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Por que não conferimos à educação a prioridade indisputada que lhe cabe?
Quando jovem estudante, na década de 90, Priscila Cruz costumava dedicar suas manhãs de sábado ao
trabalho voluntário numa escola da periferia de São Paulo. A escola era no bairro de Jardim Varginha —
mais um a carregar o nome de “jardim”, copiado do Jardim América e do Jardim Europa, para designar,
num arroubo de otimismo, ou de desencantada ironia, um lugar de escassas árvores. Priscila dava aulas
de reforço de matemática a alunos muito pobres, cuja trajetória escolar era, de ano para ano, um acúmulo
de defasagens. Ela não sabe o nome do menino que um dia se aproximou para anunciar uma resolução.
Mas nunca se esqueceu do que ele lhe disse:
Priscila Cruz, formada em administração pela Fundação Getulio Vargas e em direito pela USP, com
especializações nos Estados Unidos, é hoje a presidente executiva do Todos pela Educação, movimento
voltado para a mobilização da sociedade civil pela melhoria do ensino. Ela contou a história do menino
sem nome numa recente palestra TED — curtas apresentações sobre diferentes assuntos, patrocinadas
pela fundação americana Sapling, que podem ser vistas no YouTube. Na ampla gama de sentidos que a
palavra “inclusão”, tão insistente nestes dias, nos oferece, a frase do menino merece lugar de honra. É
ao mesmo tempo uma resignação, um lamento e um protesto, o cúmulo da autoexclusão e uma pungente
denúncia das iniquidades sociais. Para Priscila, tal qual revelou na palestra, foi uma epifania.
O menino da frase foi mesmo embora. A conclusão de que educação não era para ele definiu seu
caminho. A Priscila, hoje uma das maiores autoridades em educação do país, ele legou o sacolejão que,
diz ela, tirou-a de sua “bolha”. Na palestra, Priscila desfia, como numa sucessão de silogismos, verdades
tão simples que chocam. Começa com a exibição, na tela ao fundo, de três manchetes que os brasileiros
anseiam por ver um dia. A primeira: “Brasil acelera o crescimento com forte redução da desigualdade”. A
segunda: “Queda vertiginosa dos índices de violência coloca o Brasil entre os países mais seguros”. A
terceira: “Brasil lidera produção científica de ponta e muda sua matriz econômica”. A cada enunciado ela
faz pausas e comenta: “Já imaginou?”, “Não é o sonho de todos nós?”. Na conclusão, adverte que, para
a realização de cada uma dessas manchetes, tem de vir primeiro outra: “Brasil é o país que mais cresce
no Pisa na última década e encosta na elite da educação mundial”.
Tudo grita, de tão óbvio. É óbvio que sem educação pública de qualidade continuaremos a patinar na
desigualdade, e é óbvio que sem avançar na redução da desigualdade continuaremos travados no
subdesenvolvimento. Por que então não conferimos à educação a prioridade indisputada que lhe cabe?
“Não existe a menor possibilidade de o Brasil crescer, se desenvolver, distribuir renda, gerar
oportunidades para todos, se tornar um país seguro, se não resolver a educação pública”, diz a
palestrante. E ainda: “Se os brasileiros se tornaram intolerantes com relação à inflação, à corrupção, ao
desemprego, por que a gente aceita tão facilmente a baixa qualidade da educação pública?”.
A resposta está em outra demonstração, de lógica elementar, contida na palestra de Priscila, e qu e tem
origem em seu encontro com o menino sem nome. Ao sair da bolha na qual só se preocupava “com a
própria educação, com ter um bom emprego”, e acreditava que assim “as coisas iam se resolver”, ela se
deu conta de que a educação do menino não interessava só a ele. Interessava a ela, Priscila. Por
extensão, interessava-lhe a educação de todos os outros meninos e meninas. Só com educação para
todos teremos um país próspero, igualitário e seguro. Só com educação de qualidade superaremos essa
“situação que nos está travando, que está travando a vida do país”.
O menino sem nome acreditou naquilo que “muitos de nós, de forma consciente ou inconsciente”, diz
Priscila, “também acreditam e aceitam: que educação de qualidade é para uns, e que outros não vão tê-
la, e tudo bem”; não nasceram para isso. “A ideia poderosa que vai nos fazer sair desse lugar de
complacência”, segundo Priscila, é a “solidariedade”, é nos mobilizarmos “todos pela educação de todos”,
jogando pressão sobre os governantes, e conscientes de que tão importante quanto nossa educação e a
de nossos filhos é a dos jovens “que nunca veremos na vida”. A força de Priscila Cruz está em combinar
o fogo da paixão com a água fria da lógica. Dessa química ela extrai o rumo para nossa salvação, como
indivíduos e como nação.
Atividades
1. Priscila Cruz relatou uma situação de enorme desconforto que viveu. Um menino, igual a tantos
meninos, acreditava profundamente que não merecia ir para escola.
Descreva uma situação semelhante que você, talvez, já tenha presenciado no seu bairro.
Quando estava na 6°do ensino fundamental, um colega de classe repetente de alguns anos seguintes
estava apresentado dificuldades com as matérias e de certa maneira não estava acompanhado a
turma. Em uma aula de matemática estava apresentando dificuldades para conseguir resolver o cálculo
e se questionou para que a escola serve na vida dele se ele já é burro e que aquele lugar não
pertenciam mais á ele, pois ele já tinha repetido diversas vezes. Com decorrer do tempo, ele desistiu
de estudar para ele não tinha sentindo aprender se ele não conseguia adquirir aquele conhecimento.
A partir daquele momento que ela vivenciou ela pude perceber como a educação é falha no sistema
público, aquela criança fez com que ela pudesse observar que a desigualdade está de fato muito
presente em nosso País. Que existem crianças que estão no sinal vendendo balas e a sua cadeira está
vazia no ambiente escolar, Portanto isso só demonstra que a educação de fato não é para todos,
existem uma parcela de crianças que coloque em prática a fala citada pelo menino . Priscila tenta mudar
essa realidade sendo presidente executiva de todos pelo a educação.