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INTENSIVO I

Fernando Gajardoni
Direito Processual Civil
Aula 03

ROTEIRO DE AULA

Tema: Jurisdição e competência II

4. Competência interna (continuação)


Como visto na última aula, há quatro critérios usados pelo Brasil para definir a competência interna e eles devem ser
analisados na seguinte ordem: critério funcional/hierárquico, critério material, critério valorativo e critério territorial.

4.1.2. Material (continuação)

O critério material é aquele em que há definição do órgão da justiça competente para julgar determinado caso. Assim,
para melhor organização da justiça, a CF/1988 divide o Poder Judiciário em ramos, sendo eles:
a) Justiça Eleitoral (art. 121 da CF + Código Eleitoral)
b) Justiça do Trabalho (art. 114 CF)
c) Justiça Federal (art. 109 da CF)
d) Justiça Estadual (residual)
Na aula passada, já foram trabalhados aspectos relativos à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.

c) Justiça Federal (art. 109, CF)


Toda a disciplina normativa da competência material da Justiça Federal está no art. 109, CF.
✓ O professor ressalta que a competência da justiça federal somente pode ser fixada pela CF/1988.

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✓ Segundo ele, até se admite a interpretação extensiva dos incisos do art. 109 da CF, mas não existe a possibilidade
de norma infraconstitucional fixar novas competências à justiça federal.

A competência material da Justiça Federal, diferentemente das justiças especializadas (Eleitoral e Trabalhista), não se dá
apenas com base na causa de pedir, mas também é motivada pela parte que atua no processo.
Assim, há a seguinte possibilidade:
i) (causa de pedir): III, V-A e XI (direitos coletivos)
✓ Nas hipóteses em que o fundamento é causa de pedir, não interessa quem é a parte do processo. Exemplos: a
parte pode ser um particular, um município, um estado-membro, empresa estrangeira etc.
ii) (partes): Neste caso, não importa a causa de pedir, pois o elemento determinante é a parte.
Esses dois itens serão analisados em seguida.

c.1) (Causa de pedir): III, V-A e XI (direitos coletivos)


✓ Nas hipóteses em que o fundamento é causa de pedir, não interessa quem é a parte do processo.

O professor ressalta que o aluno deve ler o art. 109 da CF inteiro. Entretanto, neste momento, ele destacará três tipos de
demanda em que o que interessa é a causa de pedir (incisos III, V-A e XI do art. 109 da CF).

1º) O art. 109, III, CF, estabelece que:


“Art. 109 - Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional.”

➢ Neste caso, o que importa para definir a competência da Justiça Federal é que o fundamento da causa seja tratado
ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional.

Exemplo 1: O professor ressalta que foi este dispositivo o responsável por levar para a Justiça Federal o caso do menino
Sean, em que houve a ação de guarda da criança, disputada entre o pai americano e a família brasileira. Ocorre que, como
há convenção internacional que versa sobre aspectos cíveis relativos ao assunto, a ação para discutir a busca e apreensão
do menino Sean foi encaminhada para a Justiça Federal.

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Exemplo 2: Ações intentadas pelos médicos cubanos pertencentes ao programa “Mais Médicos” com objetivo de anular
as restrições impostas por contrato internacional, de modo a possibilitar que eles tivessem remuneração equiparada aos
médicos brasileiros. Essas ações foram julgadas pela Justiça Federal.

✓ Obs.: A ação só vai para a Justiça Federal se a aplicação do contrato ou do tratado internacional gerar obrigações
para a União. Assim, não é qualquer contrato internacional ou tratado que atrai a competência da Justiça Federal.

2º) O art. 109, V-A da CF trata do incidente de deslocamento de competência.

O inciso V-A do art. 109, CF, dispõe que cabe à Justiça Federal processar e julgar “as causas relativas a direitos humanos
a que se refere o § 5º deste artigo.”

CF, art. 109 (...): “V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
(...)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte,
poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”

O inciso V-A do referido artigo versa sobre o incidente de deslocamento de competência em casos de grave violação de
direitos humanos (causa de pedir). Neste caso, o único legitimado para requerer o deslocamento da competência da
justiça estadual para a justiça federal é o Procurador-Geral da República.

✓ Para que a ação seja deslocada da Justiça Estadual para a Justiça Federal, é necessário que os órgãos da justiça
estadual não tenham capacidade ou estejam inertes no julgamento do processo.

Atenção: Em nenhum momento, o art. 109, V-A da CF cita que é necessário haver “crime” para ocorrer o deslocamento
de competência. O dispositivo cita a necessidade de haver “casos de grave violação de direitos humanos”.
✓ O professor destaca, contudo, que todos os IDCs que existiram no Brasil até o momento envolveram matéria
penal. Entretanto, não há impedimento constitucional para que o IDC seja suscitado em matéria cível (exemplo:
ACP para proteger direitos humanos que esteja parada na justiça estadual).

3º) O art. 109, XI, CF, dispõe que cabe à Justiça Federal processar e julgar as causas que envolvam “a disputa sobre direitos
indígenas (causa de pedir)”

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Este inciso fala de direito coletivo do indígena (direito do povo indígena), não se referindo ao direito individual do índio.
Exemplo: ação de demarcação de terras indígenas tramita na justiça federal.

c.2) (Partes): Neste caso, não importa o assunto (causa de pedir), pois o elemento determinante é a parte.

A Justiça Federal julga qualquer processo que tenha os entes do art. 109, I da CF como demandantes, demandadas ou
intervenientes.

1º) * I (exceções: s. 235/501 STF - acidente do trabalho, inclusive PJDP)


O inciso I do art. 109 estabelece que a justiça federal tem competência para julgar qualquer causa em que seja parte ou
interveniente a União, autarquias federais (exemplo: INSS, IBAMA, ANATEL, ANAC, FUNAI etc.) e empresas públicas
federais (exemplos: Caixa Econômica Federal e Correios).

CF, art. 109, I: “Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras,
rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça
do Trabalho;”

Em relação à competência da Justiça Federal, existem 4 exceções:


• Causas da Justiça Eleitoral (é mais especial do que as causas da justiça federal) – Exemplo: ação que pleiteia a
anulação de multa aplicada pela justiça eleitoral contra a Caixa Econômica Federal é julgada pela justiça eleitoral.
• Causas da Justiça do Trabalho (também é mais especial do que as causas da justiça federal) – Exemplo: ação
trabalhista intentada por um funcionário dos Correios, que é celetista, contra a empresa pública federal será
julgada pela justiça trabalhista.
• Causas relacionadas à falência e à recuperação judicial. Trata-se de opção legislativa e, portanto, elas são julgadas
pela justiça estadual. Exemplo: ainda que o maior credor em relação à falência seja o INSS, a ação tramitará na
justiça estadual.
Obs.: Esse mesmo raciocínio se aplica aos casos de insolvência civil (espécie de “falência da pessoa física”) a
despeito de não constar expressamente na CF/1988.

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• Ações acidentárias típicas sempre serão julgadas na justiça estadual (súmulas 2351 e 5012, STF).
Quando há um acidente de trabalho, o trabalhador possui duas pretensões contra pessoas diferentes: a primeira
é contra o empregador, a qual é intentada na justiça do trabalho (se a relação for celetista). Trata-se de ação
acidentária atípica. A segunda pretensão é a acidentária típica, ou seja, trata-se de pretensão securitária. Neste
caso, não importa se a ação acidentária típica foi intentada contra o INSS, contra o município, contra o estado ou
contra a União, a competência sempre será da justiça estadual.

2º) * OAB (STF tema 258: aplicação genérica)


A natureza jurídica da OAB ainda é uma incógnita, pois ela pode ser considerada como órgão de fiscalização profissional
(e, neste caso, equipara-se a uma autarquia federal); como associação de classe, pois defende os interesses dos
advogados; e pode ser considerada como entidade de defesa da sociedade civil, podendo propor ADI, ADC e ADPF (art.
103, VII da CF3).
✓ No Tema 258, com Repercussão Geral, o STF entendeu que, em matéria de execução fiscal, quando a OAB atua
como órgão de fiscalização profissional (cobrança de anuidades), a competência para a causa é da Justiça Federal.
✓ Obs.: O Tema 258, até o momento, tem sido aplicado genericamente para todas as ações em que a OAB é parte.

3º) * Inciso II, art. 109, CF (Estado Estrangeiro ou organismo internacional x município ou pessoa domiciliada no Brasil)
(ROC – art. 105, II, CF)

Este dispositivo indica que compete à Justiça Federal processar e julgar “as causas entre Estado estrangeiro ou organismo
internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País.”
Exemplo: imagine que determinado brasileiro foi visitar a Itália e bateu o carro em um monumento histórico, gerando
dano moral à coletividade italiana. Após o acidente, ele volta para o Brasil. Posteriormente, a Itália intenta ação contra o
brasileiro pleiteando indenização. Neste caso, como se trata de ação envolvendo Estado estrangeiro e pessoa domiciliada
ou residente no Brasil, a competência é da justiça federal.

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Súmula 235, STF “É competente para a ação de acidente de trabalho a Justiça Cível comum, inclusive em segunda
instância, ainda que seja parte autarquia seguradora.”
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Súmula 501, STF “Compete à Justiça Ordinária Estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas
de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de
economia mista.”
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CF, art. 103, VII: “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Vide Lei nº 13.105, de
2015) (Vigência) (...) VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;”

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✓ Atenção: Neste caso, o recurso cabível contra a sentença do juiz de 1º grau é o ROC (Recurso Ordinário
Constitucional) para o STJ (art. 105, II, CF4). Assim sendo, não existe segunda instância nesses processos.

4º) Art. 109, VIII (regras próprias de mandado de segurança – ensino/concessão - status da delegação/concessão – art.
1º e 2º da Lei 12.016/2009).

CF, art. 109, VIII: “Compete à Justiça Federal processar e julgar:


viii- os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência
dos tribunais federais.” Se a autoridade é federal, automaticamente a competência para julgar o processo também é
federal.”

Atenção: A Lei do Mandado de Segurança possui regras próprias que estabelecem que as autoridades são consideradas
federais se o status da concessão ou da autorização da atividade também for federal.
✓ De acordo com os arts. 1º e 2º da Lei 12.016/09, todas as vezes em que um particular atuar com atribuições
delegadas/concedidas/(autorizadas), fazendo as vezes da União, a competência para o MS é da justiça federal.
Exemplo 1: MS contra o concessionário de energia elétrica é impetrado na justiça federal, pois a concessão de
energia elétrica advém da União.
Exemplo 2: MS impetrado contra o reitor de universidade particular que nega a concessão de diploma para o
aluno é julgado na justiça federal.

Obs.: O professor destaca que o mandado de segurança será objeto de aula própria no final do curso Intensivo II.

Lei 12.016/2009:
Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação

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CF, art. 105, II: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou
pessoa residente ou domiciliada no País;”

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ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que
exerça.
§ 1º Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os
administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no
exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.
§ 2º Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas
públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.
§ 3o Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de
segurança.
Art. 2º Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se
requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada.”

d) Justiça Estadual (residual)


O que não for da Justiça Eleitoral, Trabalhista e Federal, será de competência da Justiça Estadual.

d.1) Súmula 42 do STJ5 e 508/556 e 517 do STF6 (S.E.M.)


Segundo as súmulas citadas, as sociedades de economia mista são de competência da justiça estadual e isso ocorre ainda
que elas tenham capital preponderante da União.
Exemplificativamente, o Banco do Brasil e a Petrobrás (sociedades de economia mista federais) são julgados pela justiça
estadual.

Obs.: O professor destaca que há várias ACPs, relativas à Operação Lava Jato, que discutem os prejuízos sofridos pela
Petrobrás por conta da prática de corrupção. Tais ações estão tramitando na justiça federal, quando, na verdade,
deveriam tramitar na justiça estadual.
O professor ressalta que será necessário aguardar o pronunciamento dos tribunais superiores quando todas essas ações
coletivas, que envolvem uma sociedade de economia mista, chegarem ao STF ou ao STJ.

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Súmula 42, STJ “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de
economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.”
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Súmula 508, STF “Compete à Justiça Estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o
Banco do Brasil S.A.”
Súmula 556, STF: É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista.”
Súmula 517, STF “As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federal, quando a União intervém como
assistente ou opoente.”.

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Obs.: A justiça estadual também julga as ações envolvendo instituições do Sistema “S” (SESC, SENAI etc.).

✓ De acordo com a Súmula 517 do STF, se a União intervier como assistente ou opoente, ou seja, se ela tiver
interesse jurídico nas causas envolvendo as sociedades de economia mista ou o Sistema “S”, a competência da
ação será deslocada para a Justiça Federal.

d.2) *outros exemplos: s. 553, 505 e 368 STJ

Súmula 553, STJ: “Nos casos de empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica, é competente a Justiça
estadual para o julgamento de demanda proposta exclusivamente contra a Eletrobrás. Requerida a intervenção da União
no feito após a prolação de sentença pelo juízo estadual, os autos devem ser remetidos ao Tribunal Regional Federal
competente para o julgamento da apelação se deferida a intervenção.”

Súmula 505, STJ: “A competência para processar e julgar as demandas que têm por objeto obrigações decorrentes dos
contratos de planos de previdência privada firmados com a Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social – REFER é da
Justiça estadual.”

Súmula 368, STJ: “Compete à Justiça comum estadual processar e julgar os pedidos de retificação de dados cadastrais da
Justiça Eleitoral.”
✓ Obs.: No caso do disposto na Súmula 368 do STJ, o professor destaca que a retificação de dados cadastrais da
Justiça Eleitoral não possui relação com o sufrágio nem com questões político-partidárias. Assim sendo, a
competência é da justiça estadual. Exemplo: determinada pessoa alterou seu gênero, mas o cadastro da justiça
eleitoral está desatualizado. Se não for possível fazer a alteração do cadastro pela via administrativa, ela pode
ingressar com uma ação para retificar tais dados e ela será julgada na justiça estadual.

d.3) Art. 45, §1º e §2º, CPC (cumulação de pedidos e cisão)


O art. 45, §§1º e 2º do CPC preceitua que, em matéria de litisconsórcio facultativo, é necessário aplicar o regime jurídico
da cumulação de pedidos do art. 327, §1º do CPC7. Isso ocorre com o objetivo de vedar que o órgão materialmente
incompetente julgue partes e pedidos que não são de sua alçada.

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CPC, art. 327: “É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles
não haja conexão.
§ 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que:

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O professor destaca que existia um estratagema utilizado pelo MPF e pela Defensoria Pública da União de tentar ampliar
a competência da justiça federal por meio da formação de litisconsórcio passivo facultativo entre entes federais e não
federais.
Exemplo: O MPF e a DPU, exemplificativamente, ingressavam em uma ação contra a Caixa Econômica Federal (empresa
pública federal) e, de forma a ampliar a sua competência, formavam um litisconsórcio facultativo com os demais bancos
privados. Esse procedimento não é mais aceito.
✓ Obs.: O MPF e a Defensoria Pública da União atraem a competência da justiça federal porque são órgãos da União.

Atualmente, o art. 45, §§1º e 2º do CPC afirma que, para a formação de litisconsórcio passivo facultativo, deve-se observar
os requisitos do art. 327 do CPC.
✓ Se, eventualmente, um processo tramitar na justiça federal e, em um dos polos, houver entes da federal e entes
que não sejam da federal, o juiz federal deve extinguir o processo sem análise do mérito quanto aos órgãos que
não são de sua competência.
✓ Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado de modo inverso pela Justiça Estadual. Assim, se o juiz estadual recebe
processo com entes que não são de sua competência, ele deve extinguir o processo sem análise do mérito quanto
a estes e prosseguir com o processo em relação às partes para o qual é competente para julgar.

CPC, art. 45: “Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele
intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade
profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:
(...)
§ 1o Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual foi
proposta a ação.
§ 2o Na hipótese do § 1o, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da incompetência para apreciar qualquer
deles, não examinará o mérito daquele em que exista interesse da União, de suas entidades autárquicas ou de suas
empresas públicas.”

d.4) Concessões de serviço público – Súmula Vinculante 27 (estadual – salvo MS)

I - os pedidos sejam compatíveis entre si;


II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. (...)”

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Segundo o professor, a rigor, toda as vezes em que há ação contra a ANEEL, ANAC e ANATEL (e outras agências
reguladoras), consideradas autarquias federais, há atração da competência para a justiça federal.

Tais agências fiscalizam entidades privadas que exercem atividades que compete ao poder público explorar diretamente
ou delegar. Diante disso, o professor destaca que há vários casos em que a concessionária tem problemas por estar
cumprindo as diretrizes da agência fiscalizadora (ex.: o fornecimento de energia é interrompido por ocasião de uma
resolução da Anatel) e, caso o consumidor queira propor a ação, ele ingressa em juízo contra quem? Concessionária,
agência reguladora ou em face de ambas?
Dependerá do caso concreto.

Súmula Vinculante 27 - “Compete à Justiça Estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço público
de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária, assistente, nem opoente.”

Como a concessionária de serviço público é empresa privada, em regra, as ações contra essas empresas tramitam na
justiça estadual.
✓ Lembrando que a presença da União, das autarquias federais e das empresas públicas federais atrai a
competência da justiça federal.

Observação: é necessário tomar cuidado com o mandado de segurança, pois, neste caso, como já visto, há a atração do
status da delegação/concessão (arts. 1º e 2º da Lei 12.016/09). Assim, nestas hipóteses, o processo vai para a justiça
federal.
Exemplo: MS contra as concessionárias de serviço público atrai a competência da justiça federal. Ação de conhecimento
em face unicamente das concessionárias de serviço público (com o mesmo objeto) não atrai a competência da justiça
federal.

d.5) Súmulas 1508 e 2249 do STJ (art. 45, §3º,CPC) – INTERESSSE JURÍDICO - Exemplos: s. 270 (não desloca JF) e 365 do
STJ (desloca JF)
As súmulas em questão foram repetidas no art. 45, §3º, CPC.

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Súmula 150, STJ “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no
processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.”
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Súmula 224, STJ “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levará o Juiz Estadual a declinar da competência, deve
o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.”

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CPC, art. 45: “Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele
intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade
profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:
(...)
§ 3o O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a
remessa for excluído do processo.”

Tanto as súmulas quanto o art. 45, §º3º do CPC estabelecem que, se houver intervenção de um dos entes federais (art.
109, I da CF) perante um processo que corre na Justiça Estadual, o juiz estadual não tem competência para dizer se há ou
não interesse do órgão federal que legitime a intervenção no processo. Neste caso, o processo deve ser remetido à justiça
federal e ela analisará se há ou não interesse da justiça federal.
Se o juiz federal entender que não há interesse jurídico da União, ele exclui o ente federal do processo e devolve o
processo para a justiça estadual e este, por sua vez, dá prosseguimento ao processo (Súmula 224 do STJ).

Atenção: O professor destaca que há casos de intervenção anódina da União nos processos em curso na justiça estadual
e há previsão disso na Lei 9.469/97 e, nessas hipóteses, não há modificação de competência da justiça federal para a
justiça estadual, ou seja, não se aplica o disposto na Súmula 150 do STJ.

Lei 9.469/97, art. 5º: “A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações
públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais.
Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que
indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer
questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o
caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes.”

Exemplos: Súmulas 270 e 365, STJ


Súmula 270, STJ: “O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em execução que tramita na
Justiça Estadual, não desloca a competência para a Justiça Federal.”

Súmula 365, STJ: “A intervenção da União como sucessora da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) desloca a competência
para a Justiça Federal ainda que a sentença tenha sido proferida por Juízo estadual.”

4.1.2.1. Competência material delegada (interiorização da JF/JT !!!)

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O professor destaca que a competência material delegada precisa estar prevista na CF/1988 porque a justiça federal e a
justiça do trabalho ainda não se interiorizaram de modo suficiente. Assim sendo, há algumas localidades no país em que
só há justiça federal e justiça do trabalho em maiores centros urbanos e isso poderia dificultar o acesso à justiça.

Em determinadas circunstâncias, a competência de outras justiças (federal e trabalhista) vai para a Justiça Estadual e esta
tem que processar e julgar causas que, originalmente, não seriam dela. Isso ocorre porque a Justiça Estadual é a maior e
a que está mais presente em cada canto do Brasil, assim, para facilitar o acesso à justiça, há a delegação material de
competência.

➢ A EC 103/2019 alterou e limitou profundamente a delegação material.

a) Federal para Estadual (TRF) (art. 109, § 3º, CF – EC 103/19 + art. 15 Lei 5.010/66, cf. Lei 13.876/2019):
1) só benefícios previdenciários/assistenciais (s. 183 do STJ – cancelada) (art. 381, § 4º, CPC - FIM); 2) nos termos da lei
(ATENÇÃO: NÃO EXISTE MAIS DELEGAÇÃO AUTOAPLICÁVEL); e 3) inexistência de Vara Federal até 70km (cf TRFs).
ATENÇÃO: STJ, IAC n. 6

Atualmente, a delegação de competência da justiça federal para a estadual deve observar 3 requisitos:
1º) Só existe delegação em benefício previdenciário e em benefício assistencial.
Assim sendo, o segurado pode propor uma ação na justiça estadual pedindo, por exemplo, aposentadoria por invalidez,
auxílio-doença, pensão por morte etc.
✓ A Súmula 183 do STJ foi cancelada. Tal súmula versava sobre a possibilidade de Ações Civis Públicas, que tinham
a União como parte, serem julgadas na Justiça Estadual quando não houvesse vara federal na localidade.
✓ Atenção: O 381, §4º do CPC10 também está prejudicado. Segundo o professor, trata-se de dispositivo
supervenientemente inconstitucional por força da EC 113/2019. Assim sendo, nenhum juiz estadual pode
produzir prova antecipada contra a União, entidade autárquica ou empresa pública federal quando não se tratar
de benefício previdenciário.

2º) Não existe mais delegação autoaplicável.


Antes da EC 113/2019, a própria CF/1988 citava que competia aos juízes estaduais julgar as causas do segurado contra o
INSS.

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CPC, art. 381, §4º: “O juízo estadual tem competência para produção antecipada de prova requerida em face da União,
de entidade autárquica ou de empresa pública federal se, na localidade, não houver vara federal.”

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Com a EC 113/2019, a regra do art. 109, §3º, CF, não é mais autoaplicável, sendo que toda a disciplina normativa ficou
por conta do art. 15 da Lei 5.010/1966, com redação dada pelo art. 3º da Lei 13.876/201911.
✓ Se for revogado o art. 15 da Lei 5.010/1966, não haverá mais delegação de competência da justiça federal para a
estadual.

3º) Inexistência de vara federal até 70km de distância.


A Lei 13.876/2019 acrescentou um terceiro requisito, qual seja, que não haja vara federal em até 70km de distância do
domicílio do segurado.

✓ Obs.: O site do TRF de cada região indica quais são as comarcas que continuam com delegação de competência.

Atenção: No julgamento do IAC nº 6, em curso no STJ, está sendo discutida a questão do acervo existente relativo a ações
previdenciárias tramitando em varas estaduais. O STJ ainda não decidiu o destino dessas ações, mas existe uma liminar
do Min. Mauro Campbell Marques preceituando que, até o fim do julgamento do IAC, nenhuma ação da justiça estadual
seja remetida à justiça federal.
✓ Na opinião do professor, todo o acervo deveria ser remetido à justiça federal por conta do que está disposto no
art. 43 do CPC12.

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Lei 13.876/2019, art. 3º: “Art. 3º O art. 15 da Lei nº 5.010, de 30 de maio de 1966, passa a vigorar com a seguinte
redação: (Vigência)
“Art. 15. Quando a Comarca não for sede de Vara Federal, poderão ser processadas e julgadas na Justiça Estadual:
...................................................................................................................................
III - as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado e que se referirem a benefícios de natureza
pecuniária, quando a Comarca de domicílio do segurado estiver localizada a mais de 70 km (setenta quilômetros) de
Município sede de Vara Federal;
..................................................................................................................................
§ 1º Sem prejuízo do disposto no art. 42 desta Lei e no parágrafo único do art. 237 da Lei nº 13.105, de 16 de março de
2015 (Código de Processo Civil), poderão os Juízes e os auxiliares da Justiça Federal praticar atos e diligências processuais
no território de qualquer Município abrangido pela seção, subseção ou circunscrição da respectiva Vara Federal.
§ 2º Caberá ao respectivo Tribunal Regional Federal indicar as Comarcas que se enquadram no critério de distância
previsto no inciso III do caput deste artigo.” (NR)
12
CPC, art. 43: “Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão
judiciário ou alterarem a competência absoluta.”

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Obs.: Nos casos de delegação da justiça federal para a estadual, eventual recurso é remetido ao TRF.
Atenção:
• Se a ação for previdenciária por delegação, eventual recurso é remetido ao TRF.
• Se a ação for acidentária típica (com fins ao benefício por acidente de trabalho em face do INSS), eventual recurso
é remetido ao TJ.

b) Trabalhista para Estadual (art. 112, CF) (TRT): 1) inexistência de Vara do Trabalho; e 2) nos termos da lei.

CF, art. 112: “A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-
la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)”

O art. 112 da CF estabelece dois requisitos para tal delegação:


1º) Inexistência de Vara do Trabalho.

2º) Que a delegação seja feita nos termos da lei.


Do mesmo modo como ocorre no art. 109, §3º, CF (nova redação), lei federal poderá atribuir aos juízes estaduais a
competência para julgar ações trabalhistas nas hipóteses em que o domicílio do empregado não for sede de vara do
trabalho.
Este caso de delegação também depende da edição de lei, isto é, não é autoaplicável.
✓ O professor destaca que, no estado de São Paulo, ainda não há lei federal que atribua a juízes estaduais
competência para processar causas trabalhistas.

✓ Um eventual recurso de processo da Justiça do Trabalho que é delegado para a Justiça Estadual será encaminhado
ao Tribunal Regional do Trabalho.

4.1.3. Valorativo
Esse critério toma por base o valor da causa para definir a competência.
Em âmbito nacional, o juizado é exemplo em que a competência é atraída pelo critério valorativo.

a) Nacionalmente:
JEC (Lei nº 9.099/1995) – teto de 40 salários-mínimos;
JEF (Lei nº 10.259/2001) – teto de 60 salários-mínimos; e

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JEFP (Lei nº 12.153/2009) – teto de 60 salários-mínimos.

Nacionalmente, o valor da causa somente possui impacto na justiça federal e na justiça estadual. Isso ocorre porque
apenas a justiça comum (federal e estadual) possui juizados.

No Juizado Especial Cível, processam-se, facultativamente, as causas de até 40 salários-mínimos. O JEC é órgão
pertencente à justiça estadual que cuida precipuamente de direito privado.
Se a causa for de direito público em face de órgãos federais, a causa será de competência do Juizado Especial Federal se
valor da causa for de até 60 salários. O JEF é órgão pertencente à justiça federal e envolve direito público (em regra).
Se a causa for de direito público em face de órgãos estaduais e municipais, a causa será de competência do Juizado
Especial da Fazenda Pública se valor da causa for de até 60 salários. O JEFP é órgão pertencente à justiça estadual e
envolve direito público (em regra).

Atenção:
O JEC processa as causas de até 40 salários-mínimos, mas a sua competência não é absoluta. O processamento da ação
no JEC é de faculdade da parte.
No caso do JEF e do JEFP, a competência valorativa é absoluta e, portanto, é obrigatória nos casos de valor da causa até
60 salários-mínimos.

b) Leis de organização judiciária dos Estados (Foros regionais SP)


O professor ressalta que as leis de organização judiciária podem usar o critério valorativo para definir a competência
dentro dos respectivos estados. Um exemplo disso ocorre na cidade de São Paulo, que possui foros regionais (valor de
até 500 salários) estabelecidos na organização estadual de São Paulo.

4.1.4. Territorial (arts. 46 a 53 do CPC) (leis extravagantes)


Por meio do critério territorial, define-se o local do ajuizamento da ação.
✓ Obs.: O professor destaca que o aluno somente se pergunta sobre o critério territorial depois de ter analisado os
critérios anteriores.

Para que se defina o local, há um amplo regramento estabelecido nos arts. 46 a 53 do CPC (dispositivos que devem ser
lidos pelo aluno).

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As regras sobre a competência territorial, entretanto, também constam em leis extravagantes, como, por exemplo: art.
4º da Lei 9.099/9513; art. 2º da LACP14; art. 93 do CDC15, entre outros.

a) Direito pessoal e real sobre bens móveis (art. 46, CPC)


O art. 46, CPC, traz a regra do CPC fundadas em direito pessoal e fundadas em direito real sobre bem móvel.
✓ A regra geral do critério territorial está preceituada no art. 46, CPC.

CPC, art. 46: “A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro
de domicílio do réu.
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de
domicílio do autor.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se
este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do
autor.
§ 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.”

b) Direito real sobre bens imóveis (art. 47, CPC).

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Lei 9099/95, art. 4º: “É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro:
I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou
mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório;
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo.”
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LACP, art. 2º: “ As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá
competência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que
possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)”
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CDC, art. 93: “Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as
regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.”

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Exemplos: ação reivindicatória de bem imóvel; ação de usucapião de bem imóvel etc.

b.1) absoluta/funcional (art. 47, “caput”)


Quando o fundamento da ação for direito real sobre bens imóveis, a ação será julgada no local do imóvel.

✓ Apesar de ser regra de competência territorial, ela é cogente/absoluta, ou seja, a parte não tem a opção de ajuizar
a ação em outro lugar e não há prorrogação de competência.

CPC, art. 47, caput: “Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.

b.2) relativa: art. 47, §1º, CPC.


Nos casos do §1º, art. 47, a competência é relativa.

CPC, art. 47, §1º: “O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre
direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.”
✓ Obs.: O professor destaca que que é praticamente impossível encontrar uma ação fundada em direito real sobre
imóvel que não envolva propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra
nova.

b.3) Possessória imobiliária (art. 47, §2º, CPC) (rescisão c.c reintegração?)
A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta para julgar
o caso, ou seja, essas ações caem na regra geral do “caput” do art. 47, CPC (foro de situação da coisa).

CPC, art. 47,§2º: “A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência
absoluta.”

Exemplo: se houve a invasão de uma fazenda em Goiânia, eventual ação possessória (reintegração de posse/manutenção
de posse/interdito proibitório) contra os invasores só pode tramitar em Goiânia, pois se aplica a regra do art. 47, §2º do
CPC.

Rescisão de contrato cumulada com reintegração de posse?


Exemplo: a pessoa compra um imóvel financiado e, posteriormente, para de pagar o financiamento. O proprietário ajuíza
uma ação para rescindir o contrato de compra e venda, pedir a reintegração do imóvel além de perdas e danos. Neste
caso, aplica-se o art. 47, §2º do CPC? Não.

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Não se aplica o art. 47 do CPC à hipótese de rescisão de contrato cumulada com reintegração de posse, pois o fundamento
da ação não é a posse, mas sim o inadimplemento do contrato de compra e venda.
Sendo a ação fundada em direito pessoal/obrigacional, o regramento a ser seguido é o do art. 46, caput do CPC, ou seja,
é o foro de domicílio do réu.

Observação: se a ação for de reintegração de posse pura, será aplicado o art. 47 do CPC.

c) Ações de direito sucessório (art. 48, CPC)


O art. 48 do CPC estabelece foros sucessivos.

CPC, art. 48: “O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a
arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para
todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.”

Em caso de abertura de inventário, portanto, é necessário seguir as seguintes regras:


1ª) Foro do domicílio do morto;
2ª) Se o morto não possuía domicílio certo, é competente o foro de situação dos bens imóveis;
3ª) Havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
4ª) Não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.

Atenção: os foros são sucessivos. Assim, a parte não pode escolher qual o foro para intentar a ação, devendo seguir as
regras acima.

d) Contra ausente (art. 49, CPC)


A regra nos casos de ausente é muito parecida com as relativas à sucessão, sendo competente o foro do último domicílio
do ausente.

CPC, art. 49: “A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para
a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias.”

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e) Contra incapaz (absoluto ou relativo) (art. 50, CPC) (Súmula 383, STJ16)
O CPC não faz, nesse dispositivo, diferenciação entre a incapacidade relativa e a absoluta.
O incapaz é demandado no foro de domicílio de seu representante ou assistente.

CPC, art. 50: “A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente.”

✓ Obs.: O professor destaca que essa regra visa a proteger o incapaz.

f) União - autora e ré (arts. 109, §§ 1º e 2º da CF e 51 CPC) (capital?)


Essa é a única regra de foro que possui previsão constitucional.
✓ Obs.: O professor destaca que a jurisprudência entende que, apesar de o CPC só citar a “União”, as regras a serem
estudadas nesse tópico são válidas para as pessoas jurídicas de direito público, ou seja, aplicam-se às autarquias
federais.
✓ Atenção: Os arts. 109, §§ 1º e 2º da CF e 51 CPC não se aplicam às empresas públicas, pois elas são regidas pelo
direito privado. Assim sendo, no caso delas, utiliza-se todo o regramento da legislação processual.

f.1) Ações em que a União/autarquias forem autoras: de acordo com o art. 109, § 1º e art. 51, CPC, nas ações em que a
União (ou a autarquia) é autora, ela vai ingressar com a ação na vara federal do domicílio do réu.

Obs.: Todo o território brasileiro é atendido por alguma subseção judiciária da justiça eleitoral, ainda que não haja foro
da justiça federal naquela localidade.
Exemplo: Em Patrocínio Paulista, não há foro da justiça federal. As ações da justiça federal dessa localidade, portanto,
tramitam em Franca.

CF, art. 109,§ 1º: “As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra
parte.”

CPC, art. 51: “É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União.
Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência
do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.”

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Súmula 383, STJ “A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do
foro do domicílio do detentor de sua guarda.”

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f.2) União como ré
Neste caso, a competência é concorrente (5 foros), ou seja, o autor pode ingressar com a ação, na justiça federal, no foro
de domicílio do autor, no foro do local do ato/fato, no foro de situação da coisa, no DF ou no foro da capital do estado.
Neste último caso (capital do estado), há entendimento do STJ que possibilita esse quinto foro concorrente.

CF, art. 109 ,§ 2º: “As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado
o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda,
no Distrito Federal.

✓ Obs.: O professor explica que a seção judiciária se refere ao estado todo. Assim sendo, exemplificativamente, se
o indivíduo mora em Minas Gerais, ele pode propor a ação na justiça federal da cidade dele (exemplo: Uberlândia
– Subseção judiciária) ou pode propor a ação em Belo Horizonte (seção judiciária). Esse é o entendimento do STJ.
✓ O professor entende que, de todas as 5 regras apresentadas (5 foros), a única que é absoluta/obrigatória é a que
determina o foro de situação da coisa e isso ocorre por ocasião do que dispõe o art. 47 do CPC.

CPC, art. 51: “É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União.
Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência
do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.”

Atenção: No caso de empresa pública federal, não se aplicam as regras estudadas nesse tópico.

g) Estado e DF – autor e réu (art. 52, CPC)


Quando o Estado, o DF (ou autarquias estaduais) forem autores, eles ingressarão com a ação, na justiça estadual, no foro
de domicílio do réu.
Já se o Estado ou o DF (ou autarquias estaduais) forem réus, também há quatro foros concorrentes, sendo possível
ingressar com a ação no foro de domicílio do autor, no foro do local do ato/fato, no foro de situação da coisa ou na capital
do ente federado.

CPC, art. 52: “É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal.
Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do
autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente
federado.”

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Obs.1: A regra do art. 52, CPC, não se aplica às empresas públicas estaduais, pois elas são regidas pelo direito privado e,
portanto, caem na regra geral.
Obs.2: A regra do foro de situação da coisa é obrigatória se se referir à hipótese do art. 47 do CPC (competência absoluta).

h) Municípios – autor e réu (sem regra específica)


O CPC não traz regra específica para ações envolvendo os municípios. Assim, aplicam-se as regras gerais do sistema (art.
46 e seguintes), independentemente de ser o município autor ou réu.

i) Regras especiais (art. 53 CPC) (divórcio/separação e afins - Lei 13.894/2019) (cartórios) (delito)
O art. 53, CPC, traz regras especiais sobre competência que afastam o regramento dos artigos 46 e seguintes do CPC.

Observações:
1ª) O art. 53, I do CPC sofreu alteração legislativa em 2019 (Lei 13.894/2019). Tal lei acrescentou uma regra de
competência benéfica à vítima de violência doméstica e familiar.
Assim, para ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável, é
competente o foro:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;
d) de domicílio da vítima de violência doméstica e familiar.
Atenção: O art. 53, I do CPC traz hipóteses de foros sucessivos nas alíneas “a”, “b” e “c”. A hipótese da letra “d”,
entretanto, não é sucessiva, mas preferencial.
✓ Assim, quando há vítima de violência doméstica e familiar, não se consideram (não são válidas) as hipóteses
trazidas nas alíneas “a”, “b” e “c”. O foro, neste caso, será o domicílio da vítima de violência doméstica e familiar

2ª) O art. 53, III, “f”, CPC estabelece que as ações serão ajuizadas na sede da serventia notarial ou de registro, para a ação
de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício.
Essa regra, segundo o professor, beira à inconstitucionalidade porque viola a igualdade, já que o dispositivo protege a
parte mais forte da relação (e não o vulnerável).
Exemplo: O cartório de São Paulo faz um registro errado nos assentamentos de uma determinada pessoa que mora em
Manaus. Segundo o dispositivo, o prejudicado precisaria intentar uma ação em São Paulo se almejasse a reparação de
dano por ato praticado em razão do ofício.

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3ª) O art. 53, V, CPC estabelece um foro concorrente para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou
acidente de veículos, inclusive aeronaves.
Assim, a ação pode ser intentada no local de domicílio do autor ou no local do fato.
✓ Atenção: O professor destaca que, apesar da ordem do CPC sobre competência territorial ser do 46 até o 53, o
Código de Processo Civil deve ser lido ao contrário, ou seja, do art. 53 para o art. 46.

CPC, art. 53: “ É competente o foro:


I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;
d) de domicílio da vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria
da Penha); (Incluída pela Lei nº 13.894, de 2019)
II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos;
III - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento;
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto;
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício;
IV - do lugar do ato ou fato para a ação:
a) de reparação de dano;
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, inclusive aeronaves.”

5. Regime jurídico da competência interna (quadro sinótico)


O professor explica que o sistema jurídico brasileiro acabou dividindo os 4 critérios territoriais anteriormente estudados
em 2 grandes grupos: competência absoluta e competência relativa.
ABSOLUTA RELATIVA
CRITÉRIOS Funcional/hierárquico e material (regra geral). Valorativo e territorial (regra geral).

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PREVISÃO LEGAL Art. 64, §§, CPC17 Art. 65, CPC18 (art. 64, §§ 2º a 4º
também valem para a competência
relativa).
INTERESSE PROTEGIDO PÚBLICO PRIVADO
São regras protetivas da melhor
organização/funcionamento do Poder
Judiciário)
CONHECIMENTO PELO JUIZ Se houver violação à competência absoluta, o Só pode ser conhecida pelo juiz
juiz pode reconhecê-la de ofício, em qualquer mediante a alegação da parte ou do
momento e grau de jurisdição, observado, MP (súmula 33, STJ20) (art. 65, § único,
todavia, o que aponta o art. 10 do CPC19. CPC).
Exemplo: se a vítima de violência
doméstica e familiar possui ação de
divórcio tramitando no foro do
agressor, ela ou o MP devem alegar
que há o direito de ela ser processada
em seu domicílio.

17
CPC, art. 64: “A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação.
§ 1º A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício.
§ 2º Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência.
§ 3º Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente.
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente
até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.”
18
CPC, art. 65: “Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação.
Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar.”
19
CPC, art. 10: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se
tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.”
20
Súmula 33, STJ: “ A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”

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DERROGABILIDADE NÃO (art. 62 do CPC) (inaplicabilidade do art. SIM: foro de eleição (art. 63, CPC21) e
190 CPC). conexão/continência (arts. 55 e 56
Obs.: Para a maior parte da doutrina brasileira, CPC22).
não é possível a aplicação do art. 190 do CPC. Neste caso, a regra de competência é
Assim, não é cabível foro de eleição nem derrogável e as partes podem, por
convenção processual. contrato, combinar o foro.
MOMENTO e MODO PARA Preliminar de contestação (art. 64, CPC) ou a Preliminar de contestação, sob pena
ALEGAÇÃO qualquer momento (art. 64, § 1º, CPC). de prorrogação de competência
(fenômeno atrelado à preclusão).
VIOLAÇÃO Eventual nulidade dos atos praticados (art. 64, Não gera nulidade: prorrogação de
§ 3º, CPC). Cabe ação rescisória (art. 966, II, competência (art. 65 CPC). Não cabe
CPC23). rescisória.
Obs.: Existem, em caráter excepcional, hipóteses de competência territorial absoluta e hipóteses de competência
valorativa absoluta.

5.1. Critério territorial absoluto (art. 47 e § 2º, CPC) (art. 2º da Lei nº 7.347/1985)
O que interessa para uma regra ser de competência absoluta é a proteção do interesse público. Já o que interessa para
uma regra ser de competência relativa é a proteção do interesse privado. Por esse motivo é que, ainda que a regra seja
valorativa e territorial, se ela proteger o interesse público, ela seguirá as regras de competência absoluta.

21
CPC, art. 63: “As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será
proposta ação oriunda de direitos e obrigações.(...)”
22
CPC, arts. 55 e 56: “Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de
pedir.
§ 1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado.
§ 2º Aplica-se o disposto no caput :
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes
ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir,
mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.”
23
CPC, art. 966, II: “A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: (...)
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;”

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Exemplos:
CPC, art. 47, §2º: “A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência
absoluta.”
✓ Exemplo: se o juiz de Patrocínio Paulista receber uma ação de usucapião de imóvel de Goiânia, ele reconhecerá,
de ofício, a sua incompetência absoluta.

Lei 7.347/1985 (Lei de Ação Civil Pública)


“Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência
funcional para processar e julgar a causa.”

5.2. Critério valorativo/absoluto (art. 3º, §3º, Lei 10.259/2001) (art. 2º, §4º, Lei 12.153/2009)
Se o interesse protegido pela norma for público, ainda que, eventualmente, o critério seja valorativo, o regramento será
da competência absoluta.

Exemplos:
Lei 10.259/2001, art. 3º, §3º: “No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.”

Lei 12.153/2009, art. 2º, §4º: “No foro onde estiver instalado Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua competência é
absoluta.”
✓ Obs.: Tais previsões, relativas ao JEF e JEFAZ, trazem regras para organizar melhor o Poder Judiciário.

5.3. Foro de eleição (sempre renunciável em prol da regra do art. 46, CPC)
O foro de eleição é um negócio jurídico pré-processual típico (possui previsão expressa no art. 63, CPC) que tem o objetivo
de combinar o foro.
✓ O foro de eleição é possível apenas na competência relativa.

A regra do foro de eleição sempre será renunciável em prol da regra do art. 46, CPC (domicílio do réu), pois esta é mais
favorável ao demandado.

a) Requisitos (art. 62 e 63, “caput” e §1º)


Para haver foro de eleição, devem ser preenchidos os seguintes requisitos:
• A competência deve ser relativa.
• A regra do foro de eleição deve ocorrer sempre por escrito.

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• O foro de eleição deve indicar expressamente a qual negócio jurídico ele se refere (não pode ser genérico).
Exemplo: o contrato dispõe que qualquer conflito relativo à cláusula 10 será julgado na comarca de São Carlos.

CPC, art. 62: “A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção
das partes.”

CPC, art. 63, caput e §1º: “As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro
onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações.
§ 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado
negócio jurídico.”

b) Sucessão (art. 63, §2º)


O foro de sucessão obriga herdeiros e sucessores das partes. Isso significa que, se, eventualmente, a parte que combinou
o foro de eleição morrer, os seus herdeiros e sucessores devem cumprir o foro de eleição.
Obs.: Se os herdeiros ou sucessores não cumprirem o foro de eleição, a parte contrária pode alegar o fato em preliminares
de contestação.

✓ Atenção porque o dispositivo não cita cônjuge/companheiro que não pactuou. Assim, ele não é obrigado a
obedecer ao foro de eleição.

CPC, art. 63, §2º: “O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.”

c) Abusividade do foro de eleição (art. 63, §§3º e 4º, CPC) (momento do reconhecimento)
Se o foro de eleição for considerado abusivo, pode ser reconhecida a sua nulidade. Nesse caso, haverá o encaminhamento
dos autos ao juiz competente, conforme as regras do CPC.

CPC, art. 63, §3º e 4º:


“§ 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que
determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu.
§ 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. ”

Atenção ao momento do reconhecimento do vício:


Na propositura da ação, o juiz pode, de ofício, reconhecer a ineficácia do foro de eleição e encaminhar a ação para o
domicílio do réu.

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Exemplo: O Bradesco ingressa com uma ação em Osasco demandando um cliente que mora em Manaus. Na propositura
da ação, o juiz, de ofício, reconhece a ineficácia do foro de eleição, debate com as partes e encaminha a ação para o
domicílio do réu.

Após a citação do réu, se o juiz determinar o processamento da ação sem perceber o vício existente, ele somente poderá
pronunciá-lo mediante a provocação da parte (réu).
Exemplo: O Bradesco ingressa com uma ação em Osasco demandando um cliente que mora em Manaus. Após a citação
do réu, o juiz, não pode, de ofício, reconhecer a ineficácia do foro de eleição. Nessa situação o réu, em preliminares de
contestação, deve alegar a abusividade do foro de eleição.

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