Você está na página 1de 16

Transformar as práticas para conhecê-las: pesquisa-

ação e profissionalização docente*

Gilles Monceau
Universidade Paris VIII

Resumo

A pesquisa-ação designa, na instituição científica, um tipo de


conduta de pesquisa que possui suas especificidades. No entan-
to, como mostram as diferentes histórias da pesquisa-ação, o
próprio termo tem conhecido períodos de maior ou menor no-
toriedade e os procedimentos que ele tem qualificado conhece-
ram também evoluções notáveis. Hoje em dia, pesquisa-ação e
pesquisa-intervenção são o mais das vezes apresentadas como
semelhantes e até mesmo confundidas. Na esfera do ensino, a
pesquisa-ação está ao mesmo tempo muito presente nos dispo-
sitivos de formação, de renovação e até mesmo de gestão, mas
é muito pouco considerada como procedimento de pesquisa.
Neste artigo, examina-se a maneira pela qual a pesquisa-ação
interfere com esse objeto de pesquisa constituído pelas práticas
docentes. Indago, particularmente, o fato de que o modelo da
pesquisa-ação (que mobiliza uma dimensão coletiva) sofra a con-
corrência, no processo de profissionalização do ensino, do mode-
lo do prático reflexivo (mais apoiado numa dimensão individual).
Se existe uma tradição da pesquisa-ação e se as características
desse procedimento continuam a influenciar a pesquisa em edu-
cação, isso se produz hoje em dia em um campo de pesquisa em
vias de redefinição que inclui as pesquisas socioclínicas e os tra-
balhos daqueles que se autodenominam práticos-pesquisadores.
As transformações que uma pesquisa pode gerar em dado espa-
ço não esgotam seus objetivos, mas ao contrário, permitem a
produção de conhecimentos que possuem suas especificidades,
em particular a de explorar dinâmicas sociais mais do que situ-
ações supostamente estáticas.

Palavras-chave

Pesquisa-ação – Procedimentos de pesquisa – Prática docente –


Correspondência:
Gilles Monceau Profissionalização docente.
2, Rue du Pilori
60.820 Boran sur Oise – França
e-mail: gilles.monceau@wanadoo.fr

*
Tradução de Lólio Lourenço de Oli-
veira.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 467


Transforming the practices to know them: action
research and teaching professionalization*

Gilles Monceau
Universidade de Paris VIII

Abstract

Within the scientific institution, action research designates a type


of conduct with its own peculiarities. However, as the different
histories of action research demonstrate, the term itself has seen
periods of greater or lesser popularity, and the procedures it has
qualified have also experienced remarkable evolutions. Nowadays,
action research and intervention research are largely presented as
similar and even confused. In the universe of teaching, action
research, whilst vividly present in the education, renovation and
even management devices, is seldom regarded as a research
procedure.
This article examines the way in which action research interferes
with this object of research constituted by the teaching practices.
We question, in particular, the fact that the model of action
research (which mobilizes a collective dimension) suffers the
competition, in the process of professionalization of teaching, of
the reflective practitioner model (more based on an individual
dimension).
If there is a tradition of action research and if the characteristics of
this procedure continue to influence the research on education,
this happens today in a field of research that is about to be
redefined, including the socio-clinical studies and the work of
those researchers that call themselves practitioners-researchers.
The transformations that a research can generate in a given space
do not exhaust its objectives; on the contrary, they allow the
production of knowledges with their own peculiarities, especially
that of exploring social dynamics more than supposedly static
situations.

Keywords

Contact: Action research – Research procedures – Teaching practice –


Gilles Monceau Teaching professionalization.
2, Rue du Pilori
60.820 Boran sur Oise – França
e-mail: gilles.monceau@wanadoo.fr

* Translated of the Lólio Lourenço


de Oliveira.

468 Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005


Sem dúvida, se propuseram que eu parti- em que estão envolvidos. É evidente que a pes-
cipasse deste número de Pesquisa e Educação, quisa-ação tem efeitos de intervenção e a inter-
isso se deve a que meus solicitantes situaram meu venção produz conhecimentos...
procedimento de pesquisa dentro do conjunto de Em artigo publicado na revista de socio-
trabalhos globalmente designados como pesqui- logia L’Homme et la société (Monceau, 2003),
sa-ação. Não só não tenho dificuldade alguma distingue-se quatro formas que a pesquisa
em aceitar essa classificação, como ainda eu pró- socioclínica poderia atualmente assumir quanto
prio muitas vezes utilizei explicitamente o termo ao trabalho dito de campo: socioanálise, acom-
pesquisa-ação para qualificar alguns de meus panhamento de equipes de trabalho, investigação
trabalhos socioclínicos. Para outros, preferi utili- socioanalítica e análise institucional de práticas
zar a categoria de intervenção. Tentarei mostrar, profissionais. Observei que esses dispositivos não
no decorrer deste trabalho, que a designação pes- eram adequados aos pesquisadores que relacio-
quisa-ação não passa de uma possibilidade en- nam seus trabalhos ao quadro da análise institu-
tre outras de qualificar, na instituição científica, cional. O procedimento socioclínico institucional
um gênero que possui especificidades que é im- integra a análise da dinâmica institucional à aná-
portante precisar. lise das situações que constituem o objeto pri-
Pesquisa-ação e intervenção não se ex- mordial do trabalho. No vocabulário da análise
cluem (Dubost e Levy, 2002), elas qualificam a institucional (Lourau, 1970, 1997; Lamihi;
maneira pela qual se constrói e se põe em Monceau, 2002), dizemos que se trata sempre de
movimento o dispositivo de trabalho por meio ampliar o campo de intervenção para o campo da
do qual colaboram o(s) pesquisador(es) e os análise: o que se produz numa unidade social
demais que, conforme o caso e o quadro teó- qualquer não é unicamente o produto da dinâ-
rico, chamamos de práticos, clientes, parceiros, mica local e das interações entre indivíduos. As-
atores, sujeitos, indivíduos ou pessoas. De parte sim é que a história de um estabelecimento ou
da pesquisa-ação, a colaboração se coloca de as transformações sociopolíticas, em andamento
saída em torno de um problema para cujo tra- na sociedade que o cerca, atuam sobre as práti-
tamento se convoca um pesquisador interessa- cas profissionais mais comuns.
do. O fim comum é a produção de conheci- Neste artigo, voltarei ao modelo da pes-
mentos novos e até mesmo de instrumentos quisa-ação, identificando as fontes a que ele se
úteis aos práticos. Porém, como assinala a li- refere mais freqüentemente. Tentarei assim es-
teratura relativa à pesquisa-ação publicada na tabelecer as características desse procedimento
França a partir do início da década de 1980 e de problematizá-lo na esfera das práticas do-
(Dubost, 1983), práticos e pesquisadores con- centes. A evolução do status e da utilização da
servam suas respectivas preocupações. Os co- pesquisa-ação relativamente às práticas e à for-
nhecimentos produzidos pela colaboração en- mação dos docentes deve ser relacionada com
tre eles não são da mesma ordem para um e evoluções mais amplas das instituições científi-
para o outro, não têm o mesmo uso e não são cas, por um lado e, por outro, da formação dos
validados do mesmo modo. docentes. Observemos, de saída, que o movi-
De parte da intervenção, o pedido refe- mento de profissionalização do ensino, que to-
re-se de início à análise em situação freqüente- mou impulso na Europa na década de 1990,
mente por ocasião duma crise em um estabele- traduz-se por uma valorização da postura (in-
cimento ou uma organização ou, ainda, de um dividual) do prático reflexivo (Schön, 1983) na
mal-estar mais difuso sentido por profissionais. formação inicial dos docentes, às custas do da
Dessa intervenção de intenção analítica, espera- pesquisa-ação (coletiva). Essa evolução, no sen-
se que provoque uma renovação da percepção tido de uma individualização da formação, for-
que os indivíduos possuem da realidade social taleceu-se com os resultados das pesquisas so-

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 469


bre os efeitos respectivos dos denominados efei- do PS. Para Devine e Kellogg, é uma fase es-
tos-escola e dos efeitos-professores (Bressoux, sencial, aquela em que se leva a cidade a
1994), em favor do segundo. conhecer-se a si mesma [...]. Eles também
Certamente podemos ver nisso um elo desenvolvem uma verdadeira estratégia de
com a afirmação da individualidade em nossas comunicação a fim de provocar o máximo de
sociedades (Ehrenberg, 1991; Kaufman, 2004). efeitos como retorno. Em outras palavras, o
Os dispositivos de análise das práticas profissi- conhecimento produzido deve voltar para a
onais (Blanchard-Laville; Fablet, 1996; Fumat; realidade concreta que descreve, para ser um
Vincent; Richard, 2003), que se difundiram du- apoio a mudanças. Pode-se falar, no pleno
rante alguns anos na formação de docentes sentido do termo, de pesquisa-ação. (p. 100)
como meios de formar práticos-reflexivos, são
sem dúvida mais suportáveis institucionalmente Savoye (1994) descreve também a exten-
do que a pesquisa-ação, mais coletiva, portadora são que terão as pesquisas sobre a cidade a
de alguns traços militantes adquiridos no cor- partir do modelo Pittsburgh. A elaboração des-
rer de sua história. Tendendo a remeter o indi- ses dispositivos reúne, a longo prazo, o estu-
víduo à análise de suas dificuldades e contradi- do de documentos, as observações diretas e a
ções próprias, os novos dispositivos poderiam difusão dos resultados (exposições, conferênci-
fazer passar para segundo plano as dimensões as, colóquios...) em nível local e nacional. Ob-
mais institucionais. No entanto, desde que ele serva-se que a difusão dos resultados integra,
seja conduzido dentro de uma perspectiva ana- em diversos graus, conforme os trabalhos, o
lítica aberta às implicações institucionais, esse que hoje denominamos comumente de restitui-
tipo de trabalho pode, também, resistir à sua ção, isto é, a comunicação dos resultados aos
instrumen-talização (Guillier, 2003). que são o objeto da pesquisa, e isso não só no
No curso dessas evoluções, os procedi- final do trabalho. Freqüentemente, a própria
mentos de pesquisa-ação viram-se designados população da cidade se associa ao trabalho de
para intenções operacionais às quais geralmen- pesquisa. Ainda que se trate, em primeiro lugar,
te não se reconhece que possam produzir co- de pessoas que exercem responsabilidades sobre
nhecimentos descontextualizáveis. A formação diversos títulos e de profissionais do trabalho
continuada de docentes recorre assim a esse social (setor profissional em fase de estrutura-
procedimento, da mesma maneira que inúme- ção), a base participativa pode chegar a atingir
ros estudos nos quais se trata, ao mesmo tem- um milhar de pessoas. Trata-se, pois, verdadei-
po, de conhecer e de envolver agentes de cam- ramente de uma orientação que, por meio da
po em uma reflexão comum e numa transfor- participação, busca produzir conhecimentos
mação das práticas individuais e coletivas. que sejam ao mesmo tempo comunicáveis nos
ambientes de pesquisa, junto aos que tomam
Origens e características da as decisões políticas e junto à própria popula-
pesquisa-ação ção. Ao colaborar com a pesquisa, os partici-
pantes estão antecipadamente comprometidos
Segundo Antoine Savoye (1994), os social com as conseqüências a serem tiradas dos re-
surveys norte-americanos do início do século XX sultados que ela produzirá.
já correspondiam às características do que, muito A institucionalização desse tipo de inves-
mais tarde, será denominado pesquisa-ação. Assim, tigação na gestão dos problemas urbanos norte-
escreve ele sobre o Pittsburgh Survey (PS): americanos se dará paralelamente a seu desenvol-
vimento nos meios universitários. Entre as duas
[...] a popularização dos resultados da pes- esferas (política urbana e pesquisa universitária),
quisa não constitui a parte menos original continuarão a se produzir interações que alimen-

470 Gilles MONCEAU. Transformar as práticas para conhecê-las: ...


tarão polêmicas do mesmo tipo das que continu- dores sendo iniciados na pesquisa) e implicadas
amos conhecendo, hoje em dia, a propósito da (os pesquisadores reconhecendo que eles pró-
cientificidade de determinados procedimentos. prios ocupam um lugar no coletivo que entra
A action research de Kurt Lewin é refe- num procedimento de pesquisa). O próprio
rência obrigatória para tudo o que se diga Lewin abriu perspectivas de trabalho muito fér-
sobre a pesquisa-ação, pois ela visa à transfor- teis ao articular pesquisa, transformação social
mação dos comportamentos. Dentro dessa ló- e formação dos indivíduos. Michel Liu (1997)
gica, esse pesquisador mostrará que, para avalia que Lewin efetuou a transição entre duas
otimizar essa transformação no sentido preten- metodologias: a classicamente experimental do
dido, é necessário obter a participação dos laboratório e a da pesquisa-ação. Porém, os tra-
sujeitos do processo de mudança e que a or- balhos de Elton Mayo, na década de 1920, já
ganização de discussões coletivas centradas no haviam transportado o laboratório de pesquisa
problema a resolver constitui um procedimen- para a empresa de produção industrial e isso de
to de bons resultados. O trabalho realizado por maneira duradoura. Madeleine Grawitz (1996),
Lewin durante a Segunda Guerra Mundial, cuja por outro lado, assinala que Moreno afirmava
finalidade era modificar o comportamento ali- também, secundando Marx, que não se pode
mentar das mães de família norte-americanas, conhecer as estruturas de uma sociedade a não
é bem conhecido. Esse procedimento não ex- ser tentando modificá-la.
cluía uma produção de conhecimentos relati- Acompanhando George Lapassade (1991),
vos aos mecanismos de influência uma vez que, Jean Dubost e André Lévy (2002), digamos que
desde seus trabalhos sobre a dinâmica de pe- as práticas de intervenção e as práticas de pes-
quenos grupos, Lewin postulava ser necessário quisa-ação participam de uma mesma dinâmica
atuar sobre a realidade para conhecê-la. Os par- em que se integram psicologia social, psicosso-
ticipantes da action research não estavam pre- ciologia, sociologia e análise institucional. Elas
ocupados com os resultados científicos da pes- enfrentam desafios semelhantes. As maneiras
quisa, que ficavam como uma metaprodução, pelas quais seus protagonistas pensam sobre elas
que interessava ao pesquisador e à comunida- freqüentemente se cruzam e suas origens se
de científica. Os sujeitos não se apropriavam mesclam. Assim, sempre encontramos, em inúme-
desse saber científico, mas de um outro (no ras genealogias da pesquisa-ação e das práticas
caso, a necessidade e as maneiras de cozinhar de intervenção psicossociológica e sociológica, os
a carne de segunda) previsto para eles. Lewin nomes de Lewin, Lippit, Moreno, Mayo, Alinsky,
levava avante, assim, em grande escala, os resul- Bion, mas também, na França, referências às pu-
tados de seus trabalhos sobre a dinâmica dos blicações dos movimentos leplaysiano, fourierista,
grupos e os mecanismos de influência. As ciên- prudoniano e marxista.
cias sociais estavam, na época, ocupadas em Portanto, é também do lado dos pensa-
fundamentar sua legitimidade sobre o modelo dores políticos que se buscam atualmente as
das ciências ditas exatas. Lewin e seus colabo- origens. Com muita freqüência, encontramos os
radores estavam muito influenciados pelo pro- nomes de Frédéric Le Play e de Karl Marx nos
cedimento experimental, ainda que também trabalhos franceses dedicados à pesquisa-ação
pudessem trabalhar fora dos laboratórios. Os (Resweber, 1995; Barbier, 1996; Grawitz, 1996).
indivíduos inscritos nos protocolos de pesqui- Em cada um desses dois ancestrais, pode-se
sa não eram, afinal, senão variáveis dentre ou- identificar uma vontade de intervir sobre o
tras. No entanto, todos os trabalhos desse tipo estado da sociedade em que vivem mediante a
alimentaram em grande medida as práticas de realização de investigações de tipo sociológi-
pesquisa que, mais tarde, se denominariam co. O primeiro deles privilegiou a monografia
partici-pativas (os participantes não-pesquisa- de famílias operárias e proporcionou o

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 471


surgimento de engenheiros sociais que podiam cedimentos e suas epistemologias e até mesmo
agir pela paz social. Bernard Kalaora e Antoine a suas ideologias. Os pesquisadores que contri-
Savoye (1989) puderam, assim, mostrar como, buíram para a construção dessa área, que por
ao difundir nas práticas profissionais dos mem- mim designo como socioclínica (Monceau,
bros da sociedade de Le Play, a ciência social 2003), abriram perspectivas de trabalho que
do primeiro autor pôde tornar-se ciência apli- não podiam afirmar-se enquanto as ciências
cada já no final do século XIX. O segundo, sociais adotassem os critérios de cientificidade
Marx, adotará a técnica do questionário junto das ciências experimentais. A sociologia é,
aos operários para melhor conhecê-los, mas muito particularmente, o lugar em que se deu
também para neles produzir uma tomada de essa afirmação com o surgimento das sociolo-
consciência. Um situa-se do lado do catolicis- gias de intervenção, clínica e prática. A psico-
mo social e o outro será a origem de um mo- logia e a psicossociologia, sob influência da
vimento político cuja posteridade conhecemos. psicanálise, haviam anteriormente aderido a
O posicionamento dos pesquisadores essa evolução. O horizonte clínico (Herreros,
pode assim ser o de colocar seu saber a serviço 1998) é, a partir daí, tangível nessas diferen-
de uma experimentação social ou de uma mu- tes disciplinas e seus procedimentos de pesqui-
dança social mais ampla. Há então comprome- sa continuam a ser igualmente discutidos.
timento do pesquisador na ação de transforma- Nessa área, de contornos imprecisos por
ção social (relações sociais), podendo esse com- serem transdisciplinares, que hoje em dia pare-
prometimento traduzir-se de diversas maneiras: ce adotar com mais facilidade o qualificativo de
desde a simples constatação de que o pesqui- clínico, para designar todos os seus trabalhos ou
sador está envolvido na dinâmica social que parte deles, encontraremos na França os nomes
estuda, até seu comprometimento a serviço de de Dubost, Lévy, Touraine, Crozier, Friedberg,
objetivos preexistentes à sua chegada ao cam- Lourau, Lapassade, Sainsaulieu, Enriquez, de
po ou, até mesmo, de objetivos que ele leva para Gaulejac. Esses pesquisadores, cujas opções (in-
lá (Lourau, 1977). Quer esses objetivos sejam de tervenções psicossociológica e sociológica, aná-
início os de um financiador (tomador de deci- lises estratégica e organizacional, sociologias
sões políticas, empreendedor, dirigente de orga- prática e clínica) têm estado muitas vezes em
nismo ou coletivo profissional ou militante) com conflito desde há quarenta anos, contribuíram,
quem o pesquisador negociará um contrato ou, pela ação de suas divergências, para a constitui-
de início, os do próprio pesquisador que deve- ção de uma área dentro da qual podemos atu-
rá encontrar parceiros para realizá-los, a tensão almente pensar as práticas de pesquisa, subme-
entre as intenções heurísticas e as intenções tendo-nos menos a critérios que fixariam a
praxiológicas não é menor. Essa tensão assume priori um limite entre ciência e não-ciência, do
diferentes configurações segundo as situações e que à exigência de pensar sua prática de pesqui-
a análise destas e participa tanto do processo de sa à medida em que ela se desenrola. Isso não
transformação quanto do processo da produção exclui que as diferentes fases do trabalho sejam
de conhecimentos. planejadas e que se exerça uma vigilância toda
As perspectivas metodológica, teórica e especial sobre as interferências entre os desafi-
axiológica são, pois, bastante diversas, talvez os das diferentes partes envolvidas (Gaulejac;
até mesmo divergentes, e a fronteira contem- Roye, 1993; Uhalde, 2001; Vrancken; Olgierd,
porânea entre pesquisa-ação e intervenção já 2001; Herreros, 2002)
não é o ponto mais urgente para se pensar. Pa- A sociologia clínica norte-americana
rece-me até que se coloca, em segundo plano, (Rebach; Bruhn, 1991; Fritz, 1993; Bruhn;
a necessidade de uma análise mais penetrante Rebach, 1996) retoma o mesmo tipo de questio-
relativa às condições de realização desses pro- namento, se bem que, desde a década de1930,

472 Gilles MONCEAU. Transformar as práticas para conhecê-las: ...


desenvolve sua história dentro da sociologia, da pelos atores. Pesquisadores vindos do exterior
qual se apresenta como subdisciplina. Nela, as registram mais facilmente esses escorregões no
referências a Lewin são raras, em contraposição correr do tempo.
aos sociólogos de Chicago, mais freqüentes. Do Se o sociólogo contribui para produzir a
ponto de vista da reconstrução histórica, as so- sociedade que ele analisa, nela difundindo suas
ciologias de intervenção, prática e clínica euro- teorizações (Herreros, 2002), a pesquisa-ação
péias e canadenses (em particular francófonas) produz localmente esse fenômeno de maneira
parecem mais abertas à transdisciplinaridade do muito mais direta.
que a corrente norte-americana anglófona. Nes- A leitura de inúmeras publicações que se
ta, a história das ciências sociais se escreve de propõem construir a história da pesquisa-ação
modo diferente. não pode, pois, senão convencer que atual-
Para os participantes (profissionais do mente seria inútil querer confinar essa orien-
ensino, por exemplo) demandantes de uma pes- tação de pesquisa dentro de um quadro disci-
quisa-ação, o objetivo é, pois, produzir conhe- plinar ou ideológico.
cimentos que tenham alguma utilidade para a Na Europa, e particularmente na França,
ação, a partir dos problemas colocados pela é o próprio termo pesquisa-ação que hoje está
prática cotidiana ou, ainda, de um questio- desvalorizado no mundo da pesquisa, sem dúvi-
namento sobre a origem de certos dispositivos da devido à sua grande proximidade com o mun-
ou modos de pensamento próprios de certos do dos práticos e com seus problemas. Assim,
estabelecimentos ou instituições. Para os pes- recorre-se cada vez mais freqüentemente aos
quisadores, a intenção de conhecimentos situa- termos intervenção e clínica que, desse modo,
se além do espaço do estabelecimento ou do voltam a encontrar um valor de uso. Se se trata
dispositivo em que se realiza o trabalho. Eles de um ressurgimento (Savoye, 1999), devem-se
perseguem um itinerário de pesquisa de largo examinar suas contingências. No cruzamento de
fôlego, respondendo a diferentes demandas lo- diversas filiações e com preponderância socioló-
calizadas. Os resultados obtidos num dado es- gica e psicossociológica (mas também marcadas
paço são para reunir e confrontar com outros. por determinadas correntes do pensamento psi-
No desenrolar de uma pesquisa-ação, cológico), as diferentes práticas de pesquisa-ação
como no de uma intervenção que se desenvol- influenciaram grandemente e são partes integran-
ve no correr do tempo, produzem-se transfor- tes de uma pesquisa socioclínica mais ampla, que
mações de amplitudes variáveis. Muitas vezes, pode ser identificada como reunindo (não exclu-
é difícil vinculá-las de maneira clara à reflexão sivamente) as seguintes características:
coletiva que é elaborada simultaneamente. De
fato, há uma interferência permanente entre o • Trabalho de encomenda e de demandas
que se produz nas sessões de trabalho, na re- que são consideradas e exploradas como da-
dação dos relatórios parciais ou na elaboração dos a serem construídos e que informam so-
de ferramentas e o que se produz na prática de bre a dinâmica da situação.
uns e de outros. Determinadas maneiras de • Participação dos práticos no procedimento
propor os problemas, a liberdade que se toma de diversos modos. Aí encontram eles o que é
de enunciar análises ou soluções, a possibilida- de seu interesse e exprimem suas exigências.
de de fazer aproximações entre situações dis- • Trabalho dos analistas que, no dispositivo
tantes no tempo ou no espaço (particularmente da pesquisa, dão acesso a desafios que não
entre espaços separados pela divisão funcional se expressam comumente. Na condução do
do estabelecimento ou da organização) dão próprio dispositivo de pesquisa, as resistênci-
origem a evoluções nos discursos e nos atos, as às transformações, à participação, à difu-
muitas vezes pouco perceptíveis imediatamente são de informações e de textos são assim

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 473


bons indicadores das contradições ativas na • Dando-se atenção aos contextos institucionais
dinâmica institucional. As experimentações de que provêm, de um lado, os pesquisadores e,
da intervenção socioanalítica oferecem inú- de outro, os demais participantes, o trabalho se
meros elementos metodológicos para esse desenrola em uma interferência institucional.
fim (Monceau, 1996, 2001). Essa interferência é que produz efeitos de trans-
• Análise das transformações que se produ- formação e de conhecimentos. Estes, denomina-
zem à medida que o trabalho avança. Por dos resultados no vocabulário da pesquisa.
haver transformações, interações pesquisado-
res/práticos e até mesmo perturbação da Os trabalhos de pesquisa, que apresentam
prática comum pelo dispositivo da pesquisa é as características acima enumeradas, são sempre
que a compreensão progride. Essa opção não pouco legítimas na instituição científica.
é comum a todas as práticas de pesquisa que Jacques Ardoino (1983) escrevia, há mais de
se atualizam por imersão na realidade social. vinte anos, a propósito da pesquisa-ação, que
Esta não é nem a perspectiva etnográfica isso sem dúvida estava ligado à ausência de uma
nem a da maior parte dos procedimentos de estratégia clara de contribuição para o desenvol-
observação que sejam participativos. vimento dos conhecimentos. Parece-me que essa
• Instauração de modalidades de restituição, crítica continua válida, como se os pesquisado-
que devolvem aos parceiros do campo, sob res que trabalham segundo metodologias, que
modalidades e temporalidades diferentes, os associam parceiros do campo, houvessem admi-
resultados provisórios do trabalho. Essa prá- tido que seu ar de legitimidade devia restringir-
tica da restituição produz oportunidades de se aos meios de comunicação dos ambientes
aprofundar ou de voltar a discutir as análises profissionais com os quais trabalham e que ti-
e de reconsiderar a orientação do próprio vessem pouco a dizer nos círculos da pesquisa
dispositivo de trabalho. reconhecida. Basta considerar que existe aí um
• Trabalho das implicações primárias (no dis- ostracismo ou, então, não se deve admitir tam-
positivo e em seus desafios locais), das impli- bém uma certa falta de voluntarismo para fazer
cações secundárias do pesquisador (na insti- reconhecer ao mesmo tempo a especifi-cidade
tuição científica) e dos demais participantes desses trabalhos e suas contribuições para o
(em suas respectivas instituições). Para as pri- debate científico.
meiras, trata-se particularmente das relações
que se estabelecem entre os parceiros. Para as Pesquisa e pesquisa-ação
últimas, escolhas teóricas e metodológicas e
questões que o pesquisador importa para esse A ciência (no singular) da educação
campo em particular. Observemos que hoje (1882-1914), instituída na França sob a Tercei-
em dia esse trabalho das implicações dos pes- ra República, não desenvolveu colaboração di-
quisadores inscreve-se comumente como uma reta com os docentes (Gautherin, 2002). Estes
necessidade nos trabalhos de campo a que eram, quando muito, auxiliares dos pesquisado-
nos referimos anteriormente. As resistências res. Assim, os universitários titulares das cadei-
ao conceito de implicação, identificadas por ras de ciência da educação comportavam-se
René Lourau (1996) ainda em 1996 parecem sobretudo como pedagogos no sentido da épo-
ter cedido lugar a um relativo consenso. ca, isto é, produtores de princípios pedagógicos
• Intenção de produção de conhecimentos à imagem de um Rousseau, que podia dissertar
locais, mas também mais gerais, em contato sobre a educação ao mesmo tempo dizendo-se
com problemáticas próprias da comunidade inapto para pôr em prática suas reflexões. Eles
dos pesquisadores para além do terreno par- deviam orientar a ação dos docentes mediante
ticular que constitui o objeto do trabalho. princípios fundados na razão, não submetidos à

474 Gilles MONCEAU. Transformar as práticas para conhecê-las: ...


experiência e à avaliação. Essa postura era dife- zação e devessem assim apagar seu aspecto de
rente da que, na mesma época, construía Alfred diretividade.
Binet ao trabalhar numa psicologia experimen- A transformação (modernização) dos mo-
tal (Hocquard, 1988) com vistas a aplicações dos de administração tem, com efeito, levado a
pedagógicas. Quando as ciências da educação evoluções léxicas e práticas. A mudança é sem-
(no plural) foram instituídas universitariamente pre impulsionada a partir do topo, mas ela bus-
na França, a partir de 1967, a relação dos uni- ca sua atualização em diversas incitações de que
versitários com as práticas educativas passou a participa a oferta de acompanhamento. Dissimu-
ser diferente. As ciências da educação estão lando-se por trás do acompanhamento ou dos
atentas para não se deixar reduzir ao status de acom-panhadores, o poder é menos identificável
uma ciência da prática, fazendo das práticas e a percepção que os profissionais possuem dos
educativas um objeto de pesquisa. desafios de sua missão fica assim cada vez me-
A pesquisa-ação conheceu então um rela- nos nítida. Sempre definidas nacionalmente, as
tivo êxito, particularmente na França, até os anos políticas de educação já não são, portanto, sim-
de 1970-1980. De fato, durante esse período, ela plesmente aplicadas em um movimento simples
foi mobilizada como uma metodologia privilegi- que vai do topo para a base, passando por graus
ada na pesquisa pedagógica. Grupos, movimen- intermediários cujos papéis seriam claramente
tos pedagógicos, mas também o Instituto Naci- definidos. Ao contrário, essa verticalidade, que
onal da Pesquisa Pedagógica (INRP) contribuíram hoje achamos muito burocrática, é substituída
para vulgarizar o termo (Hugon; Seibel, 1986, por uma horizontalidade que faz surgir papéis de
1988). Os docentes que a ela se dedicavam ti- animação, coordenação, apoio, sustentação, aju-
nham em comum querer pensar e transformar da..., que constituem o campo do acompanha-
suas práticas e demandavam contribuições dos mento e que freqüentemente utilizam procedi-
resultados da pesquisa. Práticos inscrevendo-se mentos com as características da pesquisa-ação,
num procedimento de pesquisa coletiva e enrai- mesmo quando não adotem esse nome.
zando-se na problematização de suas práticas Essa modificação dos modos de gestão,
profissionais tornavam-se pedagogos, em pleno na qual também se pode ver uma reforma per-
sentido, chegando a uma teorização de suas prá- manente da organização escolar pela vontade
ticas. Os docentes que participavam desses traba- de integrar a inovação ao funcionamento or-
lhos de bom grado diziam-se pesquisadores. dinário, poderia ser ilustrada por uma tentati-
Hoje, a pesquisa-ação mostra-se princi- va (a Carta do século XXI) que, em 2000, viu
palmente como um meio de formação e de o Ministério francês da educação nacional pro-
mudança participativa. Seu uso depara-se com por que as escolas primárias fossem acompa-
evoluções políticas de fundo, participando de nhadas por pesquisadores na elaboração e na
um movimento que vê aumentar a demanda de realização de seus projetos pedagógicos. Essa
acompanhamento individual e coletivo. O êxi- iniciativa, a que estive associado, fracassou
to das práticas de acompanhamento (pelo devido a uma falta de continuidade na vonta-
menos o aumento das demandas formuladas de política, mas também pelo despreparo dos
nesses termos) parece também muito ligado à corpos hierárquicos intermediários. A propósi-
modificação das relações hierárquicas que im- to dessa pesquisa-acompanhamento, Marc Bru
plicam as políticas de descentralização, de (2002), especialista em pesquisa sobre as prá-
autonomização dos estabelecimentos e de ticas docentes, escreve que os pesquisadores
contratualização. Em diferentes casos, o termo em ciências da educação não podem deixar de
acompanhamento substitui hoje o termo pilo- sentir-se envolvidos e desenvolve o interesse
tagem, como se as relações hierárquicas esti- que existe em aproximar-se assim das situações
vessem em um processo contínuo de eufemi- concretas e dos contextos em que eles (os

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 475


docentes) trabalham. O mesmo autor exorta, análise crítica da institucionalização dos dispo-
contudo, os pesquisadores à prudência quan- sitivos socioclínicos nos quais se cruzam tempo-
to à distinção entre os papéis deles próprios e rariamente práticos da educação e práticos da
dos docentes e indica a necessidade de modos pesquisa. A problemática da implicação do pes-
diferenciados de validação dos resultados de quisador (Lourau, 1994) não pode senão estar
pesquisa conforme a diversidade do modo integrada a isso. O que, conseqüentemente, leva
como são produzidos. à análise institucional das políticas estatais so-
Nessas práticas de acompanhamento de bre cujos efeitos trabalhamos na particularida-
práticos por pesquisadores, como na experiên- de de cada campo.
cia mais duradoura do apoio à inovação, atu- A atual desvalorização, na instituição
aliza-se um modo de gestão da mudança que científica, dos procedimentos inspirados na
integra procedimentos de pesquisa-ação, cada pesquisa-ação faz-se dentro de uma divisão
vez menos assim denominados. A propósito muito discutível entre pesquisa fundamental e
dessa adoção da pesquisa-ação para auxiliar as pesquisa aplicada. A análise crítica de trabalhos
equipes docentes inovadoras, Françoise Cros de pesquisa que não dependem de um elo de
(1997), especialista em inovação, observa aliás cooperação com o campo, mas que são man-
que inovação e pesquisa-ação são ambas con- tidos por créditos do Estado, pode do mesmo
sideradas bastardas. Ela sugere que a inovação modo questioná-los quanto à sua independên-
é um objeto de pesquisa tão pouco considerado cia científica (Poupeau, 2003). A cientificidade
na comunidade científica quanto o procedi- é um problema antigo e discutido que não se
mento da pesquisa-ação. A dificuldade dos pes- resolve pelo fato de ser essa pesquisa financi-
quisadores para fazerem reconhecer, por seus pa- ada pelo Estado, salvo se se vir nesse financi-
res na França, a legitimidade dessas práticas de amento uma espécie de selo científico.
pesquisa, antes, os afastaram deles, enquanto, ao Tomemos o exemplo de um importante
mesmo tempo, a pesquisa-ação se institucio- contrato de pesquisa com financiamento públi-
nalizava no seio da educação nacional, como co relativa à desescolarização e cujo comitê
mencionamos anteriormente. A tendência dos científico era presidido por Dominique
pesquisadores foi abandonar esse campo aos for- Glasman. Esse pesquisador em ciências da edu-
madores de docentes. Os universitários, que tra- cação publicou um livro difundindo os resul-
balham nos institutos de formação de profes- tados das pesquisas realizadas mediante esse
sores (IUFM) e que, portanto, são simultanea- contrato. Glasman (2004) mostra, na primeira
mente pesquisadores e formadores de docen- parte do livro, que se as origens estatais do fi-
tes, investiram ao máximo nessas formas de nanciamento não determinam diretamente os
trabalho tanto quanto nos dispositivos de aná- resultados das pesquisas, embora se espere que
lise das práticas. Será necessário acrescentar estes instruam as decisões políticas, a implica-
que, na França, a pesquisa produzida nesses ção (termo que ele não utiliza) dos pesquisa-
institutos enfrenta grandes dificuldades para se dores na instituição escolar influi sobre a ori-
fazer reconhecer fora de suas próprias redes? entação que dão a seus trabalhos. Por um lado,
Portanto, a situação é complexa. As de- a escola é para eles desejável, por outro, ori-
mandas de acompanhamento de equipes e de entam muito preferencialmente suas investiga-
estabelecimentos segundo modalidades socio- ções para os ambientes qualificados como po-
clínicas, amplamente inspiradas em correntes da pulares. O desejo da instituição escolar e a
pesquisa-ação, são cada vez mais numerosas focalização sobre determinadas categorias so-
quando os pesquisadores hesitam em engajar-se ciais conduzem à orientação singular do objeto
nessa atividade. Para extrair benefícios analíti- da pesquisa. A distância com o campo do en-
cos dessa aparente contradição, convém fazer a sino e com suas preocupações práticas, produ-

476 Gilles MONCEAU. Transformar as práticas para conhecê-las: ...


zida pelo aparelho metodológico, pode dar ao lhos. Observa-se, aliás, que as últimas obras
pesquisador o sentimento de que seu procedi- desse sociólogo mostram nitidamente que a
mento permite uma objetivação mais correta do auto-análise pelo pesquisador de sua prática da
que as adotadas por seus colegas que se defron- pesquisa implica a análise das instituições ci-
tam e trabalham com as demandas desse cam- entífica e estatal. Foi isso que René Lourau
po. Não é nada disso. realizou de sua parte desde o início de sua
carreira.
Profissionalização dos docentes O êxito da noção de prático reflexivo,
e pesquisa-ação que circula o mais das vezes sem menção a seu
autor, explica-se talvez, muito particularmen-
A profissionalização do docente como te na França, pela conjunção que se pode ope-
processo institucional, na França como aliás na rar entre a liberdade pedagógica (acadêmica)
Europa e na América do Norte, supõe forma- individual e um tipo de análise das práticas
ção para a reflexividade e para a universitari- profissionais que não questiona o primado do
zação. O bom profissional será então aquele que individual. O efeito dessa tendência pode ser,
mobiliza saberes universitários a partir de uma ao ignorar as dimensões institucionais, fazer
análise reflexiva de sua prática (Bourdoncle, com que o indivíduo carregue uma responsa-
1991, 1993, 1998; Altet, 1994; Perrenoud, bilidade por demais importante, talvez até
1994; Bourdoncle; Demailly, 1998; Paquet et al., mesmo uma culpa. Mais bem formado, ele
1998). A expressão prático reflexivo, criada por deveria estar em condições de resolver melhor
Schön (1983), teve êxito quanto a essa orienta- a complexidade crescente das situações de
ção. A reflexividade para a qual o prático deve ensino, seja qual for a dinâmica de sua equi-
se formar resulta de uma formação pela pes- pe profissional, do estabelecimento em que
quisa que se supõe cultivar essa competência. trabalha e das contradições institucionais que
Essa formação pela pesquisa deve também as- os atingem. A figura do prático reflexivo fez
segurar uma certa familiarização com a produ- desaparecer a do pedagogo e até os movimen-
ção dos pesquisadores de maneira que o do- tos pedagógicos asseguraram a promoção dis-
cente possa ali haurir o que alimenta sua prá- so até o final da década de 1980, após have-
tica e fazê-la evoluir à medida que evoluem os rem defendido a idéia de um docente que se-
resultados da pesquisa. ria ele próprio pesquisador, no sentido de que
Será, porém, essa reflexividade verdadei- estaria em pesquisa sobre sua prática.
ramente uma qualidade dos práticos da pesqui- Se hoje em dia a noção de prático refle-
sa, que são os pesquisadores contratados? As- xivo domina a formação inicial dos docentes, a
sinalo que a idéia de que o pesquisador tem pesquisa-ação continua a ser uma modalidade
também uma prática não é tão antiga e que de formação continuada (Cresas, 2000) e de
não é preciso dizer que, em nossos textos, transformação dos funcionamentos coletivos.
quando se trata de práticos, não estamos fa- Com efeito, ela permite captar dificuldades de
lando de nós mesmos. No entanto, é cada vez exercício encontradas por equipes para convertê-
mais freqüente que leiamos que a pesquisa é las em questionamento num procedimento de
também uma prática (Bru, 2002) ou, ainda, formação. Ocorre de outro modo no Canadá,
que a pesquisa é uma prática que se articula por exemplo, onde a pesquisa-ação é parte in-
com outras práticas (Gate, Robin e Clerc, 2004). tegrante dos programas de formação inicial, a
A obra de Pierre Bourdieu (2001) que propõe fim de produzir o que é chamado de profissio-
que se aplique a reflexividade à própria ciên- nalismo coletivo, aparentemente ao contrário do
cia também é recente, bem como sua vontade individualismo profissional ainda dominante na
de produzir uma auto-análise de seus traba- França. Os canadenses Maurice Tardiff e Louis

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 477


Levasseur (2004) consideram que essa irrupção Não é certo que a formação para a pes-
do coletivo na prática docente impõe-se irreme- quisa oferecida a esses profissionais-estudantes
diavelmente aos docentes. sempre considerará a complexidade de sua pos-
A formação de docentes no Brasil conhe- tura. Ao se tornarem pesquisadores pela via uni-
ce os mesmos momentos de fundo que nos versitária clássica, os docentes correm o risco de
países do primeiro mundo. O processo de uni- macaquear os pesquisadores, como disse recen-
versitarização produz efeitos semelhantes aos que temente o pedagogo Jean-Michel Zakhartchouk
conhecemos na Europa (Freitas, 2002), difundin- no colóquio Pesquisadores e práticos na pesqui-
do modelos próximos. No entanto, pesquisas sa (Lyon, 2004). O mesmo é observado por outros,
socioclínicas são realizadas nos estabelecimentos a respeito dos psicólogos práticos que se formam
escolares por pesquisadores universitários a pedi- em pesquisa, ao assinalarem que freqüentemente
do dos docentes ou de suas direções (Rocha, 1999; eles são metodologicamente mais rígidos que os
Barros, 2003). É freqüente que esses trabalhos próprios pesquisadores contratados (Giami;
sejam conduzidos por pesquisadores do quadro Samalin-Amboise, 1999). De fato, o prático pode
da psicologia social e institucional, especificidade conduzir uma pesquisa sobre uma problemáti-
sul-americana e particularmente aculturada à ca relativa à sua profissão, abandonando a
análise institucional. Esses trabalhos são relevan- especificidade de sua condição. Procurando tra-
tes por serem muitas vezes portadores de uma balhar do mesmo modo que os pesquisadores
vontade de não ceder à psicolo-gização das di- contratados de fora de seu campo profissional,
ficuldades dos docentes e de recolocá-los nos de- (o prático) procurará dar garantias de ortodoxia
safios sociopolíticos particularmente vivos no científica, o que lhe impede de ser inventivo
ensino brasileiro. demais e, portanto, de tirar partido de sua base
Fenômeno relativamente novo talvez rea- profissional. Nesse caso, a formação para a pes-
lize uma síntese entre os diferentes movimentos quisa implica a produção de uma nova postura
sobre os quais procurei relatar a propósito das que considere implicações profissionais do pes-
relações entre pesquisa-ação e práticas docentes. quisador. As reflexões metodológicas da pesqui-
Trata-se daquilo que Cros (2001) chama de pes- sa-ação, que de fato levam em conta essa situ-
quisa profissional. O que assim se denomina não ação singular, oferecem então importantes re-
é a pesquisa conduzida por profissionais da pes- cursos que podem ser mobilizados pelos pesqui-
quisa, mas uma conduzida por profissionais a sadores com esse perfil. Daí decorrem efeitos
respeito de sua própria atividade, de seu próprio freqüentemente gerados pela condução de sua
ambiente profissional e dentro de um quadro pesquisa a respeito das relações do profissional-
científico instituído. Portanto, não se trata nes- tornado-pesquisador com seu ambiente de ori-
se caso daqueles docentes pedagogos que se gem (Canter-Kohn, 1986, 2001). Identificado
consideram pesquisadores por estarem numa pes- por seus pares como levantando dados que trata
quisa sobre suas próprias práticas nem daqueles noutra parte e dentro de outro quadro, capita-
docentes cuja formação os terá tornado reflexi- lizando saberes exógenos ao meio profissional,
vos. Esses profissionais que se formam em pes- produzindo análises em que começam a mani-
quisa, num quadro universitário, antes pertencem festar-se com sua nova cultura universitária, ele
àquela categoria que muito comumente chama- deve readaptar suas implicações profissionais.
mos de práticos-pesquisadores (Mackwicz, 2001; Pode, com isso, tornar-se inquietante, suspeito,
Canter-Kohn, 2001). De um ponto de vista na opinião de seus colegas. Do mesmo modo
institucional, o desenvolvimento de mestrados que a pesquisa-ação, esse desvio individual de
profissionais nas universidades produzirá o reco- uma pesquisa conduzida pelo prático sobre a
nhecimento dessa população estudante, ainda prática e seu contexto ainda precisa conquistar
que a tratando, em parte, separadamente. sua legitimidade no campo científico.

478 Gilles MONCEAU. Transformar as práticas para conhecê-las: ...


Atualmente, seria sem dúvida necessário demandas permitem aproximar-se da prática do-
deslocar as linhas divisórias, as maneiras de pen- cente em sua profundidade e sua complexida-
sar as fronteiras no campo da pesquisa socioclínica de. Isso abre caminho a uma produção de resul-
e, ainda mais amplamente, no da pesquisa clínica tados que pode ser comparada com o que pro-
em educação, inclusive a de inspiração psicanalí- duzem outros procedimentos. Foi isso que ten-
tica (Blanchard-Laville, 1999). As tentativas para tei realizar a propósito da produção institucional
traçar tipologias da pesquisa-ação permitem, da categorização dos alunos (Monceau, 2001),
quando as reunimos, estabelecer um inventário do das resistências docentes à evolução de sua pro-
que o termo pode recobrir hoje em dia. Muito fissão (Monceau, 2004), das interferências en-
freqüentemente são as técnicas e as finalidades tre a prática docente em classe comum e em
prioritárias que se impõem como critérios de clas- classe atrasada (Monceau, 2005). Além de meu
sificação, enquanto que a reflexão mais urgente e exemplo pessoal, outros pesquisadores (Fablet,
mais carregada de desenvolvimento sem dúvida le- 2004) também desenvolvem essa perspectiva. De-
varia para o lado da epistemologia. Conviria inda- ver-se-ia, pois, realizar um inventário dos resulta-
gar as condições de possibilidade desses trabalhos, dos da pesquisa socioclínica em educação. Este in-
bem como a contribuição e a validade de seus re- tegraria os trabalhos que se autodesignam como
sultados, particularmente na esfera do ensino. pertencentes à pesquisa-ação e os ultrapassaria ao
O fato de os financiadores da pesquisa considerar as pesquisas que correspondem às ca-
em educação serem os que tomam decisões po- racterísticas que expus no início deste texto.
líticas, ou grande organismos nacionais ou in- Jacques Ardoino (2002), ao comentar o
ternacionais, não é alheio ao fato de ela ser cada livro L’analyse institutionelle, de René Lourau,
vez mais determinada por uma preocupação de escreveu que havia um escândalo da pesquisa-
eficácia do ensino. Paradoxalmente, a coopera- ação. O escândalo certamente continua ativo
ção direta com o campo, suas preocupações e em 2005, mas já não diz respeito apenas à pes-
suas urgências, talvez torne o pesquisador me- quisa-ação tradicional (freqüentemente referi-
nos dependente de uma determinada maneira da a Lewin e cujos contornos se definem a
de pensar os problemas educativos segundo a duras penas), mas a uma postura de pesquisa
qual os imperativos políticos poderiam acabar e a uma relação singular entre sujeito da pes-
por confundir-se com os imperativos heurísticos. quisa e sujeito da prática. Duas categorias que,
Chegar o mais perto possível dos ques- às vezes, podem até mesmo confundir-se. Ou-
tionamentos dos docentes e trabalhar com suas tro escândalo?

Referências bibliográficas

ARDOINO, J. Conditions et limites de la recherche-action. Pour


Pour, n. 90 (La recherche-action). Toulouse: Privat, p. 22-26, 1983.

_____. L’analyse institutionelle (à propos de). In: LAMIHI, A.; MONCEAU, G. (Orgs.). Institution et implication
implication
tion. L’oeuvre de René
Lourau. Paris: Syllepse, 2002. p. 61-71.

BARBIER, R. La recherche-action
recherche-action. Paris: Anthropos, 1996.

BARROS, M. E. Pratiques d’analyse en éducation: les contributions de l’analyse institutionelle. Les Cahiers de l’implica tion
l’implication
tion.
Revue d’analyse institutionelle, Paris, n. 6, p. 85-97, out. 2003.

BLANCHARD-LAVILLE, C. L’approche clinique d’inspiration psychanalytique: enjeux théoriques et méthodologiques. Revue


Française de Péda gog
Pédagog ie
gogie
ie. Paris, n. 127, p. 9-22, 1999.

BLANCHARD-LAVILLE, C.; FABLET, D. (Orgs.). LL’anal


’anal yse des pra
’analyse tiques professionelles
pratiques professionelles. 10. ed. Paris: L’Harmattan, 2000.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 479


BOURDIEU, P. Science de la science et réf lexivité
réflexivité
lexivité. Paris: Raisons d’agir, 2001.

BOURDONCLE, R. La professionalisation des enseignants: analyses sociologiques anglaises et américaines. La fascination des
professions. Revue Française de Péda gog
Pédagog ie
gogie
ie, Paris, n. 94, p. 73-91, 1991.

_____. La professionalisation des enseignants: les limites d’un mythe. Revue Française de Péda gog
Pédagog ie
gogie
ie, Paris, n. 105, p. 83-
119, 1993.

BOURDONCLE, R.; DEMAILLY, L. (Orgs.). Les professions de l’éduca tion et de la fforma


l’éducation orma tion
ormation
tion. Villeneuve d’Ascq: Presses
Universitaires Septentrion, 1998.

BRESSOUX, P. Les recherches sur les effets-école et les effets-maîtres. Revue Française de Pédagog
Pédagog ie
gogie
ie, Paris, n. 108, p. 91-137,
1994.

BRU, M. Pratiques enseignantes: des recherches à conforter et à développer. Revue Française de Péda gog
Pédagog ie
gogie
ie. n. 138, Paris:
INRP, p. 63-73. 2002.

BRUHN, J. J.; REBACH, H. M. Clinical sociolog


sociologyy . An agenda for Action. Nova York e Londres: Plenum, 1996.

CANTER KOHN, R. La recherche par les praticiens: l’implication comme mode de production des connaissances. Bulletin de
psychologie
psychologie
ie, n. 377, p. 817-830, 1986.

_____. Les positions enchevêtrées du praticien-qui-devient-chercheur. In: MACKIEWICZ, M.-P. (Org.). Pra ticien et chercheur
Praticien chercheur.
Paris: L’Harmattan, 2001, p. 15-38.

CRESAS. On n’enseigne pas tout seul


seul. À la crèche, à l’école, au collège, au lyée. Paris: INRP, 2000.

CROS, F. L’innovation en éducation et en formation. Revue Française de Péda gog


Pédagog ie
gogie
ie, Paris, n. 118, p. 127-156, 1997.

_____. La recherche professionelle: épistemologie et écriture. In: MACKIEWICZ, M.-P. (Org.). Pra ticien et chercheur
Praticien chercheur. Paris:
L’Harmattan, 2001. p. 119-134.

DUBOST, J. Les critères de la recherche-action


recherche-action. Pour, Toulouse, n. 90 (La recherche-action), p. 17-21, 1983.

DUBOST, J.; LEVY, A. Recherche-action et intervention. In: BARUS-MICHEL, J.; ENRIQUEZ, E.; LEVY, A. Voca bulaire de
ocabulaire
Psychosociolog ie
Psychosociologie
ie. Ramonville: Erès, 2002. p. 391-416.

EHRENBERG, A. Le culte de la perf ormance


performance
ormance. Paris: Calmann-Lévy, 1991.

FABLET, D. Pour d’autres modalités de collaboration entre chercheurs et professionels de l’intervention socio-éducative: les apports
d’approches socio-cliniques. Eduquer
Eduquer, Paris, n. 18 (Agir et chercher... Chercheurs et praticiens: le dialogue est-il possible?), p. 43-53,
2004.

FREITAS, H. C. L. Formação de professores no Brasil: 10 anos de embate entre projetos de formação. Educação & Sociedade
Sociedade,
Campinas, v. 23, n. 80, set. 2002.

FRITZ, J. M. La sociologie clinique aux Etats-Unis. In: GAULEJAC, V de.; ROY, S. (Orgs.). Sociologies cliniques
Sociologies cliniques. Paris: EPI, 1993, p. 36-42.

FUMAT, Y.; VINCENS, C.; RICHARD, E. Anal yser les situa


Analyser tions éduca
situations tives
éducatives
tives. Issy-les-Molineaux: ESF, 2003.

GATE, J.-P., ROBIN, J.-Y. e CLERC, F. Prefácio. Eduquer


Eduquer, Paris n. 8 (Agir et chercher... Chercheurs et praticiens: le dialogue est-
il possible?), p. 5-10, 2004.

GAULEJAC, V de; ROY, S. (Orgs.). Sociologies cliniques


Sociologies cliniques. Paris: EPI, 1993.

GAUTHERIN, J. Une discipline pour la République


République. La Science de l’éducation en France (1882-1914). Bern: Peter Lang, 2002.

GIAMI, A.; SAMALIN-AMBOISE, C. Le praticien chercheur et le praticien intervenant. In: REVAULT D’ALLONNES, C. (Org.). La
démarche clinique en sciences humaines
humaines. 10. ed. Paris: Dunod. 1999, p. 155-178.

480 Gilles MONCEAU. Transformar as práticas para conhecê-las: ...


GLASMAN, D.; OEUVRARD, F. La déscolarisa tion
déscolarisation
tion. Paris: La Dispute, 2004.

GRAWITZ, M. L’action research ou recherche active et l’intervention psychosociologique. In: _____. Méthodes des sciences
sociales
sociales. Paris: Dalloz, 1996. p. 746-789.

GUILLIER, D. L’analyse institutionelle des pratiques professionelles. In: BLANCHARD-LAVILLE, C.; FABLET, D. (Orgs.). Tra vail
ravail
social et analyse des pra
analyse tiques professionelles
pratiques professionelles. Paris: Harmattan, 2003.

HERREROS, G. L’horizon clinique de la sociologie d’intervention. Connexions


Connexions, Ramonville, n. 71, p. 29-51, 1998.

_____. Pour une sociolog


sociologie vention
d’intervention
ie d’inter vention. Ramonville: Erès, 2002.

HOCQUARD, D. Les coulisses de la psychologie expérimentale. In: HESS, R.; SAVOYE, A. Perspectives de l’analyse institutionelle
l’analyse institutionelle.
Paris: Méridiens-Klincksieck, 1988. p.13-31.

HUGON, M.-A. Recherches impliquées, recherches action


action: le cas de l’éducation. Bruxelas: De Boeck Université, 1988.

HUGON, M.-A.; SEIBEL, C. (Orgs.). Recherches impliquées, recherches action


action: le cas de l’éducation: synthèse des contributions
et des débats du colloque organisé par Institut National de la Recherche Pédagogique. Paris: INRP, 1986.

KALAORA, B.; SAVOYE, A. Les inventeurs oubliés


oubliés. Le Play et ses continuateurs aux origines des sciences. Seyssel: Champ
Vallon, 1989.

KAUFMANN, J.-C. LL’invention


’invention de soi
soi. Une théorie de l’identité. Paris: Armand Colin, 2004.

LAMIHI, A.; MONCEAU, G. (Orgs.). Institution et implication


implication
tion. L’oeuvre de René Lourau. Paris: Syllepse, 2002.

LAPASSADE, G. LL’ethnosociolog
’ethnosociolog ie
’ethnosociologie
ie. Paris: Méridiens Klincksieck, 1991.

LIU, M. Fondements et pra tiques de la recherche-action


pratiques recherche-action. Paris: L’Harmattan, 1997.

LOURAU, R. Actes manqués de la recherche


recherche. Paris: PUF, 1994.

______. La clef des champs


champs. Une introduction à l’analyse institutionelle. Paris: Anthropos, 1997.

______. Le Gai savoir des sociologues


savoir sociologues. Paris: UGE, 1977.

______. Résistances et ouvertures à une théorie de l’implication. In: FELDMAN, J. et al. (Orgs.). Etique, épistemolog ie et
épistemologie
sciences de l’homme
l’homme. Paris: L’Harmattan, 1996. p. 38-47.

MONCEAU, G. De la classification des individus à celle de leurs devenirs dans l’institution scolaire. La Lettre du Grape. Revue de
l’enfance et de l’adolescence
l’adolescence, Toulouse, n. 43, p. 27-35, 2001.

_____. L’intervention socioanalytique. Pra tique de fforma


Pratique orma tion-anal
ormation-anal yses
tion-analyses
yses, Paris, n. 32, p. 25-38, 1996.

_____. Les résistances des enseignants à l’élargissement de leur champ d’intervention professionel. In: MARCEL, J.-F.; PIOT, T.
(Orgs.). Dans et hors de la classe
classe: evolution des espaces professionels des enseignants. Paris: INRP, 2005.

_____. Pratiques socianalytiques et socio-clinique institutionelle. LL’homme


’homme et la société
société, Paris, n. 147-148, p. 11-33, 2003.

PAQUET, L.; ALTET, M.; CHARLIER, E.; PERRENOUD, P. (Orgs.). Former des enseignants professionels: quelles stratégies?
quelles compétences? Paris-Bruxelas: De Boeck Université, 1998.

PERRENOUD, P. La fforma
orma tion des enseignants entre théorie et pra
ormation tique
pratique
tique. Paris: L’Harmattan, 1994.

POUPEAU, F. Une sociologie d’Eta


sociologie d’Etatt . L’école et ses experts en France. Paris: Raisons d’agir, 2003.

REBACH, H.; M. BRUHN, J. J. (Orgs.). Handbook of clinical sociolog


sociologyy . 10. ed. Nova York: Plenum, 2001.

RESWEBER, J.-P. La recherche-action


recherche-action. Coleção Que sais-je?. Paris: PUF, 1995.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005 481


ROCHA, M. L. A formação na interface psicologia/educação: novos desafios. In: JACO-VILELA, A. M.; MANCEBO, D. (Org.).
Psicologia social
Psicologia social: abordagens sócio-históricas e desafios contemporâneos. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1999.

SAVOYE, A. La résurgence de l’intervention: les cahiers de l’implication. Paris, Revue d’analyse institutionelle, n. 43, p. 9-16,
l’intervention:
1999.

_____. Les débuts de la sociolog ie empirique


sociologie empirique. Paris: Meridiens Klincksieck, 1994.

SCHÖN, D. A. The ref lective practitioner


reflective practitioner. Nova York: Basic Books, 1983.

TARDIFF, M.; LEVASSEUR, L. L’irruption du collectif dans le travail enseignant. In: UHALDE, M. LL’inter
’inter vention sociolog
’intervention ique en
sociologique
entreprise
entreprise. Paris: Desclée de Brouwer, 2001.

VRANCKEN, D.; OLGIERD, K. (Orgs.). La sociolog


sociologie vention
l’intervention
ie et l’inter vention. Enjeux et perspectives. Bruxelas: De Boeck, 2001.

Recebido em 06.06.05
Aprovado em 07.11.05

Gilles Monceau é professor e mestre de conferências na Université Paris VIII, na área de Ciências da Educação, onde
também desenvolve investigações relativas às metodologias socioclínicas de pesquisa. Mantém relações de cooperações
com as equipes brasileiras do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp (Campinas-SP) e do Departamento de Psicologia
da UFF (Niterói-RJ).

482 Gilles MONCEAU. Transformar as práticas para conhecê-las: ...

Você também pode gostar