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Programa de Formação de Profissionais de Nível

Técnico para a Área da Saúde no Estado de São Paulo

Promovendo a Saúde
Curso Técnico de Nível Médio
em Enfermagem
Módulo de Habilitação

Guia Curricular – Área I


SECRETARIA
DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE
GESTÃO PÚBLICA
Guia Curricular – Área I
SECRETARIA Promovendo a Saúde
DE DESENVOLVIMENTO

SECRETARIA
DA SAÚDE

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Programa de Formação de Profissionais de Nível
Técnico para a Área da Saúde no Estado de São Paulo

Curso Técnico de Nível Médio


em Enfermagem
Módulo de Habilitação

Guia Curricular – Área I


Promovendo a Saúde

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Governador do Estado José Serra
Secretário da Saúde Luiz Roberto Barradas Barata
Secretário Adjunto da Saúde Nilson Ferraz Paschoa
Chefe de Gabinete da Saúde Reinaldo Noboru Sato
Coordenador da Coordenadoria de
Recursos Humanos da Saúde Paulo Henrique D´Angelo Seixas
Secretário da Gestão Pública Sidney Beraldo
Secretário de Desenvolvimento Geraldo Alckmin
Diretora Superintendente do Centro
Paula Souza Laura Laganá
Secretário da Educação Paulo Renato Costa Souza


Diretor Executivo Geraldo Biasoto Junior
Diretora Técnica de Políticas Sociais Vera Lúcia Cabral Costa
Coordenador Sergio da Hora Rodrigues

Equipe Técnica Andrea Terumi Okida Shimura


Cecília Maria Castex Aly Heinemann
Cibele Cristina Moreira Sancha
Cintia Hiromi Mizuno
Claudia Martinez
Emilia Emi Kawamoto
Guadalupe Maria Jungers Abid de Almeida
Julia Ikeda Fortes
Leda Zorayde de Oliveira
Luci Emi Guibu
Marcela Ribeiro Rodella Soares
Mari Shirabayashi
Paula Regina Di Francesco Picciafuoco
Vânia de Carvalho Ferreira
Valeria Morgana Penzin Goulart

Coordenação Técnica-Pedagógica Julia Ikeda Fortes


Solange de Carvalho Oliveira
Vânia de Carvalho Ferreira

Colaboradores Iorrani Bispo dos Santos


Maria Cecília Manchon Arantes

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Programa de Formação de Profissionais de Nível
Técnico para a Área da Saúde no Estado de São Paulo

Curso Técnico de Nível Médio


em Enfermagem
Módulo de Habilitação

Guia Curricular – Área I


Promovendo a Saúde

São Paulo, Maio de 2009

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É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e
que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

1ª Edição – Ano 2009

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Centro de Documentação da FUNDAP, SP, Brasil)

Curso técnico de nível médio em enfermagem – módulo de habilitação: guia


curricular – área I promovendo a saúde / coordenação técnica pedagógica
Julia Ikeda Fortes, Solange de Carvalho Oliveira, Vânia de Carvalho Ferreira.
São Paulo : FUNDAP, 2009.
144p. (Programa de Formação de Profissionais de Nível Técnico para a Área
da Saúde no Estado de São Paulo)

ISBN 978-85-7285-111-4

1. Enfermagem – Estudo. 2. Reciclagem profissional – Saúde. 3. Trabalhadores


em saúde. I. Fortes, Julia Ikeda (coord.). II. Oliveira, Solange de Camargo (coord.).
III. Ferreira, Vânia de Carvalho (coord.). IV. Fundação do Desenvolvimento
Administrativo – FUNDAP.
CDD – 610.7307
331.76161073
331.761614

Fundação do Desenvolvimento Administrativo – FUNDAP


Rua Cristiano Viana, 428 – 05411-902 – São Paulo SP – Tel. (11) 3066-5500

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Apresentação

A formação de recursos humanos para a saúde tem representado um desafio


permanente para os governantes comprometidos com a melhoria da qualidade do
cuidado, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
As mudanças no perfil da população brasileira, a cada dia mais envelheci-
da, o singular quadro sanitário do país, que apresenta tanto doenças típicas dos
países desenvolvidos como doenças decorrentes da pobreza, o aumento da oferta
de serviços e a necessidade de organização das Redes de Atenção à Saúde vêm
demandando transformações no processo de trabalho a fim de assegurar, com
rapidez, respostas eficazes às necessidades de saúde.
Neste cenário de transformações destacam-se, principalmente, duas situa-
ções pertinentes ao mundo do trabalho que envolve a formação profissional. Uma
refere-se à criação de número expressivo de novos postos de trabalho na área da
saúde, considerando os investimentos realizados e a capilaridade do modelo de
atenção à saúde adotado no país. Outra revela o grande número de trabalhadores
que necessitam, tendo em vista a mudança do perfil de saúde da população e os
avanços tecnológicos agregados pelos serviços, de aprimoramento na sua forma-
ção profissional. Essa situação é evidenciada, sobretudo na área de enfermagem,
que representa cerca de metade dos postos de trabalho na área da saúde, que se
soma a outras como a de higiene dental, vigilância ambiental, epidemiológica e
sanitária, análises clínicas, radiologia, manutenção de equipamentos, farmácia.
Apesar do investimento em formação dos trabalhadores realizado pelo
PROFAE, Programa de Profissionalização dos Trabalhadores de Enfermagem, que
qualificou cerca de 323.000 trabalhadores em nível federal, não se fez acompa-
nhar de uma política permanente de formação desses trabalhadores, necessidade
sentida de forma mais aguda pelos pequenos municípios, afastados das escolas de
educação profissional.
Nesse quadro, buscando enfrentar o grande desafio de qualificar trabalhado-
res técnicos do setor, o Governo do Estado de São Paulo criou através do Decreto Es-
tadual nº 53.848 de 19/12/2008, o Programa de Formação de Profissionais de Nível
Técnico para a Área de Saúde no Estado de São Paulo, com os seguintes objetivos:
• ampliar a escolaridade da população por meio da formação de profis-
sionais de nível técnico com habilitações para o ingresso no mercado de
trabalho, e
• melhorar a qualidade dos serviços de saúde prestados à população, no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado.

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Considerando as inúmeras áreas que ainda necessitam de qualificação e
aprimoramento profissional, o TECSAUDE elege a enfermagem para iniciar o de-
senvolvimento dos cursos por constituir o maior contingente de pessoal na área
da saúde e com sua qualificação representar impacto significativo na melhoria da
qualidade de assistência prestada à população.
Dessa forma, o Curso Técnico de Nível Médio em Enfermagem – Módulo
de Habilitação, constitui a primeira etapa do programa a ser desenvolvido em co-
operação com a rede de escolas do Centro Paula Souza, Escolas Técnicas do SUS
e escolas privadas credenciadas, destinado aos que já possuem qualificação de
auxiliar de enfermagem.
O curso, estruturado em três grandes áreas de conhecimento, tem como re-
curso livros didáticos especialmente elaborados para atender ao aluno-trabalhador
do setor saúde na sua trajetória formativa, constituindo-se como essencial apoio
para o desenvolvimento das competências do técnico de enfermagem.
A Área I - Promovendo a saúde constitui o primeiro livro do curso e aborda
questões fundamentais para o entendimento do sistema de saúde vigente no nosso
país, os fatores envolvidos no processo de saúde e adoecimento, bem como a atua-
ção do profissional de enfermagem na promoção da saúde e prevenção de agravos.
A Área II - Cuidando do cliente em estado crítico traz conteúdos que visam
o desenvolvimento de competências para o atendimento de clientes em situações
de urgência e emergência e assistência de enfermagem àqueles em estado crítico.
A Área III - Participando da gestão em saúde desenvolve conteúdos com
vistas à eficiência e eficácia do processo de trabalho da enfermagem, nas dife-
rentes unidades de produção de serviços de saúde e a inserção do técnico de
enfermagem no papel de colaborador, agregando, na sua área de atuação, com-
petências de gestão.
O presente conjunto didático tem o propósito de contribuir para a formação
dos profissionais de enfermagem, com uma proposta pedagógica que privilegia
a construção coletiva do conhecimento, articulando saberes, práticas e atitudes
a partir da experiência do aluno e do contexto em que trabalha e vive. Trata-se
de instrumento essencial para o aluno e professor que buscam uma formação
profissional transformadora e significativa, capaz de provocar mudanças no seu
processo de trabalho.
Geraldo Biasoto Junior

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Currículo

ÁREA I ÁREA II ÁREA III

PROMOVENDO A SAÚDE CUIDANDO DO CLIENTE EM PARTICIPANDO DA GESTÃO


ESTADO CRÍTICO EM SAÚDE

Teórico- Estágio Teórico- Estágio Teórico- Estágio


prático Supervisionado prático Supervisionado prático Supervisionado

160 40 340 220 100 40

200 560 140

Curso Técnico de Nível Médio em Enfermagem

Área I – Promovendo a Saúde

Competência

• Desenvolver em equipe ações de promoção da saúde e de prevenção


de agravos a indivíduos em diferentes faixas etárias, a famílias, grupos
e comunidades.

Habilidades

• Identificar os processos de organização dos serviços de saúde locorre-


gionais e as ações de saúde coletiva desenvolvidas no município.
• Estabelecer vínculo e comunicação eficientes com a população, consi-
derando a comunidade como um dos atores na efetivação das ações de
Vigilância em Saúde.

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• Participar, com a equipe multiprofissional, da instalação dessas ações,
utilizando recursos da comunidade nas ações de saúde coletiva.
• Participar, com a equipe, do planejamento, organização e avaliação das
ações para a promoção da saúde e da cidadania.
• Participar, com a equipe, do planejamento, execução e avaliação de progra-
mas de imunização.
• Participar da elaboração de propostas e do desenvolvimento de ações
educativas em saúde.
• Identificar os riscos ambientais que afetam a saúde da população
e do trabalhador, assim como as medidas de vigilância, prevenção e
controle.
• Identificar as ações previstas para cada fase da organização do sistema
de informação em saúde e participar da coleta e processamento de in-
formações para a saúde.
• Participar de pesquisa em saúde/enfermagem, com a equipe multiprofis-
sional, identificando fontes de dados para investigação, adotando prin-
cípios bioéticos.
•U
 tilizar e operar equipamentos de trabalho, aplicar princípios ergo-
nômicos e técnicas adequadas de prevenção de acidentes e descarte
de resíduos, dentro dos princípios de segurança.
• Estabelecer relação entre a saúde mental e a qualidade de vida.
• Identificar a inserção da saúde mental nos processos de organização dos
serviços de saúde.
• Participar na promoção/manutenção do ambiente terapêutico e na re-
cuperação do cliente quanto à sua integridade mental, emocional e no
equilíbrio com o meio em que vive.
• E stabelecer contato interpessoal terapêutico com o cliente e seus fa-
miliares.
• Participar de atividades terapêuticas observando e registrando o estado
do cliente.

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Base Tecnológica

• Processo saúde-doença.
• Política Nacional de Saúde e Modelos de Atenção à Saúde: bases le-
gais, princípios orientadores, organizacionais, financiamento e con-
trole social.
• Política Nacional de Humanização (PNH).
• As responsabilidades das esferas de governo na Atenção Básica de Saúde.
• Estratégia de saúde da família (ESF).
• Vigilância em Saúde: vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, vi-
gilância em saúde ambiental e vigilância em saúde do trabalhador.
• Educação Permanente em Saúde: estratégia para o desenvolvimento de
ações educativas em saúde.
• Sistema de Informação em Saúde.
• Educação em Saúde.
• Pesquisa científica e sua aplicabilidade em saúde/enfermagem.
• Técnicas e procedimentos de enfermagem nas ações de promoção da
saúde e prevenção de agravos.
• Saúde mental: evolução histórica, reforma psiquiátrica no Brasil e rede
de atenção.
• Ações de enfermagem ao cliente e à família, com transtornos de personali-
dade, de pensamento, de humor/afeto, de ansiedade, alimentares decorren-
tes do uso de substâncias psicoativas.
• Ações da Enfermagem em Saúde Mental: papel da enfermagem, inte-
gralidade do cuidado, ambiente terapêutico, comunicação terapêutica.
• Reabilitação psicossocial e inclusão.
• Princípios bioéticos.

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SIMBOLOGIA UTILIZADA

Informação complementar Questão

Exercício, atividade Pesquisa

Esclarecimento Análise, reflexão

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Sumário

Promoção da Saúde
UNIDADE I – PROCESSO SAÚDE – DOENÇA
TEXTO 1 – O processo saúde-doença ............................................. 17

UNIDADE II – POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE


TEXTO 2 – Reforma Sanitária no Brasil ........................................... 25
TEXTO 3 – Estratégia de Saúde da Família ...................................... 33
TEXTO 4 – Território ....................................................................... 40
TEXTO 5 – Vigilância em Saúde . .................................................... 44
TEXTO 6 – Política Nacional de Humanização ............................... 54

UNIDADE III – SISTEMA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE


TEXTO 7 – Sistema de Informação em Saúde................................... 62

UNIDADE IV – PESQUISA EM SAÚDE


TEXTO 8 – Pesquisa Científica ........................................................ 70

UNIDADE V – EDUCAÇÃO EM SAÚDE


TEXTO 9 – Educação e saúde na prática do técnico de enfermagem . ... 79
TEXTO 10 – Educação Permanente em Saúde.................................. 84

O Sus no Estado de São Paulo


UNIDADE I – O SUS NO ESTADO DE SÃO PAULO
TEXTO 11 – O SUS no Estado de São Paulo.................................... 92

Atenção à Saúde Mental No Sus


UNIDADE I – SAÚDE MENTAL NO SUS
TEXTO 12 – O contexto histórico da loucura e da Reforma
Psiquiátrica................................................................... 100
TEXTO 13 – Rede de atenção aos portadores de transtornos mentais .. 109

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UNIDADE II – ABORDAGEM TERAPÊUTICA EM SAÚDE MENTAL
TEXTO 14 – Ambiente, comunicação e relação terapêutica ............ 114

UNIDADE III – RECONHECENDO ALTERAÇÕES MENTAIS


TEXTO 15 – O cuidado em saúde mental: reconhecendo
as alterações . ............................................................... 120

UNIDADE IV – TRANSTORNOS MENTAIS: IDENTIFICAÇÃO


E AÇÕES DE ENFERMAGEM
TEXTO 16 – Ações de enfermagem em saúde mental....................... 126

12

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Promoção da Saúde

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14

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Processo Saúde-Doença unidade I
Objetivo
Refletir sobre o processo de saúde e adoecimento, suas causas e determinantes.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.1- Construir o conceito de saúde 1- Análise do processo saúde-doen- 1- Debate sobre o processo saúde-doença consi-
com base nos modos de viver da ça considerando: trabalho, renda e derando as possibilidades de acesso ao traba-
população. consumo lho, renda e consumo e a análise dos modos de
viver da população.
2-  Modos de viver da população: 2- Sistematização do conceito de saúde enquan-
• meio ambiente to produção social, direito de cidadania e prin-
• saneamento cípio ético.
• moradia 3- Leitura e discussão do texto: O processo saú-
• transporte de-doença.
• alimentação
• lazer
• saúde
• educação
• posse da terra

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Integração Curricular:
ÁREA I A Atenção à Saude Mental no SUS: Processo saúde-doença mental
ÁREA II Cuidando do Paciente em Estado Crítico: Processo saúde-doença em situações clínicas e cirúrgicas críticas
ÁREA III Trabalho, Qualidade de Vida e Saúde: Processo saúde-doença do trabalhador

UNIDADE I – Processo Saúde – Doença 15

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Objetivos Específicos Conteúdos Método
I. 2- Analisar o perfil epidemiológico 2- Perfil epidemiológico: 1- Levantamento das doenças e agravos mais co-
de seu município/estado. • Determinantes políticos, socioeco- muns em seu município/estado por meio de
nômicos, ambientais, culturais trabalho em grupos.
• Mudança do perfil demográfico 2- Discussão sobre as possíveis causas relaciona-
das à determinação dessas doenças/agravos e
identificação dos grupos da população mais
expostos.
3- Análise dos determinantes sociais, políticos e
econômicos, ambientais e culturais relaciona-
dos às doenças e agravos.
4- Debate sobre a relação entre as condições de
vida e trabalho da população de seu município
/estado e as mudanças no perfil epidemioló-
gico.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade I


Integração Curricular:
ÁREA I O SUS no Estado de São Paulo: Perfil epidemiológico do município/estado
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Pesquisa de dados epidemiológicos e demográficos de seu município/estado
Entrevista com moradores da comunidade em sua área de atuação para identificar a percepção da população sobre condições de vida e de
saúde.

16 16 Promoção da Saúde

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Texto 1 O Processo Saúde-Doença

Saúde e doença são processos íntimos


e limítrofes, que se manifestam continuamen-
te durante a vida das pessoas, de forma indi- Limítrofe - que serve de limite co-
vidual ou coletiva, em determinado espaço mum.

físico e tempo.

Observamos que, ao longo de nossa história de vida e da vida de nossos


antepassados, as formas de atendimento das necessidades de saúde mudam.
Essas mudanças não acontecem por acaso. A limitação ou o avanço do co- Políticas públicas de saúde - com-
nhecimento, as culturas dos povos, a forma do homem se relacionar com o preende o campo de ação social do
Estado orientado para a melhoria
meio em que vive, sua visão sobre o processo de ter saúde e de adoecer, são das condições de saúde do indiví-
duo e da coletividade, bem como,
os principais fatores que definem os caminhos para o desenvolvimento de dos ambientes natural, social e do
políticas públicas de saúde, que visam atender às pessoas em seus estados de trabalho.

saúde e de doença.

A partir da década de 1970, os movimentos políticos mundiais orien-


tam-se para uma política de saúde para todos, de forma a atender de fato às
necessidades da população, considerando, saúde e doença como um pro- Saúde para todos no ano 2000 foi
cesso determinado pelas condições socioeconômicas e políticas nas quais a meta proposta em 1978, na Con-
ferência Internacional sobre Cuida-
as pessoas vivem e trabalham, ampliando, assim, o conceito de saúde para dos Primários de Saúde, realizada
em Alma-Ata, URSS, patrocinada
além da simples ausência de doenças. pela Organização Mundial de Saú-
de e Unicef.

Passou-se a apontar as constantes mudanças na relação do homem com


o meio ambiente por causa da exploração ambiental, do crescimento demográ-
fico, das relações com o mundo do trabalho e do avanço da tecnologia como Determinantes Sociais de Saúde
interferências diretas no modo de viver da população e, consequentemente, no (DSS) são as características sociais
dentro das quais a vida transcorre
estado de saúde das pessoas e no perfil epidemiológico. A forma com que o (Tarlov, 1996). Determinantes so-
ciais não são uma rede de causali-
homem evolui e sua interação com o meio em que vive, por meio do acesso à dade e sim um complexo de fenô-
renda que possibilita o consumo de bens e serviços e do exercício da cidadania, menos sociais interligados que pro-
duzem riscos diferenciados à saúde
definem os determinantes do processo saúde-doença de uma geração ou um de comunidades e indivíduos.
Condicionante social de saúde:
momento histórico. Os problemas de saúde são, então, resultados de um proces- resultante de circunstâncias ou
so complexo e dinâmico que se produz no interior da sociedade. de decisão prévia. (Aurélio, 1986).

UNIDADE I – Processo Saúde – Doença 17

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Como é o lugar onde você mora? São determinantes do processo saúde-doença os modos de viver da popu-
Em que é necessário intervir para
melhorar a situação de saúde local? lação, considerando o estilo de vida resultante de acesso à moradia, aos meios
de transporte, à educação, à assistência à saúde, à alimentação, ao lazer, ao
saneamento; o meio ambiente, destacando-se a relação com a sociedade e com
o trabalho; e as características particulares de cada pessoa, compreendendo os
A saúde tem como fatores deter-
minantes e condicionantes, entre
fatores genéticos, imunológicos e psicológicos.
outros, a alimentação, a mora-
dia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a saúde, a É nessa lógica que percebemos mudanças consideráveis no perfil epide-
educação, o transporte, o lazer,
o acesso a bens e serviços essen- miológico, quando passamos a conviver com uma alteração no quadro de doen-
ciais; os níveis de saúde da popu-
lação expressam a organização ças da população, com a inclusão de moléstias relacionadas ao trabalho, a aci-
social e econômica do país. Lei nº dentes de trânsito, à violência urbana, ao êxodo rural desgovernado, à poluição
8.080/90.
ambiental, entre outras.

É preciso compreender o que determina o processo de saúde e de doen-


Pesquise o conceito de determi- ça para que as atividades/ações propostas pelas políticas de saúde/serviços de
nante e condicionante. saúde venham a atender as necessidades das pessoas, com resultados voltados
para a melhoria da qualidade de vida. Desenvolver o processo de trabalho em
saúde é hoje um dos grandes desafios para os profissionais da área, tanto nas
atividades individuais como nas coletivas. É preciso incorporar novos olhares
Quais são as principais doenças
que acometem os trabalhadores da para fora e para dentro das Unidades de Saúde, atrelando a esses olhares a
área de saúde?
noção de saúde como processo de movimento instável, de ordem biológica,
de vivências, de condições de vida e de trabalho dos indivíduos, da família e
da sociedade.

Desenvolver ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, nos


espaços de saúde coletiva, exige da equipe de enfermagem um agir profissional
Promoção da Saúde é definida dentro desse contexto, rompendo com a prática dos serviços, viciada na atuação
como o processo de capacitação
da comunidade para atuar na me- curativa, cujas ações estão voltadas somente para a solução de queixas especí-
lhoria da qualidade de vida e saú-
de, incluindo uma maior partici-
ficas e pontuais.
pação no controle deste processo.
Carta de Ottawa , Canadá, 1986.
Essa nova forma de atuação pressupõe um trabalho consciente, criativo,
solidário, construído pelos gestores, pelo conjunto de trabalhadores das equipes

18 18 Promoção da Saúde

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de saúde e pelos usuários do serviço, promovendo, ainda, a integração da saúde Por meio da Portaria nº 687/GM de
30 de março de 2006, o Ministério
com as demais áreas de gestão pública, para a consolidação das propostas e da Saúde instituiu a Política Nacio-
nal de Promoção da Saúde, que
apropriação do direito à saúde e à cidadania. tem como objetivo a promoção da
qualidade de vida e a redução da
vulnerabilidade e dos riscos à saú-
Conhecer os determinantes de saúde da população do município/bair- de relacionados aos seus determi-
nantes e condicionantes – modos
ro/território de atuação dos profissionais da saúde e buscar dentro das políti- de viver, condições de trabalho,
habitação, ambiente, educação,
cas públicas de saúde estratégias, ou meios para atender às demandas oriun- lazer, cultura, acesso a bens e ser-
das das necessidades das pessoas, famílias ou grupos sociais são formas de viços essenciais. Conass. Atenção
Primária e Promoção da Saúde. v.
ampliar a possibilidade da atenção à saúde, cujas ações devam contemplar o 8, 2007, p 47.

atendimento ampliado de saúde, propiciando à população espaços para troca


de conhecimento sobre o processo saúde-doença, passo decisório para a for-
mulação de conceitos e mudanças no estilo de vida.
Integração da saúde com as de-
mais áreas de gestão pública parte
do pressuposto de que a saúde é
produção resultante de múltiplas
Bibliografia políticas sociais, abrangendo se-
tores como educação, habitação,
trabalho e emprego, dentre outros.
Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, o serviço e o funcionamento dos ser­
viços correspondentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, de 20 de
setembro de 1990.

______. Ministério da Saúde. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da


Área de Enfermagem. Profissionalização de Auxiliares de Enfermagem: cadernos
do Aluno: Saúde Coletiva. Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz,
2001.

______. Ministério da Saúde. Manual de Enfermagem. Programa Saúde da Fa-


mília. 2003.

Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Coleção Progestores. Para


entender a gestão do SUS. Atenção primária e promoção da saúde. v. 8. Brasília:
Conass, 2007.

UNIDADE I – Processo Saúde – Doença 19

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Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Pro-
grama de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde - Proformar Un. I,
mód.1. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e Saúde. 5. ed. Rio de Janeiro: Médica e Cien-


tífica, 1999.

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Política Nacional de Saúde unidade II
Objetivo
Reconhecer os princípios norteadores e organizacionais da Política Nacio-
nal de Saúde.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


II.1- Conhecer a história das Políti- 1- A Reforma Sanitária- Brasileira 1- Pesquisa em grupos sobre a Reforma Sanitária
cas Públicas de Saúde. • História Brasileira e a criação do Sistema Único de Saú-
• Base Legal de, tomando por base: Constituição Federal,
Lei Orgânica de Saúde, Normas Operacionais
2- Política Nacional de Saúde Básicas, Relatórios das Conferências Nacionais
de Saúde, Pacto pela Saúde.
3- Sistema Único de Saúde 2- Construção de uma linha do tempo identifi-
• Princípios finalísticos e diretri- cando os marcos da Política Nacional de Saúde.
zes estratégicas 3- Discussão e sistematização sobre os princípios
do SUS.
4- Leitura e discussão do texto: Reforma Sanitária
no Brasil.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Integração Curricular:
ÁREA I Política Nacional de Humanização
ÁREA I A Saúde Mental no SUS
ÁREA III Unidade Trabalho e Saúde: Política de Saúde do Trabalhador

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 21

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Objetivos Específicos Conteúdos Método
II.2- Reconhecer a Estratégia de 1- Estratégia de Saúde da 1- P esquisa em grupos sobre os princípios que norteiam a
Saúde da Família como eixo fun- Família Estratégia de Saúde da Família e sua importância enquan-
damental para o modelo de pro- • Princípios: integralidade, to política pública.
moção da saúde. responsabilidade clínica e 2- Pesquisa em grupos sobre a instalação da ESF em seu mu-
territorial, corresponsabi- nicípio/Estado.
lidade da população 3- Observação das equipes de SF sobre as ações desenvol-
• Estabelecimento de vín- vidas nas comunidades com vistas à identificação de: ter-
culo com a comunidade ritório, população adscrita, composição da equipe e seu
• Território e população processo de trabalho, fichas utilizadas para alimentação
adscrita, mapeamento do do SIAB, integração com a rede de serviços de saúde do
território e cadastramen- município. Destaque para as técnicas de elaboração e in-
to das famílias terpretação de mapas do território e para o cadastramen-
• Composição da equipe to das famílias.
do PSF 4- Apresentação dos trabalhos e debates sobre os aspectos
• Processo de trabalho no conceituais e práticos da ESF, com destaque para as possi-
PSF bilidades de atuação do técnico de enfermagem.
• Sistema de Informação da 5- Leitura e discussão dos textos: Estratégia de Saúde da Fa-
Atenção Básica (SIAB) mília e Território.
• Inserção da ESF na rede 6- Organização e participação em seminário sobre integrali-
de serviços do município dade da atenção à saúde no SUS.
(referência e contrarrefe- 7- Pesquisa sobre as ações previstas nos programas de saúde
rência) ministeriais que são incorporadas nas ações da ESF, com
destaque para Programa Nacional de Imunização (PNI),
2- Programas do Ministério Programa de Saúde da Mulher e da Criança, Programa do
da Saúde em interface com Idoso.
a ESF 8- Apresentação dos trabalhos e sistematização sobre as ações
• Programa Nacional de do técnico de enfermagem previstas nos programas de
Imunização (PNI) saúde ministeriais, com destaque para a imunização (calen-
dário vacinal, técnicas de administração de medicamentos,
rede de frios, biossegurança quanto à prevenção de aciden-
tes e descarte de resíduos).

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Integração Curricular:
ÁREA III Trabalho e Saúde
Curso de Auxiliar de Enfermagem: Enfermagem em Saúde Coletiva: Imunização
Curso de Auxiliar de Enfermagem: Introduçao à Enfermagem: Técnica de administração de medicamentos
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Participação com a equipe de saúde de ações de planejamento, dinamização e avaliação das ações para a promoção da saúde e da cidadania.
Participação com a equipe de Saúde da Família das ações de atenção básica em sua área de atuação, desenvolvendo atividades de com-
petência do Técnico de Enfermagem.
Elaboração de mapa do território em sua área de atuação, com identificação de situações que oferecem riscos à saúde.
Elaboração de cadastramento das famílias em sua área de atuação.
Estabelecimento de comunicação e vínculo eficientes com a população em sua área de atuação.

22 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 22 20/07/09 14:58


Objetivos Específicos Conteúdos Método
II.3- Reconhecer a Vigilância como 1- Vigilância em Saúde 1- Pesquisa no sistema de saúde do município so-
estratégia para a promoção da saú- • Conceito bre as ações desenvolvidas pelos serviços de
de e prevenção/controle de doen- • Histórico vigilância e sobre a organização dos sistemas
ças e agravos. municipal e estadual de vigilância.
2- Vigilância em Saúde 2- Apresentação dos trabalhos e debate sobre a
• Vigilância epidemioló­gica importância da vigilância enquanto monitora-
das doenças trans­­missíveis mento contínuo da incidência de doenças e
• Vigilância epide­mio­ló­gica agravos por meio de coleta sistemática de da-
das doen­ças crô­­n­icas não- dos de morbidade e mortalidade.
transmissíveis 3- Pesquisa e debate sobre a atuação da enferma-
• Vigilância em Saúde Am- gem nas ações de vigilância em seu município.
biental Levantamento das situações que oferecem ris-
• Vigilância em saúde do tra- cos à saúde da população e do trabalhador em
balhador sua área de atuação.
• Vigilância sanitária 4- Apresentação dos trabalhos com classificação
dos riscos ambientais, epidemiológicos e sa-
3- Riscos à saúde nitários e sistematização do conceito de risco.
• Condições de saneamento 5- Trabalho em grupos para elaboração de pro-
básico e abastecimento de postas de intervenção com vistas a minimizar
água e/ou controlar situações de risco à saúde.
• Presença de focos de veto- 6- Leitura e discussão do texto: Vigilância em Saúde.
res e roedores
• Contaminação atmosférica
e/ou de recursos hídricos
• Atividades sanitárias ile-
gais
• Presença de áreas de confli-
tos sociais e violência etc

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Participação junto à equipe de vigilância das ações de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária em sua área de atuação, desenvol-
vendo atividades de competência do técnico de enfermagem.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 23

30916006 miolo.indd 23 20/07/09 14:58


Objetivos Específicos Conteúdos Método
II.4- Reconhecer a Política Nacional 1- Política Nacional de Humanização 1- Debate sobre o entendimento do concei-
de Humanização enquanto eixo ar- 1.1- Objetivos to de humanização e suas possíveis aplica-
ticulador das práticas de saúde no • Efetivação dos princípios do ções nas relações sociais e nas práticas de
SUS. SUS saúde.
• Superação de desafios impor- 2- Pesquisa sobre a Política Nacional de Hu-
tantes como o acolhimento, manização, seus objetivos e princípios.
a valorização do trabalho em 3- Apresentação dos trabalhos e debate so-
saúde e a integração das ações bre as possibilidades de articulação desta
no processo de atenção estratégia com as demais políticas e pro-
• Perspectiva de rede (integrali- gramas do SUS.
dade dos níveis de atenção/mo- 4- Levantamento das ações previstas em seu
delos de atenção e da gestão) município/estado para a execução da Polí-
1.2- Princípios da PNH tica de Humanização.
• Indissociabilidade entre a aten- 5- Apresentação dos trabalhos.
ção e a gestão dos processos 6- Leitura e discussão do texto: Política Na-
de produção de saúde cional de Humanização.
• Transversalidade
• Autonomia e Protagonismo
dos Sujeitos
• Valorização da dimensão sub-
jetiva, coletiva e social
• Fortalecimento do controle
social
• Compromisso com a democra-
tização da relação de trabalho e
valorização dos trabalhadores
de saúde
• Valorização da am­biên­cia

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade II


Integração Curricular:
ÁREA III Trabalho e Saúde
ÁREA III Gestão de Pessoas: Ética e bioética
Curso de Auxiliar de Enfermagem: Enfermagem: Clínica/Cirúrgica/Materno-Infantil
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Levantamento das ações de humanização adotadas em seu município\estado

24 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 24 20/07/09 14:58


Texto 2 Reforma Sanitária no Brasil

Para entender melhor a política


de saúde do país, convém realizarmos
uma breve retrospectiva histórica para
conhecermos os determinantes históri-
cos que impulsionaram o processo de
construção do Sistema Único de Saúde
(SUS). Da mesma maneira que somos
fruto do nosso passado e da nossa his-
tória, o sistema de saúde é produto de todo o contexto econômico, político e
social que o país viveu anteriormente, não sendo possível dissociá-los. Assim,
após duas décadas de existência, o Sistema Único de Saúde vem mostrando
resultados inquestionáveis para a população brasileira, embora persistam ain- Como usuário do SUS, quais são
da muitos problemas que desafiam o cotidiano dos gestores e profissionais de os problemas que você enfrenta
quando busca atendimento de saú-
saúde. de? Elabore uma lista apontando os
problemas e as possíveis soluções
para o seu enfrentamento.
O SUS vem sendo instalado como um processo social em permanente
construção. Ainda que sua instituição formal tenha se dado na Constituição
Federal de 1988, suas origens remontam há muito mais tempo, a partir da
crise do modelo médico assistencial privatista que se tornou hegemônico na Hegemonia:
segunda metade do século 20, induzido pelo processo da industrialização Supremacia, superioridade ou do-
mínio de alguém sobre algo.
brasileira1.

O modelo médico-assistencial privatista desenvolveu-se como compo-


nente do sistema previdenciário, inicialmente os Institutos de Aposentadorias e
Modelo de Atenção à Saúde: for-
Pensões (IAPs), depois Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e Instituto ma de organização tecnológica do
Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps), estendendo a co- processo de trabalho em saúde. O
quadro ao final deste texto apre-
bertura da atenção à saúde e à seguridade social apenas aos trabalhadores inseri- senta as características do modelo
médico-assistencial privatista, do
dos no mercado de trabalho e aos seus familiares. Esse modelo foi marcado pelo modelo sanitarista que o sucedeu
e ainda o modelo de vigilância
proposto para atender à política de
promoção da saúde.
(Proformar, Unidade I Módulo I, 2003).
1
Conselho Nacional de Secretários Saúde. Sistema Único de Saúde. Coleção Progestores. Para entender a gestão
do SUS, v.1. Brasília : Conass, 2007.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 25

30916006 miolo.indd 25 20/07/09 14:58


Faça uma pesquisa a respeito das privilegiamento da prática médica curativa, especializada e individualizada, em
sucessivas mudanças do setor pre-
videnciário ocorridas no século detrimento de medidas de saúde pública, de caráter preventivo e coletivo; pela
passado até a criação do SUS, cor-
relacionando-as, respectivamente, criação de um complexo médico-industrial, com a inserção dos grandes mono-
com as políticas de saúde.
pólios internacionais do setor farmacêutico e de equipamentos hospitalares; e
pela prestação de serviços de saúde predominantemente pelo setor privado.

As mudanças que ocorreram a partir dos meados de 1970, caracterizados


por profunda crise econômica e política, determinaram o esgotamento desse
Por que redemocratização do país? modelo de atenção à saúde. Paralelamente, crescem movimentos sociais pela
Lembremos um pouco da nossa his-
tória: Em 1964, com o golpe militar, o redemocratização do país e políticas alternativas para o setor saúde, em contra-
Brasil passa a viver sob nova ordem, posição ao modelo excludente ao qual tinha acesso apenas a população econo-
marcado pela repressão dos direitos
civis e centralização do poder polí- micamente ativa.
tico e econômico. O modelo de de-
senvolvimento vigente, sobretudo a
partir da década de 1970, destacou-
se pela concentração de renda, au- Os primeiros sinais de mudança surgiram em 1979, com a criação do
mento da desigualdade social, queda
acentuada da qualidade de vida e de Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass) a partir dos
trabalho da população, agravando o
quadro de saúde no país. À medida primeiros projetos-piloto de medicina comunitária, realizados por instituições
que os anos foram passando, os mo-
vimentos pela redemocratização to- acadêmicas e Secretarias de Saúde. Paralelamente, começavam a se desenvolver
maram força, culminando com o fim
do regime militar em 1984. O fim
as primeiras experiências de municipalização da saúde. São nesses espaços de
desse regime foi fundamental para a construção da medicina comunitária que surge o movimento sanitário, liderado
consolidação da Reforma Sanitária.
por setores mais progressistas da área da saúde, constituindo-se na base político-
ideológica da reforma sanitária brasileira. O movimento sanitário caracterizou-
se pela forte oposição à ditadura militar e engajamento em favor dos direitos
Medicina Comunitária: Movimento
coletivos, introduzindo-se um conjunto de idéias transformadoras para o setor
de reforma da organização dos ser- saúde que ficou conhecido como Reforma Sanitária.
viços de saúde surgido nos Estados
Unidos na década de 1960. Seus
conceitos foram progressivamen-
te incorporados aos processos de No 1º Simpósio Nacional de Política de Saúde, realizado no ano de 1979
formulação de políticas em vários
países, inclusive o Brasil, que, nos
em Brasília, o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) apresentou o proje-
anos 1970, criou os programas de to denominado Sistema Único de Saúde, colocando como proposta um sistema
Extensão da Cobertura da Atenção
Primária (APS) entendida como nível público, descentralizado, com universalização do direito à saúde, integração das
básico de atenção.
(Proformar, Unidade I Módulo I. 2003). ações preventivas e curativas e participação da população. À luz desses princípios
orientadores surgem projetos como a Prev-Saúde, em 1980, que trouxe a proposta
de adoção dos cuidados básicos de saúde, fortemente influenciado pela Confe-

26 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 26 20/07/09 14:58


rência de Alma-Ata; as Ações Integradas de Saúde (AIS) em 1983, projeto intermi- Municipalização das ações e serviços
de saúde: Forma de descentralização
nisterial (Previdência – Saúde – Educação) preconizando a participação popular, a político-administrativa do sistema de
saúde adotada nos anos 1990. Prevê
municipalização e integração das ações curativas–preventivas e educativas. a transferência de poder e de recur-
sos aos municípios, de acordo com
determinados estágios equivalentes
Um fato muito importante que marcou a história da saúde no Brasil foi ao grau de responsabilidade assumi-
do pelo município com relação ao
a 8ª Conferência Nacional de Saúde (8ª CNS), realizada em 1986, tendo como sistema de serviços de saúde.
(Proformar, Unidade I Módulo I, 2003).
temas centrais a saúde como direito, a reformulação do Sistema Nacional de
Saúde e financiamento setorial. Nesse evento foram lançadas as bases doutriná-
rias de um novo sistema público de saúde, tendo como referência um conceito
ampliado de saúde, a saúde como direito de todos e dever do Estado e a criação A Conferência Internacional sobre a
de um sistema único, organizado segundo os princípios da universalidade, da in- Atenção Primaria à Saúde, realizada
em Alma-Ata (localizada no atual
tegralidade das ações, da descentralização e da participação social. A Constitui- Cazaquistão), em 1978, foi o ponto
culminante na discussão contra a
ção Federal de 1988, incorporando parcialmente as propostas concebidas pelo elitização da prática médica, bem
como contra a inacessibilidade dos
movimento da reforma sanitária brasileira, criou o SUS, que foi regulamentado serviços médicos às grandes massas
dois anos depois pelas Leis nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 e 8.142, de 28 populacionais. Na Conferência,
reafirmou-se ser a saúde um dos
de dezembro de 1990. direitos fundamentais do homem,
sob a responsabilidade política dos
governos, e reconhece-se a sua de-
terminação interssetorial.
Essa doutrina influiu na criação do Sistema Unificado e Descentralizado
de Saúde (Suds), em 1987, precedendo-se à criação do SUS, com destaque para
a universalização da assistência, a descentralização, a integralidade das ações, a
constituição de instâncias colegiadas gestoras das ações de saúde.

Sistema Único de Saúde

A saúde na Constituição Federal Brasileira de 1988 está colocada no Tí- Art.3º da Lei nº 8.080 expressa o
tulo VIII da Ordem Social, Capítulo II da Seguridade Social e seção II da Saúde, conceito ampliado de saúde:
A saúde tem como fatores deter-
compreendendo os artigos de número 196 a 200. Sua regulamentação se dá por minantes e condicionantes, entre
outros, a alimentação, a mora-
meio da Lei nº 8.080, que dispõe acerca das condições para a promoção, prote- dia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a
ção e recuperação da saúde, e da Lei nº 8.142, que regulamenta a participação educação, o transporte, o lazer e o
acesso aos bens e serviços essen-
da comunidade no SUS. Por sua vez, os Estados e os municípios elaboraram as ciais; os níveis de saúde da popu-
Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, iniciando-se o processo lação expressam a organização
socioeconômica do País.
de construção do SUS nessas esferas de governo.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 27

30916006 miolo.indd 27 20/07/09 14:58


Já no início da instalação do SUS foi possível constatar as mudanças. A
afirmação saúde é direito de todos e dever do Estado expressa no art. 196 da
Constituição, põe fim à maneira iníqua como eram tratadas as pessoas economi-
camente excluídas, ou seja, que não estavam afiliadas ao Sistema de Assistência
Médica e Previdenciária por estarem à margem do mercado de trabalho formal.
O acesso a esse sistema, como popularmente se dizia, só era oportunizado aos
que tinham carteirinha do Inamps; às demais pessoas da população, a assistên-
cia era prestada em unidades ambulatoriais com poucos recursos e em hospitais
filantrópicos como indigentes.

Ressalta-se que a implantação do SUS foi se dando de forma progressiva,


com o cuidado de não provocar rupturas bruscas que levassem a desestruturar
Você poderá ter acesso à Normas as condições e práticas existentes. O processo de descentralização nos anos 90
Operacionais Básicas consultando
a pasta de legislação do SUS em foi direcionado pela edição das Normas Operacionais Básicas (NOBs) do SUS.
www.saude.gov.br.

Em 1993, a NOB/SUS-93 institucionalizou as Comissões Intergestores


Tripartite (CIT) e Bipartite (CIB) criando, dessa forma, um sistema decisório
CIT: Comissão integrada por repre- compartilhado pelas diferentes instâncias federativas, além de definir as for-
sentantes dos gestores municipais
(Conselho Nacional de Secretários mas de gestão e de repasse de recursos para os municípios.
Municipais de Saúde – CONASEMS),
estaduais (Conselho Nacional de
Secretários de Saúde – CONASS) e Em 1996, a NOB/SUS-96 consolidou a política de municipalização, esta-
federal (Ministério da Saúde).
CIB: Comissão integrada por repre- belecendo o pleno exercício do poder municipal na função de gestor da atenção
sentantes dos gestores municipais
(Colegiado de Secretários Munici- à saúde, tornando-se o principal responsável pelas ações e serviços de saúde.
pais de Saúde – COSEMS) e esta-
dual (Secretaria Estadual de Saúde).

Seguiu-se a Norma Operacional da Assistência à Saúde, NOAS-SUS nº


01/2001, assumindo a regionalização da assistência por meio de Planos Dire-
tores de Regionalização (PDR) e de Investimentos, coordenados pelos gestores
O que você sabe sobre a atuação do
Conselho de Saúde em seu municí-
estaduais, com a participação dos municípios. A organização regionalizada da
pio? Procure informações sobre local
e agenda de reuniões e as possibili-
assistência pressupõe a divisão do território estadual em regiões/microrregiões
dades de sua participação enquanto de saúde, definidas segundo critérios sanitários, epidemiológicos, geográficos,
trabalhador de saúde e cidadão.
sociais, de oferta de serviços e de acessibilidade.

28 Promoção da Saúde

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Em 2006, deu-se o Pacto pela Saúde – um movimento de mudança que não
é uma norma operacional, mas um acordo interfederativo – que articula o Pacto
pela Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão. O Pacto pela Saúde
introduz um sentido de gestão pública por resultados e de responsabilização sa-
nitária, estende a discussão da saúde para fora dos limites setoriais e aprofunda a
descentralização do SUS para Estados e municípios de forma compartilhada2.

Princípios do SUS
A saúde é um direito fundamental de todo ser humano e compete ao po-
der público garantir este direito, mediante políticas econômicas e sociais, que
visem à redução dos riscos de adoecer e possibilitando o acesso universal (prin-
cípio da universalidade) e igualitário (princípio da equidade) às ações e serviços
de promoção, proteção e recuperação da saúde.

A universalidade traz o entendimento de que compete ao SUS atender


toda a população sem qualquer espécie de discriminação, seja de raça, renda,
cor, idade, sexo, religião ou outras características sociais ou pessoais. Embora te- Políticas públicas têm sido imple-
nhamos uma legislação afirmando que o acesso às ações e aos serviços de saúde mentadas para a promoção da in-
clusão e igualdade étnica-racial. A
é direito de todos, na prática observamos que existem demandas que não são Política Nacional de Promoção da
respondidas pelo sistema. Há problemas de carência de recursos, mas também Igualdade Racial articula-se com
vários ministérios, tem o desen-
se deve às demandas universais da população mais carente e às demandas seto- volvimento e inclusão social entre
suas linhas de ação e estabelece o
rizadas dos serviços que envolvem maiores custos como transplantes, cirurgias apoio aos projetos de saúde da po-
cardíacas, tratamentos dialíticos, dentre outros. pulação negra.
A Política Nacional de Atenção à
Saúde dos Povos Indígenas assegu-
O acesso igualitário baseia-se na equidade, princípio de justiça social, que em ra aos povos indígenas o acesso à
atenção integral à saúde, reconhe-
linhas gerais significa trabalhar as questões de saúde para a redução das desigual- cendo, inclusive, o direito de pre-
dades sociais e regionais, com o reconhecimento de necessidades diferentes entre servarem sua medicina tradicional
e sua cultura. Ministério da Saúde.
sujeitos também diferentes, para atingir direitos iguais. Política Nacional de Atenção à
Saúde dos Povos Indígenas, 2002.
A integralidade da assistência, ou seja, a cada um de acordo com sua ne-
cessidade, é entendida como o direito do cidadão ao atendimento preventivo e

2
Fonte: BRASIL. Conselho Nacional de Secretários Saúde. Sistema Único de Saúde. Coleção Progestores. SUS:
avanços e desafios.1 ed. Brasília : CONASS, 2007.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 29

30916006 miolo.indd 29 20/07/09 14:58


curativo, no nível ambulatorial ou emergencial e em todos os níveis de comple-
xidade do sistema. O cidadão deve ter acesso a ações básicas como vacinação,
consultas ambulatoriais e a procedimentos de alta complexidade.

Na operacionalização do SUS, o princípio da descentralização pressupõe que


cada esfera de governo tem a sua responsabilidade e direito, com direção única e
privilegiando a municipalização. Esse princípio possibilita a participação de todos
na formulação de políticas de saúde e identifica o município como o gestor mais
próximo da comunidade e, portanto, o maior conhecedor de suas necessidades e
singularidades, podendo adequar ações e estratégias em função dessa realidade.

A participação da população, em instâncias colegiadas nos diferentes níveis


de governo, estabelece o controle social na formulação e acompanhamento das po-
Empoderamento é a condição de líticas do sistema. O empoderamento da comunidade, juntamente com a descentra-
uma pessoa, um grupo social ou
uma comunidade ampliar siste- lização, proporciona o desenho de um modelo que deve se adequar às necessidades
maticamente sua capacidade de
realização – empreender ações,
coletivas de saúde, diferente do anterior em que a população se adequava ao que
negociar e pactuar com outros ato- existia. Importante ferramenta desse princípio são os Conselhos de Saúde, órgãos
res sociais a favor do bem comum.
(PROFORMAR, Unidade I Módulo I, deliberativos que “buscam participar da discussão das políticas de saúde tendo uma
2003).
atuação independente do governo, embora façam parte de sua estrutura, e onde se
manifestam os interesses dos diferentes segmentos sociais, possibilitando a negocia-
ção de propostas e o direcionamento de recursos para diferentes prioridades”3.

A regionalização e a hierarquização da rede de serviços assistenciais vêm


no sentido de organizar a descentralização de suas ações e serviços. As regiões
se organizam buscando o uso racional do sistema, como parte de um município
grande ou agregando um ou mais municípios e complementando dessa forma
a oferta de serviços. A hierarquização, dentro de uma região, deverá oferecer
àquela população o atendimento a cuidados básicos – atenção primária, ao de
maior complexidade – atenção secundária - e o acesso ao atendimento hospita-
lar e à reabilitação – atenção terciária e secundária.

3
CONASS. Conselho Nacional de Secretários Saúde. Sistema Único de Saúde. Coleção Progestores. Para enten-
der a gestão do SUS, v.1.Brasília : CONASS, 2007.

30 Promoção da Saúde

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Bibliografia
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: pro-
mulgada em 5 de outubro de 1988.

______. Ministério da Saúde. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre


as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, o serviço e o fun-
cionamento dos ser­viços correspondentes, e dá outras providências. Diário Oficial
da União, de 20 de setembro de 1990.

______. Ministério da Saúde. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe


sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS} e
sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde
e dá outras providên­cias. Diário Oficial da União, Brasília.

______. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Política Nacional de


Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

______. Ministério da Saúde. NOB 01/1993 (Norma Operacional Básica), 1993.

______. Ministério da Saúde. NOB 01/1996 (Norma Operacional Básica), 1996.

______. Ministério da Saúde. NOAS 01/2001 (Norma Operacional da Assistência à


Saúde), 2001.

______. Ministério da Saúde. NOAS 01/2002 (Norma Operacional da Assistência à


Saúde), 2002.

Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Coleção Progestores. Para


entender a gestão do SUS. SUS: avanços e desafios. Brasília: CONASS, 2006.

______. Coleção Progestores. Para entender a gestão do SUS. O Sistema Único de


Saúde. v. 1. Brasília : CONASS, 2007.

Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.


Programa de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde PROFORMAR.
un. I, mód.1. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 31

30916006 miolo.indd 31 20/07/09 14:58


Anexo

Modelos Assistenciais

Formas de
Modelo Sujeito Objeto Meios de Trabalho
Organização

Modelo médico- Médico Doença Tecnologia médica Rede de serviços de


assistencial • especialização (patologia e outras) (indivíduo) saúde
privatista • complementaridade
(paramédicos) Doentes Hospital
(clínica e cirurgia)

Modelo Sanitarista Modos de transmissão Tecnologia sanitária Campanhas sanitárias


sanitarista • auxiliares
Fatores de risco Programas especiais

Sistemas de vigilância
epidemiológica e
sanitária

Vigilância em Equipe de saúde Danos, riscos, Tecnologias de Políticas públicas


Saúde necessidades e comunicação social, saudáveis
População determinantes dos modos de planejamento
(cidadãos) de vida e saúde e programação Ações intersetoriais
(condições de vida e local situacional e
trabalho) tecnologias médico- Intervenções
sanitárias específicas (promoção,
prevenção e
recuperação)

Operações sobre
problemas e grupos
populacionais

Fonte: TEIXEIRA, 2001 in: PROFORMAR, Unidade I, Módulo I.

32 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 32 20/07/09 14:58


Texto 3 Estratégia de Saúde da Família

No início da década de 80, alguns países


iniciaram as primeiras atividades de mudança nos
serviços primários de saúde que foram reconheci-
das mundialmente como resolutivas e de impacto
- Cuba, Canadá e Inglaterra.

A partir dessas experiências mundiais, no Brasil, o Sistema Único de


Saúde (SUS) passa a organizar o Sistema de Atenção à Saúde com valorização
para o primeiro nível de atenção, a Atenção Básica (AB) ou Atenção Primária Família – Conjunto de pessoas
à Saúde (APS), operacionalizando a universalização do acesso aos serviços ligadas por laços de parentesco,
dependência doméstica, ou nor-
com equidade, descentralização da gestão, integralidade das ações e partici- mas de convivência, residentes na
mesma unidade domiciliar, ou pes-
pação social. soa que mora só em uma unidade
familiar. IBGE.

Para a execução da Atenção Básica, em 1994, originou-se no Brasil o Pro-


grama de Saúde da Família, proposto pelo governo federal aos municípios, por
meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Fundo das Nações Unidas Atenção Básica - um conjunto de
para a Infância (Unicef). ações, de caráter individual ou co-
letivo, situadas no primeiro nível de
atenção nos sistemas de saúde, dirigi-
das à promoção, prevenção de agra-
O Programa de Saúde da Família (PSF) constituiu-se numa das princi- vos, o tratamento e a reabilitação.
(Ministério da Saúde, 2004).
pais estratégias de reorganização dos serviços e de reorientação das práticas
profissionais na promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento e rea-
bilitação; nas modalidades de alocação de recursos e remuneração das ações
básicas de saúde. Participação Social – Envolvimento
ativo da população organizada na
tomada de decisão e no controle
Atualmente, o PSF é definido como Estratégia de Saúde da Família (ESF), social sobre as políticas e o sistema
de saúde. A participação social no
pois o termo “programa” se reporta a uma atividade com início, desenvolvimen- SUS é garantida mediante a atuação
dos Conselhos de Saúde em todos os
to e finalização. A ESF visa à reorganização da atenção primária e não prevê um níveis – nacional, estadual e munici-
pal – bem como por meio das Con-
tempo para finalizar esta reorganização. ferências de Saúde, realizadas perio-
dicamente. Programa de Formação
de Agentes Locais de Vigilância em
Estruturada como estratégia, para dar conta do processo de reorganização Saúde-
(PROFORMAR, - Unidade I, Módulo
da rede de atenção básica, a Saúde da Família, por esta potencialidade, é tam- 1, p. 19, 2003).

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 33

30916006 miolo.indd 33 20/07/09 14:58


bém uma política de reorganização de todo o sistema de saúde. Pela Portaria
GM/MS nº 648, de 28/3/2006 ficou estabelecido que a Saúde da Família é o
modelo prioritário do Ministério da Saúde para organizar a Atenção Básica, sen-
do considerada como a porta de entrada dos usuários para os serviços de saúde,
dando conta de aproximadamente 85% da demanda exigida pela clientela.

O principal objetivo é o de reorientar as práticas de atenção à saúde,


com a mudança do foco de atuação – do indivíduo para a família e para o
ambiente onde ela vive. Esta mudança de paradigma está pautada numa vi-
são ampliada do processo saúde – doença, resultando na reorganização da
demanda por meio do conhecimento da comunidade e do estabelecimento
de prioridades. Traz como pressupostos, oferecer às famílias ações de saúde
preventivas e curativas em suas próprias comunidades, resultando em me-
lhorias importantes nas condições de saúde da população, em resposta às
necessidades de uma atenção integral. Essas ações são desenvolvidas por uma
equipe multiprofissional, dirigidas ao indivíduo e à comunidade, com intensa
participação da população.

Nessa lógica, a apropriação das condições ambientais pela equipe de saú-


de da família torna-se necessária, uma vez que a problemática ambiental, sua
causalidade e consequências são fatores determinantes de risco para a saúde
humana.
A visita domiciliária é uma forma
de atenção em Saúde Coletiva
voltada para o atendimento ao in-
Considerando que a ESF realiza ações de saúde preventivas e curativas,
divíduo, à família ou à coletivida- algumas ferramentas são bastante eficazes, facilitando o processo de trabalho da
de que é prestada nos domicílios
ou nos diversos recursos sociais equipe:
locais, visando a maior equidade
da assistência em saúde. (Ceccim e
Machado, s/d, p.1). É uma das es- • Visita domiciliária – possibilita identificar como se expressam, na famí-
tratégias da Clínica Ampliada, com
o estabelecimento do contato mais lia, as formas de trabalho e vida dos membros que a compõem, como
próximo com as adversidades da
vida e das pessoas, de suas famí- essas formas são socializadas entre os membros, quais padrões de soli-
lias e suas comunidades. Possibilita dariedade se desenvolvem no interior do universo familiar e como estes
compreender o todo dos sujeitos,
as singularidades de suas vidas, de podem contribuir para o processo de cuidado, cura ou recuperação de
suas famílias e sua realidade social
e comunitária. um dos seus membros. Além de buscar a identificação dessa funcio-

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nalidade familiar, a sua prática compreende ainda entender as funções Solidariedade: sentido moral que
vincula o indivíduo à vida, aos in-
sociais, econômicas, ideológicas e de reprodução da força de trabalho teresses e às responsabilidades de
um grupo social. Relação de res-
da família na sociedade. Possibilita também, identificar as famílias com ponsabilidade entre pessoas unidas
por interesses comuns, de maneira
maiores riscos sociais de adoecer e morrer e menores potencialidades que cada elemento do grupo se
para o seu enfrentamento, além de organizar o acesso aos serviços de sinta na obrigação moral de apoiar
os outros. Dependência recíproca.
saúde para priorização do atendimento a essas famílias. A visita do- (Coren SP, 2000).

miciliária pode utilizar como instrumentos a entrevista e a observação


sistemática.
• Internação Domiciliária - tratamento realizado em casa, por decisão do
indivíduo ou família, quando grande parte dos cuidados pode ser reali-
zada pelos familiares, a ESF apoia e maneja a situação para promover a
qualidade de vida neste momento.

Composição da equipe e características do processo de trabalho em


Saúde da Família:

O trabalho das Equipes de Saúde da Família é o elemento-chave para a


busca permanente de comunicação e troca de experiências e conhecimentos
entre os integrantes da equipe e destes com a população. As equipes são com-
postas, no mínimo por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem
e seis agentes comunitários de saúde. A equipe ampliada, tem também, um den-
tista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental.

Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de 3000


a 4500 pessoas ou de mil famílias de uma determinada área e estas passam a
ter corresponsabilidade no cuidado à saúde. A atuação das equipes se dá princi- Você poderá aprofundar o estudo
sobre Educação em Saúde nas pró-
palmente nos seguintes espaços: unidades básicas de saúde, unidades de saúde ximas unidades do programa.
da família, residências e comunidade. Por ter território definido, com uma po-
pulação delimitada sob sua responsabilidade, a equipe pode intervir sobre os
fatores de risco aos quais a comunidade está exposta, presta assistência integral,
permanente e de qualidade e realiza ações de promoção por meio de práticas
de educação em saúde.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 35

30916006 miolo.indd 35 20/07/09 14:58


Analise as atividades que caracte- O processo de trabalho das equipes de Saúde da Família se caracteriza
rizam o processo de trabalho em
Saúde da Família e pense em co- por atividades como:
mo o técnico de enfermagem pode
se inserir nesse processo. Que co-
nhecimentos são necessários para
• Manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos e utili-
desenvolver as competências para zar, de forma sistemática, os dados para a análise da situação de saúde
este novo modelo de atenção?
considerando as características sociais, econômicas, culturais, demo-
gráficas e epidemiológicas do território;
• Definição precisa do território de atuação, mapeamento e reconheci-
O cadastramento da população re- mento da área, que compreenda o segmento populacional determina-
sidente no território é necessário,
pois a equipe saúde da família é res- do, com atualização contínua;
ponsável pelas ações de vigilância
em saúde que vão além da utiliza- • Diagnóstico, programação e execução das atividades segundo critérios
ção da UBS por cuidado em saúde.
Além disso, a produção de informa- de risco à saúde, priorizando solução dos problemas de saúde mais
ções sobre a saúde da população
exige o conhecimento do total de frequentes;
moradores da área de adscrição.
(CONASS, 2007). • Prática do cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do conhe-
cimento da estrutura e da funcionalidade das famílias que visa propor
intervenções que influenciem os processos de saúde-doença dos indiví-
duos, das famílias e da própria comunidade;
• Trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando as áreas técnicas e
profissionais de diferentes formações;
• Promoção e desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando parcerias
e integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção
da saúde, de acordo com prioridades e sob a coordenação da gestão
municipal;
• Valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma abor-
dagem integral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de con-
fiança com ética, compromisso e respeito;
• Promoção e estímulo à participação da comunidade no controle social,
no planejamento, na execução e na avaliação das ações;
• Acompanhamento e avaliação sistemática das ações postas em prática,
visando à readequação do processo de trabalho.

36 Promoção da Saúde

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No modelo de assistência da ESF, as principais mudanças estão relacio-
nadas com:
• Mudança de enfoque: modelo centrado na atenção à saúde;
• Aspectos integrais da saúde do indivíduo e da sua família: tanto nas
ações preventivas, como de promoção da saúde ou curativas, por meio
do contato com a Unidade de Saúde da Família (USF) e encaminhamen-
to às unidades de referência;
• Responsabilidade pela prestação da assistência por área territorial: pla-
nejamento mais adequado das atividades;
• Formação de equipe multiprofissional adequada ao número de clientes
assistidos.

A característica principal das Equipes de Saúde da Família é o estabeleci-


mento de vínculos de compromisso e de corresponsabilidade com a população,
estimulando a organização das comunidades para exercer o controle social das
ações e serviços de saúde. Utiliza ainda, sistemas de informação para o mo-
nitoramento e a tomada de decisões, atuando de forma intersetorial, por meio
de parcerias estabelecidas com diversos segmentos sociais e institucionais, de
forma a intervir em situações que transcendem a especificidade do setor saú-
de e que tem efeitos determinantes sobre as condições de vida e de saúde dos
indivíduos-famílias-comunidade.

Atribuições básicas da Equipe de Saúde da Família:

• Conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis, com


ênfase nas suas características socioeconômicas, psicoculturais, demo-
gráficas e epidemiológicas;
• Identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco as
quais a população está exposta;

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 37

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• Elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para o
enfrentamento dos fatores que colocam em risco a saúde;
• Programar as atividades e reestruturar o processo de trabalho;
• Executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os pro-
cedimentos de vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica, nos
diversos ciclos da vida, atuando no controle de doenças transmissíveis
como a tuberculose, a hanseníase, as DST e Aids, de doenças infecto-
contagiosas em geral, das doenças e agravos não transmissíveis e de
doenças relacionadas ao trabalho e ao meio ambiente;
• Valorizar a relação com o usuário e com a família para a criação de vín-
culo de confiança, que é fundamental no processo de cuidar;
• Resolver a maior parte dos problemas de saúde detectados e, quando
isso não for possível, garantir a continuidade do tratamento, por meio da
adequada referência do caso;
• Prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionali-
zada à demanda, buscando contatos com indivíduos sadios ou doentes,
visando promover a saúde pela educação sanitária;
• Desenvolver processos educativos por intermédio de grupos dirigidos à
recuperação da autoestima, troca de experiências, apoio mútuo e me-
lhoria do autocuidado;
• Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e
informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos
problemas;
• Promover, por meio da educação continuada, a qualidade de vida e
contribuir para que o meio ambiente torne-se mais saudável;
• Discutir de forma permanente, com a equipe e a comunidade, o concei-
to de cidadania, enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que
os legitimam;
• Incentivar a formação e/ou participação ativa nos Conselhos Locais de
Saúde e no Conselho Municipal de Saúde.

38 Promoção da Saúde

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Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da
Área de Enfermagem. Profissionalização de Auxiliares de Enfermagem. Cadernos do
Aluno. Saúde Coletiva. Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de


Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Programa Saúde da Família. A Im-
plantação da Unidade de Saúde da Família. Caderno 1. Brasília: 2000.

______. Ministério da Saúde. Programa Saúde da Família. Manual de Enfermagem.


Brasília, 2000.

Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arou-


ca. Comunicação em Saúde: Principais momentos do PSF. Radis, Comunicação em
Saúde. Disponível em: <http://www.ensp.fiocruz.br/radis/23-web-01.html>. Acesso
em: 10 de março de 2009.

______. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Programa de Formação de


Agentes Locais de Vigilância em Saúde PROFORMAR. Unidade I, Módulo 1. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2003.

Governo do Estado de Santa Catarina. Estratégia do Programa de Saúde


da Família e Programa Agentes Comunitários de Saúde. Santa Catarina, 2005.

MENDONÇA. M. H. M.; HEIMANN, L. S. Atenção Básica à Saúde no Contexto do


SUS: Novas Estratégias e Reafirmação dos Princípios de Acessibilidade, Integralida-
de e Intersetorialidade. Rio de Janeiro: Fiocruz; São Paulo: NISIS/SES, 2002.

MOROSINI, M. V. (org); CORBO, A. D. (org). Modelos de atenção e a saúde da famí-


lia. Coleção Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho
do agente comunitário de saúde. v. 4. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 39

30916006 miolo.indd 39 20/07/09 14:58


Texto 4 Território

Quando falamos em território, pensamos em espaços


onde se dão as relações sociais e ambientais, portanto, o signi-
ficado é muito mais amplo do que uma extensão geográfica. A
definição proposta por Santos (2003) nos mostra a sua comple-
xidade, que é por ele considerado como território usado pelos
homens, tal qual ele é, isto é, o espaço vivido pelos homens,
sendo também, o teatro da ação de todas as empresas, de to-
das as instituições. Esta é a definição de território vivo que in-
corpora a rede de relações humanas que vão se desenvolvendo
sobre uma base geográfica, influenciada por fatores socioeco-
nômicos, culturais, políticos e epidemiológicos.

Esses fatores e suas inter-relações são os determinantes do processo


saúde-doença sobre os quais a equipe de saúde e a própria popu-
lação tem co-responsabilidade, contando com o apoio de outros
setores afins ao sistema de serviços de saúde. CONASS, 2007.

Segundo Mendes, 1993; Barcellos e Rojas, 2004, o território-espaço vai


para além de um simples recorte político-operacional do sistema de saúde, ele
Milton Santos foi um geógrafo bra-
é o lócus onde se verifica a interação população-serviços no nível local. Carac-
sileiro de projeção internacional teriza-se por uma população específica, vivendo em tempo e espaço singulares,
que se dedicou aos estudos de geo-
grafia humana. Pesquise sobre sua com problemas e necessidades de saúde determinados, os quais para sua reso-
vida e obra.
lução devem ser compreendidos e visualizados pelos diferentes atores sociais ali
implicados (gestores, trabalhadores e cidadãos/usuários). Seu reconhecimento é
fundamental para a caracterização da população e dos determinantes de saúde,
bem como para a análise dos impactos dos serviços sobre os indicadores de
Visite a UBS próxima de sua casa e
procure saber qual é a sua área de saúde desse espaço.
abrangência.

Garantir a possibilidade desse reconhecimento e análise de impacto exige


a construção de métodos para serem aplicados nesse território-espaço – o que
na saúde denomina-se “territorialização”.

40 Promoção da Saúde

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Fica evidente que o entendimento/apropriação do território por parte dos O mapeamento é uma importante
ferramenta para a definição e visu-
grupos técnicos e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) tende a influir di- alização da área de abrangência do
território. No mapa são localizadas
retamente na forma como esse território será incorporado à prática de ações de as características mais relevantes
do ambiente natural e construído
saúde, para o enfrentamento de problemas e necessidades de saúde da popula- (características geográficas, infra-
estrutura, recursos sociais).
ção que o habita e o produz socialmente, por meio da construção de identidades Barcellos, C. O. Programa de For-
e de políticas. mação de Agentes Locais de Vigi-
lância em Saúde-PROFORMAR,
Unidade I, Módulo 3, 2003.

Territorialização

O reconhecimento dos espaços de convivência social, como processos


vivos de produção de condições de saúde, remete à necessidade de formular
estratégias para as políticas efetivas, para contemplar ações de saúde coletiva
envolvidas no contexto, construídas nas bases da solidariedade e da correspon-
sabilidade (gestão/atores sociais).

Para a apropriação do território como espaço de produção de saúde,


inicia-se a partir de 1994, um processo de reorganização da atenção básica,
utilizando como modelo a Saúde da Família, cuja base metodológica de ação e
ponto de partida deram-se pelo processo de territorialização.

A territorialização possibilita o diagnóstico da situação de saúde e con-


dições de vida, ou seja, saber como vive, adoece e morre a população em
determinados lugares e situações. Facilita, ainda, a identificação de problemas
e necessidades a serem enfrentadas e revela potencialidades locais, por meio
da análise do que determina e condiciona cada situação. Essas informações
subsidiam a busca de soluções adequadas que possam melhorar as condições
de vida e saúde locais, possibilitando:

• Aprender a aplicar novas metodologias relativas ao processo de territo-


rialização em saúde;
• Reconhecer a área de abrangência;

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 41

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• Identificar acessibilidade e barreiras;
• Conhecer as condições de infraestrutura da área e recursos sociais;
• Realizar levantamento dos problemas que definam o diagnóstico da
comunidade;
• Identificar o perfil demográfico, epidemiológico, socioeconômico e am-
biental;
• Identificar as lideranças formais e informais;
• Conhecer e se apropriar do território a partir das demandas/necessida-
des da população.
Área de abrangência: área sob a
responsabilidade de um determi- Para o diagnóstico da situação de saúde do território destacam-se os se-
nado serviço de saúde ou equipe
de Estratégia de Saúde da Família, guintes tipos de dados:
que deverão trabalhar em prol da
resolutividade dos agravos à saúde • Demográficos: referem-se à população, o número de habitantes de uma
que acometem os membros daque-
le território, bem como da preven- área ou distribuição de subgrupos populacionais (por idade ou sexo);
ção de agravos e da promoção da
saúde naquele espaço. Disponível • Ambientais e de condições de vida: características do território, de do-
em <www.saude.gov.br/psf/progra-
ma/comofunciona.asp>. micílios e variáveis sociais, que identificam o contexto de vida da popu-
lação ou de indivíduos;
• Morbidade: refere-se à ocorrência de doenças e agravos à saúde;
• Mortalidade: refere-se aos óbitos;
• Serviços de saúde: descrevem os recursos de saúde e a produção de
serviços – recursos físicos, humanos, financeiros, produção na rede de
serviços básicos de saúde e em outras instituições de saúde;
• Documentos e registros administrativos: legislação médico-sanitária, re-
ferências bibliográficas e sistemas administrativos.

Nesse contexto, fica evidente a necessidade de os diferentes atores sociais


conhecerem a história dos indivíduos, do seu território de corresponsabilidade e
como esse território se insere na dinâmica da vida de cada um. Qual a história
dos serviços de saúde, das pessoas que frequentam esses serviços de saúde e, a
partir daí, entender as diferentes representações dos atores sobre os serviços de
saúde e sobre a comunidade.

42 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 42 20/07/09 14:58


Bibliografia
Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Coleção Progestores. Para
entender a gestão do SUS. Atenção primária e promoção da saúde. v. 8. Brasília:
Conass, 2007.

Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.


Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente
comunitário de saúde. O Território e o Processo Saúde-Doença. v.1. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2007.

______. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Programa de Formação


de Agentes Locais de Vigilância em Saúde PROFORMAR. un. I, mód. 3. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2003.

MENDES, R; DONATO, F. A. Território: Espaço Social de Construção de Identidades


e de Políticas. São Paulo, 2003.

MONKEN, M.; BARCELLOS, C. Vigilância em saúde e território utilizado: possibili-


dades teóricas e metodológicas. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.21,
n.3, mai-jun, 2005.

PEREIRA, M.; BARCELLOS, C. O Território no Programa de Saúde da Família.Hygeia


Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, Rio de Janeiro, v.2, n.2, jun
2006. Disponível em: <www.hygeia.ig.ufu.br.>. Acesso em: 11 de março de 2009.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 43

30916006 miolo.indd 43 20/07/09 14:58


Texto 5 Vigilância em Saúde

Nos últimos 20 anos, o sistema de saúde brasileiro vem


passando por um amplo processo de transformação, fruto do
debate sobre a crise da saúde e do movimento sanitarista que
culminaram na definição do SUS na Constituição Federal de
1988 e suas posteriores regulamentações por meio das Leis nº
8.080 e nº 8.142, ambas de 1990.

O SUS hoje é uma realidade, em permanente pro-


cesso de construção e renovação a fim de atender às ne-
cessidades da população brasileira no âmbito da saúde. Parte desse processo
é a reorganização da atenção à saúde, tendo como fundamento o modelo de
Vigilância da Saúde.

O conceito de Vigilância em Saúde deve ser entendido como uma forma


de pensar e de agir, que tem como objetivo realizar a análise permanente da si-
Modelo de Atenção à Saúde – for- tuação de saúde da população e a organização e execução de práticas de saúde
ma de organização de prestação de adequadas ao enfrentamento dos problemas existentes. A Vigilância em Saúde
serviços e do conteúdo das ações
de saúde, de modo que o Estado nasce das questões sociais, por isso precisa ser construída com a participação
e municípios possam utilizar, da
melhor forma possível, os recursos ativa dos trabalhadores de saúde e da população, na medida em que implica
disponíveis para atender às neces-
sidades e demandas da população. mudanças na forma de pensar e agir. O termo Vigilância em Saúde é resulta-
do de debates que visam à articulação de conhecimentos e técnicas vindos da
epidemiologia, assim como do planejamento e das ciências sociais em saúde,
tornando-se referencial para o processo de mudança no modelo de atenção,
apresentando algumas discussões:

1 - Vigilância em Saúde como Análise de Situações de Saúde

Monitoramento da situação com a ampliação de objetos de vigilância


epidemiológica, que passam a envolver não apenas as doenças transmissíveis,
mas também as investigações e a organização de bancos de dados sobre outros

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agravos, como mortalidade materno-infantil, doenças crônicas, acidentes e vio-
lência, bem como os aspectos relativos à organização e produção dos serviços
de saúde, contribuindo para um planejamento mais abrangente.

2 - Vigilância em Saúde como Proposta de Integração Institucional


entre a Vigilância Epidemiológica e a Vigilância Sanitária

Essa vertente se concretizou em várias reformas administrativas realizadas


pelas secretarias de saúde nos anos 1990, com a criação de Departamentos
de Vigilância em Saúde, resultando no fortalecimento das ações de vigilância
sanitária e articulação com os centros de saúde do trabalhador, constituindo-se
em espaço privilegiado para a implementação das campanhas de imunização e
programas de controle de endemias e epidemias.

3 - Vigilância em Saúde como uma Proposta de Redefinição das


Práticas Sanitárias

Destaca a dimensão técnica, ao expressar a Vigilância em Saúde como


um modelo assistencial alternativo que reúne um conjunto de práticas sanitárias
que requerem tecnologias distintas, destinadas a controlar determinantes, riscos Tecnologias de Vigilância em Saú-
de: conjunto de métodos, técnicas
e danos. Enfatiza também a dimensão gerencial, com uma prática que organiza e instrumentos utilizados no desen-
processos de trabalho em saúde, para enfrentar problemas no cotidiano em um volvimento das distintas práticas
que compõem o elenco de ativida-
território delimitado, por meio de operações montadas sobre os problemas nas des da Vigilância em Saúde.

diferentes fases do processo saúde-doença.


Diante dessas discussões, fica evidenciado que a Vigilância em Saúde articula
os vários níveis de prevenção. Salienta o desenvolvimento de políticas públicas sau-
dáveis e de ações sociais organizadas em defesa da saúde e das melhorias de condi- A Portaria GM/MS nº 1.172, de 15
de junho de 2004, passou a utili-
ções de vida. Articula o enfoque populacional (promoção), com o de risco (preven- zar a denominação de Vigilância
ção) e o clínico (assistência). Constitui-se, de fato, numa estratégia de organização em Saúde, em substituição a an-
terior epidemiologia e controle de
de um conjunto de políticas e práticas que assumem configurações específicas de doenças.

acordo com a situação de saúde das populações de um determinado território.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 45

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Processo de trabalho da Vigilância em Saúde

O processo de trabalho de Vigilância em Saúde implica o trabalho coleti-


vo realizado pela equipe de saúde do nível local e pela população, por meio da
identificação, descrição, análise e intervenção sobre os problemas, necessidades
e condições de vida dos diversos grupos populacionais, conforme demonstrado
no quadro abaixo:

Sujeito Objeto Meios de Trabalho Formas de Organização


Equipe de Saúde Danos, riscos, Tecnologias de comunicação - Políticas públicas saudáveis;
População necessidades e social, de planejamento e - Intervenções específicas
determinantes dos programação local situacional e (promoção, prevenção e
modos de vida e saúde tecnologias médico-sanitárias. recuperação);
(condições de vida e - Operações sobre problemas e
trabalho). grupos populacionais.

Fonte:Teixeira, 2001.

Ações Prioritárias de Vigilância em Saúde:

As ações prioritárias de Vigilância em Saúde estabelecem um conjunto de


atividades e metas, discutidas e acordadas entre a Secretaria de Vigilância em
Saúde (SVS), Secretaria de Estado da Saúde (SES) e as secretarias municipais de
Saúde (SMS) nas quais se destacam:

• Notificação de doenças e agravos;


• Investigação epidemiológica;
Antropozoonose – infecção trans-
mitida ao homem, por reservatório • Diagnóstico laboratorial de agravos de saúde pública;
animal.
• Vigilância ambiental;
• Vigilância de doenças transmitidas por vetores e antropozoonoses;
• Controle de doenças;
• Imunizações;

46 Promoção da Saúde

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• Monitorização de agravos de relevância epidemiológica;
• Divulgação de informações epidemiológicas;
• Elaboração de estudos e pesquisas em epidemiologia;
• Alimentação e manutenção de sistemas de informação;
• Acompanhamento das atividades programadas;
• Ações básicas de vigilância sanitária.

Essas ações prioritárias propõem atividades e metas que visam fortalecer


o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, tendo como objetivo aumentar a
capacidade dos estados e municípios em assumir as atividades de notificação,
investigação, confirmação laboratorial, imunização, sistemas de informação e
vigilância ambiental em saúde.

A Vigilância em Saúde compreende a Vigilância Epidemiológica, Vigilân-


cia Sanitária, Vigilância em Saúde Ambiental e Vigilância em Saúde do Traba-
lhador.

Vigilância Epidemiológica - VE

Definida como um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a


detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e con-
dicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar
e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos (doenças
transmissíveis e doenças e agravos não transmissíveis).

Constitui-se importante instrumento para o planejamento, organização e


operacionalização dos serviços de saúde, bem como a normatização das ativi-
dades técnicas correlatas. Compreende uma série de funções específicas, per-
mitindo conhecer o comportamento da doença ou agravo selecionado como
alvo das ações, de forma que as medidas de intervenção pertinentes possam ser
desencadeadas com oportunidade e eficácia.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 47

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São funções da Vigilância Epidemiológica:

• Coleta de dados;
• Processamento, análise e interpretação dos dados coletados;
• Recomendação das medidas de controle apropriadas;
• Promoção das ações de controle indicadas;
• Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
• Divulgação de informações pertinentes.

As mudanças no perfil epidemiológico das populações, com o declínio das


taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e o crescente aumento
das mortes por causas externas e doenças crônico-degenerativas, têm propiciado a
incorporação das doenças e agravos não transmissíveis às atividades da Vigilância
Epidemiológica.

Para o desenvolvimento do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológi-


ca (SNVE) a atual orientação estabelece como prioridade o fortalecimento dos
sistemas municipais de Vigilância Epidemiológica, que devem ser dotados de
autonomia técnico-gerencial para enfocar os problemas de saúde próprios de
suas áreas de abrangência. As secretarias estaduais de Saúde devem assumir as
responsabilidades de coordenação, supervisão e monitoramento das ações.

Vigilância Sanitária - VISA


Definida como um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou
prevenir riscos à saúde e intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio
Veja as ações da Vigilância Sanitá- ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de inte-
ria, em anexo.
resse da saúde. A natureza do trabalho em Vigilância Sanitária é bastante com-
plexa e diferencia-se das outras práticas de saúde. O campo de atuação e as
atribuições previstas para a Vigilância Sanitária demandam saberes de vários
campos do conhecimento, inclusive da área jurídico-legal para que suas ações
estejam respaldadas e não possam ser anuladas. A Vigilância Sanitária utiliza,

48 Promoção da Saúde

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como um dos seus principais instrumentos, a norma sanitária que estabelece
parâmetros e padrões.

Vigilância em Saúde Ambiental - VSA


É definida como um conjunto de ações que proporcionam o conhecimen-
to e a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionan-
tes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de Risco: (...) risco é a probabilidade
de ocorrência de efeitos adversos
identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados a objetos submetidos
a controle sanitário. (...) A legisla-
relacionados às doenças ou outros agravos à saúde. (Brasil, 2001). Busca a iden- ção mais recente procura utilizá-lo
tificação de situações de risco ou perigos no ambiente que possam causar doen- na forma de expressões mais pre-
cisas tais como fatores de risco,
ças, incapacidades e mortes, com o objetivo de adotar ou recomendar medidas grau de risco, potencial de riscos,
grupos de risco, gerenciamento de
para a remoção ou redução da exposição a essas situações de risco. risco e risco potencial.
(COSTA, 2000).

Áreas prioritárias de atuação da Vigilância em Saúde Ambiental (VSA):


• Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua);
• Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Qualidade do Ar (Vigiar);
• Vigilância em Saúde da População Exposta ao Solo Contaminado (Vigi-
solo);
• Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada às Substâncias Químicas
(Vigiquim);
• Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada a Fatores Físicos (Vigifis);
• Vigilância em Saúde Ambiental dos Riscos Decorrentes dos Desastres Natu-
rais (Vigidesastres).

Vigilância em Saúde do Trabalhador - Visat

Conjunto de práticas sanitárias articuladas suprassetorialmente, cuja es-


pecificidade está centrada na relação da saúde com o ambiente, processos de
trabalho e assistência, apoiados nos princípios da vigilância em saúde, para a

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 49

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melhoria das condições de vida e saúde da população. Deve ser compreendida
como parte da Vigilância em Saúde. Nesse sentido, pretende acrescentar ao con-
junto de ações de vigilância em saúde, estratégias de produção de conhecimen-
tos e mecanismos de intervenção sobre os processos de produção, aproximando
os diversos objetos comuns das práticas sanitárias àqueles oriundos da relação
entre o trabalho e a saúde.

A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve atuar de forma contínua e


sistemática no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores de-
terminantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e
ambientes de trabalho, com a finalidade de planejar, executar e avaliar interven-
ções sobre esses aspectos, visando eliminá-los ou controlá-los.

Devem ser consideradas no planejamento das ações de Visat, questões


como território, ramos produtivos, perfil epidemiológico e a participação dos
trabalhadores e das comunidades.

São objetivos da Visat:


• Conhecer a realidade da saúde da população trabalhadora, indepen-
Faça um levantamento sobre os
principais agravos que acometem o dentemente da forma de inserção no mercado de trabalho e do vínculo
trabalhador de saúde no exercício
de sua profissão, relacionando-os
trabalhista estabelecido;
com as causas e as medidas de
prevenção.
• Intervir nos fatores determinantes de agravos à saúde da população tra-
balhadora, visando eliminá-los ou, na sua impossibilidade, atenuá-los e
controlá-los;
• Avaliar o impacto das medidas adotadas;
• Subsidiar a tomada de decisões dos órgãos competentes, nas três esferas
de governo;
• Estabelecer sistemas de informação da saúde do trabalhador, nas estru-
turas existentes nesse setor.

Considerando o SUS como um processo em permanente construção,


apontando para a reorganização do modelo de atenção à saúde, faz-se ne-

50 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 50 20/07/09 14:58


cessário compreender o modelo de Vigilância em Saúde proposto, em que
as Vigilâncias Epidemiológica, Sanitária, Ambiental e da Saúde do Traba-
lhador devam estar integradas, nos níveis institucional, organizacional e,
principalmente, operacional.

O desenvolvimento das práticas de Vigilância em Saúde implica proces-


so de reflexão, na disponibilidade ao novo e nas possibilidades que se abrem
para os atores que compõem o processo de trabalho em saúde. Pressupõe a
esses atores o desenvolvimento da capacidade de observar e analisar os pro-
blemas de saúde da população, dos grupos sociais e das pessoas, de forma
individual e coletiva e em uma perspectiva do comprometimento do fazer.

Bibliografia

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: pro-


mulgada em 5 de outubro de 1988.

______. Ministério da Saúde. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre


as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, o serviço e o fun-
cionamento dos ser­viços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial
da União, de 20 de setembro de 1990.

______. Ministério da Saúde. Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe


sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e
sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde
e dá outras providên­cias. Diário Oficial da União, Brasília.

______. Ministério da Saúde. Portaria n. 1.172, de 15 de junho de 2004. Regulamenta


a NOB/SUS 01/96 no que se refere às competências da União, estados, municípios e
Distrito Federal, na área de Vigilância em Saúde, define a sistemática de financiamen-
to e dá outras providências. Diário Oficial da União, 17 de junho de 2004.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica. 6. ed. Brasília: Mi-
nistério da Saúde, 2007.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 51

30916006 miolo.indd 51 20/07/09 14:58


COSTA, E. A. Fundamentos de Vigilância Sanitária. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000.

Conselho Nacional dos Secretários de Saúde. Coleção Progestores. Para


entender a gestão do SUS. Vigilância em Saúde. v. 6, I. Brasília: Conass, 2007.

______. Coleção Progestores. Para entender a gestão do SUS. Vigilância em Saúde.


v. 6, II. Brasília: Conass, 2007.

Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.


O SUS e a Vigilância em Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz/EPSJV/PROFORMAR, 2004.

______. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. O Processo de trabalho da


Vigilância em Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz/EPSJV/PROFORMAR, 2004.

Anexo
Ações da Vigilância Sanitária

Cabe à Vigilância Sanitária desenvolver um conjunto de ações relaciona-


das aos seguintes bens, produtos e serviços:
• Alimentos, inclusive bebidas, águas envasadas, seus insumos, suas em-
balagens, aditivos alimentares, limites de contaminantes orgânicos, resí-
duos de agrotóxicos e de medicamentos veterinários;
• Medicamentos de uso humano, suas substâncias ativas e demais insu-
mos, processos e tecnologias;
• Cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfume;
• Saneantes destinados à higienização, desinfecção ou desinfestação em
ambientes domiciliares, hospitalares e coletivos;
• Conjuntos, reagentes e insumos destinados a diagnóstico;
• Equipamentos e materiais médico-hospitalares, odontológicos, hemote-
rápicos e de diagnóstico laboratorial e por imagem;

52 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 52 20/07/09 14:58


• Imunobiológicos e suas substâncias ativas, sangue e hemoderivados;
• Órgãos, tecidos humanos e veterinários para uso em transplantes ou
reconstituições;
• Radioisótopos para uso diagnóstico in vivo, radio-fármacos e produtos
radioativos utilizados em diagnóstico e terapia;
• Cigarros, cigarrilhas, charutos e qualquer outro produto fumígero, deri-
vado ou não do tabaco;
• Quaisquer produtos que envolvam a possibilidade de risco à saúde,
obtidos por engenharia genética, por outro procedimento ou ainda sub-
metidos a fontes de radiação;
• Serviços direcionados para a atenção ambulatorial, os realizados em re-
gime de internação, os serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, bem
como aqueles que impliquem a incorporação de novas tecnologias;
• Serviços como: creches, asilos para idosos, presídios, cemitérios, salões
de beleza, cantinas e refeitórios escolares, academia de ginástica, clubes;
• Instalações físicas, equipamentos, tecnologias, ambientes e procedimen-
tos envolvidos em todas as fases dos processos de produção dos bens
e produtos, submetidos ao controle e fiscalização sanitária, incluindo a
destinação dos respectivos resíduos.

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 53

30916006 miolo.indd 53 20/07/09 14:58


Texto 6 Política Nacional de Humanização

Antes de entender é preciso sentir.


(Deleuze)

Entende-se por humaniza-


ção a valorização dos diferentes
sujeitos implicados no processo de
produção de saúde: usuários, tra-
balhadores e gestores.

A construção histórica do
SUS tem sido marcada pelo esforço em materializar os princípios da integra-
lidade, universalidade e equidade na implementação da rede de serviços de
Subjetivismo: tendência em reduzir saúde em nosso país. Entretanto, apesar dos saberes acumulados no que se
toda a realidade à concepção do
sujeito, do eu. refere aos seus princípios norteadores e à descentralização da atenção e da
(AURÉLIO. Minidicionário da Língua
Portuguesa, 2008).
gestão, o SUS ainda enfrenta vários problemas, como:

• Fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes


profissionais;
Sistema de Referência (SR) e Contrar- • Fragmentação da rede assistencial dificultando a complementaridade
referência (CR): é um sistema de in-
formação que garante ao cidadão o entre a rede básica e o sistema de referência;
atendimento integral às suas necessi-
dades de saúde – a integralidade das
ações. Quando um usuário do SUS
• Despreparo dos profissionais para lidar com a dimensão subjetiva nas
necessita de certa ação que não está
disponível em sua unidade básica
práticas de atenção;
de referência, ele deve ser encami-
nhado a outro estabelecimento de • Sistema Público de Saúde burocratizado e verticalizado;
saúde de diferente complexidade, o
qual deverá realizar o procedimento
solicitado. Em seguida, feita a ação, • Baixo investimento na qualificação dos trabalhadores em relação ao
o paciente deverá ser encaminhado trabalho em equipe e gestão participativa;
de volta à sua unidade básica de
origem para dar continuidade ao seu
atendimento. • Pouco fomento à cogestão e à valorização dos trabalhadores e usuários
(PROFORMAR Unidade I, Módulo
I, 2003). no processo de produção de saúde;

54 Promoção da Saúde

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• Formação dos trabalhadores de saúde distante do debate e da formula- Dentre os problemas apontados so-
bre a atenção e a gestão no SUS,
ção da política pública de saúde; alguns se referem à formação e à
atuação dos trabalhadores de saú-
de. Como você analisa esses pro-
• F ragilidade do controle social nos processos de gestão e atenção do blemas e suas possíveis causas?
SUS; Como poderiam ser enfrentados ou
minimizados?

Pretendendo-se um SUS para além desse cenário, comprometido com a


defesa da vida e fortalecido na pactuação democrática e coletiva de seu processo,
o Ministério da Saúde, em 2003, instituiu a Política Nacional de Humanização Acolhimento: Prática que tem como
princípios a solidariedade, a compre-
(PNH). Foi formulada a partir da sistematização de experiências bem-sucedidas ensão e a generosidade no trato com
os usuários dos serviços de saúde, fa-
de práticas de humanização nas ações de atenção e gestão desenvolvidas por zendo com que eles se sintam bem-
vindos e à vontade no grupo que os
estados, municípios e serviços de saúde. Surge como política transversal, que acolheu Com isso poderão desenvol-
permeia os diferentes espaços de saúde e agrega os diversos núcleos de saber/ ver a confiança, a autoestima e a co-
operação na melhoria de sua saúde e
poder (gestores, trabalhadores e usuários) que se ocupam da produção da saúde de sua qualidade de vida.
(PROFORMAR, Módulo I, Unidade
e do sujeito. I, 2003).

A PNH busca colaborar na efetivação dos princípios do SUS, com a supe-


ração de desafios importantes como o acolhimento, a valorização do trabalho
em saúde e a integração das ações no processo de atenção. Construir tal política Rede em Saúde: conjunto de equi-
pamentos/serviços/sujeitos de pro-
impõe que o SUS seja tomado em sua perspectiva de rede (integralidade dos dução de saúde articulados entre si.
Redes Frias: definida como plano
níveis de atenção/modelos de atenção e da gestão). extenso, com forma – fluxograma,
apresentando modos de funciona-
mento padronizados e burocráticos.
Nesse sentido, a Humanização no SUS, com base na PNH, se propõe a: Embora necessária, não é suficiente.
Redes Quentes: supõem desejos,
• Traduzir os princípios do SUS em modos de operar dos diferentes equi- cumplicidades, nuances. Cria uma
essência e submete a outras regras. É
pamentos e sujeitos da rede de saúde; uma rede de afetos, invisível, que afe-
ta a rede fria. Propõe ações micropo-
líticas (de relações entre os sujeitos).
• Construir trocas solidárias e comprometidas com a dupla tarefa de produzir
saúde e sujeitos;
• Oferecer um eixo articulador das práticas em saúde, destacando um
aspecto subjetivo nelas presente;
• Contagiar por atitudes e ações humanizadoras a rede do SUS, incluindo Dentre as propostas da PNH, como
você enquanto trabalhador da saúde
gestores, trabalhadores e usuários. e da enfermagem poderia se engajar?

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 55

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Princípios da PNH

• Indissociabilidade entre a atenção e a gestão dos processos de produ-


ção de saúde – incorporação da humanização no desenvolvimento de
práticas interdependentes e complementares, fortalecendo/estimulan-
do processos integradores e promotores de compromissos/responsabi-
lidades;
• Transversalidade – concepções e práticas que atravessam as diferentes
ações e instâncias aumentam o grau de abertura da comunicação intra
e intergrupos e ampliam as grupalidades, o que se reflete em mudanças
nas práticas de saúde, fortalecendo o trabalho em equipe multiprofis-
sional;
• Autonomia e protagonismo dos sujeitos – a corresponsabilidade entre
gestores, usuários e trabalhadores da saúde, o estabelecimento de vín-
culos solidários e a participação coletiva na produção da saúde e pro-
dução de sujeitos;
• Valorização da dimensão subjetiva, coletiva e social, em todas as práti-
cas de atenção e gestão no SUS;
• Fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as
instâncias gestoras do SUS;
• Compromisso com a democratização da relação de trabalho e valori-
zação dos trabalhadores de saúde, estimulando processos de educação
permanente;
• Valorização da ambiência, com organização de espaços saudáveis e
acolhedores de trabalho.
A PNH não é uma política instituída, mas instituinte. Não deve ser inter-
Instituinte: parte do princípio do pretada como uma política capaz de resolver os problemas do SUS, mas aponta
que está instituído (normalizado)
para encontrar nele a possibilidade alguns dispositivos que podem ser somados a outras políticas para melhoria da
de novas formas de ser e de fazer.
(CASTORIADIS, 1992). qualidade de vida da população, com destaque para:

56 Promoção da Saúde

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• Acolhimento com classificação de risco - recepção do usuário, desde O acolhimento vem mudar a lógica
do atendimento, permitindo que o
sua chegada, responsabilizando-se integralmente por ele, ouvindo sua critério de priorização da atenção
seja o agravo à saúde e/ou grau de
queixa, permitindo que ele expresse suas preocupações, angústias e, sofrimento e não mais a ordem de
chegada.
ao mesmo tempo, garantindo atenção resolutiva e articulação com os
outros serviços de saúde para a continuidade da assistência quando
necessário.
• Equipes de Referência e Equipe de Apoio Matricial - Equipe de Referên-
cia é um grupo multiprofissional, caracterizado pelo objetivo de cada
serviço de saúde, tendo uma clientela sob sua responsabilidade. Está
inserida em uma matriz organizacional (Equipe de Apoio Matricial).
Assim, a clientela é assistida pela sua equipe básica de referência e,
quando necessário, buscam-se recursos de uma equipe de retaguarda
especializada na rede de serviços matriciais de apoio. As equipes de
referência passam a ser a estrutura permanente e nuclear dos serviços
de saúde.
• Projeto Terapêutico Singular - O PTS é um conjunto de propostas de
condutas terapêuticas articuladas para um sujeito individual ou coleti-
vo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com
apoio matricial se necessário. Foi bastante desenvolvido em espaços de
atenção à saúde mental como forma de propiciar uma atuação integra-
da da equipe valorizando outros aspectos, além do diagnóstico psiquiá-
trico e da medicação, no tratamento dos usuários.

Portanto, é uma reunião de toda a equipe em que todas as opiniões são


importantes para ajudar a entender o sujeito com alguma demanda de cuidado
em saúde e, consequentemente, para definição de propostas de ações. O nome
Projeto Terapêutico Singular, em lugar de Projeto Terapêutico Individual, como
também é conhecido, nos parece melhor porque destaca que o projeto pode
ser feito para grupos ou famílias e não só para indivíduos, além de frisar que o
projeto busca a singularidade (a diferença) como elemento central de articula-
ção (lembrando que os diagnósticos tendem a igualar os sujeitos e minimizar as
diferenças: hipertensos, diabéticos, etc.). (Ministério da Saúde, 2007).

UNIDADE II – Política Nacional de Saúde 57

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• Ambiência - ambiente físico, social, profissional e de relações interpes-
soais, direcionado para a atenção acolhedora, resolutiva e humana. Nos
serviços de saúde, a ambiência é marcada tanto pelas tecnologias mé-
dicas presentes, quanto por outros componentes estéticos ou sensíveis
apreendidos pelo olhar, olfato, audição, como luminosidade, ruídos do
ambiente, temperatura. O componente afetivo também se faz presente na
ambiência, podendo ser expresso na forma do acolhimento, da atenção
dispensada ao usuário, da interação entre os trabalhadores e gestores.
• Clínica Ampliada - trabalho clínico que visa o sujeito e a doença, a
família e o contexto, tendo como objetivo produzir saúde e aumentar a
autonomia do sujeito, da família e da comunidade. Utiliza como meios
de trabalho a integração de equipe multiprofissional, reconhecimento
da clientela e construção de vínculo, a elaboração de projeto terapêu-
tico (PTS), conforme a vulnerabilidade de cada caso e a ampliação dos
recursos de intervenção sobre o processo saúde-doença.
• Sistemas de Escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saú-
de - Modelos de gestão participativa em que se inclui a sociedade
civil, o usuário e os seus familiares, os trabalhadores e gestores dos
Exemplos de Sistema de Escuta
Qualificada: Instalação de ouvi- serviços de saúde.
dorias dirigidas ao cliente interno
e externo traz as demandas do • Projeto Acolhendo os Familiares/rede social participante - Instituição de
usuário e/ou trabalhador de saú-
de e constitui-se em instrumento Visita Aberta ampliando para a família, de acordo com sua disponibili-
gerencial, pois levanta problemas,
aproxima os diversos atores do
dade, o direito à visita ao familiar internado. Reconhecer e propiciar o
sistema de saúde, indicam cami- direito de acompanhante a todo cliente internado possibilitando a ma-
nhos e intermedia as relações. Uso
de instrumentos como pesquisas nutenção do vínculo com seu mundo pessoal, independentemente de
para medir o nível de satisfação do
cliente. idade ou grau de dependência e propiciando condições adequadas para
sua permanência. Envolver o cliente no Projeto Terapêutico entenden-
do-o como protagonista no processo de produção de sua própria saúde,
dando-lhe voz e direito de opção.
• Programa de Formação em Saúde e Trabalho e Comunidade Ampliada
de Pesquisa - Promover capacitações sistemáticas, ações de incentivo
e valorização do trabalho em equipe e participação em processos de
educação permanente.

58 Promoção da Saúde

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• Programas de Qualidade de Vida e Saúde para os Trabalhadores da Saúde -
Desenvolver programas com foco no trabalhador, com atividades de va-
lorização e de cuidados aos trabalhadores da saúde, contemplando ações
dirigidas para a promoção da saúde e qualidade de vida no trabalho.
• Grupo de Trabalho de Humanização - Constituído por representantes
de profissionais e demais trabalhadores em cada equipamento de saú-
de, tendo como atribuições: difundir a PNH, promover o trabalho em
equipes multiprofissionais, pesquisar e levantar os pontos críticos do
funcionamento dos serviços, propor mudanças que beneficiem usuários
e trabalhadores, incentivar a democratização da gestão, entre outros.

A Política Nacional de Humanização (PNH) nos possibilita rever os proces-


sos de trabalho. Traz em sua essência a transformação das relações sociais, valores
que promovam maior autonomia dos sujeitos e participação coletiva na gestão. Ao
proporcionar os processos de mudança do ponto de vista do indivíduo e valorizá-
los, promove também transformações na sua prática de produção da saúde, inter-
vindo diretamente na qualidade da atenção da rede de serviços do SUS.

No âmbito da Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP), a humanização da


assistência tem procurado:
• estimular, fortalecer, apoiar e disseminar as Ações de Humanização nos
serviços de saúde próprios do Estado;
• contribuir para a formação permanente em humanização;
• estimular, acompanhar e dar suporte às comissões de humanização dos
hospitais e ambulatórios;
• ampliar e potencializar as concepções e práticas de humanização nos
serviços da SES-SP;
• contribuir para a articulação e integração da política de humanização
por meio de um diálogo constante com as demais coordenadorias.
A Secretaria de Estado da Saúde deve dar continuidade e aprofundamen-
to ao processo de humanização nas unidades de saúde estaduais, por meio de

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30916006 miolo.indd 59 20/07/09 14:58


projetos, como: Jovens Acolhedores, Conte Comigo, Cantinho da Beleza, Leia
Comigo, Método Mãe Canguru, Iniciativa Hospital Amigo da Criança, Brinque-
doteca, Visita Aberta, Acolhimento com Classificação de Risco, Voluntariado,
Programa de Prestação de Serviços à Comunidade, entre outras ações.

Finalmente, pensando no processo de produção da saúde, remetemo-nos à


questão do cuidado, na lógica da humanização. Nesse caso, o cuidado em saúde
deve ser visto não como operação e monitoramento do tratamento ou como atenção
aos aspectos periféricos do bem-estar do paciente, mas, destacando o cuidado como
categoria reconstrutiva, de reflexão crítica e de transformação da prática.

Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Humaniza SUS. Formação de Apoiadores para a Polí-
tica Nacional de Humanização da Gestão e da Atenção à Saúde. Leituras Comple-
mentares. Rio de Janeiro, 2006.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Polí-


tica Nacional de Humanização. Cartilhas de Humanização. Brasília, 2007.

______. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico da Política Na-


cional de Humanização. Humaniza SUS. Política Nacional de Humanização. A Hu-
manização como Eixo Norteador das Práticas de Atenção e Gestão em todas as
Instâncias do SUS. Brasília, 2004.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Po-


lítica Nacional de Humanização. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto
terapêutico singular . Série B. Textos Básicos de Saúde. 2. ed. Brasília: Ministério da
Saúde, 2007.

Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.


Programa de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde - PROFORMAR.
un. I, mód. 1. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

60 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 60 20/07/09 14:58


Sistema de Informação em Saúde unidade III
Objetivo
Reconhecer os sistemas de informação enquanto ferramentas para a formulação
e avaliação das políticas, planos e programas de saúde.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


III.1- Reconhecer os indicado- 1- Indicadores de saúde 1- Levantamento de indicadores de saúde mais uti-
res de saúde. • Coeficiente de mortalidade lizados.
• Coeficiente de morbidade 2- Interpretação dos indicadores por meio de exercí-
• Coeficiente de prevalência cios com cálculos matemáticos.
• Coeficiente de incidência
• Taxa de letalidade

III.2- Identificar os sistemas 1- Dado e informação 1- Pesquisa em bases de dados (www.datasus.gov.br)


de informação utilizados em 2- Processo de produção da informação: sobre a estrutura do Sistema e os Subsistemas de
saúde. • Coleta de dados Informações em Saúde mais utilizados.
• Armazenamento/processamento 2- Levantamento no serviço de instrumentos utiliza-
• Interpretação e distribuição da informação dos para alimentar os sistemas de informação em
3- Sistemas de Informação em Saúde: saúde.
• Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab)
• Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA-SUS) 3- Apresentação dos trabalhos, elaboração dos con-
• Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Si- ceitos de dados e informação e debate sobre a im-
nan) portância da alimentação, organização e gestão do
• Sistema de Informação do Programa Nacional de Imuni- sistema de informação.
zação (SI-PNI) 4- Debate sobre a importância dos registros em saú-
• Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc) de para a alimentação do sistema, com destaque
• Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) para as possibilidades de atuação do técnico de
• Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS) enfermagem.
• Sistema de Informação relacionado ao controle do câncer 5- Leitura e discussão de texto: Sistema de Informação
de colo de útero (Siscolo) em Saúde.
• Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos
em Saúde (Siops)
• Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
(CNES)
• Cadastro do Cartão Nacional de Saúde (CNS/Cadsus)
• Imunizações (SI-PNI)

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade III.


Integração curricular:
ÁREA I Vigilância em Saúde.
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Pesquisa sobre os indicadores de saúde de seu município/estado.
Acompanhamento no serviço do processo de alimentação, organização e gestão de dados do Sistema de Informação de Saúde.

UNIDADE III – Sistema de Informação em Saúde 61

30916006 miolo.indd 61 20/07/09 14:58


Texto 7 Sistema de Informação em Saúde

Sabemos que em saúde a informação é um recurso muito


importante e por meio dela podemos tomar decisões. Isso serve
tanto para um determinado problema de saúde de um usuário do
SUS, quanto para situações de saúde mais abrangentes, relacio-
nadas a um grupo de pessoas ou uma coletividade, ao ambiente,
ao trabalho. Quanto mais informações são coletadas, maior cla-
reza se tem da situação, melhor será a tomada de decisão e mais
eficaz serão as ações propostas.

Para a obtenção e utilização dessas informações nos di-


versos espaços de produção de saúde, é preciso que se realize
o seu registro, gerando, assim, a produção de dados. Dado é uma descrição
limitada da realidade (Moraes, 1994), não chega a ser uma informação. Pro-
duzir dados significa produção da informação de forma sistematizada.

Os dados, agrupados por características específicas, produzirão os ban-


Uma boa definição de informação
é a de que se trata de um conjunto cos de dados, que se constituirão no Sistema de Informação em Saúde. Esses
estruturado de dados de modo que
possa ser entendido por todos os bancos, gerados pelos Sistemas de Informação em Saúde podem ser classifi-
seus usuários. O trinômio Informa-
ção-Decisão-Ação é considerado cados em três tipos:
a base da prática estratégica em
saúde. As informações dão supor-
te ao Planejamento Participativo
• e pidemiológicos: desenvolvidos e utilizados para fins de vigilância,
Estratégico-situacional.
(Programa de Formação de Agentes Lo-
avaliação e pesquisa, englobando dados sobre eventos vitais (nasci-
cais de Vigilância em Saúde-PROFOR-
MAR, Unidade II, Módulo 5, 2003).
mentos e óbitos), doenças e agravos de notificação compulsória, entre
outros.
• administrativos: desenvolvidos para fins contábeis e de controle de pro-
dução de serviços de saúde prestados. Contém dados demográficos dos
Dado é um valor quantitativo refe- pacientes atendidos, procedimentos realizados, diagnósticos, mas não
rente a um fato ou circunstância, ou
o número bruto que ainda não so- trazem dados clínicos.
freu qualquer tratamento estatístico
(Programa de Formação de Agen-
tes Locais de Vigilância em Saúde- • c línicos: armazenam dados clínicos (resultados de exame, medidas
(PROFORMAR, Unidade II, Módulo
5, 2003). antropométricas), de natureza multimídia (laboratório, raios-X, cirur-

62 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 62 20/07/09 14:58


gia) ou de diferentes utilidades de saúde. Esses ainda são de disponi-
bilidade restrita.

A análise desses dados permite a construção de importantes indicadores


para a descrição do perfil de saúde de uma região.
Indicadores de saúde
O Sistema de Informação em Saúde (SIS) integra as estruturas organizacio- Em termos gerais, são medidas-
síntese que contêm informações
nais dos sistemas de saúde. Esses sistemas são instrumentos de trabalho muito relevantes sobre determinados atri-
importantes para a área da saúde, pois a informação é a base para a gestão dos butos e dimensões do estado de
saúde, bem como do desempenho
serviços, orientando a instalação, acompanhamento e avaliação dos modelos de do sistema. Vistos em conjunto, de-
vem refletir a situação sanitária de
atenção à saúde e das ações de prevenção e controle das doenças. Portanto, de- uma população e servir para a vigi-
lância das condições de saúde. A
vem gerar informações/dados de qualidade, que retratem fielmente a situação de construção de um indicador é um
processo cuja complexidade pode
saúde da população no país, com o propósito de facilitar a formulação e avalia- variar desde a simples contagem
ção das políticas, planos e programas de saúde, apoiando o processo de tomada direta de casos de determinada do-
ença, até o cálculo de proporções,
de decisões. Faz-se necessário, ainda, que todos os envolvidos no processo de razões, taxas ou índices mais sofis-
ticados, como a esperança de vida
trabalho em saúde tenham a compreensão de sua importância/objetivo, de sua ao nascer. (Opas/OMS).
manutenção/alimentação e sua utilização.

Os Sistemas de Informação em Saúde são informatizados, subordinados


ao Ministério da Saúde, criados para avaliação, monitoramento e planejamento, Mortalidade e morbidade são al-
guns dos indicadores de saúde
de ações e serviços no âmbito do SUS, possibilitando a análise de situações em mais conhecidos, como também
nível local, sendo a esfera responsável pela organização, gestão e alimentação incidência e prevalência. Pesquise
como são realizados esses cálcu-
do SIS. São de utilização obrigatória para os estados e municípios, e sua opera- los, relembrando conhecimentos
matemáticos de coeficientes e pro-
cionalização é feita por meio de portarias ministeriais. porções. Pesquise os indicadores
de seu município/Estado.
(Programa de Formação de Agentes Lo-
Esses sistemas constituem instrumentos de trabalho muito importantes cais de Vigilância em Saúde-PROFOR-
MAR, Unidade II, Módulo 5, 2003).
para a área da saúde, pois a informação é a base para a gestão dos serviços,
orientando a instalação, acompanhamento e avaliação dos modelos de atenção
à saúde e das ações de prevenção e controle das doenças.

Para a operacionalização da informação pelos SIS, é necessária a obten-


ção de requisitos técnicos e profissionais no planejamento, coordenação, super-
visão e execução das atividades exigidas.

UNIDADE III – Sistema de Informação em Saúde 63

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São etapas do processo de informação dos SIS: coleta, registro, processa-
mento, análise, apresentação e difusão de dados e geração de informação.

Sistemas de Informação em Saúde:

Siab – Sistema de Informação da Atenção Básica - Instrumentos que agre-


gam dados e possibilitam informações sobre a população atendida. Esses dados
são recolhidos por meio das fichas de cadastramento e acompanhamento, de-
vendo ser objeto de análise e discussão das equipes e dos gestores da Estratégia
de Saúde da Família.

SIA-SUS – Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS - Conjunto de


programas de processamento de dados criados conforme as normas do Minis-
tério da Saúde, destinados a auxiliar a operacionalização, controle e gestão do
atendimento ambulatorial do SUS, realizado pelo Estado e municípios. Contém
dados sobre o número de atendimentos realizados por tipo de procedimentos e,
dependendo deste, por grupo populacional.

Sinan – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Tem por objetivo


o registro e o processamento dos dados sobre agravos de notificação em todo o
território nacional, fornecendo informações para análise do perfil da morbidade e
contribuindo, dessa forma, para a tomada de decisões nos níveis municipal, estadu-
al e federal. Esse sistema possibilita uma análise global e integrada de todos os agra-
vos definidos para desencadear as medidas de controle. É o principal instrumento
de coleta de dados das doenças de notificação compulsória e outros agravos.

SI-PNI – Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização -


Visa contribuir para o controle, eliminação e/ou erradicação das doenças trans-
missíveis.
O Programa Nacional de Imuni-
zações (PNI) foi criado pelo Mi-
nistério da Saúde em 1973, e suas Sinasc – Sistema de Informação de Nascidos Vivos – Tem por objetivo
orientações devem ser de conheci-
mento geral das instituições de saú- coletar dados sobre nascimentos, em todo o território nacional, e fornecê-los
de, públicas e privadas, bem como
da população. para todos os níveis do Sistema de Saúde. O documento de entrada do sistema é

64 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 64 20/07/09 14:58


a Declaração de Nascido Vivo (DN - Declaração de Nascimento), padronizado
em todo o país.

SIM – Sistema de Informação de Mortalidade – Permite a obtenção regu-


lar de dados sobre mortalidade. O documento básico é a Declaração de Óbito
(DO). A codificação da causa básica do óbito depende do conhecimento de
um especialista e, para apoiar esse processo, foi desenvolvido o Sistema de
Seleção de Causa Básica (SCB).

SIH-SUS – Sistema de Informações Hospitalares do SUS – Um complexo


de programas de processamento de dados destinados a auxiliar a operaciona-
lização, controle e gestão do atendimento hospitalar do SUS, realizado pelo
estado e municípios. O documento básico é a Autorização de Internação Hos-
pitalar (AIH). Inicialmente produzido para controlar e fiscalizar as internações
hospitalares é principalmente um instrumento para pagamento. Pela quantidade
de informações de que dispõe, permite que estudos epidemiológicos se utilizem
mais de seus dados.

Siscolo – Sistema de Informação relacionado ao controle do câncer


de colo de útero – Permite o gerenciamento das informações oriundas das
unidades de saúde. Importante ferramenta para o gestor na avaliação e pla-
nejamento das ações a serem realizadas: identificar serviços ou áreas mais
necessitadas de capacitação, áreas com problemas de acompanhamento e
encaminhamento das mulheres, problemas de qualidade de coleta e proces-
samento das lâminas.

Siops – Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde –


Instrumento de planejamento, gestão e controle social do SUS, que funciona por
meio da coleta e processamento de informações sobre receitas totais e despesas
com ações e serviços públicos de saúde, das três esferas de governo. Possibilita o
conhecimento da estrutura do financiamento da Saúde Pública no Brasil e facili-
ta o controle, a avaliação e a gestão dos gastos públicos e das Políticas de Saúde.

UNIDADE III – Sistema de Informação em Saúde 65

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Saúde Suplementar é um conjunto
de instituições privadas que ofere-
CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – Permite a
ce serviços de atenção à Saúde sob identificação dos profissionais de saúde cadastrados na rede de prestadores de
a forma de pré ou pós-pagamento
(isto é, planos e seguros de saúde), serviços das operadoras, possibilitando à Agência Nacional de Saúde Suple-
cujas atividades são reguladas,
normalizadas, controladas e fisca- mentar verificar as diversas categorias e especialidades disponíveis para os seus
lizadas pela Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS). usuários.

CNS/Cadsus – Cadastro do Cartão Nacional de Saúde - O Cartão Nacional


de Saúde é considerado um instrumento fundamental para articular a execução
O cartão tem uma numeração na-
cional (baseada no número do PIS/ descentralizada dos serviços e o caráter nacional e único do Sistema de Saúde.
Pasep), a fim de identificar o cidadão
no sistema local e, ao mesmo tempo,
possibilitar a agregação de informa-
ções no âmbito federal e o acom- Outros sistemas de informação (bases de dados demográficos/pesqui-
panhamento do fluxo deste usuário
no interior do sistema de saúde. O sas) poderão ser utilizados junto aos SIS, para subsidiar a análise da situação
acesso às informações do sistema
deve respeitar o direito do usuário
sanitária, a tomada de decisões baseada em evidências, o planejamento e a
à privacidade e à confidencialidade. programação das ações em saúde. São eles o Censo Demográfico, a Pesqui-
sa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e a Pesquisa de Assistência
Médico-Sanitária (PMAS), elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A pesquisa em saúde também encontra nesses sistemas da-
Atualmente muitos dados estão
disponíveis por meios eletrônicos. dos relevantes, que indicam caminhos para a busca de novos conhecimentos
O IBGE vem aperfeiçoando suas
pesquisas e estudos e as formas de e tecnologia para o setor.
acessá-los, o mesmo ocorrendo com
o Ministério da Saúde, pelo Departa-
mento de Informática do SUS. Data-
sus, disponível em: < www.datasus.
gov.br >.

Bibliografia
Brasil. Ministério da Saúde; Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saú-
de. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios. Brasília: Ed. do Ministério da
Saúde, 2005.

Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Coleção Progestores para


entender a gestão do SUS: O Sistema Único de Saúde. v.1, Brasília: Conass, 2007.

______. Coleção Progestores para entender a gestão do SUS: Vigilância em Saúde.


v. 6, Tomos I, II, Brasília: Conass, 2007.

66 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 66 20/07/09 14:58


Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.
Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente
comunitário de saúde. O Território e o Processo Saúde-Doença. v.1. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2007.

_­ _____. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Educação Profissional e


Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente comunitário de saúde. Po-
líticas de Saúde: a organização e a operacionalização do Sistema Único de Saúde.
v. 3. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.

______. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Programa de Formação de


Agentes Locais de Vigilância em Saúde - PROFORMAR. un. II, mód. 5. Rio de Janei-
ro: Fiocruz, 2004,

OpaS/OMS Organização Pan-Americana de Saúde; Organização Mundial de Saúde.


Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. Brasília: 2002.

UNIDADE III – Sistema de Informação em Saúde 67

30916006 miolo.indd 67 20/07/09 14:58


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Pesquisa em Saúde unidade IV
Objetivo
Reconhecer a importância da pesquisa enquanto ferramenta na produção de conhe-
cimentos e no desenvolvimento profissional em saúde.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


IV.1- Analisar o papel da pesquisa e 1- Pesquisa Científica 1- Levantamento de situações da vida cotidiana e
sua aplicação em saúde e as etapas • Métodos: qualitativa, quantitativa profissional em que se utiliza a pesquisa
de elaboração de um projeto de pes- 2- Discussão sobre o conceito de pesquisa, seus
quisa. 2- Projeto de pesquisa: etapas métodos, fontes, instrumentos.
• O Tema 3- Participação de oficinas de trabalho em grupos
• O Problema para elaboração de projeto de pesquisa, sob
• A Hipótese orientação do instrutor. Tomar por referência as
• Os Objetivos etapas para elaboração de projeto de pesquisa
• A Metodologia abordada no texto: Pesquisa Científica. Suges-
• O Orçamento tão de tema: Problemas de saúde mais comuns
relacionados ao campo de atuação do técnico
IV.2- Identificar as linhas de pes- 3- Princípios éticos e legais de enfermagem.
quisa em Saúde, relacionando • Bioética. 4- Apresentação dos trabalhos, com análise dos
com a Bioética. projetos, considerando-se viabilidade de exe-
4- Comitê de Ética em Pesquisa/CEP cução, relevância do tema, adequação ao perfil
de atuação do técnico, contextualização à reali-
dade do serviço e da comunidade.
5- Debate sobre aspectos éticos e legais evolvidos
na realização de pesquisas em saúde, com des-
taque para o conceito de bioética.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto parcial da Unidade IV


Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Pesquisa em anais de Congressos de Enfermagem sobre as pesquisas e trabalhos científicos realizados pela enfermagem.
Levantamento de Instituições que contam com a atuação de Comitês de Ética em Pesquisa.
Realização de pesquisa individual ou em grupos, no serviço ou na comunidade, sobre tema pertinente às ações do técnico de enfermagem.

UNIDADE IV – Pesquisa em Saúde 69

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Texto 8 Pesquisa Científica

Movida pela curiosidade e, muitas vezes, pela neces-


sidade em conhecer melhor, modificar ou intervir em uma
dada realidade, a sociedade tem avançado em seu desenvol-
vimento e na aquisição de conhecimentos. A pesquisa con-
tribuiu substancialmente para o desenvolvimento de povos
e nações, gerando conhecimento científico e promovendo o
crescimento tecnológico.
Segundo Minayo, a pesquisa é considerada atividade básica da ci-
ência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que
alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do
mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vin-
cula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente
um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema
da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, rela-
cionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas.
São frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas
razões e seus objetivos1.

Em saúde, a pesquisa deve ser vista como recurso na produção de co-


nhecimentos, constituindo-se em ferramenta necessária à revisão de práticas,
Pesquisa: Conjunto de atividades
processos de trabalho e construção de novos paradigmas, contribuindo para a
que têm por finalidade a desco- promoção da saúde e do crescimento profissional. Na enfermagem, a pesquisa
berta de novos conhecimentos no
domínio científico, literário, artís- se intensifica a partir de 1970, com a realização das primeiras defesas de teses
tico etc.
que possibilitou à enfermagem maior credibilidade profissional.

Todos nós podemos ser pesquisadores na medida em que temos um pro-


blema e vamos à busca de conhecimentos para resolvê-lo.

Toda pesquisa se inicia com a formulação de um problema e o objetivo


é encontrar a solução. Quando não temos problemas não somos instigados a

1
MINAYO, Maria C. de S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

70 Promoção da Saúde

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pensar, analisar, deduzir. Ser um pesquisador é exercer a capacidade que to-
dos temos de reflexão, crítica, análise e criatividade. Essa atividade praticamos,
mesmo não sendo pesquisadores, quase que diariamente de forma intuitiva, nos
inúmeros questionamentos que se apresentam no cotidiano. Porém, na pesquisa
científica precisamos definir o assunto a ser pesquisado, conhecê-lo profunda-
mente e desenvolvê-la segundo metodologia estabelecida.

A pesquisa, no que se refere ao método, pode ser quantitativa ou qualita-


tiva. Considera-se qualitativa aquela em que a análise é procedida por indução,
onde os fenômenos não são mensuráveis. O que se estuda é caracterizado pelo Pesquise o número de estabele-
cimentos de saúde existentes no
subjetivismo. Já a quantitativa trabalha com análise do ponto de vista estatístico, seu município. Verifique também
em que os fenômenos são medidos, quantificados. quantos são públicos e quantos são
privados.

Além da metodologia para a realização da pesquisa, é necessário respei-


tar os princípios éticos e legais. A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde estabelece que as pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às
A Resolução 196/96 do Conselho
exigências éticas e científicas fundamentais como: Nacional de Saúde aprova diretrizes
e normas regulamentadoras de pes-
• consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos quisas envolvendo seres humanos.

vulneráveis e aos legalmente incapazes (autonomia). Nesse sentido, a pes-


quisa envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-los em sua dignidade,
respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade;
Em síntese, o princípio da justiça
• ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, indi- conduz à reflexão ética orientada
pela garantia do respeito à dignida-
viduais ou coletivos (beneficência), comprometendo-se com o máximo de humana na realização das pes-
de benefícios e o mínimo de danos e riscos; quisas, não podendo o pesquisado
ser utilizado como meio de satis-
• garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência); fação de interesses de terceiros, da
ciência, dos cientistas ou de interes-
ses industriais e comerciais. O bem-
• relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujei- estar das pessoas que se submetem
tos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o a pesquisas deve sempre prevalecer
sobre os interesses da ciência e
que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perden- mesmo da sociedade.
(Conselho Nacional de Saúde. Co-
do o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e equidade).2 missão Nacional de Ética em Pes-
quisa).

2
Conselho Nacional de Saúde. Ministério da Saúde. Resolução 196/96 de 10 de outubro de 1996. Diário Oficial
da União, 16 de outubro de 1996.

UNIDADE IV – Pesquisa em Saúde 71

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Da mesma forma, define que em toda instituição em que se realize pes-
quisa envolvendo seres humanos deverá ser criado o Comitê de Ética em Pesqui-
sa/CEP, de caráter multidisciplinar e transdisciplinar. Todo projeto de pesquisa
necessita ser aprovado pelo CEP e no caso de pesquisa em grupos vulneráveis,
comunidades e coletividades, deverá ser convidado um representante para par-
ticipar da análise do projeto.

A elaboração de projeto de pesquisa consiste na descrição detalhada de


todas as ações para aquilo que se pretende realizar. É o planejamento da pesqui-
sa. É ele que desenha os cenários, fornece clareza dos passos a serem seguidos e
prevê situações que podem dificultar o seu desenvolvimento. As etapas a seguir
relacionadas devem ser cumpridas para a concretização do projeto.

O Tema

Para a definição do tema a ser pesquisado, é necessário considerar sua


relevância e possíveis contribuições e, principalmente, ser de área de interes-
se do pesquisador. Nessa etapa, analisar a viabilidade dos métodos e técnicas
a serem utilizados. A justificativa para a escolha do tema envolve a apresenta-
ção dos fatos e motivos que levaram a essa pesquisa. É responder à pergunta:
Por que fazer?.

O Problema

A revisão da literatura, portanto com acesso às fontes de consulta, é fator


essencial para a formulação do problema e deve estar dentro dos limites do
pesquisador, de conhecimento, tempo ou custos. Para a pesquisa é necessária
a indicação da teoria que a fundamenta. Para a formulação do problema é ne-
cessário ter clareza e objetividade, evitando dupla interpretação. Todo problema
precisa ser passível de solução. Construí-lo em forma de pergunta ajuda a iden-
tificar o que se deseja pesquisar.

72 Promoção da Saúde

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A Hipótese

É uma possível explicação ou resposta, testável para o problema pro- Hipótese: proposição que se ad-
mite, independentemente do fato
posto. É o que antecipa a resposta ao problema. Pode ser colocada em forma de ser verdadeira ou falsa, mas
unicamente a título de um princí-
de pergunta ou afirmação. Para a sua formulação utilizam-se várias fontes como pio a partir do qual se pode dedu-
zir um determinado conjunto de
teorias, outras pesquisas e inclusive a intuição do pesquisador. consequên­cias.

Os Objetivos

Os objetivos estabelecem aonde se pretende chegar. São enunciados O Departamento de Ciência e Tec-
nologia (Decit) da Secretaria de
em verbos no infinitivo e referem-se ao que é pretendido medir, provar, ou Ciência e Tecnologia (SCTIE) do
Ministério da Saúde foi instituído
seja, qual o resultado final de sua pesquisa. Existem os objetivos gerais que no ano de 2000, pelo Decreto nº
3.496, e tem a missão de contribuir
oferecem uma visão ampla da pesquisa e os específicos que descrevem as- para o aperfeiçoamento do Sistema
Único de Saúde (SUS), articulando,
pectos detalhados. coordenando e induzindo o desen-
volvimento de atividades de ciência,
tecnologia e inovação em saúde.
(Brasil. Ministério da Saúde, 2008).

A Metodologia

A metodologia da pesquisa indica o que será feito para se atingir os obje-


tivos estabelecidos, os passos a serem dados. Detalhamos de que forma, o que
será utilizado e onde será realizada. Nessa etapa estabelecemos resultados es-
perados, a população pesquisada, a coleta de dados, os instrumentos utilizados,
cronograma de execução, como será realizada a análise dos dados e a forma do
relatório. Todo modelo de instrumento deve ser anexado ao projeto.

O Orçamento

O orçamento constitui-se em instrumento importante para a viabilização Conheça mais sobre as pesquisas
fomentadas pelo SUS. Disponível
da pesquisa não descartando a possibilidade da necessidade de revisão ou cor- em: < bvsms.saude.gov.br/bvs/pu-
blicacoes/contribuicoes_20_anos_
tes no decorrer da pesquisa. Compreende a relação dos recursos necessários e SUS.pdf>. Acesso em: 16 de março
de 2009.
seus custos estimados.

UNIDADE IV – Pesquisa em Saúde 73

30916006 miolo.indd 73 20/07/09 14:58


Referências bibliográficas

É nesse item que serão relacionados os livros citados no projeto de pes-


quisa utilizando-se a orientação da Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Verificar se na sua instituição de
trabalho existe pesquisa de satisfa- Você pode, junto com colegas de estudo e com auxílio do docente, apri-
ção do cliente. Quais são os dados
levantados? Quais encaminhamen- morar seus conhecimentos acerca de pesquisa. Identifique no seu cotidiano si-
tos são adotados?
tuações problemas que poderiam ser pesquisadas e discuta com sua equipe de
trabalho as possibilidades existentes para a realização de atividade científica.
Traga o que você discutiu no trabalho e aprimore a proposta com auxílio do
professor (a) e colegas de estudo.

Bibliografia
ANGERAMI, E. L. S. O desenvolvimento da pesquisa no Brasil. Rev. Latino-Am.
Enfermagem,  Ribeirão Preto,  v. 1,  n. spe,   1993 .   Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11691993000300007&lng=en&
nrm=iso>. Acesso em: 18 de março de 2009.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Ministério da Saúde. Resolução 196/96 de 10


de outubro de 1996. Diário Oficial da União, 16 de outubro de 1996.

______. Conselho Nacional de Saúde. Publicação da Conep. Comissão Nacional de


Ética em Pesquisa. Cadernos de Ética em Pesquisa, Ano I, n.2, novembro de 1998.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estraté-


gicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Pesquisa para saúde: contribuições
aos 20 anos do SUS. Série B. Textos Básicos de Saúde, Brasília: Ministério da Saú-
de, 2008. Disponível em: < bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/contribuicoes_20_
anos_SUS.pdf>. Acesso em: 16 de março de 2009.

CARDOSO, J. Administração. Metodologia da pesquisa. Pesquisa 1. UFSC. Progra-


ma de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis, 2001. Disponível

74 Promoção da Saúde

30916006 miolo.indd 74 20/07/09 14:58


em: <http://www.pucrs.campus2.br/~jiani/metodologia/pesquisa1.doc>. Acesso em:
18 de março de 2009.

CAREGNATO, C. E. (org) et al. Cadernos Acadêmicos Ritter dos Reis, 4. Projeto de


Pesquisa. Porto Alegre: 2004. Disponível em: < http://www.uniritter.edu.br/w2/edito-
ra/downloads/Caderno_Academico-vol_4.pdf> . Acesso em: 18 de março de 2009.

CARVALHO, V. Cuidando, pesquisando e ensinando: acerca de significados e impli-


cações da prática da enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem,  Ribeirão Preto,  v.
12,  n. 5, Oct.  2004 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-11692004000500015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18  de
março de 2009.

GOLDIM, J. R. Normas, Diretrizes e Leis em Pesquisa em Saúde. Disponível em:


< http://www.ufrgs.br/bioetica/normart.htm>. Acesso em: 18 de março de 2009.

HOUAISS,A.;VILLAR,M.S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:


Objetiva, 2001.

HEERDT, M. L. Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. Disciplina: Me-


todologia da Pesquisa Jurídica. O projeto de pesquisa. Disponível em: <http://inf.
unisul.br/~ines/pccsi/O_Projeto de Pesquisa_2004B.doc>. Acesso em: 18 de março
de 2009.

LIMA, T. B. (org). Pesquisa Científica. O que é pesquisa? Disponível em: <http://


people.ufpr.br/~nilce/metodolog.%20pesquisa%20cientifica.doc>. Acesso em: 18
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MARTINS, R. Projeto de pesquisa: o que é e como se faz. Disponível em: <http://


www.ronaldomartins.pro.br/materiais/didaticos/ProjetodePesquisa.pdf>. Acesso em:
18 de março de 2009.

UNIDADE IV – Pesquisa em Saúde 75

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30916006 miolo.indd 76 20/07/09 14:58
Educação e Saúde unidade V
Objetivo
Participar de práticas de educação em saúde tendo por referência os princípios
da educação problematizadora.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


V.1- Reconhecer as práticas edu- 1- Alternativas pedagógicas 1- Pesquisa e observação das práticas educativas
cativas mais comuns em saúde e • Pedagogia tradicional mais comuns em saúde (palestras, grupos de
seus princípios pedagógicos. • Pedagogia tecnicista discussão, campanhas pelos meios de comuni-
• Pedagogia problematizadora cação de massa).
2- Análise das características de práticas educativas
2- Práticas educativas em saúde tradicionais, centradas na transmissão de infor-
mações e de práticas que favorecem a participa-
ção social e o empoderamento.
3- Debate sobre as consequências individuais e
sociais da opção por práticas pedagógicas tradi-
cionais ou problematizadoras.
4- Debate sobre a relação entre opção pedagógica
e princípios de cidadania, participação social e
ética.
5- Leitura e discussão de texto: Educação e saúde
na prática do técnico de enfermagem e debate
sobre o papel do educador e do aprendiz em
cada uma delas.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Observação e acompanhamento de práticas educativas realizadas no serviço, em escolas ou na comunidade.

UNIDADE V – Educação e Saúde 77

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Objetivos Específicos Conteúdos Método
V.2- Planejar ações de educação 1- Planejamento de atividades de educa- 1- Planejamento de ações educativas com vis-
em saúde. ção em saúde: tas à intervenção nos problemas de saúde
• Clientela identificados em sua área de atuação.
• Conteúdo 2- Dramatização de propostas de educação
• Objetivos em saúde para intervenção nos problemas
• Metodologia /técnicas de ensino de saúde em sua área de atua­ção com base
• Recursos didáticos nas pesquisas realizadas na unidade ante-
• Avaliação da aprendizagem rior.
• Carga horária

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Realização de atividades de educação em saúde no serviço ou na comunidade, sobre tema pertinente às ações do técnico de enfermagem
e considerando as pesquisas realizadas na unidade anterior.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


V.3- Reconhecer os princípios da 1- Política de Educação Permanente em 1- Pesquisa sobre os princípios que norteiam
Política de Educação Permanente. Saúde: a Política de Educação Permanente e sua im-
• Articulação de gestão, atenção, forma- portância enquanto política pública.
ção e controle social 2- Pesquisa em grupos sobre a ins­ti­tui­ção da Po-
• Corresponsabilidade dos profissionais lítica de Educação Per­ma­nen­te em seu municí-
e serviços pelo cuidado e pela cura pio/Es­ta­do e em seu local de trabalho­.
• Posturas criativas de construção de co- 3- Apresentação dos trabalhos e debate sobre
nhecimentos referenciadas nas neces- os aspectos conceituais e práticos da Políti-
sidades dos usuários ca de Educação Permanente, com destaque
• Desenvolvimento conjunto de conhe- para as possibilidades de atuação do técni-
cimentos, atitudes e comportamentos co de enfermagem.
favoráveis ao cuidado em saúde 4- Leitura e discussão do texto: Edu­ca­ção Perma-
nente em Saúde.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade V


Integração Curricular:
Área I Política Nacional de Saúde, SUS e Política Nacional de Humanização (PNH)
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Participar de atividades de Educação Permanente em Saúde em seu município/local de trabalho

78 Promoção da Saúde

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Texto 9 Educação e Saúde na Prática do Técnico de Enfermagem

No seu cotidiano de trabalho, a enfermagem desenvolve


constantemente ações de educação, seja na promoção da saúde, re-
cuperação ou reinserção do cliente na sociedade. O técnico de en-
fermagem, como participante da equipe, vivencia essas experiências
de educação e as reproduz como apreendeu nos bancos escolares.

Entendemos que só podemos oferecer ao outro aquilo que


conhecemos e que está internalizado em nós. Desse modo, a ati-
tude que tomamos na vida reflete as experiências vividas ao longo
de nossa existência. Frequentamos escolas e experimentamos mo-
delos tradicionais de aprendizado, guardadas as raras exceções em
que nos sentimos respeitados e incluídos no exercício do aprender. Aprender, para
a grande maioria, foi ou continua sendo um ato passivo. O docente transmite o
conhecimento que detém e o aluno escuta; não existe participação, reflexão e seu
conhecimento e suas convicções totalmente desconsideradas. Esta teoria pedagó-
gica Paulo Freire chamou de educação bancária.

Para melhor entendimento das concepções pedagógicas, entre elas, a cha-


mada bancária, propomos trazer situações rotineiras do nosso cotidiano em que
desenvolvemos ações de educação em saúde.

Pensemos numa situação hipotética A.

Cliente é admitido na unidade de internação com um quadro de hiperten-


são arterial sistêmica, e seu primeiro contato é com o técnico de enfermagem
que o recebe e verifica os sinais vitais. O técnico questiona como ele, cliente, Volte ao período em que cursou
o ensino fundamental, médio ou
deixou que a sua situação de saúde chegasse a esse ponto. Discorre então so- mesmo o curso de auxiliar de en-
fermagem. Procure se lembrar de
bre todos os cuidados a serem tomados para a manutenção da pressão arte- seus professores e como era apren-
rial em níveis pressóricos normais. Em nenhum momento busca saber sobre as der. Por que em algumas aulas era
prazeroso e fácil aprender? Em
condições que fizeram com que a pressão arterial atingisse esses níveis. Nessa quais momentos o aprendizado era
difícil? Por quê? A dificuldade esta-
situação, reportando-se à educação, podemos dizer que o profissional utilizou va relacionada a quê?

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Considerando-se que os indivídu- a pedagogia tradicional ou bancária, ou seja, o cliente permaneceu calado e
os vivenciam diferentes contex-
tos sociais, o processo educativo passivo, pois é assim que acontece quando utilizamos esse método. É uma peda-
interativo favorece o intercâmbio
de saberes e oferece os subsídios gogia centrada em quem detém o conhecimento e da valorização dos conteúdos
necessários para o crescimento
de todos os participantes envolvi- educativos. Dessa forma exercemos a prática educativa de maneira autoritária e
dos e, desse modo, apresenta-se
como um importante instrumento paternalista. Assim é a pedagogia tradicional, também chamada de transmissão.
de transformação social. Portanto, A intenção é transformar aquele que aprende e encaixá-lo na sociedade exis-
o fazer pedagógico precisa estar
fundamentado em uma abordagem tente, não há interação entre sujeito/realidade/conhecimento, questionamentos,
interdisciplinar que possibilite a
compreensão de aspectos cogni- críticas, ou mesmo, propostas do educando não são contempladas.
tivos, afetivos, socioeconômicos,
políticos e culturais, constituindo
uma prática pedagógica social- Situação hipotética B
mente contextualizada.
(Metodologia da Problematização no
Ensino em Enfermagem: uma reflexão
do vivido no PROFAE/RS).
O técnico de enfermagem recebe um paciente diabético que procura a
Unidade Básica de Saúde para realizar curativo de uma lesão em seu pé. Para o
técnico é visível que a lesão está em precárias condições pela falta de cuidado.
Recebe o cliente e faz uma orientação extremamente cuidadosa e detalhada
O que me impressionou muito foi sobre a maneira adequada de cuidar da lesão. Indica soluções necessárias à as-
que cada uma dessas opções pe-
dagógicas produz efeitos marcada- sepsia, especifica os materiais necessários para a realização correta do curativo
mente diferentes no individuo e na
sociedade. Comprovei assim que e o que deve ser observado no processo de cicatrização.
muitos de nossos problemas de de-
senvolvimento, ou de falta dele, na
América Latina, podem ser atribuí- Mais uma vez se desconsiderou o sujeito, sua estória de vida, sua realidade
dos, não apenas à injusta estrutura
social, mas também à pedagogia e seus conhecimentos. A ação baseou-se essencialmente no aspecto técnico da rea-
vertical do magíster dixit tradicio-
nalmente praticada. lidade encontrada. Muitas escolas preparam seus alunos dessa forma, privilegiando
(Palestra Bordenave). a formação técnica. Esse aluno provavelmente será um profissional habilidoso, que
executará todas as técnicas com grande maestria e cumprirá de forma eficiente suas
tarefas. Essa opção pedagógica, chamada tecnicista ou do condicionamento, tornam
as pessoas competitivas, individualistas, mas meros tarefeiros. São profissionais que
magíster dixit: Termo latino - O
mestre disse. Disponível em: < não sabem refletir sobre suas ações, questionar técnicas, foram preparados para atin-
http://buenoecostanze.adv.br/in-
dex.php?option=com_glossary&fu gir um fim, uma meta, sem que questionem porque fazem ou como fazem. Em outras
nc=view&Itemid=82&catid=40&t
erm=Magister+dixit>. Acesso em:
palavras, sua participação pode ser muito ativa no executar e menos no pensar. Essa
21 de março de 2009. prática foi bastante utilizada durante o regime militar em que imperava a racionalida-
de e o aspecto mais importante relacionava-se à sua eficiência profissional e capaci-
dade de produzir.

80 Promoção da Saúde

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Situação hipotética C

O técnico de enfermagem trabalha na Unidade Básica de Saúde e faz parte de


um grupo de orientação sobre aleitamento materno. O início do trabalho educativo
se dá com o relato das mães para o grupo, sobre a experiência de amamentar. A equi-
pe que desempenha o papel de facilitadores estimula a participação para que surjam
as situações problema. O grupo passa a discutir os problemas encontrados, analisan-
do criticamente cada situação e suas várias possibilidades. Os facilitadores trocam
com o grupo as informações mais técnicas que podem subsidiar o entendimento
de situações específicas. Em seguida passam a discutir as prováveis maneiras de se
solucionar os problemas apresentados, agendando novo encontro para avaliação da
aplicabilidade dessas soluções em sua realidade de vida.

Trabalhar dessa forma é basear a prática educativa na pedagogia proble-


matizadora, da auto­nomia, ou ainda segundo Paulo Freire, pedagogia libertado-
ra. Esta pedagogia desenvolve o pensamento crítico e a capacidade da coleti- Você, como aluno ou já profissio-
nal, viveu situações como a apre-
vidade em transformar realidades. O docente assume o papel de facilitador do sentada no caso C? Pôde participar
de atividades que julgou que estava
processo ensino-aprendizagem e todos trocam experiências e conhecimentos. ensinando e ao término da práti-
Havendo interação, o contexto de vida e saberes de cada um se torna conheci- ca educativa percebeu que mais
aprendeu do que ensinou?
do. Valendo-se do saber popular naquilo que um é rico o outro é pobre e vice-
versa, podemos dizer que assim todos aprendem. É nessa troca rica de experiên-
cias que o saber coletivo é construído possibilitando a formação de sujeitos e a
transformação social.

Na metodologia problematizadora o professor assume o papel de facilita-


dor e não daquele que ensina e a construção do conhecimento é feita buscando
o entendimento da realidade por meio de questionamentos e reflexões. Essa Esses profissionais costumam usar
um vocabulário técnico, que gente
opção pedagógica compreende várias fases. com pouca educação não compre-
ende. A solução estaria então em
simplificar a linguagem? Não, por-
Na primeira fase os educandos são convidados a observar uma dada que o problema básico não está na
linguagem empregada, mas na rela-
realidade, preferencialmente do seu cotidiano, e a expressar seus entendi- ção social existente entre os atores.
Enquanto esta relação de superio-
mentos segundo suas percepções. É quando constatam situações sociais, ne- ridade-inferioridade não mudar, a
incomunicação vai continuar.
cessidades, analisando aquela realidade concreta e chegando a um ou mais (Palestra - Bordenave).

UNIDADE V – Educação e Saúde 81

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problemas. O facilitador pode utilizar estratégias para auxiliar na compreen-
são, como vídeos, filmes, textos.

A fase seguinte é de reflexão sobre o problema encontrado e suas possíveis


causas. Passa-se a identificar os pontos-chave do problema, o que é verdadeira-
Paulo Reglus Neves Freire nasceu mente importante e passível de ação para a solução. O facilitador participa com
no dia 19 de setembro de 1921, em
Recife, Pernambuco, uma das regi- perguntas buscando orientar a discussão.
ões mais pobres do país, onde logo
cedo pôde experimentar as dificul-
dades de sobrevivência das classes A teorização, terceira fase, representa o estudo do problema. O facilitador
populares. ....Ele foi quase tudo o
que deve ser como educador, de contribui para a sistematização da discussão/estudo produzida pelo grupo po-
professor de escola a criador de dendo também levar contribuições teóricas sobre o assunto estimulando a busca
idéias e “métodos”. .....A coragem
de pôr em prática um autêntico tra- de novos conhecimentos. Para a teorização do problema as informações devem
balho de educação que identifica
a alfabetização com um processo ser buscadas em outras fontes como palestras, livros, Internet.
de conscientização, capacitando
o oprimido tanto para a aquisição
dos instrumentos de leitura e escri- Na medida em que o entendimento e conceituação do problema são
ta quanto para a sua libertação fez
dele um dos primeiros brasileiros a construídos os educandos se transformam em professores de si próprios. O uso
serem exilados
(http://www.projetomemoria.art.br/
do raciocínio, de análise e a capacidade de entender não somente o problema,
PauloFreire/index.jsp). mas a inserção do objeto de estudo em uma realidade mais ampla faz deles ci-
dadãos com capacidade de transformar realidades.

A elaboração de soluções/hipóteses possíveis para resolver os problemas


faz parte da etapa seguinte. Nesse processo a criatividade e a crítica devem ser
estimuladas. Os educandos compreendem nesta fase que algumas soluções são
viáveis, outras inexequíveis e assim passam a trabalhar com hipóteses pertinen-
tes àquela realidade.

A última etapa, depois de elencadas as soluções mais pertinentes, o grupo irá


aplicá-las à realidade.
Paulo Freire - Considera o ato de ler
e aprender como condições para a Na pedagogia da problematização, o aluno participante desenvolve um
cidadania autêntica e a transforma-
ção do mundo. olhar crítico às situações de vida, vai em busca de conhecimento para compre-
Conheça mais sobre esse educador
em:  http://www.projetomemoria. endê-las e torna-se criativo e inovador ao propor soluções ocorrendo assim uma
art.br/PauloFreire/index.jsp
mudança individual e coletiva. Transforma-se em prática de vida, não mais edu-
cativa. A construção do conhecimento a partir daí transforma-se numa realidade

82 Promoção da Saúde

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social que propicia o desenvolvimento de um cidadão. Propomos a você técnico
de enfermagem, que se utilize desta prática no seu cotidiano e seja um agente
de transformação.

Bibliografia
BERBEL, N. A.N. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: di-
ferentes termos ou diferentes caminhos? Disponível em: <http://www.interface.org.
br/revista2/artigo3.pdf>. Acesso em: 21 de março de 2009.

BORDENAVE, J. D. O desenvolvimento de um comunicador para o desenvolvimen-


to. Entrevista. Consultor Internacional em Comunicação e Educação. Disponível em:
<http://antares.ucpel.tche.br/regiocom/upload/File/Palestra-Bordenave.pdf>. Acesso
em: 21 de março de 2009.

FARAH, B.F.; PIERANTONI, C. R. A utilização da metodologia da Problematização


no Curso Introdutório para Saúde da Família do Pólo de Capacitação da UFJF.
Disponível em:<http://www.nates.ufjf.br/novo/revista/pdf/v006n2/Pesquisa1.pdf>.
Acesso em: 21 de março de 2009.

SANTOS, A. M. B.; RODRIGUES, T. M. M.; NERY, I. S. A pedagogia da problemati-


zação como prática emancipatória da formação em enfermagem. Disponível em:
<200.222.60.171/PDF/a%20pedagogia%20da%20problematizacao.pdf>. Acesso
em: 21 de março de 2009.

SCHAURICH, D.; CABRAL, F. B.; ALMEIDA, M. A. Metodologia da problematização


no ensino em Enfermagem: uma reflexão do vivido no PROFAE / RS. Esc. Anna Nery.
[online]. jun. 2007, vol.11, no.2 . Disponível em: <http://www.portalbvsenf.eerp.usp.
br/pdf/ean/v11n2/v11n2a21.pdf >. Acesso em: 21 de março de 2009.

UNIDADE V – Educação e Saúde 83

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Texto 10 Educação Permanente em Saúde

No processo de trabalho em saúde, o desafio colocado


aos trabalhadores é o de desenvolver ações para enfrentar a pro-
blemática de saúde/doença, considerando, sobretudo, seus de-
terminantes e os princípios do SUS. Para o fortalecimento dessas
ações faz-se necessária a utilização de potencialidades indivi-
dual e coletiva do conjunto de atores, sujeitos dinâmicos nesse
processo.

A complexidade com que se dão esses processos, nos


diversos níveis de atenção à saúde, desenvolvidos na lógica
da integralidade, baseados em situações reais e locorregionais, exige uma
compreensão e um acompanhamento contínuo que interfere nas práticas
diárias dos serviços.

Nessa lógica, é imprescindível pensar em estratégias e ações que possam


garantir a qualificação dos trabalhadores, no sentido de enfrentar as mudanças
aceleradas e os desafios gerados no desempenho do trabalho, nos diferentes
cenários do SUS.

Esse contexto de produção de saúde acena, então, para a formulação de


uma política de educação em saúde, com o objetivo de garantir pessoal quali-
ficado para a compreensão e intervenção intersetorial e, segundo estratégias de
promoção da saúde como qualidade de vida.

O desenvolvimento de uma política de educação em saúde deve reunir


educação, gestão e controle social em saúde, resultando num processo de re-
flexão e construção de inovações para uma política nacional de formação e de-
senvolvimento de profissionais de saúde, com caráter de educação permanente,
integrante do cotidiano do sistema de saúde.

84 Promoção da Saúde

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Em 2003, com a aprovação do Conselho Nacional de Saúde, é instituído Educação Permanente em Saúde
(EPS) - É a aprendizagem no traba-
no Brasil por meio da Portaria Ministerial nº 198, a Política de Formação e De- lho, onde o aprender e o ensinar
se incorporam no cotidiano das
senvolvimento para o SUS: Caminhos da Educação Permanente em Saúde. Em organizações desse trabalho. Pro-
põe que os processos de formação
2006, é editada a Portaria Ministerial nº 1.996 - Política de Educação Permanen- dos trabalhadores de saúde tomem
te em Saúde. Ambos os documentos são referência para a definição do campo como referência as necessidades
de saúde das pessoas, das popu-
de saberes e práticas da Educação e Ensino da Saúde, incentivando o assumir de lações e tenham como objetivo a
transformação das práticas profis-
posturas criativas de construção de conhecimentos. Tais diretrizes têm como re- sionais e da própria organização
do trabalho, estruturadas a partir
ferência as necessidades dos usuários, que são extremamente dinâmicas, social da problematização.
e historicamente construídas, bem como a luta por um desenho orientado pelas (BRASIL,2003; BRASIL, 2005 a).

complexidades locais e pela responsabilidade dos profissionais e serviços pelo


cuidado e pela cura, singular em cada caso ou realidade.

A Educação Permanente em Saúde sugere e qualifica uma ligação orgâ-


nica entre o ensino (educação formal, educação em serviço, educação conti-
nuada), o trabalho (gestão setorial, práticas profissionais, serviço) e cidadania Alteridade – qualidade do que
pertence ao outro, o que é ou está
(controle social, práticas participativas, alteridade com os movimentos popu- no outro. Ser outro, colocar-se ou
constituir-se como outro.
lares, ligações com a sociedade civil). Traz em seu arcabouço ênfase no ensino
e na cidadania, onde a aprendizagem é interpretada como atividade inventiva,
pertencente ao mundo dos movimentos, é uma atividade da educação proble-
matizadora. Articula gestão, atenção, formação e controle social com o objetivo Problematização – movimento de
de melhorar a qualidade de vida das pessoas, produzindo saúde e produzindo tensionar, entre o saber anterior,
prévio e a experiência presente, in-
sujeitos implicados na produção de saúde. Ela aciona movimentos de estranha- ventor de novidade. Pensar proble-
maticamente é colocar perguntas
mento, de desacomodação, de perguntação e de implicação, resultando em au- no lugar de respostas.
mentos de potências.

Faz-se necessário que todos os profissionais de saúde participem dos pro-


cessos de educação permanente em saúde e sintam-se corresponsáveis por este
processo, pois a educação em saúde se dá nas relações cotidianas e é parte Empoderamento – é a condição
integrante dos processos de trabalho em saúde. de uma pessoa, um grupo social,
ou uma comunidade ampliar sis-
tematicamente sua capacidade de
realização, empreender ações, ne-
Devemos considerar que somos todos educadores em saúde, voltados para gociar e pactuar com outros atores
o desenvolvimento conjunto/coletivo de conhecimentos, atitudes e comportamen- sociais a favor do bem comum.
(PROFORMAR, Un. I, Mód. I, 2003).
tos favoráveis ao cuidado em saúde, mediante o processo de empoderamento.

UNIDADE V – Educação e Saúde 85

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Torna-se necessário repensar a Educação em Saúde sob a perspectiva da
participação social, compreendendo que as verdadeiras práticas educativas só
têm lugar entre sujeitos sociais e considerar que a Educação em Saúde é uma
estratégia para a constituição de sujeitos ativos, que se movimentam em direção
a um projeto de vida libertador.

Levar a prática educativa para o cotidiano do processo de trabalho do


técnico de enfermagem pressupõe considerar que:
• Todas as relações sociais são potencialmente educativas, podendo
ocorrer espontaneamente ao longo de toda a vida, acontecendo em
Carta de Ottawa – Documento re- lugares sociais, como no ambiente familiar, no trabalho, na rua, na
sultante da 1ª Conferência Interna-
cional sobre Promoção da Saúde, igreja, na escola. É um componente que está presente desde a Carta
ocorrida em 1986 no Canadá.
de Ottawa.
• Educar é um processo por meio do qual se criam formas de perceber
a realidade, pensar intelectualmente sobre o que nos cerca, conceber
novas alternativas de interferir na realidade e ainda, de relacionar-se
emocionalmente com os fatos da vida.

Significa que o técnico de enfermagem também tem responsabilidades


pelas ações educativas da equipe de saúde, devendo incluir entre seus objetivos
de trabalho a intenção de:
• Partilhar conhecimentos sobre saúde;
• Contribuir para que as populações reconheçam as situações de risco à
saúde nas quais estão envolvidas;
• Interagir conscientemente com os sujeitos sociais (indivíduos, institui-
ções e grupos) que ativamente podem fazer a diferença.

Em grupo, na sala de aula, faça uma Dessa forma, cabem ao técnico de enfermagem e demais profissionais de
discussão sobre sua experiência na saúde, participar de práticas educativas na lógica da educação permanente em
participação em treinamentos/capa-
citações no serviço e aponte o que saúde, utilizando-se de metodologias ativas, contemplando o universo dos pro-
foi considerado de importante no
desenvolvimento deles. cessos de trabalho e as vivências acumuladas.

86 Promoção da Saúde

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Nessa perspectiva, é fundamental que as ações educativas sejam plane-
jadas de forma participativa, flexível e ordenadas, podendo ser reavaliadas e
reformuladas durante o processo. O planejamento prevê as seguintes fases:
• Diagnóstico – compreende a coleta de dados, sua discussão, análise,
interpretação e o estabelecimento de prioridades;
• Plano de ação – determina os objetivos, população alvo, metodologia,
recursos e cronograma de atividades;
• Execução – operacionalização do plano de ação;
• Avaliação – verificação se os objetivos propostos foram ou não contem-
plados. Deve iniciar-se na etapa de diagnóstico e acompanhar todas as
fases do planejamento. Após a execução, a avaliação, além de identifi- Identifique juntamente com sua
equipe de trabalho, um problema
car os resultados alcançados também fornece subsídios para a reprogra- de saúde que esteja ocorrendo na
mação das ações, bem como indica a necessidade de novas ações de sua área de trabalho e elabore um
plano de ação educativa.
diagnóstico.

Bibliografia
BESEN, C. B, et. al. A Estratégia Saúde da família como Objeto de Educação em
Saúde. Santa Catarina: 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Trabalho, Educação e Saúde. v.6, Rio de Janeiro: Fun-
dação Oswaldo Cruz, EPSJV, 2008-9.

______. Ministério da Saúde. Educação em Saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz,


2007.

CECCIM, R. B. Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso e necessário.


Porto Alegre, 2005.

São Paulo. Secretaria de Estado da Saúde. Manual para Operacionalização das


Ações Educativas no SUS. São Paulo, 1997.

UNIDADE V – Educação e Saúde 87

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O SUS no Estado de São Paulo unidade I
Objetivo

Reconhecer a estrutura do SUS no Estado de São Paulo e o papel da Secretaria de


Estado da Saúde (SES) na coordenação do sistema de saúde no âmbito estadual.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


I.1- Analisar as competências dos 1- Níveis de Gestão do SUS: 1- Pesquisa sobre as competências dos níveis fe-
níveis federal, estadual e municipal • Ministério da Saúde deral, estadual e municipal na gestão do SUS e
na gestão do SUS. • Secretaria de Estado da Saúde na execução das ações e serviços de saúde.
• Secretaria Municipal de Saúde 2- Apresentação dos trabalhos com sistematiza-
ção das competências dos três níveis de gestão
do SUS.

I.2- Caracterizar a estrutura da rede 2- Rede de Serviços do SUS: 1- Pesquisa em grupos para levantamento da
de serviços do SUS em seu municí- • Atenção Primária à Saúde: Unida- rede de serviços do SUS disponíveis em seu
pio/Estado. des Básicas de Saúde e Estratégia de município/Estado.
Saúde da família 2- Apresentação dos trabalhos e classificação dos
• Rede de Serviços de Média e Alta serviços conforme a complexidade das ações
Complexidade Ambulatorial e Hos- de saúde oferecidas e dos recursos tecnológi-
pitalar cos necessários (níveis primário, secundário,
terciário e quaternário).
3- Debate sobre as características da rede de ser-
viços no que se refere a acesso, resolutividade,
cobertura, considerando-se o perfil epidemio-
lógico e demográfico no município/Estado.
4- Leitura e discussão do texto: O SUS no Estado
de São Paulo.

I.3- Conhecer o Plano Esta­dual de 3- O Plano Estadual de Saúde do 1- Debate sobre as propostas do Plano Estadual
Saúde e seus eixos prioritários. Estado de São Paulo – PES de Saúde do Estado de São Paulo, com base na
• Eixos Prioritários leitura do texto anterior.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade I


Integração Curricular:
ÁREA I Política Nacional de Saúde
Sugestão de ações para Estágio Supervisionado:
Pesquisa sobre os processos de organização dos serviços de saúde locorregionais e das ações de saúde implantadas no município.

unidade i – O SUS NO ESTADO DE sÃo paulo 91

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Texto 11 O Sus no Estado de São Paulo

As políticas públicas de saúde no Brasil estão substanciadas pelo Sistema


Único de Saúde (SUS), criado pela Constituição Federal Brasileira, em 1988,
Política: Arte de bem governar os e representa um dos mais importantes projetos sociais já lançados no mundo.
povos. Sistema de regras respei-
tantes à direção dos negócios pú- Assegurando os princípios da universalidade, integralidade e equidade no aten-
blicos. Princípio doutrinário que dimento aos cidadãos brasileiros, o SUS contribui de forma significativa para
caracteriza a estrutura constitucio-
nal do Estado. Conjunto de objeti- melhorar os indicadores de saúde e a qualidade de vida da população. O Estado
vos que dão forma a determinado
programa de ação governamental e de São Paulo, seguindo os princípios do SUS, desempenha papel importante nas
condicionam a sua execução.
(AURÉLIO. Novo Dicionário Aurélio
políticas públicas de saúde, consolidando-se como Estado de referência para as
da Língua Portuguesa). questões de saúde.

As Políticas de Saúde do Estado de São Paulo

O Estado de São Paulo situa-se na Em 2005, a população no Estado de São Paulo, representava 51,5%
região sudeste do País, com uma
extensão territorial de 248.209,43 da população da Região Sudeste, com uma estimativa, segundo o Instituto
km². Sua divisão territorial jurídi-
co-administrativa é de 645 muni-
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2007, de uma população de
cípios, 15 regiões administrativas 41.663.623 habitantes, com grau de urbanização de aproximadamente, 95%
de governo e 17 regiões de saúde.
do total da população do Estado. Tem uma situação privilegiada no contexto
brasileiro, pela sua localização geográfica e seu desenvolvi-
mento econômico, político e cultural.

Em relação ao perfil populacional, no período de


1991/2005, a faixa etária com maior taxa média anual de cres-
cimento foi a acima de 60 anos (47,3%), passando de 2,4 para
3,5 milhões de idosos; na faixa etária menor de 1 ano, esta
taxa foi de 14,8 %. A população masculina registrou aumento
de 26,9% e a feminina 29,1%.

Em São Paulo, observa-se um aumento progressivo da


esperança de vida da população. No período de 1991 a 2004,

92 O SUS NO ESTADO DE sÃo paulo

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o número médio de anos de vida aumentou em 7,2%, passando de 68,5 para Esperança de vida ao nascer – indi-
cador que mensura a probabilidade
73,4 anos. A Taxa de Fecundidade Total (TFT), em 2000, era de 2,05. de tempo de vida média da popula-
ção residente em determinado espa-
ço geográfico, no ano considerado.
O Estado de São Paulo apresenta a maior e mais complexa rede de aten- Taxa de Fecundidade Total – núme-
ro médio de filhos vivos tidos por
dimento em saúde do País, o SUS-SP, onde estão as principais unidades de refe- uma mulher ao final do seu ciclo
reprodutivo residente em determi-
rência nacional. Em 2006, o SUS/SP realizou 29% das internações de cirurgias nado espaço geográfico e ano con-
oncológicas, 52% das internações de transplantes, 32% dos gastos de ressonância siderado.

magnética e 38% de tomografia computadorizada do país. Ainda, garante forneci-


mento de medicamentos para Estados e municípios por intermédio da Fundação
para o Remédio Popular (FURP), e produz, no Instituto Butantã, mais da metade
das vacinas e soros distribuídos no país.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, como protagonista do pro-


cesso de construção do SUS-SP, consolida seu papel como gestor estadual ca-
racterizado por duas vertentes. Uma delas gerencia uma máquina extremamente Com a instituição do SUS e o mo-
vimento de descentralização dos
diversificada que presta serviços de média e alta complexidades, produz e dis- serviços, os municípios passaram
tribui fármacos e imunoderivados, executa vigilância sanitária e epidemiológica, a ser responsáveis pela garantia do
primeiro nível de atenção à saúde
investiga e produz conhecimento em saúde coletiva. A outra se vincula à gestão dos cidadãos – vacinação, con-
sulta médica básica em pediatria,
de um sistema de saúde altamente complexo, que obedece diretrizes fundamen- ginecologia e pré-natal e outras – e
pela garantia da universalidade no
tais que garantem o acesso às ações e serviços de saúde a todos que vivem ou acesso. O gestor estadual avalia e
acompanha as atividades desen-
transitam pelo território paulista e a promoção da equidade em um sistema ainda volvidas pela esfera municipal,
significativamente desigual. além de responsabilizar-se pela
média e alta complexidade.

É nesse contexto que se desenvolvem, a partir de 2007, o Pacto de Gestão


pela Saúde e o Plano Estadual de Saúde, oriundos das Políticas do Pacto pela Saú-
de, do governo federal. A intensa mobilização desencadeada por esses processos
resultou num grande compromisso público assumido pela SES-SP com a socieda-
de. Compromisso expresso não só no Plano Estadual de Saúde, mas também num
amplo e inclusivo pacto, estabelecido entre a SES-SP e os gestores municipais,
reorganizados agora, em torno de 64 Colegiados de Gestão Regionais. Todo esse
processo, agora difundido não mais em novas estruturas administrativas, mas em
espaços regionais de negociação e pactuação, veio, novamente, questionar a efi-
cácia sistêmica, a capacidade de atuar de forma integrada e cooperativa da SES-SP.

unidade i – O SUS NO ESTADO DE sÃo paulo 93

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O Plano Estadual de Saúde do Estado de São Paulo – PES

O Plano Estadual de Saúde de São Paulo foi elaborado no contexto do Pac-


to pela Saúde – 2006, desenhado em bases regionais, nos quais os atores iden-
tificaram os problemas e potencialidades em saúde, focalizaram prioridades,
compartilharam enredos, definiram estratégias e agiram para construir melhores
cenários, mais inclusivos, integradores e resolutivos, para o SUS-SP.

Os principais desafios da política de saúde no Estado de São Paulo, a se-


rem enfrentados pelo PES, são:
• Aperfeiçoar a universalidade da atenção à saúde, praticamente conquis-
tada na atenção básica ou primária, por meio da elevação da qualidade
das ações, fundamento de todo o sistema de saúde e essencial para
reduzir as desigualdades, ainda encontradas na situação de saúde da
população;
• Criar mecanismos de acesso a serviços e ações de saúde, incluindo os
procedimentos de maior complexidade, nas regiões geográficas ou em
grupos populacionais que ainda não dispõem adequadamente de assis-
tência de média e alta complexidade, por meio de avanços na gestão,
regionalização, hierarquização e investimentos do SUS;
• Fortalecer a SES-SP em seu papel coordenador do sistema de saúde,
no âmbito estadual, desenvolvendo sua capacidade de planejamento e
gestão.

O PES-SP criou nove Eixos Prioritários, para incorporar a análise da si-


tuação de saúde; o conhecimento técnico acumulado sobre os principais pro-
blemas do SUS, no Estado de São Paulo; as prioridades nacionais, definidas no
Plano Nacional de Saúde e no Pacto pela Saúde, e as estaduais, reconhecidas
pelo governo de São Paulo. São eles:
1. Ampliação do acesso da população, com redução das desigualdades
regionais e aperfeiçoamento da qualidade das ações de saúde;

94 O SUS NO ESTADO DE sÃo paulo

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2. Fortalecimento e aperfeiçoamento da capacidade de gestão estadual;
3. Gestão da Educação e do Trabalho;
4. Redução da mortalidade infantil e materna;
5. Controle de riscos, doenças e agravos prioritários;
6. Desenvolvimento de serviços e ações de saúde destinados aos segmentos
populacionais mais vulneráveis aos riscos de adoecimento ou aos portado-
res de necessidades específicas;
7. Incentivo ao desenvolvimento de ações de promoção de saúde;
8. Fortalecimento da participação da comunidade e do controle social na
gestão do SUS;
9. Tecnologia e inovações em saúde.

Com base no Plano Estadual de Saúde – 2008/2011, são elaborados os


Planos Operativos Anuais (POA). O POA 2008 não é estático, apresenta limita-
ções que devem ser aprimoradas pelo próprio processo de discussão e imple-
mentação com a convicção de que se trata, de fato, de um instrumento para o
aperfeiçoamento da gestão estadual.

É nesse cenário desafiador, mas repleto de possibilidades, que os gestores


de forma solidária, devem planejar e executar suas políticas de saúde, prestando
conta à sociedade; e, os trabalhadores e usuários conhecerem e se apropriarem
dessas políticas e estratégias para efetivar ações de saúde de qualidade e resolutas.

Bibliografia
SÃO PAULO, Secretaria de Estado da Saúde. Plano Estadual de Saúde 2008-2011.
São Paulo. 2008.

______. 20 anos do SUS São Paulo. São Paulo: SES-SP, 2008.

unidade i – O SUS NO ESTADO DE sÃo paulo 95

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Atenção à Saúde Mental no SUS

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A saúde mental no SUS unidade I
Objetivo

Reconhecer a Política Nacional de Saúde Mental e seu contexto histórico.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


I.1- Analisar o contexto histórico da 1- Contexto histórico da loucura e 1- Debate sobre a situação dos doentes mentais e
loucura e da Reforma Psiquiátrica do tratamento psiquiátrico do tratamento psiquiátrico no País e no Estado,
no Brasil 2- Reforma psiquiátrica no Brasil: com destaque para o estigma da loucura.
• Desospitalização 2- Pesquisa sobre a história da loucura e da psi-
• Luta antimanicomial quiatria e sobre o movimento da Reforma Psi-
quiátrica.
3- Apresentação dos trabalhos com sistematização
sobre os princípios da reforma psiquiátrica e da
Política de Saúde Mental do País e no Estado.
4- Leitura e discussão do texto: O contexto histó-
rico da loucura e da Reforma Psiquiátrica.

1- Levantamento da rede de atenção à saúde


I.2- Caracterizar a rede de atenção 1- Política Nacional de Saúde Mental mental em seu município/Estado e suas carac-
aos portadores de transtornos 2- Rede de atenção aos portadores terísticas.
mentais de transtornos mentais 2- Apresentação dos trabalhos com sistemati-
• Centros de Atenção zação dos níveis de complexidade da rede de
Psicossocial atenção à saúde mental e itinerário terapêutico.
(CAPS, CAPSi e CAPSad) 3- Leitura e discussão do texto: Rede de atenção
• Itinerário terapêutico aos portadores de transtornos mentais.
• Programas: De volta para casa, 4- Debate sobre avanços e desafios na imple-
Desospitalização, e mentação da política de atenção à saúde men-
Luta antimanicomial tal em seu município/Estado.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade I


Integração Curricular:
ÁREA I Política Nacional de Saúde, SUS e Política Nacional de Humanização (PNH)
Sugestão de ações para Estágio Supervisionado:
Pesquisa sobre a inserção da atenção à saúde mental nos processos de organização dos serviços de saúde locorregionais.

UNIDADE I – A saúde mental no SUS 99

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Texto 12 O contexto histórico da loucura e da reforma psiquiátrica

Durante muito tempo a assistência às pessoas


com transtornos mentais foi organizada conforme o
modelo baseado na internação e afastamento do con-
vívio social, em instituições com características mani-
comiais e tratamento fundamentado na medicalização,
desconsiderando-se totalmente os fatores psicossociais
e direitos relacionados à sua cidadania. Conforme ve-
remos adiante, essa situação mudou muito, sendo re-
sultado de movimentos que foram ganhando força a
partir da Reforma Sanitária, que propunham a extinção
progressiva dos manicômios e a organização da aten-
ção baseada no modelo da promoção de saúde.

As instituições abertas, como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),


Centros de Convivência, unidades de Saúde Mental em hospital geral, são al-
Segundo dados epidemiológicos, guns recursos que foram criados para assistir às pessoas com transtornos men-
os transtornos mentais e comporta- tais. Novas demandas surgem com esse novo cenário, dentre elas, a necessi-
mentais afetam universalmente 25%
da população em uma determinada dade de capacitar os profissionais inseridos nos diversos níveis de atenção à
fase da vida. Estão presentes em
10% da população adulta e em 10% saúde, considerando-se que a assistência secularmente realizada em hospital
a 20% de crianças e adolescentes
(Relatório sobre a saúde no mundo, psiquiátrico passa a ser realizada na rede de saúde, tendo como porta de en-
2001). O uso prejudicial de álcool trada as Unidades Básicas de Saúde/Estratégia de Saúde da Família (ESF). É
e outras drogas acomete grande
parte da população, em especial o premente que a equipe de saúde esteja preparada para minimamente reco-
do primeiro, cuja dependência afeta
11,2% da população brasileira, se- nhecer o portador de transtornos mentais, prestar atendimento e agir de forma
guido pelo tabaco (9%), benzodia-
zepínicos (1,1%), maconha (1%) e adequada em situações de crise.
os solventes (0,8%).
(CEBRID, I Levantamento domiciliar
sobre o uso de psicotrópicos, 2002). Lembramos que ao atender um cliente é importante estimularmos suas
(SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚ-
DE DE SÃO PAULO. 20 anos do SUS
potencialidades e, também, conhecermos sua realidade e suas vivências, para
São Paulo, 2008). a individualização dos cuidados. Porém, quando recebemos uma pessoa tida
como “diferente”, nem sempre atentamos para os “pré” conceitos existentes,
que, muitas vezes, são reflexos da nossa história de vida.

100 Atenção À saúde mental no sus

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Propomos, então, discussões para a revisão de conceitos e, assim, con- Um bom exemplo de como é difícil
saber lidar com o incomum consta
tribuir para a humanização do atendimento nos serviços de saúde, indepen- do livro O Alienista, de Macha-
do de Assis, que retrata o dilema
dentemente do nível de atenção, bem como, para a promoção da cidadania “quem é/está louco?”. Sabemos
que o “desafio” de cuidar desses
dessas pessoas. clientes pode se transformar em um
gratificante aprendizado.

Compreendendo a história da loucura: uma viagem através dos séculos1

Quando você escuta a palavra LOUCURA, o que vem à sua mente?

Não raras as vezes quando fazemos esta pergunta a diversos grupos de


pessoas, costumamos escutar definições relacionadas a temas como: o louco é
alguém que é “agressivo”... “perigoso”...; ou ainda, “lugar de louco é no hos-
pício”; “eu morro de medo de encontrar um ‘doido’ pela rua”... “temos que
chamar a polícia”!!!

É ou não assim que, muitas vezes, pensamos ou escutamos as pessoas se


referirem aos doentes mentais? Pois é!!! Contudo, você sabia que nem sempre
foi assim? Alguma vez você já parou para pensar que em outros tempos e lu-
gares “os loucos” não tinham que ser presos em manicômios e/ou afastados da
sociedade? Sabia que o próprio nome “loucura” é algo bem mais recente do que
geralmente pensamos ser? E que as noções de periculosidade e incapacidade
são construções que mais têm a ver com interesses econômicos do que com a
realidade dos fatos?

Diversos estudos nos revelam que a loucura nem sempre foi vista sob o
olhar da medicina e da psicologia. Um tema, hoje tão controverso, foi objeto
das mais variadas explicações, passando desde o campo da mitologia até o da
religião. Na Grécia Antiga, o “louco” era considerado uma pessoa com poderes

1
ALVES, C. F. O. Texto n. 1. Compreendendo a história da loucura: uma viagem através dos séculos. Guia Cur-
ricular Área III. Participando do processo de recuperação da saúde individual em situações clínicas, cirúrgicas e
de emergências. Primeira unidade - Participando da Assistência à Saúde Mental. Escola Técnica de Saúde Profª
Valéria Hora. UNCISAL. Maceió. Alagoas, 2007.

UNIDADE I – A saúde mental no SUS 101

30916006 miolo.indd 101 20/07/09 14:58


diversos. O que dizia era ouvido como um saber importante e necessário, capaz
de interferir no destino dos homens. A loucura era tida como uma manifestação
dos deuses, sendo, portanto, reconhecida e valorizada socialmente. Não havia
necessidade de seu controle e/ou exclusão.

No início da Idade Média, a loucura era vista como expressão das forças
da natureza ou algo da ordem do não-humano. Era exaltada, num misto de terror
e atração. Mais tarde, era tida como possessão por espíritos maus, os quais pre-
cisavam ser expulsos mediante práticas inquisitoriais, sob o controle da Igreja.

Com o emergir do Racionalismo, época em que houve uma grande valori-


zação do pensamento científico racional, a loucura deixa de pertencer ao âmbi-
to das forças da natureza ou do divino, assumindo o status de desrazão (ou falta
de raciocínio racional), sendo o “louco” aquele que transgride ou ignora a moral
racional. Neste contexto, surge a associação com a periculosidade, visto que,
uma vez desarrazoado, representa o não-controle, a ameaça e, por conseguinte,
o perigo. A loucura ganha um caráter moral, passando a ser algo desqualificante,
e que traz consigo um conjunto de vícios, como preguiça e irresponsabilidade.
Atrelado a isto, no século XVII, com o Mercantilismo, predominava o pressu-
posto de que a população era o bem maior de uma nação, devido ao lucro que
podia trazer por meio do trabalho. Daí, todos aqueles que não podiam contribuir
para o processo de produção, comércio e consumo, começam a ser excluídos do
convívio social e encarcerados, sob a prerrogativa do controle social a tudo que
fosse desviante. Velhos, crianças abandonadas, aleijados, mendigos, portadores
de doenças venéreas e os loucos passam a ocupar verdadeiros depósitos huma-
nos. Foi aí que surgiram os primeiros Hospitais Gerais com o intuito de servir de
depósito para aqueles que deviam ser isolados da sociedade “sã” e “produtiva”.

Mais tarde, com o início da Revolução Francesa (1789), os ideais de ‘Li-


berdade, Igualdade e Fraternidade’ preconizaram um movimento de reabsor-
ção, pela sociedade, destes excluídos. Os loucos continuaram presos, só que,
agora, sendo denominados de doentes mentais. Foram criados, então, hospitais
próprios para os doentes mentais, denominados de manicômios, cujas carac-

102 Atenção À saúde mental no sus

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terísticas principais eram o isolamento e o tratamento baseado em punições e
castigos, pois se acreditava que só assim poder-se-ia curar o ”louco” de sua alie-
nação. A ação agregava noções de cuidado e de castigo, sendo o doente mental
destinado ao isolamento e à punição.

Foi nesse período, marcado pela luta dos direitos de cidadania e de va-
lorização do homem, que surge na França, Phillipe Pinel, médico criador de
proposta humanitária para os portadores de transtornos mentais, proposta essa Freud (1856 – 1939) é considera-
do um dos maiores pensadores do
que, aliada à prática da docência, trouxe inovações clínicas, notadamente sobre século 20. Médico neurologista,
os estudos da influência de tóxicos nas alterações do comportamento e a con- dedicou-se aos estudos da men-
te humana e sua estrutura, que
ceituação de esquizofrenia, dentre outros. Jean Martin Charcot, médico e con- a partir de longa prática clínica,
consolidou a teoria conhecida
temporâneo de Pinel, realizou estudos sobre histeria e o tratamento baseado na como Psicanálise. É um método de
tratamento para perturbações ou
hipnose. Nessa época, Freud dedica-se à teoria da psicanálise, sendo pioneiro transtornos psíquicos, largamente
nessa área. utilizado no mundo todo.

A reforma psiquiátrica: um novo capítulo na construção de


cidadania para o portador de sofrimento psíquico2

Como já vimos anteriormente, o “louco”, depois denominado de doente


mental, representou uma associação de perigo e irrecuperabilidade. Entretanto,
com o início do século XX e as primeiras tentativas de discussão do papel do
manicômio no tratamento da loucura, perceberam-se diversas manifestações,
em diversos lugares do planeta, na tentativa de promover uma mudança radical
neste modelo excludente e preconceituoso.

A princípio, os movimentos diziam respeito apenas à busca pela huma-


nização nos hospícios. Partia-se de uma crítica à estrutura de isolamento asilar,
vista como responsável pelos altos índices de cronificação que, por ser o mani-

2
ALVES, C. F. O. Texto n. 2. “A Reforma Psiquiátrica: um novo capítulo na construção de cidadania para o
portador de sofrimento psíquico”. Guia Curricular Área III. Participando do processo de recuperação da saúde
individual em situações clínicas, cirúrgicas e de emergências. Primeira unidade - Participando da Assistência à
Saúde Mental. Escola Técnica de Saúde Profª Valéria Hora. UNCISAL. Maceió. Alagoas, 2007.

UNIDADE I – A saúde mental no SUS 103

30916006 miolo.indd 103 20/07/09 14:58


cômio uma instituição de cura, deveria ser urgentemente reformado, uma vez
que havia se afastado de sua finalidade.

Outros movimentos, como o das Comunidades Terapêuticas, ocorrido


na Inglaterra, no início da década de 50; o da Psiquiatria Comunitária, nos
Estados Unidos, na década de 60; e o da Antipsiquiatria, também nos anos
60, indicavam a necessidade de transformações mais radicais no modelo de
assistência ao portador de sofrimento psíquico. Entretanto, foi na Itália que
surgiu o movimento que marcou definitivamente a mudança de rumo, não só
na assistência hospitalar, mas, sobretudo, na visão social acerca do fenômeno
da loucura. Tal movimento, denominado de Psiquiatria Democrática (1961),
que teve como precursor o médico Franco Basaglia, não nega a existência da
doença mental, antes propõe uma nova forma de olhar e cuidar da mesma,
vendo-a como algo inerente à condição humana, isto é, além do domínio da
psiquiatria, dizendo respeito ao sujeito, à família, à comunidade e aos demais
atores sociais.

O movimento de desinstitucionalização da psiquiatria italiana inicia-se


a partir da experiência de Franco Basaglia na direção do Hospital Psiquiátrico
de Gorizia (1961 a 1968). Com o trabalho nesta instituição, utilizando al-
gumas contribuições do modelo das Comunidades Terapêuticas, torna-se-lhe
evidente que o manicômio é um lugar de segregação, de violência e morte, o
qual, portanto, deve ser combatido, negado, superado e questionadas as suas
finalidades num contexto mais geral das instituições sociais (BASAGLIA apud
AMARANTE, 1992). Suas propostas encontram fortes reações do poder político
local, sendo rechaçadas, fato que fez com que os técnicos do hospital, também
convencidos da inviabilidade manicomial, optassem em dar alta coletiva aos
pacientes e, em seguida, pedissem demissão em massa.

Em 1971, Basaglia assume a direção do Hospital Psiquiátrico de San Gio-


vanni, em Trieste, perfeitamente convencido da impossibilidade de reformar o
manicômio. Dá-se início a um projeto mais sólido de desinstitucionalização,
que tem por objetivo a desconstrução do aparato manicomial, assim como

104 Atenção À saúde mental no sus

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de toda a lógica de segregação que lhe é implícita. A instituição psiquiátrica
deveria ser negada, enquanto saber e poder, buscando-se substituir os serviços
e tratamentos oferecidos pela lógica hospitalocêntrica, com toda a sua cultura
de exclusão, por intervenções que visassem a reinserção social do sujeito no
pleno exercício de sua cidadania. Além disso, a própria estrutura social teria
que promover a revisão de valores e práticas institucionais excludentes. Trata-
va-se de uma tentativa de colocar a doença entre parênteses, voltando toda a
atenção ao sujeito, considerando sua complexidade, por meio de um trabalho
interdisciplinar e psicossocial.

Tal postura não intentava negar a existência da doença, nem muito


menos o sofrimento vivenciado pelo sujeito, mas retirá-los do primeiro pla-
no, permitindo sua inserção como mais um dos diversos aspectos da vida
do sujeito. Sujeito este que passa a ser considerado não apenas como um
doente, mas como uma pessoa, que não poderia ser abordada em sua totali-
dade, se resumida a um de seus aspectos. Basaglia parte, fundamentalmente,
da premissa de que deveria ser produzido um novo imaginário social para
a loucura, que a desvinculasse dos conceitos de periculosidade, preguiça,
incapacidade, dentre outros, de forma a gerar uma nova relação entre o “lou-
co” e a sociedade.

Estas noções influenciaram grandemente diversos outros países, de for-


ma que hoje, no Brasil, vivenciamos importante momento histórico, no qual
a loucura tem sido revisitada e novas construções têm sido feitas, tendo em
vista a promoção da cidadania e bem-estar social àqueles que padecem de
sofrimento psíquico.

A reforma psiquiátrica no Brasil

O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâ-


neo aos acontecimentos do processo de redemocratização do País e ao mo-

UNIDADE I – A saúde mental no SUS 105

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O ano de 1978 costuma ser identifi- vimento sanitário que emerge em favor da mudança dos modelos de atenção
cado como o de início efetivo do mo-
vimento social pelos direitos dos pa- e de gestão em saúde. Entretanto, cabe dizer que a reforma psiquiátrica traz
cientes psiquiátricos em nosso País.
O Movimento dos Trabalhadores em marcas históricas próprias, inserida no amplo contexto internacional em prol
Saúde Mental (MTSM), movimento
plural formado por trabalhadores de mudanças pela superação da violência asilar, visto anteriormente. Busca-
integrantes do movimento sanitário,
associações de familiares, sindica- se romper a lógica de exclusão e segregação dos portadores de transtornos
listas, membros de associações de
profissionais e pessoas com longo mentais, totalmente indefesos às medidas punitivas e aprisionadoras, apon-
histórico de internações psiquiátri-
cas, surge neste ano. É, sobretudo tando-se para uma prática baseada nos princípios de inclusão, solidariedade
este Movimento, por meio de varia- e cidadania. É um movimento que vai além da assistência em saúde mental
dos campos de luta, que passa a pro-
tagonizar e a construir a partir deste
período a denúncia da violência dos
e compreende profundas transformações nas dimensões jurídicas, políticas,
manicômios, da mercantilização da socioculturais e conceituais.
loucura, da hegemonia de uma rede
privada de assistência e a construir
coletivamente uma crítica ao cha-
mado saber psiquiátrico e ao modelo No ano de 1987 são realizadas a I Conferência Nacional de Saúde Mental
hospitalocêntrico na assistência às
pessoas com transtornos mentais.
(Rio de Janeiro, RJ) e o II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores
Brasil. Ministério da Saúde. Docu-
mento apresentado à Conferência
em Saúde Mental (Bauru, SP), cujo lema, Por uma Sociedade sem Manicômios,
Regional de Reforma dos Serviços foi influenciado pela Psiquiatria Democrática Italiana. Neste mesmo ano cria-se
de Saúde Mental : 15 anos depois
de Caracas. OPAS. Brasília, no- o primeiro CAPS no Brasil, na cidade de São Paulo, e, em 1989, inicia-se o pro-
vembro de 2005.
cesso de intervenção da Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) na Casa de
Saúde Anchieta, um hospital psiquiátrico no qual foram constatados maus-tratos
e mortes de pacientes.
A intervenção na Casa de Saúde
Anchieta/Santos demonstrou de for- Ainda no ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional o projeto de lei
ma inequívoca a possibilidade de
construção de uma rede de cuidados do deputado federal Paulo Delgado, que propõe a extinção progressiva dos ma-
efetivamente substitutiva ao hospital
psiquiátrico. Neste período, são im- nicômios no País e a criação de recursos assistenciais substitutivos, bem como a
plantados no município de Santos
os Núcleos de Atenção Psicossocial regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais. Sob a influên-
(NAPS) que funcionam 24 horas,
são criadas cooperativas, residências cia do projeto de lei Paulo Delgado, surgem as primeiras leis em vários Estados
para os egressos do hospital e asso-
ciações. A experiência do município brasileiros que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por
de Santos passa a ser um marco no uma rede integrada de atenção à saúde mental.
processo de Reforma Psiquiátrica
brasileira. Trata-se da primeira de-
monstração, com grande repercus-
são, de que a Reforma Psiquiátrica, Neste contexto, criam-se serviços como Centros de Atenção Psicossocial
não sendo apenas uma retórica, era
possível e exequível. (CAPS), ambulatórios de saúde mental, hospitais-dia, centros de convivência,
Brasil. Ministério da Saúde. DAPE.
Documento apresentado à Con- residências terapêuticas, dentre outros, que formam uma rede de serviços para
ferência Regional de Reforma dos
Serviços de Saúde Mental : 15 anos
o atendimento da demanda psiquiátrico-psicológica de uma determinada região
depois de Caracas. OPAS. Brasília,
novembro de 2005.
geopoliticocultural.

106 Atenção À saúde mental no sus

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Como vimos, o Estado de São Paulo tem uma tradição de vanguarda nas Em 2001 é sancionada a Lei nº
10.216 de 06/04/2001, que dispõe
reformulações políticas em saúde mental, com iniciativas importantes para a sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos
transformação de conhecimentos e de suas práticas. O processo de mudança, mentais e redireciona o modelo as-
sistencial em saúde mental.
materializado no primeiro CAPS criado em São Paulo, prossegue com a expan-
são de rede de serviços abertos para o atendimento de pessoas com transtorno
mental, o que demonstra o firme propósito do Estado na consolidação da po-
lítica de atenção à saúde mental. Em 20 anos do SUS no Estado de São Paulo, Atualmente, no Estado de São Pau-
houve redução de 67,3% do número de leitos em hospitais psiquiátricos que lo, a rede pública de atenção à saú-
de mental é integrada por 58 hospi-
não apresentavam condições assistenciais mínimas para o tratamento de pessoas tais psiquiátricos, com 12.136 lei-
tos e ainda 540 leitos psiquiátricos
com transtornos mentais. em hospitais gerais, 157 ambulató-
rios de saúde mental, 217 unidades
básicas de saúde com equipes de
saúde mental, 7 hospitais-dia, 182
Embora seja considerada uma grande rede de serviços, constata-se que CAPS, 7 oficinas terapêuticas e 194
ainda é insuficiente perante a demanda existente. Entretanto, além dos aspec- Residências Terapêuticas, além de
904 beneficiários no Programa de
tos estruturais, é necessário ponderar sobre questões que afetam o ser humano, Volta para Casa. SES-SP, 2008.

tanto no olhar que se dirige ao cliente e seus familiares, ainda mergulhado em


preconceitos que nossa sociedade alimenta, tanto quanto em relação àqueles
que o assistem, os quais necessitam estar qualificados e preparados para assumir
esse compromisso.

Portanto, um dos grandes desafios agora são os recursos humanos que


abrangem todos os profissionais que de alguma forma terão contato com os usu-
ários dos serviços. Quando se diz todos, são TODOS de fato: não só os profis- Imagine que o cliente está no CAPS
e acaba de ser atendido pelo técni-
sionais da equipe terapêutica, mas o segurança que fica na recepção do serviço, co de enfermagem... Foi encorajado
a mostrar iniciativa, a andar ao invés
o profissional da higiene e limpeza, a copeira, o agente administrativo, enfim, de dormir a tarde toda na sala de te-
levisão, e a participar das atividades
qualquer pessoa que trabalhe no local. Porque deve haver sintonia, ou seja, uma terapêuticas. O cliente, um pouco
mais motivado, vai até a porta da
conduta harmônica para o atendimento humanizado. copa pedir um copo descartável e
ouve um sonoro “você não pode vir
aqui, não é seu lugar... vá ver TV”.
Qual a impressão que o cliente
pode ter do serviço? Quem estará
correto, a copeira ou o técnico de
enfermagem? Em quem confiar?
Nessa hipótese, a contradição po-
derá acarretar a deterioração do
vínculo usuário-equipe. O que
você pensa disso?

UNIDADE I – A saúde mental no SUS 107

30916006 miolo.indd 107 20/07/09 14:58


Bibliografia
BRASIL. Lei nº. 10. 216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos
das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o Modelo Assistencial
em Saúde Mental. Diário Oficial da União de 8 de abril de 2001.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Geral de


Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documen-
to apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental :
15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.

______. Ministério da Saúde. Documento apresentado à Conferência Regional de


Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília,
novembro de 2005.

SÃO PAULO, Secretaria de Estado da Saúde. 20 anos do SUS São Paulo. São Paulo:
SES/SP, 2008.

108 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 108 20/07/09 14:58


Texto 13 Rede de atenção aos portadores de transtornos mentais

Itinerário terapêutico: compreendendo o percurso da


atenção à saúde mental1

O “adoecer dos nervos”, modo como são popularmente


denominadas as crises referentes ao sofrimento psíquico em suas
mais diversas formas e manifestações, geralmente consiste em
momento controverso e mobilizador. Não somente pelo caráter
de sofrimento e dor indecifrável à qual se submete o paciente,
mas, também, porque, na medida em que se percebe a existên-
cia de manifestações que, de alguma forma, sinalizem a doen-
ça mental, surgem diversos questionamentos acerca de quais as
condutas e procedimentos apropriados para cuidar daqueles pacientes.

O imaginário popular é repleto das mais diversas ideias e representações


sobre o sofrimento psíquico e, principalmente, sobre as formas de tratamen-
to dispensadas, durante séculos, aos doentes mentais. Assim, antes de tudo, é
preciso que, na direção de construirmos uma nova compreensão social sobre a
humanização do tratamento aos portadores de sofrimento psíquico, entendamos
como ocorre este processo entre o adoecer, o diagnosticar, o tratar e o reabilitar,
tendo em vista a continuidade da vida fora dos muros dos hospitais.

Desde as primeiras queixas ou sinalizações em torno da existência de um


sofrimento psíquico intenso (como uma tristeza que se prolonga por muito tem-
po, um estado ansioso que compromete a qualidade de vida de uma pessoa ou
ainda manifestações ‘esquisitas’ como o “conversar sozinho”, “escutar vozes es-
tranhas”, “ver vultos”, dentre inúmeras outras) é preciso que haja a consciência

1
ALVES, C. F. O. Texto.9 Itinerário Terapêutico - Compreendendo o percurso da atenção à Saúde Mental. Guia
Curricular Área III. Participando do processo de recuperação da saúde individual em situações clínicas, cirúrgi-
cas e de emergências. Primeira unidade - Participando da Assistência à Saúde Mental. Escola Técnica de Saúde
Profª Valéria Hora. UNCISAL. Maceió. Alagoas, 2007.

UNIDADE I – A saúde mental no SUS 109

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sobre a existência de uma rede de serviços que sirva de referência para o cuidado
e atenção de alguém que vive estas situações. Neste sentido, é importante com-
preender que qualquer pessoa pode vivenciar, alguma vez em sua vida, situações
desta natureza, de modo que apresentar tais manifestações não é sinônimo de
condenação ou inutilidade eterna, e, como já vimos, muito menos de perigo in-
controlável, imundície ou outras questões de cunho preconceituoso. Na verdade,
alguém que passa a apresentar estas características precisa de atenção, cuidado
e tratamento, porque, muito provavelmente, já está sofrendo e, se não for bem
acolhido, sofrerá ainda mais.

O que fazer, então?

É a esse percurso, entre o adoecer, o tratar e o reinserir na comunidade


que chamamos de itinerário terapêutico.

Geralmente, quando estas manifestações começam a ocorrer, a comu-


nidade busca explicações e soluções baseadas em crenças e rituais religiosos,
como “benzer, tirar mal olhado, levar a um culto religioso etc.” É importante
percebermos que estas atitudes fazem parte das crenças populares. Contudo, no
nosso papel de profissionais de saúde, precisamos revelar à sociedade a indica-
ção adequada de tratamento. Sendo assim, faz-se necessário que conheçamos a
rede de saúde de nosso município, para que possamos realizar os encaminha-
mentos e orientações apropriados a cada caso.

Fundamentada na redução progres­ A reforma psiquiátrica preconiza a necessidade de existência de amplas


siva e planejada de leitos em hospi-
tais psiquiátricos e sua substituição redes de serviços que ofereçam o necessário suporte aos portadores de sofrimen-
por uma rede de atenção em saúde
mental, de âmbito territorial, a Po-
to psíquico em crise ou fora dela. Essa rede compreende desde a Atenção Básica,
lítica de Saúde Mental do SUS, por que precisa ter seus profissionais habilitados e sensibilizados para as abordagens
meio de atos normativos, apoiados
na Lei nº 10.216 (2001) e nas re- iniciais aos portadores de sofrimento psíquico. A partir daí, deve existir uma sé-
comendações da III Conferência
de Saúde Mental (2000), prevê a rie de serviços de cunho extra-hospitalar que deem conta da demanda nos mais
construção de uma rede de servi-
ços articulados à atenção básica,
diversos níveis de complexidade, sendo a internação hospitalar o último recurso
aos recursos do território e a outras a ser empregado, geralmente para aqueles casos onde não foram suficientes as
políticas setoriais. SES-SP. 20 anos
do SUS São Paulo. São Paulo, 2008. outras intervenções.

110 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 110 20/07/09 14:58


Neste cenário encontram-se os Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Essas mudanças foram asseguradas
pelos seguintes documentos legais:
que têm por papel acolher às demandas de uma determinada localidade, por Portaria n.336, de 19 de março de
2002. Estabelece Centros de Aten-
meio de uma intervenção multiprofissional e interdisciplinar. Outro elemento ção Psicossocial: Caps. I, II e III.
Portaria n. 1.220, de 11 de novem-
importantíssimo neste contexto são os ambulatórios especializados, que visam bro de 2000. Cria o Cuidador em
realizar a manutenção do acompanhamento àqueles pacientes sem a indicação saúde e os Serviços de Residência
Terapêutica de Saúde mental : ane-
para tratamentos intensivos. xos I, II, II e IV.

As Residências Terapêuticas acolhem os pacientes crônicos de longa per-


manência em hospitais psiquiátricos e que não possuem vínculos familiares que
lhes permitam a reinserção nas suas famílias de origem. Reinserção esta que,
atualmente, está sendo incentivada pelo Programa De Volta Para Casa, do Minis-
tério da Saúde, por meio de bolsa-auxílio aos usuários que saíram do hospital.

Após os períodos de tratamento mais intensivos, representados principal-


mente pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e internações hospitalares, é
preciso haver clareza acerca da necessidade de uma rede de reabsorção social
deste usuário ao seu seio comunitário, por meio de parcerias e conscientização
popular sobre agravo e as possibilidades de vinculação e vida social. O tratamento
não se encerra com a alta e nem se resume à unidade de saúde, antes precisa con-
tar com o apoio, compreensão e engajamento dos mais diversos setores sociais,
isto é, familiares, igrejas, centros comunitários, empresas, dentre outros.

É verdade que tal conquista ainda está em construção. Vivemos dias de


reforma, onde, nem todos os municípios têm ainda uma rede que propicie iti-
nerário humanizado e eficiente. De qualquer maneira, não podemos perder de
vista seu aprimoramento e concretização. Somos participantes desta história;
portanto, precisamos dar nossa contribuição para a melhoria da atenção a esta
importante parcela da sociedade.

Bibliografia
SÃO PAULO, Secretaria de Estado da Saúde. 20 anos do SUS São Paulo. São Paulo:
SES-SP, 2008.

UNIDADE I – A saúde mental no SUS 111

30916006 miolo.indd 111 20/07/09 14:58


30916006 miolo.indd 112 20/07/09 14:58
Abordagem terapêutica em saúde mental unidade II
Objetivo
Reconhecer a importância da relação interpessoal terapêutica em saúde mental.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


II.1- Caracterizar 1- Ambiente Terapêutico 1- Debate sobre o entendimento do grupo sobre
ambiente e relação • Características ambiente e relação terapêutica.
terapêutica. 2- Dramatização de situações vivenciadas em
2- Comunicação nível pessoal/familiar em que foi necessário
• Verbal atendimento/hospitalização em serviço de
• Não-verbal saúde, com o objetivo de caracterizar situa-
ções terapêuticas e não-terapêuticas.
3- Comunicação 3- Análise sobre as características do ambiente
terapêutica dos serviços de atenção à saúde no sentido de
favorecerem o tratamento e recuperação da
saúde. Destaque para condições ambientais
de conforto e segurança, qualidade da relação
profissional/cliente, rigidez/flexibilidade de
normas e rotinas do serviço.
4- Dinâmica de grupo sobre as formas de comu-
nicação verbal e não-verbal.
5- Debate sobre a importância da comunicação
no estabelecimento de relações terapêuticas
profissional-paciente, como também nas rela-
ções interpessoais na equipe de saúde.
6- Leitura e discussão do texto: Ambiente, comu-
nicação e relação terapêutica.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade II


Integração Curricular:
ÁREA I Processo saúde-doença
ÁREA III Qualidade de vida no trabalho
Sugestão de ações para Estágio Supervisionado:
Estabelecer relação interpessoal terapêutica com o cliente e seus familiares.
Participar na promoção/manutenção do ambiente terapêutico e na recuperação do cliente quanto à sua integridade mental, emocional e no
equilíbrio com o meio em que vive.

UNIDADE II – Abordagem terapêutica em saúde mental 113

30916006 miolo.indd 113 20/07/09 14:58


Texto 14 Ambiente, comunicação e relação terapêutica

Quando procuramos atendimento em um ser-


viço de saúde, seja qual for o nível de complexida-
de da atenção, somos tomados por expectativas que
podem ser correspondidas plenamente, em parte,
ou, ainda, muito além do que estávamos esperando.
É normal criarmos expectativas em situações como
estas, que podem ser geradas pela própria causa que
nos levou a procurar o serviço, porém, na maioria
das vezes envolvem fatores como o ambiente e a
maneira como os profissionais se relacionam e tra-
tam os seus clientes. Considerar esses aspectos é relevante em qualquer serviço de
saúde, porém, em saúde mental deve ocupar uma posição privilegiada tendo em
vista que, dependendo da relação que se estabelece entre o profissional e o clien-
te, pode-se determinar sua adesão ao tratamento ou o seu afastamento. Não cabe
discutirmos aqui se ele volta ou não ao setor, mas quanto é prejudicial ao cliente
e aos seus familiares adiar por mais tempo o tratamento.

A qualidade da relação que se estabelece com o cliente ao recebê-lo no


setor faz parte do que denominamos ambiente terapêutico, espaço onde ele
No ambiente terapêutico o cliente consiga se sentir bem e seguro, física e psicologicamente, e que propicie a re-
deve ser protegido de causar dano
a si próprio ou aos demais, como
cuperação da saúde. Reafirmamos a importância da interação, que ocorre com
pode ocorrer, por exemplo, em si- maior fluidez, quando se tem uma estrutura física bem-cuidada e um processo
tuações de agressividade ou tenta-
tiva de suicídio. É necessário que de trabalho organizado.
as atividades desenvolvidas sejam
supervisionadas.
São fatores que promovem ambiente terapêutico1:
• Planta física - O ambiente deve ser arejado e de preferência amplo e
bem iluminado, de modo a transmitir sensação de segurança e bem-

1
Brasil. Ministério da Saúde. Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno: saúde mental.
Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

114 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 114 20/07/09 14:58


estar. O profissional deve se preocupar em tornar o local o mais belo e
agradável possível, simples, porém, aconchegante.

• Higiene ambiental - Ninguém pode se sentir bem num ambiente fisica-


mente sujo. Muitas vezes devido ao fato de que os transtornos mentais
não são transmissíveis, os profissionais de saúde tendem a relaxar com a
manutenção da higiene. No entanto, é importante que ela se mantenha
não somente pela questão do bem-estar, mas, também, para evitar surtos
de doenças infectoparasitárias.

• Arrumação e decoração - O excesso de mobília ou o mobiliário colocado


incorretamente, além de tumultuar o ambiente, pode atrapalhar o atendi-
mento num caso de emergência. Também se devem evitar objetos e ador-
nos que possam pôr em risco a segurança, assim como objetos ou imagens
religiosas ou ritualísticas, que fazem parte da crença de cada pessoa. É im-
portante a participação de todos nesta questão, inclusive dos pacientes.

• Som ambiente - Não obstante os avanços da musicoterapia, a utilização de


aparelhos sonoros nem sempre favorece a formação de um ambiente tera-
pêutico. Ao contrário, uma escolha inadequada pode causar irritação e até
mesmo desencadear crises. Por isso, tal técnica deve sempre ser orientada
por um profissional competente (se possível, no caso, um musicoterapeuta).

• Atividades - Num ambiente terapêutico, o paciente não vegeta pelos Você acredita que os fatores am-
bientais e interpessoais presentes em
corredores e salas em uma atitude passiva. Neste ambiente, embora te- seu local de trabalho promovem sua
saúde mental? Se não, que ações vo­
nha tempo para repousar ou refletir, ele se mantém em atividade, ou cê proporia para melhorá-lo?
seja, reunião de grupo, exercícios físicos, trabalhos manuais e outros.

A observação de cliente com transtorno mental


A observação do comportamento de cliente que apresenta transtor-
no mental é instrumento valioso para a intervenção terapêutica, possibilita
a identificação de possíveis alterações, prevê complicações e até previne

UNIDADE II – Abordagem terapêutica em saúde mental 115

30916006 miolo.indd 115 20/07/09 14:58


a reincidência de surtos. Reconhecer precocemente as alterações significa
abreviar o sofrimento psíquico, pois cria a oportunidade de iniciar o trata-
mento ou, ainda, de reavaliá-lo e adequá-lo às exigências do momento, visto
que grande parte dos transtornos mentais é crônica e regida por seu próprio
dinamismo. Nesse processo destaca-se a importância da atuação do técnico
de enfermagem que, ao entrar em contato com o cliente que chega ao ser-
viço de saúde, tem a oportunidade de observar seu comportamento e, dessa
forma, obter dados que irão complementar o trabalho da equipe terapêutica.
A observação criteriosa e direcionada nos permite verificar:
• Aparência
A observação sobre a maneira como o cliente com transtorno mental se apre-
senta pode revelar condições muito diferentes do padrão dito normal. Esse olhar
abrange o estado geral do cliente, sua postura, seu cuidado com a higiene corporal,
o estado de suas roupas e a maneira como se veste, o uso de adornos e maquia-
gem, idade que aparenta ter, as expressões faciais, movimentos e gestos. Estabele-
cer comparação das características do cliente com outras pessoas da mesma faixa
etária, condições socioeconômicas e culturais, pode facilitar a condução do caso,
na medida em que possibilita distinguir a sua singularidade. Outra alternativa para
levantar dados significativos é por meio de contato com seus familiares e amigos.
• Atividade psicomotora e comportamento
Observar especialmente a maneira como as informações, acontecimentos
e atividades são processadas pelo cliente. É bem possível que a atividade psico-
motora esteja alterada.
• Contato com a equipe multiprofissional
É por meio da interação com o cliente que a equipe estabelece formas de
Resiliência é um termo usado em
física que significa a capacidade ajudá-lo a enfrentar a situação e a superar os seus problemas. A participação da
que possui um corpo para recu-
perar sua forma original após ser família nesse processo é fundamental, porém, nem sempre sua adesão ocorre
submetido a uma pressão. Foi in-
corporada em ciências humanas naturalmente, pois o comportamento de muitas pessoas com transtorno men-
referindo-se à capacidade que a tal é extremamente desgastante, o que, diga-se, compromete toda a dinâmica
pessoa tem de superar as adversi-
dades e sair fortalecido. familiar. Dizemos que tanto o cliente como a família necessitam ser cuidados e

116 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 116 20/07/09 14:58


tratados. Entretanto, muitos familiares, depois de conviverem com tantas crises,
acabam se tornando pessoas resilientes e bastante motivadas e interessadas no
tratamento.

Relação terapêutica: a ferramenta indispensável2

Relação terapêutica é aquela que se estabelece entre os membros-inte-


grantes da equipe terapêutica, os familiares e todo o grupo de pacientes.
Considerar que as relações inter-
Uma vez estabelecida, torna-se uma ferramenta de trabalho importantís- pessoais que assumimos no am-
biente de trabalho para promover
sima para que o profissional possa intervir junto ao paciente. Para que o profis- a assistência de enfermagem são
terapêuticas, portanto, distintas de
sional consiga estabelecer uma relação terapêutica, é muito importante o seu meros contatos sociais.

autoconhecimento, para que não confunda seus desejos, crenças, valores mo-
rais, necessidades, sentimentos e emoções com os do paciente, o que o levaria
a fazer interpretações erradas.

Certa vez, num registro de enfermagem, encontrou- se a seguinte anota-


ção: “Paciente tenso com o fato de sua mulher não ter comparecido à visita. Diz
que ela nunca o amou e que só se casou com ele para não ficar solteira. Fala que
quer morrer por isso. Aconselhei que tivesse mais fé em Deus, não pensasse mais
em morrer, e que assim que estivesse bom voltasse para sua terra e arrumasse
uma outra mulher.”

Uma relação, para ser terapêutica, necessita de um início de confiança, de A comunicação terapêutica con-
siste na habilidade profissional
aceitação e de comunicação clara. A comunicação verbal com o paciente por- em usar seu conhecimento sobre
comunicação para ajudar a pessoa
tador de transtorno mental nem sempre é muito fácil e algumas técnicas podem com tensão temporária, a conviver
com outras pessoas e a se ajustar
auxiliar para favorecer o autoconhecimento do paciente na mesma medida em ao que não pode ser mudado, su-
perando bloqueios à autorrealiza-
que você o compreende. ção para enfrentar seus problemas.
(TEIXEIRA,M.B. et al. Manual de en-
fermagem psiquiátrica, 2001).

2
Brasil. Ministério da Saúde. Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno: saúde mental.
Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003

UNIDADE II – Abordagem terapêutica em saúde mental 117

30916006 miolo.indd 117 20/07/09 14:58


• Escuta - É muito importante que você ouça o que o paciente tem a di-
zer, mostrando-se receptivo, olhando-o numa atitude aberta, de maneira
Você poderá encontrar mais dados que ele perceba a sua importância.
sobre Comunicação na Área III.
• Paráfrase - Consiste em repetir ao paciente o conteúdo do que disse,
com o objetivo de fazê-lo tomar consciência sobre o que foi dito.
• Clarificação - Pode-se pedir ao paciente que torne a mensagem mais
clara, para que se compreenda o que foi dito ou até para complementar
uma ideia exposta.
• Frases por repetição - Quando um paciente fica bloqueado, pode-se
repetir uma palavra ou uma frase no decorrer da conversa para motivá-
lo a falar mais.
• Silêncio - É uma pausa mais ou menos longa na conversação que deve
ser respeitada para que o paciente possa refletir.
• Propostas abertas - Trata-se de permitir que o paciente conduza e esco-
lha o assunto.

Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Profissionalização de auxiliares de enfermagem: ca-
dernos do aluno: saúde mental. Ministério da Saúde. PROFAE, 2. ed., 1.a reimpr.
Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003

RODRIGUES, A.B. et al. O Guia da Enfermagem: Fundamentos para Assistencia.


São Paulo: Iátria, 2008.

TEIXEIRA, M.B. et al. Manual de enfermagem psiquiátrica. São Paulo: Atheneu,


2001.

118 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 118 20/07/09 14:58


Reconhecendo alterações mentais unidade III
Objetivo
Reconhecer a importância da observação como ferramenta para as ações de
enfermagem na atenção a clientes com alterações mentais.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


III.1- Caracterizar alterações das 1- Observação: 1- Trabalho em grupo sobre alterações caracte-
funções psíquicas. • Aparência rísticas de transtornos mentais com base na
• Atividade psicomotora leitura e discussão do texto: O cuidado em
• Comportamento saúde mental: reconhecendo as alterações.
Utilizar dicionário de termos técnicos como
Funções psíquicas apoio.
• Alterações da consciência 2- Sistematização das alterações de funções
• Alterações da atenção mentais abordadas no texto, relacionando-as
• Alterações da orientação com situações vivenciadas no cuidado com
• Alterações da memória estes pacientes.
• Alterações da afetividade 3- Participação de dinâmica de grupo sobre ob-
• Alterações da vontade servação.
• Alterações do pensamento 4- Debate sobre a importância da observação
• Alterações de sensopercepção do comportamento do cliente, possibilitando
• Alterações da linguagem a identificação de alterações, prevenção de
complicações e até da reincidência de surtos.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade III


Integração Curricular:
curso de aux. de enfermagem: anatomia e fisiologia, psicologia, enfermagem clínica
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Desenvolver ações de enfermagem a clientes com alterações de comportamento.
Participar de atividades terapêuticas observando e registrando o estado do cliente.

UNIDADE III – Reconhecendo alterações mentais 119

30916006 miolo.indd 119 20/07/09 14:58


Texto 15 O cuidado em saúde mental: reconhecendo as alterações

Como já vimos, os dados epidemiológicos mostram alta prevalência de


transtornos mentais e comportamentais na população em geral, assim como
Você se recorda dos dados epide- os transtornos associados ao uso de álcool e demais substâncias psicoativas,
miológicos sobre os transtornos
men­tais que vimos no texto 12? exercendo considerável impacto sobre as pessoas, famílias e comunidades,
com implicações psíquicas, sociais, econômicas, culturais e políticas.

Várias funções psíquicas podem estar alteradas em uma pessoa acometi-


da por transtorno mental e os profissionais responsáveis pelos seus cuidados e
Não existem funções psíquicas iso-
ladas e alterações psicopatológicas
tratamento necessitam estar atentos às suas manifestações. Embora as principais
compartimentalizadas desta ou da- funções psíquicas do ser humano sejam aqui apresentadas de forma isolada, na
quela função. É sempre a pessoa na
sua totalidade que adoece. prática isso não ocorre - é impossível separar a atividade mental em áreas distintas.
(Dalgalarrondo, P. 2000, p. 60).

Alterações da consciência

Dentre as funções psíquicas destaca-se a consciência. A definição neu-


ropsicológica trata a palavra consciência no sentido de estado vígil, ao fato de
estar desperto, em vigília, acordado, lúcido. A definição psicológica leva em
consideração a capacidade de a pessoa entrar em contato com a realidade,
perceber e conhecer os seus objetos. A consciência pode sofrer alterações pa-
tológicas, ou, mais especificamente, rebaixamento do nível de consciência, o
qual pode apresentar diversos graus: obnubilação, caracterizada pela lentidão
na compreensão e dificuldade de concentração; estupor, estado de sonolên-
cia que pode ser apenas despertado por forte estímulo (geralmente doloroso),
acompanhado de inibição da psicomotricidade; coma, estado no qual não há
nenhuma atividade voluntária consciente. O rebaixamento do nível de consci-
ência ocorre também nos quadros de delirium e estado onírico.

Nos estados crepusculares, outra forma de alteração de consciência,


o paciente pode aparentar pleno domínio de sua lucidez, mas há um estrei-

120 Atenção À saúde mental no sus

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tamento transitório da mesma. É como se ele estivesse voltado “para dentro, Delirium é o termo atual mais
utilizado para designar a maior
agindo no automático.” Ocorre em quadros histéricos agudos e em pessoas parte das síndromes confusionais
agudas. Há rebaixamento leve a
com epilepsia. moderado do nível de consciên-
cia, acompanhado dos seguintes
sintomas: desorientação temporo-
espacial, com dificuldade em se
concentrar, ansiedade, agitação ou
Alterações da atenção lentificação psicomotora, ilusões
e/ou alucinações, quase sempre
visuais. Estado onírico: alteração
A atenção é uma dimensão da consciência definida como a capacidade da consciência, com turvação da
consciência e confusão mental,
de se concentrar em uma atividade ou ação. Pode ser voluntária ou ativa, rela- condizente a um sonho muito ví-
vido (com predomínio das alucina-
cionada ao desejo de se concentrar em algo e, involuntária ou passiva, quando ções visuais), presente, por exem-
plo, em psicoses tóxicas e síndro-
ocorre independentemente do desejo da pessoa, voltando-se para determinada mes de abstinência das drogas.
situação, ente ou objeto. Exemplos de alterações: desatenção – a pessoa mani- (Dalgalarrondo, P., 2000, p. 68).

festa incapacidade de direcionar o foco para determinado estímulo; distração


– revela a incapacidade de manter o foco da atenção em determinado estímulo.

Alterações da orientação

A orientação expressa a consciência que a pessoa tem de si e também


a capacidade de se situar no tempo e no espaço (lugar). Constam do rol das
alterações a desorientação cronopsíquica – a pessoa perde a referência de data
(dia, mês e ano) e a dupla orientação – a pessoa vivencia dois mundos ao mesmo
tempo, o real e o psicótico.

Alterações da memória

A memória é a capacidade de reter experiências passadas e evocá-las no


momento presente. A capacidade de memorizar está intimamente ligada ao ní-
vel de consciência, atenção e interesse afetivo. Dentre as alterações de memória
destacam-se a amnésia - incapacidade parcial ou total de recordar fatos e expe-
riências passadas; e a paramnésia – ocorrem distorções dos dados de memória
em que o fato evocado não tem relação com o objeto original da percepção.

UNIDADE III – Reconhecendo alterações mentais 121

30916006 miolo.indd 121 20/07/09 14:58


Alterações da afetividade
Afetividade diz respeito à capacidade de experimentar sentimentos e
emoções. Uma pessoa pode apresentar apatia – diminuição da excitabilidade
emotiva e afetiva; embotamento afetivo – perda de todo tipo de vivência afetiva,
labilidade afetiva - mudanças súbitas e imotivadas do estado afetivo; e ambiva-
lência afetiva – sentimentos opostos ao mesmo objeto ou estímulo.

Alterações do pensamento
O processo do pensar envolve o curso do pensamento, ou seja, a ma-
neira como o pensamento flui; a forma, que representa a estrutura básica do
pensamento; e conteúdo identificado como o assunto em si. São exemplos de
alterações do curso de pensamento: a aceleração, a lentificação e o bloqueio
(parada súbita e inesperada de seus pensamentos, quando vinham fluindo nor-
malmente); da forma: a fuga de ideias (uma ideia se segue a outra de forma
extremamente rápida); a desagregação do pensamento (perda da coerência do
pensamento, ideias fragmentadas); e do conteúdo, relacionado a temas sobre
perseguição, religiosos, etc.

Alterações de sensopercepção
Sensopercepção é a capacidade de perceber e interpretar as sensações e
percepções advindas dos sentidos. Os estímulos podem ser: auditivos, visuais,
olfativos, táteis e gustativos. São exemplos de alterações: ilusão – percepção de-
formada de um objeto existente; alucinação – sensações e percepções em que o
objeto não existe.

Alterações da linguagem
A linguagem é o principal instrumento de comunicação do ser humano.
Exemplos de alterações: disartria – problemas em articular as palavras; ecolalia

122 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 122 20/07/09 14:58


- repetir as últimas palavras proferidas por alguém; afasia - não conseguir falar;
logorreia – fala acelerada e compulsiva; e mutismo – manter-se mudo.

Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Profissionalização de auxiliares de enfermagem: ca-
dernos do aluno: saúde mental. Ministério da Saúde. PROFAE, 2.ed., Brasília: Minis-
tério da Saúde, Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto


Alegre : Artmed, 2000.

TEIXEIRA, M.B. et al. Manual de enfermagem psiquiátrica. São Paulo: Atheneu,


2001.

UNIDADE III – Reconhecendo alterações mentais 123

30916006 miolo.indd 123 20/07/09 14:58


30916006 miolo.indd 124 20/07/09 14:58
Transtornos mentais: unidade IV
identificação e ações de enfermagem

Objetivo
Caracterizar os principais transtornos mentais relacionando com as ações de
enfermagem.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


IV.1- Caracterizar os transtor- 1- Transtornos mentais 1- Dinâmica de grupo para a sensibilização dos alunos
nos mentais mais comuns. 1.1- Transtornos do humor em relação aos clientes com transtornos mentais
1.2- Transtornos de ansiedade 2- Exposição de filmes sobre transtornos mentais e
1.3- Transtornos de personalidade debate.
1.4- Transtornos alimentares 3- Trabalho em grupo sobre alterações características
1.5- Transtornos mentais e de de transtornos mentais com base na leitura e discus-
comportamento decorrentes do uso são do texto: Ações de enfermagem em saúde mental.
de álcool e outras drogas. Utilizar dicionário de termos técnicos como apoio.
• A organização da rede de atenção 4- Sistematização das características dos transtornos
• Estratégias para a redução de mentais abordadas no texto, relacionando-as com si-
danos e riscos associados ao tuações vivenciadas na assistência a estes pacientes.
consumo prejudicial
1- Trabalho em grupo para a elaboração de plano de
IV.2- Reconhecer a assistência 2- Assistência de enfermagem ao cuidados de enfermagem para clientes com alte-
de enfermagem indicada para cliente com principais alterações de rações de comportamento mais comuns em trans-
clientes com alterações de comportamento tornos mentais.
comportamento mais comuns • cliente ansioso 2- Apresentação dos trabalhos e sistematização sobre
em transtornos mentais. • cliente deprimido a assistência de enfermagem indicada conforme a
• cliente agitado alteração de comportamento apresentada. Lembrar
• cliente que se acha perseguido de discussões da unidade anterior sobre ambiente
• cliente com comportamento e relação terapêutica. Destaque para cuidados de
antissocial enfermagem sobre a segurança, o conforto e a ma-
nutenção das condições clínicas dos clientes.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Integração Curricular:
curso de auxiliar de enfermagem: anatomia e fisiologia, enfermagem: clínica, materno-infantil.
curso de auxiliar de enfermagem: introdução à enfermagem: administração de medicamentos
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Desenvolver ações de enfermagem a clientes com transtornos mentais.
Participar de atividades terapêuticas observando e registrando o estado do cliente.
Utilizar e operar equipamentos de trabalho, aplicar princípios ergonômicos e técnicas adequadas à prevenção de acidentes e descarte de
resíduos, dentro dos princípios de segurança.

UNIDADE IV – Transtornos mentais: identificação e ações de enfermagem 125

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Texto 16 Ações de enfermagem em saúde mental

A lógica que separa o campo da saúde1

Sempre foi um desafio para as práticas de saúde aliar o


âmbito clínico de intervenção com o da saúde coletiva. O pri-
meiro tem como seu foco as manifestações individuais das alte-
rações da saúde, enquanto que o segundo efetua um outro tipo
de corte, tomando a incidência e a prevalência das alterações
em plano coletivo.

Menos do que contribuir para o avanço de dispositivos e instrumentos de


diagnóstico, tratamento e reabilitação, promoção e prevenção, esta divisão entre
a clínica de um lado, e a saúde coletiva, de outro, tem resultado em embates
de saber/poder que (re)afirmam suas verdades em campos separados e, grande
Binário: que tem dois elementos parte das vezes, oponentes. Quando seguimos esta lógica, a das binarizações,
ou que comporta dois aspectos
que se opõem. todos perdemos.

Perdemos as contribuições da experiência clínica que está voltada para as


características singulares que se expressam em cada corpo, em cada sujeito, em
cada história de vida. Perdemos as contribuições das análises propiciadas pelo
recorte da saúde coletiva que capta as expressões de uma comunidade, de uma
localidade, de um tipo de afecção, de uma categoria social ou de gênero, de his-
tórias que se cruzam configurando a história em certo momento. O que estamos
querendo aqui destacar é: esta lógica deve ser combatida em prol de outra ma-
neira de pensar e fazer que experimente as diferentes contribuições, fazendo-as
interpelações umas das outras. A esta outra lógica chamamos transversalização.

Parece que hoje aí reside o grande desafio: instaurar em todos os campos da


saúde pública uma atitude que, ao mesmo tempo, garanta as especificidades acumu-

1
Ministério da Saúde. A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras dro-
gas. Brasília: Ministério da Saúde, 2003.

126 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 126 20/07/09 14:58


ladas ao longo do tempo em cada núcleo de saber e, para além disso, consiga fazer
atravessar tais saberes uns sobre os outros, de modo a construir novos olhares, novos
dispositivos de intervenção. Quem ganha com isto? Os usuários do sistema de saúde
e todos aqueles comprometidos com a saúde enquanto defesa da vida.

As transformações conceituais e estruturais da atenção à saúde mental,


que a partir do histórico e tradicional modelo hospitalocêntrico/manicomial,
passa a voltar-se para a atenção descentralizada e de base comunitária (PSF),
espelha de certa maneira a lógica da transversalização. A iniciativa do Ministé-
rio da Saúde visando a incorporação de ações de saúde mental no conjunto de
ações que compõem o cuidado integral à saúde na atenção básica, reforça a
importância do domínio clínico em consonância com a saúde coletiva.

Principais tipos de transtornos mentais

TRANSTORNOS DO HUMOR
Os transtornos do humor são também denominados transtornos afetivos.
Nessa doença ocorrem dificuldades na área do afeto, que é nossa capacidade
de vivenciarmos internamente nossas emoções e nossos sentimentos. Nos trans- A depressão unipolar é a principal
tornos afetivos destacam-se a depressão unipolar e o transtorno afetivo bipolar. causa de desabilitação na Europa
e estima-se que se torne a segun-
da colocada no ranking da carga
Uma pessoa com depressão apresenta manifestações clínicas resultantes de doença em 2020, responsável
por 5,7% dos anos vividos com
de alterações: alguma desabilitação, logo atrás da
doença isquêmica do coração. Isto
• afetivas: tristeza, melancolia, choro fácil, apatia, angústia, desespero; significa que a depressão unipolar
será, sozinha, a responsável por um
• neurovegetativas: fadiga, cansaço fácil, desânimo, diminuição da libido, terço de todas as causas de desabi-
litação por condições neuropsiqui-
perda de interesse geral; átricas no mundo (WHO, 2004b).
BRASIL. Agência Nacional de Saú-
• ideativas: pessimismo em relação a tudo, sentimento de culpa, ideias de Suplementar, 2008.
autodestrutivas, inutilidade e fracasso;
• cognitivas: dificuldade em tomar decisões, concentração, memória e
atenção reduzidas;
• autovaloração: baixa autoestima, vergonha e incapacidade;
• vontade e psicomotricidade: tendência a ficar na cama o dia todo, len-
tificação psicomotora, mutismo, negativismo.

UNIDADE IV – Transtornos mentais: identificação e ações de enfermagem 127

30916006 miolo.indd 127 20/07/09 14:58


A depressão, segundo Código Internacional de Doenças (CID-10), é clas-
sificada em leve, moderada ou grave.

Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é caracterizado pelo estado de humor que


oscila entre dois polos, ou seja, de forma recorrente, que torna a aparecer depois
de haver desaparecido, variando entre a mania e a depressão. Na mania, a pessoa
apresenta agitação psicomotora (hiperatividade), fala muito (logorreia) e troca o
tempo todo de assunto (fuga de ideias). Tem ideias de grandeza, autoestima exage-
rada, euforia, gasto excessivo, falta de senso crítico; inicia muitas atividades sem
concluí-las; desinibição exagerada, comportamento inadequado, hiperatividade,
labilidade de humor. Em manias graves não é incomum o aparecimento de delí-
Pesquisa realizada pela Associação rios e/ou alucinações. É difícil convencer a pessoa de que está doente, muito pelo
Brasileira de Familiares, Amigos e
Portadores de Transtornos Afetivos contrário, acha que não tem problemas e não procura tratamento.
(ABRATA), IBOPE e Parceiros, com
793 pessoas na cidade de São Paulo,
homens e mulheres, maiores de 18 TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
anos, de diferentes classes sociais,
mostrou que a incidência de depres-
são nessa localidade chega a 22%. A ansiedade é uma reação emocional à percepção de um perigo real ou
Fonte: Associação Brasileira de
Fa­miliares, Amigos e Portadores imaginário, desencadeando alterações fisiológicas, psicológicas e comporta-
de Transtornos Afetivos (ABRATA).
Disponível em: <http://www.abra- mentais. Qualquer pessoa está predisposta a viver momentos de ansiedade,
ta.org.br>. Acesso em: 10 de mar-
ço de 2009. por exemplo, após um susto ou ao receber uma notícia perturbadora, o que é
considerado normal.

Em transtornos da ansiedade generalizada (TAG), a pessoa fica angustiada,


Pesquise sobre os principais medi-
camentos utilizados no tratamento
irritada, tensa, com dificuldade em se concentrar, e, geralmente, os sintomas fí-
da depressão unipolar e transtorno sicos também aparecem. Dependendo do grau de ansiedade que a pessoa vive,
bipolar e os cuidados de enferma-
gem na sua administração. isso pode ocasionar grande sofrimento psíquico, além de prejudicar sua vida
social e profissional.

Em transtornos fóbico-ansiosos, os sintomas de ansiedade aparecem


Ansiedade intensa estimula o siste-
ma nervoso autônomo, provocan-
diante de algum objeto bem-definido e/ou situações, que, em geral, não pro-
do taquicardia, palpitações, tontu- vocam medo às pessoas. São as fobias específicas - medo de altura, animais,
ra, taquipneia, tremores, alterações
na pressão arterial e temperatura, avião; agorafobia, aversão excessiva a lugares abertos, multidões e temor em
relaxamento dos músculos lisos
da bexiga e intestinos, inquietação ficar sozinho, ainda que seja em sua própria casa; fobia social, medo persis-
motora, pele úmida, calafrios, pu-
pilas dilatadas, boca seca, cefaleia. tente de se expor em qualquer situação de grupo.

128 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 128 20/07/09 14:58


Em transtornos de pânico a pessoa tem a sensação de morte. As crises
de pânico são manifestações de intensa ansiedade, de pavor, relacionadas, em
geral, ao perigo imaginário de morte iminente, acompanhadas de sintomas so-
máticos resultantes de estimulação do sistema nervoso autônomo. A pessoa que
vive essa situação não tem o alcance de que a ameaça não existe, ela vivencia
como se “real” fosse. Tem início abrupto, com a sensação de que está em grande
perigo, sendo assaltada pelo ímpeto desesperado de fugir daquela situação. Há
um desgaste muito grande de energia, com sinais de palpitação, parestesias, sen-
sação de falta de ar, dor no peito, medo de perder o controle ou de enlouquecer.
Em geral, as crises são rápidas e passam em alguns minutos, porém, tendem a
se repetir outras vezes. Isso deixa a pessoa constantemente atemorizada.
O transtorno é conhecido como a síndrome do pânico.

O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) é um transtorno de ansiedade


que se caracteriza por obsessões e reações compulsivas. A pessoa com TOC
apresenta pensamentos ou ações repetitivas sobre as quais não tem controle e Pesquise sobre os principais medi-
camentos utilizados nos transtor-
suas repetições se assemelham a verdadeiros rituais. nos de ansiedade e os cuidados de
enfermagem na sua administração.

TRANSTORNOS DO PENSAMENTO

Esquizofrenia

Estou de acordo que um esquizofrênico é um esquizofrênico,


mas uma coisa é importante: ele é um homem e
tem necessidade de afeto, de dinheiro e de trabalho;
é um homem total e nós devemos responder
não à sua esquizofrenia mas ao ser social e político. Franco Basaglia.
Bock, 2002.

A esquizofrenia é um dos mais graves transtornos mentais e o que mais se


distancia de nosso ideal sobre normalidade, por isso é a mais identificada pelas
pessoas como loucura. A alteração da percepção produz alucinações – a pessoa
vê, ouve e sente coisas que não são reais; a afetividade fica comprometida, em-
botada ou inapropriada; o pensamento se encontra invariavelmente esvaziado

UNIDADE IV – Transtornos mentais: identificação e ações de enfermagem 129

30916006 miolo.indd 129 20/07/09 14:58


e sem sentido – discurso desorganizado, comunicação bastante prejudicada,
dificuldade no convívio social e tendência ao isolamento.
Muitas vezes tal comportamento é alcunhado de estranho. Não é rara a
aparência do portador de esquizofrenia ser precária e bizarra, pois, imerso em
Pesquise sobre os principais medi-
percepções distorcidas do mundo e de si mesmo, acaba deixando sua autoi-
camentos utilizados no tratamento magem de lado. Veste-se em conformidade com pensamentos delirantes que
de transtornos do pensamento e os
cuidados de enfermagem na sua ad- apresenta. A atividade psicomotora também pode estar alterada - é comum o
ministração.
cliente efetuar movimentos constantes, ficar se balançando, fazer movimentos
estranhos, ou, ainda, permanecer totalmente imóvel.

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
Transtorno de personalidade antissocial
O CID-10 considera a personalidade antissocial sinônimo de transtorno amo-
ral de personalidade, transtorno associal da personalidade, personalidade psicopática
Pesquise sobre os principais medi- ou sociopatia. Uma pessoa com transtorno de personalidade antissocial é descrita
camentos utilizados nos transtornos como tendo baixa tolerância às frustrações e um baixo limiar para descarga de agres-
de personalidade e os cuidados de
enfermagem na sua administração. são, propensão marcante para culpar os outros, indiferença e insensibilidade pelos
sentimentos alheios, irresponsabilidade e desrespeito às normas, às regras e às obriga-
ções sociais, incapacidade de experimentar culpa e de aprender com a experiência,
particularmente com a punição, sendo frequentes sadismo e crueldade.

TRANSTORNOS ALIMENTARES
Os transtornos alimentares são mais comuns em mulheres, porém, têm
aumentado significativamente também entre os homens. Em geral traz sérios
comprometimentos à saúde, destacando-se a anorexia e a bulimia nervosa.

Anorexia nervosa
Uma alteração característica do portador de anorexia é a distorção da ima-
gem corporal. Em consequência, a pessoa se enxerga “gorda”, apesar de muito ma-
gra. Mesmo com o peso muito abaixo do normal, o receio de engordar atormenta a
pessoa o tempo todo. É comum nessas pessoas a existência de baixa estima, neces-
sidade compulsiva de fazer exercícios e ginástica para perder peso, sintomas de de-

130 Atenção À saúde mental no sus

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pressão e perturbações do sono. Pessoas com anorexia nervosa podem apresentar
desnutrição grave.

Bulimia nervosa Pesquise sobre os principais medi-


camentos utilizados nos transtor-
nos alimentares e os cuidados de
Na bulimia nervosa há um comportamento variável, ora a pessoa mantém enfermagem na sua administração.

jejum prolongado e quando não suporta a privação, ingere grandes quantidades


de alimento de uma só vez (episódios bulímicos) às escondidas, o que, fatalmen-
te, desperta sentimentos de culpa e vergonha. Sente que não tem controle sobre
No Brasil, estudo realizado pelo
a situação. Também faz uso de laxantes, diuréticos e enemas de forma indiscri- Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicoativas (CEBRID)
minada, indução de vômitos e prática exagerada de exercícios. Há uma extrema sobre o uso indevido de drogas
por estudantes (n = 2.730) dos an-
preocupação com a forma e o peso. Pessoas com comportamento bulímico ge- tigos 1º e 2º graus em dez capitais
brasileiras (Galduróz et. al., 1997)
ralmente são tidas como perfeccionistas e dependentes da aprovação dos outros revelou porcentual altíssimo de ado-
lescentes que já haviam feito uso
para a manutenção da autoestima. de álcool na vida: 74,1%. Quanto
ao uso frequente, e para a mesma
amostra, chegamos a 14,7%. Ficou
 RANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES
T constatado que 19,5% dos estudan-
tes faltaram à escola, após beber, e
DO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS que 11,5% brigaram, sob o efeito do
álcool. Como consequências, temos
O consumo abusivo de drogas é considerado um problema de saúde pú- altos índices de abandono escolar,
bem como o rompimento de outros
blica, pois afeta não só o dependente, mas também o coletivo. Cerca de 10% laços sociais que reforçam a percep-
ção pública deste uso como próximo
das populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente ao crime, faltando a compreensão
do fenômeno como reflexo de ques-
substâncias psicoativas, independentemente da idade, sexo, nível de instrução e tões multifatoriais. (BRASIL, 2003).
poder aquisitivo (OMS, 2001 apud BRASIL, 2003). Entende-se por droga psicoa-
tiva qualquer substância química que provoca modificação em nosso funciona-
mento mental, cujos efeitos alteram nosso comportamento. Estudos mostram o
uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas, incluindo o álcool. Se nas práticas de saúde nosso com-
promisso ético é o da defesa da vida,
temos que nos colocar na condição
de acolhimento, onde cada vida se
expressará de uma maneira singular,
A organização da rede de atenção2 mas também onde cada vida é ex-
pressão da história de muitas vidas,
A necessidade de definição de estratégias específicas para a construção de de um coletivo. Não podemos nos
afastar deste intrincado ponto onde
uma rede de assistência aos usuários de álcool e outras drogas, com ênfase na as vidas, em seu processo de ex-
pansão, muitas vezes sucumbem ao
aprisionamento, perdem-se de seu
movimento de abertura e precisam,
para desviar do rumo muitas vezes
2
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Refor- visto como inexorável no uso de dro-
ma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Refor- gas, de novos agenciamentos e outras
ma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005. construções. (BRASIL, 2003).

UNIDADE IV – Transtornos mentais: identificação e ações de enfermagem 131

30916006 miolo.indd 131 20/07/09 14:58


reabilitação e reinserção social, levou o Ministério da Saúde a instituir, no âmbi-
to do SUS, o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários
de Álcool e outras Drogas, no ano de 2002.

Diante da diversidade das características populacionais existentes no País


e da variação da incidência de transtornos causados pelo uso abusivo e/ou de-
pendência de álcool e outras drogas, o programa organiza as ações de promo-
ção, prevenção, proteção à saúde e educação das pessoas que fazem uso pre-
judicial de álcool e outras drogas e estabelece uma rede estratégica de serviços
extra-hospitalares para esta clientela, articulada à rede de atenção psicossocial e
fundada na abordagem de redução de danos.

Os Centros de Atenção Psicossocial para Atendimento de Pacientes com


dependência e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas (CAPSad) são
os dispositivos estratégicos desta rede, e passam a ser estabelecidos
sobretudo em grandes regiões metropolitanas e em regiões ou muni­
cípios de fronteira, com indicadores epidemiológicos relevantes.

Estratégias para a redução de danos e riscos associados


ao consumo prejudicial3

O conceito de redução de danos vem sendo consolidado como um dos ei-


xos norteadores da política do Ministério da Saúde para o álcool e outras drogas.

Originalmente apresentada de forma favorável na prevenção de doen-


ças transmissíveis, esta estratégia, assumida pelo Ministério da Saúde desde
1994, é internacionalmente reconhecida como alternativa pragmática e eficaz
no campo da prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids. No

3
idem

132 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 132 20/07/09 14:58


campo do álcool e outras drogas, o paradigma da redução de danos se situa
como estratégia de saúde pública que visa a reduzir os danos causados pelo
abuso de drogas lícitas e ilícitas, resgatando o usuário em seu papel autorre-
gulador, sem a exigência imediata e automática da abstinência, e incentivan-
do-o à mobilização social.

A estratégia de redução de danos e riscos associados ao consumo pre-


judicial de drogas vem permitindo que as práticas de saúde acolham, sem
julgamento, as demandas de cada situação, de cada usuário, ofertando o que
é possível e o que é necessário, sempre estimulando sua participação e seu
engajamento. A estratégia de redução de danos sociais reconhece cada usu-
ário em suas singularidades, traçando com ele estratégias que estão voltadas
para a defesa de sua vida.

Deste marco ético em defesa da vida, decorre que a abordagem de


redução de danos, ao mesmo tempo em que aponta para as diretrizes do tra-
tamento e da construção da rede de atenção para as pessoas que fazem uso
prejudicial de álcool e outras drogas, implica um conjunto de intervenções
de saúde pública que visam prevenir as conseqüências negativas do uso de
álcool e outras drogas.

Assim, são estratégias de redução de danos a ampliação do acesso


aos serviços de saúde, especialmente dos usuários que não têm contato
com o sistema de saúde, por meio de trabalho de campo; a distribuição de Pesquise sobre o álcool e outras
drogas psicoativas de maior impac-
insumos (seringas, agulhas, cachimbos) para prevenir a infecção dos vírus to epidemiológico, considerando
suas repercussões na área física,
HIV e hepatites B e C entre usuários de drogas; a elaboração e distribuição mental e social. Estabeleça correla-
ção com as propostas terapêuticas
de materiais educativos para usuários de álcool e outras drogas, informando e os cuidados de enfermagem.
sobre as formas mais seguras do uso de álcool e outras drogas e sobre as
consequências negativas do uso de substâncias psicoativas; os programas de
prevenção de acidentes e violência associados ao consumo, e a ampliação
do número de unidades de tratamento para o uso nocivo de álcool e outras
drogas, entre outras.

UNIDADE IV – Transtornos mentais: identificação e ações de enfermagem 133

30916006 miolo.indd 133 20/07/09 14:58


Prestando assistência de enfermagem ao cliente com principais
alterações de comportamento4
O que melhora no atendimento
é o contato afetivo de uma pessoa com outra.
O que cura é a alegria,
o que cura é a falta de preconceito.
Nise da Silveira

O comportamento que os clientes com transtornos mentais apresentam


é resultante de diversas alterações que ocorrem em suas funções psíquicas. As
mesmas alterações podem aparecer em vários transtornos e, quando isso acon-
tece, tais comportamentos são vistos em diferentes transtornos. Nesses casos, o
que varia é a predominância que alguns exercem sobre os outros.

Saber identificar no cliente os principais comportamentos e conseguir li-


dar com cada um deles individualmente para atendê-lo em suas necessidades,
destaca a importância do técnico de enfermagem na equipe de saúde que provê
o tratamento e sua recuperação.

O planejamento da assistência e a prescrição de enfermagem para aten-


der às necessidades do cliente são realizados pelo enfermeiro. O cuidado de
enfermagem, organizado pelas alterações de comportamento mais comuns que
o cliente com transtorno mental apresenta, cumpre apenas a função didática,
visto que é o cliente na sua totalidade que adoece e é nessa dimensão que os
cuidados devem ser prestados.
O cuidado é uma característica É indispensável que a assistência aos portadores de transtornos mentais,
essencial do ser humano e pressu-
põe uma postura de convivência, em todos os níveis de atenção à saúde, seja realizada dentro dos princípios
interação e comunhão. As rela-
ções de cuidado devem ocorrer na éticos e humanos, promovendo maior autonomia, aumento da capacidade de
perspectiva sujeito-sujeito e não na
perspectiva sujeito-objeto. Assim,
gerenciamento da própria vida, restabelecimento dos vínculos afetivos, sociais
as ações de cuidado devem ser vis-
tas como um “processo permanen-
e da qualidade de vida.
te de busca de equilíbrio dinâmico
de todos os fatores que compõem a
vida humana”
(BOFF, 1999 apud Brasil, 2008). 4
Adaptado de BRASIL. Ministério da Saúde. Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno:
saúde mental. 2. ed., 1.reimpr. Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

134 Atenção À saúde mental no sus

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Cuidados de enfermagem ao cliente ansioso

Você se lembra das reações de um paciente com transtorno de ansie-


dade?

Podem apresentar vários níveis, assim como vários aspectos para a sua
ansiedade. Muitas vezes queixa-se de medos injustificáveis, “incomoda” e
solicita a equipe em demasia, pois sentir-se só diante de tantos medos pode
ser ainda mais assustador, não acha?

Na manutenção de um ambiente terapêutico, ouvir as queixas e re-


ceios é essencial, em todos os casos. Mostrar-se tranquilo, utilizando frases
curtas, com um tom de voz firme, na conversação também pode ajudar. Esta
pessoa pode apresentar um padrão respiratório ineficaz. Portanto, você deve
observar a possibilidade de ele estar com roupas muito apertadas, e auxiliá-
lo e estimulá-lo na execução de exercícios respiratórios, além de observar a
coloração de mucosas e leito ungueal.

É muito importante observar também o padrão de alimentação (pode


apresentar hiperfagia) e uma nutricionista pode lhe fornecer orientações
quanto à dieta mais adequada para evitar aumento ponderal exagerado. As
excretas devem ser observadas e anotadas.

É importante orientar sempre a pessoa em relação ao tempo, espaço


e pessoas caso esteja desorientado, porém é inútil tentar lhe mostrar que o
medo que sente é irreal. Dizer-lhe que não deve se preocupar pode fazer
com que se sinta incompreendido e sozinho, aumentando assim a tensão.

Pode ser bastante salutar a sua participação em atividades simples, po-


rém não competitivas, e você deve estimulá-lo. Inicialmente, é esperado que
ele apresente medo de realizá-las. É inútil tentar provocar situações para que
ele “perca o medo”, correndo-se o risco de fazê-lo entrar em pânico. Comece
participando com ele, até que se sinta seguro.

UNIDADE IV – Transtornos mentais: identificação e ações de enfermagem 135

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Cuidados de enfermagem ao cliente deprimido

Este é um cliente que se apresenta triste, culpado e isolado. É descrito


muitas vezes como “baixo astral”.

É comum encontrarmos membros da equipe que não gostam de trabalhar


com esse tipo de paciente, por razões óbvias. Pode ser muito difícil ver nos
outros um quadro agravado do que sentimos, e depressão não é um problema
incomum. Para lidar com este tipo de transtorno, é necessário que o profissional
se conscientize de que “sentir pena” não só não ajuda como pode atrapalhar.

O ambiente terapêutico requer respeito, e “sentir pena” pode não ser a


melhor forma de demonstrá-lo. O maior risco em lidar com esse tipo de paciente
é o de suicídio (esse risco aumenta quando começa a melhorar de seu transtor-
no). Este deve ser mantido sob vigilância quando em uso de objetos pontiagudos
e cortantes e cordas – isto é, tudo o que possa pôr em risco a sua integridade
física – até que passe o perigo. Esta vigilância deve ser discreta para não lembrar
a todo instante ao paciente o grau de periculosidade a que se expõe.

Você pode perguntar ao paciente se deseja morrer, pois a pergunta não


irá induzi-lo. No entanto, fornecerá um dado para seus cuidados. Porém, é con-
traindicado tecer comentários quanto a essa atitude. Sua presença constante, ou-
vindo-o e participando das atividades, é uma boa maneira de manter a vigilância
e integrá-lo ao grupo. Caso o paciente pergunte se está sendo vigiado, você
pode lembrá-lo de que já fez referência à vontade ou tentativa de morrer e que a
equipe deseja protegê-lo. É um bom momento para fazê-lo sentir-se valorizado.

Um paciente deprimido costuma se descuidar de seus cuidados bási-


cos por não valorizá-los ou por achar que deve ser punido. Por isso, é muito
importante a enfermagem estar atenta às questões como a alimentação e
hidratação, eliminações intestinais, peso, vestuário, atividades e padrões de
sono e repouso.

136 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 136 20/07/09 14:58


Cuidados de enfermagem ao cliente agitado

A equipe muitas vezes descreve esse paciente como “irritante”, e numa


equipe despreparada pode muitas vezes ser alvo de zombarias e deboches. É ex-
tremamente ativo e pode falar, gritar, cantar, dançar, etc.

A melhor forma de interagir com ele é chamá-lo para as atividades e con-


versar sobre assuntos gerais. Você deve estabelecer limites para ele, porém so-
mente após ter criado com ele uma relação de confiança e, mesmo assim, com
o cuidado de não fazê-lo de forma autoritária para não provocar reações desa-
gradáveis que possam gerar a necessidade de contê-lo.

Este é um paciente que dorme pouco e em geral acorda cedo. Pode se


vestir de maneira extravagante, com cores berrantes e vários enfeites, utilizando-
os de forma desarmônica. Também se alimenta mal, pois sua hiperatividade não
lhe permite sentar para alimentar-se. É muito importante que lhe sejam ofereci-
dos líquidos e alimentos que possa ingerir enquanto mantém a atividade.

A aferição de seus sinais vitais, perda ponderal e grau de hidratação são


imprescindíveis.

Cuidados de enfermagem com cliente que se acha perseguido

É claro que sua desconfiança pode apresentar um grau variado, desde dú-
vidas até delírios paranoicos, porém é importante estar a par que este paciente
pode estar pronto a responder de maneira ameaçadora, agitando-se e tornando-
se agressivo. Com frequência, interpreta mal qualquer comentário. É como se
estivesse se defendendo todo o tempo. Por estas razões tende a provocar o medo
em outras pessoas, causando o seu afastamento.

Ganhar a confiança deste paciente não é fácil. No entanto, mantê-la é


quase impossível. Qualquer atitude não planejada pode resultar em desconfian-
ça. É preciso ter cuidado com mensagens verbais e não-verbais, para evitar que

UNIDADE IV – Transtornos mentais: identificação e ações de enfermagem 137

30916006 miolo.indd 137 20/07/09 14:58


“ suas suspeitas se confirmem”. Recomenda-se evitar situações que lhe provo-
quem ansiedade.

A alimentação e a hidratação desse paciente podem estar prejudicadas,


pois ele pode achar que estão tentando envenená-lo. Por isso é aconselhável
permitir que o cliente escolha o que deseja comer e, se possível, que ele mesmo
prepare seus alimentos. Pelo mesmo motivo, deve-se verificar sua boca após a
administração de medicamentos, ou administrá-los na forma líquida.

Manter uma conduta firme e franca com o paciente, ouvindo seus receios,
pode ser uma boa maneira de ganhar sua confiança.

Cuidados de enfermagem ao cliente com comportamento antissocial

São vistos na equipe como “sedutores” e desafiadores. Não se consi-


deram doentes e, se buscam o serviço de Saúde Mental, geralmente o fazem
por alguma imposição.

Apresentam boa verbalização, são inteligentes e agradáveis, atributos


que muitas vezes usam para atrair simpatia e conseguir o que querem. É im-
portante que o profissional de saúde esteja alerta a estas manobras, para não
ser usado.

Nesta categoria, podem estar incluídos os dependentes de drogas ilí-


citas e os alcoolistas. Deve-se estar alerta aos sinais de intoxicação ou abs-
tinência. Conselhos ou promessas “arrancadas” destes pacientes não serão
capazes de resolver seus problemas enquanto não admitirem que tem um
problema para controlar o uso da substância. É bastante útil estimulá-los a
participar de atividades.

Em relação ao potencial de violência, não se deve demonstrar receio.


Porém não deve se expor desnecessariamente. É conveniente solicitar a aju-
da de mais pessoas do serviço e até mesmo conter o paciente em caso de

138 Atenção À saúde mental no sus

30916006 miolo.indd 138 20/07/09 14:58


necessidade. O que não deve ser esquecido é que, seja qual for a medida
adotada, ela deve vir acompanhada de respeito, evitando-se desafios do tipo:
“Vem me bater agora!” Também é indispensável que se explique ao paciente
que a medida adotada se deu porque ele passou do limite ou para protegê-lo.

As contenções podem ser medicamentosas (químicas) ou mecânicas


(físicas). As contenções mecânicas são indicadas para os estados de agita-
ção não controláveis com medicação ou em episódios agudos, como condu-
ta violenta que implique em risco de lesões físicas para si e para os outros.
Perante a necessidade de contenção mecânica, é importante que esta seja
feita por profissionais preparados, para evitar agravos ao paciente. Para tal, é
necessária a utilização de técnicas apropriadas e uma boa dose de compre-
ensão e carinho.

Bibliografia
BOCK, A.M.B., TEIXEIRA, M.L., FURTADO, O. Psicologias: uma introdução ao estu-
do de psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva , 2002.

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DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto
Alegre: Artmed, 2000.

TEIXEIRA, M.B. e cols. Manual de enfermagem psiquiátrica. São Paulo: Atheneu,


2001.

Anexo
Sugestão de filmes

Rain Man – autismo


As Horas – depressão
Uma Mente Brilhante – esquizofrenia
Mr Jones – transtorno bipolar
Melhor Impossível – transtorno obsessivo compulsivo
O Silêncio dos Inocentes - sociopatia
Bicho de Sete Cabeças – manicômio

140 Atenção À saúde mental no sus

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✎ Anotações

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✎ Anotações

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Ficha Técnica

Projeto Gráfico e Editoração Marli Santos de Jesus


Capa Ricardo Ferreira
Ilustrações Didiu Rio Branco
Revisão Benedito Amancio do Vale
Dante Pascoal Corradini

Formato 210 x 205 mm


Tipologia Optima
Papel Capa | Triplex 250 g/m2
Miolo | Offset 90 g/m2
Número de páginas 144
Tiragem 10.000

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Programa de Formação de Profissionais de Nível
Técnico para a Área da Saúde no Estado de São Paulo

Promovendo a Saúde
Curso Técnico de Nível Médio
em Enfermagem
Módulo de Habilitação

Guia Curricular – Área I


SECRETARIA
DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE
GESTÃO PÚBLICA
Guia Curricular – Área I
SECRETARIA Promovendo a Saúde
DE DESENVOLVIMENTO

SECRETARIA
DA SAÚDE

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