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RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar, do ponto de vista da História Econômica, como o
processo de industrialização da cidade de Vitória, ES, refletiu na sociedade local que, em menos de
duas décadas, teve sua população triplicada. Essa população, ao mesmo tempo, necessita ter
acesso ao consumo de cultura, lazer, turismo, saúde e educação. Além disso, a população vitoriense,
entre 1970 e 2000, passou a desfrutar de um espaço geográfico acrescido de quilômetros de aterros
e foi palco de um rápido processo de conurbação com os municípios vizinhos, passando a viver na
região Metropolitana da Grande Vitória, o que trouxe inúmeros problemas para o cotidiano da cidade.
ABSTRACT: This article deals with the process of industrialization in Vitória, ES, between 1970 and
2000. Adopting the point of view of the Economic History, we have the purpose of showing how this
process contributed for the changes in the life of the city in this period. The growth of the local
population, in a span of thirty years, is amazing and this reflects on the consumption of culture,
tourism, public health and education. Besides, we have too the growth of the urban space and the
irregular settlement of people in the new areas, what brings about a lot of troubles in the daily life of
the city.
A cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo, até os anos de 1960, esteve apoiada
na economia agroexportadora da monocultura cafeeira e se apresentava como uma região periférica
e subdesenvolvida, com pouca integração ao mercado nacional. Contudo, essa situação se modificou
com a desagregação da economia primário-exportadora do estado do Espírito Santo e com a
implantação de grandes indústrias produtoras de bens de capital, que abriram um enorme mercado
de trabalho na cidade, processos que trouxeram para Vitória milhares de pessoas desempregadas.
A proximidade com os locais onde foram construídas as grandes indústrias Companhia
Siderúrgica de Tubarão (CST), a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a Usina de Pelotização
Samarco, a Aracruz Celulose, a Companhia Ferro e Aço de Vitória (COFAVI), e outras centenas de
empresas que se lhes seguiram, fez com que em menos de vinte anos, Vitória sofresse um enorme
impacto populacional.
O congestionamento da Vitória com a expansão de favelas e atividades informais, ao mesmo
tempo em que adquiria características de cidade metropolitana promovidas pela implantação
daquelas indústrias, fez com que a cidade sofresse uma descaracterização geral, perdendo o
tradicional perfil de capital administrativa e comercial do Estado, com ares coloniais, para tornar-se
um aglomerado urbano que absorvia enorme quantidade de pessoas vindas não só do mundo rural,
mas de vários lugares do Brasil e do mundo, em busca de emprego.
O objetivo deste trabalho é analisar, do ponto de vista da História Econômica, como essa
situação refletiu-se na sociedade vitoriense que, em menos de duas décadas, teve sua população
triplicada, teve acesso ao consumo de cultura, lazer, turismo, saúde e educação. Além disso, a
sociedade passou a desfrutar de um espaço geográfico acrescido de quilômetros de aterros e foi
palco de um rápido processo de conurbação com os municípios vizinhos, passando a viver na região
Metropolitana da Grande Vitória.
Com esse discurso, o Governo Estadual conseguiu autorização federal para criar incentivos
fiscais que retirariam da economia local os tributos necessários para a construção de um parque
industrial, ou seja, o Governo do Estado do Espírito Santo viria a ser o próprio fornecedor de capital
social básico para seu progresso. O Estado transferiria recursos públicos para o setor privado,
contribuindo para a industrialização capixaba por meio de fornecimento de incentivos fiscais e de uma
legislação correlata.
Havia consciência, entretanto, de que somente o capital interno era insuficiente para alavancar
o processo de desenvolvimento do Estado, visto que a economia local ainda se caracterizava pela
expansão dos gêneros alimentícios tradicionais, situando-se abaixo da média nacional. Os projetos
da Federação das Indústrias do Espírito Santo - FINDES procuravam mostrar as restrições
geográficas do Estado em relação à vocação agrícola, como argumento para captar recursos federais
e dar prosseguimento à implantação do projeto de desenvolvimento do Estado na área industrial. A
defesa desse objetivo repousava na necessidade de se alocarem recursos para a concretização de
projetos que fossem de porte igual aos da Companhia Vale do Rio Doce - CVRD, os quais, por sua
eficiência comercial, davam poder de barganha suficiente para negociar novos empreendimentos no
Espírito Santo, além de possibilitar a gestação desses empreendimentos em cadeia.
Por outro lado, o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), lançado pelo Governo
Federal em 1974, para enfrentar a crise econômica de então, tinha como objetivo a substituição
acelerada das importações no setor de bens de capital e insumos básicos (química pesada,
siderurgia, metais não ferrosos e minerais não metálicos), bem como o desenvolvimento de grandes
projetos de exportação de matéria-prima (celulose, ferro, alumínio e aço). Para isso, precisava contar
com um centro localizado estrategicamente entre as jazidas de minério de ferro e o mar, que
oferecesse condições para se formar uma infra-estrutura portuária e ferroviária e estivesse apto a
receber grandes investimentos capazes de atender ao mercado externo.
O Espírito Santo, que desde a década de 1940 contava com uma moderna infra-estrutura
desenvolvida para atividades exportadoras de minério de ferro criada pela CVRD, viabilizava os
planos do Governo Federal. Enquanto isso era atendida a política do Governo Estadual, direcionada
para a divulgação das vantagens locais do Espírito Santo voltadas para investimentos estatais e de
capital estrangeiro.
Os chamados Grandes Projetos de Impacto, ou Grandes Projetos Industriais, ligados a esses
investimentos passaram a definir a dinâmica de quase todo o desenvolvimento estadual,
caracterizando a importância econômica do Espírito Santo em todo o território nacional e, quiçá, no
mundo. Além disso, as indústrias que se abriam atraíram para a cidade a população rural capixaba
que ficou desempregada depois da erradicação dos cafezais improdutivos e, também, um formidável
contingente de migrantes de outras localidades do país, o que contribuiu para agravar ainda mais o
quadro caótico que se instalara em Vitória e ao seu redor.
O aumento populacional
da cidade de Vitória, principalmente as pessoas que vinham do campo de uma só vez,
promoveu um processo de inchação populacional em Vitória e nos municípios vizinhos, de
aproximadamente 250 mil pessoas, a partir de 1970. Nesse ano, a população que se concentrava na
Capital era de 133.019 habitantes, significando 24,1% do total da população do Estado, enquanto que
na década de 1940 essa população não passava de 45.212 habitantes, ou seja, 6,03% do total de
habitantes do Espírito Santo. (Siqueira, 2001)
Os projetos industriais implantados após 1970 foram implementados de forma muito brusca e
em muito pouco tempo promoveram a decadência das atividades econômicas tradicionais,
descaracterizando, por conseguinte, os traços rurais da região urbana de Vitória. Além disso, os
projetos industriais atraíram para a cidade a população rural capixaba que ficou desempregada
depois da erradicação dos cafezais improdutivos e, também, um formidável contingente de migrantes
de outras localidades do país, o que contribuiu para agravar ainda mais o quadro caótico que se
instalara em Vitória e ao seu redor, ou seja, na Grande Vitória (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição dos migrantes nas unidades da Grande Vitória – 1970 e 1980.
1970 1980
Unidades População
Urbanas Migrantes População Total Migrantes
Total
Número % Número % Número % Número %
Grande
Vitória
252.979 65,53 116.247 66,18 498.516 70,58 336.756 73,47
Vitória
133.019 34,47 59.385 33,82 207.736 29,42 121.553 26,53
ANO POPULAÇÃO
1970 133.019
1975 163.877
1980 207.736
1985 259.154
1991 258.243
1996 265.874
2000 292.304
Fonte: FIBGE. Censo Demográfico do Espírito Santo. (1970, 1980, 1991, 2000), Contagem da
População 1996; Censo Industrial, 1985; MORAES, 1994.
Tabela 4 - Pessoas não naturais de Vitória, por situação do domicílio anterior – 1970- 1980.
Procedentes de Procedentes de Sem declaração
Total zona urbana zona rural de procedência
Ano
Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin
o o o o o o o o
Tabela 5 - Pessoas residentes em Vitória que migraram do interior do Estado do Espírito Santo –
1970-2000.
ANO POPULAÇÃO
1970 39.597
1980 32.955
1991 200.358
2000 221.429
Fonte: FIBGE. Censos Demográficos do Espírito Santo. (1970, 1980, 1991, 2000).
Nas outras províncias do Brasil de 1872, o percentual entre os sexos variava muito pouco em
relação à média do país, embora prevalecesse o sexo masculino. Para citar alguns exemplos de
províncias onde a presença masculina era maior do que a feminina, destacou-se o Rio de Janeiro
(9,76%), São Paulo (9,62%) e Rio Grande do Norte (9,56%). Em todo o país, nos censos
apresentados na Tabela 8, a presença masculina só foi sobrepujada pela feminina nos anos de 1940,
1970, 1991 e 2000.
Particularmente em Vitória, os homens só foram maioria nos grupos de idade de 0 a 4 anos e
de 5 a 9 anos, nos anos de 1970 e 1980, respectivamente. Nessas faixas etárias a presença feminina
dominava as de 10 a 70 anos (Tabela 8).
População Residente
Faixa
Etária 1970 1980
Moraes7 verifica que a pirâmide populacional de Vitória, desde o Censo Demográfico de 1960,
tinha na base de sua composição um número maior de jovens e ia estreitando-se gradativamente a
cada faixa etária. O autor seleciona, no Censo Demográfico de 1970, a faixa etária de 25 a 29 anos,
com 5.385 mulheres e 4.439 homens, e a compara com a faixa de 35 a 39 anos, envelhecida mais
dez anos, do Censo Demográfico de 1980, quando esses números aumentaram para 5.979 e 5.446,
respectivamente.
Esse fenômeno, que se repetia nas faixas etárias de 10 a 44 anos do Censo de 1970 e na
faixa de 20 a 54 do Censo de 1980, mostra que a população de Vitória teve um aumento artificial,
proveniente de grandes levas populacionais que chegaram à cidade em busca de emprego.
Na análise desses dados, Moraes afirma ainda que o migrante, dentro daquele período, vinha
para Vitória com no máximo 55 anos e que, a partir dessa idade, a população mantinha ritmo
declinante em números absolutos, comprovando a dificuldade de locomoção encontrada pelas
pessoas idosas.
Dessa análise conjunta depreende-se que o crescimento demográfico ocorrido em Vitória, no
período de 1970 a 2000, trouxe uma população jovem, com capacidade para conquistar um lugar no
competitivo mercado de trabalho que se abria na cidade.
O mercado de trabalho
que se abriu, em Vitória, nos anos de 1970, foi desencadeado pelo desenvolvimento industrial
do Estado, e transformou de forma definitiva sua economia. Antes dessa época, quando a
comercialização do café impulsionava o mercado estadual, Vitória caracterizava-se como entreposto
comercial e urbano a partir do dinamismo da exportação do café. Na década de 1940, quando a
comercialização daquele produto impulsionava o mercado urbano, fazendo escoar a produção do
Espírito Santo pelo Porto de Vitória recém-inaugurado, havia poucas casas bancárias, o comércio
varejista era pequeno, o setor de serviços era precário e as oportunidades de emprego no serviço
público eram muito disputadas. O setor de serviços empregava 16,5% da PEA da cidade e
correspondia a 41,5% da renda gerada. O mercado de trabalho em Vitória, até a década de 1960, era
muito restrito não só para as mulheres, mas também para os homens. No ano de 1960, só o setor de
serviços passou a empregar 23% da população.
A inauguração do Porto de Tubarão foi a grande causa da mudança do cenário urbano de
Vitória. Irrigando a economia da cidade com os salários pagos a milhares de pessoas que
empregava, ou proporcionando condições de trabalho na medida em que foram sendo criadas as
empresas satélites que atendiam a CVRD, o Porto de Tubarão mudou completamente a vida de
Vitória: desencadeou o desenvolvimento industrial, transformou de forma definitiva a economia local,
proporcionou à indústria um peso muito maior na economia estadual e contribuiu para a
implementação do comércio e do setor de serviços urbanos. 8
O início da construção da CST, na segunda metade da década de 1970, transformou o
mercado de trabalho, antes voltado em sua maior parte para a comercialização do café,
caracterizando-o por suas tendências potenciais à absorção de grande número de pessoas. Nessa
época, as indústrias que foram criadas ao redor da cidade9 abriram um mercado de trabalho com
mais de 21.000 oportunidades de empregos, assim distribuídos: Complexo Siderúrgico: 14.974,
Complexo Naval: 4.000 e Complexo Portuário: 2.400. (Rocha e Morandi, 1991)
Na indústria, a metalurgia tornou-se o gênero mais importante, representando 33,96% do total
do valor da produção industrial capixaba, em 1985. Nesse mesmo ano, a CST ofereceu emprego
direto para aproximadamente 6,3 mil trabalhadores. Em 1992, empregou cerca de 4.200 pessoas e
gerou, no biênio de 1991/92, cerca de 27,1 milhões de dólares em ICMS para o Estado. (Rocha e
Morandi, 1991)
Por seu turno, o incentivo à economia industrial, proporcionou o desenvolvimento de outros
setores, conforme se pode ver no Quadro 1.
Quadro 1 – Setor de Atividades da População Economicamente Ativa de Vitória, por sexo. 1970
TOTAL Sexo
Atividade Homem Mulher
Prestação de serviços 11.278 3.042 8.236
Atividades industriais 8.436 7.836 600
Atividades sociais 5.891 2.162 3.729
Comércio de mercadorias 5.546 4.730 816
Administração pública 4.285 3.367 918
Transporte comunicação e
armazenamento 3.146 2.855 291
Agropecuária, silvicultura, extração
vegetal, caça e pesca. 717 699 18
Outras atividades 3.605 2.951 654
Fonte: Anuário Estatístico do Espírito Santo. 1975/1976.
Observa-se que o setor terciário, já na década de 1970, assumia um papel relevante dentro do
mercado empregatício de Vitória, e era a atividade que mais gerava empregos. Principalmente no
setor de serviço, que em dez anos teve um crescimento na ordem de 48,59%.
A prestação de serviço que também ocupava grande parte dos empregos da administração
pública, em 1996, ocupava 73% dos empregos de Vitória. Sua participação também se vinculava às
concessionárias públicas e aos bancos estatais.
A diversificação do setor de serviços e a expansão do comércio incentivaram a concentração
espacial de diversos ramos empresariais, estimulando desse modo uma série de atividades
pertinentes ao transporte, à circulação de matérias-primas e de mercadorias, e de atividades ligadas
diretamente ao seu processo operacional, como as de fornecedores de componentes, acessórios, os
cursos de especialização de pessoal, entre outras.
Essa aglomeração empresarial ocasionou uma concentração de renda em Vitória que
estimulou a ampliação dos setores de comércio e de serviços que abrangem atividades produtivas de
compra e venda, armazenagem, transportes, sistema bancário, telecomunicações, fornecimento de
energia, além da atividade da administração pública.
A diversificação do comércio instalado foi estimulada pelo crescimento do mercado urbano e
pela demanda devida à aglomeração populacional em Vitória e ao seu redor. Galerias comerciais
que, na década de 1970, comportavam entre 3 a 7 lojas no pequeno centro urbano da cidade e
pequenos estabelecimentos dispersos pelos bairros e em municípios vizinhos, deram lugar aos
shopping centers que renovaram o comércio varejista da cidade.10
Do mesmo modo, os serviços especializados modernizaram-se, principalmente os ligados às
atividades de luxo, como as clínicas médicas especializadas, agências de turismo e de lazer, galerias
de arte, entre outros, criando um mercado de trabalho diversificado, típico de grandes centros
empresariais, com atividades criadoras, agências de publicidade e centros de pesquisa e informática.
Acrescente-se a tudo isso os serviços pessoais, as atividades financeiras, os serviços públicos e
portuários que foram igualmente estimulados a se modernizar e a se afinar com as regras da
“globalização”.
Esse crescimento do comércio e do setor de serviços, excetuando-se os de monopólio estatal
e os industriais, experimentou um processo simultâneo de concentração de capital e modernização e
foi reproduzido pelo capital local, que encontrou condições favoráveis para sua expansão. Os grupos
econômicos locais investiam principalmente no setor terciário, pelo fato de esse setor não exigir
grande volume de dinheiro e por render lucros sem riscos, apesar dos constantes enfrentamentos
com a concorrência de empresas nacionais que atuavam no ramo. Exemplo disso foram as grandes
redes comerciais brasileiras e multinacionais que instalaram suas filiais em Vitória, tais como lojas de
departamento de dimensões da Mesbla, das Lojas Americanas e da C & A. (Rocha e Morandi, 1991)
Nas décadas de 1970 e 1980, a concorrência nacional enfrentada pelos empresários
capixabas estendia-se tanto no plano econômico quanto no plano sociocultural. No plano econômico,
pode-se citar que Vitória, considerada como porta de entrada e de saída de mercadorias de uma
hinterlândia vasta, competia com o Rio de Janeiro e Salvador os benefícios das importações e
exportações de mercadorias do Corredor Centro-Leste, que até o presente momento engloba pólos
importantes de desenvolvimento agrícola e industrial, como os de Minas Gerais, de Goiás, do Distrito
Federal, do sul da Bahia e do leste do Mato Grosso. Como economia pautada na indústria e nos
serviços de exportação, o segundo enfrentamento correspondia à preparação de pessoal para as
atividades especializadas, tais como ensino superior, serviços e comércio de alto padrão. As cidades
do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Campinas, de Belo Horizonte e de Juiz de Fora foram as maiores
concorrentes de Vitória, pois ofereciam atividades específicas nesse setor, tais como cursos de
especialização, pós-graduação e intercâmbios culturais.
Desempenhando o papel de principal pólo urbano do Espírito Santo, a partir dos anos de
1970, Vitória passou a estender sua área de influência não só para todo o Estado, mas também para
o sul da Bahia e parte do leste mineiro. Vitória tornou-se a única cidade a oferecer, em uma vasta
área, atividades de serviços especializados típicos de grandes centros urbanos, como hospitais
especializados em determinados exames e cirurgias, por exemplo.
Por outro lado, como centro polarizador da economia capixaba, Vitória mostrou-se pequena
para abrigar o comércio, a centralização populacional e as atividades de serviços, que cresceram em
larga escala, após os anos de 1970. Por seu entorno estendeu-se o espaço urbano, hierarquizando e
definindo a região da Grande Vitória que, em 1996, agregava uma população de 1.300.000
habitantes. (A Gazeta, 2000)
Mesmo crescendo e tornando os municípios vizinhos parte de sua área metropolitana, Vitória
continuou concentrando as atividades socioeconômicas da região. Os impostos gerados na cidade e
as condições de vida da população vitoriense distinguiam a capital dentro de sua área metropolitana,
principalmente em termos de aplicação de receitas. Em 1996, as empresas instaladas em Vitória
geraram 61% do total da receita de todas as empresas do estado, e, da PEA da região da Grande
Vitória que recebia mais de 20 salários mínimos, 66% residiam na capital. Nessa época, Vitória
concentrava 33% da renda estadual, 68% da arrecadação do Imposto sobre Circulação de
Mercadoria (ICM) de todo o Espírito Santo, 75% dos hospitais privados, 33% das vendas dos jornais
diários do Estado, 50% dos automóveis registrados em todo o território espírito-santense e 59% da
população metropolitana. (A Gazeta, 2000)
A concentração de renda no mercado vitoriense seguia a tendência dos grandes centros
econômicos do país. Em 1997, sua estrutura produtiva compunha-se de aproximadamente 13 mil
empresas, distribuídas em setores primário, secundário e terciário (Gráfico 1).
0,0003%
34,01%
65,98%
C o nstrução C ivil
Serviço s
3% 13%
1% 6% A gro pecuário
Indústria de
Transfo rm ação
C o m ércio
1% 42%
Extração M ineral
Em 1998, ensino superior abrangia novas áreas do conhecimento e Vitória contava com 14
estabelecimentos que abriram vagas para aproximadamente 15 mil alunos. No ano 2000, o Caderno
Vitória. Uma Ilha de Oportunidades a sua Espera, afirmava que a UFES havia sido classificada pelo
Ministério da Educação como uma das oito melhores universidades do Brasil. Além desse dado, o
Caderno Vitória ainda dizia que a taxa de alfabetização da população acima de 10 anos, no ano de
1999, havia sido de 87,70%, e que a escolaridade dos chefes de família, no ano de 1999, era de 9
anos.
Dentre os anos de 1980 e 1990 os cursos de pós-graduação foram outras modalidades de
ensino profissionalizante que se desenvolveram em Vitória. Especificamente os cursos oferecidos
pela UFES abrangiam diversas áreas do conhecimento e dentre eles destacavam-se o de Fisiologia
Cardiovascular, Artes Contemporânea, Automação Industrial, Informática, Engenharia Ambiental,
Economia, História, Geografia, Filosofia, Psicologia, Letras e Pedagogia. Em 2000, a UFES ofereceu
14 cursos de mestrado e 03 de doutorado.
A qualificação profissional se tornou um aspecto fundamentalmente significativo na vida do
vitoriense. E, na medida em que as pessoas galgaram a escala produtiva, permitiram-se adquirir
maiores oportunidades de trabalho no mercado, o qual progrediu com a produção de bens materiais e
de serviços.
Finalmente,
observa-se que Vitória cresceu, mas à custa de grandes transformações que não foram
totalmente benéficas. Muito embora houvesse uma alta na taxa de crescimento da economia, esta
não foi acompanhada da redução das desigualdades sociais. A Grande Vitória, com todo esse
aparato econômico e social viu ser intensificada a ocupação dos bolsões de pobreza, no bojo do
contínuo processo de sua urbanização concentrada. Os parcos investimentos do Governo ficaram
comprometidos por força das dívidas adquiridas pelos financiamentos concedidos pelo Governo
Federal, e pelos empréstimos externos.
Pessoas de várias classes sociais, etnias, graus de escolaridade, estado civil, idade e crença
passaram a compor um novo mosaico para sociedade vitoriense. O cotidiano pacato da cidade cedeu
lugar a um aglomerado urbano cada vez mais plural e com conflitos cada vez mais explícitos. A
manutenção da baixa renda familiar, o desemprego e a concentração urbana na Grande Vitória,
deram à Vitória o título de Capital mais violenta do Brasil. Os índices de criminalidade levaram à
criação de conselhos de segurança envolvendo a comunidade na busca de solução para o problema.
A coexistência de migrantes do interior e de diferentes cidades brasileiras, que trouxeram
consigo hábitos e valores típicos do mundo rural, caracterizou Vitória como uma cidade de sociedade
multifacetada que integra hábitos típicos do mundo rural com a inquietação ocasionada pela
complexidade do processo de industrialização e urbanização que ocorreu nos últimos trinta anos do
século XX.
A antiga cidade deu espaço a novas formas de convivência, alterando sensivelmente o
comportamento de seus habitantes.
REFERÊNCIAS
Fontes
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______. Anuários estatísticos do Espírito Santo. 1995. Vitória, Departamento de Estatística, 1996.
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______. Censo demográfico do Espírito Santo – 1970. Rio de Janeiro, 1973. Série Regional, v. I.
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______. Recenseamento geral do Brasil – 1946: censo demográfico. População e habitação. Rio
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Jornal A Gazeta. Vitória, 29 de julho de 1980. Mendigos, de repente a cidade é invadida por
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_____. Vitória, 17 fev. 2000. Suplemento Especial “A SAGA do Espírito Santo: das caravelas ao
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NOTAS
1
- No ano de 1955, registrou-se uma queda de 29% e, em 1959, a queda foi de 51,7% em relação ao preço médio de 1954.
Sobre o assunto ver Rocha e Morandi, 1991.
2
- Implementado em duas fases, o programa de erradicação exterminou 53,8% dos cafezais capixabas, e em todo o país
foram erradicados cerca de 1.379.343 pés de café.
3
- BITTENCOURT, Gabriel. A formação econômica do Espírito Santo: o roteiro da industrialização. Do engenho às
grandes indústrias. (1535-1980). Rio de Janeiro: Cátedra, 1987. p. 205.
4
- Vitória não tinha nenhuma política habitacional definida, nem mesmo uma política de assentamento urbano para receber
a população que saía da zona rural. O Governo Municipal permitiu que fossem ocupados os espaços devolutos da periferia,
os manguezais e os morros que se situavam no centro da Ilha.
5
- Em 2000 e 2002, devido aos aterramentos, Vitória cresceu para 91 Km² e 104,3 Km², respectivamente.
6
- Isso ocorria porque o Governo Federal incentivava a população brasileira a migrar para o estado de Roraima, com o
objetivo de povoá-lo.
7
- MORAES, Paulo Stuck. Vitória: alguns dados demográficos. 1940-1980. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
do Espírito Santo, Vitória, n. 44, p. 55-64, 1994.
8
- Apesar de todo o processo de industrialização e crescimento do setor de serviços que fora desencadeado na Grande
Vitória, a economia do Estado do Espírito Santo continuou dependente da agricultura, tanto que esse setor, no período
pesquisado, era o que mais ocupava a PEA do Estado. O principal produto dessa agricultura continuava sendo o café.
9
- Além das indústrias instaladas ao redor de Vitória, a Aracruz Celulose e a Samarco, hospedadas nos Municípios de
Aracruz e Guarapari, respectivamente, abriram (juntas) vagas para cerca de três mil empregos, somente na fase de inicial de
sua construção.
10
- A partir dessa época, o comércio capixaba passou por uma mudança estrutural em sua distribuição espacial. As lojas que
se aglomeravam no centro da Cidade e atendiam à população de Vitória e de outros municípios foram deslocadas para a
região norte da Cidade, promovendo um esvaziamento comercial no centro e a formação de outros núcleos comerciais nos
demais municípios.
11
- No ano de 2001, foram realizados 8.000 eventos em Vitória e sua arrecadação foi em torno de 294 milhões de reais.
Informações obtidas no Fórum Brasileiro dos Conventions x Visitors Bureaux, realizado no Centro de Convenções de
Vitória, em agosto de 2002.
12
- Relatório Final do Projeto de Avaliação do Plano Estadual de Qualificação. Estado do Espírito Santo – 1998. 1999.
13
- A Universidade Federal do Espírito Santo foi criada em 1954, no governo estadual de Jones dos Santos Neves. Até essa
data, em todo o Espírito Santo, existiam somente três faculdades.