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78-83 (Dez 2014 - Fev 2015) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR
RESUMO 1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva externar através de revisões de Problemas com ansiedade, insônia e outras mazelas
literatura analisar a efetividade de Valeriana officinalis L., no acometem muitas pessoas devido a diversos fatores,
tratamento de ansiedade e insônia como alternativa ao trata- desde predisposições genéticas, fatores ambientais, a
mento convencional com medicamentos controlados. A espécie
vida urbana cada vez mais estressante e conturbada dos
vegetal contém, principalmente, valepotriatos, sesquiterpenos e
lignanas. Seus mecanismos de ação incluem: atuar na forma- dias de hoje. Essa pode ser uma explicação ao uso in-
ção reticular por meio de um efeito estabilizante sobre os cen- tenso de medicamentos psicotrópicos, que são prescritos
tros vegetativos e emocionais, restaurando o equilíbrio autô- como tratamento para estes males1.
nomo-fisiológico; inibir a GABA transaminase no SNC; atuar Os sintomas dos distúrbios de ansiedade são amplos,
como agonista parcial de receptores de adenosina. A Valeriana onde os mais característicos são insônia, dificuldade em
é uma das plantas medicinais mais popularmente utilizados na
insônia, possui segurança relativamente alta, apresenta menos
iniciar o sono, fadiga, dores no peito, vômitos, espasmos
efeitos colaterais, não causa dependência e é bastante acessível e tremores, arrepios, mãos úmidas, dentre outros. Con-
à população. Entretanto, não há um consenso científico comum forme Castillo et al.2, ansiedade é um sentimento vago e
quanto aos exatos princípios ativos da Valeriana, assim, sua desagradável de medo, apreensão, caracterizado por
efetividade pode resultar da ação de um único composto e, de tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo,
forma mais provável, da interação entre compostos múltiplos de algo desconhecido ou estranho.
(fitocomplexos). Todavia, ela representa um futuro promissor
como alternativa no tratamento da insônia e ansiedade. A palavra ansiedade provém do grego, que significa
“estrangular, sufocar, oprimir3. Houaiss4, define a ansie-
PALAVRAS-CHAVE: Fitoterápico, valeriana, insônia, ansi- dade como um “estado afetivo penoso, caracterizado
edade. pela expectativa de algum perigo que se revele indeter-
minado e impreciso, e diante do qual o indivíduo se jul-
ABSTRACT ga indefeso”. Ou então, simplesmente como definem
Novaes et al.5 a ansiedade pode ser compreendida como
This paper aims to express, through literature reviews, analyzing uma resposta do ser humano ao desconhecido. Para Co-
the effectiveness of Valeriana officinalis L. in the treatment of
anxiety and insomnia as an alternative to conventional treatment êlho e Tourinho6, as elaborações revisadas sugerem, que
with prescription drugs. The plant species contains mainly valepo- a ansiedade, como problema clínico, pode guardar rela-
triates lignans and sesquiterpenes. Their mechanisms of action ção com repertórios de autocontrole. A ansiedade e o
include acting in the reticular formation through a stabilizing effect medo para Castillo et al.2, passam a ser reconhecidos
on the vegetative and emotional centers, self-restoring physiologi- como patológicos quando são exagerados, despropor-
cal balance; inhibit GABA transaminase in the CNS; act as a par-
cionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente di-
tial agonist of adenosine receptors. Valeriana is a medicinal plant
popularly used in insomnia, has relatively high security, has fewer versos do que se observa como norma numa faixa etária
side effects, is not addictive and is very accessible to the popula- e interferem com a qualidade de vida, o conforto emo-
tion. However, there is no common scientific consensus on the cional ou o desempenho diário do indivíduo. Tais rea-
exact active principles of Valeriana, so its effectiveness can result ções exageradas ao estímulo ansiogênico se desenvol-
from the action of a single compound and, most likely on the inte- vem, mais comumente, em indivíduos com uma predis-
raction between multiple compounds (fitocomplexos). However, it
represents a promising future as an alternative in the treatment of
posição neurobiológica herdada Castillo et al.2
insomnia and anxiety. Enfermidades ou sintomas relacionados com insônia
e ansiedade, dentre muitos outros fatores desencadeantes,
KEYWORDS: Phytotherapic, valeriana, insomnia, anxiety.
podem ter seu aparecimento favorecido pelo modo de Um dos vegetais mais empregados no Brasil para
vida atual, e a grande pressão que esta exerce nas pesso- tratamento da ansiedade (tabela 1) é a Valeriana offici-
as. Na sociedade atualmente, devido ao estilo de vida da nalis L., conhecida popularmente como Valeriana. Suas
população, a correria, o trânsito, a, cobrança de resultado raízes compreendem órgãos subterrâneos como o rizoma,
no trabalho, as múltiplas tarefas, a concorrência faz com as raízes e os estolhos9, e são empregadas para produção
que toda a população esteja exposta a esse distúrbio. de medicamentos fitoterápicos.
É o distúrbio do sono que mais acomete a população Seus constituintes químicos são: o óleo essencial,
e tem sido associado com a diminuição no desempenho que abrange monoterpenos, sesquiterpenos, ácidos car-
do trabalho, o aumento na incidência de acidentes de, boxílicos, valpotriatos, aminoácidos, alcaloides, flavo-
carro, e maior propensão às doenças1. noides, dentre outros9. Com base na informação dispo-
Segundo Secchi e Virtuoso1 a insônia é um distúrbio nível dos estudos científicos, o efeito farmacodinâmico
do sono que consiste na incapacidade de iniciar ou man- da valeriana ajuda a promover e restaurar o sono natural
ter o sono, ou ter uma duração e qualidade adequada após pelo menos 2-4 semanas de uso.
para restaurar a energia e o estado de vigília normal. Assim, o objetivo deste trabalho foi compilar dados
Isso faz com que o indivíduo acometido diminua seu sobre a efetividade da Valeriana no tratamento da insônia
rendimento, e fique mais propício a enfermidades. e ansiedade.
Cerca de 30% da população mundial sofre de insônia,
sendo mais frequente em pacientes idosos com ou sem
patologia crônica, mas apenas 10% recebem tratamento 2. MATERIAL E MÉTODOS
adequado1. Para realização deste trabalho, foi empregado o mé-
Bastien et al7, demonstraram que a família, trabalho todo de Revisão Literária, onde foram realizadas pes-
ou escola e eventos de saúde são os mais comuns fatores quisas sobre a efetividade da Valeriana officinalis
desencadeantes de insônia. Devido à rotina diária e a- L.,como alternativa no tratamento de insônia e ansiedade,
presentação de rendimentos, elevando o índice de es- compreendendo uma revisão literária de dezenas de ar-
tresse. tigos científicos, presentes no Google a Acadêmico,
O tratamento para a ansiedade inclui a psicoterapia, Google Sciello ; bem como pesquisas em livros que a-
realização de atividades físicas, e tratamento medica- brangem fitoterápicos , toxicologia, botânica, envol-
mentoso, classicamente representados pelos ansiolíticos vendo diversos temas desde a composição química, a
e antidepressivos1. efetividade até a racionalidade no uso de fitoterápicos.
Entre os medicamentos utilizados para o tratamento Foram realizadas também pesquisas no bulário oficial da
da ansiedade e insônia, encontram-se os benzodiazepí- ANVISA, onde foram coletadas informações impor-
nicos, que são os mais prescritos para este fim, como por tantes sobre fármacos psicotrópicos, com objetivo de
exemplo, alprazolam, diazepam, clonazepam, fluraze- compilar dados sobre a efetividade da Valeriana offici-
pam, lorazepam, dentre outros. Porém, de uma maneira nalis L.,no tratamento de insônia e ansiedade.
geral, seu uso prolongado produz efeitos adversos como
dependência, sedação diurna (ressaca), má qualidade do 3. DESENVOLVIMENTO
sono, o que induz a busca por tratamentos alternativos
seguros entre eles os produtos fitoterápicos8. Valeriana officinalis L.
Alguns antidepressivos também são recomendados A Valeriana é uma planta perene nativa da Europa e
para certas formas de ansiedade e/ou insônia. Dentre da Ásia, e naturalizada na América do Norte. O gênero
alguns exemplos, estão a sertralina, paroxetina, fluoxe- Valeriana, pertencente à família Valerianaceae, ordem
tina, venlafaxina, buspirona, dentre outros, que também Dipsacales, inclui mais de 250 espécies12. A espécie de
causam uma série de efeitos colaterais, que será mostra- Valeriana mais comumente utilizada na terapêutica é a
do mais adiante. Valeriana officinalis, apesar de V. edulis (Valeriana me-
O medicamento fitoterápico é obtido exclusivamente xicana) e V. wallichii (Valeriana indiana) também serem
de espécies vegetais, não pertencendo a essa classe, por- utilizadas13.
tanto, aqueles que possuem em sua composição substân- A composição química da Valeriana varia de acordo
cias ativas isoladas, mesmo sendo originários de plantas, com a subespécie, variedade, idade da planta, condições
produzidos sinteticamente ou associados com extratos de crescimento, idade e tipo do extrato14. A raiz de Vale-
vegetais1. riana contém muitos componentes, entre eles estão os
No Brasil, todos os fitoterápicos são regulamentados monoterpenos bicíclicos (valpotriatos – valtrato e dihi-
como medicamentos convencionais e, por conseguinte drovaltrato), óleos voláteis (valeranona, valerenal e áci-
são submetidos aos mesmos testes de qualidade, segu- dos valerênicos), sesquiterpenos, lignanas e alcalóides.
rança, eficácia e toxicidade solicitados pela ANVISA Também estão presentes aminoácidos livres, como o
para todos os medicamentos1. ácido gama-aminobutírico (GABA), tirosina, arginina e
glutamina15. Os valpotriatos estão presentes somente na Podem eventualmente existir em pequenas quantida-
planta fresca. des se a secagem for realizada em uma temperatura infe-
Tabela 1. Plantas medicinais, mais conhecidas e utilizadas no trata- rior a 40˚C, uma vez que são altamente instáveis e d e-
mento de ansiedade e insônia. compõem-se facilmente pelo calor, umidade ou varia-
NOME NOME
ções de PH, originando outros compostos1. Além disso,
REFERÊNCIA são insolúveis em água, existindo apenas em preparações
POPULAR CIENTÍFICO
Schulz V, Hansel R, Tyler VE. Fitoterapia não aquosas. A decomposição dos valpotriatos produz
Valeriana offici- racional: um guia de fitoterapia para as
Valeriana
nalis ciências da saúde. 4ª ed. São Paulo: Ma- pequenas quantidades do ácido isovalérico, que é res-
nole; 200210 ponsável pelo odor característico desagradável da plan-
Brasil. Ministério da Saúde. A fitoterapia
no SUS e o programa de pesquisas de
ta1.
Maracujá Passiflora edulis
plantas medicinais da central de medica- Tabela 2. Medicamentos benzodiazepínicos mais utilizados para ansi-
mentos. Brasília; 200611.
edade e/ou insônia e seus respectivos efeitos colaterais16.
Capim santo Brasil. Ministério da Saúde. A fitoterapia
Capim limão Cimbopogon no SUS e o programa de pesquisas de Princípio
Efeitos adversos mais comumente observados
Capim de citratus plantas medicinais da central de medica- Ativo
cheiro mentos. Brasília; 200611. Tontura, vertigem, sedação, sonolência, nervosismo,
Brasil. Ministério da Saúde. A fitoterapia ansiedade, cefaléia, depressão, taquicardia, confu-
Funcho, erva Fueniculum no SUS e o programa de pesquisas de Alprazolam
são, falta de coordenação, insônia, náuseas, diarréia,
doce vulgare plantas medicinais da central de medica- comprometimento de memória, etc.
mentos. Brasília; 200611.
Sonolência, cansaço, relaxamento muscular, confu-
Schulz V, Hansel R, Tyler VE. Fitoterapia
Melissa racional: um guia de fitoterapia para as Diazepam são mental, depressão, cefaléia, depressão circulató-
Erva cidreira ria, efeitos paradoxais, dentre outros.
officinalis ciências da saúde. 4ª ed. São Paulo: Ma-
nole; 200210. Sonolência, vertigem, cefaléia, fraqueza muscular,
Schulz V, Hansel R, Tyler VE. Fitoterapia ataxia, fraqueza muscular, distúrbios gastrintestinais,
Piper racional: um guia de fitoterapia para as Flurazepam
Kava kava alterações da libido, confusão mental, efeitos para-
metbysticum ciências da saúde. 4ª ed. São Paulo: Ma- doxais, etc.
nole; 200210.
Sedação, fadiga, sonolência, depressão, fraqueza
Lorazepam muscular, tontura, confusão, pressão arterial baixa,
etc.
Sonolência, náuseas, vômito, depressão, fraqueza
Clonazepam geral, cefaléia, lentidão de reações, confusão mental,
etc.
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