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INSTITUTO AVANÇADO DE ENSINO SUPERIOR DE

BARREIRAS – IAESB
FACULDADE SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS – FASB

CURSO DE DIREITO

FABÍOLA ÍRIS DOS SANTOS DA SILVA

A (IM)POSSIBILIDADE DA TRANSEXUAL FIGURAR COMO VÍTIMA


DE FEMINICÍDIO

BARREIRAS–BA
2018
FABÍOLA ÍRIS DOS SANTOS DA SILVA

A (IM)POSSIBILIDADE DA TRANSEXUAL FIGURAR COMO VÍTIMA


DE FEMINICÍDIO

Artigo Científico apresentado à Faculdade


São Francisco de Barreiras (FASB), como
exigência à obtenção do título de bacharel
em direito.
Orientador: Prof.ª Ms. Cristiane Gabriel
Pacheco

BARREIRAS – BA
2018
FABÍOLA ÍRIS DOS SANTOS DA SILVA

A (IM)POSSIBILIDADE DA TRANSEXUAL FIGURAR COMO VÍTIMA


DE FEMINICÍDIO

Artigo Científico apresentado à Faculdade


São Francisco de Barreiras (FASB), como
exigência à obtenção do título de bacharel
em direito.

Data de Aprovação: ______ / _________/ _______.

Banca Examinadora:

_________________________________________________________
Profª Ms. Cristiane Gabriel Pacheco - Orientadora
Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB)

_________________________________________________________
Profº Marcos Silva Marinho – Avaliador
Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB)

__________________________________________________________
Profª Mayara Ramos – Avaliadora
Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB)

BARREIRAS- BA
2018
Por Mainha, Dona Mª Divina, pela dedicação e o amor incondicional.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por me guiar em cada passo desta difícil jornada.


A minha Mãe, Maria Divina, minha heroína, que foi a pessoa que mais contribuiu para
eu chegar a esta etapa da minha vida. Ela é um exemplo, sua força e sua coragem
me deram ânimo para nunca desistir.
Aos meus amados irmãos Fabrícia e Franklly, que só acrescentaram a minha vida
acadêmica, com apoio e carinho.
Obrigada a minha namorada Thaylane, que sempre esteve presente nos momentos
mais complicados dessa fase, dando amor e transmitindo confiança para eu não
desanimar.
Aos meus avós, que sempre me incentivaram e deram muito amor e afeto.
Obrigada tias e primos, pela contribuição valiosa, nunca esquecerei o amor e o
auxílio nos momentos mais complicados.
Meus agradecimentos aos amigos que fiz, que sempre farão parte da minha vida.
A Faculdade, em relevância ao seu presidente Tadeu Bergamo e, o seu corpo
docente, direção e administração, que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um
horizonte profissional.
A minha orientadora Cristiane Pacheco, pelo auxílio e cuidado com o meu trabalho.
Sempre presente e preocupada em extrair o melhor de mim e também pelas suas
correções e incentivos.
“Não se nasce mulher, torna-se mulher.”
Simone de Beauvoir
A (IM)POSSIBILIDADE DA TRANSEXUAL FIGURAR COMO VÍTIMA
DE FEMINICÍDIO

Fabíola Íris Dos Santos Da Silva1


Cristiane Gabriel Pacheco2
RESUMO
A problemática em torno da possibilidade ou impossibilidade da transexual figurar
como sujeito passivo do crime de feminicídio surge diante do aumento do número de
mortes de transexuais, devido a sua condição e peculiaridades que a tornam “mulher”.
Com o advento da qualificadora, visando à proteção da mulher, enquanto gênero, que
sofre abusos unicamente pela sua condição, pergunta-se: A transexual também
poderá figurar como vítima da qualificadora de feminicídio? Através de conceito
histórico, classificação da transexualidade, com respaldo nas palavras de
doutrinadores e juristas, e ainda com dados que indicam os números do aumento
dessa violência, buscou-se encontrar a solução para tal indagação. Transexual trata-
se da pessoa que nasce com um sexo, porém não o aceita, tem identificação com o
sexo oposto e sofre em virtude dessa incongruência. Quanto ao feminicídio é uma
qualificadora do crime de homicídio, em que o sujeito passivo é exclusivamente a
mulher. A transexual que já tenha feito à retribuição hormonal-cirúrgica da genitália e
a retificação do prenome no registro civil, é considerada mulher legal e socialmente,
todavia, a quem concorde com a aplicação e quem não adere a essa possibilidade.
As diferentes teses argumentativas acerca da (im)possibilidade do enquadramento da
qualificadora, foram pesquisadas e foram expostos casos concretos de situações
equiparadas a do problema, que confirmaram as hipóteses almejadas, por fim foi
destacado que prevalece que a transexual pode figurar como sujeito passivo do crime
de feminicídio, por ser mais adequada à condição e circunstâncias que levaram à
ocorrência do crime.

Palavras – chave: Transexualismo. Feminicídio. Mulher.

ABSTRACT
The issue concerning the possibility or impossibility of the transsexual to play passive
role of the crime of feminicide arises before the increase in the number of deaths of
transsexuals due to its condition of woman. With the advent of the qualifier, aimed at
the protection of women as a gender, which is abused solely by its condition, the
question is: Can transsexual ones also be a victim of the feminicide qualifier? Through
a historical concept, classification of transsexuality, supported by the words of jurists
and jurists, and with data indicating the numbers of the increase of this violence, we
sought to find the solution to such an inquiry. Transsexual is the person who is born
with a sex and identifies with the opposite sex and, as far as feminicide is a qualifier of

1 Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB). E-mail:


iresfabi20@gmail.com;
2 Professora Orientadora, Mestre, E-mail: cristianep@fasb.edu.br.
the crime of homicide, where the passive subject is exclusively the woman. The
transsexual, who has already done the hormonal-surgical retribution of the genitals
and rectification of the surname in the civil registry, is considered a legal and social
woman, however, whoever agrees with the application and who does not adhere to
this possibility. Different theses argues about the (im) possibility of framing the qualifier,
were researched and exposed concrete cases of situations similar to the problem,
which confirmed the desired hypotheses, finally one was pointed out that it prevails
that the transsexual can appear as a taxable person of the crime of feminicide, for
being more adequate to the condition and circumstances that led to the occurrence of
the crime.

Key words: Transexualism. Feminicide. Women.

SUMÁRIO: Introdução, p. 08; 1.0 Mulher, Transexualidade e suas principais


características, p. 09; 1.1 Sexualidade, Sexo e Gênero, p. 11; 1.2 Classificação e as
diversas óticas da transexualidade, p. 14; 2.0 Os aparatos legislativos de proteção à
mulher em situação de violência, p. 17; 2.1 Lei Maria da Penha, p. 18; 2.2 Feminicídio,
p. 23; 2.3 Comitê para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a
mulher – cedaw 2.4 Os índices de violência contra transexuais no brasil em razão de
sua condição, p. 26; 3.0 As divergências doutrinárias quanto ao tratamento e
enquadramento da transexual no feminicídio, p. 27; 3.1 A impossibilidade do
enquadramento como vítima de feminicídio a transexual, p. 29; 3.2 A possibilidade do
enquadramento como vítima de feminicídio a transexual, p. 30; Considerações finais,
p. 33; Referências, p. 35.
8

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como foco principal analisar se a transexual pode figurar
como vítima da qualificadora do crime de feminicídio, previsão legal que visa punir
com sanção específica os agentes que comentem crime contra a mulher. Isto,
considerando os inúmeros avanços dos direitos das pessoas transexuais e a
necessidade de proteção dessa classe, considerando que estes indivíduos possuem
garantias constitucionais decorrentes da dignidade da pessoa humana.

Na transexualidade o indivíduo nasce com um sexo que ele não se identifica, se


reconhecendo como o oposto, se sentindo pertencente ao sexo adverso àquele
representado pelo seu órgão genital, o que causa repulsa e sofrimento. A não
aceitação do corpo em relação ao sexo de nascença, faz com que deseje a mudança
física, a realização da cirurgia de redefinição de sua genitália e o consumo de
hormônios estimulantes das características masculinas ou femininas quando for o
caso.

O feminicídio é a qualificadora do crime de homicídio, sancionada através da lei nº


13.104, de 09 de Março de 2015, e tem como finalidade penalizar especificamente os
crimes contra mulheres, apenas por ela pertencer ao gênero feminino. O agente desse
crime pode ser qualquer um, todavia só pode ser sujeito passivo dessa qualificadora
a mulher.

A problemática principal desse estudo tem como base analisar se diante do crescente
número de mortes em consequência da condição do sexo feminino que acometem
transexuais no Brasil, há possibilidade desta figurar como vítima da qualificadora do
homicídio, descrita especificamente na figura do feminicídio? Tendo em vista que, a
norma legal que trata de feminicídio não engloba as transexuais, porém sua condição,
em diversos aspectos, as iguala ao sexo feminino.

A motivação para a presente pesquisa fundamenta-se na ideia de que o direito atual


deve abranger também as pessoas transexuais, em normas dessa modalidade que
possuem especificidade em seu texto legal. Por se tratar de pessoas equiparadas ao
sexo oposto, reconhecidas como tal no direito à retificação dos documentos e demais
9

direitos civis, também merecem o reconhecimento de sua condição “especialíssima”


no direito penal.

Este artigo tem como objetivo avaliar se a transexual, ou seja, o indivíduo do sexo
masculino que não se identifica com o sexo de nascença, sendo que em virtude dessa
condição, pode ter realizada a retribuição cirúrgica-hormonal e também a alteração no
assento de registro civil, pode ser sujeito passivo do crime de feminicídio, crime
cometido diretamente contra as mulheres, apenas pelo fato de ser mulher.

A teoria principal na qual deve ser pautada para que esse enquadramento seja
possível é a corrente da doutrinadora Adriana Ramos de Mello que defende que o
mais importante elemento, para considerar que a transexual possa figurar como
sujeito passivo do feminicídio, é o fator psicológico deste, o que determina a
percepção de si mesmo na sociedade e seu auto reconhecimento como mulher.

No primeiro capítulo apresenta-se o conceito de transexualidade e suas principais


características, bem como o conceito histórico, suas modalidades e classificação.

O segundo capítulo expõe os aparatos legislativos de proteção à mulher em situação


de violência, dando enfoque a Lei Maria da Penha e ao feminicídio, apontando dados
sobre a violência misógina.

Os principais autores utilizados para compreensão da temática e elaboração do artigo


foram: Adriana Ramos de Mello, Francisco Dirceu Barros, Ivone Zeger, Berenice
Bento, entre outros. Autores estes que darão sustentação as teses apresentadas.

No terceiro capítulo destacam-se as correntes doutrinárias, que apontam a


possibilidade ou a impossibilidade de ser a transexual vítima do crime de feminicídio,
colecionando alguns julgados relacionados ao tema.

Por fim, são expostas as conclusões acerca da prevalência da adequação da


ampliação do crime de feminicídio, englobando as transexuais.

1.0 MULHER, TRANSEXUALIDADE E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS


10

A mulher foi inferiorizada, e taxada como sexo frágil desde os primórdios da


sociedade, isso por que a mulher é relativamente inferior ao homem nas questões
físicas não sendo unanimidade tais definições. Ainda, a história da mulher é marcada
por lutas para conquista de direito e respeito, assim como explica Buonicore (2017,
on-line):

Desde a formação da sociedade brasileira, as mulheres foram excluídas de


todo e qualquer direito político. Por exemplo, a Carta Outorgada do Império
(1824) e a primeira Constituição da República (1891) não lhes concederam
o direito de votar e nem de serem votadas. Uma situação que persistiria até
as primeiras décadas do século XX. Eram, portanto, consideradas cidadãs
de segunda categoria. Verdade seja dita: este não era apenas um problema
do Brasil, pois, naquela época, as mulheres estavam excluídas dos seus
direitos políticos na quase totalidade dos países do mundo.
Nesse período sombrio elas não se calaram. No entanto, só muito
recentemente a história da resistência feminina começou a ser desvendada
pela historiografia. As mulheres lutaram pelo acesso à Educação e pelos
seus direitos civis e políticos. Também se envolveram nos grandes
movimentos que ajudaram a construir a nação, como as lutas pela
independência, a campanha abolicionista, a proclamação da República etc.

Como assim afirma o referido autor, a história da mulher é marcada por questões de
inferioridade, tendo ela que ir à luta, para garantia de seus direitos e lugar na
sociedade. Toda via, há a necessidade de se entender o que seja a mulher para
Estúdio ABC (2016, on-line, Grifo deles) ser mulher é mais características padrões
que a sociedade impõe, para isso explica, “Ser mulher, para mim, é se sentir mulher.
Seja com o cabelo curto ou comprido, de saia ou de calça, com peito ou sem peito,
com vagina ou sem vagina. Se sentir mulher te torna mulher. Não acredito que exista
um conjunto de características específicas ligadas à mulher. Esse conceito é relativo.”

Já quanto a transexualidade, variadas áreas do conhecimento, no decorrer dos


séculos, tentaram compreender este fenômeno humano. Tais estudos possibilitaram
a existência de diversos paradigmas, que dissertam acerca dessa condição humana.
Os primeiros relatos desse fenômeno remetem à mitologia grega com a fábula do
profeta Tirésias, que vivenciou a mutabilidade sexual, transformando-se em mulher
após matar a fêmea da serpente, que estava em pleno coito. (MARANHÃO FILHO,
2016).

Diversas são as narrativas deste mito, contudo, o que se destaca é a percepção da


existência da mutabilidade sexual inserida na história da humanidade, sendo desta
11

forma perceptível que tal condição humana esteve presente desde os primórdios da
sociedade, consolidando a diversidade sexual e, as aceitando como legítimas.

No contexto contemporâneo, a compreensão, em torno da transexualidade, tem seu


surgimento na década de 50, preliminarmente voltado para a ciência médica, com as
experiências pioneiras de modificação sexual, com a retirada do órgão genital
masculino, desenvolvida pelo médico dinamarquês Christian Hamburger. (RINALDI;
BITTENCOURT, 2002).

Para Castel (2001, p. 77, on-line): “O transexualismo é uma síndrome complexa, cuja
inserção na patologia foi, ao final de um processo aqui retraçado, colocada em
questão com maior ou menor sucesso. Caracteriza-se pelo sentimento intenso de não
pertença ao sexo anatômico [...]”. Este conceito foi problematizado por este autor, toda
via, a essência de sua definição é a mesma. Que é a rejeição ao sexo de origem.

Para esclarecer quanto a transexualidade Bento (2017, p. 9-10-11) demostra seu


conceito, e esclarece quanto a identificação desta para fins de reconhecimento social:

Sugiro que a transexualidade é uma experiência identitária, caracterizada


pelo conflito com as normas de gênero. [...] A transexualidade é um
desdobramento inevitável de uma ordem de gênero que estabelece a
inteligibilidade dos gêneros no corpo. A partir do século XX, precisamente a
partir de 1950, se observou um saber médico específico para esta experiência
identitária que se materializou em diagnósticos diferenciados. A
impossibilidade de qualquer exame clínico objetivo que determina se a
pessoa que reivindica uma identidade transexual é “um/a transexual de
verdade”, leva os/as operadores/as da saúde e da justiça a perguntar-se:
como ter certeza se uma pessoa é realmente transexual? Em torno dessa
questão foram estabelecidos procedimentos pelo saber médico/ciências psi,
para determinar se a pessoa que se diz transexual é realmente transexual.

Como a autora sugere a transexualidade está pautada nas experiências com a própria
identidade, é não aceitação do seu gênero, resultando no desejo de pertencimento ao
sexo oposto. E ainda demostra que para identificação desse gênero será necessário
análise psicológica na pessoa, tendo em vista que exames clínicos não identifica.
Essa identificação de suma importância para a pessoa transexual, pois através dessa
designação que este, poderá reivindicar seu reconhecimento perante a sociedade.

Resultante da observação da experiência médica, realizada pelo cientista


dinamarquês, o médico americano Harry Benjamim, de outra forma conceitua tal
fenômeno de “transexualismo”:
12

Conceito de “transexualismo” formulado pelo médico norte-americano Harry


Benjamin para designar um distúrbio relativo à identidade sexual, a partir de
casos de pacientes submetidos a tratamentos hormonais e cirúrgicos que
visavam à transformação da aparência sexual, com base em uma convicção
inabalável de pertencer a outro sexo. (RINALDI; BITTENCOURT, [200?], on-
line).

O conceito se deu a partir da identificação de pacientes que nutriam um sentimento


de repúdio ao sexo pertencente e, que gostariam de pertencer ao sexo oposto. Com
os constantes avanços na esfera da ciência médica, destinada aos tratamentos
hormonais e ao aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas para a modificação da
genitália humana, garantindo-se assim a satisfação dos pacientes a constituição da
sua identificação plena. Com o suporte do reconhecimento social, do conceito
formulado pelo médico norte-americano, ocorre a percepção do fenômeno transexual
nas demais esferas, tais como, religiosa, social e jurídica, tornando mais evidente este
fenômeno humano, tanto no campo das ciências como no plano social
contemporâneo.

A psicóloga Chiland (2003, p. 15) disserta quanto à realização da reatribuição


hormonal:

O transexualismo com reatribuição hormonal-cirúrgica do sexo é um


fenômeno de nossa cultura não apenas em virtude da evolução das ciências
e técnicas que o tornam possível, mas também em razão do lugar assumido
pelo indivíduo em nossa sociedade. Pede-se muito ao indivíduo; ele deve
adquirir conhecimentos incessantes em progresso; dominar técnicas em
constante inovação; ser capaz de tomar iniciativas.

O transexualismo se concretiza com a realização da retribuição hormonal-cirúrgica,


ou seja, a cirurgia para mudança de sexo. Fazendo com que o transexual seja inserido
no meio social na forma que ele se denomina e, há uma grande necessidade de um
aperfeiçoamento, no âmbito científico, para melhorar estes procedimentos, haja vista
que este método realiza o desejo do transexual, que é pertencer ao sexo que se
identifica.

Para concretizar que a transexualidade não se trata de uma patologia Freud (1901-
1905, p. 25 e 25) que denomina a transexualidade de uma inversão expõe:

Para Vários fatos demonstram que os invertidos não são degenerados no


sentido legítimo: 1) Encontramos a inversão em pessoas que não exibem
13

outros desvios sérios da norma. 2) O mesmo ocorre em pessoas que não têm
a capacidade de funcionamento prejudicada, pelo contrário, que se
distinguem por elevado desenvolvimento intelectual e cultura ética.
3) Se não consideramos os pacientes de nossa experiência médica e
buscamos abranger um círculo mais amplo, deparamos, lançando o olhar em
direções distintas, com fatos que não permitem conceber a inversão como
sinal de degeneração. a) É preciso levar em conta que a inversão era um
fenômeno frequente, quase uma instituição dotada de funções importantes,
em povos antigos que estavam no apogeu de sua cultura; b) ela se acha
bastante disseminada em muitos povos selvagens e primitivos, e costuma-se
limitar o conceito de degeneração à alta civilização (I. Bloch); mesmo entre
os povos civilizados da Europa, o clima e a raça tiveram a mais forte influência
na difusão e na atitude ante a inversão.

Como fora aludido, a transexualidade ou inversão como assim descreve o autor não
está ligada a uma patologia, ou seja um transtorno mental. Entendendo assim que a
transexualidade está ligada ao ser e não a questão de distúrbios.

1.1 SEXUALIDADE, SEXO E GÊNERO

É fundamental ressaltar que os conceitos envoltos da sexualidade não são


considerados unânimes. Tais conceitos são tão amplos quanto o plano em que estão
inseridos, dessa forma estão em constantes modificações. Como fato natural, deve
ser encarado como tal, atribuindo-lhe deveres e direitos constitucionais, haja vista,
que tenha a necessidade de inseri-lo ao meio social, por se tratar de cidadão.

Como fora aludido a sexualidade é bastante ampla. Outrossim, não é apenas um


mecanismo de reprodução, assim como Freud (1996, on-line) discorre:

O período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar


à sexualidade adulta, onde as funções de reprodução e de obtenção do
prazer podem estar associadas, tanto no homem como na mulher. Esta
afirmação contrariava as ideias predominantes de que o sexo estava
associado, exclusivamente, à reprodução.

Por um longo período, a sexualidade esteve rotulada apenas em relação à procriação,


a reprodução das espécies humanas, mas após Freud surgem outros elementos
como, por exemplo, o psicológico, é a descoberta do indivíduo consigo mesmo, parte
fundamental, que irá definir seus próprios traços.

Nesse aspecto, essa construção tem como alicerce as complexas elocuções sobre o
sexo, incitando a normatização, a elaboração de saberes e a linguagens que possam
regular e formular as verdades acerca da sexualidade, dentro de cada agrupamento
14

humano, ratificando a concepção de que a definição que se tem acerca da sexualidade


é mutável, possibilitando a alteração conforme a construção das regras culturais de
cada sociedade. (FOUCAULT, 1988).

Isto é, a sexualidade não está mais inserida em um padrão social e cultural, antes
posto e imposto, pela coletividade, como sendo único e absoluto, mas foi se
modificando, se adequando aos vários conceitos de sexualidade, a exemplo da
heterossexualidade, homossexualidade etc.

Faz mister saber se a sexualidade é biológico ou uma construção sociocultural, para


Ferreira (2014, on-line), “[...] Os aspectos biológicos e culturais não determinam a
sexualidade, mas apenas atuam probabilisticamente, aumentando ou reduzindo a
chance de comportamentos sexuais diversos. Em termos científicos, a sexualidade é
emergencial, por isso não é determinada por aspecto biológico ou culturais.”

Por conseguinte, faz-se importante salientar a diferenciação existente entre o sexo e


a sexualidade, conforme compreende Amaral (2007, p.3), “a sexualidade é
influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos,
políticos, cultural, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais”.

Portanto, a sexualidade engloba um ramo bastante extenso de características em sua


definição, não importando somente os seus fatores biológicos, que a consagram como
um termo complexo e de difícil definição.

Quanto ao termo sexo, que é detentor de conceitos diversos, tem sua definição clara,
como se elucida no seguinte trecho:

[...] Pode-se dizer que sexo está relacionado às distinções anatômicas e


biológicas entre homens e mulheres. O sexo é referente a alguns elementos
do corpo como genitálias, aparelhos reprodutivos, seios, etc. Assim, temos
algumas pessoas do sexo feminino (com vagina/vulva), algumas pessoas do
sexo masculino (com pênis) e pessoas intersexuais (casos raros em que
existem genitais ambíguos ou ausentes). (GUERRA, [200?], on-line, grifo
nosso).

De que maneira ocorrem tais distinções? A partir da ideia de que sexo se refere
apenas as características genitálias dos indivíduos. Isto é, o sexo está diretamente
ligado ao aspecto biológico, qual seja o que define biologicamente cada ser. Não
sendo este mesmo meio utilizado para conceituar sua sexualidade, haja vista que, há
15

seres que se apresentam com um sexo e se identificam com outro. Tais percepções
demonstram a pluralidade no meio social.

Para teorizar sobre a mencionada temática, Jesus (2012, p. 08) ensina que:

Sexo é biológico, gênero é social, construído pelas diferentes culturas. E o


gênero vai além do sexo: O que importa, na definição do que é ser homem
ou mulher, não são os cromossomos ou a conformação genital, mas a auto
percepção e a forma como a pessoa se expressa socialmente.

Compreende- se que o gênero nada mais é que atitudes e comportamentos, além de


interesses e valores. Em se tratando de gênero feminino, logo se remete a mulher, da
mesma forma que em se tratando de gênero masculino, automaticamente assimila-se
ao homem.

Dentro dessa concepção, pode-se abordar com maior amplitude a terminologia dada
ao indivíduo, que se identifica socialmente como transexual. Compreende-se a seguir:

Travesti é uma pessoa que não se identifica com o gênero biológico e se


veste e se comporta como pessoas de outro sexo. É um homem que se
veste como mulher, se comporta como mulher e se sente mulher ou o
contrário, uma mulher que se veste, comporta e age como se fosse um
homem. (FRANZIN, 2014, on-line).

Portanto, a cognição acerca do termo transexual está intimamente ligada a como o


indivíduo se identifica subjetivamente e socialmente, não sendo necessária a
modificação cirúrgica do sexo biológico para que a pessoa transexual se apresente
como o gênero que se identifica e que vivencia em seu campo social.

Data Vênia, Aran (2006, p. 59), fala a respeito da rejeição ao transexual, aclarando
quanto ao afastamento desses grupos pela sociedade, veja:

Diante dos dispositivos da sexualidade tão bem definidos na modernidade


por meio da naturalização de sistemas normativos de sexo-gênero, como
também da naturalização do sujeito do desejo, a transexualidade será sempre
excluída das possibilidades subjetivas consideradas normais e legítimas. É
necessário, portanto, certo estremecimento destas fronteiras excessivamente
rígidas e fixas — tais como as do simbólico e das estruturas de poder — para
que a transexualidade possa habitar o mundo viável da sexuação e sair do
espectro da abjeção, seja como transtorno de identidade de gênero, seja
como psicose. Desse modo, estaremos mais livres para compreender as
diversas formas de identificação e de subjetivação possíveis na
transexualidade.
16

Esta visão reflete para mais uma percepção acerca das críticas negativas ao
transexual, considerando que o processo para uma retribuição hormonal é longo, e
demorado e, ainda que ocorra, não será garantido o respeito como “sujeito de direitos”.

Ainda que socialmente este gênero não seja habitual, ele não se difere dos demais
quanto as suas garantias constitucionais, constituindo direitos bem como deveres.

1.2 CLASSIFICAÇÃO E AS DIVERSAS ÓTICAS DA TRANSEXUALIDADE

O foco dado às questões da transexualidade atualmente são desenvolvidos sob óticas


diversas, são exemplos de campos epistemológicos a Biologia, a Sociologia, a
Filosofia, o Direito, a Psicologia, entre outros panoramas do conhecimento.
Preliminarmente, faz-se necessário salientar o campo cientifico biológico/médico para
entender a evolução da temática. (FOUCAULT, 2010).

O percurso do debate acerca da transexualidade, na esfera médica brasileira, bem


como a relação entre os âmbitos do direito e da medicina, é marcada por diferentes
posicionamentos de cunho político.

Nesse contexto, tem-se o entendimento de Fragoso (2010, p. 02), que em seu ponto
de vista define o que seja o “transexualismo”:

Entende-se por transexualismo uma inversão da identidade psicossocial, que


conduz a uma neurose reacional obsessivo-compulsiva, que se manifesta
pelo desejo de reversão sexual integral. A etiologia do transexualismo (que é
fenômeno relativamente raro) é basicamente desconhecida, embora existam
várias hipóteses especulativas.

O referido autor compreende a transexualidade/transexualismo em uma inversão de


identidade psicossocial, que leva a uma neurose considerada por ele como obsessiva
compulsiva que resulta na manifestação do desejo pela reversão sexual de forma
integral. Sendo que a Neurose Compulsiva é um tipo de distúrbio pessoal, que
modifica as percepções do mundo.

Destarte, para fins de complementação, Schweizer (2010, on-line) apresenta também


seu entendimento sobre o transexualismo, quando afirma que:

O transexual é a pessoa que não se identifica com o seu corpo biológico,


sentindo-se como se estivesse ocupando um corpo de sexo físico que não
correspondesse ao seu. Ele rejeita de forma sistemática e incontroversa o
17

seu sexo, havendo uma absoluta desconformidade psíquica com o seu corpo
físico. O transexual realmente sente-se como uma pessoa de sexo oposto ao
que possui, rejeitando todas as características do seu sexo físico. 5 Por isto,
é também chamado de portador de disforia de gênero.

O ponto de vista, apresentado pelos supracitados autores, mostra a ótica patológica


acerca do fenômeno da transexualidade, ocorre essa percepção devido ao termo
escolhido para denominar esse fenômeno humano “transexualismo”.

Há uma necessidade de explicação quanto a terminologia ora abordada, pois esta é


de total importância para entendimento das suas concepções e características:

“Transexualismo” é a nomenclatura oficial para definir as pessoas que vivem


uma contradição o entre corpo e subjetividade. O sufixo “ismo” é denotativo
de condutas sexuais perversas, como, por exemplo, “homossexualismo”.
Ainda na mesma lógica da patologização, o saber oficial nomeia as pessoas
que passam pelo processo transexualizador de mulher para homem, de
“transexuais femininos”, e de homem para mulher “transexuais masculinos”.
Segundo esse raciocínio, mesmo passando por todos os processos para a
construção de signos corporais socialmente reconhecidos como pertencentes
ao gênero de identificação, os/as transexuais não conseguiram descolar-se
do destino biológico, uma vez que o gênero que significará “transexual” será
o de nascimento. (BENTO, 2006, p. 44)

Como já dito, muitas são as correntes que apresentam concepções quanto ao que
seja o transexualismo, Zeger (2016, on-line) entende essa realidade e, a aborda em
seu livro, quando diz:
Muitas vertentes do conhecimento estudam a intersexualidade e a
transexualidade: médicos, psicólogos, psiquiatras, juristas, antropólogos,
historiadores, cientistas sociais e políticos. Certas correntes procuram
adequar as pessoas na condição de intersexo ou transexuais ao que
denominam “vida normal”, colocando-as nas “caixinhas já bem formatadas
pela ciência e pela sociedade.

Logo, diversas áreas buscam, por intermédio da pesquisa, encontrar respostas assim
como conclusões, por exemplo, como causa e efeito, entre outras hipóteses. Os
exemplos vão desde médicos e psicólogos até juristas e cientistas sociais.

A autora explica quanto as correntes que, consequentemente, por intermédio desses


estudos, procuram formatar os indivíduos que se encontram nessa situação como
intersexuais ou transexuais, adequando-os nessas condições.

No que diz respeito a transexualidade e a intersexualidade, é importante o


entendimento dessa diferença, conforme se vê a seguir:
18

Uma das diferenças entre um intersexual e um transexual é justamente esse


"defeito" na formação da genitália. O transexual tem o sexo perfeitamente
formado desde o nascimento, mas quer ser reconhecido e aceito como
alguém do sexo oposto. Acaba recorrendo a hormônios e à cirurgia de
redesignação sexual para concretizar seu desejo.
Já o intersexual precisa corrigir essa indefinição de nascença para confirmar
seu sexo biológico. (MUNDO PSICOLOGOS, 2017, on-line).

Esta diferença se concretiza a partir do nascimento, os intersexuais apresentam


genitálias indefinidas, já o transexual nasce com o órgão genital perfeito, porém a
diferença está na questão psicológica, pois não se sente pertencente ao corpo que
lhe foi atribuído.

Outro ponto que merece destaque é quanto à existência do crossdresser, Vencato


(2015, p. 369, on-line), explica:

Embora as significações sobre o termo possam variar, grosso modo, uma


pessoa que se identifica como crossdresser pode ser definida como alguém
que eventualmente usa ou se produz com roupas e acessórios tidos como do
sexo oposto ao que lhe foi assignado ao nascer. Crossdressers não são
mulheres e não se veem como tal. De forma rápida, poder-se-ia dizer que são
homens que se vestem de mulher ou que efetivam o desejo de se vestir com
roupas e acessórios femininos[...]

É importante a compreensão do que seja o crossdresser, porque a identidade do


transexual pode levá-lo a sentir vontade de se vestir como mulher, o que não deixaria
de acontecer no contrário, em se tratando da mulher transexual que se identifica como
homem.

Nestes casos, ambos são levados ao interesse de ser vestir como mulher, ou mulher
se vestir como homem. O crossdresser ocorre em diversos países, não deixando de
ser citado o Brasil, em que homens e mulheres se vestem do sexo oposto a fim de
vivenciar a identidade que acreditam ter, ou mesmo conquistar seus parceiros. Um
caso de crossdresser, que merece menção aqui, a título exemplificativo, é o cartunista
Laerte Coutinho.

Zeger (2016, on-line) comenta sobre o assunto em um trecho de seu livro:

Muitos homens se vestem de mulher no carnaval – aliás essa prática é até


bem – aceita. O caso da cartunista Laerte Coutinho, fartamente noticiado pela
mídia, assim como sua criação artística tem se tornado referência para quem
19

quer começar a entender as intricadas questões de gênero. Ela tem divulgado


sua trajetória para combater os tabus que envolvem essas discussões.

Laerte Coutinho superou desafios e ultrapassou as barreiras do preconceito quando


decidiu se tornar referência para aqueles que estavam em busca de respostas quanto
a questões de gênero. Sua trajetória fora divulgada a fim de que tabus fossem
quebrados quanto às discussões que envolviam o crossdresser.

2.0 OS APARATOS LEGISLATIVOS DE PROTEÇÃO À MULHER EM SITUAÇÃO


DE VIOLÊNCIA

Viu-se ao longo do tempo que a mulher foi colocada em um grau de vulnerabilidade


perante o sexo oposto, no tocante ser mais “frágeis” fisicamente em relação ao
homem, como assim aduz Silva (2011, on-line) “Para aqueles que crêem numa força
ou ente superior, lastreados ou não em dogmas religiosos o homem e a mulher são
imagens e criação deste ente ou poder. Por sua vez, para aqueles que estão certos
da mutação genética e da evolução científica, foi no curso deste processo evolutivo
que houve a definição dos sexos. É certo que ao longo da história a força física
houve por reinar no sexo masculino[...]”.

Por isso sofre diversos abusos quanto a sua existência na sociedade, tanto do lado
domiciliar quanto profissional. Tendo em vista, a necessidade de buscar alternativas
de proteção para que fosse garantida uma igualdade entre os sexos, criaram-se
distintas medidas de segurança em favor do gênero feminino.

Tais medidas buscam amparar a mulher em sua situação mais delicada e, assegurar
que a visão do homem como sexo dominante, assim como disserta Treviso (2008, p.
22), não mais seja aceita na sociedade:

Desde o patriarcalismo, o homem sempre se definiu como um ser humano


privilegiado, dotado de alguma coisa a mais, ignorada pelas mulheres:
sempre foi o “mais” forte, o “mais” inteligente, o “mais” esperto, o “mais” sábio,
o “mais” corajoso, o “mais” responsável, o “mais” criativo ou, até mesmo, o
“mais” racional. Sempre havia, portanto, um plus para justificar a relação de
hierarquia do homem para com as mulheres da sociedade, ou, pelo menos,
do marido para com a sua própria esposa dentro do lar.
20

Esse entendimento mostra o quanto à mulher era classificada como inferior e como a
figura masculina se sobrepunha a elas em todos as determinações. Os aparatos
legislativos são privilégios conquistados a medida das necessidades encontradas no
decorrer do tempo, em situações de fragilidade, nessas normas está concentrada a
segurança e cuidado da mulher com inúmeros exemplos das covardias causadas a
elas e, que servem de apoio para existência dessas leis.

2.1 LEI MARIA DA PENHA

O primeiro aparato, quanto à proteção de violência contra a mulher, a ser mencionado


é a Lei 11.340 de 2006, mais conhecida por todos como “Lei Maria da Penha”.

Nas palavras de Alves, (2007, p. 329):

[...] Em 7 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei no 11.340/2006 (conhecida


como Lei Maria da Penha), que, apesar de ter como finalidade primordial a
criação de mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar praticada
contra a mulher, acabou trazendo importante inovação no ordenamento
jurídico nacional no seu artigo 5o, II e parágrafo único. Desde já, para tornar
ainda mais claro o debate, passemos à transcrição deste dispositivo: As
relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual”.

Como fora mencionado, esta lei é usada como mecanismo de proteção de violência
contra a mulher. E de outro lado, resta claro o importante dispositivo acerca da
indiferença a orientação sexual, que é um grande avanço jurídico.

A razão para criação desta norma, como explica Bastos (2006. p. 2-3) foi: “A Lei nº
11.340/06, conhecida como “Lei Maria da Penha” em homenagem a uma mulher
vítima de violência doméstica”.

Para um entendimento melhor, explica Alves (2006, on-line) a história de Maria da


Penha:
Maria da Penha é uma professora universitária de classe média, casada com
um também professor universitário, que protagonizou um simbólico caso de
violência doméstica contra a mulher. Em 1983, foi vítima, por duas vezes, do
seu marido, que tentou assassiná-la. A primeira vez com um tiro, que a deixou
paraplégica, e, a segunda, por eletrocussão e afogamento. A punição pela
Justiça só veio vinte anos depois, por interferência de organismos
internacionais. Maria da Penha transformou dor em luta, tragédia em
21

solidariedade, merecendo a homenagem de todos dando nome à lei que é,


sem dúvida, um microssistema de proteção à família e à mulher.

Interessante ressaltar que a criação da lei apenas ocorreu decorrente de uma


necessidade extrema para proteger a mulher, onde deveria ser o lugar mais seguro
para se está, teve que ser interpostas medida protetiva.

A historia de luta de Maria da Penha foi longa, tendo em vista não ter cido a justiça
brasileira capaz de protegela na quele momento como assim diz Aun (2018, on-line):

A luta foi ingrata, uma vez que a Justiça brasileira não cumpriu seu papel. O
economista foi julgado e condenado duas vezes, mas saiu em liberdade após
entrar com recursos.
Mas ela não desistiu: em 2001, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil
por negligência e omissão pela demora na punição do agressor.
O caso ficou conhecido internacionalmente a partir da publicação do livro
“Sobrevivi… Posso Contar”, em 1994, em que a farmacêutica relata sua
história de vida.
Com o apoio da OEA, Marco Antonio Heredia Viveros foi condenado em 1996
a dez anos de reclusão. Porém, a prisão veio apenas em 2002, e ele cumpriu
menos de um terço da pena. Depois, foi para o regime semiaberto em Natal
(RN).
Essa longa batalha trouxe consigo um marco histórico. Em 2006, o então
presidente Lula sancionou a lei 11.340, a Lei Maria da Penha, que cria
mecanismos para coibir a violência familiar contra a mulher.

Como se verá a seguir, esta Lei possui objetivo, de acordo com o que retrata Bianchini
(2016, p. 30):

O objetivo da Lei: é coibir e prevenir a violência de gênero no âmbito


doméstico familiar ou de uma relação íntima de afeto. Já em seu art. 1°, a Lei
Maria da Penha define seu objetivo: coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher. Tal preocupação encontra-se ancorada no §8° do
art. 226 da Constituição Federal, na Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Violência contra a Mulher, na Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (ambas foram objeto
de análise do item 10) e em outros tratados internacionais ratificados pela
República Federativa do Brasil.

Portanto, de acordo com a autora, o artigo 1º da Lei Maria da Penha prevê o objetivo
principal, que é o de coibir e prevenir a violência de gênero dentro do âmbito doméstico
e familiar. Percebe-se que a intenção é de tentar diminuir a violência doméstica.

Tal norma mostra a força da lei em evitar que novas mulheres, dentro do âmbito
familiar ou em suas relações, por conta do gênero, venham a sofrer violência por seus
parceiros. A preocupação especifica da Lei já possuía amparo em convenções que
22

versavam quanto a necessidade de uma atenção especial sobre a violência contra a


mulher.

Nada obstante, a referência a mulher e a não especificação de (im)possibilidade da


aplicação, esta regra poderá ser adaptada a transexual assim como explana a seguir
a decisão dos autos nº 201.103.873.908, proferida no Estado do Goiás, adotando a
possibilidade da transexual figurar como sujeito passivo da Lei Maria da Penha:

[...] Desta forma, apesar da inexistência de legislação, de jurisprudência e da


doutrina ser bastante divergente na possibilidade de aplicação da Lei Maria
da Penha ao transexual que procedeu ou não à retificação de seu nome no
registro civil, a meu ver tais omissões e visões dicotómicas não podem servir
de óbice ao reconhecimento de direitos erigidos à cláusulas pétreas pelo
ordenamento jurídico constitucional. Tais óbices não podem cegar o aplicador
da lei ao ponto de desproteger ofendidas como a identificada nestes autos de
processo porque a mesma não se dirigiu ao Registro Civil de Pessoas
Naturais para, alterando seu assento de nascimento, deixar de se identificar
como Alexandre Roberto Kley e torna-se 'Camille Kley' por exemplo! Além de
uma inconstitucionalidade uma injustiça e um dano irreparáveis! O apego às
formalidades, cada vez mais em desuso no confronto com as garantias que
se sobrelevam àquelas, não podem me impedir de assegurar à ora vítima
TODAS as proteções e TODAS as garantias esculpidas, com as tintas fortes
da dignidade, no quadro maravilhoso da Lei Maria da Penha[...] [...]. Como
dito supra, compulsando detidamente os autos em testilha observa-se que
apesar de constar na capa dos autos de processo o nome da ofendida como
sendo 'Alexandre Roberto Kley', em verdade a referida pessoa fora submetida
a uma cirurgia de redesignação sexual há 17 (dezessete) anos atrás. Fosse
a vítima nestes autos a Roberta Close, personagem famoso da redesignação
sexual há muitos anos atrás, algum magistrado teria condições de negar a
outorga das tutelas da Lei 11.340/06? (TJ – GO, Sentença dos Autos
201103873908, 1ª Vara Criminal. Juíza de Direito Ana Cláudia Veloso
Magalhães, Data do Julgamento 23/11/2011).

Conforme é apresentado na decisão, a visão contemporânea não será motivo para se


negar direitos fundamentais às pessoas como, por exemplo, a proteção a sua vida e
sua integridade física e moral e, ainda que não tenha ocorrido à retificação do nome
civil, esse direito deve ser resguardado, tal restrição à proteção é nitidamente
inconstitucional, o que leva a entende que a aplicação da referida Lei torna-se
fundamental.

Nesse sentindo, Interdonato e Queiroz (2017, p. 88 - 89) mostram a aplicação da Lei


Maria da Penha a transexual na seguinte afirmação:

O Brasil é signatário dos princípios de Yogyakarta, que estabelecem a


aplicação da legislação internacional de direitos Humanos no que concerne à
orientação sexual e à identidade de gênero. Isso auxilia sua aplicabilidade
23

sob o panorama da equidade e reconhecimento da diversidade e da


identidade de gênero. Dessa maneira, verifica-se a pluralidade de
fundamentos com caráter inclusivo na legitimidade de a mulher transexual
ocupar o polo passivo nos casos previsto em lei.

Primeiramente quanto ao princípio de Yogyakarta, para clarear o entendimento e, dar


sustentação a afirmação retro, o trecho a seguir aclara que se trata de um evento onde
o teor da discussão foi a regulamentação dos direitos humanos no que se refere a
sexualidade, assim diz:

Um grupo eminente de especialistas em direitos humanos preparou um


documento preliminar, desenvolveu, discutiu e refinou esses Princípios.
Depois de uma reunião de especialistas, realizada na Universidade Gadjah
Mada, em Yogyakarta, Indonésia, entre 6 e 9 de novembro de 2006, 29
eminentes especialistas de 25 países, com experiências diversas e
conhecimento relevante das questões da legislação de direitos humanos,
adotaram por unanimidade os Princípios de Yogyakarta sobre a Aplicação da
Legislação Internacional de Direitos Humanos em relação à Orientação
Sexual e Identidade de Gênero. (CLAM, 2007, p. 8).

Ou seja, estes especialistas de diversos países, de comum acordo, adotaram os


Princípios de Yogyakarta, por entender que estes princípios são fundamentais para
servir a aplicação dos direitos sexuais.
Já no que se refere ao seu conceito, desenvolve:

Os Princípios de Yogyakarta tratam de um amplo espectro de normas de


direitos humanos e de sua aplicação a questões de orientação sexual e
identidade de gênero. Os Princípios afirmam a obrigação primária dos
Estados de implementarem os direitos humanos. Cada princípio é
acompanhado de detalhadas recomendações aos Estados. No entanto, os
especialistas também enfatizam que muitos outros atores têm
responsabilidades na promoção e proteção dos direitos humanos. São feitas
recomendações adicionais a esses outros atores, que incluem o sistema de
direitos humanos das Nações Unidas, instituições nacionais de direitos
humanos, mídia, organizações não-governamentais e financiadores. (CLAM,
2007, p. 8-9).

Conforme o conceito ora citado, esses princípios vão garantir que os estados e seus
atores protejam os direitos humanos. E detalham recomendações para que isto seja
cumprindo.
Os princípios são:
Princípios de Yogyakarta: 1)DIREITO AO GOZO UNIVERSAL DOS
DIREITOS HUMANOS, 2)DIREITO À IGUALDADE E A NÃO-
DISCRIMINAÇÃO, 3) DIREITO AO RECONHECIMENTO PERANTE A LEI,
4)DIREITO À VIDA, 5)DIREITO À SEGURANÇA PESSOAL, 6)DIREITO À
PRIVACIDADE, 7)DIREITO DE NÃO SOFRER PRIVAÇÃO ARBITRÁRIA DA
24

LIBERDADE, 8)DIREITO A JULGAMENTO JUSTO, 9)DIREITO A


TRATAMENTO HUMANO DURANTE A DETENÇÃO, 10)DIREITO DE NÃO
SOFRER TORTURA E TRATAMENTO OU CASTIGO CRUEL, DESUMANO
OU DEGRADANTE, 11)DIREITO À PROTEÇÃO CONTRA TODAS AS
FORMAS DE EXPLORAÇÃO, VENDA E TRÁFICO DE SERES HUMANOS,
12)DIREITO AO TRABALHO, 13)DIREITO À SEGURIDADE SOCIAL E A
OUTRAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO SOCIAL, 14)DIREITO A UM PADRÃO
DE VIDA ADEQUADO, 15)DIREITO À HABITAÇÃO ADEQUADA,
16)DIREITO À EDUCAÇÃO, 17)DIREITO AO PADRÃO MAIS ALTO
ALCANÇÁVEL DE SAÚDE,18) PROTEÇÃO CONTRA ABUSOS MÉDICOS,
19)DIREITO À LIBERDADE DE OPINIÃO E EXPRESSÃO, 20)DIREITO À
LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO PACÍFICAS, 21)DIREITO À
LIBERDADE DE PENSAMENTO, CONSCIÊNCIA E RELIGIÃO, 22)DIREITO
À LIBERDADE DE IR E VIR, 23)DIREITO DE BUSCAR ASILO, 24)DIREITO
DE CONSTITUIR FAMÍLIA, 25)DIREITO DE PARTICIPAR DA VIDA
PÚBLICA, 26)DIREITO DE PARTICIPAR DA VIDA CULTURAL, 27)DIREITO
DE PROMOVER OS DIREITOS HUMANOS, 28)DIREITO A RECURSOS
JURÍDICOS E MEDIDAS CORRETIVAS EFICAZES,
29)RESPONSABILIZAÇÃO (“ACCOUNTABILITY”). (YOGYAKARTA, 2006,
on-line).

Para tanto, referente à aplicação da Lei Maria da Penha ao transexual, o ordenamento


jurídico pátrio é moldado a acolher e, adequar às diversidades sexuais as suas leis,
assim a transexual poderá figurar como vítima, nos casos de violência doméstica,
assim como já é garantida na área cível a retificação do nome.
Compreende Campos (2015, p.105), acerca da trabalhada temática:

A proposta de criminalização do feminicídio no Brasil insere-se na tendência


observada na América Latina, desde os anos noventa, de reconhecimento da
violência contra mulheres como um delito específico. Essa demanda
feminista é originada da constatação de que a violência baseada no gênero
era naturalizada ou mesmo ignorada pelo direito penal levando à conclusão
de que os direitos humanos das mulheres não eram objeto de proteção
adequada.

Portanto, observa-se que a violência de gênero é a violência misógina contra as


mulheres pela condição de serem mulheres, ocasionadas dentro de relações de
desigualdade de gênero, tais quais como opressão, exclusão, subordinação,
discriminação, exploração e marginalização. As vítimas são submetidas a ameaças,
agressões, maus-tratos, lesões e danos misóginos, sendo que essas modalidades de
violência de gênero ocorrem em variados âmbitos da sociedade. Entre as principais
modalidades de violência misógina estão:

Humilhar, xingar e diminuir a autoestima; Tirar a liberdade de crença; Fazer


a mulher achar que está ficando louca; Controlar e oprimir a mulher; Expor a
vida íntima; Atirar objetos; Sacudir e apertar os braços; Forçar atos sexuais
desconfortáveis; Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la a
25

abortar; Controlar o dinheiro ou reter documentos; Quebrar objetos da mulher.


(BRASIL, 2015, on-line).

Esses abusos afetam tanto o físico quanto o psicológico de forma grave e, deve ser
evitada, para isso a mulher conta com as medidas de proteção.

O julgado a seguir, do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, evidencia o


enquadramento a transexual na Lei Maria da Penha:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E


FAMILIAR. HOMOLOGAÇÃO DE AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE.
AGRESSÕES PRATICADAS PELO COMPANHEIRO CONTRA PESSOA
CIVILMENTE IDENTIFICADA COMO SENDO DO SEXO MASCULINO.
VÍTIMA SUBMETIDA À CIRURGIA DE ADEQUAÇÃO DE SEXO POR SER
HERMAFRODITA. ADOÇÃO DO SEXO FEMININO. PRESENÇA DE
ÓRGÃOS REPRODUTORES FEMININOS QUE LHE CONFEREM A
CONDIÇÃO DE MULHER. RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL JÁ
REQUERIDA JUDICIALMENTE. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO, NO
CASO CONCRETO, DA LEI N. 11.340/06. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
SUSCITANTE. CONFLITO IMPROCEDENTE. (TJ-SC - CJ: 64616 SC
2009.006461-6, Relator: Roberto Lucas Pacheco, Data de Julgamento:
14/08/2009, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação: Conflito de
Jurisdição n., da Capital).

Nessa situação é clara a colocação, no âmbito legal, da prática cirúrgica como fator
definidor do intersexuado e, por esta condição, se adequa à medida protetiva. Esse
posicionamento já é aceito no meio jurídico, abrindo assim a possibilidade da
transexual também figurar como vítima de feminicídio.

2.2 FEMINICÍDIO

A figura feminina ganhou uma proteção maior com a inclusão do § 2º ao artigo 121,
do Código Penal, através da lei nº 13.104 de 09 de Março de 2015, tornando o
feminicídio uma qualificadora do crime de homicídio. A ação ocorre quando a mulher
é morta em razão da condição do sexo feminino, ou seja, quando o indivíduo comete
o crime apenas pelo fato da vítima ser mulher.

Sobre o feminicídio, Gonzaga e Lima ([201?], on-line) esclarecem:

O feminicídio equivale ao último estágio de uma violência contínua que acaba


por levar a mulher à morte. Trata-se, portanto, de um crime de ódio. Ele é
26

antecedido por outras violências, como físicas e psicológicas, que impõem à


mulher uma dominação masculina com características culturais, que são
essencialmente machistas e foram aprendidas por gerações.

Trata-se de um conjunto de fatores humilhantes, que culminam com a morte da


mulher. Não bastassem pancadas e ofensas, finda o agressor por tirar a vida de sua
companheira. E com isso será enquadrado na qualificadora de feminicídio.
Nas palavras de Melo (2015, p.49):

A Lei é de autoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência


contra a Mulher. Com a sanção presidencial, o assassinato de mulher por
razões de gênero (quando envolver violência doméstica e familiar ou
menosprezo e discriminação à condição de mulher) passa a ser incluído entre
os tipos de homicídio qualificado.

Este tipo penal almeja a proteção dessas mulheres que vivem expostas à violência
dentro de seus lares, nas suas relações íntimas. Essa visão vai além, pois o ditado
comumente conhecido de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”,
é uma falácia, um discurso ultrapassado que não deve ser aceito.
A mulher deve ser protegida em qualquer ambiente assim como qualquer outra
pessoa. Todavia, isso ainda é bastante difícil, tendo em vista a relação de submissão
vivida por algumas mulheres, como afirmar Rubim e Marques (2016, p. 234, on-line):

Essa violência silenciosa vivenciada diariamente por inúmeras brasileiras


apresenta dificuldade para o seu enfrentamento, por ocorrerem
repetidamente dentro da própria residência do casal e pela dificuldade ou
mesmo vergonha das vítimas em assumir, perante suas famílias e à
sociedade, que estão sofrendo violência doméstica por parte de seus
companheiros.

O parágrafo descreve características acerca desta qualificadora quais sejam: violência


doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação a condição de mulher. Dessa
forma a norma legal dispõe:

Homicídio simples. Art. 121[...] Homicídio qualificado§ 2o [...] Feminicídio, VI


- contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: § 2o-A Considera-
se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I -
violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição
de mulher[...] Aumento de pena § 7o A pena do feminicídio é aumentada de
1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I - durante a gestação
ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14
(catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - na
presença de descendente ou de ascendente da vítima.” (NR). (BRASIL, 1940,
on-line).
27

O artigo mencionado expõe a recente qualificadora do feminicídio, que serve de


medida para proteção da mulher, nas situações mais vulneráveis, enquadrando o
indivíduo, que comete tais práticas, ao cumprimento de penas mais severas.

Assim Bianchini (2016) aclara que a Lei n. 13.104 de 2015 que modifica o Código
Penal, passa a prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de
homicídio e, o art. 1º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, insere o feminicídio no
rol dos crimes hediondos.

Transcreve-se aqui, um julgado em que a mulher foi vítima de feminicídio com


requinte de crueldade:

PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO


PREVENTIVA. HOMICÍDIO QUALIFICADO. FEMINICÍDIO.
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. HABEAS
CORPUS DENEGADO. 1. Apresentada fundamentação concreta para a
decretação da prisão preventiva, evidenciada na gravidade do crime, o
crime imputado ao ora denunciado é gravíssimo, delito de homicídio
consumado qualificado pelo motivo torpe, emprego de meio cruel, por usar
de recurso que dificultou a defesa da vítima e por motivo da condição do
sexo feminino da vítima, e ainda, provocou aborto sem consentimento da
gestante, e na fuga do paciente do distrito da culpa, não há que se falar em
ilegalidade. 2. Habeas corpus denegado. (STJ - HC: 435532 SP
2018/0023552-8, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento:
21/08/2018, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/09/2018)
(BRASIL, 2018, on-line).

O julgado expõe, de forma nítida, a vulnerabilidade da mulher no seu ambiente


familiar, mostra ainda o enquadramento da qualificadora feminicídio em um caso real.
O que é muito importante para sua validade, para que a existência dessa norma seja
válida, garantido o mínimo de eficácia.

Outrossim, ainda que a instância de origem não tenha aderido, o STJ decide:

RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIOS QUALIFICADOS. MOTIVO TORPE.


FEMINICÍDIO. PRONÚNCIA. EXCLUSÃO DAS QUALIFICADORAS PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. BIS IN IDEM. NÃO OCORRÊNCIA. NATUREZAS
DISTINTAS DAS ADJETIVADORAS. COEXISTÊNCIA. POSSIBILIDADE.
FEMINICÍDIO. NATUREZA OBJETIVA. AFASTAMENTO MEDIANTE
ANÁLISE SUBJETIVA DA MOTIVAÇÃO DOS CRIMES. INVIABILIDADE.1.
Hipótese em que a instância de origem decidiu pela inviabilidade da
manutenção das qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio, sob pena
de afronta ao princípio do non bis in idem quanto a um dos fatos, e,
relativamente a outros dois fatos, afastou a adjetivadora do feminicídio,
analisando aspectos subjetivos da motivação do crime. 2. Não há dúvidas
28

acerca da natureza subjetiva da qualificadora do motivo torpe, ao passo que


a natureza do feminicídio, por se ligar à condição especial da vítima, é
objetiva, não havendo, assim, qualquer óbice à sua imputação simultânea.
3. É inviável o afastamento da qualificadora do feminicídio mediante a
análise de aspectos subjetivos da motivação do crime, dada a natureza
objetiva da referida qualificadora, ligada à condição de sexo feminino. 4. A
exclusão das qualificadoras na fase de pronúncia somente é possível
quando manifestamente improcedentes, pois a decisão acerca de sua
caracterização deve ficar a cargo do Conselho de Sentença. 5. Recurso
provido. (STJ- REsp: 1739704 RS 2018/ 0108236-8, Relator: Ministro
JORGE MUSSI, data do julgamento: 18/09/2018, T5- QUINTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 26/09/2018).

Entendendo, ser o motivo do crime insignificante para finalidades tão extremas, é que
se insere a qualificadora do feminicídio. Esta qualificadora vai garantir que este fato
seja devidamente responsabilizado, haja vista, já ter sido aplicada a nova qualificadora
do crime de homicídio.

A criminalização do feminicídio está intimamente ligada com a violência de gênero,


sendo esta agressão manifestada no âmbito domiciliar ou fora dele. A inclusão dessa
qualificadora no novel penal busca atender o atual cenário social, onde a mulher se
encontra tão vulnerável em todas as suas formas, incluindo nesta vulnerabilidade a
transexual.

2.3 COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO


CONTRA A MULHER – CEDAW

Como aparato legislativo, há também a CEDAW, comitê que visa combater as


diversas formas de violência contra mulher, instituída pelo Decreto Lei nº 4.316 de 30
de Julho de 2002, sobre esta medida, sua definição e composição explica:

A Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra


a Mulher foi adotada pela Assembléia Geral em 18 de dezembro de 1979, e
entrou em vigor em 3 de setembro de 1981. A Convenção é constituída por
um preâmbulo e 30 artigos, sendo que 16 deles contemplam direitos
substantivos que devem ser respeitados, protegidos, garantidos e
promovidos pelo Estado. Em seu artigo 1º, a Convenção define
“discriminação contra a mulher” como sendo:
“(...) toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por
objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício
pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade
do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos
campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro
campo”.
O Comitê é composto por 23 peritas “de grande prestígio moral e
competência na área abarcada pela Convenção”, eleitas pelos Estados
Partes para exercerem o mandato por um período de 4 (quatro) anos. As
29

peritas desempenham sua função a título pessoal e não como delegadas ou


representantes de seu país de origem. O Comitê celebra sessões regulares
anuais que duram cerca de 2 (duas) semanas. (BRASIL, 2002, on-line)

Este aparato de proteção foi um grande avanço e um sinal de evolução dos direitos
humanos das mulheres. A partir dessa convenção a mulher ganha uma nova forma
de proteção especifica a elas. Dando base para que discriminação e distinção não
mais ocorra.

Segundo Pimentel (2008, p. 17):

A Convenção vai além das garantias de igualdade e igual proteção


viabilizadas por instrumentos legais vigentes, estipulando medidas para o
alcance da igualdade entre homens e mulheres, independentemente de seu
estado civil, em todos os aspectos da vida política, econômica, social e
cultural.

Isso posto, para o referido autor esta convenção busca igualar os sexos em variados
âmbitos da sociedade. Inserindo a mulher de vez na sociedade como sujeito de
direitos.

2.4 OS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA CONTRA TRANSEXUAIS NO BRASIL EM RAZÃO


DE SUA CONDIÇÃO

Como se nota na pesquisa do Transgender Europe (TGEU), o Brasil está em primeiro


lugar no número de mortes de pessoas transexuais no âmbito nacional, no que diz
respeito aos anos de 2015 e 2016, os dados são alarmantes. Outrossim, a diferença
é bastante considerável, no que tange ao segundo colocado, segue:

[...] Este ano 295 pessoas trans foram adicionadas à lista daquelas que temos
lembrar e chorar suas honras. A atualização da TDor 2016 revelou um total
de 295 casos de assassinatos relatados de pessoas trans entre 01 de outubro
de 2015 e 30 de setembro de 2016.Esta atualização mostra relatos de
pessoas trans assassinadas em 33 países ao longo dos últimos 12 meses,
com a maioria no Brasil (123), México (52) Estados Unidos (23), Colômbia
(14) e Venezuela (14). Na Ásia, a maioria dos casos relatados estão na Índia
(6) e Paquistão (5), e na Europa, em Itália (5) e Turquia (5). (LUCON, 2016,
on-line).

Os dados são preocupantes, tendo em vista ser o dobro o número de mortes no Brasil,
em relação ao México que é o segundo colocado, a tristeza dos dados, surpreendente
e alarmantes. Este índice reflete a vulnerabilidade da transexual e, a necessidades de
30

normas legais para dar amparo a elas. Caracteriza também o desmazelo a um


determinado grupo de pessoas e, a falta de garantias e segurança dessa população.

A média de mortes e assassinatos de homossexuais no Brasil, no ano de 2017 é de


2,47 pessoas por um milhão de habitantes, no ano de 2016, apontou-se 1,69 mortes
por um milhão de pessoas. (MICHELS; MOTT; PAULINHO, 2017).

Esses resultados brasileiros demonstram a vulnerabilidade e fragilidade do transexual,


causas como preconceito e discriminação, por parte do agente, contribuem
consideravelmente para que esses números cresçam.

A exemplo da violência muito repercutida nas mídias e noticiada na reportagem do


G1, “Travesti Dandara foi apedrejada e morta a tiros no Ceará”:

Após agressões com chutes e golpes de pau, a travesti Dandara dos Santos
foi assassinada a tiros, segundo o secretário da Segurança Pública e Defesa
Social do Ceará, delegado André Costa. Os dois suspeitos de atirar em Dandara
foram presos, conforme o secretário. Também foram apreendidos três
adolescentes que aparecem no vídeo agredindo a vítima, e um sexto suspeito
está foragido. "Depois das agressões, levaram [Dandara] até outro local, próximo
de onde foram feitas aquelas imagens. Como é visto nas imagens, ela foi
brutalmente, covardemente, assassinada através de um disparo de arma de
fogo", detalhou o delegado em entrevista nesta terça-feira (7). (G1, 2016, On-line,
grifo do autor).

Este caso descreve a crueldade com que agiram os criminosos, o ódio ultrapassando
seus limites e níveis de brutalidade absurdos, sendo apenas imposto o juízo de valor
desses agressores.

De outra forma, os dados a seguir mostram o número total de assassinatos:

No ano de 2017, lembrando incansavelmente da subnotificação desses


dados, ocorreram 179 Assassinatos de pessoas Trans, sendo 169 Travestis
e Mulheres Transexuais e 10 Homens Trans. Destes, encontramos notícias
de que apenas 18 casos tiveram os suspeitos presos, o que representa 10%
dos casos. (ANTRA, 2018, P. 14)

O que vale salientar é quanto ao número de casos em que o suspeito respondeu pelo
crime, deixando clara a vulnerabilidade no amparo desses grupos pelas leis. Já nas
31

palavras de Mott, Michels e Paulinho (2018, p. 01), referente aos índices totais dessas
violências, ainda no ano de 2017, aponta:

445 LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) morreram no Brasil,


(incluindo-se três nacionais mortos no exterior) em 2017 vítimas da
homotransfobia: 387 assassinatos e 58 suicídios. Nunca antes na história
desse país registraram-se tantas mortes, nos 38 anos que o Grupo Gay da
Bahia (GGB) coleta e divulga tais estatísticas. Um aumento de 30% em
relação a 2016, quando registraram-se 343 mortes.

Destarte, a violência verbal também faz vítimas de forma indireta, essa violência afeta
o psicológico dessas pessoas, a impulsionando a cometer suicídio. Através dessas
ofensas põem fim em torturas psicológicas, que elas acreditam não ter solução. Isto
dito, conforme os dados antes expostos, é notável o crescimento de mortes de
transexuais.

3.0 AS DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS QUANTO AO TRATAMENTO E


ENQUADRAMENTO DA TRANSEXUAL NO FEMINICÍDIO

Para chegar a uma resposta, deve-se primeiro entender esses diferentes pontos de
vista, que cuida da referida probabilidade. Para isto analisar-se-á duas correntes, a
primeira mais conservadora e outra mais moderna. Essas correntes vão explicar por
que deve e por que não deve ser a transexual vítima de feminicídio, para melhor
entender observe nas palavras de Cunha (2014, on-line):

Em eventual resposta à indagação inicial podem ser observadas duas


posições: uma primeira, conservadora, entendendo que o transexual,
geneticamente, não é mulher (apenas passa a ter órgão genital de
conformidade feminina), e que, portanto, descarta, para a hipótese, a
proteção especial; já para uma corrente mais moderna, desde que a pessoa
portadora de transexualismo transmute suas características sexuais (por
cirurgia e modo irreversível), deve ser encarada de acordo com sua nova
realidade morfológica, eis que a jurisprudência admite, inclusive, retificação
de registro civil.

Isso posto, a conclusão acerca do tema, será analisada a partir de critérios


psicológicos, sociais e legais, haja vista, não ser um superior ao outro, para ter uma
ideia definitiva, devendo sempre ser analisados todos os aspectos. Com isso, basta
salientar a permissão de retificação do prenome no registro civil, direito já conquistado
32

pelos transexuais, para identifica que o mesmo deverá ser tratado a partir de sua
própria aceitação.

Assim como se vê no julgado adiante, a mudança no registro civil é permitida:

APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL.


TRANSEXUALISMO. ALTERAÇÃO DO GÊNERO. AUSÊNCIA DE
CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL OU TRANSGENITALIZAÇÃO.
POSSIBILIDADE. O sexo é físico-biológico, caracterizado pela presença de
aparelho genital e outras características que diferenciam os seres humanos
entre machos e fêmeas, além da presença do código genético que,
igualmente, determina a constituição do sexo - cromossomas XX e XY. O
gênero, por sua vez, refere-se ao aspecto psicossocial, ou seja, como o
indivíduo se sente e se comporta frente aos padrões estabelecidos como
femininos e masculinos a partir do substrato físico-biológico. É um modo de
organização de modelos que são transmitidos tendo em vista as estruturas
sociais e as relações que se estabelecem entre os sexos. Considerando
que o gênero prepondera sobre o sexo, identificando-se o indivíduo
transexual com o gênero oposto ao seu sexo biológico e cromossômico,
impõe-se a retificação do registro civil, independentemente da realização de
cirurgia de redesignação sexual ou transgenitalização, porquanto deve
espelhar a forma como o indivíduo se vê, se comporta e é visto socialmente.
Sentença de procedência confirmada. POR MAIORIA, COM TRÊS VOTOS
A DOIS, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDOS O
RELATOR E A DESA. LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO. (Apelação
Cível Nº 70071007363, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em
26/10/2016). (TJ-RS - AC: 70071007363 RS, Relator: Sérgio Fernando de
Vasconcellos Chaves, Data de Julgamento: 26/10/2016, Sétima Câmara
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 03/11/2016).

Conforme julgado aduz-se que, a retificação do prenome é permitida, inclusive na falta


da cirurgia de mudança de sexo, já é entendido a garantia da concessão desse direito.
Ou seja, o indivíduo que se identificar com o sexo oposto e, assim quiser ser
reconhecido e denominado, poderá solicitar a retificação do prenome. Logo, este será
considerado legalmente pertencente ao sexo oposto, dando respaldo para sua
caracterização como vítima de crime de feminicídio, tendo em vista que será
designado como mulher.

3.1 A IMPOSSIBILIDADE DO ENQUADRAMENTO COMO VÍTIMA DE FEMINICÍDIO


A TRANSEXUAL

A visão mais conservadora, acerca do tema, é trazida por Barros (2014, on-line), que
afirma que essa qualificadora não incide, tendo relevância somente os fatores
biológicos do indivíduo, dito isto aclara:
33

Entendo que deve ser sempre considerado o critério biológico, ou seja,


identifica-se a mulher em sua concepção genética ou cromossômica. Neste
caso, como a neocolpovulvoplastia altera a estética, mas não a concepção
genética, não será possível a aplicação da qualificadora do feminicídio.

Na visão do referido autor, por ser geneticamente visto como sendo do sexo
masculino, a transexual não poderá ser enquadrada como vítima de feminicídio, haja
vista que as mudanças para troca de sexo não alteram a genética apenas mudam a
aparência.

No entendimento do autor Gonçalves (2018, p. 143), “Somente mulheres podem ser


sujeito passivo de feminicídio”. Em outras palavras, para este autor o sujeito passivo
do feminicídio só pode ser a mulher, entendendo não haver possibilidade de a
transexual figurar como vítima. Limita a qualificadora ao sujeito mulher, privando a
transexual de um direito, que no âmbito cível, ela já é detentora. Sendo importante
uma abrangência da qualificadora ou até mesmo uma edição desta.

3.2 A POSSIBILIDADE DO ENQUADRAMENTO COMO VÍTIMA DE FEMINICÍDIO A


TRANSEXUAL

De outro modo, data vênia, essa visão não é definitiva, sendo aceito por outros
doutrinadores, o enquadramento da transexual para figurar no polo passivo da
qualificadora do tipo penal feminicídio, ademais não há que se ater apenas em fatores
genéticos, por não serem estes suficientes para tirar conclusões decisivas, no entanto,
devendo ser considerado também suas condições sociais, psicológicas, dentre outras.
No que diz respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, previamente
colocada e, em face de sua importância, os quais indistintamente são dirigidos a todos,
para que dele tenha gozo e disponha plenamente, assegura o “Caput do Artigo 5º da
Constituição Federal de 1988”:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes. (BRASIL, 1988, on-line).

Qualquer pessoa, independente de raça, cor, sexo, religião e outros tem garantidos
os direitos fundamentais dispostos na norma constitucional, não podendo ser vedada,
em nenhuma hipótese e, sem nenhuma restrição, sob pena de ferir sua condição e
34

dignidade humana. Assim sendo, garantindo as transexuais condições igualitárias de


vida, tendo em vista que sua condição não a excluir dos seus direitos.
Ver-se-á, a seguir, a posição de um doutrinador frente à possibilidade do
enquadramento da transexual figurar como vítima de feminicídio:

Ora, analisando todo o contexto de nosso ordenamento jurídico, resta


cristalino que o transexual, ao apresentar inequívocas características físicas
e, de sobremaneira mentais, do sexo feminino, e sob ótica das garantias
fundamentais da dignidade da pessoa humana e da igualdade, deverá sim
fazer jus à proteção advinda do crime de feminicídio. (ZAGONEL,2017,
p.48).

Tendo em vista, as características da transexual, ela poderá ser qualificada como


vítima de feminicídio, abrindo vistas a dignidade da pessoa humana e a igualdade que
lhe é garantida em lei.

De outra forma, assegura Oliveira Júnior (2016, on-line), no seu entendimento quanto
ao enquadramento da transexual:

[...]o transexual, embora seja portador de órgãos definidos, se apresentar


inequívoca intenção pelo sexo oposto, ligado ao gênero feminino e a ele
plenamente ajustado, pode ser vítima, com a consequente aplicação do
dispositivo penal do feminicídio, cabendo, portanto, denúncia por tal delito.

Não sendo necessariamente de caráter definitivo, as peculiaridades masculinas


podem ser modificadas. Entretanto as características que a transexual apresenta se
igualam ao da mulher, no quesito identificação com o corpo feminino e vontade de
pertencimento a este, poderá então ser aceita denúncia quando o crime de feminicídio
for praticado contra a transexual.

Com grande avanço no âmbito jurídico, houve a primeira denúncia de transexual


vítima de feminicídio, que foi morta a facadas por seu companheiro, como assim é
exposto:

O Ministério Público (MP) de São Paulo denunciou pelo crime de feminicídio o


ex-companheiro de uma transexual morta a facadas por ele em fevereiro deste
ano. É a primeira vez que uma denúncia do tipo é feita envolvendo uma pessoa
transexual no estado. A ação foi oferecida em junho pela Promotoria de Justiça
do 3º Tribunal do Júri da Capital e divulgada nesta quinta-feira (6). O crime
aconteceu em 9 de fevereiro, na Rua Uruba, na Chácara Bandeirantes, Zona Sul
da capital. O acusado responde ao processo em liberdade. (G1, 2016, On-line,
grifo do autor).
35

As pesquisas apontam este como o primeiro caso a ser denunciado, tendo como autor
o Ministério Público do Estado de São Paulo, evidenciando a aplicabilidade da
qualificadora de feminicídio a transexual, garantindo assim o amparo dessa nova Lei
para essas vítimas. Este passo é de suma importância no âmbito jurídico, pois abre
nossas possibilidades de entendimento da Lei nova, com uma interpretação extensiva,
visando maior reprimenda ante a conduta do agressor.

Quanto a identificação da mulher transexual, o trecho abaixo relata:

A mulher transexual é uma pessoa adulta que se identifica como sendo do


sexo e gênero femininos, embora tenha sido geneticamente –e oficialmente,
pelos pais, quando do nascimento– designada como pertencente ao sexo
masculino. Portanto, em virtude da incongruência sexo versus mente (ou
cérebro), a mulher transexual reivindica o reconhecimento social e legal como
mulher. (MELLO, 2015, p 54).

Assim sobre a possibilidade da transexual ser sujeito passivo, nos crimes de


feminicídio, ainda nas palavras da referida autora, conclui-se: “Entendemos que toda
vez que uma mulher, assim entendido como toda pessoa que se identifica com o
gênero feminino, independentemente da realização da cirurgia de mudança de sexo,
for morta em razão dessa condição, incidirá a qualificadora do feminicídio.” (MELLO,
2015, p.54).

Seu entendimento acerca do tema fundamenta-se na ideia de que a pessoa transexual


se entende como pertencente ao sexo feminino, ela passa assim a ser considerada
como tal e, para tanto, poderá dispor das prerrogativas de ser mulher, sendo uma
dessas, o enquadramento como sujeito passivo, nos crimes de feminicídio.

Não se trata de defesa a uma determinada classe e, sim de Direitos humanos, como
nas palavras de Viegas, Rabelo e Poli (201[?], on-line), confirma:

Os transexuais desejam apenas o reconhecimento do direito a uma vida


digna, e o Direito precisa acompanhar as mudanças sociais. Como a
sociedade não é estática, o Direito não pode permanecer inerte, ou imporia a
vida social uma imobilidade incompatível com o senso de evolução da própria
civilização humana.
36

Esse é o principal motivo para tais afirmações estarem em pauta, sendo que deve ser
respeitado o direito de identidade do outro e, para isso deve-se garantir direitos
conforme sua condição perante a sociedade, condição esta que independe de
escolha, é como a pessoa se percebe no meio social.

Para aclarar a visão padrão, limitada de ver os direitos, esclarece Interdonato e


Queiroz (2017, p.19) “[...] Nossa existência individual se constrói e se desenvolver na
sociedade, portanto é também histórica e cultural. O biológico é determinado, mas os
significados e valores que lhe são dados são construídos”. Ainda que o fator biológico
seja importante, ele não define como a pessoa deve se comportar, esses valores
serão impostos pelo fator psicológico.

A pesquisa não apontou nenhum julgado referente a este tema, porém já é


entendimento, entre vários juristas que o enquadramento será possível e que não será
apenas analisada a perspectiva biológica, mas todos os demais fatores importantes,
para que não sejam negados direitos fundamentais a proteção, a nenhum indivíduo
ou grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa fez uma análise histórica e atual acerca do conceito de


transexualidade e suas principais características, juntamente com os aparatos
legislativos de proteção a mulher, e ainda especificamente quanto ao feminicídio, bem
como as diferentes posições quanto à possibilidade, ou não, da transexual figurar
como sujeito passivo nos crimes de feminicídio. Pretendeu-se, com isso, desvendar
se é possível ou não esse enquadramento e a necessidade de englobar os direitos a
justa proteção, além da mulher geneticamente identificada que detém esses direitos,
também a mulher transexual que luta para ser reconhecida como tal e conta com
várias características que a identificam como mulher.

Não é possível a transexual figurar como sujeito passivo do crime de feminicídio


conforme disposto no teor da nova qualificadora, tendo em vista, este apenas poder
ser aplicado ao gênero feminino, logo, por não ser geneticamente mulher, a transexual
não se enquadraria nessa qualificadora. Entretanto, de acordo com alguns autores, a
37

aplicação será possível, pois, para eles, o fator psicológico é o que prevalece para a
identificação da transexual, além de possuir reconhecimento civil.

Nessa perspectiva, confrontou-se também com o Direito Constitucional à igualdade, a


mulher transexual, que retifica o prenome no registro civil, se torna identificada pelo
gênero feminino, com nome feminino, ou seja, o direito que essas mulheres adquiriram
na retificação do prenome lhes dá status de mulher no meio jurídico. E de outro modo,
com a cirurgia de mudança de sexo tem-se o reconhecimento social de que a
transexual é uma mulher.

Ao se buscar definir o conceito de transexualidade e suas principais características,


verificou-se que este já dava indícios de sua existência desde a mitologia grega, e que
seu conceito veicula a pessoa que nasce com um sexo, mas se identifica como sendo
pertencente ao sexo oposto, e suas principais características são: a repudia ao sexo
de nascença e a vontade de mudar seu corpo para a do sexo oposto, através da
cirurgia de mudança de sexo.

Analisando quanto aos aparatos legislativos de proteção a mulher em situação de


violência, que podem ser aplicados ao transexual, foi constatado que há casos de
transexuais enquadradas como sujeito passivo da Lei Maria da Penha, inclusive com
analise de julgados que confirmaram a aplicação desta norma às transexuais. Tal
aderência analógica, amplia a possibilidade a transexual poderá também figurar como
vítima na qualificadora de feminicídio.

Foram apresentados índices de violência às transexuais, dados esses assustadores,


que destacaram o crescimento da violência especificamente envolvendo este grupo,
o que é o fundamental argumento para a necessidade do enquadramento na
qualificadora.

Ao investigar as correntes doutrinárias que divergiram quanto ao enquadramento da


transexual no feminicídio, foi demostrado que a corrente minoritária, por se tratar de
uma doutrina mais conservadora, se opõe unicamente pelo fator biológico, por
entender que a transexual ao fazer a mudança de sexo não tem sua genética alterada,
mas apenas a aparência. Entretanto a corrente majoritária que corrobora com o
enquadramento da transexual ser vítima de feminicídio, por considerar os fatores
38

psicológicos, que versam acerca de como o indivíduo se percebe no mundo, o fator


legal, onde já é garantido a transexual retificar o seu prenome no registro civil e o
social, haja vista que, com a cirurgia de mudança de sexo e, todas as modificações
no corpo sofridas por essas pessoas, fazem com que elas sejam visivelmente do sexo
feminino, justificando, assim a possibilidade da transexual figurar como vítima de
feminicídio.

Nessa perspectiva, a aplicação da qualificadora de feminicídio às transexuais darão


maior eficácia às punições dos agentes e, ainda poderão funcionar como medida de
diminuição para esses delitos, ampliando a proteção que a transexual possui frente
ao preconceito existente.

Com isso, conclui-se que atualmente já é aceito, por doutrinadores e juristas, o


enquadramento da transexual como vítima de feminicídio, confirmando que foi
alcançado o objetivo da presente pesquisa, ou seja, é possível a transexual figurar
como sujeito passivo nos crimes de feminicídio.

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