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REDES ELÉCTRICAS

L. M. Vilela Pinto

As instalações de energia eléctrica


em baixa tensão
Metodologias de avaliação da potência
de alimentação

resumo abstract
A avaliação da potência de alimentação de uma The evaluation of power Sllpplying ln electric
instalação de utilização de energia eléctrica em baixa plants is an im port ant problem during lhe projecto
tensão é um dos aspectos de principal importância no The ideal solution must considcr a com promise be-
projecto desta. A solução ideal deve resultar de um tween inst aled power and exploitation medes. pecially
compromisso entre a potência instalada e o regime de concerning utiliration and simultaneit y criteria and
exploração previsto, traduzindo-se este pela conside- presumed evolution oi future power demands. This
ração de critérios de utilização, simultaneidade e evo- paper deals with some suggestions to solve lhe pro-
lução temporal de potências prevista. Neste trabalho blem and presents an exam ple.
apontam-se sugestões para avaliação do problema e
apresenta-se um exemplo.

1 Introdução Assim e, de lima forma geral, a potência a con t-


derar no projecto de uma instalação eléctrica (P)
A minimização do investimento no estabelecimento deverá obedecer a uma expre são do tipo (I):
de urna instalação eléctrica exige UI11a criteriosa aná-
lise das necessidades de potência dessa instalação. (kVA)
A investigação da potência de alimentação e, con-
sequentemente, a escolha do tipo de alimentação selec- em que:
cionada - abastecimento a partir da rede pública de
distribuição de energia eléctrica de Alta Tensão (de - P;7iBt. [cos»: Potência instalada total com consi-
subestação privativa), de Média Tensão (de postos de deração do factor de potência glo-
transformação ~/ou seccionamento) e de Baixa Tensão bal estimado
- deverá ter em conta diversos parâmetros, entre os
quais assumem importância especial os relacionados
com o regime de exploração (utilização e simultanei- (.) L. M. Vilela Pinto, Eng," Elcct. (U.P.).
dade de receptores) e com a previsível evolução tem- (1) Este valor de potência devera ser considerado na defi-
poral das cargas a instalar. nição da potência contratada para efeitos tarifários.

ELECTRICIDADE-iV. O
229-Dezembro 1986 7
-:«. Coeficiente de utilização situação pode encontrar-se na utilizaçao de uma má-
quina de lavar roupa, por exemplo, em que a potência
-K Coeficiente de simultaneidade indicada na chapa de características (em regra 3,3
kVA) é o maior valor encontrado em operação da
- K, ( : Coeficiente de C\ olução de carga') mesma e ocorre apenas em períodos mais ou menos
curtos de execução de alguns programas de lavagem
A determinação da potência instalada dev erá ter disponí veis.
cm conta os tipos e características dos receptores exis- O coeficiente de simultaneidade (KII) representa a
tentes. nomeadamente motores (consideração das cor- situação correspondente à não utilização simultânea de
rente ... de arranque), aparelhos de aquecimento eléc- todos os receptores existentes nU111adada instalação. A
trico. aparelhos de i1uminaçao de incandescência. apa- experiência demonstra o interesse e validade da consi-
relho .. de iluminação fluorescente c aparelhos de ilumi- deração deste parâmetro.
nação por descarga de alta ou baixa pressão. O coeficiente de evolução de cargas (Kf'() tem em
Em função de utilização dos locais, em [Z] apre- consideração a pcssibilidade de ampliação da instala-
sentam-se orientações ern termos de potências mínimas ção a um prazo pré-definido, ccrn o correspondente
para as ...ituações de desconhecimento de receptores aumento de potência instalada e alteraçao da simulta-
(iluminação e tomadas para usos gerais) a instalar: neidade de utilização de receptores.
Com. do rt." 418.1.. A determinacão• deste coeficiente é feita através das
O ccef iciente de utilizacão (K é introduzido na
.>
II) indicações prestadas ao Técnico Responsável pela enti-
expressão global com vista à consideração do f neto dade proprietária da instalação e deverá ter em conta
de que 05 receptores não operam permanentemente múltiplos factores, tais como a evolução de mercados,
~I sua potência nominal. UIn exemplo típico desta ~! evolução tecnológica, os aspectos de pessoal, os as-

1 K =1 K =0,78
S9 s
1 K =1
s9
1 K =1
s9 K =0,78
1 K =1 s
s9
1 KS9=1
1
Q.P. Ks =0 I 8
K
S9=1

3 K =l/K =1
u s Ks=O,9
7 Ku=1/Ks=0,3 Ks=0,9
10 Ku=l/KS=l Q.G.R.

=0,43 __ ... _
2 __ K 2_K =0,43 __ 2 _ K =0 4
S9 S9 S9 ' ......_
.... _Ks=0,78 ----
2 __ KS9=0, 43 __ -' 2

12
------------- KS9=0, 9/Kec=1,3
Q.E.R.P.
11 _Ku=l/Ks=l _
4 K=l/K=l
u 5 ------------
K s =0 1 7
5 -----Ku=l/K =1---
6 -K =l/K =1 s _
8 ______U 5 K =l/K :0 2
u 5'--
Ks =0 I 7
Q.G.
9 Ku=O, 75 K =0 8
5 ' Q.S.C.
9 Ku=O,75
9 Ku- ,75- -o
9 _Ku=0,75 Q.A.

- Exemplo para determinação da potência de aI imentação

Fig. I - Exemplo para dctert inac âo da potencia de alimentacào

4-4S ELECTRICIDADE - N," 229 - Dezembro 1986


pectos económicos e financeiros, os aspectos tarifários. talacôes
~
de utilizacão
.. de enerzia
.... electric J em baixa
etc .. tensão, consoante 03 tipos de utilizacão~
dos circuitos
A escolha dos coeficientes de utilizacão~ e de sirnul- são indicados DO Quadro II.
taneidade depende um pouco da experiência disponível
e , por isso, deverá enquadrar-se por metodologias de
QL -\DRO I
análise comprovadamente eficientes.
Uma análise das metodologias referidas é feita em Coeficientes de simultaneidade recomendados para utilização
seguida. em quadros de distribuição na indústria em função do
numero de circuitos

Coeírciente de srrnultanc idude


Numero de circuito, recomendado (CTE C 63-410
2. Avaliação dos coeficientes de utiliza-
çao -
2-3 0,9

A consideração dos coeficientes de utilização pres- 4-5 0,8


supoe o conhecimento de receptores eléctricos que pos-
sam funcionar em regimes diferentes do nominal. Nes- 5-9

tas circunstâncias, os receptores equipados COIU moto- ~ 10 0,6


res são particularmente adequados à consideração
deste coeficiente, estimado em média em 0,75 [1].
Para o aquecimento e iluminação, o coeficiente a
QUADRO II
considerar deverá ser 1; para os circuitos de tomadas
para usos gerais, a escolha do seu valor depende da Coeficientes de Simultaneidade recomendados para utilização
em instalações de utilizaçao de energia eléctrica em B. T.
utilização, devendo, prudentemente, em caso de desco-
em função dos tipos de circuitos
nhecimento, adoptar-se o valor 1 e).
Coeficiente- de <irnulta-
Tipo ... de circuito" ucid adc I ecomeridados
(~F C 1 '-100

3. Avaliação dos coeficientes de simulta-


neidade - Ilurn.nacâo• e ar condicionado ... .,. 1

- Aquecimento eléctrico ambiente ••• 1 (a)


A utilização de coeficiente de simultaneidade pres-
supoe o conhecimento, tão detalhado quanto possível, - Aquecimento eléctrico de água 1 (a)
do regime de exploração da instalação e. por isso,
0,9
pode ser aplicada a diversos níveis, simultaneamente - Tomadas de u~o~ gerais . .. ... ... 0,1 + --(h)
1\'
(conjuntos de receptores, conjunto de quadros termi-
nais, conjuntos de quadros de distribuição - gerais e - Aparelhos electrodomést. de cozinha 0,7
parei ais) .
- Ascensores e monta cargas
Assim, a experiência disponível deverá ser a gran-
de orientadora na def inicão destes coeficientes. • motor mais potente '" 1
,

De U01a forma geral, a Regulamentação de Segu- • motor seguinte 0,75


rança dos diversos países aponta valores «médios»
• motores restantes ••• .. , 0,6
para coeficientes de simultaneidade ti considerar, não
_._------~
dilerindo a situação nacional: os Regulamentos rela- (u ) Quando houver sistemas de potência interruj tive! para
cionados com instalações de utilização de energia eléc- estes circuitos poderão er considerados coeficicn (C~ de SI-
trica f2. 31 indicam esses coeficientes - Com. do Art.° multaneidade contemplando esta hipótese.
41 g,o de 121 (coeficiente para circuitos de iluminação (b ) N - Número de tomadas por circuito.

c tomadas de usos gerais em função da utilização dos


locais) e Arl ." 25. - ponto 6, de r) J para dimensio-
(2) Em escritórios. a previsível utilizacâo a partir de torna-
namento das colunas montantes cm edil icios colec- das, de receptor e e muito pequena pot ência em relação à potên-
tivos C). cia disponível por tomada, permitirá .1 consideração de coefr-
Para a situação de ui iI izaçào industrial em geral CIentes de utilização mais baixos (0,3-0,4 ,
~)O" coeficientes apontado são idênticos ao citados na
L' em quadros de disuibuicâo. a publicação Ul E C
norma ~F C 14-100, para LISO residenciais, Igualmente, ãl
63-410 indica os coei icicnte, ~I considerar Cl11 função
utilizados, na ial ta de e tudo mais especializado • p rol dimen
do número de cirLuito'-. previstos (Quadro 1). vionamento das instalações de distribu.çâo de energu el ctr c
De acordo com a '\!on11a r:rancç~~l '" r c 15-1 00. o~ em B.T. embora o tratamento do problema re ulte subvtancial
coeficientes de sunultaneidade recomendados em ins- mente diferente.

ELECTRICIOA[)E.- , 229- Dezembro 1986 449


4. Avaliação do coeficiente de evolução K =0,7
5
de cargas K ==1/K ==1 1
---------- U 5

A determinação da potência de alimentação de urna


dada instalacão eléctrica deverá ter em consideração
----uK =1/K 5'=0 2 2

ü,:, tipos de receptores existentes (coeficientes de utili-


3
zação) e o regime de exploração prev isível (coeficien-
tes de sirnultane idade). 4
Igualmente, deverá ser prevista desde Jogo uma
margem de segui ança de potência para ampliação futu- K =1/K =1 5
---------- U 5
ras (coeficiente de evolução de cargas) que tenha em Q.H.
consideração os projectos do proprietário a médio prazo K =1/K = O 7 6
---- u s ,--------
(período de 10 anos, em regra).
• ---- __ K =l/K =0 7 7
Este coeficiente estimado torna-se. assim. muito U s' -----
variável. Fig. 2 - Determinação do coeficiente de simultaneidade glo-
001 número usual oscila entre 1, 3 e 1, 4, para o bal para O.H.
período de tempo indicado.

5. Conclusões

A situação que melhor se aproxima da solução


óptima na determinação da potência de alimentação
QUADRO III
de uma instalação eléctrica, em termos de investimento
e eficiência de exploração é aquela que toma em con-
Potências instaladas de cálculo
sideração factores de ponderação ligados à utilização,
simultaneidade e evolução de cargas nesta .
• ·.0 de Utilização Potência
crrcuito [kW] Apresenta-se alguns dados sobre o tema.

1 - Escritórios (E.S.C.) ... 6,6 (a)

2 - Habitações (H.) 18,7 (a) 6. Exemplo


- Serviços Comuns S C.) ... ... Aponta-se de seguida (fig. 1) um exemplo da deter-
- Iluminação normal rnmação da potência de alimentação de uma instalação
3 • garagem GR ) ·.. . .. 2
de utilização em B.T. de um edifício colectivo integra-
do num empreendimento com utilizações diversas (usos
4 • áreas de acesso 4

5 - Ar condicionado ... 50
QUADRO IV
6 - Ventilação mecânica ·.. '" 10
Constituição de circuitos de Q. H. - circuito 2
- Tomadas de usos geral!)

7 • garagem ·.. . .. 4 (b) S' de clr. Utilização P (kW)

8 • áreas de acesso 5 (c)


1 Iluminação normal ·.. ·.. · .. ·.. 0,6
9 - Ascensores eléctricos (A) .. , 8

- Iluminação de emergência de 2 Tomadas usos gerais· · .. ·.. ·.. 3,5 (a)


segurança de sinalização
3 Máquina de lavar . . . ·.. · .. ·.. 3,3
10 • garagem . ... ... .... '" 1
4 Máquina de lavar . . . ·.. · .. ·.. 3,3
11 • áreas de acesso .. .. .... 2

12 - Estabelecimento recebendo público 5 Aquecimento . .. . . . ·.. ·.. ·.. ·.. 3,5


(E.R.P.) 60
6 Fogão eléctrico . .. · .. · .. · .. ·.. 3

(a) Utilizada a parte aplicável do Art.° 435.° e Com. de [2]. 7 Cilindro eléctrico ·.. ·.. · .. ·.. 1,5
(b) Número de tomadas por circuito : 6.
( c ) N \Í mero de tomadas por circuito : 8. (a) 8 pontos de utilização.

450 ELECTRICIDADE - N.C>229 - Dezembro 1986


residenciais, usos comerciais - escritórios, estabeleci- A potência total instalada onsiderada é de 269
mentos recebendo público (E.R.P.) e serviços comuns) k\V e a potência de alimentação calculada é de 162,3
com a consideração das metodologias descritas. kW o que equivale à consideracão dê um factor de
No Ouadro III indicam-se os níveis de potência reducão em funcão da utilizacão. simultaneidade
.> , •
e
individual previstos. evolução de cargas de 0,6.
Foram utilizados coeficientes de simultaneidade
a três níveis (utilizações. quadros parciais e quadro
REfERE crxs BIBLIOGRAFICAS
geral) .
[1] Guide de l'insialation électrique, Merlin Gerin, 1an. _.
São indicados coeficientes de simultaneidade glo-
12 J Regulamento de Segurança di: Lnstalações de Utilização de
bais (Ksy) para quadros de distribuição não projec- Energia Eléctrica, D.L. n." 740/7-4 de ~6 de Dezembro.
ta dos e indicada a forma de os obter para um quadro [3] Regulamento de Segurança de lnstalaçàcs Colectivas de
terminal das habitações (O.H.): figura 2. Edifício~ e Entradas, D.L. 740/74 de 26 de Dezembro.

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