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Faculdade de Humanidades
(Opção: Literatura)
por
Luanda, 2022
ANÁLISE LITERÁRIA DO SEMBA:TRAÇOS DO
QUOTIDIANO ANGOLANO NAS LETRASDOS MÚSICOS:
Ary, Patrícia Faria, Bonga e Paulo Flores
(Opção: Literatura)
por
Luanda, 2022
ÍNDICE
DEDICATÓRIA.......................................................................................................I
AGRADECIMENTOS...........................................................................................II
RESUMO..............................................................................................................III
ABSTRACT..........................................................................................................IV
0.INTRODUÇÃO....................................................................................................1
0.1. Problemática..................................................................................................1
0.2. Hipótese.........................................................................................................2
0.3. Justificativa....................................................................................................2
0.4.Objectivos.........................................................................................................2
0.4.1. Objectivo geral:......................................................................................2
0.4.2. Objectivos específicos:...........................................................................3
0.5. Metodologia...................................................................................................3
0.5. Delimitação...................................................................................................3
0.6. Estrutura do trabalho.....................................................................................4
0.7. Estudos anteriores..........................................................................................4
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................6
1.1 Definição de Termos e Conceitos
1.2 .Literatura.......................................................................................................6
1.2 .Música...........................................................................................................7
1.3. Principais Géneros Musicias de Angola....................................................9
1.3.1. Semba...................................................................................................10
1.4.Relação entre amúsica e a literatura.............................................................15
1.5.O Papel do músico na sociedade..................................................................16
CAPÍTULO II: APRESENTAÇÃO BIOGRÁFICA E ARTÍSTICA DOS
MÚSICOS ESTUDADOS....................................................................................18
2.1.Bonga............................................................................................................18
2.2.Paulo Flores..................................................................................................20
2.3.PatríciaFaria………………………………………………………………..22
2.4.Ary…………………………………………………………………………23
CAPÍTULO III – ANÁLISE LITERÁRIA E SOCIOLÓGICA DO SEMBA24
3.1. O Contexto sociocultural do Semba no quotidiano angolano.....................24
3.2. Análise temática..........................................................................................26
3.2.1. Assédio sexual......................................................................................26
3.2.2. Abuso de poder.....................................................................................28
3.2.3. Nepotismo.............................................................................................30
3.2.4. Relacionamento abusivo.......................................................................32
3.3. Aspectos expressivos: língua, vocabulário e figuras de estilo....................34
3.3.1. Anáfora.................................................................................................35
3.3.2. Comparação..........................................................................................36
3.3.3. Eufemismo............................................................................................37
3.3.4. Gradação...............................................................................................37
3.3.5. Ironia.....................................................................................................38
3.3.6. Metáfora................................................................................................38
3.3.7. Metonímia.............................................................................................39
3.3.8. Paradoxo...............................................................................................40
3.3.9. Personificação.......................................................................................41
3.3.10. Sinestesia............................................................................................41
CONCLUSÃO......................................................................................................43
SUGESTÕES........................................................................................................44
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................45
ANEXOS...............................................................................................................48
Letras Analisadas...............................................................................................48
José Adelino Barceló de Carvalho (Bonga).......................................................48
1. Ti zuela....................................................................................................48
2. Lágrimas no Canto do Olho....................................................................49
3. Kambúa...................................................................................................51
Paulo Flores........................................................................................................52
1. A Carta....................................................................................................52
2. Makalakatu..............................................................................................57
Ary......................................................................................................................59
1. Betinho....................................................................................................59
2. Comadre..................................................................................................62
Patrícia Faria.......................................................................................................66
1. Caroço Quente.........................................................................................66
2. Tá ficar tonto...........................................................................................67
DEDICATÓRIA
À minha madrinha Ana Bela da Costa e Silva Alves Primo por todo
carinho e apoio que me prestou desde o dia que nos conhecemos.
I
AGRADECIMENTOS
MUITO OBRIGADA!
II
RESUMO
III
ABSTRACT
The present work is the result of a study on the lyrics of musicians of the semba
musical style, which portray the daily life of Angolan citizens. Our work aims to
highlight the impact that the lyrics of these musicians have caused and are causing
in society. To obtain such results it was necessary to conduct a bibliographic
analysis and a field study, although the latter was only for clarification purposes,
which allowed us to obtain more clarity regarding conceptual and historical
issues. With this study it was possible to understand the psycho-pedagogical
dimension of music and how much it can influence the way a society acts. Thus,
we were able to affirm that the musician is intrinsically linked to society and
makes music his means of communication.
IV
0. INTRODUÇÃO
0.1. Problemática
A construção de narrativas data desde os primórdios da humanidade, cada
geração ou povo produziu as suas narrativas, por ser a maneira mais fiel de
expressar o complexo de ideias e crenças que acompanham a humanidade. É uma
maneira de exteriorizar os seus sentimentos e frustrações, de um ou de outro jeito,
o que pode ser considerado próprio de cada povo e comunidade.
As letras de alguns estilos musicais são entendidas como a narrativa mais
fiel da realidade social de um povo, principalmente a música popular. Nesse
sentido, propusemo-nos a escrutinar algumas letras do estilo musical
Sembaalmejando perceber se é possível encontrar traços do quotidiano angolano
em tais letras. Tomaremos como referência as seguintes temáticas:
Relacionamento abusivo, fofoca, abuso de poder e violência doméstica.
Tencionámos igualmente, poder apresentar no final deste trabalho respostas claras
para a seguinte pergunta:
1
- É possível encontrar traços do quotidiano angolano nas letras do estilo
musical Semba?
0.2. Hipótese
0.3. Justificativa
0.4. Objectivos
- Explicar o papel das figuras de estilos encontradas nas letras e o impacto das
mesmas no processo de percepção dos ouvintes.
0.5. Metodologia
0.5. Delimitação
3
0.6. Estrutura do trabalho
4
desta obra contemple a vida e o percurso do cantor, ela também retrata a história
de muitos grupos musicais que existiram no país e os seus contributos no processo
de libertação nacional, o que para o nosso trabalho foi de grande contributo, pois
serviu de mais uma bibliográfica.
1.1. Literatura
Comumente, qualquer tentativa de conceituar literatura remete para uma
pluralidade de conceitos complexos e bastante ambíguos, pois que o termo pode
assumir diversas significações e é amplamente polissémico. À partida, e de uma
maneira simples, podemos dizer que a literatura pertence ao campo das artes (arte
verbal), cujo meio de expressão é a palavra e que a sua definição está, geralmente,
associada à ideia de estética/valor estético. (SILVA, 2007)
6
Isto quer dizer que a literatura imita a vida; a vida está continuamente a ser
reinterpretada: qualquer tentativa de avaliar esta interpretação da literatura levar-
nos-á a reconhecer que ela toca em pelo menos dois pontos importantes.
Considerada em seu valor aparente, sugere que a literatura imita ou reflecte a
vida; por outras palavras, a temática da literatura consiste nas múltiplas
experiências dos seres humanos, em suas vivências. O segundo ponto importante,
sugerido pela teoria da imitação é que a vida é imitada no sentido de ser
reinterpretada e recriada (DANZIGER, 1974).
1.2. Música
A palavra música deriva do grego “musiké téchne” a arte das musas, trata-
se de uma forma de arte resultante da combinação de vários sons e ritmos,
obedecendo a uma organização prévia ao longo do tempo. A “Música” é a arte de
combinar os sons e o silêncio (MONTEIRO, 2019).
8
a valores puramente comerciais, porém, ao longo do tempo, incorporou diversas
tendências vanguardistas e inclui estilos de grande sofisticação.
10
O semba, um novo género musical, que consiste numa mistura de vários
ritmos, como Cidrália, Lisanda ou Kabetula e a Cazukuta, permitindo ligar a
música popular rural ao espaço urbano. Cancões como "Muxima", "Mbiri Mbiri",
"Kuaba Kuaie", entre outras, tornaram-se grandes sucessos no país e além-
fronteiras.O semba é a expressão rítmica mais popular da música urbana angolana
resultado da fusão da rebita, trazida pelos portugueses, com o kaduque, um
sapateado forte e bonito que os pescadores angolanos e algumas populações do
interior dançavam no final do século XIX. O semba é a música e a dança da região
socio-cultural kimbundo e evoluiu a partir da estrutura da massemba até tomar a
forma actual. A denominação semba deriva do choque (umbigada) entre dois
intervenientes da dança rebita ou massemba, quando ela atinge determinada
apoteose no tempo mais forte do compasso. (WEZA, 2007:181).
O semba, singular demassembasegundo o quadro dos prefixos das línguas
bantu sugerido pelo professor doutor Peres Sassucona sua tese de doutoramento,
onde consta o prefixo “ma” pertencente à classe 6 como sendo o plural da classe
5, classe essa que define fenómenos naturais, diversos objectos aportuguesados,
partes do corpo humano e nomes abstractos,(Sassuco, 2017:42), começou a ser
definido nos anos 50 do século XX, pelo grupo musical Ngola Rítmos, liderado
por Liceu Vieira Dias, e nos anos 60 ganhos projecção alimentando-se de outros
estilos, fundamentalmente da rumba do ex-Zaíre e das músicas latino-americanas.
Contudo, o período de sua consolidação dá-se entre os anos 1961 a 1974. (Weza,
2007:181).
O semba tem três variantes que são semba kazukuta, o semba senguessa e
o semba cadenciado (este último é mais lento e muitas vezes confundido com a
kiomba). A Kazukuta foi há tempos uma dança designada “kazuze”, que só os
carpinteiros dançavam. A Kazukuta tem um andamento extraordinariamente forte
e constitui-se numa das mais ricas regiões de Luanda, embora pouco
desenvolvida. Portanto, o semba é das expressões de música angolana que
personaliza a maneira de estar e de sentir do angolano. Este rítmo ganhou certa
dimensão no território nacional, resultando do facto de ser produzido em Luanda
onde há formas de divulgação maiores que noutras regiões do país, daí o semba
11
ter crescido e espalhado pela nação, porque os grandes investimentos em termos
de música foram feitas na capital do país. (KUSCHICK, 2016:40).
Como todo e qualquer estilo musical, o semba é marcado por três gerações
distintas, mas todas ligadas pelo mesmo fim: exploração, expressão e construção
duma identidade angolana. A primeira geração do semba dá-se em finais dos anos
40 até a década de 60, tendo como expoente maior os Ngola Ritmos liderado por
Liceu Vieira Dias, embora existissem outros grupos na década de 50, como São
Salvador que lançou o seu primeiro disco em 1959 na República Democrática do
Congo, Trio Assis, O Duo Ouro Negro, Os Gingas, Dikanzas do Prenda com o
single Brinca N´areia em 1968, Dimba dya Ngola grupo fundado em 1963 por
Dominguinho e Boano da Silva Laurindo e Barros Manecas, Jovens do Prenda
fundado em 1968 teve como elementos Manuelito, Zé kakuarta entre outros
integrante, Kiezos, Elias Dya Kimuezo, Os Ginásios, Kimbadas do Ritmo (tinham
como destaque principal o guitarrista José Eduardo dos Santos, JOES, segundo
presidente de Angola), Bonga, Rui mingas, Teta Lando e Valentim de Carvalho
de Vasconcelos. Todos tinham como objectivo principal a divulgação dos ideais
de liberdade, inserção na política e a luta pela libertação de Angola (WEZA,
2007:60).
13
(Weza, 2007:74). Contudo, os movimentos artísticos não calaram por completo,
pois com o sangue novo da segunda geração, o semba recebe o impulso para fazer
frente aos constantes ataques e problemas que surgiam, como o 27 de Maio de
1977, o Massacre ou Batalha do Kifangondo que levou o cantor Santocas a
compor o tema “Massacre de Kifangondo” o tema musical retratava o
descontentamento do povo pelo sucedido. São nomes de destaque desta época os
músicos Santocas, Teta Lando, Carlos Lamartine, Santos Júnior, Artur Nunes,
Urbano de Castro, Bonga, Pedrito, Zé do Pau, Carlos Burity, Jacinto Tchipa, Gaby
Moy, Man Ré, Os Kiezos, Waldemar Bastos. Até os finais dos anos oitenta,
Luanda contava com mais de vinte centros recreativos, que permitiram a
continuidade da música e da consciencialização social. (WEZA, 2007:130).
14
Com as eleições de 1992 e o despoletar da guerra civil, muitos grupos em
crise, outros deixaram o país, ficando apenas algumas bandas, já em meados dos
anos noventa surgem as Gingas do Maculusso. São nomes sonantes desta geração
os músicos Gaby Moy, Proletário, Robertinho, Voto Gonçalves, Carlos Burity, Zé
do Pau, Waldemar Bastos, Zeca Júnior, Filipe Mukenga, Carlitos Vieira Dias,
Lina Alexandre, André Mingas, Dina Santos, Mamukuenu, Eduardo Paim, Irmãos
Verdades, Isidora Campos, Nelo Paim, Tropical Band, Dom Kikas, Irmãos
Almeidas, Sabino Henda, Maya Cool, Paulo Flores, Yuri da Cunha, Edy Tussa,
Tito Paris, Clélia Sambo, Nila Borja, Puto Português, Yola Semedo, Ary e Pérola.
(WEZA, 2007:170).
16
sendo inclusive grátis. É uma fonte de entretenimento e também um recurso de
crescimento e desenvolvimento humano. (BRÉSCIA, 2003:38).
Temos como exemplo prático os músicos Liceu Vieira Dias do Grupo Ngola
Ritmos (prercursor do semba, revolucionário e activista social pela igualdade de
todos os cidadãos e preservação dos direitos humanos), Bonga (considerado um
dos maiores activistas e revolucionários do país pelas letras das suas músicas),
Paulo Flores (conhecido pela constante luta pela preservação do semba e o
despertar da consciência do povo angolano no que tange a política e os problemas
sociais), Yola Semedo (considerada embaixadora da luta contra a sida em
Angola), Titica (cantora transgênicatida como defensora da comunidade LGBT e
já representante de Angola no Brasil na luta contra a sida). (CARLOS, 2018:1).
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CAPÍTULO II: APRESENTAÇÃO BIOGRÁFICA E ARTÍSTICA DOS
MÚSICOS ESTUDADOS
2.1. Bonga
Na sua família era carinhosamente chamado por Zeca. A sua infância foi
marcada pelas vivências nos bairros dos Coqueiros, Ingombotas, Bairro
Operário, Rangel, e no Marçal. Nestes bairros Bonga adquiriu o espírito
conservador da cultura angolana, principalmente da música tradicional angolana,
que era marginalizada pelo poder opressor da época colonial. Além do amor pela
música, Bonga desenvolveu uma paixão especial pelo atletismo chegando a
participar de torneios nacionais e internacionais.
18
Bonga como muitos jovens da sua época já era um nacionalista convicto dos
seus ideais. Por muito tempo Portugal foi regido pela política repressiva e fascista,
que oprimia os povos das colónias e não só. Com o início dos movimentos a favor
da independência das colónias portuguesas, Bonga aproveita o seu estatuto de
atleta recordista para circular livremente e fazer chegar a mensagem de
sensibilização de outros jovens nacionalistas que não eram a favor da opressão e
lutavam pela independência de Angola. Por este motivo é obrigado a deixar
Portugal como muito outros jovens que não queriam terminar os seus dias numa
prisão por causa da perseguição da polícia do Estado-Novo, a Pide, para os Países
Baixos onde lança o seu primeiro álbum Angola 72 com temas sobre a revolução
e o amor à pátria.
2.3. PatríciaFaria
A cantora conta com duas obras discográficas: Primeiro álbum Eme Kia:
Eme Kia; Caroço Quente; Tambula Ó saia, Minha farra, Triste amargura, Cama e
mesa, Falta de ti, Papa ya Jimbidila, Cansaço, Kibela, Zanga Kalunga, Mumpiozo
Uame. Segundo álbum De Caxexe, ou simplesmente devagar, comporta 18 faixas
musicais e tem a produção de DJ Mania-2019: Kamaka, Tás Aonde, Mandinga,
Será que Vale a Pena, Tá Ficar Tonto, Kimbote, Muadié, Ser feliz, Bem Pausado,
Vigarista, Seis Marias, Toda Mulher, Wanguimono, Estão a Vir, Baza Já e Mostra
a tua Angola. (Portal de Angola, 2019).
22
2.4. Ary
23
CAPÍTULO III – ANÁLISE LITERÁRIA E SOCIOLÓGICA DO SEMBA
Com essa definição pode se afirmar que o semba surge como meio de
intervenção social e pedagógico para exprimir as necessidades vivenciadas pelos
angolanos na época colonial e pós-colonial. Tem como factor principal enaltecer a
cultura e instruir os homens por meio da música.
24
musseques aos altos graus da classe intelectual, dos artistas aos desportistas, dos
angolanos ricos aos pobres.
Por mais que os seus integrantes fossem de “boas famílias (boa família em
tempo de colonialismo significava que não pronunciava mais línguas de cultura
africana)” (Macedo, 1987:13).
25
3.2. Análise temática
26
pouco para fazer chegar a informação contida nas suas músicas a fim de despertar
a população sobre possíveis atentados que poderão vir a sofrer ou alguém
próximos a eles. O assédio sexual é muito recorrente no quotidiano angolano,
principalmente contra menores ou mulheres com fisionomias robustas, embora
também existam homens que sofram o mesmo atentado.
A letra nos leva a refletir nas artimanhas utilizadas tendo como finalidade
a prática sexual com meninas de menos instrução aliciadas com palavras bonitas e
pequenos agrados. Tais práticas muitas vezes dão lugar ao abuso sexual, visto que
muitas destas mulheres não consentem as mesmas atitudes, mas acabam sendo por
causa da fragilidade da situação em que se encontram.
Comadre, comadre
Já quer me confundire
Da wawera!
27
Em comadre vê-se um quadro de tentativa de assédio por meio da bebida,
onde um sujeito na tentativa de atrair para si a vítima predispõe-se a pagar bebidas
alcoólicas à mesma, mas este não conclui a sua missão porque o seu alvo soube
contornar a situação livrando-se do assediador e ainda o intimidou. O que
pressupõe maior atenção e instrução desta vítima em relação ao primeiro quadro
descrito na letra caroço quente.
28
Estou a falar só.
Portanto, podemos dizer que, além do abuso de poder ser uma infracção
administrativa, também é utilizado no âmbito penal para caracterizar algumas
condutas de abuso de autoridade, sendo que, essas são muito mais amplas do que
29
o simples abuso de poder (excesso ou desvio de poder), eis que abarcam outras
condutas ilegais do agente público, o que nos leva a concluir que o abuso de
autoridade abrange o abuso de poder que, por sua vez, se desdobra em excesso e
desvio de poder ou de finalidade. (Artigo nº 374º do Código Penal).
3.2.3. Nepotismo
Ora, vejam só
Na nossa terra
30
São manobrados pelo contexto
31
sociedade. Os favorecidos pouco se importam com o bem vida do desfavorecido,
principalmente quando este não lhe é próximo ou subordinado.
A Isaura te avisou
E traições à mistura
O tema foi extraído das músicas Tá Ficar Tonto, Cama e Mesa de Patrícia
Faria, Betinho e Escangalha de Ary, as letras serviram para melhor compreensão
do relacionamento abusio no quotidiano angolano, sendo que muitas vezes a
pessoa que vive tal relação não sabe que tem convido com alguém praticante de
maus tratos e violência. O problema de relacionamentos abusivos é muito comum
em Angola por causa da influência do sistema patriarcal que vigorou por muito
tempo no país e ainda vigora em algumas famílias.
e me tirou já de portugale
33
Eu só sei dizer que você me escangalha
Tu não és carinhoso
3.3.1. Anáfora
O texto acima é parte do refrão da música com o mesmo título, a letra faz
menção à lágrima no canto do olho, ou seja, tristeza. Os refrões na maioria das
vezes são palavras repetidas para dar ênfase a mensagem.
Me mordeu na bochecha,
Me arranhou na cintura
E esse
35
Que me mordeu na bochecha,
3.3.2. Comparação
36
Como vimos na definição a comparação tende a enfatizar uma mensagem
fazendo uso de conectivos, o trecho acima faz alusão ao problema da medicina
local e das igrejas com poder de cura, pois é comum a procura de espíritas para a
cura de doenças ou para crescer rapidamente na vida.
3.3.3. Eufemismo
Neste trecho mais uma vez recorre-se a um termo suave a fim de expressar
uma situação devastadora. Podemos ver que o dinheiro do povo, cidadãos de
Angola, foi roubado e ninguém sabe o paradeiro do mesmo,
3.3.4. Gradação
Se um dia a mais
Se um dia ao menos
37
Na corrida pra o poder
Primeiro é o pão
Para se comer.
3.3.5. Ironia
O trecho faz gozo da ideia de ter alguém no poder para mudar o curso das
coisas quando na verdade o elemento faz parte do sistema que o escolheu para
organizar. A ironia tende a ridicularizar uma ideia ou situação afirmando uma
ideia quando se quer dizer outra coisa.
3.3.6. Metáfora
38
proletariado aqui personificação na figura do cão “Kambúa”, o texto quer dizer
que o proletariado no meio de outros é só mais um sofredor.
Já quer me confundire
A metáfora é muitas vezes confundida com a ironia pelo grau de não ditos
dentro da frase, ou seja, tem muito por se dizer duma frase aparentemente simples.
A resposta tá a pensar sou da wawera diz muito de um indivíduo que por ver uma
senhora a beber cerveja em lugar público confunde com outras mulheres de vida
fácil, wawera e rebangulada remete a uma mulher vulgar ou uma mulher
qualquer, tanto que a frase é repetida várias vezes para deixar claro a posição da
senhora em relação aos atentados do interveniente.
3.3.7. Metonímia
A boela te aturou,
39
quotidiano angolano é comum designar a pessoa pelo referente, ou seja, a
referência toma lugar do referente.
É o caso de peixe para chamar a senhora que vende o peixe, etc. Abaixo
apresentamos mais um caso de metonímia, onde a expressão mão pesada
desempenha a função de nome importante, alguém com poderes para alterar o
funcionamento das coisas.
3.3.8. Paradoxo
Esta figura de estilo representa o uso de ideias cujos sentidos são opostos,
não apenas os termos (como acontece na antítese).
Da alegria passageira
40
que acaba sendo um acto de reflexão, pois houve um investimento mal projectado
porque ninguém investe sem querer colher os frutos dos investimentos.
3.3.9. Personificação
Kambúaestás a sofrer
O caroço é veneno
no cheiro do vento
da pra perceber
Além dos animais, outro elemento irracional muito usado na literatura são
as frutas, não seria diferente na escrita angolana. Fruta verde remete a menor de
idade, adolescente que está a desabrochar e chama a atenção de homens de todas
as idades.
3.3.10. Sinestesia
O iluminado do cafokolo
41
Os termos toma barriga e toma cabeça são figurados, pois ninguém toma
barriga nem toma cabeça, significa que o indivíduo precisa tomar consciência dos
seus actos e mudar de atitude, pois veem prejudicando o povo ao seu redor.
Sacrifícios aumentados
42
CONCLUSÃO
43
SUGESTÕES
44
BIBLIOGRAFIA
BATEUX, Carlos. Restrição das belas artes a um único princípio, Leipzig, 1770.
Tradução de Johann AdolfSchlegel. Hildesheim: Georg Olms, 1976.
45
MOORMAN, Marissa J. Intonations: a social history of music and nation in
Luanda,
SANTOS, Marta, Elias dyaKimuezo: A voz e o Percuso de um Povo. Ed. Cão que
lê, Braga, 2012.
46
https://www.letras.mus.br/ Neste site encontras a biografia de Ary e a maior parte
dos álbuns dos músicos em estudo.
47
ANEXOS
Letras Analisadas
1. Ti zuela
muitokumbusopras nono,
48
para onde ficamos conotados,
voltaramnaoestao a trabalhar,
Refrão:
no canto do olho
no canto do olho
no canto do olho
sacrifícios aumentados
Se um dia a mais
49
se um dia ao menos
primeiro é o pão
para se comer
da alegria passageira
50
3. Kambúa
Refrão:
I Estrofe
II Estrofe
III Estrofe
IV Estrofe
51
E come bem, é bem tratado (2x)
V Estrofe
VI Estrofe
Paulo Flores
1. A Carta
Tem outros como eu tem outros que nem sequer por isso
52
O motorizado veículo, enquanto o frenético discípulo
Da nova civilização
53
Frequentando as bodas onde as Marias todas
Oh mãe
Ilusão do mundo
54
Pra não chorar na partida
55
Mas é feliz no seu chorar o meu povo
56
Até os endinheirados a título posto é invejoso
Têm inveja desse povo tão feliz no seu chorar (uh, uh)
2. Makalakatu
57
Para contentar a maralha
Ora, vejam só
Na nossa terra
O iluminado do cafokolo
58
O makalakatu do cafokolo
O makalakatu do cafokolo
Ary
1. Betinho
Betinho é um homem bonito até charmoso e muito especiale
Me trouxe logo aqui pra banda e me tirou já de Portugale
Vivíamos juntos, imitava tudo
Povo dizia: É pemba!
E me avisaram que ele era bruto
E que gostava de semba
59
Me rasgou toda a roupa, me empurrou na botija
Me deu com a panela de sopa, no dia seguinte tô rija
Betinho é mama
Betinho, Betinho, Betinho, Betinho
60
É o seguinte minhas irmãs:
Minhas nódoas estão tipo produtos na montra
Todo mundo me vê
Um homem mesmo é pra me fazer isso, vocês acham mesmo?
Num me fez, quem me fez foi meu pai
61
2. Comadre
Coamdre, comadre
comadre, comadre
já quer me confundire
já quer me confundire
Comadre, comadre
comadre, comadre
já quer me confundire
já quer me confundire
dawawera!
dawawera!
62
já quer me confundire
já quer me confundire
São vocês!
63
Esquece ewe!
Cuidado!
Você me Escangalha
tu não és carinhoso
64
odeio admitir
(você, você)
(você, você)
(você, você)
65
o moço que me faz sorrir
odeio admitir
Você, oh
você me escanga...
Escanga... Oh yeah
Patrícia Faria
1. Caroço Quente
O caroço é veneno
No cheiro do vento
Da p´ra perceber
Depois da jornada
Há muita maralha
66
Carocinho pedrado faísca na mão
M´mam
Tubia
Sanje
Watema, ma
Tubia
Sanje
Watema, ma
2. Tá ficar tonto
I
Coro:
Tá ficar tonto, oh
Tá ficar louco
67
A boela te aturou,
A isaura te avisou
E traições à mistura
Cama e Mesa
68
está cheio de astúcia
ele não procura emprego
depois quer somar um bom posto
mas ele só quer cama e mesa
69