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Direito Empresarial – Prof.

Marlova Mendes

AULA 2
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO DIREITO EMPRESARIAL
O texto expõe a trajetória histórica da formação do Direito Empresarial, de maneira que se possa
conhecer, de forma sistemática, os avanços que a legislação percorreu até os dias atuais.

I. TEORIA SUBJETIVA – FASE DAS CORPORAÇÕES DE OFÍCIOS


A primeira fase enfatizava a atividade do comerciante e surgiu na Idade Média, entre
1.100 a 1.500 d.C. Neste período, com o desenvolvimento do comércio no mar Mediterrâneo, as
cidades que ficavam situadas a beira mar tornaram-se centros comerciais poderosos, sobretudo
porque nessas cidades se realizavam grandes feiras para a venda de produtos vindos de todas as
partes do mundo. A partir dessas feiras surgem grandes cidades medievais como Florença,
Veneza e Gênova.
Ocorre que na Idade Média o poder era descentralizado, de forma que os feudos possuíam
suas próprias leis locais. Por outro lado, se fortalecia o Direito Canônico, que discriminava
a atividade mercantil, faltando uma regulamentação específica para os comerciantes. Ainda, o
comércio era considerado indigno pela Igreja, sobretudo pelo fato dos comerciantes contratarem
a juros, considerando essa prática o crime de usura.
Então como foi possível existir um sistema de regulação do comércio?
Os comerciantes passaram a se organizar em corporações de mercadores, cujas
principais funções eram resolver conflitos envolvendo os comerciantes que nelas estivessem
matriculados. O direito comercial, então, surge e baseia-se a partir dos costumes dos
comerciantes, cujas regras originadas eram executadas pelos juízes membros dessas
corporações. É um direito eminentemente classista, porque era criado e aplicado pelos
comerciantes para resolver suas relações de negócio. Nesse sentido, o comerciante inscrito em
uma determina corporação deveria seguir às normas e diretrizes estabelecidas por sua classe,
tendo seus conflitos resolvidos por um tribunal de juízos escolhidos pela própria corporação.
Dessa fase se originam importantes instrumentos jurídicos como a letra de câmbio, o seguro e
a atividade bancária.

POR QUE TEORIA SUBJETIVA?

Esta fase é classificada de TEORIA SUBJETIVA porque SÓ aquele que estava matriculado
numa corporação é que era considerado comerciante, ou seja, só ele tinha o direito
subjetivo de utilizar as regras mercantis.
Direito Empresarial – Prof. Marlova Mendes

II. TEORIA OBJETIVA - TEORIA DOS ATOS DO COMÉRCIO


Ao passar do tempo, o comércio se desenvolveu e se expandiu por todo o mundo, ao passo
que os comerciantes adquiriam poder e autonomia. Nesse sentido, surge a necessidade de
criação de normas para regular as intensas atividades comerciais.
Essa fase inicia com entrada em vigor do Código Mercantil
Napoleônico em 1807, que objetivou dar tratamento jurídico
igualitário às pessoas perante a lei e fortalecer o Estado nacional.
O Código estabelece critérios objetivos para considerar alguém
um comerciante. Essa teoria se resume numa relação de atividades
econômicas, tais como compra para revenda, operações bancárias,
empresas de seguros, revelando que os atos de comércio são atos de
troca. Assim, comerciante seria aquele que praticasse uma dessas
atividades.
Por outro lado, ficam fora desta relação a negociação de
imóveis como também as atividades ligadas a terra, levando-se em
conta, sobretudo, que a mercantilização da terra não era de interesse
da classe burguesa. Também estão excluídas atividades de serviços,
agricultura e pecuária. Nesse sentido, comerciante é aquele que desenvolve atos de comércio
(serviços não estavam incluídos!), independentemente de estar ou não afiliado a alguma
corporação de classe. Ao delimitar quais atividades caracterizavam um comerciante, o Código
esclarecia quais atividades estariam protegidas sob a lei.
No Brasil as atividades que seriam consideradas atos de comércio foram enumeradas pelo
Decreto nº 737/1850, entre elas: compra e venda de bens móveis para revenda ou locação;
câmbio (troca de moeda estrangeira); bancos; transportes de mercadorias (atividade vinculada ao
comércio); fabricação, consignação e depósito de mercadorias (industrial em geral); espetáculos
públicos (teatro, cinema, etc.), entre outros.

POR QUE TEORIA OBJETIVA?

Esta fase é classificada de TEORIA OBJETIVA porque a lei determinava uma lista objetiva de
atividades comerciais as quais eram reguladas. Só era comerciante quem desenvolvesse
estas atividades.
Direito Empresarial – Prof. Marlova Mendes

III. TEORIA DA EMPRESA


A atual fase do direito centra-se no conceito de empresa. Por EMPRESA deve-se entender
toda a atividade organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços por
um sujeito, o empresário. Essa teoria surge em função da insuficiência da teoria dos atos de
comércio, pois desde o século XIX, com o desenvolvimento da sociedade capitalista, a produção
isolada é substituída pela produção em série, surgindo uma variada gama de atividades não
contempladas na antiga teoria dos atos de comércio, sobretudo a prestação de serviços.
Em 1942, entra em vigor o Código Civil Italiano que criou um novo sistema de disciplina
da atividade econômica privada, abrangendo negócios como a prestação de serviços e outros que
eram omissos no sistema de ato de comércio estático, pelo que se denominou teoria da empresa.
O Brasil adotou a teoria italiana. Assim, o direito comercial passou a denominar-se direito
empresarial e foi inserido, basicamente, no Código Civil Brasileiro, Lei nº 10.406 de 2002, entre
os artigos 966 a 1.195. Assim, a matéria relativa ao direito empresarial está regulada, em parte,
neste Código, mas também em várias outras leis. Os atos praticados pelo empresário podem ser
chamados de atos de empresa.
O Direito Comercial então deixa de centrar-se na prática de atos de comércio e tem como
base uma pessoa, o empresário. O núcleo desta teoria (teoria da empresa) está centralizado
na empresa, como atividade organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços.

POR QUE TEORIA DA EMPRESA?

Esta fase é classificada de TEORIA DA EMPRESA porque o direito comercial não regula
apenas alguns atos (atividades), mas sim uma forma específica de exercer a atividade
econômica: a forma empresarial. Assim, a princípio, qualquer atividade econômica, desde
que exercida de forma organizada, com habitualidade, finalidade lucrativa, está submetida à
disciplina das regras do direito empresarial.

Nesse sentido, a empresa não se refere especificamente a um local de trabalho. Para o


jurista italiano Alberto Asquini, a empresa é um fenômeno econômico poliédrico, defendendo que
o conceito de empresa apresenta vários perfis. Nesse sentido, como objeto de estudo, uma
empresa pode ser entendida por quatro diferentes ângulos que devem ser interpretados em
conjunto:

Objetivo Corporativo/Institu
Subjetivo Funcional
cional

•Empresa como um •Dinâmica •Refere-se ao conjunto •Analisa a relação do


empresário. A empresarial. Refere-se de bens utilizados empresários e os
empresa é à própria atividade para o exercício da colaboradores da
identificada como empresarial. A atividade empresa. Empresa
uma pessoa, física ou empresa é entendida empresária.Consiste como um resultado da
jurídica. como o exercício da no estudo do organização e do
sua atividade. estabelecimento conjunto do esforço
empresarial. de pessoas.
Direito Empresarial – Prof. Marlova Mendes

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