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DIREITO PENAL IV – CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA V

Crimes contra a Administração Pública. Crimes contra a


Administração da Justiça

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA – Art. 339 do Código Penal

Art. 339 do CP - Dar causa à instauração de inquérito


policial, de procedimento investigatório criminal, de
processo judicial, de processo administrativo disciplinar,
de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Redação
dada pela Lei nº 14.110, de 2020)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se
serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de
prática de contravenção.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa (Crime comum).

Sujeito passivo: É o Estado. Secundariamente, a pessoa


prejudicada pela falsa informação.

Objeto jurídico: É a administração da justiça.

Objeto material: É a investigação policial, o processo


judicial, a investigação administrativa, o processo
administrativo disciplinar, o inquérito civil ou a ação de
improbidade administrativa indevidamente instaurados.

Elementos objetivos do tipo: Dar causa (dar motivo ou fazer


nascer algo) à instauração de investigação policial
(necessita ser o inquérito policial – que é procedimento
administrativo de persecução penal do Estado, destinado à
formação da convicção do órgão acusatório, instruindo a peça
inaugural da ação penal –, não se podendo considerar os
meros atos investigatórios isolados, conduzidos pela
autoridade policial ou seus agentes, proporcionados pelo
simples registro de ocorrência), processo judicial (envolve
não somente as ações penais – sempre de interesse público,
mas também as ações civis públicas), investigação
administrativa (sindicâncias e processos administrativos de
toda ordem), inquérito civil (procedimento administrativo,
presidido pelo Ministério Público com a finalidade de colher

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provas para eventual propositura de ação civil pública) ou
ação de improbidade administrativa (ação ajuizadas para
apurar atos de improbidade administrativa previstos na Lei
8.429/92) contra alguém, imputando-lhe (atribuir algo a
alguém) crime (para a contravenção penal há regra especial
no § 2.º) de que o sabe inocente.

Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade de


induzir em erro a autoridade.

Elemento subjetivo do crime: É o dolo na sua forma direta.

Tentativa: É admissível nos casos de queixa ou denúncia


rejeitados, ou, quando a autoridade policial não dá início
aos procedimentos de investigação e quando a denunciação é
feita por escrito e é interceptada por terceiro.

Momento consumativo: Quando houver a instauração da


investigação, processo, inquérito ou ação, ou seja, com o
início das diligências investigativas ou demais
procedimentos elencados no tipo penal, ainda que não ocorra
efetivo prejuízo material para o Estado ou para o
denunciado.

Causa de aumento de pena: A pena é elevada de um sexto, se o


agente se serve de anonimato (é a posição assumida por
alguém que escreve ou transmite uma mensagem sem se
identificar) ou
de nome suposto (é a posição de quem escreve algo ou
transmite uma mensagem adotando um nome fictício) (§ 1.º).

Causa de diminuição de pena: A pena é diminuída de metade,


se a imputação é de prática de contravenção (§ 2.º). O
fundamento é o desvalor da conduta, isto é, a menor
potencialidade lesiva que propicia à vítima da denunciação
caluniosa responder por uma contravenção penal do que por um
crime.

Particularidades

a) a autoridade que age de ofício pode ser sujeito ativo do


crime de denunciação caluniosa. Não se exige que somente um
particular provoque a ação da autoridade para a instauração
de investigação administrativa ou policial, inquérito civil
ou ação civil ou penal, uma vez que, para assegurar o
escorreito funcionamento da máquina administrativa, pode
haver procedimento de ofício. Assim, o delegado que, sabendo
inocente alguém, instaura contra ele inquérito policial; o
promotor que, com igual ideia, determina a instauração de
inquérito civil, bem como o juiz que, tendo notícia de que
determinada pessoa é inocente, ainda assim requisita a

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instauração de inquérito, podem responder por denunciação
caluniosa;
b) há posição contrária, sustentando que qualquer tipo de
investigação, desencadeada a partir da notícia falsa,
independentemente de inquérito instaurado, serve para
configurar o crime do art. 339 (cf. Hungria. Comentários ao
Código Penal, v. IX, p. 461; Rui Stoco, Código Penal e sua
interpretação jurisprudencial, p. 4.112; Jorge Assaf Maluly,
Denunciação caluniosa, p. 93);

c) torna-se imprescindível, para que se julgue corretamente


o crime de denunciação caluniosa, o término da investigação
instaurada para apurar a infração penal imputada, bem como a
ação civil ou penal, cuja finalidade é a mesma, sob pena de
injustiças flagrantes. Recomenda Hungria que “conforme
pacífica doutrina e jurisprudência, a decisão final no
processo contra o denunciante deve aguardar o prévio
reconhecimento judicial da inocência do denunciado, quando
instaurado processo contra este. Trata-se de uma medida de
ordem prática, e não propriamente de uma condição de
existência do crime” (Comentários ao Código Penal, v. IX, p.
465-466);

d) o elemento do tipo alguém demonstra, nitidamente, tratar-


se de pessoa certa, não se podendo cometer o delito ao
indicar para a autoridade policial apenas a materialidade do
crime e as várias possibilidades de suspeitos;

e) se a punibilidade estiver extinta (pela prescrição,


anistia, abolição da figura delitiva, dentre outros fatores)
ou se ele tiver agido sob o manto de alguma excludente de
ilicitude ou de culpabilidade, enfim, se o inquérito for
arquivado ou houver absolvição, por tais motivos, não há
crime de denunciação caluniosa. Tal se dá porque havia
possibilidade concreta de ação da autoridade policial ou
judiciária, justamente pela existência de fato típico
(havendo autor sujeito à investigação ou processo), embora
não seja ilícito, culpável ou punível;

f) a competência para apurar a denunciação caluniosa é da


Justiça Estadual ou Federal, conforme a natureza do crime
que foi imputado à vítima, logo, onde será apurado, bem como
em razão da qualidade do ofendido.

Ação Penal: Pública incondicionada.

Lei 9.099/95: A pena do caput não admite nenhum dos


benefícios da referida lei, no entanto, se incidir a
minorante do §2º a suspensão condicional do processo passa a
ser possível.

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COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO – Art. 340 do
Código Penal

Art. 340 do CP - Provocar a ação de autoridade, comunicando-


lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se
ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar (Crime comum).

Sujeito passivo: É o Estado.

Objeto jurídico: É a administração da justiça.

Objeto material: É a ação da autoridade ilegalmente


provocada pela conduta ilícita.

Elementos objetivos do tipo: Provocar (dar causa, gerar ou


proporcionar) a ação de autoridade (o tipo menciona apenas
ação, logo, podem o delegado, por exemplo, registrando um
boletim de ocorrência, o promotor e o juiz, requisitando a
instauração de inquérito policial, tomar atitudes em busca
da descoberta ou investigação de uma infração penal, ainda
que não oficializem seus atos, através da instauração do
inquérito ou do oferecimento ou recebimento da denúncia),
comunicando-lhe (fazendo saber ou transmitindo-lhe) a
ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter
verificado.

Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade de fazer


a autoridade atuar sem causa.

Elemento subjetivo do crime: É o dolo na sua forma direta.

Tentativa: É admissível.

Momento consumativo: O crime estará consumado no momento em


que a autoridade toma alguma providência em face da
provocação do autor (determina à realização de diligências,
inquirição de testemunhas, realização de perícias, etc.).
Para a caracterização do delito não há necessidade da
instauração formal do inquérito policial.

Ação Penal: Pública incondicionada.

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Lei nº 9.099/95: Trata-se de infração penal de menor
potencial ofensivo, portanto, se admite os benefícios da
referida lei.

AUTOACUSAÇÃO FALSA – Art. 341 do Código Penal

Art. 341 do CP - Acusar-se, perante a autoridade, de crime


inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa (Crime comum).

Sujeito passivo: É o Estado.

Objeto jurídico: É a administração da justiça.

Objeto material: É a declaração falsa.

Elementos objetivos do tipo: Acusar-se (é a conduta do


sujeito que se autoincrimina, chamando a si um crime que não
praticou, seja porque inexistente, seja porque o autor foi
outra pessoa), perante a autoridade (o agente do poder
público que tenha atribuição para apurar a existência de
crimes e sua autoria ou determinar que tal procedimento
tenha início.

Portanto, é a autoridade judiciária ou policial, bem como o


membro do Ministério Público), de crime inexistente (não se
aceita a falsa imputação de contravenção penal) ou praticado
por outrem (é indispensável, para a configuração do tipo
penal, que o sujeito se autoacuse da prática de crime
cometido por outra pessoa, sem ter tomado parte como coautor
ou partícipe).

Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade de


prejudicar a administração da justiça.

Elemento subjetivo do crime: É o dolo.

Tentativa: Será possível na modalidade plurissubsistente


(ex: autoacusação por meio de carta, que vem a ser
interceptada). É inadmissível, na modalidade unissubsistente
(autoacusação verbal).

Momento consumativo: O crime estará consumado no momento em


que a autoridade tomar ciência da autoacusação,
independentemente de qualquer outra providência, como, por
exemplo, a instauração de inquérito policial (delito
formal).

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Ação Penal: Pública incondicionada.

Lei nº 9.099/95: Trata-se de infração penal de menor


potencial ofensivo, aplicando-se, portanto, a lei nº
9.099/95.

FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA – Art. 342 do Código Penal

Art. 342 do CP - Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a


verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime
é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de
obter prova destinada a produzir efeito em processo penal,
ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública direta ou indireta.
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no
processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade.

Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, porque o sujeito


ativo deve necessariamente ser testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete. O crime de falso testemunho é de mão
própria, pois, exige a atuação pessoal do agente
expressamente indicado no tipo (ex: somente aquela
testemunha, que foi notificada para comparecer em juízo em
data e horário determinados, poderá fazer afirmação falsa
perante o Magistrado).

Concurso de pessoas: O Superior Tribunal de Justiça firmou


compreensão de que, apesar de o crime de falso testemunho
ser de mão própria, pode haver a participação do advogado no
seu cometimento (6ªT. HC 30858, j. 12.06.2006).

Sujeito passivo: É o Estado. Secundariamente, pode ser a


pessoa prejudicada pela falsidade produzida.

Objeto jurídico: É a administração da justiça.

Objeto material: Pode ser o depoimento, o laudo, o cálculo


ou a tradução.

Elementos objetivos do tipo: Fazer afirmação falsa (mentir


ou narrar fato não correspondente à verdade), negar a
verdade (não reconhecer a existência de algo verdadeiro ou

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recusar-se a admitir a realidade) ou calar a verdade
(silenciar ou não contar a realidade dos fatos), como
testemunha (é a pessoa que viu ou ouviu alguma coisa
relevante e é chamada a depor sobre o assunto em
investigação ou processo), perito (é a pessoa especializada
em determinado assunto, preparada para dar seu parecer
técnico), contador (é o especialista em fazer cálculos),
tradutor (é aquele que traslada algo de uma língua para
outra, fazendo-o por escrito) ou intérprete (conhecedor de
uma língua, serve de ponte para que duas ou mais pessoas
possam estabelecer conversação entre si), em processo
judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo
arbitral.

Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade de


prejudicar a administração da justiça.

Elemento subjetivo do crime: É o dolo.

Tentativa: Não é aceita pacificamente na doutrina. A forma


tentada do crime somente será cabível na sua modalidade
plurissubsistente (ex: testemunho prestado por escrito;
falsa perícia).

Momento consumativo: Quando houver a prática de qualquer das


condutas previstas no tipo, ainda que não ocorra efetivo
prejuízo material para o Estado ou para terceiros. O crime
estará consumado no momento do encerramento do depoimento
(com a respectiva assinatura da testemunha faltosa), com a
entrega do laudo pericial, com a entrega da tradução ou com
a realização da interpretação falsa.

Causas de aumento de pena: A pena é aumentada de um sexto a


um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penal, ou em processo civil em que for
parte entidade da administração pública direta ou indireta
(§ 1.º).

Causa de extinção da punibilidade: Se, antes da sentença no


processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade, o fato deixa de ser punível (§ 2.º).

Particularidades

a) fazíamos diferença entre negar a verdade e calar a


verdade; vislumbramos, no entanto, não haver diversidade
substancial. Ambas as situações levam à configuração do
crime de falso testemunho. Na prática, pode-se dizer que a
primeira conduta leva a pessoa a contrariar a verdade,
embora sem fazer afirmação (ex.: indagado pelo juiz se

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presenciou o acidente, como outras testemunhas afirmaram ter
ocorrido, o sujeito nega), enquanto a segunda conduta faz
com que a pessoa se recuse a responder (ex.: o magistrado
faz perguntas à testemunha, que fica em silêncio ou fala que
não responderá);

b) é essencial que o fato falso (afirmado, negado ou


silenciado) seja juridicamente relevante, isto é, de alguma
forma seja levado em consideração pelo delegado ou juiz para
qualquer finalidade útil ao inquérito ou ao processo, pois,
do contrário, tratar-se-ia de autêntica hipótese de crime
impossível. Se o sujeito afirma fato falso, mas
absolutamente irrelevante para o deslinde da causa, por ter-
se valido de meio absolutamente ineficaz, não tem qualquer
possibilidade de lesar o bem jurídico protegido, que é a
escorreita administração da justiça;

c) quanto à opinião da testemunha, não configura o crime de


falso, pois ela deve depor sobre fatos, e não sobre seu modo
particular de pensar. Quando se indaga da testemunha sua
opinião acerca de algo (como, por exemplo, a respeito da
personalidade do réu), deve-se suportar uma resposta
verdadeira ou falsa, valorando o magistrado da forma como
achar melhor;

d) o direito de mentir da testemunha somente existe quando


ela faltar com a verdade ou se calar evitando comprometer-
se, vale dizer, utilizar o princípio constitucional do
direito ao silêncio e de não ser obrigado a se autoacusar.

Competência: Via de regra a competência será da Justiça


Estadual, no entanto, será da Justiça Federal se for
praticado nas situações do art. 109, IV da CF.

Súmula 165 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e


julgar crime de falso testemunho cometido no processo
trabalhista.

Ação Penal: Pública incondicionada.

Lei nº 9.099/95: Não é considerada infração penal de menor


potencial ofensivo, portanto, não se admite nenhum dos
benefícios da Lei 9.099/95.

FAVORECIMENTO PESSOAL – Art. 348 do Código Penal

Art. 348 do CP - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade


pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

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§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente,
cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa (Crime comum).


Sujeito passivo: É o Estado.

Objeto jurídico: É a administração da justiça.

Objeto material: É a autoridade pública enganada.

Elementos objetivos do tipo: Auxiliar a subtrair-se


(fornecer ajuda a alguém para fugir, esconder-se ou evitar a
ação da autoridade que o busca) à ação de autoridade pública
(pode ser o juiz, o promotor, o delegado ou qualquer outra
que tenha legitimidade para buscar o procurado) autor de
crime a que é cominada pena de reclusão.

Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade de


ludibriar a autoridade, deixando de fazer prevalecer a
correta
administração da justiça.

Elemento subjetivo do crime: É o dolo.

Tentativa: É admissível.

Momento consumativo: Quando houver a efetiva ocultação do


procurado da autoridade pública e o favorecido obtêm êxito.

Figura privilegiada (art. 348, §1º do CP): Se ao crime não é


cominada pena de reclusão, a pena é de detenção, de quinze
dias a três meses, e multa.

Imunidade absoluta (escusa absolutória – art. 348, §2º do


CP): Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente,
cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.

Particularidades

a) Coautor ou partícipe do crime anterior: Não pratica


favorecimento pessoal. Assim, aquele que, antes ou durante a
execução de um delito, promete auxílio ao comparsa,
responderá pelo mesmo fato na forma do art. 29 do CP
(Coautoria ou participação, conforme o caso), e não por
favorecimento pessoal;

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b) Autofavorecimento: Não configura o crime do art. 348 do
CP, já que este pressupõe benefício apenas a terceira
pessoa.

c) Advogado: Embora não tenha o dever de revelar o paradeiro


do cliente, não poderá ajuda-lo a fugir ou mesmo escondê-lo
da ação da autoridade, sob pena de praticar o crime do art.
348 do CP.

d) Torna-se necessário aguardar o deslinde do processo


anterior para o reconhecimento da prática do delito de
favorecimento pessoal, pois, se houver absolvição, este
crime deixa de existir. No entanto, após a investigação,
convém ingressar com a ação penal, evitando-se o advento da
prescrição. Na sequência, o juiz determina a suspensão do
processo, pois presente uma circunstância prejudicial (art.
93, CPP); suspende-se, igualmente, a prescrição.

e) não se configura favorecimento pessoal a hipótese do


morador impedir a entrada da polícia, durante a noite, em
seu domicílio, ainda que seja para capturar fugitivo. Trata-
se de exercício regular de direito, garantido pela
Constituição Federal, no art. 5.º, XI (“a casa é asilo
inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito
ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”);

f) não podem ser considerados autores de crime, para os fins


do art. 348, os inimputáveis (menores de 18 anos e
mentalmente insanos) simplesmente pelo fato de mencionar o
tipo a palavra crime acompanhada da expressão “a que é
cominada pena de reclusão”, que eles não podem receber,
logo, estão afastados deste contexto.

FAVORECIMENTO REAL – Art. 349 do Código Penal

Art. 349 do CP - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-


autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro
o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa (Crime comum).

Sujeito passivo: Imediato é o Estado e secundariamente a


vítima do crime anterior.

Objeto jurídico: É a administração da justiça.

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Objeto material: É o proveito do crime.

Elementos objetivos do tipo: Prestar auxílio (ajudar ou dar


assistência) a criminoso (há de ser a pessoa que comete o
crime, não se incluindo os inimputáveis), fora dos casos de
coautoria ou de receptação (há tipo específico para puni-
lo), destinado a tornar seguro o proveito do crime (é o
ganho, o lucro ou a vantagem auferida pela prática do
delito; pode ser bem móvel ou imóvel, material ou moral).

Prática de crime anterior: Trata-se de um crime acessório,


sua tipificação depende da prática de crime antecedente
(doloso, culposo, tentado ou consumado). Não haverá
favorecimento real em caso de contravenção penal.
Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade de tornar
seguro o proveito do crime.

Elemento subjetivo do crime: É o dolo direto ou eventual, de


prestar auxílio a criminoso. Não há previsão de forma
culposa.

Tentativa: É admissível, pois o crime é plurissubsistente.

Momento consumativo: Quando houver a prestação do auxílio ao


criminoso, independentemente de ocorrer efetivo prejuízo
para o Estado ou para terceiro. Como se trata de delito
formal, não se exige que ele efetivamente torne seguro o
proveito do crime anterior. Se o agente desconhece que a
coisa é produto de crime, há erro de tipo (art. 20, “caput”
do CP), com exclusão do dolo.

Diferença entre favorecimento real e pessoal: No


favorecimento real (art. 349 do CP), o agente busca tornar
seguro o proveito do crime; já no favorecimento pessoal
(art. 348 do CP), o agente busca tornar seguro o autor do
crime anterior.

Ação Penal: Pública incondicionada.

Lei nº 9.099/95: Trata-se de infração penal de menor


potencial ofensivo, aplicando-se, portanto, a lei nº
9.099/95.

Leia o caso concreto apresentado e responda às questões
formuladas.

No dia 10 de abril de 2017, por volta das 9h40min, no interi
or da residência situada na QNO WW,conjunto X, casa Y, Ceilâ
ndia/DF, Bruno agindo de forma livre e consciente e com ânim
o deassenhoramento, mediante grave ameaça exercida com o emp
rego de uma arma de fogo e violênciafísica, subtraiu, em pro

11
veito próprio, um veículo Ford/KA, placa XXX000/DF, um noteb
ook, marcaSAMSUNG e R$ 500,00 (quinhentos reais) em espécie,
todos pertencentes às vítimas Amanda e CarlosGustavo. Da res
idência de Amanda e Carlos Gustavo, Bruno se dirigiu à casa 
de Paulo Victor, seu irmãoe que, até o momento, nada sabia s
obre a empreitada criminosa. Lá chegando muito nervoso, Brun
opediu auxílio ao irmão e pediu que ele escondesse o noteboo
k, pois estava com medo de o encontraremna posse do computad
or, todavia, meia hora após ter saído da casa de seu irmão,B
runo teve o carroidentificado pela polícia e foi preso. Ante
o exposto, com base nos estudos sobre crimes contra aAdminis
tração Pública, responda de forma objetiva e fundamentada:qu
al a correta tipificação daconduta de Paulo Victor? Ainda, o
fato de ser irmão de Bruno pode ser utilizada como tese defe
nsiva para fins de isenção de pena?

Questão objetiva.

A respeito dos crimes contra a Administração da Justiça,


assinale a alternativa correta: (Concursos Públicos –
Modificadas)

a) O crime de favorecimento pessoal (art. 348, do CP) não se


caracteriza se o auxílio é prestado a autor de crime apenado
com detenção.

b) No crime de denunciação caluniosa (art. 339, do CP), a


conduta do agente que se utiliza de anonimato não possui
relevância jurídica.

c) Policial Militar que forja situação de flagrância, a fim


de increpar indivíduo que sabe inocente e, com isso, dá
causa à instauração de inquérito policial, comete crime de
comunicação falsa de crime.

d) No delito de favorecimento pessoal o auxílio é prestado


ao agente que se encontre solto; já no delito de facilitação
de fuga de pessoa presa, a conduta configura-se como auxílio
prestado a alguém preso para que este logre êxito na fuga.

e) A condição negativa de punibilidade decorrente da


aplicação da escusa absolutória se aplica aos crimes de
favorecimento pessoal e real.

Bibliografia:

Código Penal para Concursos, CUNHA, Rogério Sanches, 2018,


Ed. JusPODIVM.

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Código Penal para Concursos, CALDEIRA, Sandro, 2019,
Ed. JusPODIVM.

Manual de Direito Penal, NUCCI, Guilherme de Souza, vol.


único, 16. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.

Manual de Direito Penal, CUNHA, Rogério Sanches, vol. único.


2018, Ed. JusPODIVM.

Curso de Direito Penal, ISHIDA, Válter Kenji, Parte Geral e


Parte Especial, São Paulo: Atlas, 2015

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