveis (conteúdos manifesto e
latente) de 'trabalho do sonho', o qual se organiza através de processos de
simbolização.
COMPLEXO DE ÉDIPO - Inspirado pela lenda grega, Oedipus Rex, de
Sófocles, Freud descobriu o Complexo de Édipo durante sua auto-análise. O
Complexo de Édipo (3-5 anos de idade) é uma peculiar constelação de desejos
amorosos e hostis que a criança vivencia em relação aos seus pais no pico da
fase fálica. Em sua forma positiva, o rival é o genitor do mesmo sexo e a
criança deseja uma união com o genitor do sexo oposto. Em sua forma
negativa, o rival é o genitor do sexo oposto, enquanto que o genitor do mesmo
sexo é o objeto de amor.

Em "A Dissolução do Complexo de Édipo" Freud diz: “Quando o ego não


conseguiu provocar mais do que um recalcamento do complexo, este
permanece no id no estado inconsciente; mais tarde irá manifestar sua ação
patogênica”.
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RELIGIÃO x PSICANÁLISE

“Nem em minha vida privada nem em meus escritos, jamais fiz segredo
de minha absoluta falta de fé.”
Para Freud, a religião surgiu de uma necessidade de defesa contra as forças
da natureza, como todas as outras realizações da civilização. No indivíduo, ela
surge do desamparo. Esse desamparo é inicialmente o desamparo da criança,
e posteriormente, o desamparo do adulto que a continua. A mãe, que satisfaz a
fome da criança, torna-se seu primeiro objeto amoroso e também sua primeira
proteção contra os perigos do mundo externo - a primeira proteção contra a
ansiedade.

Na função de proteção, a mãe é substituída posteriormente pelo pai


mais forte, que retém essa posição pelo resto da infância. Mas a relação com o
pai é uma relação ambivalente: o próprio pai é também um perigo para a
criança, talvez por causa de sua relação com a mãe. Assim, a criança teme e
admira o pai.

Quando o indivíduo cresce e descobre que está destinado a permanecer


uma criança para sempre, que nunca poderá passar sem proteção contra os
poderes superiores (da morte, da natureza, etc), empresta a esses poderes as
características pertencentes à figura do pai; cria para si próprio os deuses a
quem teme e, não obstante, confia sua própria proteção.

Sendo assim, Freud afirma que "é a defesa contra o desamparo infantil
que empresta suas feições características à reação do adulto ao desamparo
que ele tem de reconhecer - reação que é, exatamente, a formação da
religião."
Mais tarde ele diz: "Assim, a religião seria a neurose obsessiva das crianças,
ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai."
Freud observa, porém, que as religiões estão cheias das mais gritantes
contradições e discordâncias com a realidade que conhecemos. Então, ele se
pergunta: Sendo as religiões contraditórias, de onde vem a sua força? Onde
reside a força interior das doutrinas religiosas, independentes, como são, do
reconhecimento da razão? A isso ele responde dizendo que as ideias religiosas
são ilusões, realizações dos mais antigos, fortes e prementes desejos da
humanidade. O segredo de sua força reside na força desses desejos.

Uma ilusão, porém, é diferente de um erro. As ilusões não precisam ser


necessariamente falsas, ou seja, irrealizáveis ou em contradição com a
realidade. Ele cita como exemplo uma mulher que tem a ilusão de que um
príncipe encantado virá buscá-la, casar-se com ela e lhe dar filhos. Isso em si
não está em contradição com a realidade, e nem é irrealizável, pois essas
coisas já aconteceram algumas vezes. Então, ele afirma que o que é
característico das ilusões é o fato de derivarem de desejos humanos.

Freud afirma: "O crente está ligado aos ensinamentos da religião por
certos vínculos afetivos. Contudo, indubitavelmente existem inumeráveis outras
pessoas que não são crentes, no mesmo sentido." Isto é, a causa tanto da
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crença quanto da descrença são primariamente emocionais, e só


secundariamente racionais.

“Dos três poderes (arte, filosofia e religião ) que podem contestar o


território da ciência, somente a religião representa um perigo real.”
“Não sei se você adivinhou a ligação secreta entre meu livro sobre a análise
leiga e meu ‘Futuro de uma ilusão’. No primeiro, procuro proteger a psicanálise
dos médicos, e no último, dos sacerdotes.” Carta a Pfister, em 1928.

“Em si mesma, a psicanálise não é nem religiosa, nem o contrário, mas


um instrumento imparcial que o sacerdote pode empregar tanto quanto o leigo
na libertação dos sofredores.” Carta a Oskar Pfister, em 1907.

No geral, podemos ver essa teoria de Freud, se verdadeira, da seguinte


perspectiva: se Deus não existe, então a teoria de Freud é uma explicação
muito plausível de como se originou a crença religiosa e a ideia de Deus. Por
outro lado, se Deus existe, esta teoria pode esclarecer o mecanismo do qual
Ele nos dotou para pudéssemos reconhecer a sua existência e sentir a
necessidade de estabelecer com Ele um relacionamento.

Tratava-se de determinar o que a religião pudera fazer, e o que poderia


fazer no futuro, para o progresso da civilização. O principal interesse não era
mostrar que ela é uma ilusão. Tratava-se antes de determinar o papel que essa
ilusão desempenhara e aquele que ainda poderia desempenhar.

A religião foi útil ao contribuir para domesticar as pulsões associais. Mas


não foi capaz de tornar os homens mais morais e lhes infligiu tantos tormentos
quantos lhes retirou. A verdade poderia fazer mais. Assim, o que Freud opôs à
religião foi a ciência. A ciência de que Freud falava não é, evidentemente,
unicamente a ciência positiva; é todo o saber que visa unicamente à verdade. E
a psicanálise faz parte dela.

Tentar elucidar a questão da origem das religiões era, para Freud, correr
o risco de provocar ruptura com Jung; esta não lhe desagradaria, desde que
isso não ocorresse por iniciativa direta dele próprio.

“Posso dizer que sempre me mantive tão afastado da religião judaica


quanto das outras, o que significa que elas têm a meus olhos uma grande
importância como objetos de pesquisa científica, mas não partilho os
sentimentos dos fiéis. Em contrapartida, sempre me senti solidário com meu
povo e sempre incentivei meus filhos ao mesmo. Todos nós conservamos a
qualidade de judeus.”
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OBRAS DE FREUD 1893 Sobre O Mecanismo Psíquico Dos


Fenômenos Histéricos: Comunicação
Preliminar (Breuer E Freud)
1894 As Neuropsicoses De Defesa
1895 Projeto Para Uma Psicologia Científica
1895 Estudos Sobre A Histeria (Freud E
Breuer)
1896 A Etiologia Da Histeria
1898 A Sexualidade Na Etiologia Das
Neuroses
1899 Lembranças Encobridoras
1900 A Interpretação Dos Sonhos
1901 Sobre Os Sonhos
1901 Sobre A Psicopatologia Da Vida
Cotidiana
1905 Três Ensaios Sobre A Teoria Da
Sexualidade
1905 Os Chistes E Sua Relação Com O
Inconsciente
1907 Delírios E Sonhos Na "Gradiva" De
Jensen
1907 O Esclarecimento Sexual Das Crianças
1908 Caráter E Erotismo Anal
1908 Sobre As Teorias Sexuais Das Crianças
1908 Moral Sexual "Civilizada" E Doença
Nervosa Moderna
1908 Escritores Criativos E Devaneio
1909 Análise De Uma Fobia Em Um Menino
De Cinco Anos (O Pequeno Hans)
1909 Notas Sobre Um Caso De Neurose
Obsessiva (O Homem Dos Ratos)
1910 Cinco Lições De Psicanálise
1910 Leonardo Da Vinci E Uma Lembrança
De Sua Infância
1910 A Significação Antitética Das Palavras
Primitivas
1910 Um Tipo Especial De Escolha De Objeto
Feita Pelos Homens
1911 Notas Psicanalíticas Sobre Um Relato
Autobiográfico De Um Caso De
Paranoia (O Caso Schreber)
1912 Sobre A Tendência Universal À
Depreciação Na Esfera Do Amor
1913 Totem E Tabu
1914 O Moisés De Michelangelo
1914 A História Do Movimento Psicanalítico

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