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INTENSIVO I

Fernando Gajardoni
Direito Processual Civil
Aula 10

ROTEIRO DE AULA

Tema: Tutelas provisórias

1. Tutelas provisórias e berço constitucional (art. 5º, XXXV1 e LXXVIII,2 da CF)


As tutelas provisórias têm berço constitucional e isso significa que jamais o legislador infraconstitucional poderia eliminar
as tutelas provisórias no Brasil.

A partir do momento em que a CF estabelece, no art. 5º, XXXV, que não podem ser excluídas da proteção do Poder
Judiciário situações de ameaça a direitos, nascem as tutelas provisórias de urgência.
✓ É a urgência que socorre a ameaça à violação do direito e, portanto, não adianta o legislador infraconstitucional
acabar com a tutela cautelar e com a tutela antecipada, pois elas subsistem à luz do art. 5º, XXXV da CF/1988.

O inciso LXXVIII, art. 5º, CF, por sua vez, estabelece o princípio da razoabilidade temporal ao asseverar que os processos,
no Brasil, devem durar por um tempo razoável (princípio da razoável duração do processo). Há situações em que o direito
da parte é tão evidente que seria irracional conceder a tutela jurisdicional apenas ao final do processo. Por essa razão,
este dispositivo é o berço das chamadas tutelas de evidência.

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CF, art. 5º, XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”
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CF, art. 5º, LXXVIII: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”

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✓ As tutelas de evidência são aquelas que não se preocupam com a ocorrência do periculum in mora, pois, neste
caso, não há a ameaça a um direito. Elas se preocupam com a tutela em tempo razoável.
Exemplo: “A” ingressa em juízo pedindo X e já existe uma súmula do STF regulando tal matéria e afirmando que,
abstratamente, “A” tem direito a X. Neste caso, violaria a razoável duração do processo entregar o bem da vida
pretendido apenas ao final se já existe uma súmula do STF que concede a “A” o direito ao bem da vida pretendido.

2. Tutelas provisórias na doutrina (diferenças)

Na doutrina, é feita uma distinção entre modalidades de tutelas provisórias (antecipada, cautelar e de evidência).

a) Tutela antecipada (satisfativa provisional de urgência)


O professor ressalta que o nome adequado tecnicamente seria “tutela satisfativa provisional de urgência”.
✓ A tutela antecipada é satisfativa porque entrega antes do momento adequado o bem da vida que se objetiva
receber ao final do processo. Neste caso, há uma correspondência total ou parcial daquilo que se pretende obter
ao final. Em virtude da urgência, o juiz está autorizado a, provisoriamente, antecipar, o bem da vida que somente
seria obtido ao final, de forma a satisfazer o direito da parte.
Exemplo 1 (tutela provisória de urgência satisfativa antecipada): ações relativas ao fornecimento de
medicamento. Se o fornecimento demorar, a pessoa morre. Assim sendo, o indivíduo requer antecipadamente,
o fornecimento de medicamento pelo Estado. Perceba que, neste caso, há uma coincidência total entre aquilo
que se pretende obter ao final e o que é pedido antecipadamente.
Exemplo 2 (tutela provisória de urgência satisfativa antecipada): proibição da produção de determinada atividade
poluidora. Neste caso, o Ministério Público ingressa com uma ação para cessar a atividade poluidora. Perceba
que, neste caso, também há uma coincidência total entre aquilo que se pretende obter ao final e o que é pedido
antecipadamente. Se o pedido do Ministério Público incluir, ainda, um pedido de indenização ao final do processo,
haverá uma coincidência parcial entre a tutela antecipada requerida e o provimento final.
✓ Obs.: O professor Cassio Scarpinella Bueno cita que a tutela antecipada é um modo de o processo começar de
trás para frente. Isso ocorre porque a tutela antecipada altera a ordem natural do processo (pedido – execução –
defesa – decisão).

b) Tutela cautelar (conservativa provisional de urgência)


A tutela cautelar possui duas características comuns com a tutela antecipada: é provisória e é de urgência.
A grande diferença entre ambas é que a tutela satisfativa antecipa o próprio provimento que se deseja ao final. Na tutela
cautelar, entretanto, há a conservação do bem, ou seja, a tutela cautelar provisória de urgência garante o bem/o
direito/ou a pessoa para que, no futuro, em uma eventual execução, possa haver a efetividade daquilo que for decidido.
✓ Assim, a tutela cautelar conserva bens/direitos/ou pessoa para que, num futuro próximo, possa haver a
efetividade daquilo que for decidido.

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Tutela de urgência (300/302 CPC3) (com periculum in mora).

No Brasil, esse tipo de tutela somente existe nos casos de urgência (periculum in mora).
Os artigos 300 a 302 do CPC informam que existe a tutela provisória de urgência antecipada ou satisfativa e existe a tutela
provisória de urgência cautelar ou conservativa.
i) satisfativa/antecipada (303/304 CPC) (incidental/antecedente)
ii) conservativa/cautelar (305/310CPC) (incidental/antecedente)

Questão: Qual a distinção entre tutela provisória de urgência antecipada e tutela provisória de urgência cautelar? A
diferença entre as duas está na proteção deferida pelo Estado:
✓ Se a proteção deferida pelo Estado na situação de urgência satisfizer imediatamente o direito da parte, há tutela
provisória de urgência antecipada.
✓ Se a proteção deferida pelo Estado na situação de urgência conservar o direito para que, oportunamente, ele
possa ser satisfeito, ou seja, se a tutela não satisfizer imediatamente o direito da parte, há a tutela provisória de
urgência cautelar.
Exemplo 1 (tutela provisória de urgência cautelar): Imagine que “A” ingresse com um pedido contra “B”,
reivindicando o bem X. Neste exemplo, “A” pede para que o juiz determine, cautelarmente, que “B” guarde o

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CPC, arts. 300 a 302:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens,
registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.
Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da
tutela de urgência causar à parte adversa, se:
I - a sentença lhe for desfavorável;
II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido
no prazo de 5 (cinco) dias;
III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;
IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível.”

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bem de forma que seja possível definir, ao final do processo, a quem ele pertença e, posteriormente, entregá-lo
ao verdadeiro dono.
Exemplo 2 (tutela provisória de urgência cautelar): separação de corpos. Imagine que a esposa requer uma tutela
de urgência cautelar pedindo ao juiz que a afaste do seu marido, pois, caso contrário, ela corre risco de vida. Neste
caso, conserva-se a pessoa para, posteriormente, haver o divórcio.
Exemplo 3 (tutela provisória de urgência cautelar): cautelar de arresto. Imagine um devedor que dilapida todo o
patrimônio. Neste caso, o credor ingressa com a cautelar de arresto para pedir ao juiz que bloqueie os bens do
patrimônio do devedor para que, quando houver a execução, seja possível haver a penhora. Neste caso, conserva-
se um bem para que o direito seja satisfeito ao final.
✓ Pontes de Miranda afirmava que “a tutela antecipada satisfaz para garantir e a tutela cautelar garante para
satisfazer.”

c) Tutela de evidência (satisfativa provisional)


No caso da tutela de evidência, não há “periculum in mora”. Neste caso, não há urgência do autor em obter a proteção
estatal, mas seu direito é tão evidente que não faz sentido fazer com que ele se submeta ao custo da demora do processo.

Observações:
✓ O professor destaca que não é possível negar que existe uma semelhança entre a tutela antecipada e a tutela da
evidência, pois ambas possuem a característica de serem satisfativas.
✓ O professor ressalta que, antes do CPC/2015, já existia a tutela de evidência, a despeito de a lei não utilizar esse
nome.

Exemplo 1: Decreto-Lei 911/1969, art. 3º4 - trata da busca e apreensão do bem dado em alienação fiduciária como garantia
a uma instituição bancária.
O dispositivo determina que o juiz, liminarmente, deve conceder busca e apreensão do bem dado em alienação fiduciária,
pois se considera que o direito é evidente (direito altamente provável).
Perceba que, no exemplo dado, não há periculum in mora nem há dilapidação do patrimônio. Neste caso, há um direito
altamente provável de o banco vencer o processo ao final.

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DL 911/69, art. 3º: “O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma estabelecida
pelo § 2o do art. 2o, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado
fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário. (Redação dada pela
Lei nº 13.043, de 2014) (...)”

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Exemplo 2: liminar da ação possessória (art. 5585 e art. 562 do CPC6) é o típico caso de tutela de evidência. Imaginem que
a pessoa possui 100 imóveis e dá destinação social a todos eles. Se uma das casas for invadida, ela pode ingressar com
tutela de evidência (dentro de ano e dia) e obter a liminar na ação possessória.
No exemplo 2, também não há urgência, mas a lei tutelou a evidência.

3. Disciplina das tutelas provisórias no CPC (294)


CPC, art. 294: “A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente
ou incidental.”

O CPC/2015 desenhou as tutelas provisórias contemplando as tutelas de urgência e de evidência.


a) Tutela de urgência (300/302 CPC7) (com periculum in mora).

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CPC, art. 558: “Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo
quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput , será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter
possessório.”
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CPC, art. 562: “Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado
liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado,
citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar
sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.”
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CPC, arts. 300 a 302:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens,
registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.
Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da
tutela de urgência causar à parte adversa, se:
I - a sentença lhe for desfavorável;

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I. satisfativa/antecipada (303/304 CPC) (incidental/antecedente)
II. conservativa/cautelar (305/310CPC) (incidental/antecedente)

Atenção: as tutelas provisórias de urgência (antecipada e cautelar) podem ser requeridas de modo incidental (ou seja, no
decorrer do próprio processo) ou de modo antecedente (antes do pedido principal).
Exemplo: a pessoa pode pedir o medicamento sozinho, antes de ingressar com a ação de obrigação de fazer contra o
Estado; ou pode pedir o medicamento no curso do processo.

b) Tutela da evidência (311 CPC + procedimentos especiais) (sem periculum in mora) (só incidental)
Além das hipóteses de tutela da evidência previstas em procedimentos especiais, o CPC trouxe, no art. 311, mais quatro
casos:

CPC, art. 311: “ A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco
ao resultado útil do processo, quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que
será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu
não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente.”

✓ Como não há urgência, a tutela de evidência somente pode ser requerida de modo incidental.

4. Principais questões

4.1. Fim das tutelas cautelares em espécie (poder geral de cautela do juiz - arts. 300 a 3018). Exceções?

II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido
no prazo de 5 (cinco) dias;
III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;
IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível.”
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CPC, arts. 300 e 301: “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

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No CPC/1973, as tutelas conservativas podiam ser típicas (previstas em lei) ou atípicas (não previstas em lei).
✓ O CPC/1973 possuía a previsão de muitas medidas cautelares típicas: arresto, sequestro, caução, arrolamento de
bens, separação de corpos etc.
A despeito disso, o próprio legislador reconhecia a sua incapacidade para prever todas as hipóteses em que seria
necessário socorrer uma urgência, conservando bens/pessoas/ou direitos para futura efetivação. Assim sendo, o art. 798
do CPC/1973 citava que, havendo probabilidade do direito e urgência, o juiz poderia conceder medidas cautelares atípicas
(poder geral de cautela do juiz).
✓ O poder geral de cautela do juiz é uma função integrativa da eficácia da atividade jurisdicional.
✓ O professor cita que o poder geral de cautela do juiz do CPC/1973 serviu para a criação jurisprudencial de várias
cautelares que não tinham previsão legal (exemplos de medidas cautelares atípicas: suspensão de deliberações
sociais e sustação de protesto).

Questão: No CPC/2015, há poder geral de cautela do juiz? Sim.


Atualmente, as tutelas provisórias conservativas são dadas com base no poder geral de cautela do juiz (art. 300 a 301 do
CPC).
✓ O CPC de 2015 não prevê tutela cautelar típica. A regra geral no Brasil é de que todas as cautelares serão dadas
desde que haja probabilidade do direito e perigo de dano. Assim sendo, o CPC/2015 acabou com o modelo da
tipicidade das medidas cautelares.
Exceções: há uma parte da doutrina que sustenta a existência de duas cautelares em espécie:
1º) Cautelar típica de atentado – Previsão no art. 77, VI, CPC, c/c o art. 77, § 7º, CPC.
Atentado é a prática de uma conduta que causa uma inovação artificial no estado da coisa do processo.
Exemplo: há um lugar em que será feita perícia e uma das partes altera o local. Provada a ocorrência do atentado, a outra
parte pode requerer ao juiz que faça com que a parte que praticou o atentado restabeleça a coisa ao estado anterior.
Esse ato tem a função conservatória.
✓ Obs.: Para uma parte da doutrina, o disposto no art. 77, VI do CPC c/c o art. 77, § 7º do CPC é uma tutela cautelar,
pois conserva a prova do processo indene à alteração fática para que, posteriormente, seja realizada uma perícia
que revele a verdade.

§ 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens,
registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.”

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CPC, art, 77, VI e §7º:
“Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que
de qualquer forma participem do processo:
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso. (...)
(...)
§ 7º Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo,
ainda, proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação do § 2º.
(...)”

2º) produção antecipada de provas cautelar – art. 381, I, CPC9.


O art. 381, I do CPC estabelece que é possível a produção antecipada de provas toda a vez que houver risco de seu
perecimento.
Exemplo: “A” está entrando com uma ação de indenização por danos materiais contra uma construtora, pois o prédio que
ela vendeu ao autor está ruindo. Neste caso, como o prédio está prestes a cair, é possível que “A” peça ao juiz que,
cautelarmente, produza a perícia para que se garanta que, ainda que o prédio desmorone logo em seguida, a verdade dos
fatos seja protegida.

4.2. Sumariedade da cognição (probabilidade) (300 x 311) (cognição vertical) (graus de probabilidade entre TE/TA/TC)
A sumariedade da cognição é uma característica de todas as tutelas provisórias.

✓ Cognição é aquilo que é considerado pelo juiz no momento de decidir (julgamento).

O professor Kazuo Watanabe dividia a cognição em dois planos: horizontal e vertical.


➢ No plano horizontal, verifica-se a extensão das matérias, ou seja, aquilo que o juiz pode ou não pode apreciar.
o Se não há limite na extensão, a cognição é ilimitada/plena.
o Há casos em que o sistema não permite que o juiz aprecie determinados temas. Nesse caso, a cognição
será limitada.
Exemplo 1 (cognição limitada): art. 525, §1º, CPC10 - No caso de impugnação ao cumprimento de sentença,
o devedor pode alegar apenas as matérias listadas no dispositivo.

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CPC, art. 381, I: “A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que:
I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da
ação;
II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução de conflito;
III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação.”
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CPC, art. 525, §1º: “ Na impugnação, o executado poderá alegar:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;

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Exemplo 2 (cognição limitada): art. 544 do CPC11 - versa sobre a consignação em pagamento. O credor,
neste caso, apenas pode alegar as matérias elencadas no dispositivo para se defender.
Exemplo 3 (cognição limitada): art. 20 do Decreto-Lei 3364/194112 - versa sobre a desapropriação. Neste
caso, o desapropriado somente pode alegar em sua defesa que o decreto expropriatório é nulo ou que o
preço está abaixo do mercado. Todas as demais alegações devem ser feitas em outra ação.

➢ No plano vertical, a cognição é analisada do ponto de vista da profundidade com a qual o juiz analisa as matérias.
No plano vertical, a cognição pode ser profunda/exauriente ou pode ser sumária/superficial.
o Nos casos de cognição sumária/superficial, a cognição é feita com base em juízos de probabilidade. Neste
caso, permite-se que o juiz profira decisões com base em cognição mais sucinta, sem grandes
investigações sobre o tema. Nesse caso, há menos segurança jurídica e mais celeridade.
o Se o juiz esmiúça toda a matéria, analisa todos os argumentos e faz ampla instrução, diz-se que é cognição
profunda/exauriente. Nesse caso, há mais segurança jurídica e menos celeridade.
Obs.: Diante disso, é necessário entender que as tutelas provisórias são mutáveis e não fazem coisa
julgada, já que elas trazem um juízo de pouca segurança e muita velocidade.

Questão: Existem graus de probabilidade entre tutela de evidência, tutela antecipada e tutela cautelar?
Toda a doutrina concorda que o grau de probabilidade para a tutela da evidência é maior do que o da tutela de urgência.
✓ Em relação à tutela provisória de urgência antecipada e à tutela provisória de urgência cautelar, a questão é
controvertida.

II - ilegitimidade de parte;
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - penhora incorreta ou avaliação errônea;
V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou
prescrição, desde que supervenientes à sentença.”
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CPC, art. 544: “Na contestação, o réu poderá alegar que:
I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida;
II - foi justa a recusa;
III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
IV - o depósito não é integral.
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar o montante que entende
devido.”
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DL 3365/41, art. 20: “A contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer
outra questão deverá ser decidida por ação direta.”

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• A doutrina majoritária entende que não existe diferença de grau de probabilidade entre elas. O fundamento dessa
corrente é que a previsão dos requisitos para a tutela de urgência está no art. 300 e este dispositivo não faz
nenhuma distinção.
CPC, art. 300, caput: “A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

• Uma parte minoritária da doutrina, entretanto, acredita que há diferença de grau de probabilidade entre a tutela
cautelar e a tutela antecipada. O professor Fernando Gajardoni é adepto a essa corrente e defende que, para o
juiz conceder uma tutela antecipada, ele precisa ter um grau de probabilidade maior do que para conceder uma
tutela cautelar. Isso porque, para ele, a possibilidade de satisfazer o direito de plano necessita de uma análise
muito mais rigorosa da probabilidade do que aquela necessária para garantir o direito.
Exemplo: imagine que há uma disputa entre duas pessoas por um bem móvel. Na concepção do professor, o juiz
deve ter maior grau de convencimento para retirar o aparelho de uma das partes e entregar para a outra, do que
para retirar o aparelho da parte e pedir para alguém que o guarde até o fim do processo.

4.3. Urgência ou preventividade (periculum in mora) (300 CPC) (identidade de periculum na TA/TC?) (não vale na
tutela de evidência)

Com exceção à tutela da evidência, o sistema brasileiro trabalha com tutelas fundadas na urgência ou na preventividade.
As tutelas provisórias caracterizam-se pela urgência/preventividade, porque ambas são fundadas no periculum in mora.

CPC, art. 300, caput: “A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

Observação: A grande questão é saber se existem distinções entre o periculum in mora para conceder a tutela antecipada
e o periculum in mora para conceder a tutela cautelar. À luz do art. 300 do CPC, o professor também entende que há
distinções (corrente majoritária).
Na opinião do professor, o CPC, ao falar do periculum in mora para a tutela antecipada, cita a proteção ao risco de dano
ao direito (Exemplo: concessão antecipada de medicamento que manterá o autor/requerente vivo). De outra forma, o
periculum in mora para a tutela cautelar é o risco ao resultado útil do processo (Exemplo: “A” quer bloquear os bens de
“B” para que, quando ele for condenado, haja bens para realizar a penhora - cautelar de arresto).

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4.4. Reversibilidade: precariedade, revogabilidade e mutabilidade (art. 300, § 3º 13e 29614 - Enunciado 25 ENFAN)
Como a tutela é provisória não é baseada na segurança (celeridade), ela é mutável, ou seja, pode ser revogada a qualquer
tempo.
Exemplo: o professor relata que, em sua carreira como juiz estadual, certa vez uma mulher requereu a separação de
corpos (tutela provisória cautelar) e alegou que o seu marido tinha causado lesões nela (arranhões). A tutela foi concedida
e o marido foi afastado da casa. Posteriormente, o marido apresentou um laudo da polícia civil demonstrando que a
mulher teria cometido autolesões. Neste caso, a tutela provisória cautelar foi revogada e o marido pôde voltar para a
casa.

A reversibilidade é uma garantia das tutelas provisórias e implica as características da precariedade, revogabilidade e
mutabilidade.
Regra geral, as tutelas provisórias devem ser reversíveis. Isso ocorre por ocasião da precariedade de cognição. Essa é a
característica da reversibilidade.
✓ Anote-se, entretanto, que a reversibilidade pode ser in pecunia, não necessariamente in natura. Exemplo: há a
concessão de tutela antecipada para a realização de transplante de coração em uma pessoa. Essa medida é
reversível? Sim, mas ocorre de modo pecuniário (indenização paga pelo réu ao hospital por toda a cirurgia).
✓ A reversibilidade significa que o juiz deve poder, a qualquer momento, voltar atrás em sua decisão, ainda que a
reversibilidade seja feita em pecúnia.
✓ A reversibilidade é chamada por parte da doutrina de periculum in mora inverso, pois o juiz, além de ver o
periculum in mora para o autor, deve ver o periculum in mora para o réu (art. 300, §3º do CPC15).
✓ Em suma: Como característica decorrente da reversibilidade, as tutelas provisórias são precárias (só duram até a
decisão final), revogáveis e mutáveis (a qualquer momento, o juiz pode mudar ou revogar a tutela provisória).

De acordo com o Enunciado 25 da ENFAM, nas situações em que o juiz verificar que a tutela provisória a ser concedida é
irreversível, a rigor, ele não deve deferi-la. Todavia, se o bem a ser protegido for de valor maior (do ponto de vista de
proporcionalidade constitucional) do que aquele que se pretende tutelar com a vedação da reversibilidade, o juiz deve
conceder a tutela provisória.
Enunciado 25 da ENFAM - “25. A vedação da concessão de tutela de urgência cujos efeitos possam ser irreversíveis (art.
300, § 3º, do CPC/2015) pode ser afastada no caso concreto com base na garantia do acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, da
CRFB).”

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CPC, art. 300, §3º: “A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.”
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CPC, art. 296, caput: “A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do processo, mas pode, a qualquer tempo,
ser revogada ou modificada.”
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CPC, art. 300, §3º: “§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.”

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Em suma: em caráter excepcional, mesmo nos casos em que há irreversibilidade (in natura ou in pecúnia), a doutrina e a
jurisprudência sustentam que é possível a concessão das tutelas provisórias. Trata-se da teoria do mal menor.

Exemplo: imagine um caso em que a pessoa está morrendo e precisa de uma determinada cirurgia. Ela ingressou com
ação e existe probabilidade do direito e urgência. Entretanto, na hora de verificar a reversibilidade, o juiz constata que o
indivíduo não tem dinheiro algum e, caso haja a cirurgia, não haverá meios de reverter em pecúnia o direito concedido.
Com base na teoria do mal menor, a tutela provisória deve ser concedida.

4.5. Inexistência de coisa julgada material (310 CPC16). Exceções


As tutelas provisórias são baseadas em cognição sumária e, portanto, as decisões são precárias/reversíveis/mutáveis.
Como a tutela provisória não é definitiva, inexiste coisa julgada. Assim, todas as decisões proferidas no âmbito das tutelas
provisórias não são dotadas de coisa julgada e não terão os atributos da imutabilidade e da indiscutibilidade. É por esse
motivo que o art. 310 do CPC estabelece que as decisões proferidas em sede de tutela provisória de urgência e de
evidência não são abrangidas pela coisa julgada.

Exemplo: se o juiz decidiu em tutela provisória que o marido deve sair de casa (separação de corpos cautelar), nada
impede que essa decisão seja revertida caso ele verifique, posteriormente, que a culpa pelo divórcio é da mulher.

Entretanto, há duas exceções a essa regra (fundadas na economia processual):


• Se o juiz reconheceu a ocorrência de prescrição e decadência ao apreciar o pedido de tutela provisória, a sua
decisão é definitiva e é atingida pela coisa julgada material. Por questão de economia processual, é vedado que a
parte faça o pedido principal.
Exemplo: “A” entra com um pedido de indenização por danos morais e materiais contra uma determinada
construtora, pois o prédio dela adquirido está ruindo. De modo a realizar a perícia antes de o prédio cair, “A” se
vale do art. 381, I do CPC (cautelar da produção antecipada de provas de urgência). O juiz, no pedido de tutela
cautelar, verifica que o prédio está em ruínas há 20 anos e, portanto, o direito ao pedido principal já está prescrito.
Neste caso, o juiz reconhece a prescrição e tal decisão impede que o pedido principal seja feito.

Observação: só há, entretanto, coisa jugada da decisão da tutela provisória que reconhece a prescrição e a decadência.
De outro lado, se, na tutela provisória, o juiz rejeitou a alegação de prescrição ou decadência, nada impede que o pedido
principal seja feito e, ao julgá-lo, o juiz as reconheça.

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CPC, art. 310: “O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule o pedido principal, nem influi no
julgamento desse, salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de decadência ou de prescrição.”

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4.6. Fungibilidade (art. 305, parágrafo, CPC17) (Não vale na tutela de evidência?)
O art. 305, § único do CPC indica que existe fungibilidade entre as tutelas de urgência.
✓ O juiz pode, na prática, conceder a tutela antecipada quando for pedida a tutela cautelar e vice-versa. Trata-se de
fungibilidade.
Exemplo: há juízes que acham que separação de corpos é tutela antecipada e há juízes que acreditam que se trata
de tutela cautelar. Neste caso, é possível aplicar a fungibilidade entre as tutelas.

Obs.1: O entendimento de toda a doutrina é de que o art. 305 do CPC disse menos do que queria dizer. Isso porque este
dispositivo se aplica às tutelas provisórias de urgência em geral (e não apenas às tutelas cautelares). Assim sendo, a
despeito da má redação do dispositivo, toda a doutrina entende que ele prevê a fungibilidade de mão dupla.

Obs.2: A fungibilidade não é válida para a tutela de evidência, pois ela não requer urgência.

4.7. Responsabilidade objetiva por dano processual (302, CPC18)


Apesar de o art. 302 do CPC estar no capítulo que versa sobre as tutelas provisórias de urgência, ele também se aplica à
tutela da evidência.

A efetivação de tutelas provisórias deferidas gera a responsabilização civil daquele que as obteve e, posteriormente, teve
a sua pretensão final frustrada. Essa possibilidade de responsabilização civil visa a resguardar o réu, que, muitas vezes,
sofre os efeitos da concessão de uma tutela provisória indevida e que lhe causa prejuízos. Assim sendo, de acordo com o
art. 302, § único do CPC, ocorrendo quaisquer das hipóteses dos incisos do dispositivo, haverá, automaticamente, a
possibilidade de, nos próprios autos da tutela provisória, apurar, em liquidação, o prejuízo causado ao requerido.

Exemplo 1: no exemplo dado anteriormente, em que uma mulher requereu a separação de corpos (tutela provisória
cautelar) e alegou que o seu marido tinha causado lesões nela (arranhões), a tutela foi concedida e o marido foi afastado
da casa. Posteriormente, o marido apresentou um laudo da polícia civil demonstrando que a mulher teria cometido
autolesões. Posteriormente, a tutela provisória cautelar foi revogada e o marido pôde voltar para a casa. Neste caso, o
marido possui o direito de receber uma indenização da mulher que efetivou, indevidamente, a tutela provisória.

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CPC, art. 305, § único: “Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza antecipada, o juiz observará o
disposto no art. 303.”
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CPC, art. 302: “Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação
da tutela de urgência causar à parte adversa, se: I - a sentença lhe for desfavorável; II - obtida liminarmente a tutela em
caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; III - ocorrer
a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição
da pretensão do autor.
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível.”

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Exemplo 2 (cautelar): se o indivíduo pede o arresto dos bens do devedor (conservação da fazenda X para posterior
penhora) e tem o pleito deferido em tutela provisória, caso, posteriormente, fique comprovado que o título de crédito
existente estava prescrito, ele pagará todo o prejuízo que o réu teve com a medida.

A grande questão relativa a esse tópico diz respeito ao fato de que a maioria da doutrina entende que se trata de
responsabilidade objetiva. Isso significa que, independentemente da boa-fé ou má-fé do autor, ele tem o dever de
indenizar o requerido contra quem foi efetivada a tutela provisória.
✓ Há muitas críticas doutrinárias acerca da responsabilização do art. 302 do CPC. Para alguns poucos autores, o
elemento anímico deve ser investigado para que seja possível a responsabilização.

4.8. Retirada do efeito suspensivo da apelação (1.012 § 1º V CPC19)


O art. 1.012, §1º, V do CPC afirma que a sentença que concede, revoga ou confirma a tutela provisória não terá efeitos
suspensivos.

Diante da redação dada a esse dispositivo, muitos autores defendem que ele deu a possibilidade de o próprio juiz definir
se o recurso de apelação terá ou não efeito suspensivo. Isso ocorre porque, muitos juízes têm, na sentença, concedido ou
confirmado a tutela provisória, de forma com que a apelação não tenha efeito suspensivo.
Exemplo: o professor destaca que essa possibilidade ocorre muito em matérias previdenciárias. O juiz que julga matéria
previdenciária, geralmente, possui processos em que as partes interessadas são pessoas muito idosas, inválidas ou
doentes. Assim sendo, muitas vezes, ele acaba concedendo, na sentença a tutela provisória, mesmo já tendo uma
cognição exauriente da questão e faz isso porque percebe que, do contrário, uma apelação com efeitos suspensivos
demoraria anos para ser julgada.

4.9. Recurso cabível da decisão sobre tutela provisória (1015, I, CPC) (1.012, § 1º, V) (1.021 CPC) e concessão no Tribunal
(932, II)
O professor explica que é possível ter a concessão da tutela antecipada em 1º grau ou no Tribunal (pelo Relator).
Assim sendo, o recurso cabível da decisão sobre tutela provisória dependerá do momento em que ela for proferida.
• Da decisão interlocutória (antes da sentença) que aprecia a tutela provisória no curso do processo em primeiro
grau, cabe agravo de instrumento (art. 1.015, I, CPC).
• O recurso cabível da decisão sobre tutela provisória que ocorre na sentença em primeiro grau é a apelação (art.
1.012, §1º, CPC).

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CPC, art. 1.012, §1º, V:
“Art. 1.012. (...) § 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua
publicação a sentença que: (...) V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;”

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Observação: o art. 1.012, §3º e §4º do CPC20 estabelece que, nas hipóteses em que a apelação não possui efeito
suspensivo, a parte, ao apelar, pode se dirigir ao Tribunal e solicitar o efeito suspensivo da apelação.
• Se a decisão for proferida pelo Relator nos recursos, o recurso cabível é o agravo interno (art. 1.021, CPC21).

Obs.: O agravo interno é julgado pelo colegiado. Assim sendo, se o Relator conferiu ou não efeito suspensivo, se ele deferiu
ou não a tutela antecipada recursal, ou se deferiu ou indeferiu a tutela provisória, com base no art. 932, II do CPC, cabe o
recurso para o colegiado.
Exemplo: “A” entrou com uma ação e pediu uma tutela de evidência com base em uma súmula do STJ. A primeira instância
indeferiu o pedido. “A” agravou de instrumento para o Tribunal. O Relator indeferiu o recurso. Neste caso, “A” pode
ingressar com um agravo interno da decisão do relator e o colegiado (composto pelo relator e mais dois desembargadores)
julgará o recurso.

4.10. Aplicação nos Juizados (enunciado 163 do FONAJE)


Questão: As tutelas provisórias podem ser aplicadas no sistema dos juizados? Sim, mas com ressalvas.

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CPC, art. 1.012: “§3º - O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser formulado por
requerimento dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado
para seu exame prevento para julgá-la; II - relator, se já distribuída a apelação.
§ 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a
probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil
reparação.”
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CPC, art. 1021: “Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado,
observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada.
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze)
dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.
§ 3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo
interno.
§ 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão
colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por
cento do valor atualizado da causa.
§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4º, à
exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final.”

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Enunciado 163, FONAJE – “Os procedimentos de tutela de urgência requeridos em caráter antecedente, na forma prevista
nos arts. 303 a 310 do CPC/2015, são incompatíveis com o Sistema dos Juizados Especiais” (XXXVIII Encontro – Belo
Horizonte -MG).

O modelo das tutelas provisórias do CPC (art. 294 a 311) é aplicado parcialmente nos juizados, pois é necessário fazer
uma compatibilização do modelo do CPC com o regramento da Lei 9.099/95, Lei 10.259/01 e da Lei 12.153/09.

✓ Não é possível realizar pedidos antecipados no juizado. Assim, não cabe tutela cautelar antecedente e não cabe
tutela antecipada antecedente.
➢ Isso ocorre porque, no sistema dos juizados, o princípio da informalidade impede a bipartição de procedimentos.
➢ Além disso, não dá para aplicar, no âmbito dos juizados, a ideia de estabilização de tutela antecipada do art. 304
do CPC. Isso porque, em princípio, não cabe agravo de instrumento nos juizados especiais. A decisão de 1º grau,
como regra, não é recorrível de imediato (mas apenas no recurso inominado, ao final). Lembrando que um dos
requisitos para a estabilização de tutela antecipada é o fato de a parte não ter ingressado com o recurso.
✓ No juizado, portanto, somente cabe tutela provisória incidental.

4.11. Tutela provisória e Fazenda Pública (art. 1.059 CPC22)

É cabível a tutela provisória contra a Fazenda Pública e isso consta no art. 1.059 do CPC. A despeito disso, à Fazenda
Pública, aplica-se o disposto na Lei nº 8.437/92 e no art. 7º, § 2º, da Lei nº 12.016/09. Isso significa que o CPC direciona
a disciplina da tutela provisória contra a Fazenda Pública para as normas específicas que regem a Fazenda Pública em
juízo.
Obs.: O professor destaca que essas duas leis específicas impedem a tutela provisória de urgência em 4 temas:
• 1º) Compensação em matéria tributária;
• 2º) Desembaraço de mercadorias de procedência estrangeira;
• 3º) Equiparação de servidor público; e
• 4º) Conceder aumento ou vantagem funcional a servidor público.

O STF já reconheceu a constitucionalidade dessas limitações do poder geral de cautela do juiz no tocante à Fazenda Pública
(ADC 4 – Versou sobre a Lei 9.494/97).
✓ O STF entendeu que, em abstrato, são constitucionais as normas que limitam o alcance do poder geral de cautela
do juiz contra a Fazenda Pública.

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CPC, art. 1.059: “À tutela provisória requerida contra a Fazenda Pública aplica-se o disposto nos arts. 1º a 4º da Lei nº
8.437, de 30 de junho de 1992 , e no art. 7º, § 2º, da Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009 .”

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✓ No julgamento da ADC 4, existe uma passagem do voto do Min. Sepúlveda Pertence em que ele afirma que, em
princípio, tais limitações são constitucionais. Entretanto, nada impede que, no caso concreto, a partir da
constatação da importância do bem da vida pretendido pelo autor, o juiz reconheça a inconstitucionalidade da
limitação e defira a tutela provisória de urgência.

Lei 12016/09, art. 7º, §2º: “Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos
tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores
públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.”

Observação: ao olhar a Lei 12.016/09 e a Lei 8437/92, o aluno perceberá que ambas apenas se referem às tutelas
cautelares e antecipadas. Elas não fazem menção à tutela da evidência. Assim sendo, questiona-se: A vedação de tutelas
provisórias contra a Fazenda Pública abrange as tutelas provisórias de evidência?
O professor destaca que, para os autores ligados à advocacia pública, a vedação alcança tutela de urgência e tutela de
evidência. Todavia, a maioria da doutrina e da jurisprudência entende que a limitação das leis 12.016/09 e 8.437/92
apenas é válida para a tutela de urgência.

4.12. Tutela antecipada antecedente (urgência extrema ou estratégia processual)


O professor destaca que a tutela antecipada antecedente é uma novidade do CPC/2015. No regime revogado, somente
era possível pedir a tutela cautelar antes do pedido principal.

A lógica do pedido dessa tutela pode ser a urgência extrema (exemplo: paciente que está morrendo e precisa de cirurgia)
ou a estratégia processual (eventualmente, obter a estabilização da tutela antecipada).
✓ O professor explica que o art. 304 do CPC versa sobre a estabilização da tutela antecipada, a qual somente ocorre
nos pedidos de tutela antecipada antecedente. Assim sendo, muitas vezes, a pessoa faz o pedido de tutela
antecipada antecedente como estratégia processual, pois, pode ser que ela se estabilize e os seus efeitos serão
perenes.
Exemplo: “A” vai requerer um remédio para calvície, pois há vários estudos que demonstram que, se a pessoa
não está bem com a sua imagem, ela pode ter vários problemas de saúde. Neste caso, não há uma extrema
urgência, mas o advogado de “A” quer tentar obter a estabilização da tutela antecipada e, portanto, ingressa com
a ação pedindo apenas a tutela antecipada e esperando que o juiz a defira e que o réu não recorra da decisão.

a) Inicial sumarizada (06 requisitos)


Toda a normativa da tutela antecipada antecedente se encontra no art. 303 do CPC.
✓ Este artigo estabelece que a inicial da tutela antecipada antecedente é sumarizada, porque ela não precisa
preencher todos os requisitos do art. 319 do CPC.
Em caso de requerimento de tutela provisória em caráter antecedente, há seis requisitos, conforme demonstrado abaixo:

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CPC, art. 303: “Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se
ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final (2), com a exposição da lide (3), do direito
que se busca realizar (4) e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo (5).
§ 1o Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo: I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a
complementação de sua argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em
15 (quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar; II - o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação
ou de mediação na forma do art. 334; III - não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma
do art. 335.
§ 2o Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do § 1o deste artigo, o processo será extinto sem resolução do
mérito.
§ 3o O aditamento a que se refere o inciso I do § 1o deste artigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas
custas processuais.
§ 4o Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em
consideração o pedido de tutela final (6).
§ 5o O autor indicará na petição inicial, ainda, que pretende valer-se do benefício previsto no caput deste artigo (1).
§ 6o Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela antecipada, o órgão jurisdicional determinará a
emenda da petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de
mérito.”

Requisitos da inicial sumarizada:


(1) Deve constar a natureza de tutela antecipada antecedente. A parte deve comunicar ao juiz que se trata de tutela
antecipada antecedente, de modo que ele não ache que faltam requisitos do art. 319 do CPC.
(2) Deve constar o pedido de tutela antecipada e a indicação do pedido principal. Neste caso, a parte deve demonstrar
para o juiz qual é a tutela antecipada que ele requer, bem como qual é o pedido final.
(3) Exposição da lide (principal) – Trata-se da indicação do pedido principal para que o juiz possa verificar a
correspondência com o pedido de tutela antecipada.
(4) Direito que se busca realizar, apontando para o juiz a probabilidade do direito (fumus boni iuris).
(5) “Periculum in mora”: perigo de dano ao direito ou risco ao resultado útil do processo.
(6) Na petição inicial do pedido de tutela antecipada antecedente, o autor informará o valor da causa do pedido principal
(pedido final) e recolherá as custas.
✓ Assim, no momento da conversão do pedido de tutela antecipada antecedente nos autos do pedido principal,
não será exigido recolhimento de novas custas.

b) Decisão e aditamento/emenda nos mesmos autos (sem novas custas - §§ 3º e 4º) (deferimento da TA - § 1º)
(indeferimento da TA - § 6º)
Ao receber o pedido de tutela antecipada antecedente, o juiz pode tomar duas decisões:

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i) deferimento da tutela (total ou parcialmente) – aditamento (art. 303, § 1º - 15 dias ou mais): em caso de deferimento
da tutela antecedente, há o prazo de 15 dias para o autor promover o aditamento da inicial de modo a transformar o
pedido antecipado em pedido principal.
Exemplo: Se o MP entra com uma ação e pede, antecipadamente, uma tutela antecipada antecedente para conseguir
fazer cessar o dano ambiental, o juiz pode deferir o pedido e, neste instante, cessará a atividade poluidora. O autor terá
15 dias para transformar a petição sumarizada em ACP ambiental. Esse prazo pode ser ampliado pelo juiz.

CPC, art. 303, §1º: “§ 1o Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo:
I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de novos documentos
e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar;
II - o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de mediação na forma do art. 334;
III - não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do art. 335.”

ii) indeferimento da Tutela – emenda (art. 303, § 6º - 05 dias): em caso de indeferimento da tutela antecipada, há a
determinação de emenda da inicial no prazo de 5 dias. Neste caso, há duas posições sobre o teor da emenda:
1ª) o autor pode emendar a inicial sumarizada para tentar realizar o mesmo pedido novamente.
2ª) o autor pode emendar a inicial sumarizada para transformar o pedido antecipado em pedido principal. Isso porque,
pode ser que o autor não tenha direito a uma tutela provisória, mas tenha direito a, exemplificativamente, obter o bem
da vida por meio de uma ação de obrigação de fazer.
✓ Neste caso, o professor explica que a emenda citada também é feita para transformar o pedido de tutela em
pedido final, pois a parte pode não ter conseguido comprovar no começo do processo que faz jus à concessão da
tutela antecipada, mas, durante o curso do processo, é possível reverter a decisão judicial.

CPC, art. 303, §6º: “Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela antecipada, o órgão jurisdicional
determinará a emenda da petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser extinto sem
resolução de mérito.”

Em suma: tanto com o deferimento quanto com o indeferimento do pedido de tutela, o autor terá que emendar a inicial
para transformar o pedido de tutela antecipada antecedente em pedido principal. Ocorre que, em ambos os casos, há
prazos diferentes (15 dias e 5 dias).

Obs.: Pelo sistema atual, quando a pessoa requer a tutela antecipada antecedente (e de acordo com o art. 303, §1º do
CPC), publicada a decisão, a parte teria 15 dias (ou mais) para fazer o aditamento e transformar o pedido provisório em
pedido final.
Ocorre que, ao deferir a tutela antecipada antecedente, o art. 304 do CPC preceitua que, se a parte contra quem for
deferida a tutela antecipada não agravar/recorrer, haverá a estabilização da tutela antecipada antecedente.

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Assim sendo, neste caso, o autor deverá aditar sua petição antes mesmo de saber se a tutela antecipada antecedente foi
estabilizada.
Exemplo: o juiz concedeu a tutela antecipada antecedente no dia 1º e mandou o Estado fornecer o remédio para a calvície
ao autor. No dia 5 do mesmo mês, há a intimação a Fazenda Pública para determinar que ela entregue o remédio ao
autor. Neste exemplo, o prazo para o aditamento começou a correr da publicação (dia 1º). Entretanto, como a Fazenda
somente foi intimada por oficial de justiça no dia 5, haverá a seguinte situação: o prazo para aditar acabará alguns dias
antes do prazo para a Fazenda Pública recorrer, ou seja, a parte deverá aditar antes de saber se houve ou não a
estabilização da tutela.
✓ Diante dessa situação, o STJ entendeu, no REsp 1.766.376, que os prazos do §1º do art. 303 e do art. 304 do CPC
não são simultâneos e, portanto, o prazo de aditamento depende de uma intimação específica do autor após ver
se não ocorreu o fenômeno do art. 304 do CPC.

c) Não aditamento/emenda – extinção (485, CPC)


Se a parte não fizer o aditamento ou a emenda no prazo estabelecido (15 dias/5 dias), o juiz extinguirá o processo sem
análise do mérito, eventualmente, tornando sem efeito a tutela deferida.
✓ Se a liminar tiver sido concedida e o juiz não fizer o aditamento, ainda assim o processo estará extinto.

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