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Faculdade de Humanidades
Departamento de Língua e Literaturas em Língua Portuguesa
(Opção: Literatura)
por
Teresa CavaleiroPEDRO
Luanda/2022
ANÁLISE ESTILÍSTICA DA OBRA “ACUDAM MARIA DO RANGEL” DE
NGONGUITA DIOGO
por
Teresa CavaleiroPEDRO
Luanda/2022
DEDICATÓRIA
À minha mãe Teresa Leitão Ribeiro Cavaleiro Neto, pela educação, força e
dedicação, demonstrada no decorrer da minha formação.
I
AGRADECIMENTOS
A Deus pela dádiva da vida, por ser o guia e o pilar do meu existir e viver e por
me agraciar com a presente conquista.
À Direcção da Faculdade de Humanidades e a todos os professores do
Departamento de Língua e Literaturas em Língua Portuguesa.
À Professora e Mestre Domingas Henriques Monteiro, pela imensurável paciência
tida comigo no decorrer de todo o trabalho.
Aos meus irmãos, Antónia Boa, José de Menezes e Inês Neto pela força, incentivo
e por sempre acreditarem que tudo isso fosse possível.
Ao meu filho, Emanuel José Pedro, por ser o meu maior incentivo e
impulsionador das minhas lutas, resultantes em conquistas.
Aos meus amigos, em especial a Shelsia dos Anjos, pela colaboração e apoio
prestado para o êxito do presente trabalho, agradeço ainda àNtony Chaves, Serafina
José, Luísa Domingos, Miuvandra Agostinho, Chissola Paulo, Delfina José e Benjamim
Napoleão, pela ajuda e incentivo mostrado ao longo da minha formação.
Aos meus colegas de turma, Fineza Kiala, Arlinda Muzema e Adriano Chepute
pelo companheirismo.
A todos que, verdadeiramente, contribuíram positivamente e que,
incondicionalmente, me apoiaram na realização deste trabalho, o meu mais sincero e
profundo agradecimento!
II
ÍNDICE
DEDICATÓRIA..............................................................................................................3
AGRADECIMENTOS....................................................................................................4
ÍNDICE.............................................................................................................................5
RESUMO..........................................................................................................................6
ABSTRACT.....................................................................................................................7
0. INTRODUÇÃO...........................................................................................................8
0.1. Formulação do problema....................................................................................9
0.2. Formulação da hipótese..........................................................................................9
0.3. Razões da escolha do tema.....................................................................................9
0.4. Objectivos...............................................................................................................9
0.4.1. Objectivo geral...............................................................................................10
0.4.2. Objectivos específicos....................................................................................10
0.5. Metodologia..........................................................................................................10
0.6. Divisão do trabalho...............................................................................................10
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................11
1.1. Literatura...........................................................................................................11
1.2. Géneros literários..............................................................................................12
1.2.1. Género narrativo............................................................................................14
1.3. Estilística...........................................................................................................19
CAPÍTULO II – VIDA E OBRA DE NGONGUITA DIOGO..................................20
2.1. Vida e obra........................................................................................................20
2.2. Resumo da obra................................................................................................21
2.3. Tempo e espaço................................................................................................23
2.4. Caracterização das personagens............................................................................25
CAPÍTULO III – ANÁLISE ESTILÍSTICA DA OBRA ACUDAM MARIA DO
RANGEL.........................................................................................................................29
3.1. Figuras de linguagem............................................................................................29
3.1.1. A nível fónico (dos sons)...............................................................................29
3.1.2. A nível sintáctico (da sintaxe)........................................................................30
3.1.3. Nível semântico (do sentido).........................................................................32
3.2. Análise estilística da obra Acudam Maria do Rangel...........................................33
CONCLUSÃO................................................................................................................37
III
SUGESTÕES.................................................................................................................38
BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................39
IV
RESUMO
O presente estudo intitula-se“Análise Estilística da obra “Acudam Maria do
Rangel”, de Ngonguita Diogo”. É uma pesquisa bibliográfica que tem por objectivo
abordar sobre os recursos estilísticos encontrados na obra, de que forma foram
utilizados e para que servem tais recursos numa obra literária. A obra em análise narra
um episódio que envolve fé em espíritos ocultos, o que se constitui numa das crenças e
devoção de grande parte dos povos africanos. Consideramos importantetrabalharnessa
temática porque vai aumentar o número de material sobre análise literária no que diz
respeito à estilística, servindo de uso em pesquisas futuras sobre assuntos relacionados
com a presente pesquisa.Usamosnesta monografia o método bibliográfico olhando para
as obras de outros autores devidamente mencionadas na bibliografia, bem como a obra
da escritora Ngonguita Diogo, Acudam Maria do Rangel, cerne da análise do trabalho.A
obraestá repleta de figuras de estilo, dentro de si inúmeros elementos que objectivam na
beleza do texto, com mensagens que abordam as vivências diárias de muitos angolanos.
V
ABSTRACT
The present study is entitled “Stylistic Analysis of the work “Acudam Maria do
Rangel”, by Ngonguita Diogo”. It is a bibliographical research that aims to address the
stylistic resources found in the work, how they were used and what these resources are
for in a literary work. The work under analysis narrates an episode that involves faith in
occult spirits, which constitutes one of the beliefs and devotion of most African peoples.
We consider it important to work on this theme because it will increase the number of
material on literary analysis with regard to stylistics, serving as a use in future research
on subjects related to the present research, as well as the work of the writer Ngonguita
Diogo, Acudam Maria do Rangel, core of the analysis of the work. angolans.
VI
0. INTRODUÇÃO
O trabalho que ora apresentamosfaz um estudo estilístico da obra “Acudam Maria
do Rangel”, da escritora Ngonguita Diogo, numa abordagem dos recursos estilísticos no
geral, bem como sobre a mensagem que a obra apresenta. Anarrativa em análise é a
representação do que se vive em vários cantos do país, é o relato da vida de muitos
angolanos. O foco recai naênfase e no olhar ao que é narrado sobre o feitiço e
misticismo, típico dos povos africanos.
Essa jornada exigiu de nós muitas leituras e trabalho aturado para a inventariação
de figuras de estilos dentro da obra. Nesse sentido, foram inventariadas e analisadas
catorze (14) figuras que são: perífrase, comparação, paradoxo, pleonasmo,
personificação, antítese, hipérbole, ironia, metáfora, sarcasmo, redundância,
eufemismo, oximoro e disfemismo. Todas essas figuras de estilo encontram-se
representadas e definidas no terceiro capítulo dessa monografia. As mesmas estão
exemplificadas com trechos da obra em estudo “Acudam Maria do Rangel”, da escritora
Ngonguita Diogo.
1
0.1. Formulação do problema
As sociedades africanas, em particular a angolana, comportam crenças negativas e
positivas, têm bons e maus momentos, tomam decisões promissoras e algumas que as
levam à perdição. Neste contexto, e com base ao que é retratado na obra apresentamos a
seguinte questão de partida:
- Qual é a relevância da estilística e que figuras de estilo podem ser encontradas
na obra “Acudam Maria do Rangel”, de Ngonguita Diogo?
0.4. Objectivos
Ter objectivos bem delineados ajuda a pesquisa a não ser vasta, com vários
assuntos em debate e que depois se torna confuso. Portanto, os objectivos servem para
guiar uma pesquisa ou estudo, e é através deles que se evitam rodeios e resultados
desnecessários, que não abundam no trabalho. Eis abaixo enumerados os objectivos do
estudo:
2
0.4.1. Objectivo geral
- Inventariar e analisar as figuras de estilo presentes na obra “Acudam Maria do
Rangel”, de Ngonguita Diogo.
0.5. Metodologia
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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O capítulo que agora começamos tem como objectivo fazer uma elucidação sobre
aqueles que são os conceitos básicos e importantes para a melhor compreensão do tema
em estudo, definindo os seguintes termos literatura, géneros literários e estilística.
1.1. Literatura
A literatura é conhecida mundialmente por ser a arte que tem as letras como seu
objecto primordial de uso e pesquisa, até aos dias de hoje encontrar uma definição para
tão grandiosa arte tem sido uma luta, pois os conceitos variam de autor para autor e cada
vez mais estabelecem-se definições subjectivas, abstractas e de várias perspectivas pois
tal como tudo, cada pessoa a define de acordo com o seu ponto de vista e interesse.
De acordo com Dias & Carmo (1999:204), a literatura é“uma expressão verbal
artística de uma experiência humana, que compreende as obras estéticas de expressão
oral e escrita”, ou seja, eles a literatura está relacionada com experiências humanas que
a posterior são transformadas em arte, usando desta forma a expressão artística
destacando obras que usam recursos estilísticos diversos.
Miguel& Alves (2011:96), por sua vez, explicam que “a literatura é uma forma
particular de comunicação, porém muito antiga como o surgimento do homem. E como
qualquer outra forma de comunicação ela também carrega algumas propriedades como
um emissor (autor), uma mensagem (texto literário) e um receptor (leitor)”, esta
definição, é talvez uma das que melhor se assenta aos nossos dias no que diz respeito à
contextualização. Só existe literatura quando alguém se propõe em escrever algo. É
necessário que haja um emissor que é o autor do texto,uma mensagem que vai ser
passada, um leitor que participará deste processo como o receptor da mensagem que do
escritor concebeu. Esta forma de comunicação começa na mente de um artista, um
pensador, um escritor que passa por todo o processo desde a escrita, revisão, edição e
distribuição da obra, para terminar no resultado que consiste na venda e publicação da
obra, onde o leitor terá o acesso a mesma.
A literatura tem várias definições e pode ser analisada de várias formas, desde os
seus géneros literários, as suas correntes, pensadores, escolas e movimentos que durante
vários anos levantaram grandes debates, pesquisas e questões que nos são úteis até hoje,
mas há que se ter cuidado ao defini-la ou postular ideias, pois a arte é subjectiva e o seu
objectivo, qualidade, verdade e beleza variam grandemente do ponto de vista individual
4
de cada pessoa, é necessário não ofender, julgar ou banalizar aquilo que os outros
considerem arte.
5
literário que quer apresentar, estes modelos são considerados géneros literários.As obras
literárias são agrupadas em diferentesgénerose dentre eles, os mais estudados e
consequentemente mais conhecidos são: o género narrativo, o géneropoético-lírico, bem
como o género dramático. Os géneros literários são incansavelmente debatidos em
literatura, pois deles resultam os diferentes tipos de textos.
Segundo Samira & Jesus (2000:31) “género literário é o modo como se veicula a
mensagem literária” ou seja, os géneros literários são o resultado da forma como todo o
conteúdo literário é escrito.
Moreira & Pimenta (2012:20) explicam que “na produção de um texto literário,
valoriza-se a forma, na tentativa de explorar os recursos que o sistema linguístico
oferece nos planos fónicos, morfossintácticos, semânticos, prosódicos e lexicais”, ou
seja, o texto literário é de categoria abrangente, não se limita em tratar apenas de
algumas questões mas de todas, não só na escrita como de todo o sistema linguístico.
Os mesmos autores diferenciam ainda o texto não literário, fazendo saber que este
tipo de texto usa da verdade para informar, que a realidade é difundida sem o mínimo de
erros nem adornos que possam retirar o verdadeiro sentido da mensagem que se quer
passar. Um texto não literário é claro, não usa de recursos estilísticos e não tem
plurissignificância para que a mensagem seja passada devidamente, livros falando de
cálculos, revistas de notícias, jornais, receitas, dentre outros são considerados textos não
literários pois o seu foco não é entreter e não despertar aos leitores outros tipos de
sentimentos que não sejam os de passar a informação, não se usam de recursos
estilísticos nem adornos estéticos.
Após saber-se a diferença entre ambos os tipos de texto (literário e não literário)
tem-se mais propriedades para seabordar sobre osgéneros literários, estes que foram
desenvolvidos através de várias discussões que surgiram com o passar do tempo, cada
tipo de texto demonstra um género literário diferente, a maneira como os eventos são
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narrados e descritos, levam os leitores a diferenciarem o tipo do texto, esta
diferenciação acontece automaticamente pois cada género literário é singular e
apresenta as suas próprias características, tal como afirma Todorov no que diz respeito à
comédia e a tragédia, por serem textos de fácil distinção entre os outros,“é inútil falar
sobre os géneros comédia e tragédia pois sua obra é única, singular, vale pelo que tem
de inimitável por isso distingue-se das outras” (TODOROV, 1981:5). O autor enfatiza
que cada género literário era singular, e que a comédia e a tragédia são dois géneros que
diferem muito dos outros géneros.
Como a arte do bem escrever, a literatura abarca consigo elementos que a tornam
peculiar. Dos distintos géneros literários destacam-se o drama, a narrativa, o romance, a
comédia, tragédia, poesia, dentre outros. Os mais comuns e conhecidos são o género
narrativo e o poético, ambos são fortemente estudados principalmente pelas suas
características. Ogénero narrativo ao qual falaremos nas páginas a seguir, tem dentro de
si as personagens, o tempo, o espaço, o enredo ou sequência dos eventos, tudo para que
o leitor consiga se contextualizar no que é narrado, enquantono géneropoético
encontram-se a métrica, as rimas, a versificação, as figuras de estilo, dentre outras
características que tornam cada género literário diferente do outro.
Para Silva (2005:340), Platão no seu terceiro livro de “A República” defendeu que
“todos os textos literários são uma narrativa de acontecimentos passados, presentes e
futuros”,ou seja, é possível escrever sobre factos que já aconteceram, ou factos que
acontecem no momento em que a obra é escrita e com um pouco de imaginação é
possível também escrever-se sobre o que pode vir a acontecer, sem esquecer que com a
ficcionalidade toda a realidade criada é mais apetecível. Platão com o seu postulado,
afirma que a vida não passa de mera imitação, e estas imitações partem de factos
passados a possíveis acontecimentos futuros, tendo feito uma divisão em três partes de
como funciona uma narrativa, sendo de uma simples narração, a imitação ou mimese e
também a modalidade mista que envolve um pouco da simples narrativa e também da
imitação.
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ligam a ficção,a linguagem é a essência principal para a criação de um universo
ficcional dentro do texto narrativo.“A denominação de géneros literários, para os
diferentes agrupamentos das obras literárias, fica mais clara se lembrarmos que género
(do latim genus-eris) significa tempo de nascimento, origem, classe, espécie, geração. E
o que se vem fazendo, através dos tempos, é filiar cada obra literária a uma classe ou
espécie; ou ainda é mostrar como certo tempo de nascimento e certa origem geram uma
nova modalidade literária”. (SOARES, 2007:1).
Para que melhor se perceba o que foi descrito acima, vamos enumerar, explicar e
definir os elementos do género narrativo, pois deles dependem o sucesso do texto que se
quer escrito, para a construção de um texto narrativo participam alguns elementos que
são chamados de categorias da narrativa assim sendo, temos:
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As personagens: são os actantes, pois é através delas que as acções são
conduzidas, e é por meio delas de quem o narrador fala. Numa diegese de forma geral
nem todas têm o mesmo relevo, nem são descritas da mesma forma, elas também não
têm o mesmo processo de caracterização e nem são construídas da mesma maneira.
Assim sendo, a definição de uma personagem obedece a alguns parâmetros como
relevo, caracterização, processo de caracterização e composição.
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Tempo diegético: é aquele que ao longo da acção são narrados os
acontecimentos por sucessão cronológica dos factos datáveis com maior ou menor
importância.
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narrador que faz parte da história. Dentro da categoria narrativa pode ser classificado
três critérios: a presença ou participação, a focalização ou ciência e a posição.
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1.3. Estilística
A Estilística é uma parte da linguística que estuda as mudanças da língua e a sua
utilização no que diz respeito ao uso estético, ela tem como objecto de estudo a
literatura. No Dicionário de Linguística (1973:237), estilística é definida como sendo “o
estudo dos factos de expressão da linguagem organizada do ponto de vista de seu
conteúdo afectivo, isto é, a expressão dos factos da sensibilidade pela linguagem e a
acção dos factos de linguagem sobre a sensibilidade”, o mesmo Dicionário define ainda
estilística como “o ramo da linguística, que consiste, por tanto num inventário das
potencialidades estilísticas da língua (efeitos do estilo)”.
Tanto na primeira como na segunda definição, encontramos o termo chave
“linguagem”, esta que pode ser interpretada de várias formas, mas neste contexto a
linguagem relaciona-se com a forma como os autores expressam os sentimentos no
texto, tem a ver com a maneira como a estética é aplicada em cada parte do texto,
deixando o seu conteúdo mais bonito, com várias conotações e levando ao leitor a
plurissignificância que é de praxe quando se usam os recursos estilísticos.Dentro
daquelas que são as normas básicas da linguística e da literatura em particular, a
estilística tem o puro propósito de analisar a capacidade de provocar emoções usando
vários efeitos num determinado texto.
A estilística tem várias características que variam desde o diálogo, a maneira
como se acentuam algumas palavras de acentos regionais e dialectos, assim como no
uso da gramática, por exemplo a voz passiva ou activa, e no uso da língua em geral.
Quando se fala sobre estilística levantam-se vários debates porque muitos são os
autores que não gostam do termo “estilística” pois, para eles a própria palavra estilo já
possui por si só várias conotações que dificultam a definição do termo. Fowler
(1996:185) por sua vez, num tom contraditório aos seus colegas afirma que “no uso não
teórico, a palavra estilística faz sentido e são úteis referindo-se a uma série de contextos
literários (…) além disso, a estilística é um termo distintivo que pode ser usado para
determinar conexões entre formas e efeitos dentro de uma variedade particular da
língua”, em outras palavras, Fowler explica que embora alguns teóricos achem o termo
estilística um tanto irritante, para ele é nada mais do que necessário no que diz respeito
aos diferentes tipos de textos e contextos literários.
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CAPÍTULO II – VIDA E OBRA DE NGONGUITA DIOGO
O segundo capítulo deste trabalho faz a abordagem da vida e obra de Ngonguita
Diogo, autora da obra em estudo. Nele faz-se o resumo da obra, a caracterização das
personagens, a descrição do tempo e também do espaço da narrativa, o principal
objectivo deste capítulo é dar a conhecer mais sobre Ngonguita Diogo e a sua obra.
Segundo o Portal de Angola (2011), Ngonguita Diogo é mãe de três filhos e para
ela o ano de 2010 foi muito marcante na sua carreira pois, foi o ano em que foram
publicadas as suas primeiras obras. A escritora tem como destino preferido para férias a
cidade do Rio de Janeiro (Brasil), usa traje formal durante a semana e no fim de semana
usa traje desportivo. Ngonguita Diogo é conhecida pelo seu incessante trabalho de
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divulgação da literatura e da cultura angolana, tendo seus trabalhos estudados e ganhado
maior notoriedade e reconhecimento no Brasil.
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arduamente para realizar essa crença que a atingiu como um raio.Maria vivia com
Pascoal da Silva, o seu marido e Pai de Doutor, era tido como “Mister Angop” por toda
vizinhança devido ao seu linguajar peculiar e desconhecido, este facto fazia com que
Mister Angop, arrastasse multidões para o bar do seu vizinho Ernesto, onde bebia às
custas da mulher, pois não trabalhava há anos, e ninguém nunca soube porque razão
deixou o último emprego como carpinteiro, e até então recusava-se a procurar outro.
Este facto fez com que Maria também sofresse, pois era das pessoas da
vizinhança que já não a invejavam pelo filho por ter um futuro promissor. Este que não
olhava para nenhuma jovem do bairro, o seu coração já se encontrava ocupado por um
amor socialmente platónico,Hamilton tinha uma paixão por Patrícia sua colega de
Faculdade e de família abastada, ela sentia o mesmo, mas era impossível manterem uma
relação devido a grande disparidade que existia entre os seus níveis sociais. Enquanto
isso, Azarado era desprezado por todos e apenas Maria lhe era o ombro amigo, por
causa disso Mister Angop saiu de casa com medo de ser enfeitiçado pela mulher que
também era encarada como feiticeira por ter recebido Azarado em sua casa aquando do
início dos boatos.
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deixou de beber e resolveu voltar a estudar. Maria conseguiu contrapor o rumo das suas
vidas, mas tudo se deu graças ao gesto de gratidão do Azarado que lhe tinha oferecido
uma tenda com roupas vindas do exterior, isso gerou muito lucro e a mudança radical da
vida da família, particularmente do casal que apesar dos contratempos continuava a
amar-se. Hamilton Naki, o doutor terminou a licenciatura e encheu Maria de mais
orgulho, tanto que não aguentou as emoções e desfaleceu num desmaio de alegria.
Maria do Rangel passou por muitas humilhações e teve que sacrificar-se e passar
até fome para ver os homens da sua vida saudáveis, durante todo o seu percurso Maria
contoucom o apoio da sua fiélamiga Kolokosa.Maria do Rangel nunca desistiu, com o
pouco que ganhava das lavagens alimentava a sua família e graças a esse esforço
Hamilton formou-se com êxito. Fazendo juz ao nome, “Doutor” formou-se em
Medicina e a sua formação serviu de incentivo ao seu pai que parou de beber e decidiu
seguir uma formação em jornalismo visto que dominava muito bem a arte de falar.
Maria tornou-se numa empresária de sucesso graças a ajuda que teve do seu amigo
Azarado. Ela ficou toda orgulhosa de ver o seu filho formado e de saber que oseu
esforço não tinha sido em vão, e principalmente sentiu-se aliviada por não ter desistido
por causa das dificuldades que enfrentou ao longo da sua vida.
“Naquela noite o luar mostrava toda a sua fartura para contrapor a miséria do
bairro...” (AMR,p:41)
“Hoje não estóu no meu melhor, do pior não me afogo, porque sou espiritualizado
da mente...” (AMR, p:51)
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“Manhã de sábado, o dia estava calmo, os animais acordaram as suas fêmeas
para procriarem, a natureza ansiava por um mundo tranquilo...” (p:79, AMR)
“Eram seis horas, Maria gemia de dor quando chegou ao chafariz...” (p:112,
AMR)
“... Ela suspirou de saudade, lembrando-se da selha com tábua de madeira que a
mãe usava para lavar a roupa...” ( p:20, AMR)
“... Uma pequena viagem levou-a à um pequeno riacho onde a àgua corria
suavemente... Ao lado a avó Cessá batia uma outra peça de roupa molhada contra a
rocha... Velhos tempos, pensou ela.” (p:22, AMR)
“Lembrou-se com nostalgia da sua juventude, dos dias alegres em que ansiava
sofregamente o calor da luxúria de um “Mister Angop” galante, no vigor da
juventude...” (p:27, AMR)
Oespaçode uma narrativa é todo o lugar em que decorrem as acções, mas não se
aplica somente ao lugar onde se desenrola uma determinada acção, designa também um
ambiente, um meio social, cultural ou civilizacional. O espaço pode ser social e cultural,
geográfico ou físico, psicológico e também ambientes (que são o resultado dos espaços
fisicos, sociais, culturais e psicológicos. São os cenários importantes para retratar
situações, hábitos, atitude, valores etc.)
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no -Municipio do Rangel.“E tudo acontece em Luanda, uma cidade fascinante que
cheira à maresia...” (p:17, AMR)
-Bar do Ernesto. “No bar do Ernesto aonde Mister Angop se dirigiu depois de
concluida sua higiene matinal...” (p:50, AMR)
-No rio. “... Uma pequena viagem levou-a à um pequeno riacho onde a àgua
corria suavemente... Ao lado a avó Cessá batia uma outra peça de roupa molhada
contra a rocha... Velhos tempos, pensou ela.” (p:22, AMR)
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personagens não são descritas da mesma forma, não têm o mesmo processo de
caracterização e não são construídas da mesma forma, cada personagem desempenha
um papel importante no desenrolar da narrativa.
Personagens principais:São aquelas que têm o papel de maior relevância durante toda a
narraçãoe na obra em análise temos as seguintes personagens principais:
Mister Angop- Homem bonito, nos seus 42 anos, bastante desenvolto, quase
sempre insolente, mas querido pelos vizinhos e familiares, (p:22, AMR). Mister Angop
é uma das personagens principais da obra, é o pai de Hamilton e marido de Maria do
Rangel, aparece na obra em vários momentose é notado por sua forma peculiar de falar
que citamos: “Eu sabia! Só podia ser ele, inclusive observei-o na calada da noite a
surrupiarum mambo. Batata! Afinal todo aquele mambo que costuma nos payar é
caulado. O gajo afinal não é opulento? Magnificente? Abastado?” (p:52, AMR).Mister
Angop passava a manhã toda a ouvir o noticiário no rádio ou na televisão e algumas
vezes à tarde e a noite no bar do Erneto. Diferente da sua esposa Maria, Mister Angop
não gostava de trabalhar e nem de ensinar a sua mulher a expressar-se melhor, não
perdia a oportunidade de humilha-lá e insulta-lá por não saber falar correctamente.
Marido de Maria era carpinteiro, mas em pouco tempo de trabalho deixou o mesmo por
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não ter ignorado os insultos dos seus colegas e passou a ser sustentado pela mulher. Nos
tempos da juventude Mister Angop era feito como um galã de novelas porque todas as
mulheres do bairro o queriam, mas foi nos braços de Maria que se derreteu de amores
levando-a ao altar ela que também era a jovem mais bonita e cobiçada do bairro do
Rangel.
Personagens secundárias: Aquelas que têm um papel relevante mas que a sua
apresentação é limitada e não superior que às personagens principais. As personagens
secundárias servem normalmente como apoio às principais, e temos:
Patrícia- Bonita, alta e esbelta, contava com 22 primaveras, (p:81, AMR). Colega
e amiga de Hamilton por quem nutria um sentimento reprimido devido ao diferente
nível social entre ambos.
Tony- Jovem frágil, trémulo e inquieto. Muito ligado ás meninas,( p:40, AMR).
20
João- Depreciado pelo excesso de peso, descarregava a sua seiva nas prostitutas
oficiais da zona, (p:40, AMR).
Azarado- Estatura baixa, atitudes teatrais, não era um homem bonito, (p:86,
AMR).
Teixeira, Domingas, Sónia, Manuela, Agente Sousa, Coitada, Farta, Sófia, Dona
Marota, Avó Cessá, Doutor Mavungo, Velho Canequeiro, Zefa, Mana Rita, Joaquim,
Velha Samba, Miguel, Dona Paciência, Manuel, Joaquina, Luzia, Doutor Sebastião
Matateu, Louis Waskanky e Patroa da Kolokosa.
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CAPÍTULO III – ANÁLISE ESTILÍSTICA DA OBRA ACUDAM MARIA DO
RANGEL
O terceiro e último capítulo deste trabalho, apresenta a análise estilística da obra,
Acudam Maria do Rangel, da escritora Ngonguita Diogo. No universo da obra foram
encontradas as seguintes catorze (14) figuras de estilo: perífrase, comparação, paradoxo,
pleonasmo, personificação, antítese, hipérbole, ironia, metáfora, sarcasmo, redundância,
eufemismo, oximoro e disfemismo.
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Assonância: consiste na repetição de sons vocálicos em várias palavras gerando
harmonia melódica na frase.
Catarse: ocorre pela ausência das palavras mais adequadas, surgindo pela
semelhança da forma ou da função de seres, factos ou coisas.
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Exemplo: À ceia, duas batatas assadas.
Exemplo: E estudei
E não parei
E tudo de mim dei
E me formei, no fim.
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3.1.3. Nível semântico (do sentido)
Exemplo: Essa chama que alenta e consome, que é vida e que a vida destrói, como é
que ce veio atear, quando, aí quando se há-de apagar?
Metáfora: é uma figura que consiste em dizer que uma coisa é outra por haver
semelhanças entre elas.
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Exemplo: seus olhos eram duas esmeraldas.
Ironia: consiste em exprimir uma ideia dizendo o contrário e quase sempre com
intensão sarcástica.
1 – Perífrase: é uma expressão que designa os seres através de alguns dos seus
atributos.
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Exemplos: Vivo mortificado por ver-te conformada; o toque abstracto fez no olhar.
6 – Antítese: é a figura da retórica que consiste em exprimir numa mesma frase uma
oposição entre duas expressões ou dois pensamentos de sentidos contrario.
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- Não me mates num riso fervoroso (p:25).
Exemplo: Assim como Camões, não preciso de tinta pois já sou caneta e visto-me de
letras (p:30).
9 – Metáfora: é uma figura que consiste em dizer que uma coisa é outra por haver
semelhanças entre elas.
Exemplo: Vamos ter que colocar um cartaz aqui dizendo, homem perigoso disse uma
delas e todas começaram a rir. (p:109).
- Mister Angop dizia que ele devia estudar pelos três, uma vez que se podia
considerar privilegiado: Estudar numa das escolas da cidade era um apanageo para
poucos. (p:36).
28
13 – Oximoro: consiste em expressões que incluem algo de contraditório.
Exemplo: Até mesmo quando não se justificava nos colóquios com as amigas. (p:32).
Ngonguita Diogo traz na sua obra uma linguagem de fácil percepção com vários
tipos de figuras de estilo e uma abordagem muito actual e actuante no que diz respeito
as temáticas contidas na obra. A obra está repleta de exemplos não só de situações da
vida diária mas também de soluções para vencer as dificuldades, tendo o emprego das
figuras de estilo na obra tido o efeito desejado.
Além de abordar sobre a estilística da obra, uma das temáticas que mais chamou-
nos atenção foi o feitiço, que segundo o dicionário em uso neste estudo é definido como
“objectos a que se atribuem poderes mágicos, coisa feita por arte mágica ou feitiçaria.”
É comum os africanos viverem e ouvirem falar sobre misticismo, este é um facto que
aparece na obra Acudam Maria do Rangel bem no princípio desde que Velha Kasessa
entra em cena dizendo que Hamilton Naki era a reencarnação de uma grande pessoa.
Outro facto ocorreu quando Coitada foi ter com Kolokossa a amante do seu marido para
que ela terminasse a relação que ambos tinham, depois da confusão que se instalou,
Coitada dirigiu-se à uma casa de cura onde manifestou a sua vontade de ver-se livre de
Kolokossa, tal como se lê “Desejo-a fora do meu caminho, podes fazer o acerto. O que
queres? – O teu corpo, então livra-me dela, qual é o preço? – A tua alma (Eu pago,
desde que ela saia do meu caminho), (AMR, p:101).
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CONCLUSÃO
A análise estilística da obra Acudam Maria do Rangel, de Ngonguita Diogo” tem
grande importância porque ajuda a perceber alguns aspectos sobre a sociedade angolana
no que diz respeito às suas temáticas. Neste trabalho o objectivo principal foi o de fazer
a abordagem sobre a estilística da obra. Quanto a hipótese e as questões formuladas no
início da pesquisa foram respondidas, visto que a obra é de grande relevância no campo
social e cultural, tendo nela sido inventariadas as seguintes catorze (14) figuras de
estilo: perífrase, comparação, paradoxo, pleonasmo, personificação, antítese,
hipérbole, ironia, metáfora, sarcasmo, redundância, eufemismo, oximoro e disfemismo.
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SUGESTÕES
- Que mais estudos sobre as obras de Ngonguita Diogo e de outros escritores
angolanos sejam realizados.
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BIBLIOGRAFIA
DIAS M. Carlos, Introdução ao Texto Literário – Noções de Linguística e Literariedade,
Agosto de 1999, Lisboa didáctica Editora 15ª Edição.
PIMENTA, Hilário & MOREIRA,Vasco (2012). Literatura 12ª Classe. Porto: Porto
Editora.
WWW.Portal de Angola.com/O-outro-lado-da-gente-ngonguita-diogo
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