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Alegrai-Vos No Senhor - Uma Exposição de Filipenses - Russell P. Shedd
Alegrai-Vos No Senhor - Uma Exposição de Filipenses - Russell P. Shedd
SHEDD
RUSSELL P. SHEDD
PREFÁCIO................................................................................................. 5
AS BASES DA NOSSA SEGURANÇA .................................................. 9
UMA ORAÇÃO MODELO....................................................................... 21
A FILOSOFIA DE VIDA DO CRISTÃO ................................................ 31
OS CIDADÃOS DO CÉU EM COMUNIDADE........................... 42
O CENTRO DA HISTÓRIA.................................................................... 53
DESENVOLVENDO A SALVAÇÃO.................................................... 63
HOMENS DE D E U S................................................................................. 73
PERDENDO PARA GA NH AR............................................................... 80
A AMBIÇÃO DE PAULO . ............................................................... 89
O CORPO........................................................................................... .. 96
O CONTENTAMENTO........................................... ............................. 104
O DEUS DA PAZ SERÃ CONVOSCO................. .. ................ 112
A NECESSIDADE E O SUPRIMENTO.................................................. 121
n o ta s ................................................................................................ 128
AS BASES DA NOSSA SEGURANÇA
Filipenses 1:1-8
Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos
em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos, que vivem em
Filipos: 2 — Graça e paz a vós outros da parte de Deus nosso
Pai e do Senhor Jesus Cristo. 3 —Dou graças ao meu Deus por
tudo que recordo de vós, 4 - fazendo sempre, com alegria, sú
plicas por todos vós, em todas as minhas orações, 5 - pela
vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora.
6 - Estou plenamente certo de que aquele que começou boa
obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus.
7 - Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos
trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e con
firmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça
comigo. 8 — Pois minha testemunha é Deus, da saudade que
tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.
Creio que o leitor logo vai perceber que os quatro capítulos que for
mam o livro de Filipenses me são muito caros, contando-se entre aquelas por
ções bíblicas pelas quais tenho maior predileção. Nunca estive na prisão, nunca
fui acorrentado, e por isso não sei como reagiria se tivesse que enfrentar essa si
tuação. Mas Paulo conseguiu escrever cinco de suas cartas quando estava preso,
uma delas sendo à igreja de Filipos, na Macedônia, norte da Grécia.
Vamos começar o nosso estudo examinando só os oito primeiros versí
culos desta porção tão conhecida da Palavra de Deus.
Oração: Pai, pedimos-Te agora, pelo Espírito Santo, que sintonizes
nossos corações à música verdadeiramente celestial; e que retires as barreiras
que nos impedem de ouvir Tua voz, e nos atrapalham a obedecer. Em nome de
Jesus. Amém.
Introdução
Os estudiosos, eruditos, peritos da matéria, são uma classe desafiante
porque entendem de tudo que se pode saber sobre sua área de estudo.
Apesar da perícia, entretanto, existem assuntos nos quais reinam dúvidas em
lugar de dogmatismo. Há ocasiões em que os entendidos caminham na corda
bamba entre duas posições, simplesmente porque não há provas suficientes
para se decidirem pela certa. Por este motivo, ainda ficam indecisos quanto
ao lugar onde Paulo estava quando escreveu sua carta aos Filipenses. O pon
to de vista tradicional é que se encontrava em Roma, assim como quando
compôs as cartas aos Colossenses, aos Efésios e a Filemon. Mais recentemen
te, porém, eruditos britânicos e alemães, como George Duncan e Michaelis,
descobriram certos sinais indicando que possivelmente Paulo não estava na
capital do Império.
Um dos motivos que tradicionalmente têm levado os intérpretes a
pensarem que Paulo se achava em Roma é sua menção à guarda pretoriana
em Fp 1:13. Ali ele fala “de toda a guarda pretoriana e de todos os demais”.
No fim do capítulo 4, refere-se aos “da casa de César” . Mas descobertas ar
queológicas recentes indicam que isso não é uma prova decisiva, já que havia
guardas pretorianas além de Roma. Esta guarda era uma tropa de elite de
cerca de 9.000 guardas imperiais: os soldados mais dignos de confiança de
todos os que o imperador possuía. Eram cuidadosamente treinados e selecio
nados para defender o imperador contra qualquer golpe do estado. Além
de serem uma força de segurança, também cuidavam dos prisioneiros que
eram cidadãos romanos, e que tinham apelado para César com a finalidade
de conseguirem justiça, tal como Paulo havia feito. Visto que a maioria da
guarda pretoriana servia em Roma, era natural pensar que Paulo estivesse na
capital quando escreveu Filipenses.
Mas há algumas objeções à teoria dessa carta ter sido escrita em Roma.
A dificuldade mais séria é que, num período relativamente curto, quatro ou
cinco viagens devem ter sido realizadas entre o escritor e os leitores. Alguém
informou aos filipenses que Paulo estava na prisão. A oferta que Epafrodito
trouxe (leremos a respeito no capítulo 2) exigiu outra viagem. A notícia de
que Epafrodito tinha ficado doente, e o conhecimento que Paulo tivera de
que os filipenses lamentavam profundamente a doença de Epafrodito, exigi
ram ainda que outras duas viagens (ver 2:19-30). São muitas idas e voltas en
tre as cidades de Roma e Filipos, consumindo talvez 7 ou 8 semanas cada
uma.
Se Paulo não estava em Roma, então a melhor alternativa para o lugar
de composição seria a cidade de Éfeso, onde o apóstolo exerceu ministério
entre os anos 54 e 56 A.D.. Essa tese ganha força quando examinamos ou
tras cartas de Paulo compostas na mesma época, ou seja, 1 e 2 Coríntios e
Romanos: o modo de falar do autor em Filipenses é mais próximo ao lingua
jar dessas três cartas, do que ao de Efésios, Colossenses e Filemon. Observe
mos também que algumas das referências, por exemplo, aquelas feitas aos
“maus obreiros” , “falsa circuncisão” e cães (3:2), fazem lembrar as cartas
aos Coríntios. Outro problema determinante da situação em Filipos é o da
falta de união (e recorde-se que esta foi a principal razão de Paulo ter escrito
1 Coríntios). É bem provável que Filipos e Corinto fossem objetos de preo
cupação de Paulo durante os dois anos e meio em que ele trabalhou em
Éfeso (para conhecer a situação, leia At 20:18-35).
O problema que se levanta contra essa tese de que a carta aos Filipen
ses foi escrita em Éfeso é que não temos conhecimento, pela leitura de Atos,
de que Paulo tenha sido preso ali em alguma ocasião. Em 2 Co 11:23 há uma
breve referência ao fato de ele ter estado em prisão mais de uma vez, e isso
oferece uma base para a possibilidade de sua liberdade ter sido tolhida em
Éfeso.
Há outros motivos, entretanto, que me levam a pensar que Filipenses
fica melhor no quadro da vida e do ministério de Paulo em Éfeso, do que em
Roma seis ou sete anos mais tarde. Em 1 Co 15, o capítulo da ressurreição,
uma parte do argumento de Paulo em favor da ressurreição é que ela explica
porque o apóstolo devia passar por todo o sofrimento que vinha provando.
Vejamos 1 Co 15:30-31: ”E porque nós também nos expomos a perigos a
toda hora? Dia após dia morro!” . Isto indica que ele estava sendo ameaçado
continuamente. No v. 32, Paulo diz: “lutei em Éfeso com feras”. Sabemos
que Paulo não poderia ter lutado literalmente com animais selvagens. Não se
permitia que um cidadão romano fosse lançado na arena. Paulo se referia a
inimigos tão ferozes que se assemelhavam a leões soltos na arena, e que a
qualquer momento poderiam matá-lo.
O primeiro capítulo de Filipenses apresenta Paulo enfrentando esse ti
po de situação. Além do mais, Paulo escreveu 2 Coríntios menos de seis
meses depois de haver escapado de Éfeso, de onde escrevera 1 Coríntios. Na
Macedônia, a poucos dias de viagem de Éfeso, ele se encontrou com Tito,
que lhe trazia boas notícias de Corinto. Escrevendo aos Coríntios, na segun
da carta, Paulo diz: “Irmãos, queremos que saibam das dificuldades que tive
mos na Ásia (Éfeso). O sofrimento que suportamos foi tão grande e tão duro
que já não tínhamos esperança de escapar de lá com vida. Nós nos sentíamos
como condenados à morte. Mas isto aconteceu para nos ensinar a confiar
não em nós mesmos, e sim em Deus, que ressuscita os mortos. Ele nos sal
vou e nos salvará desses terríveis perigos de morte” (2 Co 1:8-10 — Novo
Testamento na Linguagem de Hoje).
Filipenses também revela que Paulo achava que tanto poderia ser mor
to como libertado da prisão. (Fp. 2:23). Contudo, ele está muito confiante
de que, por causa das orações dos cristãos filipenses, será solto. É possível
que Paulo esteja se referindo à mesma ameaça em 2 Co 1 e Fp 1. Se for
assim, então devemos concluir que está escrevendo de Éfeso aos filipenses.
Filipos era uma colônia romana e então os membros da igreja eram ci
dadãos romanos. Por não haver muitas colônias romanas, os naturais de Fili
pos eram cidadãos altamente privilegiados de Roma. A cidade foi conquista
da primeiramente por Filipe da Macedônia, pai de Alexandre,o Grande, em
360 A.C., recebendo o seu nome. Foi ali em Filipos que Otávio, o mesmo
que seria mais tarde o grande imperador Augusto (que estabeleceu a Pax
Romana), venceu a batalha de Actium. Numa planície perto da cidade,
Augusto derrotou seus rivais, Antônio e Cleópatra, no ano de 42 A.C.. Por
causa daquela vitória muito importante para a conquista da coroa, Augusto
deu aos seus valorosos soldados tanto terras como posição, elevando a cida
de à condição de colônia romana. Isso explica por que havia tão poucos ju
deus em Filipos. Se houvesse judeus no exército de Augusto, seriam tão pou
cos que não haveria número suficiente para fundar uma sinagoga.
Quando Paulo iniciou uma igreja em Filipos, fez seus primeiros con
tatos num “lugar de oração” , perto de um ribeirão. Há uns anos atrás, tive o
privilégio de visitar Filipos (que agora é uma ruína) e fiquei emocionado ao
conhecer o lugar onde Paulo e Lídia se encontraram, junto com outros ju
deus, para adorar ao Senhor. Os filipenses eram cidadãos de Roma, e por
isso Paulo empregou duas vezes no original o termo “cidadão” (1:27; 3 :20),
palavra que não aparece em nenhum lugar em suas epístolas. Na primeira
passagem escreveu: “que sua maneira de vida (literalmente, sua cidadania)
seja digna do evangelho de Cristo” (1:27), assim como a conduta dos ci
dadãos de Filipos devia ser digna de verdadeiros romanos. Em todos os sen
tidos, os cidadãos daquela colônia eram iguais aos cidadãos da própria
Roma. Gozavam dos mesmos privilégios, bem como da autoridade e pro
teção que a cidade de Roma estendia aos cidadãos da urbe. Naturalmente,
sentiam bastante orgulho desse status. Analogicamente, Paulo apelava aos
leitores como “cidadãos do céu ”, no capítulo 3: “Nossa cidadania está nos
céus”, de onde aguardamos, não o imperador que vem visitar nossa cidade,
mas “o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”, que nos transformará em Sua
semelhança.
Consideremos, por um momento, o quadro de origem desses cidadãos
dos céus. A igreja se compunha de uma variedade incomum de pessoas. Or
ganizadores de igrejas não recomendam que se inicie um trabalho com
pessoas como as que formavam a congregação embriônica de Filipos. Primei
ramente, aquela igreja começou com uma mulher. As igrejas que eu já ajudei
a iniciar dependeram de homens, mas a igreja em Filipos foi fundada em
aproximadamente 50 A.D., com Lídia, uma mulher de negócios. Mais tarde,
haveria duas mulheres brigando naquela mesma igreja (4:2, 3). É claro que
há quem diga que a raiz de tal desentendimento está no modo como se ini
ciou a igreja. Lídia de Tiatira, na Ásia, era comerciante, (At 16:14). Vendia
um corante vermelho, caro, que era produzido em Tiatira, onde uma das se
te igrejas da Ásia foi organizada (Ap 2:18-29). Depois que ela se converteu
naquela reunião de oração junto ao riacho que passava na periferia da cida
de, convidou a Paulo e seus companheiros, Silas e Timóteo, para virem à sua
casa a fim de terem onde se hospedar, e para continuar seu ministério.
O outro membro fundador foi uma jovem escrava, que tinha sido
possuída por demônios. Paulo expeliu dela os demônios, suscitando a ira dos
donos, que dela se utilizavam para tirar lucros financeiros através de feiti
çaria e profecias sobre o futuro (leia At 16:16-23). Suponho que ela se tenha
tomado cristã, membro ativo da igreja.
Paulo e Silas foram açoitados e jogados na cadeia por terem feito este
ato de misericórdia. Naquela mesma noite, por causa de um terremoto divi
namente marcado para aquela hora, o carcereiro se assustou o suficiente pa
ra pedir aos missionários que lhe mostrassem a maneira de ser salvo, em vez
de suicidar-se (At 16:27-34). Assim ele se converteu, juntamente com sua fa
mília. Portanto, um carcereiro, uma escrava, e uma comerciante foram es
colhidos por Deus para formarem o núcleo da igreja em Filipos.
Não temos notícia de quem mais entrou para o rol. Sabemos que hou
ve um certo Clemente, e um homem cujo nome pode ter sido Sízigue
(“companheiro de jugo” 4:2, 3), bem como as senhoras que não falavam,
mas que tinham ajudado a Paulo. Seus nomes eram Evódia e Síntique. Esse
grupo nada promissor de crentes formou a pequena igreja. Mas não podemos
esquecer que esta foi uma das igrejas prediletas de Paulo. O apóstolo não
tinha a preocupação de ver se eram as pessoas importantes da cidade que se
convertiam, como foi em Tessalônica (At 17:14), ou se Deus chamava a Si
aqueles que menos se esperava ver na igreja. “Deus escolheu as coisas humil
des do mundo, e as desprezadas e aquelas que não são, para reduzir a nada as
que são ” (1 Co 1:28). Deus se alegra em formar sua igreja de todas as cama
das da sociedade, unindo os membros ao corpo.
Ora, por que será que esta igreja era uma das preferidas de Paulo? Um
ponto positivo foi o modo em que Deus a iniciou. Acho que qualquer pessoa
que passasse por um lugar onde começasse apanhando e depois visse a mão
poderosa de Deus quebrando o prédio com um terremoto, e as portas se
abrindo de vez, seria levado a concluir que Deus tem uma preocupação mui
to especial por aquela cidade e seus habitantes. A seqüência dos eventos, e a
maneira em que o mal cooperou para o bem, devem ter dado a Paulo a cer
teza de que esta igreja iria ser uma expressão significante da graça de Deus.
Outra razão pela qual Paulo tinha uma consideração toda especial por
esta igreja foi o amor dos crentes de Filipos para com ele. Até então, era a
única igreja que se preocupou com o apóstolo a ponto de mandar auxilio
financeiro. Paulo dependia dos donativos, além daquilo que podia ganhar
com o trabalho. Ao ler o cap. 4, vemos que havia ocasiões em que Paulo es
tava pobre de recursos materiais, quando não tinha mais que uma moeda no
bolso (se é que tinha...). O apóstolo ficava comovido ao ver que esta igreja
lhe queria bem o suficiente para associar-se materialmente na sua tribulação.
Sentia-se muito agradecido. Teriam mandado mais, se houvesse outras opor
tunidades. Isto sugere que a igreja realmente amava a Paulo. Naqueles dias,
não era fácil enviar dinheiro, visto que era preciso mandar alguém junto e
havia sempre a possibilidade de essa pessoa sofrer a mesma sorte do homem
que caiu nas mãos de salteadores, como na parábola do Bom Samaritano.
Epafrodito era um homem especial. Ele não se importou em arrriscar a sua
vida para sair de casa a fim de ser portador dos filipenses, e assim suprir a
necessidade de Paulo (Fp 2:25). Esta carta aos filipenses foi escrita, em par
te, a fim de expressar a gratidão profunda que Paulo sentia para com a igreja
que tanto se preocupava com seu ministério.
A Saudação (1:1)
Agora, vejamos de perto o que Paulo tinha a dizer para esta igreja. É
bem diferente do que imaginamos. Em vez de dizer: “São Paulo e São Ti
móteo, aos servos do Senhor em Filipos, com os bispos e diáconos”, ele es
creve o oposto. Nosso texto diz: “escravo Paulo e escravo Timóteo, escravos
de Jesus Cristo, aos santos de Cristo Jesus que moram em Filipos”. Parece
estar invertido, não é mesmo?
Dr. Harry Ironside, o famoso pastor da igreja de Moody em Chicago,
contou de uma viagem de trem de três dias que havia feito em certa ocasião,
do litoral do Pacífico até Chicago. Havia duas freiras católicas no seu vagão,
e ele, então, quis divertir-se um pouco às suas custas. Depois de ter travado
conhecimento com elas, perguntou-lhes: “Já viram um santo?”. Elas respon
deram que nunca tinham visto, pensavam que seria maravilhoso ver um san
to de verdade. “Eu gostaria que vocês conhecessem um santo”, ele disse.
Ficaram entusiasmadas! Onde, como poderiam conhecer esse santo? Estaria
viajando num caixão de ouro, ou seria visto descendo do céu? (Segundo o
pensamento popular católico-romano, os santos têm que morrer primeiro.)
Dr. Ironside disse: “Eu sou Santo Harry” . Conheceram Santo Harry, mas
isso pouco as impressionou.
Não sei se foi exatamente bíblico, chamar-se de santo. É verdade que a
igreja de Filipos era composta de santos, mas não sei se havia ali alguém que
fosse mesmo um santo. Existe uma diferença. No Novo Testamento, Paulo
nunca é chamado de São Paulo. E a Bíblia sempre usa “santos” no plural
quando se refere a pessoas. A razão disso, acredito, é que o plural “santos”,
“pessoas santas” , comunica o conceito do Corpo de Cristo, que é a Igreja
santa (universal ou local) de Jesus Cristo: todos que estão na igreja, ou
“em Cristo”, compartilham de Sua santidade e tomam-se, portanto, pessoas
santas. É isso que significa a palavra “santo”.
Por outro lado, nenhuma pessoa desse mundo é individualmente um
santo, no sentido de ser santo e perfeito, tal como Deus o é. Nós temos o
mandamento para sermos santos (1 Pe 1:16), mas nenhum ser humano é
realmente santo. Nós somos todos pecadores regenerados. E a ordem que re
cebemos é de mantermos a santidade como meta do nosso viver e mover-nos
nesta direção (Hb 12:14). Jesus mandou “sede vós perfeitos como perfeito
é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48). Por este motivo, creio que Paulo não se
sentisse bem com o título “São Paulo”. Não há dúvida de que ele fazia parte
da igreja de Jesus Cristo, que é a igreja “dos santos do Altíssimo” (Dn 7:18 e
seg.). O termo do Velho Testamento. Em Ex. 19:6, o povo de Israel, ao qual
Deus tinha escolhido, também foi chamado de nação santa, apesar dos seus
muitos fracassos em praticar a santidade. O título se refere antes ao relacio
namento da aliança pela qual Deus ligou Israel a si.
Aqui em Filipenses, os santos são assim chamados por causa de seu re
lacionamento com Deus, e porque estão “em” Jesus Cristo. Em contraste
com isto, Paulo e Timóteo são apenas escravos, um termo bastante apro
priado para descrever um cristão. Um cristão é um escravo. Ora, o que faz
um cristão ser um escravo?
Antigamente, havia quatro maneiras pelas quais uma pessoa podia tor
nar-se escrava: (1) Podia-se ser escravo por nascer na família de escravos. Se
os pais eram escravos, a pessoa automaticamente era escrava, e nada se podia
fazer para evitar que isso acontecesse. (2) Podia-se ser escravo por conquis
tas. Quando o exército romano conquistava novas terras, o povo derrotado
automaticamente se tornava escravo. Aqueles que não eram mortos ficavam
sendo propriedades do estado romano e dos seus cidadãos. Foi assim que o
Império Romano obteve mais de 50% de sua população composta de escra
vos durante o primeiro século quando Paulo estava escrevendo. (3) Podia-se
ser escravo por compra em leilões de escravos como os que se tornaram
conhecidos nos seriados da TV. Um escravo que era comprado e depois liberto
era um escravo “redimido”. (4) Podia-se ser escravo por livre escolha. Se
um senhor concordasse, um homem que tinha esperança de receber alimen
to, proteção e bons tratos, entregàva-se voluntariamente a ele para ser seu
escravo.
Como Paulo e Timóteo tornaram-se escravos de Jesus Cristo? Por com
pra. 1 Co 6:20 esclarece que todos os cristãos foram comprados por preço.
Se você realmente conhece a Deus, então você é escravo dele —não porque
você quis sê-lo, nem porque nasceu na escravidão, ou foi tomado na batalha,
mas sim porque você foi redimido por Seu sangue precioso (Ef. 1:7). Sim,
você foi comprado do seu antigo dono, que era “o pecado”. Outrora, diz
Rm 6:17, você foi escravo do pecado. Mas agora que foi comprado por
Jesus Cristo mediante um preço elevadíssimo, glorifique a Deus em seu cor
po. Seja um escravo genuíno de Cristo Jesus, porque ele o comprou, com
prou-nos todos. Não comprou apenas a sua mente, ou sua alma, só para le
vá-lo ao céu numa data futura incerta. Comprou-o e fez de você Seu escravo
aqui na terra, para que cada um de nós possa servi-Lo na plena extensão da
vida terrena e do potencial que tem.
Como os filipenses se tomaram santos? Se um escravo cristão entra
nesta condição por ser comprado pelo preço da morte de Cristo na cruz, os
santos se tornam santos sendo colocados “em Cristo Jesus”. O conceito
é um pouco difícil de se compreender. Não entendemos como uma pessoa
pode estar “em” uma Pessoa como Cristo Jesus. Será que você fica “em
Cristo” assim como nós estamos imersos ou dentro da atmosfera da Terra?
Visto que todos respiramos o ar, nós estamos dentro da atmosfera e o ar es
tá em nós. Um estudante da Bíblia procurou comunicar a idéia espiritual de
estar em Cristo, e Ele em nós, dessa maneira. Estar em Cristo, para ele, era
algo impessoal? Não creio que tenha sido esta a idéia de Paulo, de modo
nenhum. Qual seria então o significado dessa expressão que aparece mais de
100 vezes nas Epístolas Paulinas?
Talvez devamos captar esta realidade de estar “em Cristo”, dentro dos
moldes do pensamento hebreu. Estar em uma pessoa, segundo a mente he
braica, é estar tão intimamente ligado a ela que tudo que se refere a ela, e
tudo que se refere a você, submete-se ao pleno controle dela. Visto que to
dos estão em Adão (1 Co 15:22), a natureza adâmica caracteriza o homem
que é totalmente dominado por ela. Essa existência “em Adão” explica a
corrupção do homem tanto no sentido moral, como no sentido físico
(1 Co 15:22, 45). É inútil você tentar sair disso, a não ser que se converta e
conheça a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Mas quando você se
transfere de Adão, deixando a personalidade, a natureza e o controle dele
para trás, e se coloca em Jesus Cristo, então é Ele que vai afetar sua nova
vida. O sinal e símbolo dessa transferência é o batismo. Quando você confia
em Jesus Cristo como seu Salvador, e o recebe como seu Senhor, você então
já está comprado, torna-se membro de Sua família, do Seu Corpo, e se entre
ga livremente ao Seu controle. Portanto, se você está completamente rendi
do a Jesus Cristo, então está “em Cristo” ..
Observemos que estes cristãos estão “em” Cristo Jesus e vivem “em”
Filipos. O primeiro “em” indica um posicionamento; o segundo, um lugar
geográfico. São diferentes. É estar “em” Jesus Cristo que os torna santos.
Você não é santo, como já vimos, quando é melhor do que os outros. Você
deve mesmo ser melhor do que os outros, e ter personalidade santa, admirá
vel, se o Senhor perfeito está exercendo um controle efetivo sobre sua vida.
Mas você não passa a ser santo por se tornar uma pessoa melhor. Só será san
to entrando para o Corpo do Santo Filho de Deus, pela fé pessoal, mediante
a qual Ele o regenera. Toma-se santo porque é santificado, consagrado, sepa
rado pelo Espírito Santo em união com Cristo (1 Co 12:12, 13). Sendo
assim, os santos de Filipos, e os escravos de Deus em Roma ou Éfeso, estão
se comunicando através de sua participação no mesmo Senhor ressurreto.
Os bispos e diáconos são mencionados especificamente por Paulo,
como receptores desta carta. “Bispos” significa simplesmente supervisores.
No primeiro século eles eram supervisores da igreja assim como hoje há su
pervisores numa fábrica, para verificar se tudo está em bom andamento. Só
que esses “bispos” (episkopoi) eram supervisores de pessoas. A palavra “diá
conos” , por sua vez, significa servos, trabalhadores. Os bispos eram líderes
que desempenhavam o ministério pastoral do ensino, organização e discipli
na eclesiástica. Os diáconos serviam à igreja como assistentes dos pastores-
bispos, e como evangelistas (cf. At 20:17, 28).
A igreja no período neo-testamentário não era uma igreja a não ser
que já tivesse os líderes nomeados. Igreja é mais do que um estudo bíblico,
onde todos discutem uma determinada passagem das Escrituras. Esse grupo
de estudo não é igreja, assim como amigos que se reúnem num dia marcado
para divertir-se e conversar não constituem uma família. Um grupo de estu
do informal não possui a liderança divinamente instituída nem a responsabi
lidade, como também lhe faltam as ordenanças do batismo e da Ceia do
Senhor. Contudo, os títulos que os líderes da igreja devem ter, bem como o
número deles em cada comunidade, não ficam claramente estipulados no
Novo Testamento. Na verdade, os termos “bispo”, “pastor” e “presbítero”
são usados alternadamente nos textos. Dão ênfase aos diversos aspectos do
ministério, qualquer que seja o título recebido por esses líderes eclesiásticos.
A Segurança de Paulo (1:2-8)
Vejamos o que esta passagem diz sobre a segurança. Que certeza
você tem hoje de que irá para o céu quando Jesus Cristo voltar, ou quando
você morrer (se isso acontecer antes da segunda vinda)?
Paulo nos apresenta as bases de uma perfeita confiança a respeito de
nosso destino eterno. Existem cinco razões a garantir que, se você se conver
teu e conhece a Jesus Cristo, você irá para o céu:
1. Graça. Em primeiro lugar, está &graça. O v.2 diz “Graça e paz a vo
cês da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” . Se você não rece
beu a graça de Deus, e se você não tem a paz dele em seu coração, é simples
mente impossível ter a segurança de que Paulo fala. Graça e paz vêm pri
meiro, não só como saudação, mas como alicerce.
2. Obra de Deus. Vejamos o v.6: “Estou plenamente certo de que
aquele que começou boa obra em você há de completá-la até ao dia de Cris
to Jesus”. Esta é a segunda garantia de que você é salvo: a obra de Deus. Se o
Senhor começou boa obra em você, então agora Ele está trabalhando e com
pletando-a eficientemente (ver 2:13).
C.S. Lewis, no seu livro Surprised by Joy (Surpreendido pela Alegria),
descreve vivamente sua conversão. Em certa noite de 1929, ele era o conver
tido mais relutante, mais infeliz e abatido de toda Inglaterra. Sua situação
era pior que a do filho pródigo, pois este caminhou espontaneamente de vol
ta para o lar, ao contrário de Lewis que entrou na casa depois de muita resis
tência, dando socos e pontapés no pai. E então mais tarde, Lewis escreve pa
ra um amigo da América que ainda não era cristão: “Suponho que o Espírito
Santo o tenha apanhado e que você já esteja preso na sua rede. Não adianta
relutar mais. Deus começou um trabalho em você”. Sim, e em você, leitor,
Deus já começou uma obra? Você reconhece o poder com o qual Ele o está
chamando, não só para a comunhão, não só tornando agradável a participa
ção nos cultos da igreja, mas principalmente atraindo-o para Si? Ele deseja
realizar aquela obra da graça no seu coração. Se Deus já começou a operar
em você, cuidado, pois é muito difícil escapar de Seus braços insistentes e
amorosos (cf. Hb 12:4-11).
3. Amor Fraternal. Há uma terceira base para a grande esperança que
Paulo tem referente à igreja: o fato de ele se encontrar num relacionamento
especial com a igreja filipense. O apóstolo expressou em oração a gratidão
que sentia por esse amor mútuo: “Dou graças ao meu Deus por tudo que re
cordo de vocês” (v. 3).
Paulo possuía uma mente aberta ao Espírito Santo. Em vez de estar à
televisão e aos jornais de cada dia, ou à revista Veja, ou ainda a todo o tra
balho que ele estava fazendo, sua mente estava continuamente recebendo
alertas do Espírito Santo. Ele era capaz de reconhecer imediatamente qual
quer coisa que viesse à sua mente por iniciativa do Espírito. E uma das
coisas que Deus trazia à sua mente na prisão era a igreja de Filipos. Então
Paulo concluía que aqueles crentes deviam ser filhos de Deus, porque senão
nunca teria se lembrado deles com tanto ímpeto ou freqüência. Continua
mente, Paulo confessa “eu penso em vocês e oro por vocês” (v.4). Seus pe
didos eram oferecidos a Deus com alegria, porque a igreja naquela cidade
lhe fazia feliz, era sua “coroa de regozijo” (4:1 em uma tradução).
4. Cooperação. Paulo não só ora por seus filhos no evangelho, como
também agradece a Deus a cooperação deles neste evangelho (v.5). A palavra
“cooperação” representa a koinonia do grego, que significa comunhão ou
participação. O apóstolo se refere aqui ao auxílio financeiro que a igreja lhe
enviou pelas mão de Epafrodito (2:25). Este compartilhar de coisas materi
ais com Paulo, mostrava que os filipenses estavam cooperando na propa
gação do evangelho, que faziam isso “desde o primeiro dia até agora”.
Sabemos que é preciso ser salvo pelo evangelho. Entretanto, se você
assumiu algum compromisso com o evangelho sem ainda ter sido salvo, isto
é, você acreditou, mas não se entregou inteiramente a Jesus Cristo, sua ati
tude vai denunciar isso. Algumas pessoas crêem no evangelho somente em
conseqüência de terem nascido em lares cristãos, mas não têm um compro
misso do coração com o evangelho, porque nunca nasceram realmente do
Espírito Santo de Deus. O principal problema de tal pessoa, provavelmente,
será a dificuldade de viver o evangelho em sua vida! Como ela está na igreja,
espera-se que faça o que os filipenses estavam fazendo, que era contribuir
(ver também 2 Co 8:1-5). Mas ela detesta dar dinheiro. O pior detalhe da
igreja com o qual ela precisa conviver, é a pressão que sente sobre si para que
dê sacrificialmente, com um coração cheio de amor.
Mas esse não era o caso dos filipenses. Sua cooperação no evangelho
não era apenas uma koinonia de fé, e oração pela missão de Paulo; era uma
cooperação prática, na qual tinham prazer em dar. É difícil uma prova maior
da operação do Espírito de Deus no coração, do que o desejo de contribuir
para suprir as necessidades daqueles a quem Deus ama. É somente o poder
sobrenatural de Deus que pode ajudá-lo a compreender que é mais aben
çoado dar do que receber (At 20:35). Este, portanto, é o quarto sinal da
obra redentora do Espírito nas vidas dos filipenses.
5. Intercessão do Pastor a favor dos crentes. No versículo 7, Paulo
aponta mais uma razão da segurança que ele tem nos crentes a quem está es
crevendo: “Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago
no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evan
gelho, pois todos sois participantes da graça comigo”. Não só o Espírito os
traz sempre à memória (v.3), não só eles começaram a dar ofertas provando
que são realmente convertidos, mas também eles têm no coração de Paulo
um lugar especial que só os verdadeiros irmãos e irmãs em Jesus Cristo po
dem ter. O apóstolo acrescenta: “Não só vocês se uniram a mim na minha
prisão e na defesa e confirmação do evangelho, como também Deus é minha
testemunha da saudade que tenho de vocês todos”. Esta última frase nos faz
lembrar o carinho que as mães têm pelos seus bebês. Se separarmos uma mãe
de sua criancinha, ela sentirá muitas “saudades” . A palavra descreve os sen
timentos de Paulo para com esta igreja.
É difícil para um pastor nutrir por sua igreja um sentimento tio pro
fundo a ponto de poder assegurar que todos os membros são salvos, são san
tos de verdade e não apenas de aparência. Mas é possível ver alguns indícios:
a alegria com que participam nos cultos da igreja, a cooperação no evangelho
através de suas ofertas. Vê-se a prova do esforço unido em oração, e o resul
tado é o pastor lembrar-se de todos continuamente.
Olhe para seu próprio coração. Deus já começou Sua boa obra em vo
cê? Você nota que Ele já o está lapidando, polindo e trabalhando todos os
dias? Se está, então pode tomar para si o que Paulo disse: “Estou plenamen
te certo de que Deus, que começou boa obra em mim, há de completá-la até
ao dia de Cristo Jesus”. O maior desejo de Deus é ter santos no céu que se
jam semelhantes ao Seu próprio Filho.
Rm 8:29 nos garante que haverá milhões de cópias de Jesus Cristo,
moldadas segundo Sua imagem e semelhança. O Senhor está trabalhando
na vida dos crentes, cada um deles com personalidades, pontos de vista, expe
riências, raízes sócio-culturais e racionais diferentes, afim de transformar ma
ravilhosamente todos os seus filhos, de modo que sejam semelhantes a Jesus
Cristo. Assim será a população do céu: formada por cidadãos que Deus co
meçou a moldar nas experiências que resultaram em conversão, e continua a
modelar constantemente ao longo da vida cristã, para que tomem o formato
da perfeição de Jesus.
Conclusão
Pense em um homem como John Newton, que viveu há anos atrás,
no século 18. Começou a vida num lar cristão onde viveu por uns seis anos.
Ficou órfão e então foi criado por uma família não-crente, em que o evan
gelho e o Cristianismo eram ridicularizados. Como nessa casa ele era perse
guido, fugiu para o taar, porque o pai tinha sido marinheiro na Marinha Bri
tânica por algum tempo. Alguma coisa não deu certo, e ele fugiu novamente,
escolhendo a África como um bom lugar para esconder-se. Tornou-se sócio
de um português, traficante de escravos.
A esta altura ele estava longe, bem longe de Deus. A péssima vida que
levava colocou-o em algumas situações horríveis. Chegou até ao ponto de ser
obrigado pela esposa do traficante a comer no chão. Foi até mesmo forçado
a ser um escravo, mas fugiu para o litoral, onde deu sinais a um navio que
passava, e que o acolheu por compaixão. Quando estava a bordo, o capitão
descobriu que ele entendia de navegação e puseram-no como imediato do
navio.
Para mostrar como Newton era irresponsável, devo acrescentar que ele
roubou o estoque de rum, distribuiu-o a todos os companheiros e, na bebe
deira, caiu no mar. Um marinheiro o apanhou com o arpão e o puxou para
o convés. Daquela arpoada ele ficou com uma cicatriz do tamanho de um
punho, mas ainda não sentiu Deus operando em sua vida. Porém, naquela
mesma viagem, quando se aproximavam da costa da Escócia, uma tempesta
de violenta apanhou o navio. Ele teve que manejar as bombas junto com os
marinheiros, para evitar o naufrágio. Trabalhando nas bombas, foi domi
nado pelo medo da morte. Foi nessa crise que começou a recordar os versí
culos que havia memorizado antes dos seis anos de idade. Ao repetir essas
Escrituras, Deus lhe falou ao coração, e ele se converteu de forma mara
vilhosa. Não só se converteu, como também tornou-se um pregador pode
roso e compositor de hinos. Foi ele quem escreveu o hino tão apreciado,
“Amazing Grace” (“Maravilhosa Graça”). Quando o fez, ele já sabia que, du
rante toda sua vida, e através de todas as circunstâncias pelas quais tinha
passado, Deus o tivera em Sua mão. É maravilhoso o Senhor converter um
homem como Newton. E com a mesma alegria Deus vai salvá-lo se você
assim lhe pedir.
Oração: Pai celestial, tu conheces as necessidades de nossos corações.
São profundas. Contudo, sabemos que és Deus maravilhoso, e que não nos
deixará para sempre em nosso caminho de pecado. Agradecemos-Te pela vi
da de John Newton. Muito obrigado pela maneira como o salvaste e o inspi-
raste a escrever hinos maravilhosos. Louvamos o Teu nome pela segurança
que podemos ter, quando tantos neste mundo estão cheios de dúvidas, e não
conseguem encontrar algo certo para esta vida e muito menos para o futuro.
Por causa dos sinais de Tua graça operante, podemos saber que nossos no
mes estão escritos no Livro da Vida do Cordeiro. Pai, que todos os Teus
possam ter essa segurança de conhecer-Te realmente. E se têm dúvidas, se
lhes falta segurança, que possam chegar-se a Cristo humildemente, receben-
do-0 como Senhor e Salvador. Muito obrigado, Senhor. Em nome de
Jesus. Amém.
Filipenses 1:9-11
9 - E também faço esta oração: que o vosso amor aumente
mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, 10 —pa
ra aprovardes as cousas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis
para o dia de Cristo, 11 — cheios do fruto de justiça, o qual è
mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.
Oração: Senhor, chegamos novamente à Tua presença, recordando a
promessa que deste aos discípulos, de que o Espírito Santo os conduziria a
toda a verdade. Pai eterno, as palavras que queremos ler na Tua presença
agora são “em tudo verdade”. Rogamos-Te que nos ensines as verdades so
bre a oração que ainda não descobrimos, ou que talvez não estejamos colo
cando em prática, pois é em nome de Jesus que nos aproximamos de Ti.
Amém.
Introdução
Poucas pessoas tiveram o privilégio que eu tive, de crescer num lar cuja
primeira lembrança é a de mamãe ajoelhada junto à sua cama. Nunca vou es
quecer o seu vulto ajoelhado, embora eu não tivesse mais de quatro anos de
idade quando a cena me impressionou pela primeira vez. Durante várias
ocasiões, em silêncio, intercedendo por nós, os filhos, e pela igreja da Bolí
via, minha mãe criava em volta de si uma atmosfera sagrada. Não havia a luz
de uma auréola, nenhuma halo, mas nós crianças sempre passávamos quie-
tinhos quando mamãe orava. Foi uma experiência que se repetiu todos os
dias, um privilégio que teve realmente um papel importante na formação de
meus primeiros ideais com respeito à oração. Embora ela intercedesse muito
silenciosamente, sabíamos o que ela estava pedindo. Nós crianças estávamos
no topo da lista. Sabíamos quais os principais assuntos das suas orações por
que a nossa família sempre se reunia para orar antes do café da manhã. As
orações de meus pais eram muito longas para um garotinho: eu já acordava
com fome, e o culto doméstico atrasava o café. Dr. Donald Barnhouse (pas
tor da Filadélfia, mundialmente conhecido, já falecido) costumava dizer:
“Sem Bíblia não há café!” Nossos pais se mantiveram firmes naquele moto,
que incluía também a oração.
Paulo também aprovava essa espécie de piedade cristã. Orava incessan
temente. Exortou os leitores de sua carta em Tessalônica a que orassem sem
cessar (1 Ts 5:17). Mas Paulo não estava tão sintonizado com o céu a ponto
de supor que os cristãos que liam suas epístolas soubessem automaticamente
o que pedir a Deus. Embora já tivesse escrito que estava “sempre fazendo
súplicas por eles”... “em todas as minhas orações” (v. 4), o apóstolo ocupa
algumas preciosas linhas desta “carta de agradecimento” para contar aos fili
penses como é que orava, a fim de ensinar-lhes (e a nós) como se deve orar.
E não se esquece de encorajá-los, dando-lhes uma lista dos resultados da
oração fervorosa que pede a Deus um abundante e crescente amor.
O Professor Stewart, da Universidade de Edinburgo, na Escócia, agora
aposentado, dizia sempre que as orações das cartas de Paulo, particularmen
te as de Filipenses, Efésios e Colossenses, foram o ponto alto de sua corres
pondência. Portanto, veja hoje, que petição os filipenses deviam fazer. De
dique alguns instantes para oferecer esta oração com toda a sinceridade.
Você vai descobrir um novo nível de benção impregnando sua vida, visto
que o próprio Senhor Jesus garante que se você pedir alguma coisa em Seu
nome, segundo a Sua vontade, Ele o ouvirá (Jo 14:13,14; 1 Jo 5:14).
Observe que neste parágrafo a oração de Paulo é a continuação de sua
ação de graças. Assim, ele aponta um fato importante sobre a oração, sem
ensiná-lo declaradamente.
A primeira verdade encontra-se no v.6: “Estou plenamente certo de
que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de
Cristo Jesus” . Desta certeza apostólica seria possível concluir que você não
precisa fazer nada além de render-se passivamente, porque Deus faz toda a
parte ativa. Você poderia relaxar, dormir, descansar, em vez de orar. E nem
precisaria voltar à igreja à noite. Você poderia ir para o Guarujá ou Copaca
bana, apreciar a praia e as ondas, porque Deus que começou a boa obra em
você, prometeu completá-la. Não haveria necessidade de você se preocupar
com a comunhão e o culto da igreja, nem com a leitura da Bíblia e a oração
pelas crianças, vizinhos ou mundo, nem tampouco com o seu testemunho.
Muito facilmente e com grande prazer poderíamos concluir: “já que Deus
promete que vai estar operando, e Ele é mais poderoso do que quaisquer de
nossas orações fracas e cheias de dúvidas; é só deixar que ele faça tudo!”
Isso, porém, é bem diferente daquilo que Paulo pensou ou ensinou. À me
dida que você lê a oração dele, percebe claramente que o próprio Paulo es
tá envolvido e profundamente empenhado numa cooperação espiritual com
Deus. De fato, Paulo afirma que Deus nos manda participar ativamente em
sua obra: “Desenvolvam a sua salvação com temor e tremor” (2:12).
A oração pode ser considerada um trabalho, até mesmo uma luta
(Cl 1:29: 2:1). Deus está fazendo a Sua obra, mas a oração envolve aquele
que intercede na operação de Deus (cf. 1 Co 3:9). Mas, e se eu não pedir a
Deus que intervenha? Ele vai parar de operar? Paulo não responde tão clara
mente a esta questão complexa como Tiago o faz (Tg 4:2). Visto que Deus
não ordena, clara e insistentemente, que oremos, não é necessário fazer es
peculações sobre a razão pela qual ele exige que Seus filhos orem. Isto expli
ca porque Paulo podia exigir de si o máximo esforço em prosseguir para o alvo
e prêmio de sua soberana vocação, ou alto chamado, por um lado, ao mesmo
tempo em que mostra tolerância para com aqueles que têm atitude diferen
te, preferindo esperar que Deus lhe revele quais são as suas exigências
(3:13-15).
Vejamos agora o incentivo que levava Paulo a interceder pelos fili
penses, no v.8. Ele ansiava de tal maneira (epipothõ) ver a igreja e confrater
nizar com eles, que descreve seu afeto como localizado nos “intestinos”
(splagchnoi) de Cristo Jesus. Foi a maneira grega primitiva de expressar
como estava emocionado no seu desejo de visitar os filipenses, seus amados
filhos na fé. De fato, um pastor que ama profundamente cada membro da
sua igreja, achará que orar por eles não é tarefa difícil, pelo contrário, é um
prazer.
O Fruto da Justiça
Finalmente, vejamos o versículo 11. Está aqui o tema desta mensa
gem, e a sua conclusão. “Cheios do fruto de justiça, que vem através de
Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus”. Estamos acostumados com o
fruto (singular, não plural) do Espírito, que é o amor. O amor possui todos
os atributos de “alegria, paz, paciência, bondade, misericórdia, fidelidade,
mansidão, domínio próprio” (G1 5:22, 23), como se fossem expressões va
riadas desse amor. O fruto de justiça certamente será o mesmo. Assim como
o fruto de Gálatas 5 é produzido pelo Espírito que habita no interior, o fru
to da justiça é produzido pela vida de Jesus atuante em nós. A oração que
pede muito àmor, firmado em conhecimento e percepção, irá produzir a
capacidade de se distinguir o que há de melhor, a fim de sermos puros e in
culpáveis no Dia do Juízo Final. Mas esta vida, que se torna cheia do fruto
da justiça, vem por Cristo Jesus.
Lourenço da Arábia certa vez levou alguns de seus amigos árabes a Pa
ris. Queria mostrar-lhes a cidade e impressioná-los. Foi há tempos, antes que
os xeques árabes possuíssem rios de dinheiro pelas vendas de petróleo. Não
conheciam bem as atrações e comodidades modernas, por isso ele queria
dar-lhes este prazer. A Torre Eifell, os lindos edifícios e pontes, o Arco do
Triunfo, nada disso os deixou atônitos. Muitas vezes, desejamos ver os turis
tas interessados, mas nossos visitantes só querem voltar para o hotel, e era
isso o que acontecia com aqueles amigos. Isso porque o que os deixou real
mente admirados foi a água corrente. Para ter água éra só abrir a torneira.
Ali no seu hotel é que estava a maior maravilha do mundo. Os árabes
abriam e fechavam a torneira extasiados diante do milagre da água a jorrar
da parede. Um dia antes de voltarem para a Arábia, Lourenço ouviu uns sons
estranhos no banheiro. Investigando, encontrou os amigos ali com uma cha
ve inglesa, tentando desenroscar aquela torneira. Quando indagou o que fa
ziam, responderam: “Já vimos muita coisa maravilhosa em Paris, mas nada
que se compare com essa torneira. É só abrir, sai água. Queríamos levar essa
invenção tão importante para a Arábia”. Lourenço teve de convencê-los de
uma verdade muito importante. Levar uma torneira para a Arábia e en
terrá-la em uma parede não produziria água nenhuma. Não percebiam que
havia um cano e todo um sistema hidráulico para suprir a água desejada. Se
os seus amigos têm o amor que transborda em fruto de justiça, baseado em
sua ligação vital com Jesus Cristo, e as outras realidades alistadas por Paulo
em sua oração, isso deve animá-lo a procurar que Deus faça o mesmo por
você. Mas se você tenta produzir o fruto da justiça por seus próprios esfor
ços, terá tão pouco êxito quanto os amigos de Lourenço ao tentar produzir
a água, sem cano e sem fonte.
Conclusão
Paulo quer fazer-nos entender que, no final, Deus será louvado e glori-
ficado pela resposta a essa oração. Seja qual for o resultado produzido por
Cristo em nós em termos de vida justa, inevitavelmente, Deus será honrado e
exaltado. Bondade produzida humanamente glorifica o homem (cf. Jo 5:44).,
mas logo que descobrimos que dentro de nós “nenhum bem habita”, somos
forçados a dirigir-nos ao nosso Senhor em busca dessa justiça miraculosa
que reflete o louvor e glória de Deus (v. 1 lb). Duvido que muitas orações
tenham esta meta. É freqüente orarmos implorando alívio de aflições e do
res, ou o suprimento daquilo que supomos necessitar e desejar. Quando so
mos conscientizados para orar como Paulo orou, podemos aguardar a conse
qüência, maravilhosamente apresentada nesta curta passagem de Filipenses,
além de experimentar a verdade de que Deus tem prazer em dar-nos as coisas
que desejamos, mas não pedimos (Mt 6:33),
Oração: Pai, Tu conheces a profundidade de nossas necessidades
pessoais. Sabes como estamos ressequidos, estagnados, incapazes de produzir
qualquer porção de teu amor agapê; e sabes ainda, como é impossível para
nós ultrapassarmos a barreira do som de nossos conhecimentos terreais. Po
de ser que tenhamos dominado um pouco da sabedoria deste mundo, mas
ela é tão desligada da ciência e percepção espirituais que possibilitam o amor
abundante! Ô Pai, Tu nos amas tanto, e nós Te rogamos que, por Jesus
Cristo, Tu nos faças todos aprovados por Ti, dando-nos aquela capacidade
de selecionar as prioridades verdadeiras. E através de tudo isso, pedimos, por
Jesus Cristo, que nosso Senhor seja exaltado e engrandecido. Amém.
A FILOSOFIA DE VIDA DO CRISTÃO
Filipenses 1:12-26
12 - Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas
que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso
do evangelho; 13 — de maneira que as minhas cadeias, em Cris
to, se tomaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de
todos os demais; 14 - e a maioria dos irmãos, estimulados no
Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassom-
bro a palavra de Deus. 15 —Alguns efetivamente proclamam a
Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa von
tade; 16 - estes, por amor, sabendo que estou incumbido da
defesa do evangelho; 17 - aqueles, contudo, pregam a Cristo,
por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às
minhas cadeias. 18 - Todavia, que importa? Uma vez que Cris
to, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto,
quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre
me regozijarei. 19 - Porque estou certo de que isto mesmo,
pela vossa súplica e pela provisão do Espirito de Jesus Cristo,
me redundará em libertação, 20 - segundo a minha ardente
expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado;
antes, com tôda a ousadia, como sempre, também agora, será
Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela
morte. 21 - Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer
é lucro. 22 - Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o
meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. 23 - Ora, de
um e outro lado estou constrangido, tendo o desejo de par
tir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.
24 - Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na
carne. 25 — E, convencido disto, estou certo de que ficarei, e
permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da
fé. 26 - A fim de que aumente, quanto a mim, o motivo de
vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença de novo
convosco.
Introdução
Uma biografia, para valer a pena, tem de contar mais do que os sim
ples fatos da vida de uma pessoa. Lendo Filipenses, capítulo 1, versos 12a
26, é preciso compreender que há mais do que meros fatos naquilo que o
apóstolo conta. Nestes versículos vemos, primeiramente, atitudes, um modo
de ver, uma maneira de avaliar as circunstâncias e as pessoas.
Confiamos no Pai, autor dessas palavras preciosas, para que ele faça
brilhar em nossos corações a glória de uma vida que lhe foi totalmente dedi
cada, a fim de podermos imitar este seu servo, Paulo, compreendendo como
tornar nossas as suas atitudes e o seu modo de pensar. Que Deus desafie a
nossa vontade enquanto estudamos a Palavra e abrimos os corações ao mi
nistério do Espírito.
Os versículos 1 a 11 que já examinamos, revelam como Paulo agrade
cia e orava a Deus pelos cristãos de Filipos. Os versículos 12-26, no entanto,
são seu testemunho pessoal. Aqui, vemos Paulo erguendo os olhos para o
mundo ao redor, para seu passado, seu presente e seu futuro. Ele os examina
de um certo ponto de vista.
A avaliação correta da vida e até mesmo a pessoa que somos, não de
pende do que nos aconteceu durante a vida, nem de onde temos morado.
Depende basicamente da atitude com que encaramos a nossa vida - nosso
passado, presente e futuro. Creio que foi Elton Trueblood quem disse: “Es
tou plenamente convencido de que a humanidade não mudou nem um til. O
que tem mudado, naturalmente, são as circunstâncias que lhe cercam a vida.
Mas o homem é o mesmo. Reage de modo igual; pensa de modo igual; dadas
as mesmas oportunidades, deseja de modo igual; há de cobiçar as mesmas
coisas, como sempre fez”.
Acredito que seja uma observação perspicaz e verdadeira. Paulo não só
nos conta aqui quais eram as circunstâncias em que se achava, mas também
nos mostra como uma pessoa age e reage, uma vez que colocou Cristo no
centro absoluto de sua vida. E. Stanley Jones denominou-o de “hipótese
central de sua vida”. Se você faz com que Cristo seja o eixo giratório, o vér
tice de tudo — a pessoa para quem todos os aspectos de sua vida são volta
dos, o alvo a quem todos os minutos de sua vida consciente apontam, então
as conseqüências, inevitavelmente, aparecerão em sua vida e atitudes, como
aconteceu com Paulo. Comecemos por um exame das perspectivas múlti
plas com que Paulo enxergava suas circunstâncias e adversários.
Conclusão
Nesse pequeno resumo autobiográfico, temos o retrato de um homem
que tem um ponto de vista cristão integrado sobre a vida e a morte. Já foi
dito, e é verdade, que quem não tem o ponto de vista certo sobre a morte,
não terá também o conceito correto sobre a vida.
E. Stanley Jones nos deixou um exemplo de uma atitude correta para
com a vida e a morte, quando viajava num avião que sobrevoava o aeroporto
de Saint Louis nos Estados Unidos. 0 aeroporto estava fechado, e o avião
dava voltas por duas horas. Temos aqui o que o veterano missionário escre
veu quando pensou que estava vivendo os últimos instantes de sua vida: “Es
tou em paz espiritualmente, sem tensões, porque creio que a hipótese cen
tral de minha vida está correta. A vida é só uma longa verificação desta hi
pótese central. Esse fato me dá um senso de estabilidade. Estou aqui em ci
ma, neste avião. Há duas horas o avião dá voltas acima destas nuvens. Se não
aterrisarmos com segurança, gostaria de deixar meu último testamento para
meus amigos e companheiros seguidores de Cristo. Ei-lo: Existe paz, a per
feita paz, independente de minha fidelidade ao Soberano. Não tenho pesares
ou remorsos sobre o curso geral de minha vida. A vida com Cristo é a manei
ra de viver. Nesta hora, há segurança, há Deus por fundamento, debaixo de
todas as incertezas da existência humana. Portanto, descanso em Deus. Que
ele dê o melhor para todos vocês. Vivendo ou morrendo, eu sou dele, só dele.
Glória. Assinado: E. Stanley Jones” .
Antes de orarmos, gostaria que você examinasse a hipótese central de
sua vida. Qual é mesmo o centro de sua vida? É Cristo? São os bens mate
riais? É alguma posição com que você tem sonhado, talvez a de chefe de
alguma companhia? São notas altas que você está ansioso por alcançar? Meu
caro amigo e irmão em Cristo, só há uma hipótese central capaz de se provar
verdadeira ao longo de toda sua vida e que o guie com segurança até o fim: é
Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Se você ainda não o conhece, es
pero que sua oração agora seja: “Senhor, salva-me. Dou-lhe minha vida” .
Oração: Pai celestial, rogamos-Te que cada pessoa que lê estas pala
vras possa deixar a seus filhos, esposo ou esposa, o mesmo testamento que
E. Stanley Jones deixou quando viajava naquele avião: “Glória ”. Que cada
pessoa possa dizer como Paulo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lu
cro realmente”.
Pai, ao examinarmos nossas vidas e as circunstâncias que nos afetam,
ajuda-nos a avaliá-las a partir do mesmo ponto de vista que o teu apóstolo
Paulo. Sabemos que isso só será possível para quem conhece a Jesus Cristo
pessoalmente e o recebe no coração, entronizando-o no centro de sua vida.
Que pela tua graça isto seja verdade para cada pessoa a quem nos dirigirmos.
Em nome de Cristo Jesus, Amém.
OS CIDADÃOS DO CÉU EM COMUNIDADE
Filipenses 1:27-2:4
27 — Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de
Cristo, para que, ou indo ver-vos, ou estando ausente, ouça, no
tocante a vós outros que estais firmes em um só espirito, como
uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica; 28 - e que em
nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles
prova evidente de perdição, é, para vós outros, de salvação, e
isto da parte de Deus. 29 - Porque vos fo i concedida a graça
de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele, 30 —
pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e ainda agora
ouvis que é o meu.
Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação
de amor, alguma comunhão do Espirito, se há entranhados
afetos e misericórdias, 2 - completai a minha alegria de modo
que penseis a mesma cousa, tenhais o mesmo amor, sejais uni
dos de alma, tendo o mesmo sentimento. 3 - Nada façais por
partidarismo, ou vangloria, mas por humildade, considerando
cada um os outros superiores a si mesmo. 4 - Não tenha cada
um em vista o que é propriamente seu, senão também cada
qual o que é dos outros.
Introdução
Até este ponto (1:27) em Filipenses, Paulo não tinha feito nenhuma
exortação (embora seja fácil notar que há nos versículos anteriores numero
sas exortações implícitas). Mas neste ponto, no v.27, Paulo parte para o cor
po da carta: começa a divulgar o verdadeiro motivo de a estar escrevendo. O
novo parágrafo começa com o imperativo, “Vivei”, como se Paulo quisesse
pedir a maior atenção possível para o que está para dizer. “Acima de tudo”
são palavras que também chamam atenção para uma prioridade. Nos pará
grafos anteriores ele falava sobre si mesmo: Filipenses, em primeiro lugar, é
uma carta autobiográfica. Mas agora ele deseja que seus amados leitores
dêem atenção especial ao que vai dizer. E quanto a nós, será que estamos
prontos para nos concentrarmos e esperarmos no Senhor, a fim de receber
dele uma mensagem particular através desta porção importante de Sua
Palavra?
Não Intimidados
Por que o povo de Deus tem causado tão pouco impacto em nosso
mundo? Um motivo importante é sua desunião e individualismo. Que esta
primeira exortação de Paulo aos filipenses nos ensine isso, convencendo os
corações para pormos em prática essa decisão de nos mantermos unidos no
evangelho.
Em segundo lugar, negativamente, Paulo aponta o perigo que os cris
tãos enfrentam, no versículo 28. Os cristãos perseguidos correm o risco de se
assustarem oü saírem em debanda quando o inimigo lhes apresenta qualquer
ameaça. Essa expressão faz-nos imaginar um quadro cheio de cavalos excitá
veis, que facilmente entram em pânico. Há muitos anos atrás, antes dos dias
em que as rodas facilitavam a locomoção, como fazem hoje, meu pai era
missionário na Bolívia e era dono de um cavalo chamado Príncipe, que o le
vava às vilas remotas nas altas montanhas dos Andes. Aquele cavalo era um
perigo para qualquer pessoa, exceto meu pai. Só ele podia aproximar-se do
Príncipe, pegá-lo pela rédea e montá-lo calmamente o dia todo. Conosco, o
Príncipe pulava para frente ou para trás e dava coices, rápido como relâmpa
go . Não que o Príncipe tivesse raiva de nós, só tinha medo excessivo. O en
corajamento que Paulo dá é para que não tenhamos medo de coisa alguma.
Qualquer que seja a ameaça com que o inimigo consiga assaltar, não tema,
Cristo é mais forte. Nunca se intimide diante do adversário, pois Cristo
ganhará a batalha por você.
Os filipenses deviam também lembrar-se que a oposição ao evangelho,
a oposição perseguidora, evidencia claramente o destino final daqueles que
mostraram os crentes (v.28). Os que tanto desejam fazer sofrer os cristãos
são assinalados pela marca da destruição, enquanto que os crentes, quando
perseguidos, revelam que são recipientes da salvação, e que isso vem de
Deus. Sofrer perseguição por causa de Jesus Cristo, sem voltar-lhe as costas,
confirma sua fé nele e é um sinal seguro de que você está no seu caminho
para o céu. Normalmente os cristãos que são perseguidos têm certeza de sua
salvação.
Paulo chega ao ponto de declarar que sofrer por Cristo se constitui
num privilégio (v.29). Aqui a palavra chave é graça, significando o favor de
Deus. Você sabe que se já sofreu oposição por causa de sua entrega a Jesus
Cristo, então Deus já derramou a Sua graça sobre você? Fazendo compa
ração com a moral humana, temos as palavras que Ernest Emingway escre
veu: “Quanto à moral, eu sei que a única coisa que é moral é aquela que me
permite sentir bem depois que a faço” . Todos concordamos que isso nada
tem a ver com o Cristianismo. Ao contrário, se você defende a verdade e o
direito por causa de sua fé em Jesus Cristo, pela graça de Deus é que você
tem o privilégio de fazê-lo. Deus não lhe dá apenas a graça de receber a salva
ção, dá-lhe também a graça de sofrer por ele. E mais tarde, no capítulo 3,
Paulo encontra no sofrimento a graça que traz benefício a toda nossa consti
tuição espiritual e moral (3:10). Então, nós que temos sofrido muito pouco
pela causa de Cristo, caminhando pela estrada mais fácil possível, deixamos
de experimentar algo de grande importância no Cristianismo. E Paulo diz
que é pela graça de Deus que lhe é permitido sofrer por amor a Cristo.
Portanto, foi assim que Paulo descreveu a maneira pela qual devem vi
ver os cidadãos celestes. Devem ser unidos. Devem ter seus pés bem firmados
nesta unidade. Devem ser de um só pensamento enquanto lutam juntos con
tra seus adversários. E precisam ser conscientes de que Deus tem sido gra
cioso para com eles de duas maneiras: uma, em dar-lhes a promessa do céu;
a outra, em dar-lhes adversários para que batalhem contra eles. Você conse
gue imaginar estar treinando futebol ou basquete com um ótimo treinador,
mas sem nunca ter adversários para jogar uma partida a sério? Não é o que
deve acontecer com o Cristianismo. Para Paulo, pelo menos os filipenses são
cidadãos celestes que formam um time para lutar pela vitória por Jesus Cris
to. E toda a glória lhe é devida.
Conclusão
Eis a palavra do Senhor para nós hoje. E agora, como vamos pô-la em
prática? O que vamos resolver? Em Cristo e sua Salvação ele nos ofereceu a
perfeita unidade do céu. Se um de nós receber o chamado para ir ao lar da
Glória, há de experimentar a mais perfeita comunhão pessoal, na mais exce
lente comunidade possível. Será muito melhor do que qualquer um de nós
pode imaginar. Como não haverá pecado nem egoísmo, não haverá compe
tição, ou rivalidades políticas. Não haverá desacordo, todos terão a mesma
mente e o mesmo amor. Deus nos diz nesta passagem: “Olha, quero que vi
vam essa vida celeste aqui na terra o tempo todo. Vivam-na em casa, com a
esposa, e ela com o cabeça da casa. Dêem sempre qualquer vantagem à outra
pessoa. Estejam realmente preocupados com a outra pessoa em primeiro lu
gar. Em vez de ser o número um, dê este lugar ao outro.”
Que prazer há em encontrar a palavra exata na ocasião exata! E esta
ocasião exata, veja bem, é aquela em que, habitualmente, buscamos a vanta
gem de nosso irmão ou irmã mesmo quando significa nossa própria desvanta
gem. O que importa? Por fim, a vantagem eterna é a Glória de Deus e sua
missão de ser embaixador da vida celeste aqui na terra. Você pode discordar
desse tipo de vida abnegada. Os filósofos e pensadores gregos discordaram.
Você só vai concordar com esta vida quando conhecer Jesus Cristo interna
mente . Se você o conhece pessoalmente, se Ele entrou em seu coração e no
seu viver, então creio que concorda comigo em que essas palavras são mesmo
celestiais, e vale a pena viver e lutar para a glória de Deus.
Oração: 0 Deus nosso Pai, pensar em todos nós como membros de
Tua família é realmente uma alegria e um privilégio, pois somos todos mem
bros de Tm família e todos nós recebemos o direito de viver em Teu palá
cio. Mas Senhor, os filhos muitas vezes discutem e entram em desacordo.
Tantas vezes deixamos de nos unir contra o inimigo que gostaria de nos
arrebatar e trazer angústia, tristeza e lágrimas. Pai, mostra-nos como viver
pelo Espirito, no encorajamento de Cristo, pelo amor que nos tens, ó Deus,
pelo convite do Espírito Santo, pelo afeto mútuo que nos une um ao ou
tro, e por sentirmos a compaixão e a misericórdia. Portanto, Senhor, aju
da-nos a saber realmente como humilhar-nos e como viver nossa cidadania
celeste dentro de um mundo bastante difícil. Obrigado, Senhor, pelo privilé
gio de podermos ser uma parte de um time, como é a Tua igreja. Obrigado
pela unidade que nos deste. Oh, que possas nos dar muito mais. Dá-nos um
amor mais profundo entre nós. Ajuda-nos a lutar juntos pelo evangelho, para
que possamos estender-nos e ganhar outros ao nosso Salvador e Senhor
Jesus Cristo.
0 CENTRO DA HISTÓRIA
Filipenses 2:5-11
5 - Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, 6 - pois ele, subsistindo em forma de Deus não jul
gou como usurpação o ser igual a Deus; 7 - antes a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tomando-se em semelhan
ça de homens; e, reconhecido em figura humana, 8 —a si mes
mo se humilhou, tomando-se obediente até à morte, e morte
de cruz. 9 - Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e
lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 - para que
ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e de
baixo da terra, 11 - e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai.
Os primeiros quatro versículos do segundo capítulo de Filipenses fo
ram escritos para incentivar a igreja a viver sua fé cristã sob o impacto to
tal do ministério da Trindade: o encorajamento de Cristo, a participação do
Espírito, e o amor de Deus. Paulo conclui esse trecho, dedicado à unidade
da igreja filipense, apresentando o exemplo comovente de Jesus nosso
Senhor, durante seu ministério, seguido de Sua gloriosa exaltação.
Oração: Pai, desejamos elevar agora, com as hastes angelicais, nossa pa
lavra de louvor a um Deus tão poderoso que nos deu Seu Filho Unigênito,
para que Ele morresse em agonia humilhante na cruz. E queremos confessar
Seu nome, o nome que está acima de todos os nomes, o nome de Kúrios
- Senhor. Dá-nos a graça de vivermos de modo coerente com essa confissão
submetendo-nos ao Seu Senhorio, para a glória de Deus, nosso Pai, em nossa
cidade, em nossa casa, em nossa vida conjugal, em nossos relacionamentos
com colegas e com os filhos. De todas as maneiras, em todo lugar, que Jesus
Cristo seja Senhor. Rogamos agora Tua benção sobre a Tua Palavra, enquan
to a estudamos e nela meditamos. Em nome de Jesus. Amém.
Introdução
Já faz alguns séculos que os pensadores vêm procurando a chave para a
explicação de toda a história. Para alguns homens como Camus ou Jean Paul
Sartre, é óbvio que a história não tem sentido nenhum. As peças teatrais de
Samuel Beckett expressam esse ponto de vista —que tudo que ocorre, acon
tece inteiramente por acaso. E visto que não há sentido na história, não há
nenhuma trama para o enredo. É como a trama de um dicionário. Já ouviu
contar da pessoa que parou de ler o dicionário, porque não dava para pegar
o fio da estória? Era apenas uma porção de palavras, definições, idéias des
conexas, isoladas. Jean Paul Sartre e os existencialistas modernos que o
acompanham, negam o controle soberano de Deus sobre a história e mantêm
uma visão semelhante dos eventos históricos. Não se descobre neles nenhum
propósito interno relacionador nem um plano mestre, nem sequer algo com
parável à ordem alfabética que se impõe ao dicionário. Essa visão desespera-
dora da história contrasta-se com o ponto de vista dos gregos da antigüidade,
tais como Heródoto e outros historiadores que viveram antes de Cristo.
Observavam o cenário que passava, os eventos que pareciam significativos, e
imaginavam ver um traçado, uma configuração. Não tinham a capacidade
de explicar por que aquela configuração se faz presente na história, mas
viam que misteriosamente ela correlaciona e integra certos eventos em um
todo. Para os gregos, a história era como uma roda que gira. E aquelas na
ções afortunadas que estivessem do lado de cima por um tempo, veriam suas
posições invertidas no futuro. A roda da sorte inevitavelmente retornaria à
posição inicial. Seriam assim os choques da história. Por exemplo, o grande im
pério persa oprimiu a Grécia no século 5 A.C., mas foi subjugado depois por
Alexandre, o Grande, que atravessou o Helesponto para dar à roda da histó
ria outro impulso de 180°, colocando a Grécia em cima. Esperava-se que
mais tarde a Grécia experimentaria decadência, e o domínio passaria para
outra potência, como Roma. Os historiadores e os filósofos da história têm
tentado explicar o processo histórico mediante a teoria dos giros da roda da
história, em ciclos.
Nem os escritores bíblicos, nem os cristãos acreditam nisso. Não con
cordam com os filósofos existencialistas modernos angustiados que crêem
que não haja significação na história, nem pensam como os filósofos gregos
que crêem que a história seja circular. Antes, a história tem para eles um
significado, por causa da revelação e da profecia de Deus, um sentido que é
como uma linha que se estende desde o começo (criação do homem) até a
conclusão predita no livro do Apocalipse. A história pode ser comparada a
uma viagem que se faz, ou um conto que se conta. Uma estória tem um co
meço: “era uma vez”, e tem um final: “viveram felizes para sempre”. Mas a
trama, ou sentido, deve ser encontrado em algum lugar no enredo. Da mes
ma maneira, o sentido de uma viagem se encontra na sua finalidade e desti
no. Só viagens de férias sem destino, podem se tornar sem sentido.
O Sentido Central da História
A passagem que acabamos de ler, na opinião de alguns estudiosos, foi
originalmente um hino cristão escrito na língua aramaica (a língua materna
de Jesus). Quando traduzida de volta para o aramaico, parece poesia. É fá
cil de separá-la em estrofes.
Essa pequena divisão de Filipenses capítulo dois, versículos seis a on
ze, apresenta-nos o plot, a trama central da história. É o ponto explanató-
rio do drama da história. Podemos observar que a chava da própria trama é a
palavra “cruz”. Assim como a cruz tem bem no seu centro, um ponto onde
se cruzam as traves transversal e vertical — assim também no centro do dra
ma da história, exatamente no centro, —está a cruz de Jesus Cristo.
Do alto da cruz, no Gólgota, Jesus proclamou: “Estáconsumado,” está
acabado (Jo 19:30). Foi atingido o clímax, e daquele ponto em diante, todos
os eventos iriam contribuir para o desfecho positivo que Deus propôs desde o
princípio para a história que está se aproximando do fim. O ato final está sendo
encerrado. Espera-se a conclusão com uma explosão de luz e brilho que há de
irromper sobre um mundo descrente e desesperador. ■
Ora, o mistério da história humana, da qual todos participamos, expli
ca-se por dois fatores opostos, dos quais estamos todos cientes. Cada um de
nós participa destes dois fatores opostos. Primeiro, o fator chave do qual todos
estamos tão apercebidos: o egoísmo. Em cem por cento dos divórcios, se fôsse
mos ouvir a narração da causa por que Joãozinho e Maria não podem mais viver
juntos, descobriríamos que tanto um como o outro não passam de criaturas
egoístas. Se você quiser entender porque o mundo tem sido arruinado por
guerra, assolação, banditismo, pirataria, roubo, ferimento, luta, injustiça, críti
ca e ciúme, vai descobrir que a causa fundamental se explica por esse único fa
tor, pois a característica do homem decaído é o egocentrismo. Os historiadores
escrevem sobre as guerras da história, porém geralmente não contam por que
Alexandre, o Grande queria conquistar um império, a ponto de mobilizar seu
exército e treiná-lo até que fosse o melhor do mundo. Não é comum os escrito
res explicarem porque suas tropas se dispuseram a arriscar a vida, suportando
dificuldades para conquistar a Pérsia; ou porque os romanos fizeram tantas
guerras civis, lutando com denodo e sacrifícios incríveis, até finalmente domi
narem grande parte do mundo civilizado da época. Toda a bacia do Mediterrâ
neo tornou-se um mar romano. Por que será, também, que Hitler uniu a Ale
manha sob ditadura? Havemos de descobrir que a resposta está nestes elemen
tos universais, o egoísmo e o orgulho.
Mas existe no mundo um fator oposto, que deseja o amor, a paz, a ale
gria, a generosidade, a bondade, e todo o fruto do Espírito (Gálatas 5:22,23).
As pessoas que não têm nenhum compromisso com o Cristianismo também es
tão envolvidos no sustento de orfanatos, em contribuição para asilos e mil ou
tras causas filantrópicas dignas.
Recebi uma carta, há pouco tempo, escrita por Dr. J. AndrewKirk, em
Londres. Ele analisava a teologia e a economia, uma tarefa considerável. Dizia:
“Não gosto da economia capitalista, principalmente do tipo clássico. Por que?
Por ser egoísta. Mas não gosto de Marxista, porque também é egoísta”. Onde es
tará o sistema econômico que realmente há de controlar o egoísmo e desejar a
prosperidade de todo empreendimento benéfico com o homem vivendo em
paz e com a generosidade humana fluindo como o Rio Amazonas, inundando
as terras? A única maneira para que isto aconteça é o recebimento, pelo ho
mem, de mente nova ou atitude nova. Há várias traduções que tomam esta pa
lavra “sentimento” (Gr. phronêma) versículo 5, como “obter uma nova atitu
de.” A falta dessa nova atitude é que nos faz orgulhosos e egoístas.
É uma disposição mental, um egocentrismo, onde tudo se interpreta,
se entende e se explica em termos de “eu e meu”. F. B. Meyer chamou-o
de “doença” de proporções epidêmicas, por ser tão predominante, não
somente fora, mas também dentro da igreja. Deu a essa doença
o nome de “Me-ismo” . É claro que o problema não é recente. Contaminou
os filipenses também. Duvido que qualquer pesquisa médica tenha encontra
do, ou encontrará uma cura para este mal. Você, com toda a experiência de
vida como esposo ou esposa, ou como educador de seus filhos, já encontrou
um antídoto para o “me-ismo” ou uma forma de obter essa disposição men
tal, a mente do próprio Jesus Cristo? A verdade é que todos reconhecemos
que esse é o tipo de mènte que precisamos, porém poucos entre nós, ou mes
mo ninguém, conseguimos adquirir. “Tenham em vocês (ou entre vocês) a
atitude de Cristo Jesus.” (O grego não faz distinção entre as palavras “em” e
“entre”). Esta disposição de mente controla seu modo de tratar e de pensar
sobre a outra pessoa. Por isso a Escritura ordena que adquiramos o ponto de
vista de Jesus.
Para que aprendamos o sentido desta expressão, Paulo prossegue nos
dizendo o que é essa atitude mental, e ilustra como isso produz efeito nas
ações. Se adquirirmos a atitude de Cristo, ou a Sua maneira de pensar, ca
minharemos na direção do que a Bíblia chama de “santificação”. Examine
mos o que Paulo escreveu. Primeiramente, fala de uma verdade básica com
respeito à pessoa de Jesus. É importante, porque a realidade sobre a Sua
pessoa torna claro os Seus direitos. Ninguém pode ser egoísta se não tiver di
reitos. A lei do direito humano individual, adotada pela Constituição Ameri
cana e por outras após a revolução Francesa, tem suas raízes históricas no
início da democracia britânica com a “Carta Magna” inglesa; e, antes disso,
nas cidades-estados da democracia grega onde os antigos filósofos ensinavam
que todos os cidadãos possuíam certos direitos inalienáveis. Porém ninguém
jamais teve os tipos de direitos que Jesus tinha. “Pois ele, subsistindo em
forma de Deus”, significa que participou da natureza de Deus, compartilhou
da Deidade plena da Divindade. Ele tinha todos os direitos imagináveis. É
impossível pensar em um só direito divino que Jesus não possuísse. É óbvio
que Ele tinha o direito de ser obedecido. Possuía o direito de ser respeitado,
glorificado e honrado. Tinha direito à riqueza do universo, pois a criou, co
mo Agente do Pai (Jo. 1:3; Col. 1:16; Heb. 1:2). Não precisamos aumentar a
lista, pois tinha todos os direitos por causa de sua divindade. Consideremos a
frase do versículo 6, “forma de Deus. ” “Forma” é palavra grega, que signi
fica a realidade contrastada com o desenho ou a figura externa que é visível.
Não se pode descrever uma pessoa apenas por uma fotografia, e dizer que lá
está tal pessoa. Não. A pessoa está no interior, mas revela-se externamente.
Se quer conhecer alguém, não basta olhar a pessoa. Antes, considere como é
sua personalidade, como se expressa, e conclua então como ele é na verdade.
Jesus Cristo é a própria expressão de Deus vivida na expressão humana ou
encarnada. Como se afirma em Hebreus, Jesus é a perfeita manifestação do
ser de Deus(l :3).
O apóstolo João fala de Jesus como aquele qué “fez a exegese” de
Deus (Jo. 1:18). Exegese é uma palavra grega que significa “trazer para
fora’ . Então a realidade, ou o ser de Deus, manifestou-se humana e corpo
ralmente em Jesus Cristo. Ele, sendo Deus, e nesta forma, incluindo todos
Seus atributos, todo Seu amor, toda Sua graça, todo Seu poder, toda Sua
onipotência, viveu na terra como Jesus. Entretanto, a questão que estamos
examinando é: como era Sua mente? Teria sido uma mente adâmica, se
Jesus de Nazaré fosse apenas humano. Paulo, ou quem quer que tenha es
crito este antigo hino (se for mesmo um hino) deve ter pensado em Adão, de
quem herdamos nossa natureza humana egoísta. Adão também foi criado à
imagem e semelhança, ou mesmo, na forma de Deus.
As palavras “imagem” e “forma” são semelhantes em sentido. Adão
foi criado com muitas das características de Deus; tinha uma mente inteli
gente e criativa, tinha o desejo e a capacidade de governar as pessoas e as
coisas. Deus mandou que governasse e dominasse este mundo. Devia possuir
a terra e usá-la, fazendo com que servisse aos seus interesses e necessidades
para a glória de Deus. Adão devia louvar e agradecer a Deus por isso, embora
realmente fosse mordomo ou administrador de Deus. E somente uma coisa,
de todo este universo, foi proibida aos nossos primeiros pais. Deus não disse
que não poderiam tocar a árvore do conhecimento do bem e do mal. Talvez
pudessem até cultivá-la. Mas Adão e Eva foram tentados pelo Diabo. O ten
tador prometeu que se tornariam “como Deus” (Gen. 3:5). Adão e Eva,
quem sabe, pensaram assim: “Fomos feitos como Deus, não fomos? Fomos
criados à sua imagem e semelhança, mas não somos realmente como Ele.
Existe uma árvore da qual não temos o direito de comer. Deus está limitan
do nossos direitos humanos, os está sufocando” . E morderam a fruta para
que pudessem ser iguais a Deus, e exercer todos os seus direitos. O homem
tem feito a mesma coisa desde aquele tempo. A primeira meta que o homem
estabeleceu foi igualdade com Deus, supondo que não a tivesse, e que Deus
não lhe dava suficiente atenção em tudo aquilo que necessitava ou poderia
apreciar.
Jesus Cristo, porém, não considerou sua igualdade com Deus como al
guma coisa da qual não poderia abrir mão. De boa vontade, desistiu de Sua
semelhança com Deus, aparente, externa, e assumiu a forma de um escravo.
Assim, o texto diz: “A si mesmo se esvaziou. ” A mente de Cristo significa
mais do que o modo de pensar de uma pessoa; é o controle da sua vontade.
O Filho de Deus decidiu: “Peixarei de ser como Deus,visivelmente honrado
e servido por miríades de anjos. Assumirei a forma de vida humana, nascido
como bebê, vivendo na terra.” Ele sabia exatamente como seria, pois era
onisciente. Seu “esvaziar” transformou Sua existência da forma de Deus em
simples condição de escravo na terra. Este é o único caso de total auto-ne-
gação e sacrifício completo em toda a história. É o modelo perfeito daquilo
que Deus pede a todo homem quando exige auto-negação para que se torne
discípulo de Jesus Cristo (Mc 8:34).
O pronome “si” é muito importante aqui, porque esvaziar-se significa
que você não terá mais o maldito egocentrismo em si. Entregando-se, você
deixa de se amar de maneira pecaminosa e egoísta, e abre a porta para rece
ber a mente de Cristo. Vemos que em Lucas 9:23-25 e em outros trechos das
Escrituras somos advertidos contra o amor próprio, para nos salvarmos a
nós mesmos. Foi exatamente isso que Jesus demonstrou pelo seu exemplo.
Por amor a nós, Ele Se esvaziou, não para Se salvar, mas para que nós fôsse
mos salvos. Por Paulo ter empregado o termo “escravo” (doulos), alguns es
tudiosos acham que ele pensava no “Servo Sofredor” de Isaías (ver Is.
53:12). A palavra “esvaziou” (derramou) encontra-se lá (não há a mesma pa
lavra na Septuaginta, a tradução grega do V.T.). O “Servo” mencionado em
Isaías 53:12 deveria derramar a sua alma. E, no Novo Testamento, notamos
que as palavras “alma” e “si” são às vezes equivalentes (conf. Lc. 9:23-25
nas traduções onde se lê “perder a sua alma”). Aqui encontramos uma suges
tão de como obter a mente de Cristo. É quando permitimos à alma, à sua
própria vida representada pelo nosso egoísmo, ser esvaziada até a morte, até
o fim. Paulo chamou alguns cristãos de Corinto de “homens almados” (tra
duzido por “naturais”, “carnais” ,1 Cor. 2:14, 3:1,3). Você não deseja
derramar sua alma para dar lugar a nova vida do Espírito de Deus? Jesus
derramou Sua alma completamente até a morte Jesus convidou as multidões
interessadas e curiosas a lhe seguirem e se tornarem Seus discípulos. O que
isto compreendia? Ele explicou que seria negar-se, ou derramar sua alma
(Lc. 14:26: “aborrecer a sua própria vida”), tomar a sua cruz, e estar dispos
to a morrer por Ele (conf. Mt. 16:24-26). O discipulado significa aprender
de Cristo, segui-lo, fazer o que Ele fazia, escutar, obedecer às Suas palavras
(conf. 1 Pedro 2:21). Em conseqüência, você obterá a atitude de Cristo.
Já vimos que Cristo se “esvaziou” quando veio a esta terra na forma
de escravo. Qual é a forma, ou a realidade interior de um escravo? Obvia
mente, não significa apenas sua maneira de agir, mas diz respeito especial
mente ao coração e à alma do escravo. Quem tem coração de escravo não
pode nunca sentir-se insultado ou magoado quando seus direitos são retira
dos. Sua alma de escravo não guarda direito algum, visto que ele já pertence
inteiramente a outra pessoa. Assim, Jesus tinha a “forma” de servo, a consci
ência em si de ser um escravo submisso. Recordemos que Jesus foi atormen
tado pelos soldados romanos no Lithostrotum (que os turistas atualmente
podem ver em Jerusalém) onde os soldados jogavam seus jogos com ossos.
Em nossa Bíblia é chamado de Pavimento (Jo. 19:13), uma descoberta real
mente interessante dos arqueólogos. Enquanto os soldados espancavam
Jesus, insistiam para que apontasse quem lhe batia (embora estivesse ven
dado), já que na opinião popular, ele era um mágico. Jesus, com todo seu po
der divino, poderia ter respondido com força suficiente para deter o desres
peito. Também não lhe seria problema cegar os perseguidores, como fez
Elizeu (2 Reis 6:18-23). Mas, como estamos vendo, tendo o coração de es
cravo, Ele não podia fazer isso. Sua atitude mental fê-lo escolher sofrer tais
insultos imerecidos. Aceitou prazeirosamente esse tratamento, e até mesmo
pediu ao Seu Pai, depois de pregado na cruz, que aqueles soldados e todos
conspiradores da Sua morte pudessem ser perdoados.
Essa é a única atitude mental que pode fazer com que uma igreja fun
cione, como o Novo Testamento indica que deve funcionar. Uma igreja deve
ter essa disposição mental, como Templo do Espírito Santo; porém o mun
do não pode tê-la. O sistema econômico, as leis, as constituições que garan
tem os direitos humanos, tudo isso é respeitado quando a corrupção humana
não se alastra. Quando alguém se aproveita de outro, este, se puder, chama
um advogado e o leva à justiça. Assim o mundo pensa. “Faço-o pagar por
isto” é a reação típica de quem saiu lesado. No cenário internacional, se um
país estrangeiro ataca, o país atacado revida. A atitude da mente de Cristo
não parece ser muito vantajosa sob nenhum ponto de vista prático. Contu
do, o que Jesus Cristo pensou e fez é a exata explicação central da história.
Pois, quando Cristo voltar e o pecado for vencido, esse será o princípio pelo
qual o mundo será governado. Deus quer que a igreja, o local geográfico visí
vel do reino de Cristo, viva agora, sob Seu Domínio, a experiência da abne
gação perfeita e completa.
Prossigamos na passagem bíblica. Aprendemos que, Cristo não somen
te derramou Sua alma, e deliberadamente assumiu a forma de servo, ex
pressando a realidade interior do Seu espírito de servo com ações positivas,
humanas e abnegadas. Decidiu lavar os pés dos discípulos, e não reagiu vin
gativamente quando Seus direitos lhe foram tirados. O versículo 7 afirma
que Ele “tornou-se em semelhança de homens. ” A palavra “semelhança”
(Gr. homoíòmatí) é diferente de “forma” . É a palavra usada por Paulo em
Romanos 6 para explicar a realidade do batismo. Quando você foi batizado,
o foi na “semelhança” de Sua morte. Jesus, o Filho Encarnado, tomou a se
melhança de homem. O que significa isto? Há a semelhança de uma pessoa
numa fotografia. A foto não é a pessoa, mas ao olhá-la, você a recorda. Fe
lizmente, a Faculdade onde leciono preparou uma lista de nomes com os re
tratos juntos, de maneira que posso procurar meus alunos ligando nomes aos
rostos. A fotografia não é a pessoa, mas é sua semelhança, suficientemente
grande para identificar o estudante. C.S. Lewis discute essa realidade no seu
livro “Palestras que Impressionam”, no qual diz que a semelhança é real,
porque inclui algumas das características da própria pessoa. Não apenas
como o retrato que lembra meu aluno desconhecido, mas porque a luz e a
substância realmente fazem parte da fotografia e da pessoa real em carne e
osso. Você não pode trocar um pelo outro, porém existe uma realidade em
comum da qual participam a pessoa e a foto. Na humanidade de Jesus, há
uma realidade em comum entre Ele e nós. Embora Ele fosse homem per
feito, era distinto de nós. Era homem, no sentido singular de Deus -homem.
Essa referência à “semelhança de homem” provavelmente vem de Daniel 7.
A visão de Daniel revelou um pequeno chifre, uma figura no Velho Testa
mento de Antíoco Epifânio, o terrível perseguidor dos judeus de 170 A.C.
Daniel viu tronos estabelecidos, e o Ancião de Dias tomou Seu lugar, e Sua
veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça eram como a pura lã
(Dan. 7:9). Daniel continua descrevendo uma pessoa que se aproxima, “um
como o Filho do Homem”. Agora podemos identificar essa semelhança de
homem, no céu, antes da Encarnação, como sendo Jesus Cristo, o Filho na
presença do Pai eterno. E pode ser essa a referência daquilo que Paulo diz
em Filipenses. Voltando a Daniel 7, lemos sobre o Filho do Homem, que
descerá à terra e sofrerá sob a terrível besta (manifestação de Satanás). Será
esmagado por ela, porém, depois, há de triunfar sobre ela, e compartilhar
Sua vitória com os santos do Altíssimo (7:18-22). Cristo não somente
derramou sua alma, como o último Adão, e cumpriu as profecias do “Servo
Sofredor.” Também cumpriu a missão do Filho do Homem. De boa vonta
de, deixou-se vencer pela besta terrível e infernal, na Sua obediência à mor
te. É este o passo seguinte que Paulo menciona em Filipenses 2:8, a Sua
humilhação e obediência. Vimos a importância crucial da humildade no pa
rágrafo anterior (Fil. 2:2-4). Aqui podemos observar que se trata do âmago
da mente de Cristo. Sem considerar Seus próprios direitos e dignidade, Ele
pôde dar atenção plena à vontade de Seu Pai, e suas terríveis exigências por
ser o único a levar nosso pecado.
Lembre-se do Getsêmani, onde Ele quis esquivar-se do peso da vonta
de do Pai. É interessante considerar a frase, “Tornou-se obediente até a
morte.” Em outras palavras, percorreu todo o caminho até a morte. Todos
nós que nos dizemos seguidores de Cristo, somos obedientes até certo ponto.
Todos nossos filhos são obedientes até certo ponto, e ninguém pode dizer que
obedece até a morte. Tal obediência exigiria o cumprimento de uma simples
ordem: “Vá, e seja crucificado.” O filho, então, realmente iria e seria pregado
numa cruz! Mas saiba que foi isso que Jesus fez. Prezava tanto ao Pai que che
gou até a morte. E que morte! A mais cruel, vergonhosa, a mais torturada e de
sumana, a morte de cruz. Sua obediência corresponde, por outro lado, à deso
bediência de Adão. Deus, então lhe deu o direito incontestável de governar e
ser Rei sobre tudo que o homem deveria dominar. E Seu governo foi proje
tado para nos incluir. Nós somos súditos de Seu reino, onde Seu governo de
ve ser manifestado visivelmente. Essa manifestação deve ser feita num mun
do de contradições, onde Satanás é príncipe (Ef. 2:2,3), caracterizado pelo
egoísmo, contudo, ainda com o ideal da generosJade, bondade e altruísmo,
reminiscências da criação original. Os santos, ou cristãos, são os únicos que
tem a possibilidade de viver, na prática, o exercício do Senhorio de Deus
neste mundo.
A Exaltação de Jesus Cristo
A palavra “portanto” ou “pelo que” de Fil. 25 dá a idéia de conse
qüência, i.e., a exaltação de Jesus Cristo ao receber um nome acima de todo
outro nome. Ele é agora a “Pessoa Acima” de todo o universo. Deus decre
tou que todos devem curvar-se perante Ele, e honrar Seu nome, que tem
maior dignidade do que qualquer título. Esse nome é Senhor, ou Kúrios. A
versão grega do V.T. que Paulo e a igreja primitiva tinham, usava “Senhor”
(Kúrios) na tradução do nome que não se podia mencionar, Yahweh, o no
me pessoal de Deus. Veja Isaías 45:23: “Tenho jurado que ao Meu nome
todo joelho se dobrará”, é o sentido. Isso é citado neste texto de Filipenses,
referindo-se a Jesus Cristo, nosso Senhor (v. 10). “Dobrar-se ao nome de
Jesus” é; naturalmente, concordar com os passos descendentes e humilhan
tes que Ele tomou, para que Ele seja exaltado, Senhor sobre tudo. Compro
mete a quem se curvar para segui-lo com relação às atitudes na vida terrena.
Ser Cristo o meu Senhor, não significa simplesmente fazer o que Ele manda,
e evitar qualquer pecado. Não é esse tipo de Senhorio. Pelo contrário, real
mente exige, como seu paralelo aqui na terra, uma atitude, uma disposição
de mente equivalente à de Cristo. Tal atitude deve, então, influenciar em tu
do a vida do cristão.
O cristão, ajoelhado perante Jesus Cristo, é a manifestação exterior da
nova natureza, plena do Espírito. O cristão, por definição, deve ser pessoa
caracterizada pela mente de Cristo. Paulo escreveu esta parte importantíssi
ma de sua carta aos filipenses porque passavam por uma época de difíceis re
lacionamentos. Um pouco de egoísmo aqui, um tanto de orgulho ali e já es
tavam nublando a figura de Cristo no seio da Igreja. Embora todos confessas
sem que Jesus Cristo era Senhor, para a glória de Deus, os cristãos, na prá
tica, estavam negando essa confissão.
Isso sugere a questão da glória de Deus. A exaltação de Jesus Cristo,
recebendo o mais sublime de todos os nomes, o ajoelhar de toda criatura
(que só será cumprido quando Ele voltar), e a confissão de Seu Senhorio, es
tão todos juntos para trazer maior glória a Deus, o Pai. O propósito da vida
cristã se centraliza na glória de Deus. O evento mais glorificante que já acon
teceu, foi a morte de Jesus Cristo no Calvário. E justamente por isso se tor
na o ponto central de toda a história. Deus fez com que se tornasse a chave
que explica a trama central de tudo que está acontecendo na história. Atra
vés de toda a eternidade será impossível esquecer a cruz. O reino milenar há
de refletir a luz que jorra da cruz (conf. Ap. 5:6,9). A glória de Deus, o
Pai, demonstrada com brilho radiante em Seu Filho, em quem muito se agra
da, reflete da cruz. Assim também têm glória refletida da cruz aqueles que
se curvam perante Jesus, e que confessam o Seu nome. Eles têm o privilégio
de renunciar a seus próprios direitos, derramando suas almas e subjugando
seu próprio egoísmo com escolhas conscientes. Só assim podem “carregar
cada dia a sua cruz” (Lc. 9:23). Jesus o fez por causa de Sua atitude de amor
sacrificial para com Seu Pai e para com a humanidade.
Esta passagem afirma, também, que os demônios (“debaixo da terra”)
irão dobrar os seus joelhos diante do Senhor. Não só os cristão irão se cur
var, não só os anjos que servem a Deus no céu. O versículo 10 se refere a
criaturas inteligentes na terra, i.e., os homens. Então, o versículo fala de se
res abaixo da terra, referindo-se aos poderes demoníacos, no seu ódio ran
gente e amargurado contra Jesus. Será que também confessarão a Jesus co
mo Senhor? Certamente, não irão confessar sua bondade e grandeza de bom
grado, como também não o farão as pessoas da terra que não O conhecem
pessoalmente, e não O receberam como Senhor e Salvador de suas vidas. Os
inimigos pecaminosos de Deus não reconhecerão a Jesus como Senhor porque
o desejam, mas assim mesmo o farão. Lembra-se quando Jesus cliegou perto
de um homem possuído por demônios? Reconheceram-no imediatamente
como Senhor (conf. Mc. 5:7). Não puderam calar nem que o quisessem. É
por isso que esse trecho da Bíblia esclarece que há uma decisão a ser feita
antes que venha o juízo. Certamente, quando Cristo voltar, ninguém deixará
de dar a honra devida ao Senhor. Você pode tomar-se co-herdeiro com Jesus
dobrando os joelhos e confessando com o coração que Ele é Senhor (Rm.
8:15-17). Se você quiser alegrar-se com Ele, precisa tornar-se como Ele, ter a
Sua mente. Realmente queremos ser seguidores de Cristo? É impossível ser
um seguidor de longe. O egoísmo e o orgulho nos mantêm longe dele, sem a
atitude de mente que Ele deseja formar em nós. Você está disposto a entre
gar-se cedendo a todos seus direitos? Para sermos honestos, a maioria de nós
diria, certamente, que não! Eu não fiz isso nem poderia fazer. Você está
absolutamente certo, mas o que é necessário é desejar fazê-lo, agindo depois
sobre esse desejo. Leve a Cristo seu egoísmo. No batismo, o novo cristão es
tá como que dizendo: Eu quero morrer para mim mesmo, com Cristo. Entre
go-lhe tudo, para que o Senhor possa colocar em mim Seu novo modo de
pensar.
Se a tradução correta do versículo 5 for “entre vós” (e não “em vós”)
precisamos entender que a igreja é enfocada. Para os observadores angelicais,
e para um mundo incrédulo, tão antagônico a esse conceito de auto-negação,
a mente de Cristo, no meio do povo de Deus, deve mostrar que somos real
mente cristãos, dirigidos pela mente de Cristo, unidos em um Corpo no qual
todos os membros servem altruisticamente a todo organismo.
Agora, quero curvar-me e orar com você. Senhor querido, possa a obe
diência de Teu filho, Jesus nosso Salvador, Aquele que na cruz exemplificou
a qualidade da perfeita submissão que nos salvou, ser gravada em nossos co
rações. Possa o Teu Espírito começar a tomar evidente em nós aquela mes
ma personalidade revelada na natureza divina de Cristo, retratada em seu co
ração de escravo, e no Seu espirito de servo. Õ Pai, que esta mente seja vista
continuamente entre nós como teus filhos, pois oramos em nome de Jesus.
Amém.
DESENVOLVENDO A SALVAÇÃO
Filipenses 2:12-18
12 - Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes,
não só na minha presença, porém muito mais agora na minha
ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor;
13 - porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como
o realizar, segundo a sua boa vontade. 14 - Fazei tudo sem
murmurações nem contendas; 15 - para que vos tomeis irre
preensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de
uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como
luzeiros no mundo; 16 - preservando a palavra da vida, para
que, no dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão,
nem me esforcei inutilmente. 17 - Entretanto, mesmo que
seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da
vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo. 18 -
Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratu
lai-vos comigo.
Como professor de seminário, muitas vezes sou procurado para
responder a perguntas sobre a Bíblia. Um estudante perplexo, recentemente,
quis saber o seguinte: O que Paulo pensava quando disse aos filipenses que
desenvolvessem a sua própria salvação? A questão é que, ou vamos bater
nosso barco da teologia sem leme nas areias de Caribde, ou contra a rocha
de Cila, usando os termos da estória de Homero. Há um pequeno estreito
que leva àquela perigosa passagem lendária. E hoje seria aconselhável medi
tarmos sobre o paradoxo do nosso esforço humano, em combinação com a
obra onipotente de Deus em nós. Naturalmente, a lógica diz que, se Deus es
tá operando em nós, como afirma o versículo 13, podemos descansar e gozar
da segurança bendita da salvação que é oferecida e realizada totalmente por
Deus. Acredito que Professor Moule, há cerca de cem anos atrás, foi quem
escreveu: “Não poderíamos, agora, entregar-nos inteiramente à reflexão?”
Ele quis ilustrar o que se sente após um trabalho árduo, quando nos recosta-
mos na velha poltrona, diminuímos a intensidade das luzes e cochilamos.
Porque afinal, estamos no caminho para o céu. Estamos seguros nos braços
eternos. Por que não fazer um relaxamento, um devaneio, se Deus está ope
rando em nós? Ele fará tudo que precisa ser feito. Meditaríamos, portanto,
com toda a calma, sobre a poesia divina da nossa salvação!
O conhecido autor demão, Dietrich Bonhoeffer, impressionou-se pro
fundamente com esta atitude não bíblica. No livro O Preço do Discipulado
(The Cost o f Discipleship) ele usa palavras para chamar nossa atenção logo
no início: “A graça barata é o inimigo mortal da igreja.” A lógica atrás deste
repouso de enlevo espiritual, onde são desnecessários tanto o esforço como
o trabalho, significa uma ameaça perigosa para a igreja. Hoje, encontramos
bem poucos que buscam uma graça valiosa e preciosa (a graça barata signifi
ca graça vendida na feira de objetos usados, entre vizinhos, onde os preços
são bem pequenos para que se venda logo a mercadoria). “Os sacramentos,
o perdão dos pecados, as consolações da religião, são jogadas fora com pre
ços de saldo. A graça é representada como caixa de tesouro inesgotável da
igreja, da qual Deus distribui de mãos generosas, sem questionar ou fixar
quaisquer limites. A graça é sem preço, a graça é sem custos; a essência da
graça, saibamos, é que a conta foi paga adiantadamente. E como já está pa
ga, e pode-se receber tudo gratuitamente, visto que o preço era infinito, e as
possibilidades de usá-la e gastá-la são infinitas, o que seria graça, se não fosse
barata? Muito barata! A graça por preço irrisório significa a graça como dou
trina, como princípio, sistema. Significa o perdão dos pecados proclamado
como verdade genérica e um consentimento intelectual à idéia é aceito como
sendo suficiente para assegurar a remissão dos pecados. Então acredita-se
que a igreja que defende a doutrina correta da graça, por isto mesmo, tenha
parte desta graça. Visto que nós, evangélicos, pregamos o fato de que Deus
já fez tudo, e que nada podemos fazer para merecer a salvação, estamos
propensos a bater naquela rocha de Cila, onde a graça é oferecida sem nos
custar nada.
A passagem de Filipenses 2 não apóia esse ponto de vista da “graça ba
rata.” Afirma que, por Deus estar operando em você, você deve então efe
tuar a sua salvação. Deve estar envolvido, empenhando responsavelmente to
dos os esforços no desenvolvimento, no cultivo, na elaboração da salvação
que já recebeu.
Do outro lado encontra-se a doutrina oposta, declarando que os ho
mens podem produzir a justiça que agrada a Deus. E o pensamento logo sur
ge na mente dos evangélicos dedicados: Não temos sido direitos? Não demos
uma grande oferta ao Senhor? E não estamos servindo a Deus de maneira
louvável? Sendo Deus justo, não podemos contar com Ele para recompensar
nosso sacrifício com um pouco de Sua honra e glória e com Sua salvação? É
natural que os homens decaídos ofereçam a Deus um pouco de esforço pró
prio para obter a salvação. E esse é o lado do Caribde, tão perigoso ao via
jante que espera alcançar o céu tal qual a apatia da graça barata e fácil. Po
rém existe uma estreita passagem entre estas alternativas perigosas, que neste
trecho fica esclarecida. Repare bem que não nos cabe efetuarmos a nossa sal
vação, pois Efésios 2:5-9 torna bem claro que nossas obras não são aceitáveis
a Deus se feitas com o fim de merecer o perdão de Deus. Se dizemos que es
tamos salvos, devemos desenvolver e viver a nossa salvação.
Um Trabalho Obediente
A Salvação que recebemos, então, precisa ser desenvolvida. Assim se
tomará uma salvação obediente. Voltemos ao versículo 12, onde Paulo diz:
“Vocês sempre obedeceram na minha presença.” Todos nós estamos familia
rizados com o poder invisível que tem o olhar de um professor vigiando...
ou do chefe que observa como tudo está sendo feito, para verificar se tudo
está em ordem. Quando o professor ou o chefe saem, então você se relaxa,
pode até sair para tomar um cafézinho mais demorado. A obediência, Paulo
diz aos filipenses, não só é crucial quando estou presente, mas muito mais
quando estou ausente. Algumas das paíabolas de Jesus batem na mesma te
cla. Pouco antes do mestre partir, ele dá aos escravos talentos com os quais
devem trabalhar e investir (Mat. 25:14,15). Antes do mestre viajar, nada
acontece, mas logo que sai, começa o movimento. Assim é na vida cristã. A
prova é feita principalmente na hora em que você está sózinho, nas horas
silenciosas, quando ninguém lhe pressiona, nem o elogia, ou diz o que deve
fazer. E seria fácil concluir que não é preciso prestar contas, visto que o
Senhor não lhe está dando nota, nem abono, como prêmio por qualquer
progresso extraordinário.
Introdução
Paulo, Timóteo (I Tm. 6.11) e Epafrodito eram homens de Deus. Mas
como tomar-se homem ou mulher de Deus?
No Antigo Testamento esta frase representava um profeta (cf. 1 Sm.
2:27, 1 Rs. 12:22; 17:18, 20:28 etc. e 1 Tm. 6:11), isto é, alguém que falava
da parte de Deus. Para ser um embaixador do Rei do Universo, o profeta de
via se assemelhar ao seu Senhor em atitudes e interesses. Onde há homens de
Deus, deve ser notável a aproximação da atmosfera divina, um perfume ce
lestial (cf. 2 Co. 2:15) que é fácil de detectar e que atrai os que “cheiram”
o “aroma de vida
Paulo
Não estaríamos longe da verdade ao afirmarmos que um dos temas
principais de Filipenses é o “homem de Deus”. No primeiro parágrafo desta
carta, deparamos com a comunhão outorgada por Deus por meio dos irmãos.
A cintilante oração paulina (1:9-11), por causa da profunda saudade que
sentiu (v. 8), pedia que o amor dos seus filhos na fé “aumente mais e mais
em pleno conhecimento e toda a percepção” (v. 9). Paulo sempre fazia sú
plicas por eles (1:4) o que nos dá motivo para pensar que o segredo da for
mação do homem de Deus deve ser a oração. Se Paulo lembrava dos filipen
ses em todas as suas orações, quanto mais de Timóteo. Não seria fácil convi
ver com o apóstolo sem orar por ele (Ef. 6:19, 20). Não se pode negar que
homens de Deus são os que são os alvos da oração de homens de Deus. Se o
Espírito de Deus é derramado em resposta à oração (Lc. 11:13), seu amor
também transforma o caráter de todos em que Ele habita (Rm. 5:5, Ef.
5:18, Gl. 5:22).
Igualmente importante é a convivência com homens de Deus. O desa
fio de comer, dormir, conversar e observar a vida de um servo consagrado ao
Senhor, deve influenciar profundamente quem tiver esse privilégio. A pró
pria igreja deve fornecer aos novos crentes, especialmente aos jovens, um
modelo de santidade nos seus líderes (cf. Hb. 13:7), fornecendo um desafio
constante para que sejam transformados paulatinamente em homens de
Deus(cf. Cl. 1:28).
Paulo expressa no v. 16 deste segundo capítulo, que sabia exatamente
para onde corria. Tinha um destino, para não correr em vão ou inutilmente,
enquanto preservava ou segurava firmemente a palavra da vida. No cap. 3,
declara, “prossigo para o alvo” avançando para as cousas que diante de
mim estão (w. 14, 13). Sabemos que ele cogitava a possibilidade de ser
“oferecido como libação sobre o sacrifício da fé” dos filipenses. Tudo isso
mostra a determinação de Paulo por um lado e o desafio das circunstâncias
nas quais Deus o colocara, por outro lado. Homens de Deus são produzidos
também pelos desafios e se recusam a se desanimar. Creio que quem tem di
reito a este elogio de ser homem de Deus deve ser alguém que não vive para
sí, mas para os outros (cf. 2 Co. 5:14, 15). Sua vida é derramada para bene
ficiar aos outros. Como canal ou aquaduto, a vida do homem de Deus con
duz a graça divina para o coração humano. Muitas vidas assemelham-se mais
a uma torneira fechada do que a um canal entre Deus e a humanidade se
denta. Sem auto-jactância, Paulo podia afirmar que, não importando de que
maneira sua vida terminasse, não teria corrido em vão.
Em mensagens anteriores tivemos oportunidade de observar que a
prisão de Paulo, mesmo sendo ele inocente, não foi capaz de criar ressenti
mento no apóstolo. Nem os irmãos que, pelo ódio e ciúme, tentavam susci
tar tribulação às cadeias do missionário, foram capazes de criar mágoa ou
aborrecimento ao coração daquele Homem de Deus(l :15,18). Como se ex
plica fenômeno tão raro? As circunstâncias difíceis não criaram barreiras
para a sua corrida, mas apenas pontes para cada vez refletir mais a encar
nação da vida de Cristo na de Paulo (cf. Gl. 2:20).
Timóteo
Além de Paulo, descobrimos neste trecho a breve descrição de um se
gundo homem de Deus. Paulo esperava mandar Timóteo brevemente para os
filipenses. Assim, teria uma avaliação de confiança ao receber notícias de
volta na sua prisão. Também Timóteo deveria levar notícias aos filipenses so
bre o resultado do seu processo, a ser brevemente definido (v. 24).
Timóteo significa em grego “quem honra a Deus” ou “alguém honra
do por Deus”. Quem passeia por um cemitério observa os nomes dos esque
cidos, indivíduos do passado longínquo. Nunca os conhecemos, nem ouvi
mos falar deles; não sabemos de nada significante que fizeram. Suas vidas
não são detalhadas em biografia alguma. A história os deixou de lado. Desa
pareceram como a água na superfície da areia. Teria sido assim com Timó
teo, não fosse os desafios determinantes da sua yida. Primeiro foi sua avó
Lóide, uma mulher de fé (2 Tm. 1:5). Certamente ela amou as Escrituras
como a profetiza Ana (Lc. 2:36-38), e a mãe de Samuel, também chamada
A na(l Sm. 1:2-2:11).Se Timóteo conhecia “desde a infancia... as Sagradas
Letras” (2 Tm. 3:15), concluímos que Lóide e sua filha Eunice, mãe de
Timóteo, o ensinaram. Bendito é o privilégio de aprender, desde o colo dos
pais, o convívio com as verdades depositadas nas páginas da Bíblia.
O apóstolo declara que não havia ninguém (disponível) com o senti
mento (gr. isopsuchon, lit. “alma igual”) que Timóteo tinha. Provavelmente
só este jovem de alma semelhante ao do apóstolo. O conhecimento da Lei de
Deus e o convívio no lar, com mulheres consagradas e depois com o seu pai
na fé, juntos, fizeram de Timóteo um jovem de Deus destacado. Facilmente
imaginamos as conversas, ao transcorrer as centenas de quilômetros nas via
gens paulinas pela Ásia Menor e Grécia, em que as passagens bíblicas conhe
cidas há anos se transformaram em verdade viva para Timóteo. Quem, a não
ser os próprios discípulos de Jesus, teria tido tão equilibrado e profundo
curso teológico como este jovem companheiro? Por isso, Paulo o chamou de
“amado filho” (2 Tm. 1:2) e “amado filho fiel” (1 Co. 4:17). Aos filipenses
revela que “serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai” (2:22).
Provavelmente o pai de Timóteo não era convertido (ou possivelmente tinha
morrido) criando assim uma inevitável separação entre parentes que devem
ser os mais íntimos. Paulo tomou o lugar do pai, trazendo todo o impacto
benéfico da sua influência piedosa. Na primeira carta a Timóteo, Paulo o cha
ma de “verdadeiro filho na fé” (1:2), frisando a qualidade da relação entre
“pai” e “filho”. Timóteo, facilmente influenciado, se entregou à tutela do
mestre. Tornou-se disípulo admirador, filho co-participante da vida do vete
rano, tanto que ganhou a sua confiança total. Muitas são as influências que
os mais velhos, experimentados cristãos têm tido sobre nós. Mas qual deles
se responsabilizou por tomar-nos um “filho genuíno (gnésios no grego) ou
verdadeiro na fé”?
Sendo Timóteo um filho genuíno, podia compartilhar o ministério
pastoral do apóstolo preso. Sinceramente (gnésios “genuinamente”, “verda
deiramente”) cuidaria dos interesses dos irmãos em Filipos (v. 20 b), tendo
sido enviado para lá por Paulo. Por esta razão, Timóteo era incomparável,
não havendo outro companheiro disponível “de igual sentimento” (v. 20 a).
Timóteo viu a Paulo pela primeira vez, pregando em Listra, depois
opondo-se ao culto pagão, oferecido a Paulo é Barnabé, após a cura do
côxo (At. 14:8-18). Em seguida, foi apedrejado, arrastado para fora da ci
dade e dado por morto (At. 16:19), mas depois levantando-se, deve ter pro
duzido em Timóteo uma fascinação pelo judeu missionário. Quando Paulo
passou por Derbe e Listra na segunda viagem missionária, os irmãos de Listra
e Icônio (distância de 31 km), “davam bom testemunho dele” (At. 16:2).
Paulo o convidou para o acompanhar, tomando assim o lugar de Marcos que
abandonara a equipe missionária no meio da primeira viagem (At. 13:13;
15:38).
A segunda razão pela qual Paulo enviara a Timóteo (além do cuidado
pastoral) é precisamente pelo desinteresse que ele tinha pelo que era dele.
Concentrou sua atenção inteiramente ao que era de Cristo (Fp. 2:21). Mar
cos virou as costas diante do desafio missionário de Panfília e o planalto
da Ásia, justamente porque não buscava o que era de Jesus, mas o que era
seu. Por isso, Paulo descreve a Timóteo como incomparável (v. 20). Não deu
prioridade ao que lhe traria vantagens, mas buscou acima de tudo o que seria
vantajoso ao seu Senhor. Entendemos agora porque os irmãos de Icônio e
Listra deram tão boa recomendação a respeito de Timóteo (At. 16:2). Não
foi ao campo com a garantia de sustento mensal da igreja ou junta missioná
ria da associação de igrejas da região. Não creio que comeram churrasco to
dos os diaSi Sem dúvida, a característica mais destacada da vida com Paulo e
Silas foi o sacrifício, o perigo, a perseguição e a fome (cf. 2 Co. 6:4, 5;
11:22-27). Não creio que Timóteo se sentiu maltratado por isso. Uma vez
que “o que era de Cristo Jesus” importava mais do que qualquer outra cousa
não há nem sugestão de queixumes.
Em terceiro lugar, Paulo lembra aos filipenses do caráter de Timóteo.
Ele era homem de Deus porque tinha qualidade “provada” (gr. dokimen,
“testado” e “aprovado”, v. 22). Não é muito difícil de encontrar numa hora
de emoção e desafio, quem se apresente como voluntário para servir a causa
do evangelho em terras difíceis, destituídas de segurança e conforto. Mas
depois de servir fielmente, junto com Paulo, Timóteo ganhou a reputação de
um veterano provado.
A palavra grega dokimen comunicava confiança. Quem duvidava se
uma moeda era realmente feita- de prata, a deixava cair num piso de már
more. Pelo ruído que emitia, podia-se ter a verteza se era ou não composta
de chumbo ou prata. Era dokimen, aprovada ou rejeitada. Timóteo alcançou
aprovação pela maneira que serviu ao evangelho (douleuô, ser ou atuar como
escravo”). Serviu ao evangelho como um escravo leal serve a um mestre ama
do. Entendeu perfeitamente que espalhar as boas novas da salvação era a
preocupação prioritária de Jesus Cristo (e de Paulo). Timóteo abafou seus
interesses legítimos (casamento, constituição do lar, seguir sua carreira) para
tomar-se “escravo” voluntário de Jesus.
Com o passar dos anos de serviço, sob a observação e discipulado cui
dadosos de Paulo, ganhou a nota dez do mestre que reconheceu seu “caráter
aprovado”. Tempos depois, o apóstolo escreveu a Timóteo, “procura apre
sentar-te a Deus, aprovado...” (2 Tm. 2:15).. Descobrimos que aprovação de
Deus não é posição estática mas uma busca constante. Ainda que Timóteo
fosse aprovado (Fp. 2:22), precisava buscar sempre essa condição.
Serviu ao evangelho como filho junto ao pai. Humildemente rebaixou-
se, para permitir que o apóstolo tomasse a liderança. Não encontramos neste
símile nenhuma indicação de oposição (como entre patrão e empregado),
mas de cooperação leal e subordinação, voluntária e alegre. Aliás não encon
tramos nas epístolas nenhuma sugestão para sustentar a idéia de que o após
tolo mandava nas vidas dos companheiros. Se houve uma exceção, foi de
Timóteo que se prontificou a servir ao apóstolo, pará assim servir a Cristo.
Não penso que Timóteo era líder destacado. Não penso que o apóstolo o in
dicaria para abrir um campo novo onde o evangelho nunca tinha sido anun
ciado. Mas para servir às necessidades de Paúlo e da igreja de Filipos, era o
único indicado entre os companheiros do apóstolo. Qual seria a opinião que
Paulo teria formado a nosso respeito? Ele enviaria qualquer um de nós? Te
ria percebido a nossa capacidade de cuidar sinceramente dos interesses dos
filipenses ou dos nossos acima do que é de Cristo? Ganharíamos a reputação
de “aprovados” da parte de Paulo pela maneira que temos servido humilde
mente à causa?
Epafrodito
Em terceiro lugar quero dar uma visão de Epafrodito. Este homem de
Deus não é mencionado em outra parte da Bíblia. Não podemos opinar se
era jovem ou mais velho, se se converteu nos primeiros dias da igreja em Fili
pos, evangelizada por Paulo, ou se recentemente se entregara ao Senhor
Jesus Cristo. Mesmo sabendo tão pouco, Paulo focaliza alguns fatos impor
tantes a respeito deste extraordinário homem.
Primeiro notamos que Paulo o chama de “o irmão”. Baseado no fato
que Paulo distingüe “os irmãos” de “todos os santos” (Fp. 4:21, 22), alguns
estudiosos chegaram à conclusão de que “irmão” servia de título como hoje
usamos “obreiros” . Talvez os “irmãos” receberam ajuda financeira ou ali
mentos para poder dar tempo ao trabalho de evangelizar (cf. 2 Ts. 3:8-10 ;
Cl. 6:6), ou viajar como Epafrodito fizera.
Sendo o significado de “irmão” incerto, passeamos para o termo
“cooperador” (gr. sunergon, “quem trabalha junto com outrem”, v. 25).
Através da história a igreja demonstrou a forte tendência de formar uma hie
rarquia. os líderes importantes sobem a escada de honra e autoridade. Creio
que Paulo teria julgado esta inclinação contrária à vontade de Cristo (cf.
Lc. 22:24-27). Epafrodito não foi considerado superior, nem inferior a
Paulo; mas simplesmente um trabalhador ao lado de Paulo. Valioso é reconhe
cer na igreja que todos trabalham em equipe. Somos sunergoi com Cristo, O
Cabeça, Senhor de todos os que cooperam na sua obra. Como formigas que
sem obrigação nem domínio externo (cf. “nicolaitas”, no grego quer dizer
dominadores do povo”, Ap. 2:6) trabalham espontaneamente em todas as
áreas necessitadas: ensino, contribuição, evangelização, cuidado com os ne
cessitados, trabalho missionário distante etc. De acordo com o dom recebi
do, devemos colaborar.
A terceira palavra no original, usada para caracterizar a Epafrodito se
traduz com a frase “companheiro de lutas” (gr. sustratiõtês, “soldado com
panheiro de batalha”, “companheiro de armas”). Vocábulo bem raro, não
temos muitas condições para adivinhar por que Paulo o designou desta ma
neira. No v. 30, somos informados de que Epafrodito “chegou... às portas
da morte” e “se dispôs a dar a própria vida” (gr. paraboleusamenos, “arris
car a vida”, “apostar a vida”). Creio que se oferecer para transportar a oferta
da igreja de Filipos até Paulo, o que era muitíssimo arriscado, possivelmente
explicaria o uso deste termo por Paulo. A história do Bom Samaritano que
Jesus contou ao advogado (Lc. 10:30-37) indica até que ponto chegava o
perigo para quem viajava longas distâncias sozinho (cf. 2 Co. 11:26, “em
perigos de salteadores”).
Além dessa ameaça universal, Epafrodito enfrentou a enfermidade,
“adoeceu mortalmente” (v. 27). No primeiro século, o perigo de germes e
micróbios, de febres provocadas pelas águas poluídas, alimentos perigosos,
antes das descobertas científicas que nos capacitam tomar as medidas de
precaução, eram freqüentes. Viajar significava inevitavelmente enfrentar o
perigo de doenças como tifo, tifóide, cólera, malária i e muitas outras doen
ças, sem qualquer tratamento eficaz. Paulo reconhece a disposição de Epa
frodito em “apostar sua vida” da mesma maneira que ele costumava fazer. Por
isso, mereceu o título de “companheiro de batalha”, pois o incentivo foi ser
vir a Cristo, beneficiando o apóstolo.
Epafrodito foi também o apóstolo ou “mensageiro” (gr. apostolos)
da igreja de Filipos (v. 25). Recebeu a comissão de “enviado oficial” ou
“procurador” dos filipenses junto a Paulo. Um apóstolo para os judeus, “era
igual àquele que o enviou”2 . Portanto Epafrodito tomou-se o substi
tuto para a igreja junto a Paulo. Nessa posição serviu também de “auxiliar
nas minhas necessidades” (v. 25). “Auxiliar” representa a palavra leitourgon
no original. Significa em serviço ou culto que beneficia o povo (/e/f.). Na
Septuaginta ganhou quase exclusivamente o significado de serviço de sacer
dote em prol da nação.
É difícil saber se em outras passagens Paulo queria comunicar um sen
tido mais religioso (exs. Rm. 15:27; 2 Co. 9:12), ou talvez, menos. Se, como
veremos no cap. quatro, a oferta dos filipenses foi um “sacrifício aceitável e
aprazível a Deus” (4:18 b), por que não deduziríamos que aqui Epafrodito
serve como “sacerdote” comissionado pela igreja, oferecendo a Deus os do
nativos dos irmãos filipenses e suprindo a falta do apóstolo de Cristo (2:30)?
Esta é mais uma passagem que emprega linguagem relacionada ao culto, e ao
serviço sagrado dos membros (cf. Hb. 8:2), especialmente no ato de suprir
uma necessidade no corpo de Cristo. O termo “serviço” (leitourgia) já foi
usado por Paulo para indicar o ministério sacerdotal que o seu martírio efe
tuaria (v. 17). Portanto, ambos, Paulo e os filipenses, por intermédio de Epa
frodito, exerciam ministério sacerdotal.
Epafrodito era um homem sensível. Ao saber que a notícia de sua gra
ve doença tinha chegado à igreja de Filipos, ficou angustiado (v. 26). Paulo,
igualmente ansioso por causa da aflição dos filipenses que só receberam a
notícia da enfermidade, e não que Deus o havia levantado (v. 27), depressa
mandou Epafrodito de volta. Naturalmente, levou esta preciosíssima carta
de Paulo aos filipenses na viagem. Assim, Paulo descansaria (“eu tenho me
nos tristeza v. 28”), no conhecimento de que a igreja não continuaria na
angústia em relação a Epafrodito. Timóteo também irá (v. 19) logo que
Paulo puder lhes informar a seu próprio respeito. Paulo, Timóteo e Epafro
dito merecem uma recepção alegre e honrosa (cf. v. 22,29). Paulo também
irá logo que puder (v. 24), tendo confiança que o Senhor o libertará da
prisão e “sentença de morte” (2 Co. 1:9) que pairava sobre sua cabeça3.
Na apresentação dos três homens de Deus, Paulo, Timóteo e Epafrodi
to, descobrimos os traços daqueles que merecem essa designação. Homens
que se desvincularíi dos seus próprios valores para, incansavelmente, buscar
os de Cristo e da sua igreja. Estavam envolvidos no serviço sacerdotal dos ir
mãos e desta maneira cultuavam a Deus. Oremos a Deus insistentemente
para nos tomar homens de Deus, levantando-nos no meio da sua igreja, para
a sua glória.
PERDENDO PARA GANHAR
Filipenses 3:1-8
Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim
não me desgosta, e è segurança para vós outros, que eu escreva
as mesmas cousas. 2 - Acautelai-vos dos cães\ acautelai-vos
dos maus obreiros! acautelai-vos da falsa circuncisão \ 3 - Por
que nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus
no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos
na carne. 4 — Bem que eu poderia confiar também na carne. Se
qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais:
5 - Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo
de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, 6 -
quanto ao zelo, perseguidor da igreja, quanto à justiça que há
na lei, irrepreensível. 7 - Mas o que para mim era lucro, isto
considerei perda por causa de Cristo. 8 — Sim, deveras consi
dero tudo como perda, por causa da sublimidade do conheci
mento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual, perdi
todas as cousas e as considero como refugo para ganhar a
Cristo.
Introdução
Uma das coisas estranhas sobre um homem como Paulo é que no mes
mo instante em que está insistindo em que os leitores tenham alegria, está
também furioso.
E não vê nenhuma contradição entre essas duas fortes emoções con
trastantes. É intensa sua hostilidade para com os judaizantes perseguidores,
que o estão seguindo e se infiltrando nas igrejas que ele fundou (3:2). Mas
Paulo diz aos filipenses que devem alegrar-se (3:1). Há dezesseis referências
à palavra “alegria” ou “regozijo” nesta epístola curta, o que indica a signifí-
cância espiritual que a alegria tem para Paulo. ,
Mas, como estar alegre e furioso ao mesmo tempo? Como se pode ex
perimentar esta “alegria no Senhor” e a hostilidade juntamente? E por falar
nisso, é possível cometer um erro sério quando se confunde “alegria” com
“felicidade”. Feliz e afortunado são termos paralelos. Afortunado vem da
palavra latina “fortuna” que tem a ver com situações externas mas que afe
tam a você pessoalmente. Poderíamos chamá-la de emoção circunstancial. Se
suas circunstâncias são favoráveis, então sua reação para com elas é positiva
e você fica feliz. Mas alegria é outra coisa bem diferente porque tem a ver
com as profundezas de seu ser. Compare tal estabilidade com o mar. A pou
cos quilômetros de profundidade no oceano, a milhares de metros abaixo da
superfície, você descobre que nenhum efeito é causado por qualquer cir
cunstância que ocorra na superfície. Nas profundezas a temperatura perma
nece constante. Nenhuma tempestade ou bater de ondas perturba o fundo do
mar. Como nas camadas inferiores dos oceanos, é a alegria inspirada por Deus.
Existem coisas surpreendentes na Bíblia, por exemplo, na última fala de Jesus
com seus discípulos, o Senhor ofereceu-lhes “Eu lhes dou meu gozo”, mesmo
quando estava caminhando para o Getsêmano. Hebreus menciona isto quando
registra que nosso Senhor chamou-o “da alegria que lhe estava proposta”
(12:2). Suportou a cruz, e até mesmo quando suportava a dor, isso não lhe
afetava quanto à alegria. Só o Cristianismo pode oferecer-lhe, meu amado
leitor, uma “alegria” tão incondicional. Nenhuma outra religião pode falar em
alegria como pode o Cristianismo. É um dom, uma dádiva do Espírito Santo.
Tem a ver com aquilo que Filipenses 3:3 chama de “adorar a Deus verdadeira
mente”. Se você realmente adora a Deus “por meio do Espírito” (creio que é
uma tradução mais exata do que “no Espírito”), seu coração pode transbordar
de alegria mesmo num campo de concentração. Nas circunstâncias mais
miseráveis e penosas, ainda que você esteja experimentando uma tristeza
profunda pela perda de um ente querido, você ainda pode se extasiar com a
alegria do Senhor, alegria que lhe vem pela presença do Espírito. A alegria
tem direito de estar na lista dos frutos do Espírito (Gál. 2:20).
A Hostilidade de Paulo
E enquanto Paulo experimenta esta alegria e encoraja os cristãos em
Filipos a “regozijarem-se no Senhor” ele acrescenta: “Acautelai-vos dos
cães”. A palavra “cães”, usada para descrever estes obreiros maus, é uma for
ma particularmente judaica de falar. Não que Paulo sentisse aversão especial
pelos animais de estimação que temos. É que um cão era considerado animal
impuro, visto que não podia ser sacrificado nem comido. Em conseqüência
disso, “cães” tornava-se uma palavra útil para descrever os gentios, aqueles
que não eram incluídos no pacto de Deus. Os gentios eram “pecadores”
(Gál. 2:15), e excluídos da presença de Deus por causa de sua imundície ce
rimonial e religiosa.’ Portanto, quando Paulo fala nos adversários farisaicos
da salvação gratuita pela graça de Deus, ele diz: “estas pessoas que se consi
deram povo verdadeiro de Deus são realmente “Cães”, são alienados, são
gente de fora. Fica mais claro ainda no versículo 2 quando Paulo os chama
de “maus obreiros”. A razão é que proclamam um evangelho diverso, que
realmente destrói a fé dos gentios que creram. Faz deles, não candidatos pa
ra os céus, mas iludidos, sem alento, a caminho do inferno. É uma situação
que deixa Paulo extremamente infeliz, mas não sem alegria. Fica furioso,
mas não perde o regozijo. Prossegue descrevendo os falsos mestres como
“cortadores”, como diz uma tradução, “mutiladores”. “Eles se mutilam” sig
nifica que estão praticando a circuncisão. Não que Paulo se opusesse à cir
cuncisão; ele próprio circuncidou a Timóteo (Atos 16:3). O que condenava
era dar a este ritual judaico um valor que não podia ter mais, especialmente
no caso dos gentios convertidos. Toda vez que uma cerimônia religiosa
adquire um significado à parte, sem ser o de engrandecer o valor de Cristo
Jesus, há um deslize da natureza daquele em que incorreram os heréticos ju-
daizantes, que semeavam mentiras nas igrejas fundadas por Paulo. Na verda
de, Filipenses 3:2 precisa ser lido em combinação com toda a Carta aos Gála-
tas. Basta lembrar o que o Apóstolo diz em Gálatas 1:9: “Se alguém lhes
prega evangelho que vá além daquele que receberam apresentando outra for
ma de ser salvo, que seja anátema”. Esse alguém era mestre perigoso, era
mesmo um cão devorador. Era pessoa para ser evitada, excluída da comunhão
dos santos.
Adoração Verdadeira
Então, Paulo continua com uma afirmação inesperada, no versículo
3: “Nós somos a circuncisão verdadeira”. Há várias passagens na Bíblia que
falam da circuncisão ser “verdadeira”. Aqui há o contraste subentendido. Se
há uma circuncisão verdadeira, deve haver uma falsa. A circuncisão era o si
nal característico do homem judeu, significando que ele estava incluído nas
promessas da aliança de Deus feitas a Abraão e aos seus descendentes. O
pacto fez com que Israel fosse o povo eleito de Deus. Dois versículos adiante
(Fil. 3:5) Paulo faz uma lista de seus bens religiosos, e põe a circuncisão co
mo o primeiro que perdeu a fim de ganhar a Cristo. Pela circuncisão Paulo
estava incluído, segundo acreditavam os judeus, no povo da aliança de Deus.
O sinal externo desse concerto era a circuncisão. Paulo diz que os represen
tantes da religião judaica não são a verdadeira circuncisão, mas que são
“cães”. Como descrentes na graça, são de fora e são impuros. Os cristãos se
tomaram os verdadeiros israelitas. Paulo inclui os gentios incorporados em
Cristo pela fé. A Igreja de Jesus Cristo se tem tornado o único herdeiro legí
timo das promessas salvadoras de Deus dadas a Abraão. A circuncisão à qual
Paulo se refere em Romanos 2:29, chamada “a circuncisão do coração”, é a
única circuncisão verdadeira. Não é um rito carnal, mas um coração muda
do. E você, leitor, você se inclui com Paulo e os filipenses nesta circuncisão
verdadeira? Já foi circuncidado de tal maneira que o arrependimento e a fé
transformaram seu coração? Sem uma circuncisão desta natureza não há vi
da! É esta circuncisão que incorpora em Cristo os pecadores perdidos. Por
isso Paulo a chama de “circuncisão de Cristo” (Col. 2:11). Nele, tanto ho
mens como mulheres foram cincuncidados, não por mãos, mas no despojamen-
to do corpo da carne na circuncisão de Cristo. A crucificação de Jesus Cristo
é a circuncisão que Deus colocou à disposição de todos nós. Confiando nele
como nosso Senhor, somos incluídos no povo verdadeiro de Deus, tornando-
nos verdadeiros filhos de Abraão e filhos de Sara (veja Romanos 4). Em re
sumo, somos o verdadeiro Israel de Deus.
Por causa de Abraão, o pai dos homens de fé de todo o mundo, as úni
cas pessoas que terão a salvação serão “israelitas” neste sentido espiritual.
Serão o verdadeiro povo judeu, aqueles cujos corações foram mudados de
acordo com a promessa da Nova Aliança. (Veja Ezequiel 36:23-32). O
Senhor prometeu que faria uma coisa nova pelo seu povo, que faria deles um
povo novo, em contraste com aquela nação profana que se afastava dele e
servia a ídolos. “Para que as nações saibam que eu sou o Senhor, vindicarei a
minha santidade através de vocês” (Ez. 36.23). Como Deus demonstrará sua
santidade perante o mundo? Primeiro, mudando, transformando os corações
dos homens, fazendo assim com que sejam Seu Povo verdadeiro. “Dar-lhes-ei
coração novo, e porei dentro de vocês espírito novo” (Ez. 36.26). O Novo
Testamento proclama o cumprimento desta promessa maravilhosa da nova
aliança. Mas, no Velho Testamento também, não há somente esta passagem
que se refere ao Novo Pacto. Está expresso no Velho Testamento, tanto co
mo no Novo, onde é proclamado como já realizado. A promessa, então, é
que Deus implantará seu Espírito transformando pessoas de corações endu
recidos, e daquelas pessoas que, antes dependiam inteiramente de si, fará ser
vidores de Deus. Porém esta nova vida da aliança só se encontra em Cristo.
Toda vez que celebramos a Ceia do Senhor, somos lembrados da “nova
aliança no seu sangue”. O sangue de Jesus Cristo crucificado, proporcionou-
nos esta vida nova que Seu Espírito nos concede. Recebendo o Espírito de
Cristo somos feitos um povo verdadeiro de Deus. Filipenses 3:3, portanto,
relaciona a verdadeira circuncisão, que aponta para o povo verdadeiro de
Deus, com a adoração verdadeira. Pois a Igreja é a reunião daqueles “que
adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confia
mos na carne”.
A adoração dos judeus em Jerusalém era conforme a carne, e não “por
intermédio do Espírito”. O culto, o serviço que ofereciam a Deus (é o que
significa a palavra latremontes que Paulo emprega, compare Romanos
12:1) não era aceitável, porque os judeus não dependeram da mediação do
Messias crucificado. Faltava-lhes o Espírito da promessa da Nova Aliança
(Jo. 3:5). Jesus explicou à mulher de Sicar que somente os que adoram em
Espírito e verdade são procurados por Deus. Todo culto carnal, por mais sa
crificial e sincero, é.rejeitado. Agora, podemos entender porque Paulo diz:
“Gloriamo-nos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne” . Gloriar-nos em
Cristo quer dizer reconhecer que somos afortunados, abençoados. O “ale
grar-se em Cristo”, recomendado por ele, só pode referir-se à confiança e
contentamento que enche o coração do cristão nascido de novo (comp.
Gál. 6:13-14 onde Paulo limita o “gloriar-se” exclusivamente à Cruz. Obser
ve seu uso freqüente da palavra kauchemai (“gloriar-se”) em 2 Coríntios
também).
Conclusão
Cada um de nós nos envolvemos na mesma questão de Paulo. Temos
uma vontade ingênua de equilibrar as contas das duas colunas, de tal forma
que nenhum lado perca. Será que cada um de nós também não deseja poder
ganhar algo que venha da carne; alguma vantagem, algum reconhecimento,
alguma posse na qual possa estar mais seguro? Paulo nos diz que até o ponto
e na proporção em que nos firmamos nestes recursos, já perdemos a Jesus
Cristo (conf. Gál. 5:2). Por outro lado, se você já perdeu tudo, toda a espe
rança auto-produzida da aprovação de Deus, toda sua justiça própria, tudo
que você faz em questões espirituais, então Cristo pode ser de valor eterno
para você. A palavra “carne” significa simplesmente o que você pode fazer
sozinho, independente do auxílio de Deus incluindo todo o bem que já
fez e que não foi considerado perda. Se você está dependendo da “carne”,
então você não chegou a conhecer Cristo de maneira nenhuma! Ninguém faz
de Deus o seu devedor.
Conhecer a Cristo realmente significa um cancelamento definitivo, ris
car completamente aquela primeira coluna de recursos, cheia das provas de
nossas boas obras. Na outra coluna está somente Cristo. “Só ali pode ser vis
to o valor supremo de ter Jesus como Senhor e Salvador. Conhecer o Filho
de Deus está muito, muito acima de todo o valor ganho com esforço próprio
que antes pensava possuir”.
O valor real em troca de supostos recursos é para você também, se
conhece a Cristo como Paulo o conhecia. Se você o conhece pela fé, se o
conhece como aquele de quem tudo se origina, se o vê como quem lhe deu a
vida, e tem todo direito ao seu amor e lealdade, então você O “ganhou” . Se
você se apega a ele, chegando-se a Cristo naquele relacionamento de concen
tração total, então o verá como Aquele de quem procedem todas as coisas
para você, e saberá que tudo existe para ele. Em termos bíblicos, isto é ex
presso em uma pequena frase que se refere a Deus: “Porque dele e por meio
dele e para ele são todas as coisas” (Rom. 11:36). Se é assim que você consi
dera a Jesus Cristo, você perdeu tudo para ganhar a pérola de grande preço.
As escolhas significativas e a volta da estrada foram ordenadas por Ele, não
por você. A maneira de você pensar e usar seu tempo e recursos materiais,
tudo contribui para mostrar como você se relaciona com Jesus Cristo. Diga
mos assim: “Se você o escolhe, então tudo mais deve perder o valor, tor
nar-se mesmo como lixo ou “refugo” , para usar a palavra de Paulo no versí
culo 8. Precisa ser como todo aquele trigo que foi jogado ao mar, do navio-
prisão em que Paulo viajou, ameaçado e agitado por aquelas ondas gigantes
cas (At 27:17 em diante), Não nos admira o fato de Paulo estar tão alegre e
disposto! É lógico que recomenda-se aos leitores que se alegrassem no
Senhor, porqüe um ganho incomparável tinha substituído todas as perdas do
passado e do presente.
Examine sua vida hoje. Onde você está em relação a perder tudo a fim
de ganhar a Cristo?
Oração: Ó Deus Senhor, nós o louvamos porque a salvação não pode
ser conseguida pelo nosso próprio esforço. Se pudesse, quem saberia, com
certeza, que já havia tentado o suficiente? Muito obrigado por um Salvador
perfeito, Jesus Cristo, que morreu para pagar todos nossos pecados, e que
vive para mudar nossos valores centralizados em nós mesmos para os centra
lizados Nele.
A AMBIÇÃO DE PAULO
Filipenses 3:9-16
9 - e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede
de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que pro
cede de Deus, baseada na fé; 10 — para o conhecer e o poder
da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, confor
mando-me com ele na sua morte; 11 - para de algum modo al
cançar a ressurreição dentre os mortos. 12 - Não que eu o
tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo
para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por
Cristo Jesus. 13 - Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo al
cançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que
para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
14 - prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação
de Deus em Cristo Jesus. 15 - Todos, pois, que somos perfei
tos, tenhamos este sentimento; e, se porventura pensais doutro
modo, também isto Deus vos esclarecerá. 16 - Todavia, ande
mos de acordo com o que já alcançamos.
A auto-biografia que Paulo começou a contar no v. 4, continua até o
v. 16. Só uma vírgula separa os vs. 8 e 9. A divisão em duas mensagens foi
feita unicamente por conveniência e não pelo conteúdo do texto. Nos vs.
4-7 o apóstolo fala do seu passado, incluindo a mudança transcendental pela
sua conversão (v. 7). O v. 8 apresenta como ele encara o presente, trocando
tudo pela “sublimidade do conhecimento de Cristo”. Na última passagem
deste verso e no restante da passagem, parece que Paulo contemplava um
futuro que incluia seu relacionamento com Cristo, após a existência presente
ser trocada pela nova vida através da ressurreição (vs. 11, 14). Ele desenvolve
neste trecho sua mais profunda ambição. Concentra todas as suas energias
no prosseguimento para alcançar aquela meta que, por si, explica a extraor
dinária dedicação do famoso missionário aos gentios. Qualquer indivíduo
que pretende ser um homem de Deus, não poderá deixar de aproveitar a van
tagem de adotar esta mesma ambição.
A Meta de Ser Achado em Cristo
0 motivo que o apóstolo tem para lançar fora do barco de sua vida re
ligiosa, todos os valores anteriormente buscados com tanto afã, se encontra
no v. 9: “ser achado nele, não tendo justiça própria... senão a que é median
te a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus...”. Este versículo apresenta
o cerne da doutrina paulina da salvação em Cristo. Se pela fé renunciamos
toda justiça própria e recebemos aquela oferecida por Deus mediante a fé
n’Ele, garantimos o mais precioso de todos os valores. A união com Cristo
pela fé, que nos enxerta n’Ele (também chamada de “união mística”), pela
operação do Espírito Santo (cf. 1 Cor. 12:13 e Gl 2:20), nos garante a parti-
cipação na própria justiça impecável de Cristo. Essa justiça Deus oferece de
graça à todos que confiam no Seu Filho. A justificação (o ato divino que le
galmente nos absolve dos nossos pecados e nos declara justos) não depende
de nada bom ou justo que possamos oferecer em troca. Deuz fez tudo para
que não tivéssemos em nós motivos de glória (Ef. 2:8, 9) e para que só exal
tássemos a Jesus Cristo. Assim, Paulo deixa claro que a justificação pela fé e
a união com Cristo são realidades equivalentes. Ambas explicam o porque
dos pecadores salvos gozarem da justiça que eles não podem produzir. Não é
por retidão ou piedade por eles alcançadas, mas por dádiva completamente
gratuita. O nono versículo, portanto, explica a realidade válida para todos os
que, como Paulo, consideram todas as coisas como refugo (v. 8). A fé que se
destaca, repetida duas vezes no v. 9, tem então um aspecto negativo (perder
tudo que possa fornecer motivo de auto-confiança ou orgulho e igualmente
um positivo. Pela fé nos identificamos com Cristo, confiamos n’Ele e nos en
tregamos à Ele. Somos unidos com Elee n’Ele permanecemos (cf. Jo 15:3-11).
Portanto, ele é nossa “justiça”, escreveu Paulo aos coríntios (I Co 1:30).
Seria um erro fatal, no entanto, concluir que a fé proporciona um descanso
excluindo o esforço, numa sonolência absoluta. A justiça inputada por Deus
deve ser praticada pela dinâmica que surge da vida de Cristo em nós. Todo o
zelo que Saulo de Tarso empreendia no esforço para cumprir a lei e merecer
a aprovação divina passou a busca do reino de Cristo (cf. Mt 6:33). Desliga
do da frenética corrida para a justiça própria, Paulo encorajou-se para a ex
ploração do relacionamento com Cristo. O amor por Ele (cf. v. 8) substituiu
o amor próprio.
Conclusão
Ao meditar nesta declaração auto-biográfica, não é fácil escapar à acu
sação íntima de que somos espectadores. Nossas ambições estão mais volta
das para vantagens mundanas do que para prêmios celestiais. Mas Deus é ca
paz de refocalizar nossa visão e renovar nossa ambição pelo alvo.
Oremos. Senhor, tu vieste a este mundo para exemplificar uma consa
gração total ao Pai. Confessaste: “Aquele que me enviou está comigo, não
me deixou só porque eu faço o que lhe agrada ”. Paulo, sem ser perfeito,
também demonstrou uma vida concentrada na ambição de cumprir o minis
tério para o qual foi chamado. E nós, Senhor? O que impede que tam
bém descubramos o motivo para o qual nos convocaste para Ti? Convence-
nos do comodismo, do orgulho, e derrama em nós um amor renovado por
Cristo, em nome de quem rogamos, Amém.
O CORPO
Filipenses 3:17-21
17 - Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam se
gundo o modelo que tendes em nós. 18 - Pois muitos andam
entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos di
go até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo: 1 9 - 0
destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória
deles está na sua infâmia; visto que só se preocupam com as
cousas terrenas. 20 —Pois a nossa pátria está nos céus, de onde
também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, 21 — o
qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual
ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem
de até subordinar a si todas as cousas.
Introdução
Facilmente confundo os fatos, mas se a minha memória não falha, lí
há tempos, que a preocupação prioritária do norte americano é a saúde.
Creio que seria nossa preocupação também aqui. Quando perguntamos,
“Como está?” normalmente indagamos “Como está fisicamente?” . “Como
está o seu corpo?” Está doente ou bom?” “Está com dor de cabeça ou se
sente capaz de voar”?, tendo asas, claro. Para nós, então, o corpo é o que
mais importa. Talvez os cristãos afirmariam, “Não, não é meu corpo, mas a
minha alma, meu espírito que destaca-se com proeminência”.
Não seria difícil mostrar que a Bíblia concede um significado imenso
ao corpo. Não tanto a “meu corpo”, sendo que biblicamente se destaca mais
a verdade que “somos corpo”, do que, “tenho corpo” . Observemos, portan
to, algumas verdades da Bíblia sobre esta realidade física.
Epicureus e Estóicos
Também pelo fato da vida ser corporal, devemos refletir uns instantes
sobre a morte. Os epicureus gregos (cf. At 17:18) conceberam a morte como
os psicólogos modernos que seguem o pensamento de B.F. Skinner da Uni
versidade de Harvard. A morte é simplesmente a desintegração das moléculas
que, juntas, mantém a vida corporal. Assim como cortar um nervo, cessa a
transmissão dum sentido porque o impulso elétrico não pode passar, a vida
cessa quando não há mais impulsos elétricos no cérebro. Para o epicureu que
aprendeu com Demócrito ou Lucrécio, ou o homem moderno que limita o
significado da vida a processos mecânicos e biológicos, a influência mecânica
atinge diretamente seu modus vivendi. “Se os mortos não ressuscitam, coma
mos e bebamos, que amanhã morreremos” (I Co. 15:32), revela a filosofia
decorrente da concepção de morte a qual nos apegamos. Não há outro está
gio de vida, apenas aniquilação, um nada infinito, como pensava Jean Paul
Sartre, existencialista francês moderno, recentemente falecido.
Para os estóicos (cf. At 17:18), morrer era o clímax da vida. Como
Sócrates, os estóicos almejavam morrer com coragem, bela e tranqüilamente.
Assim, o espírito do morimbundo se une com a mente espalhada em todo o
universo. Era um modo de pensar que aproximava-se do panteísmo. Assim
Platão achava que pela morte o homem era novamente unido ao ideal, o
deus universal do mundo de idéias. A personalidade individual desaparece
como a gota de água no mar. Também se assemelhava a doutrina budista do
nirvana, em que se esperava perder a consciência no eterno inconsciente.
Introdução
Aprendi a dirigir com um primo que dava voltas num caminhão que
apanhava leite ao longo dos caminhos poeirentos da Carolina do Norte, nos
Estados Unidos. João dirigia um caminhão que levava as latas de vinte ou
trinta litros de leite das chácaras e sítios para a usina onde se condensava e
se enlatava o leite. O rótulo das latas de leite comunicava aos consumidores
que o leite viera de vacas contentes. Eu sei pessoalmente que nem todas as
vacas que forneceram esse leite para a companhia “Carnation” estavam sem
pre contentes. Tirando leite em certa ocasião, a vaca deu um coice no balde
que me molhou com todo aquele líquido branco. Então, eu fiquei descon
tente!
O primeiro parágrafo de Filipenses 4 tem muito a dizer sobre conten
tamento. Leiamos o texto dos primeiros sete versículos.
Alguém, com uma boa dose de sabedoria, acertou, na verdade, ao de
clarar que contentamento estraga o mundo. Para esse crítico, contentamen
to significava simplesmente acomodação e complacência. Quem é compla
cente não se perturba com as favelas que rodeiam as grandes metrópoles.
Não se incomoda com os milhões de mal-nutridos, morando em choupanas
de velhos pedaços de madeira e lata, onde a chuva e o frio penetram sem im
pedimentos. O complacente não se importa com milhares de operários não
registrados, nem com muitos que tentam sustentar a família com o salário
mínimo ou menos, e não têm emprego seguro. Não se preocupa com milha
res de crianças que não freqüentam a escola, ou pior ainda, são abandonadas
por pais irresponsáveis. Complacência abafa a corrupção, apoiando a deca
dência moral do povo. Conforma-se, contudo, para não ter que se preocupar
com o mal que corrói o mundo.
Não é complacência que desejo comunicar com o vocábulo “contenta
mento”. Quero, pelo contrário, lembrar-lhes duma raiz da palavra: contenta
mento, vindo de “contém” e “contido”. Trata-se da vidacftew de satisfaçíto,
porque contém todos os elementos que devem “encher” a vida. É o oposto
da vida de sonhos, tempo e mentes vazias, sem alvos alcançados por causa da
indolência e ociosidade. Contentamento é fruto de energia bem usada, de
cisões acertadas, porque sob a direção de Deus se investiu o necessário para
conseguir os objetivos que Ele colocou no coração. Foi Paulo que aproxi
mando-se do fim de sua vida escreveu para Timóteo. “De fato, grande fonte
de lucro é a piedade com o contentamento” (I Tm 6:6).
O Contentamento de Paulo
Sabem que um dos termos chaves de Filipenses pode ser a palavra
“alegria”. Quatorze vezes em forma nominal ou verbal o apóstolo menciona
a alegria que invade a vida cristã real. Da sua injusta prisão ele expressa seu
contentamento em primeiro lugar pela sua família em Cristo que ele chama
de “irmãos”. Mesmo estando preso, e ainda mais, enfrentando a possibilida
de de morte violenta, o velho apóstolo pensa nos seus “filhos amados” duas
vezes neste primeiro versículo. Emprega o mesmo vocábulo grego que Deus
Pai usou ao declarar que Jesus era seu filho amado (Lc 3:22).
Amor pelos irmãos que compuseram a igreja de Filipos encheu o co
ração daquele que investiu suor e sangue para ganhá-los. Naturalmente,
Paulo sentia contentamento. 0 terceiro termo “saudosos” traduz uma pala
vra cheia de emoção e profundo desejo, que aparece apenas quatro vezes no
Novo Testamento (duas em Filipenses, veja também 1:8). Em I Pe 2:2 co
munica o ardente desejo que um nenen tem para o leite, e que o recém-con-
vertido deve ter para a Palavra de Deus. Saudade caracteriza o impulso forte
natural que leva os pais para estarem juntos com seus filhos ou o marido e a
mulher para eliminarem a distância que os separa. Querer estar juntos surge
da imensa apreciação e amor como se vê no caso do jovem que fugiu de casa
reyoltado. Passados anos de separação, repletos de variadas atividades re
pugnantes aos ideais paternos sem ter-se comunicado com os pais, chegou ao
desespero. Idealizou um plano em função do fato que a estrada de ferro
passava nos fundos da casa de seus pais. Mandou um bilhete aos pais suge
rindo que pendurassem uma tira de pano branco visível do trem onde passa
ria. Esse sinal indicaria o seu desejo de que o pródigo voltasse para casa. No
dia marcado, o jovem, desesperado e ansioso, viajava rumo a sua cidade te
mendo a ausência de qualquer sinal de convite para voltar a seu antigo lar.
Grande foi a sua emoção ao contemplar, não uma tira de pano branco, mas
vinte ou trinta tiras amarradas em ramos, arbustros e galhos! 0 jovem naque
le instante percebeu a profundidade da saudade imerecida que os pais guar
davam para com o filho rebelde.
A igreja era a “alegria” de Paulo. Esta quarta maneira de descrever o
contentamento com essa comunidade, dispensa maiores comentários. Forne
ceram para o sofrido pastor-evangelista a alegria de satisfação. Como um te
souro preciosíssimo, os filipenses amados provocaram uma fonte de gozo a
jorrar no coração de Paulo. Não só durante esta vida apenas, mas para todo
o sempre. O contentamento com o fruto do seu trabalho na primeira igreja
implantada por Paulo no solo europeu (cf. At 16), o acompanharia.
O quinto termo descritivo, “coroa” , acrescenta a idéia de festa e cele
bração. O stephanos (“grinalda” , “coroa”) não era feito de ouro e pedras
preciosas, porque não sinalizava autoridade de rei ou imperador. Pelo con
trário, comunicava heroísmo, por exemplo, um atleta que ganhasse uma
competição (cf. I Co 9:24, 25). Assim era a honra outorgada a um casal na
festa de casamento. Uma coroa composta de folhas e flores, posta na cabeça,
marcava quem recebia o reconhecimento dos hóspedes. Paulo lembra, por
tanto, aos filipenses que eles tornaram sua prisão em salão de festa e ocasião
de celebração constante. Forneciam-lhe o sentimento de um herói coroado.
E quem é para nós tal motivo de celebração? Quem agora, ou futuramente
na eternidade será para nós o sinal do prêmio ganho? O missionário Davi
Brainerd norrendo aos vinte e nove anos de idade, após rigoroso desgaste na
evangelização dos índios norte-americanos, disse: “Não teria gasto minha vi
da de outro modo por causa alguma no mundo”. Aí está a expressão de con
tentamento na hora mais importante da vida.
Moderação Evidente
Além da constante alegria que o crente deve mostrar, também necessi
ta de moderação que o mundo observará (Fp. 4:5). A palavra grega epieikês
comunica uma atitude de consideração e grandeza de coração, capaz de per
doar e desprezar os próprios direitos justos. Contrasta-se com a brutalidade,
excesso de rigor na aplicação da lei em detrimento do réu. No A.T. este vo
cábulo expressa a graciosa gentileza do governo de Deus (cf. I Sm 12:22; SI
86:5). No N.T. aponta para a personalidade mansa de Jesus que convidou os
fracos, necessitados e cansados a gozarem do seu alívio (Mt 11:28-30). A
mansidão e benignidade de Jesus Cristo (2 Co 10:1), formam uma base para
a exortação de Paulo aos Coríntios que tão obviamente careciam dessa qua
lidade. Mas a Igreja de Cristo deve ter renome pela benignidade e gentileza
que a caracterizam. Demonstrar serenidade é uma das qualidades mais apa
rentes no contentamento. O cristão que reivindica para si o direito de julgar
o próximo (cf. Tg. 4:11, 12), condenando sem brandura ou mansidão, toma
o lugar do amoroso juiz, Jesus, apontado para julgar os homens. Fica paten
te que, à medida que a igreja perde sua benignidade “diante dos homens”,
perde também sua qualidade de povo convidativo e contente.
A Paz do Senhor
Um dos mandamentos menos observados pelos filhos de Deus é o de
não permitir que a ansiedade sobre cousa alguma penetre no coração
(v. 6). Talvez você seja semelhante a uma panela de pressão que à medida
que as circunstâncias se tornam mais e mais quentes, a pressão aumenta.
Lembro de ter visto uma vez no teto duma cozinha, o efeito da excessiva
pressão de vapor numa panela que acabou explodindo. Descontentamento se
externa com reclamação e queixumes. Mas, reprimido no coração, poderá
levar a uma explosão com conseqüências incalculáveis. E como é difícil per
doar quem perdeu o controle, particularmente aquele que se dizia “crente”.
Semelhante ao erro permanente ou ao pecado que nunca tem perdão é
aquela ansiedade que não se neutralizou na “paz de Deus” (v. 7), aumentan
do até explodir em palavras ou atos violentos (Tg. 3:8-12).
Meus amados leitores, já conseguiram experimentar a “paz de Deus que
excede todo o entendimento”? Como o óleo que “excede” porque absorve a
alta temperatura do motor, e ao mesmo tempo lubrifica todos os pontos de
pressão e atrito, assim acontece com a paz divina. Ela emana da segurança
absoluta, de que todas as circunstâncias que surgem na vida, especialmente
as que estão fora de nosso controle, são as melhores para mim. Deus, nosso
Pai onipotente, onisciente e amoroso, escolheu cada detalhe da vida passada
e futura para nosso bem.
A promessa da paz que excede e que guardará nossos corações e men
tes em Cristo Jesus (v. 7), evidentemente, não foi oferecida a todos os cris
tãos! Doutra maneira não haveria crentes preocupados com o presente e te
merosos do futuro. Como se explica a falta de paz em tantos corações? Deus
inspirou seu apóstolo a escrever as palavras infalíveis deste verso. Mas na ex
periência do dia-a-dia, as mentes e coração dos irmãos são mais pertubados
que as ondas do mar num furacão (cf. Jo 14:17; 2 Co 2:13). Não é de admi
rar que o mundano incrédulo, na maioria dos casos, procura o psiquiatra
para ajudá-lo a conquistar sua ansiedade, e não a Igreja de Cristo. Se esta paz
que excede o entendimento estivesse à venda, muitos se prontificariam a pa
gar milhões para adquirí-la. Mas se os seguidores de Cristo não tem a so
lução, como se espera que os descrentes acreditem nesta promessa?
Não creio que Paulo sugere que a paz celestial dominará o coração de
.todo crente como as águas cobrem o mar. Se a divulgação desta paz fosse
automática, não haveria no texto o mandamento aos crentes, “Não andeis
■ansiosos de cousa alguma” (v. 6). Mas a segunda parte desse verso manda
que “em tudo porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições,
pela oração e pela súplica, com ações de graça. ” O antídoto à ansiedade e
descontentamento não encontra-se em outra ação senão na oração de fé. A pa
lavra “porèm” (alia no grego) expressa nitidamente o contraste. Pensamen
tos que trazem ao coração revoltantes e horríveis possibilidades devem ser
vencidos pela comunhão com Deus na oração, juntamente com petições es
pecíficas, e marcadas com “ações de graça”. Quando oferecemos o verda
deiro sacrifício de gratidão a Deus (cf. Hb 13:15, 16), admitimos que Ele
tem o direito de nos atender segundo lhe parecer bem. Reconhecemos
abertamente que Deus faz com que todas as vicissitudes da vida cooperem
para o bem daqueles que o amam (Rm 8:28). Lancemos nele toda nossa
ansiedade. Descansaremos no cuidado que Ele tem por nós (I Pe 5:7).
Se observarmos, de fato, as condições tão claramente expostas por
Paulo, a paz de Deus “guardará” nossos corações e mentes. O termo, guar
dará (no grego phrourevõ) literalmente sugere uma proteção interna. Em 2
Cor 11:32, o rei Aretas tentou evitar a fuga de Paulo, com um destacamento
de soldados dentro da cidade de Damasco. A palavra significa proteção inter
na potente ou invulnerável aos ataques externos. Com a oração eficaz colo
camos sentinelas às entradas da mente e do coração para impedir a penetra
ção de pensamentos oriundos do tentador. Satanás deseja ardentemente ex
pulsar a paz de Deus do íntimo do cristão, sabendo que desse modo estará
pondo em dúvida a própria fé dos salvos.
Conclusão
O direito do crente é o contentamento. A insatisfação representa o
sintoma de algo errado, precisando ser corrigido. Neste parágrafo tão sugesti
vo, Paulo apontou para sua satisfação com a comunidade dos filipenses e
seus auxiliadores que labutavam no ministério pastoral. Ficou descontente,
sem dúvida, com o desentendimento que tornou as cooperadoras Evódia e
Síntique inimigas, mas contava com um fiel companheiro junto a Clemente
e outros obreiros para resolver a questão.
Os fatores elementares do contentamento, frisados por Paulo, são:
1) alegria no Senhor, não nas circunstâncias sujeitas a tão bruscas mudanças.
2) um espírito tolerante e misericordioso que se afasta da obrigação de co
brar todos os direitos, ou vingar-se de todas as injustiças. 3) Paulo apresenta
a ansiedade como pecado, o oposto da oração e gratidão. Por meio da peti
ção e confiança no Senhor, podemos usufruir da sua paz interna, não impor
tando as circunstâncias ameaçadoras. Busquemos incansavelmente esta
“grande fonte de lucro que é a piedade com contentamento. ” (I Tm 6:6).
Oração: Senhor, tu és a nossa paz. Sem ti não teríamos nem propósito
e nem segurança. Fortalece nossa fé. Firma em nós a confiança que Cristo
está perto e responde às nossas petições. Guarda nossos corações na tua paz
para que os incrédulos possam perceber a vitória que tu nos dás por causa da
tua graça imerecida. Amém.
O DEUS DA PAZ SERÁ CONVOSCO
Filipenses 4:8-13
8 - Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que
é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se
algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.
9 — 0 que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vis
tes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco. 10 -
Alegrei-me sobremaneira no Senhor porque, agora, uma vez
mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também
já tinheis antes, mas vos faltava oportunidade. 11 - Digo isto,
não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em
toda e qualquer situação. 12 - Tanto sei estar humilhado, co
mo também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias
já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de
abundância, como de escassez; 13 — tudo posso naquele que
me fortalece.
Introdução
Poucos anos atrás, dormindo numa dependência dum acampamento
em Piauí, acordei bem antes do sol despontar ou mesmo a luz do novo dia
raiar. Ouvi o ruído familiar de asas batendo dentro do quarto sem teto. Só
depois de algumas horas verifiquei que não se tratava de um passarinho co
mo pensava, mas morcegos. Agilmente entravam e saiam a procura de inse
tos invisíveis na escuridão. Os morcegos equipados com um tipo de radar so
noro não encontravam dificuldade alguma em descobrir aberturas por onde
entrar e sair. Lembrei-me da observação verdadeira. Não podemos evitar que
os “morcegos” penetrem em nossas cabeças, mas não somos forçados a lhes
permitir fazer ninhos em nossos cabelos!
Pensamentos são companheiros constantes enquanto vivemos acorda
dos. O apóstolo aprisionado deve ter contemplado o aparecimento de inú
meros pensamentos.
No v. 6 acima, Paulo exortou os filipenses a não andarem ansiosos de
cousa alguma. A ansiedade reflete pensamento sobre possíveis acontecimen
tos desastrosos do futuro que amedrontam o indivíduo que permite tais “mor
cegos” penetrarem em sua mente... Vimos que a maneira mais efetiva para
combater pensamentos negativos tais como o medo do futuro, é pela oração.
Pensamentos Vigiados
No versículo 8 Paulo reapresenta o lado positivo em relação à mente.
Um filho do Rei dos Reis, deve prestar homenagem ao Deus que lhe concede
paz que não pode ser explicada humanamente (v. 7), concentrando sua ati
vidade mental em “tudo que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o
que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama
Creio que Deus quer que tornemos um hábito esta triagem do nosso
pensamento. Aprendemos com a assistência do Espírito, que foi outorgado
para santificar nossa mente, a vigiar as aberturas por onde entram “morce
gos”. Tanto “virtude” como “louvor” oferecem uma meta para focalizar a
ocupação da mente (v. 8b).
Conclusão
Esta passagem começou apelando para o pensamento controlado por
Deus. Prosseguiu com um convite para praticar os ensinamentos transmiti
dos por palavras e pela vida de Paulo, assegurando-nos a presença de Deus
que dissemina a paz. Termina nos w. 10-13 revelando a transbordante ale
gria, sentida por Paulo ao constatar novamente que Deus supria todas as ne
cessidades, materiais e pessoais. Quantos de nós poderíamos testemunhar
tão bela comunhão com Aquele que nos amou e entregou-se a si mesmo por
nós?
Oração: Õ Senhor, que queres compartilhar conosco a tua mente, tua
paz e teu contentamento, cria em nós ardente desejo e fé confiante para re
ceber tudo que tanto queres nos dar. Amém.
A NECESSIDADE E O SUPRIMENTO
Filipenses 4:14-23
14 - Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribu-
lação. 15 - E sabeis também vós, ó filipenses, que no inicio do
evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se asso
ciou comigo, no tocante a dar e receber, senão unicamente vós
outros; 16 - porque até para Tessalônica mandastes não so
mente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessi
dades. 17 — Não que eu procure o donativo, mas o que real
mente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito.
18 - Recebi tudo, e tenho abundância; estou suprido, desde
que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa par
te, como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a
Deus. 19 - E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há
de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades.
20 - Ora, a nosso Deus e Pai seja a glôrid pelos séculos dos
séculos. Amém. 21 - Saudai a cada um dos santos em Cristo
Jesus. Os irmãos que se acham comigo vos saúdam. 22 - To
dos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César.
23 - A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espirito.
Introdução
Nesta semana, enquanto meditava na mensagem destes versículos,
ocorreu-me um novo pensamento, ainda que velho, sem dúvida, para alguns.
Surgiu-me a idéia de que Deus desenhou este mundo para funcionar no prin
cípio de necessidade e suprimento. Esta ecologia global explica satisfatoria
mente tudo que doutra forma seria apenas mistério. Por exemplo, imagine
uma semente sem terra onde fosse capaz de germinar, se desenvolver e criar
plantas que produzem outras sementes. Semente sem solo seria um ponto de
interrogação — não imaginaríamos porque veio a existir. Mesmo que acredi
tássemos muna inteligência e poder suficientes para fazer uma semente, não
estaríamos em condições para descobrir sua razão de ser.
As plantas necessitam de luz para crescer. Não achariam estranho plantas
que não se desenvolvem porque não há luz? Num mundo distinto do nosso,
como a lua, não existe água nem mar. Impossível é cogitar uma criação
como a nossa sem chuvas, rios, mares e atmosfera. A ecologia da criação de
Deus está de tal modo gravada em nossa consciência que necessita de supri
mento.
Que achariam de corpos sem vida? Lembro-me de uma vez no porão
de uma catedral de Dublim, Irlanda do Sul, apertei a mão dum senhor que
participou de uma cruzada há mais de oitocentos anos passados. Claro que
este veterano não estava vivo, mas seu corpo secou como a múmia dum fa
raó. Não havia mal cheiro provocado pela decomposição, nem atraía a con-
corrência como um velório dum amigo recentemente morto. Como seria ter
corpos assim, sem vidas em nossas casas, escolas ou igrejas? Assim nossa civi
lização manifesta sua inteligência.
Para nossas estradas produzimos carros, ou vice-versa. Carros sem ruas
ou estradas sem carros nos pareceriam uma loucura. Os cientistas tentam des
cobrir a utilidade daquelas linhas de quilometros de comprimento, perto de
Nasca ao longo da costa peruana. Parecem caminhos mas não ligam centros
de população; um suprimento para que?
Como seria ter carros sem gasolina ou lâmpadas sem eletricidade, ban
cos sem dinheiro ou cheques, um povo com muito dinheiro mas nada para
comprar, ou fábricas sem produtos para produzir. Vivemos em contato cons
tante com a ecologia de necessidade e suprimento. Conta-se que um senhor
sonhou que ganhou cem milhões na loteria. Ficou tão alegre que pulou da
cama, cantando e assoviando. Entrou no chuveiro, mas abrir\do o registro
não havia água. Apertou o interruptor para acender a luz —não havia eletrici
dade. Saiu para comprar seu jornal mas não encontrou ninguém na banca. A
padaria estava vazia, nenhum ônibus circulava. Parou na casa dum amigo pa
ra indagar sobre o que acontecia. “Não ouviste?”, informou o seu vizinho,
“todo mundo ganhou cem milhões e ninguém mais trabalha” . A boa sorte
era a ligação íntima entre a necessidade e o suprimento.
Se a ecologia fundamental da criação e da civilização se caracteriza por
suprimento e necessidade, deve, igualmente, ser natural para a igreja. Deus
criou a igreja para suprir a necessidade que Ele também colocou em nossos
corações. Igreja sem membros seria mistério ou um contrasenso. Mas exis
tem irmãos na igreja que não pararam para pensar seriamente quais seriam as
necessidades para as quais a igreja foi formada, pelo Espírito de Deus, para
supri-las. Paulo não deixou de reconhecer este princípio e nem a igreja de
Filipos. Os membros dessa igreja estavam conscientes da natureza da partici
pação na comunhão do Corpo de Cristo. Cada indivíduo tem necessidades
que o corpo pode suprir, mas o próprio corpo é composto desses membros
que suprem as necessidades da comunidade. Destarte, o corpo ilustra melhor
do que qualquer outra metáfora esta ecologia de suprimento e necessidade.
Quando uma parte do nosso corpo físico deixa de funcionar bem, te
mos certeza de que não está recebendo o que precisa. Por exemplo, su
ponhamos que tenho câncer ou tuberculose nos pulmões. Pelos pulmões o
sangue toma o oxigênio necessário para distribuí-los às células do corpo to
do. Mas se os pulmões suprem pouco oxigênio para o corpo, eles mesmos
sentem a falta do oxigênio necessário para funcionar bem. Felizmente, Deus
colocou no corpo humano os meios necessários para suprir as carências de
todas as partes. Apenas no caso de doença, o corpo sofre a falta no sistema
ecológico, mas também, mesmo assim, depende da assistência médica do
próprio curativo que quase sempre restabelece o homem enfraquecido. Dou
tro modo, morreríamos com a primeira doença que, eventualmente, nos
atingisse.
Notamos que o v. 14 mostra a necessidade de Paulo e o suprimento da
igreja de Filipos, “Fizestes bem, associando-vos na minha tribulação Falta
ram recursos para viver na prisão, já que os presos dependiam de parentes ou
amigos para alimentos, roupas e tudo mais. Por amor, os filipenses compar
tilharam com Paulo os bens e fundos que podiam sacrificar, uma vez que ele
nao tinha condições para suprir sua própria falta. Dessa maneira, os filipen
ses mostraram que a doutrina do Corpo de Cristo era mais do que uma figu
ra. Era realidade concreta. Tal associação (gr. sugkoinonesantes, “partilhar
junto”, “participar em comum”) apresentava o quadro sobre o qual Jesus
afirmou que iria persuadir o mundo da autenticidade de seus discípulos
(Jo 13.35). O sinal da genuína conversão dos filipenses foi sua prontidão em
suprir a necessidade de Paulo. Na igreja de Jerusalém, diz Lucas, “nenhum
necessitado havia entre eles" (At 4:34). Por outro lado, não devemos esque
cer que não há outra opção, segundo I Jo 3:17; “Aquele que possuir recur
sos deste mundo e vir seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o coração,
como pode permanecer nele o amor de DeusT’ Para que a igreja seja o Cor
po de Cristo, as necessidades devem ser supridas para evitar a hipocrisia. É
falsidade reivindicarmos o direito de nos chamarmos a igreja de Cristo se não
colocamos em prática a ecologia do amor de Deus.
Em escala mais ampla, as igrejas da Macedônia demonstraram a graça
de Deus que lhes foi concedida. Mesmo em grande tribulação (aperto e ne
cessidade) e profunda pobreza, “superabundou em grande riqueza da sua ge
nerosidade” (2 Co 8:1, 2). Pediram a Paulo o privilégio “de participarem da
assistência aos santos" (2 Co 8:4). Partilharam seus bens tão escassos não
porque Paulo os .persuadiu ou os pressionou, mas porque a “graça de Deus”,
equivalente ao “amor derramado em nossos corações" (Rm 5:5) lhes cons
trangeu (2 Co ,5:14).
E não era a primeira vez que os filipenses mandavam suprimento para
o apóstolo. Logo após a sua partida da Macedônia, eles enviaram a Paulo em
Tessalônica, duas ofertas, suficientes para satisfazer suas necessidades (Fp
4:15, 16). Outras congregações não sentiram qualquer obrigação em susten
tar esse obreiro (v. 15) que tanto receio tinha de revelar suas próprias ne
cessidades (cf. I Co 9:12, 15). Paulo ficara convencido que seu Deus supriria
cada uma das suas necessidades (v. 19), Não se preocupava com suas necessi
dades uma vez que Deus o arregimentara para seu exército. Ele, certamente,
como bom general, não deixaria de suprir o essencial para que esse guerreiro
pudesse lutar na guerra santa despreocupadamente (cf. I Co 9:7; 2 Tm 2:4).
Mas, para muito crentes, e até obreiros, há uma distinção notilvi‘1entre
“necessidade” e o “essencial” . Tentei uma vez definir o que scrln lima ne
cessidade. Não aproveitei a definição do dicionário, mas concluí que uma
necessidade representa uma falta que ao ser suprida, redunilíi num bem
maior. Pode-se imaginar que a lua necessita de habitanes lunams, Mn,s nin
guém estaria pronto a viajar até a lua para morar antes de ter ceilivu que re
sultaria no bem dele e do mundo.
Certa vez, o famosos pastor Harry Ironside da igreja de Moody, em
Chicago, foi convidado para pregar em Fresno, na Califórnia. Era jovem ain
da e a igreja de Fresno não pensou nas suas necessidades. Tinha o pastor ape
nas o dinheiro suficiente para pagai uma noite no hotel. Pensou “se a igreja
de Fresno não me pagar o suficiente não poderei saldar a minha conta”. De
cidiu sair para o parque para dormir. Reclamou bastante a Deus pela falta de
recursos e o aparente desinteresse da igreja. Enquanto queixava-se da falta
de tudo, veio-lhe a mente a frase: “Meu Deus... há de suprir... cada uma de
vossas necessidades” (Fp 4:19). Começou a refletir sobre quais seriam suas
necessidades. Descobriu que o essencial era recarregar as suas baterias espi
rituais. Foi aquela uma noite de confissão e avivamento para seu espírito
amargurado. Uma vez: resolvido o essencial no íntimo, as reuniões correram
muito melhor. O povo teve compaixão dele, convidando-o para suas casas e
cuidando dele tão bem que voltou para casa pesando um quilo amais. No fim
dessa semana tão marcante recebeu uma carta do seu pai que disse “Tenho
me impressionado com Filipenses 4:19. Meu Deus há de suprir cada uma de
suas necessidades. De fato, Ele assim fará. Uma dessas poderia ser a necessi
dade de passar fome”. Quando experimentamos somente a fartura, esquece
mos das necessidades que nosso generoso Deus está constantemente suprindo.
Paulo tendo aprendido a viver com fartura, como também com fome
(v. 12), não passou seus dias na prisão esperando ou pedindo donativos
(v. 17). Na generosidade sacrificial dos filipenses, ele percebeu “o fru to”do
evangelho, que aumentava o crédito deles no “banco celestial”. Mais signifi
cativo era a espontaneidade da igreja impulsionada a compartilhar seus re
cursos com ele, do que o donativo que Paulo recebera. Ele recebeu tudo,
teve abundância, ficou suprido, desde que Epafrodito lhe passou “às mãos o
que me veio da vossa parte”(w. 18). Além disso, os contribuintes agradaram
a Deus.
Para isso Deus idealizou a igreja. Quem supre a necessidade do seu
irmão faz bem (v. 14), não apenas porque atende ao necessitado, mas tam
bém porque a generosidade representa crédito eterno na conta de quem dá
com alegria (2 Co 9:7). O doador não deve se preocupar com qualquer re
conhecimento humano (Mat 6:1-4).
A nossa preocupação está em nunca passarmos necessidade. Desejamos
como o tolo na história de Jesus, acumular o suficiente para ter “em depósi
to muitos bens para muitos anos” . Assim, queremos descansar, comer e be
ber e regalar-nos” (Lc 12:19). A este modo de pensar e agir, Deus chama de
loucura. “Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para
quem será? Assim è o que entesoura para si e não é rico para com Deus”
(Lc 12:20, 21).
Na igreja devemos ser relembrados constantemente que quem entesou
ra para si mesmo é um tolo e quem reparte com os necessitados é um sábio.
É a intenção divina que a necessidade dos outros seja suprida pela nossa ge
nerosidade, para que assim sejamos ricos para com Deus. Por esta razão,
Jesus afirmou: “Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20:35).
Quem supre a necessidade dum irmão, compartilha sua vida com ele.
É o verdadeiro significado do vocábulo grego que Paulo usou em 1:7 e nova
mente neste último parágrafo de Filipenses (4:14 sugkoinõneõ). Assim as cé
lulas do corpo se gastam, oferecendo suas vidas para a vida do corpo inteiro.
Não podemos especular quanto à quantia que os filipenses mandaram a
Paulo. Ele escreve, “Recebi tudo (isto é, pagamento completo) e tenho em
abundância; estou suprido” (v. 18). Se recebeu o suficiente para pagar o alu
guel da casa em Roma (At 28:30) e comprar uns mantimentos, era “abundân
cia”. Sobrava para os companheiros (cf. At 20:34), visto que as necessidades
do apóstolo eram muito reduzidas. É tolice guardar para mim o que meu ir
mão precisa, sob pretexto de que eu não tenho acumulado o suficiente para
cobrir minhas necessidades. Feliz o crente que sabe que todas as suas ne
cessidades estão supridas, não porque acumulou terras, propriedades e tem
cem milhões na poupança, mas porque faz parte duma comunidade que, por
amor a Deus, cuida dos seus membros crentes e confia no Senhor que tudo
supre para suas ovelhas (SI 23:1).
O Significado do Donativo
Já vimos no v. 17 que o donativo que a igreja mandou a Paulo foi
comparado a fruto que aumentava o crédito dos filipenses. O fruto duma ár
vore aumenta quando plantamos sua semente em terreno preparado. Anos
depois de crescer a árvore, finalmente aparece o fruto abundante, multipli
cando muitas vezes o valor da semente plantada. Terá semelhante aumento
no crédito celeste, o donativo investido no bem-estar de Paulo. .
A ofertá, em segundo lugar, recebe a descrição de “aroma suave” no
v. 18 (gr. osmên euõdias, “fragância dum cheiro bom”, correspondendo a
frase comum no Antigo Testamento para o bom aroma que subia dum sacri
fício queimado, Gn 8:21, Lv 1:9,13 etc).. Em conseqüência da morte substi
tutiva de Jesus por nós na cruz, não há sacrifícios de animais que podemos
oferecer a Deus que sejam aceitáveis. Porém, há sacrifícios que Deus não só
aceita, mas que também o agradam. Primeiro devemos oferecer nossos cor
pos em sacrifício a Deus, corpos vivos, santos e agradáveis a Ele (Rm 12:1).
Segundo, devemos oferecer a Deus “sempre, sacrifício de louvor, que é o
fruto de lábios que confessam seu nome” (Hb 13:15). Corpos entregues
para servir a Ele e lábios empregados na exaltação do seu nome são sacrifí
cios legítimos dos filhos de Deus.
Terceiro, encontramos aqui em Filipenses 4, o sacrifício de dinheiro
ou posses para suprir a necessidade dum cidadão. Esta oferta é declarada
“aceitável e aprazível a Deus” (v. 18). Compartilhar bens com necessitados
é ao mesmo tempo uma oferta apresentada a Deus. Havendo a motivação de
amor e gratidão (não reconhecimento humano, Mt 6:1-4), da parte do ofer-
tante, seu sacrifício será aceitável e aprazível a Deus. Enquanto Jesus ha
bitou fisicamente entre os homens era possível ofertar-lhe dinheiro (Lc 8:3)
e “bálsamo de nardo puro” (Jo 12:3). Esses sacrifícios eram aceitáveis ao
Senhor. Mas logo que Ele foi exaltado, concretizou-se a situação que Ele
predissera: “Porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem
sempre me tendes” (Jo 12:8). Na ausência física de Cristo, temos o privilé
gio de trazer nossas ofertas ao altar4, para serem redistribuídas aos necessi
tados. Ofertas de bens, impulsionadas pela graça de Deus (2 Co 8:1) e com
paixão pelos irmãos necessitados, tributam graças a Deus (2 Co 9:11) e
acrescentam “glória ao próprio Senlior” (2 Co 8:19). Somente em sentido
muito humano e restrito, poderíamos afirmar que Deus necessita de nossas
ações de graça e glória que a ele sacrificamos. Mas se reconhecemos que tudo
que lhe dá prazer (gr. euareston, “bem aceitável” , “prazeiroso”, Fp4:18),
corresponde a seu desejo, será mais fácil compartilhar os bens que ele mes
mo nos ofertou! Paulo, portanto, aponta para: 1) o galardão que os filipenses
receberão no futuro (“o fruto que aumentou o vosso crédito, v. 17), 2) o
prazer que o sacrifício suscita a Deus e 3) o benefício recebido pelo carente
suprido com a oferta (w. 14-16).
Quanto a vida do servo de Deus, é descrita também como “bom per
fume ” (gr. euodia, o termo técnico para um sacrifício aceitável a Deus, 2 Co
2:15) de Cristo. O simples viver, testemunhar e espalhar “o perfume do seu
conhecimento ” é uma oferta contínua no altar de Deus. Assim a igreja de
Filipos, permanecendo em Cristo, resplandece no mundo como um céu es
curo salpicado por luzeiros e “preserva a palavra da vida” (Fp 2:15, 16).
Assim estaria oferecendo um sacrifício de serviço de fé sobre o qual a possí
vel morte de Paulo seria uma libação (2:17), sugerindo um ato consagratório
antes de queimar-se a oferta.
Uma vez que Cristo nos “amou e se entregou a si mesmo por nós, co
mo oferta de sacrifício a Deus em aroma suave” (Ef 5:2), dependemos intei
ramente dele para. nosso perdão e justiça. Somente a oferta desse sacrifício
único serve para expiar nosso pecado e remover nossa culpa. O que nos resta
para sacrificar? O Novo Testamento deixa muito claro que, motivados pela
gratidão, devemos oferecer nossos corpos, nosso louvor, nossos bens e nossas
vidas. Com isso Deus se agradará (Hb 13:16).
Epílogo —w . 20-23
A fé que confia em Deus como Pai para um futuro desconhecido, tam
bém quer que toda glória lhe seja tributada (v. 20). Os santos em Cristo
Jesus devem receber a saudação individual e carinhosa do apóstolo preso.
Nenhum santo (crente) deve ser esquecido. Os companheiros de Paulo tam
bém mandam saudações com as de Paulo. “Os santos”, provavelmente, se
distingüem dos “irmãos” que fazem parte da equipe de Paulo, porque são
componentes da igreja (em Roma ou talvez em Éfeso). Os santos da “casa
de César” se referem aos cristãos que moravam e trabalhavam no palácio do
governo onde Paulo estava encarcerado. Tinham oportunidades freqüentes
para encontrar, ouvir e orar com ele.
Paulo termina esta carta tão bela com a petição a Deus para que a
graça do Senhor Jesus Cristo seja com o espírito dos filipenses, isto é, com a
Igreja como uma entidade ou organismo vivo. Amém.
1 - Alguns estudiosos sugerem que Marcos se assustou pelo prevalecim ento da malá
ria na região baixa costeira da Ásia M enor (hoje, Turquia).
2 - Ber 5.5 (no Talmude babilónico) ver o artigo “ A p óstolo” no Dicionário de T eo
logia do N ovo Testam ento (Ed. Vida Nova, S. Paulo, V ol. I, 1981, páginas
234-239). '
3 - Sugerim os que Filipenses foi escrita em Éfeso, de um a prisão não m encionada
por Lucas em A tos. Ver 2 Co 11:23, “prisões” e 1 Co 15:32, “lutei em Éfeso
com feras”.
4 - Ver Mt 5 :23, 24. O altar em vista seria a Ceia do Senhor, ocasião tradicional para
trazer ofertas de dinheiro, alim entos e bens para, em seguida, serem distribuídos
entre os destituíd os da Igreja. Para ser aceitável, o ofertante precisava estarem
paz com toda a fam ília de Deus.
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RUSSELL P. SHEDD
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de bacharel e mestre. Graduou-se com Ph. D. pela
Universidade de Edimburgo, Escócia.