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DOS PROBLEMAS DISCIPLINARES AOS DISTÚRBIOS DE

CONDUTA: PRÁTICAS E REFLEXÕES


Kácia Estivalet Fontoura*

• É importante ressaltarrmos desde o início que a presença de distúrbios


do comportamento não é característica comum dos alunos que exibem
retardo significativo no desenvolvimento cognitivo. Estes alunos nos
trazem um duplo desafio com implicações importantes no planejamento
de um currículo educacional voltado à integração de pessoas portadoras
de deficiências. Alguns comportamentos considerados básicos para a
aprendizagem escolar podem não estar presentes, como saber esperar
a vez, permanecer sentado para executar uma atividade, manter-se em
silencio enquanto outro fala, ou respeitar a integridade de pessoas ou
objetos presentes. (pág. 192)
• A proposta educacional utilizada precisa garantir oportunidades para
generalização do que foi aprendido, para que os alunos possam utilizar
as habilidades adquiridas em variados ambientes da comunidade, ao
interagirem com um número variado de pessoas (conhecidas e
desconhecidas) e nas mais diferentes circunstâncias. (pág. 193)
• Um acompanhamento médico e medicamentoso regular é de capital
importância para que o aluno e sua família recebam todo o auxílio
possível disponível. (Pág. 194)
• É interessante notar que “comunicação” e “habilidades sociais”
encontram-se entre as habilidades adaptativas significativas na
avaliação de retardo mental. Estas habilidades são de capital
importância na aquisição de comportamentos adequados, e dificuldades
apresentadas nestas áreas podem levar à apresentação de
comportamentos que se tornam desafiadores para a família e para os
educadores. (pág. 197)
• Em primeiro lugar, considere o contexto social, pessoal e físico do aluno,
com sua capacidade para desenvolver-se plenamente (cognitiva, social,
espiritual, biológica e afetiva). Em segundo lugar ofereça ao aluno meios
para um aprendizado que facilite o uso, a manutenção e a generalização
do que foi aprendido. (pág. 197)
• O trabalho educacional desenvolver-se-á em função de um aluno em
questão, estudando suas habilidades e dons, seu processo de
desenvolvimento, dificuldades e deficiências, necessidades específicas
e as situações em que necessita dos diferentes graus de supervisão e
apoio. Inicialmente, as mais freqüentemente descritas enquadram-se em
uma abordagem educacional com fundamentação comportamental.
Experiências nessa abordagem foram as primeiras de cunho
educacional que surtiram efeitos palpáveis em relação à problemática
aqui apresentada. Contudo, foi verificado, mais tarde, que os alunos
apresentaram problemas em relação à generalização, por terem sofrido
experiências artificiais e laboratoriais, que favoreciam a automação e as
respostas condicionadas. A ênfase à importância de um trabalho que
valorizasse a descoberta de soluções, o raciocínio e todo o potencial
cognitivo do aluno, levou a uma ação educacional inovadora junto a

* Educadora Especial e Psicopedagoga Institucional e Clínica


estes com dupla problemática, com explícita fundamentação cognitivo-
comportamental. (pág. 198)
• Fatores que interagem e podem favorecer um tipo de terminado de
comportamento: - as condições internas do aluno (ou seja, todo o seu
potencial humano, seus estágios de desenvolvimento e sua história,
remota e recente); - a influência do ambiente em que vive, tanto físico
quanto interpessoal (com fatores emocionais e sociais); - as situações
específicas que se repetem e sempre acontecem favorecendo a
manifestação do comportamento apresentado (o que acontece antes e o
que acontece depois do comportamento inadequado). (pág. 199)
• Os comportamentos inadequados são apresentados como providos de
função específica. esta pode ser a de garantir algo desejável (como
angariar atenção dos adultos a sua volta) ou remover algo indesejável
(uma ajuda do professor ao montar um quebra-cabeças). E uma das
principais funções que podem apresentar é a função comunicativa, que
La Vigna e Donnellan (1986) chamaram de “função comunicativa do
comportamento aberrante”. Neste caso, os comportamentos
inapropriados são usados no lugar de outras formas mais adequadas de
comunicação. As razões mais comuns são ou porque o aluno não tem
um repertório de ações e verbalizações que lhe possibiloite uma atenção
considerada socialmente adequada, ou porque não aprendeu a usar a
comunicação de forma construtiva e socialmente aceita ( por exemplo:
não sabe fazer solicitações sem puxar violentamente o que quer; grita
ou despe-se para fazer protestos; puxa a mão da pessoa com quem se
comunica e a utiliza para apontar um objeto em forma de comentário ou
de solicitação, etc...). (pág. 199)
• Neste caso é fundamental que a educação destes alunos favoreça
experiências e oportunidades para que desenvolvam e adquiram formas
adequadas de comunicação. Muitas vezes é importante lhes ensinar a
reconhecer as próprias emoções, a nomeá-las e a verbaliza-las, e
paralelamente, os estimular a fazer escolhas e ensinar-lhes formas
adequadas. O planejamento educacional, portanto, incluirá
explicitamente o ensinos das habilidades específicas que forem
necessárias, assim como de outras formas de comunicação aceitas e
que venham a substituir os comportamentos inapropriados
anteriormente apresentados pelo aluno. deste modo,a ênfase é colocada
no ensino e não na natureza do problemas apresentado e, menos ainda,
na necessidade de diminuição do mesmo através de “castigos”, como
era tradicionalmente feito. A metodologia cognitivo-comportamental
reconhece, ao mesmo tempo, tanto o potencial e os eventos internos do
aluno, quanto a influência deste sobre o meio em que vive e a influência
do meio sobre o aluno. Acrescentamos a esta metodologia a visão de
uma abordagem ecológica volta para a participação e integração do
indivíduo em sua comunidade. (pág. 200)
• A abordagem ecológica é o aluno percebido dentro de uma perspectiva
global. Assim, quando os alunos apresentam comportamentos
inadequados, o foco de atenção será em todo este sistema e não
somente no aluno em questão e seu comportamento inadequado. É
importante estudar e utilizar os ambientes que o aluno freqüenta e que
são naturalmente acessíveis (residência, escola, comunidade, local de

* Educadora Especial e Psicopedagoga Institucional e Clínica


trabalho) e as próprias atividades que ocorrem nestes ambientes como
oportunidades para o desenvolvimento de oportunidades para o
desenvolvimento de habilidades e o ensino sistemático do
comportamento a ser adquirido. Assim, serão conhecidos os problemas
exatamente do modo como ocorrem no contexto natural. Uma proposta
de ação será feita para que os comportamentos adequados sejam
aprendidos e manifestados em situações do mesmo tipo, mas jamais
exatamente as mesmas, uma vez que a vida real não se repete jamais.
Assim, os alunos aprenderão a substituir os comportamentos
inadequados anteriormente apresentados por comportamentos
alternativos. Este plano deverá traçar os objetivos específicos para este
aluno, a curto e a longo prazos. Incluirá, também, os objetivos
prioritários, as atividades educacionais e os atendimentos terapêuticos
para que se atinjam estes objetivos, bem como as habilidades
específicas a serem desenvolvidas, através de tais atividades. (pág 201)
• É construída uma linha de base para alguns comportamentos cruciais a
serem trabalhados e anotados os modos como o aluno lida com as
variadas situações de aprendizagem, suas necessidades e
características de aprendizagem. Uma análise funcional dos
comportamentos inapropriados é elaborada. Para cada objetivo a ser
alcançado serão determinados, então, os procedimentos de ensino e as
adaptações necessárias, bem como os materiais a serem utilizados no
desenvolvimento das atividades educacionais. No desenrolar das
atividades pedagógicas, adequadas aos interesses, nível de
desenvolvimento e atividade cronológica do aluno, procura-se promover
o desenvolvimento de capacidades e ensino de novos comportamentos.
(pág. 202)
• Sempre será importante o estudo da necessidade ou não de
adaptações, seja de regras de jogos, de tarefas tradicionais escolares,
de regras de “bom comportamento” para atividades acadêmicas e toda a
adaptação que se faz necessária para garantir a adaptação do aluno. Os
materiais usados com crianças devem ser variados e adequados à
idade, e as atividades terão um cunho predominantemente lúdico.
Diferentes estratégias de ensino: - experiência de vida (ver, ouvir,
observar, experimentar, repetir, praticar, fazer mímica, participar, etc...);
- raciocínio (avaliar a situação, julgar a ação, tomar decisões, fazer
escolhas); - Instrução (receber informação, receber ordens sobre o que
fazer e como fazer); - intuição (dar espaço para que o aluno use sua
intuição, sem ser forçado ou incentivado a pensar de outro modo que
não o seu). As atividades foram realizadas na sede da instituição, na
residência dos alunos ou de seus familiares, ou em ambientes da
comunidade. As atividades típicas de escolaridade eram realizadas em
ambientes controlados. (pág. 203)
• A importância da participação dos alunos na avaliação de desempenho
e progresso, na criação de soluções e oportunidades para escolha não
pode ser minimizada. (pág. 204)
• Muitas situações que cresciam em gravidade de problema de
comportamento desapareciam pela simples utilização de situações de
jogo.(pág. 205)

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• Ao brincar semi-independentemente com brinquedos variados,
arrumando-os e caracterizando-os conforme seu interesse, o professor
aproveitou diferentes situações para facilitar a aprendizagem de
conteúdos, atitudes e comportamentos. (pág. 205)
• As atividades utilizadas tinham primordialmente um caráter lúdico e
nelas mantinham,interações ricas em conversa com voz calma, mesmo
que a aluna respondesse com volume de voz elevado. O uso de
perguntas e o incentivo a dizer o que sentia, o porquê de estar se
sentindo assim, o que deseja e o que precisa (ou não precisa) fazer no
momento, mostraram-se bastante eficazes . Garantia um período de
tempo em que nenhum feedback era dado à criança, deixando-a
explorar livremente idéias, modos de expressão de linguagem, etc. Era
um tempo dedicado ao oferecimento de espaço para verbalizações e
ações espontâneas sem qualquer comentário, correção ou expectativa
por parte do professor. (pág. 206)
• Comprar brinquedos e frutas, comprar e tomar lanche em restaurante,
brincar de pique-esconde em parques públicos e visitar museus foram
algumas das principais atividades desenvolvidas com a criança em
ambientes naturais da comunidade.(pág. 207)
• A experiência nos ensinou a importância de alguns aspectos práticos:
1- Um professor descansado e sem angústias consegue mais facilmente
lidar com situações de comportamentos difíceis. Muitas vezes é
preciso bastante atenção ao que se passa, às próprias verbalizações e
ações, e as dos alunos, para que não se percam oportunidades, para
que não se reforce o que não se deseja reforçar e para que se usem
procedimentos adequados previamente escolhidos.
2- É muito importante que as atividades a serem desenvolvidas sejam
planejadas com antecedência, e os materiais estejam preparados. Isto
facilita o desenvolvimento das atividades em clima de tranqüilidade,
de segurança e garante que se trabalhe exatamente o que for mais
importante para o aluno. É mais fácil inovar e criar situações difíceis
em que há necessidade de flexibilidade em relação ao que foi
planejado, do que se criar em clima do despreparo completo para as
atividades do dia.
3- ...anotações diárias sobre o desempenho do aluno em relação aos
objetivos principais a serem atingidos.As observações interessantes
que não forem anotadas no dia, na maior parte das vezes se perderão.
4- ...o uso de gravações em fitas ou vídeo pode ser a melhor forma de
registro e avaliação do progresso do aluno, muitas vezes é possível o
uso de pequenos gravadores de bolso.
5- O domínio de um maior número de procedimentos e técnicas de
ensino auxiliará o professor a conduzir situações de aprendizagem
com seus alunos que respondam às suas mais variadas necessidades.
6- O preparo do espaço físico pode ser crucial para uma atividade
educacional bem-sucedida.Alguns aspectos podem se cruciais, tais
como um ambiente sem objetos que possam ser quebrados.

* Educadora Especial e Psicopedagoga Institucional e Clínica


7- O trabalho educacional não deve ser feito “apesar dos pais”ou, muito
menos “contra os pais”, mas com eles.(pág. 207/208)
8- É importante uma constante comunicação entre os membros da
equipe, especialmente de cada um com os pais.Situações como
mudanças de medicamentos, ocorrência de crises da epilepsia ou
outras, quebra da rotina, problemas familiares graves, e tudo o que
pode afetar o comportamento do aluno devem ser comunicados. Nele
podem ser colocados recados ou ocorrências, com quadros a serem
preenchidos diariamente por diferentes pessoas com dados referentes
a algum objetivo a ser trabalhado (por exemplo, para ser assinalado
um determinado um determinado comportamento adquirido), ou uma
situação específica (por exemplo, o número de vezes de uso de
banheiro ou “acidentes” sujando a roupa).

* Educadora Especial e Psicopedagoga Institucional e Clínica

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