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Capítulo II – Documento 100 CNBB

 2 Palavra de Deus, vida e Missão nas comunidades


Buscando trazer para os dias atuais a palavra testemunhada por Jesus e
deixada para os Apóstolos, as paróquias são chamadas a seguir os exemplos
ensinados e transmitidos ao longo do tempo, para se reconhecerem como
comunidade das comunidades.

 2.1 A comunidade de Israel


Formada pela vida familiar, comunitária e social, baseada na aliança feita
com Deus.
A adoração a Deus e a promoção da justiça com todos, obtidos pela
observância da Lei e na escuta dos profetas.
A experiência familiar de Israel marcando a constituição do povo de Deus,
com o passar dos anos: Abraão, Issac e Israel, Moisés, os Juízes que ungem os
primeiros reis, os profetas e o exílio, que remete à saudade da Terra Prometida.
Jesus participava da vida comunitária de Israel. Com isso ele pôde
experimentar a realidade daquele povo que estava perdendo os costumes criados
pelos antepassados; via os que ficavam sem defesa, sem ajuda, como as viúvas, os
órfãos e os pobres.

 2.2 Jesus: o novo modo de ser pastor


Aqui vemos Jesus se apresentando como o Bom Pastor, que vai ao encontro
daquelas pessoas que eram rejeitadas na realidade social, os mais pobres. Jesus ia
ao encontro das pessoas, dando a elas experimentarem o repouso, o descanso que
mais ninguém lhes poderia oferecer.
O toque de Jesus nos doentes, afastados do convívio social, dos pedintes,
tinha tanto o intuito de curar quanto o intuito de inserir novamente essas pessoas
no meio social.
Jesus não excluía ninguém do anuncio do Reino. Ele anunciava a todos a
Boa Nova. Jesus recebia como irmãos aqueles que o sistema religioso e a
sociedade desprezavam e excluíam: prostitutas e pecadores, pagãos e samaritanos,
leprosos e possessos, mulheres, crianças e doentes, publicanos e soldados e muitos
pobres.
Observa-se a admiração das pessoas com a capacidade de Jesus pregar,
relacionando suas palavras com os acontecimentos do cotidiano da vida daquelas
pessoas. Por isso o povo percebeu um ensinamento novo e com autoridade. Sua
própria vida era o testemunho do que ensinava.

 2.3 A comunidade de Jesus na perspectiva do Reino de Deus


Jesus, que possuía em si a presença do Espírito Santo, passa seus anos de
anuncio do Reino, demonstrando, por seus atos, a importância de muitas ações no
meio comum da comunidade daquela época. Aqui vemos Jesus que vai às casas
das pessoas que formam as pequenas comunidades, levando a paz, a esperança, a
Palavra da Salvação. Não só Jesus vai ao encontro das pessoas, em suas pequenas
comunidades, mas envia também seus discípulos a irem ao encontro das pessoas,
como uma forma de reafirmar a importância da família, na base da formação
religiosa de uma comunidade.
Com Cristo, os discípulos eram formados a não se deixarem chamar de
mestres, eram levados a verem a real unidade em Cristo, a partilhar os bens, a não
se mostrarem superiores, mas iguais, num olhar de amizade. Jesus apresenta uma
nova forma de serviço, aonde o que deseja ser o primeiro deve se colocar como
último, como o que serve. Jesus que dá o poder de perdoar a Pedro, aos Apóstolos
e às comunidades. Jesus também mostra a importância da oração em comum,
quando iam juntos ao Templo, por exemplo, rezavam antes das refeições,
frequentavam as sinagogas, se retirava, em grupos menores, para rezar. A alegria
pela vinda do Reino de Deus.
Observando a missão dos discípulos, Jesus recomenda quatro pontos a
serem levados em conta. A hospitalidade, para que, com sua atitude, fizessem
crescer a hospitalidade nas comunidades que visitavam. A partilha, não criando
raízes em um lugar, mas sabendo viver em todos os lugares da comunidade. A
comunhão de mesa, ou seja, deveriam comer o que o povo lhes oferecesse, não
levando sacolas ou estando prevenidos, mas priorizando o valor comunitário da
convivência fraterna. A acolhida aos excluídos, ou seja, seguindo os ensinamentos
de Jesus, não excluírem os pobres, abandonados, mas se aproximarem, levando a
cura aos doentes, libertando os possessos e purificando os leprosos.
 2.4 As primeiras comunidades cristãs
Bem como vemos acontecer com o envio dos discípulos às missões, também
vemos o surgimento das comunidades cristãs, que eram chamadas a anunciarem a
todos os povos, ou seja, admitindo os pagãos, superando obstáculos da Lei
Mosaica e fazendo missão no mundo pagão. Eram chamados a exercerem seu
serviço nas realidades que ainda não haviam tido a experiência de Jesus. Partindo
de Jerusalém, os apóstolos criaram comunidades nas quais a essência de cada
cristão se define como filiação divina. Assim, impulsionados pelo Espírito Santo e
na relação entre a fé e o Batismo, começaram a se reunir para expressar sua fé em
Jesus e mostrar o caminho que ele propunha.
Um verbo que chama a atenção de todos, com relação à vida dos Apóstolos
e dos primeiros cristãos, é perseverar. Tal verbo traz a nós a compreensão de que,
em meio de tantas tormentas, se percorria um caminho sempre em vista do
crescimento. Os primeiros cristãos trilhavam um caminho buscando se manterem
fiéis à proposta do Evangelho.
São quatro as bases que vemos guiar os primeiros cristãos, no que
chamamos de Igreja primitiva: O ensinamento dos apóstolos que rompe com o
ensinamento dos escribas, dos doutores da época e passaram a seguir o
ensinamento dos apóstolos como a Palavra de Deus. A comunhão fraterna que
mostrava a questão da partilha de bens, ou seja, os primeiros cristãos colocavam
tudo o que tinham em comum, a ponto de não haver necessidades entre eles. Vê-
se aqui não apenas a fraternidade no que é material, mas também no espiritual, ou
seja, dos sentimentos, da experiência de vida. A fração do pão, trazendo à
memória as tantas vezes em que Jesus tinha partilhado o pão com os discípulos.
Tal gesto trazia a presença de Jesus para o meio da comunidade. As orações,
como um meio de que permanecessem unidos a Deus e entre si, fortalecendo-se
sempre para a hora das perseguições. Também se vê a oração como um grande
auxílio para que pudessem anunciar bem o Evangelho.
2.4.1 A comunhão era, já nesta época, vista com grande valor, pois é ela que
formava todas as pessoas membros de um único corpo, pois participavam de um
único pão, que é Cristo (1Cor 10,17). A Eucaristia nutre a esperança da realização
plena do cristão no mistério de Cristo. São Paulo trata aqui a Koinonia como algo
que ia muito além das barreiras que possuía, unindo num só corpo todos aqueles
que passavam a viver na comunidade e a participar da comunhão do corpo místico
de Cristo, como vemos com relação ao escravo Onésimo que Paulo pede para ser
recebido como se fosse ele mesmo, o próprio Paulo.
2.4.2 A partilha aqui é tratada não como uma obrigação, mas uma oferta
espontânea que se fazia uma manifestação autêntica e espontânea da fé: “Que
cada um dê conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar, nem
constrangimento, pois Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7).
2.4.3 A iniciação cristã era, nos primeiros séculos, um processo realizado,
pela comunidade cristã, para que se admitisse futuros cristãos. Antes de receber o
Batismo, a Confirmação e a Eucaristia, o candidato era chamado a mergulhar,
conhecer o mistério de Cristo. Primeiramente ele recebia o querigma, o primeiro e
fundamental anúncio de Jesus Cristo como Salvador da humanidade. O candidato
deveria, pela fé, acolher Cristo como seu Salvador. Após essa decisão, ele era
acompanhado no catecumenato com instruções, ritos e bençãos que permitiam
compreender melhor a vida cristã. A entrada no catecumenato e a eleição para
receber os sacramentos eram marcadas por ritos comunitários que instituíam os
catecúmenos. Daí ocorria a formação fundamentada na doutrina dos apóstolos,
que se dava, tanto pela pregação quanto pela catequese. O catecúmeno participava
das celebrações da Palavra; durante a celebração eucarística, contudo, era
convidado a se retirar ao serem concluídas as preces. Ele só participaria da
celebração eucarística após receber o Batismo e a Crisma. Percorrido todo o
caminho de preparo, o candidato, na Vigília Pascal, aceito na comunidade, era
batizado, crismado e recebia o Corpo e Sangue do Senhor, em uma única
celebração. Assim ele se torna um novo homem, configurado em Cristo.
2.4.4 (A missão...)
2.4.5 A esperança passa a ser uma peça fundamental, na vida do cristão, a
partir da ressurreição de Cristo. É também a esperança na vinda de Jesus no fim
dos tempos, que leva o povo cristão a compreender sua vida, sua missão. Por tal
motivo pregam a conversão, especialmente de Israel, que deve acolher o Messias.
É a esperança no Cristo que virá que faz a comunidade se sentir peregrina, que
forma o povo de Deus a caminho do Reino.

 2.5 A Igreja-comunidade
Aqui o que se faz notar, com maior ênfase, é o conceito de Igreja
Doméstica, trazida a nós por Paulo, indicando que as comunidades se reuniam na
casa dos cristãos. As casas serviam de local de acolhida dos fiéis que ouviam a
Palavra, repartiam o pão e viviam a caridade que Jesus ensinou. Paulo faz da casa
a estrutura fundamental das Igrejas por ele fundadas.
A comunidade primitiva foi marcada pela experiência da presença viva do
Espírito Santo, pois o Reino de Deus se revela na palavra e nas obras. A Igreja
primitiva anunciava Jesus Cristo com palavras e obras que comunicavam a
salvação já operante na história.

 2.6 Breve conclusão


Biblicamente o ser humano se forma nas relações que estabelece com a
comunidade de fé. Se para ele o eixo integrador era a Aliança feita com Deus, no
Novo Testamento será a pessoa de Jesus Cristo quem estabelece a nova e eterna
Aliança, centro da experiência pessoal e comunitária da Igreja primitiva.
Vendo essa importância da vida em comunidade, na realidade do povo
cristão, se nota a importância de renderem o culto devido a Deus, cuidarem uns
dos outros, formarem comunidades de amizade e caridade, partilharem os bens,
serem fieis à doutrina dos apóstolos e viverem na comunhão da Igreja. Como um
importante ponto também vemos a necessidade de se comprometerem com a
missão de anunciar e testemunhar Jesus, o Cristo.

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