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Mariana de CASTRO
Graduanda, Bióloga, UFSCAR, Núcleo de Estudos em Ecologia da Paisagem e Conservação, João Leme dos
Santos, Sorocaba – Brasil, 55 15 32296003, mdc_mari88@hotmail.com
Kaline de MELLO
Mestranda, Bióloga, UFSCAR, Núcleo de Estudos em Ecologia da Paisagem e Conservação, João Leme dos
Santos, Sorocaba – Brasil, 55 15 32296003, kaline.mello@gmail.com
RESUMO
Uma das regiões que apresenta riscos ambientais é a Zona Costeira, a primeira região
do Brasil a ser colonizada. Hoje essa área abriga remanescentes florestais de Mata Atlântica,
manguezais e matas de restinga, os quais apresentam alta biodiversidade e, portanto, são de
suma importância para a conservação de diversas espécies (AFONSO, 2006). Essas
características espaciais da paisagem se aplicam também a área de estudo (Figura 1), a Região
Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), localizada no litoral sul do Estado de São Paulo
(Brasil) (MELLO, 2008). Essa região é de extrema importância não só econômica, considerando
os complexos industriais e portuários, presentes principalmente em Cubatão e Santos, mas
também biológica em função da presença de vegetação remanescente de Mata Atlântica, mata
de encosta, restinga e manguezais (MELLO, 2008). Porém, esses remanescentes foram se
tornando cada vez mais ameaçados, principalmente com o aumento populacional em virtude da
construção da Via Anchieta e a consolidação de Cubatão como pólo industrial (YOUNG &
FUSCO, 2006).
Para se delimitar as APP de maneira mais eficiente faz-se o uso das geotecnologias, ou
seja, de um conjunto de tecnologias – ligadas às geociências – de informação geograficamente
referenciada. O geoprocessamento é um conjunto de tecnologias de manipulação, análise,
modelagem e visualização dos dados georreferenciados (com registro espacial de acordo com
um determinado sistema de coordenadas). A técnica de geoprocessamento pode ser agregada
ao uso de SIG (Sistemas de Informação Geográfica), cujas principais funções são coletar,
armazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar os dados georreferenciados. O SIG está
estruturado de tal maneira que integra dados, equipamentos e pessoas. Esse sistema fornece
subsídios para gestão, planejamento, manejo, caracterização de espaços, entre outros, podendo
ser aplicado ao zoneamento ambiental, monitoramento de áreas de risco e de proteção
ambiental, controle de ocupações e construções irregulares, entre outros (FITZ, 2008).
2 - MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 1 – Polígono de estudo, Região Metropolitana da Baixada Santista, estado de São Paulo,
Brasil.
Com base nos fotomosaicos georreferenciados de fotografias aéreas dos anos de 1963,
1972, 1987, 1994, 2001 e 2007 foi realizada a vetorização de elementos a fim de se elaborar os
planos de informação. Foram definidos dois planos de informação: o plano de áreas ocupadas,
que apresenta as classes de ocupação habitacional e industrial, e o plano viário com as classes
de rodovias do Sistema Anchieta-Imigrantes e as ferrovias. Os referidos planos foram elaborados
para os anos de 1963, 1972, 1984 e 2001 com o uso do software MapInfo 9.5, sistema de
coordenadas Latitude/Longitude e Datum SAD-69 (MELLO et al., 2009). Para o presente estudo
os mesmos planos foram desenvolvidos para o ano de 2007. Além disso, para o ano de 2007
também foram construídos planos de hidrografia (principais corpos d’água vetorizados com base
na fotointerpretação) e de APP associadas. Para a elaboração da carta temática de conflitos
(ocupações irregulares em áreas legalmente protegidas) realizou-se a tabulação cruzada dos
planos de informação de áreas ocupadas, hidrografia e APP. Todos os planos de informação e
as cartas temáticas foram geradas com o uso do software MapInfo 9.5.
A área dos polígonos representativos de cada plano de informação foi determinado com
o uso do SIG-MapInfo 9.5. Com isso, o processamento dos dados espaciais consistiu na
quantificação das áreas das classes de ocupação industrial e habitacional e a contabilização da
área urbanizada (habitacional somada à industrial) com relação ao polígono de estudo para cada
ano (MELLO et al., 2009).
sendo que:
Além disso, essa perda foi contabilizada em porcentagem com relação à área total de
APP presente no polígono de estudo, sendo que:
APP redução
APP redução (%) = x 100
APP total
Também foi calculada a taxa de APP perdida em função somente da habitação:
Conflito habitação
APP habitação (%) = __________ x 100
APP total
Abaixo segue o cálculo que foi aplicado para determinar a perda de áreas em função da
industrialização:
Conflito indústria
APP indústria (%) = __________ x 100
APP total
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
A B
C D
Figura 5 – Área em milhões de metros quadrados para a série temporal analisada, considerando
total de área urbanizada e as classes de ocupação industrial e habitacional, Baixada Santista,
estado de São Paulo, Brasil.
Nesse mesmo período, o aumento de áreas industriais pode ser explicado pelo maior
trânsito portuário e pelo desenvolvimento de Cubatão como pólo industrial. Com a expansão
urbana sem planejamento, o crescimento econômico da região foi responsável pelo aumento do
custo de vida. Na falta de conjuntos habitacionais destinados à população de baixa renda,
surgiram loteamentos irregulares em áreas de preservação e até de risco, como manguezais,
vales e encostas. Consequentemente foram provocados não só impactos ambientais, como
também ameaças à saúde das populações humanas que se estabeleceram nesses locais
(MELLO, 2008).
Os valores absolutos em área ao longo dos anos (Figura 5) indicam uma tendência de
crescimento na área total urbanizada desde a década de 80 até 2007, além de uma estagnação
na expansão industrial. No período de 1987-94 houve aumento na urbanização semelhante ao
período de 1963-72. Entretanto, diferentemente das décadas de 60 e 70, a expansão da mancha
urbana foi superior à expansão industrial e esse padrão foi mantido até 2007. De acordo com
Mello (2008), essa mudança pode ter relação com a estabilização da economia e também com a
limitação de espaço físico para áreas industriais a partir da década de 80. Deve-se considerar
também a limitação das áreas habitacionais em função da estreita faixa de planície, presença de
áreas inundáveis e de manguezais.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, foi possível analisar a redução de APP em 2007, em relação à área ideal de
APP. A inversão de cenário indicada na dinâmica espacial está relacionada à maior influência de
áreas habitacionais para a diminuição da vegetação em questão, em função da ocupação
desestruturada e sem fiscalização da população de baixa renda, que se estabeleceu
principalmente em áreas legalmente protegidas.
Sendo assim, pode-se perceber que o planejamento das zonas costeiras, na Baixada
Santista, ao contribuir para o ordenamento do território, delimitando as áreas passíveis de
expansão e locais destinados à conservação, deve estar aliado a políticas públicas para
adequação de populações em condições de irregularidade e a instrumentos de fiscalização.
Estudos como esse, com aplicação de geotecnologias, fornecem subsídios para a gestão de
áreas como a Zona Costeira, além de auxiliar no monitoramento das infrações, possibilitando a
conservação de regiões fundamentais para a saúde do ecossistema e das populações humanas.
BIBLIOGRAFIA
FITZ, P. R. (2008). Geoprocessamento sem complicação. São Paulo (Brasil), Oficina de Textos,
160 pp.
MYERS, N., MITTERMEIER, R.A., MITTERMEIER, C.G., FONSECA, G.A.B. & KENT, J. 2000.
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RIBEIRO, M.C., METZGER, J.P., MARTENSEN, A.C., PONZONI, F.J., HIROTA, M.M. 2009.The
Brazilian Atlantic Forest: How much is left, and how is the remaining forest distributed?
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