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IFCE

CLAV
GLÓRIA LUCENA VIANA DE CASTRO
PROF. WILLIAM
FILOSOFIA DA ARTE

Resenha crítica da Obra “Iniciação à estética” (1979) de Ariano Suassuna e análise


da composição “Papa Inocêncio X” de Francis Bacon.

INTRODUÇÃO:

Nesta resenha, serão apresentadas algumas sínteses acerca das teorias da Beleza
de Platão, de Aristóteles, de Plotino, de Kant e de Hegel, tendo como base o Livro II
de “Iniciação à estética” (1979) de Ariano Suassuna. Outrossim, conterá uma
análise da obra “Papa Inocêncio X” (Anexo 1) de Francis Bacon, a partir das
proposições de Gilles Deleuze.

DESENVOLVIMENTO:

TEORIA DA BELEZA PLATÔNICA:

Para Platão, o universo era dividido em dois mundos, o em forma e o em ruína. O


nosso mundo pode ser compreendido como mundo sensível e é compreendido
como o campo da ruína, pois é o que temos diante dos nossos olhos. Já o outro, é
considerado o autêntico, o mundo das essências, das idéias puras.

Partindo disso, a noção platônica de Belo é metafísica, ou seja, o belo é belo em si;
possui uma essência e está contida no mundo das ideias. Mas como contemplar as
essências se estamos “presos no imperfeito”? É a partir de questionamentos com
esse viés que a teoria da Reminiscência surge.
Segundo Platão, nossa alma - que é eterna- cai em decadência ao se unir ao corpo
material. Precisamente, o categorizar-se como eterna, a alma contempla o mundo
das idéias. O belo não será recriado na Arte, ele será recordado pela alma.
Acerca da Arte, no pensamento platônico, ela deve ser subordinada à política, à
ética e à filosofia. Para ele, a Arte é perigosa e inferior à natureza -já que trata-se da
cópia de uma outra cópia- e deve ser “controlada”.

TEORIA DA BELEZA ARISTOTÉLICA:

Aristóteles era um filósofo sistemático e, para ele, a realidade é una. Nesse viés, ele
subdivide o conhecimento em três partes, o Teórico, onde a metafísica, a física e a
filosofia estão alocadas; o prático, que diz respeito a práxis humana, como a ética e
a política e por fim o produtivo, onde se encontram a Arte, a agronomia e a
medicina.

A noção de beleza aristotélica está relacionada à Ordem, à Harmonia e à Grandeza;


para algo ser considerado belo ele deve possuir todos esse três requisitos.

“O belo consiste na grandeza e na ordem, e portanto um organismo vivo


pequeníssimo não poderia ser belo”

Outro aspecto interessante no que tange à teoria de Aristóteles é o aspecto subjetivo


que ele atrela a beleza. Segundo Suassuna, “Aristóteles examina a fruição da obra
de arte e as características da Beleza do ponto de vista do sujeito, do ângulo
psicológico” e também pode-se compreender, a partir do discurso do autor, que o
prazer estético provém da apreensão “rápida” do objeto e que, de acordo com a
concepção aristotélica, a compreensão da Beleza do objeto vem sem esforço.

TEORIA DA BELEZA PLOTÍNICA:

Para compreender a teoria do Belo de Plotino, temos primeiro que pensar em suas
três hipóstases. A primeira delas é o Uno, que é algo imaterial e que transcende o
ser, pois passa por processos de emanação - podendo até ser comparado à ideia de
Deus cristã.

A segunda é o Nous-espírito, que a partir dos processos de emanação do Uno -


contemplado no espírito- produz o pensamento-pensado, a alma passa por
momentos êxtase momentâneos e tais momentos assemelham-se com a teoria da
reminiscência platônica.
A terceira hipóstase de Plotino diz respeito à alma, que ao juntar-se (encarnar-se) ao
mundo físico torna-se inferior ou algo negativo na visão Plotínica, mas que ainda
passam por momentos que contemplam o Uno.
Tendo isso em mente, pode- se apreender algo muito importante na teoria plotínica.
Em sua sua concepção, as partes de compõem um conjunto belo, também são
individualmente belas. Por exemplo, um piano (conjunto) é entendido como belo mas
as partes que o constituem, como as teclas, são singularmente belas, assim como
seu conjunto.

TEORIA DA BELEZA KANTIANA:

Kant foi um marco na filosofia moderna, pois transitou entre o Racionalismo e na


tradição empírica. Ele primeiramente distinguiu os juízos de conhecimento, que
produzem conceitos de validação geral, partindo do objeto, e o estético que são
inerentes ao sujeito e as suas reações pessoais. Ou seja, a visão kantiana acaba
por se tornar um símbolo para os estudos estéticos, pois o foco muda do objeto para
o observador.

A partir disso, Kant surge com quatro paradoxos, o primeiro deles diz respeito ao
juízo estético, segundo ele, tal juízo não se baseia em conceitos, contudo, exige-se
uma validação geral para tal. A visão kantiana diferencia o juízo estético do juízo de
conhecimento pois trata-se da sensação que é transpassada pelo objeto e não pelas
propriedades do mesmo. Outra diferenciação realizada é que o juízo estético vai
além do agradável, pois é exigido um assentimento geral para o que é
compreendido pelo lado estético.

O segundo paradoxo categoriza a beleza como “universal sem conceito”, universal


pois todos os homens tem seus juízos de gosto determinados por faculdades que
são comuns a todos e sem conceito pois ainda assim, a beleza está ligada ao
sujeito, portanto, não possui conceito.

O terceiro paradoxo diz respeito à um “prazer desinteressado”, para Kant “o


sentimento da Beleza não procura satisfazer nenhuma inclinação, pelo menos
diretamente; é um sentimento puramente contemplativo; não é turvado por nenhum
desejo” [um grifo meu].

E por fim, o quarto paradoxo que pode ser compreendido na frase “finalidade sem
fim”; a finalidade é, para Kant, é quando algo do objeto tem o “dom” de estimular as
faculdades do sujeito, enquanto o fim está ligado à destinação útil do objeto. Logo
“a satisfação determinada pelo juízo de gosto é uma finalidade sem fim”
(SUASSUNA 1979, apud. KANT).
TEORIA HEGELIANA DA BELEZA:

É interessante elucidar aqui como o pensamento de Hegel funcionava em geral, em


como ele dividia suas teorias. A visão Hegeliana divide o mundo em três partes, a
sua tão conhecida tríade: tese, antítese e síntese. Outro aspecto importante, é a
ideia de absoluto proposta por ele,

“O absoluto é a categoria que antecede e por


isso abre espaço e torna possível a
configuração do real (Wirklichkeit) no interior da
“Ciência da lógica”. Podemos afirmar que o
absoluto nada mais é do que o próprio real.O
absoluto é a categoria que antecede e por isso
abre espaço e torna possível a configuração do
real (Wirklichkeit) no interior da “Ciência da
lógica”. Podemos afirmar que o absoluto nada
mais é do que o próprio real.” (AGOSTINHO,
2013).

A tese corresponde à ideia inicial, um pensamento mais primordial, para Hegel, a


Arte era considerada como tal, uma ideia sensível, e ainda seguia uma hierarquia,
das menos nobres - para ele - como a arquitetura, até as mais nobres, como a
poesia. Já a antítese, que pode ser considerada como um pensamento que caminha
para uma ideia contrária a da tese e de acordo com a visão hegeliana, corresponde
à religião. Por último, a síntese, que funciona como uma conclusão a partir da tese e
da antítese e que ele categoriza como a Filosofia.

Hegel foi sem dúvidas um grande pensador idealista-sistematizador e para ele a


beleza nada mais era uma manifestação sensível da idéia (o absoluto) “ A Beleza…
é um certo modo de exteriorização da verdade”. Contudo há diferença entre a
verdade e a beleza, “ A verdade é a ideia enquanto considerada em si mesma” e a
idéia não é apenas verdadeira, mas também bela, logo ” A Beleza se define portanto
como a manifestação sensível da idéia” (SUASSUNA, 1979 apud. HEGEL).

ANÁLISE DA OBRA DE ARTE:

A obra de arte escolhida foi “ Papa Inocêncio X” de Francis Bacon (1953). Anexo 1.

De acordo com Gilles Deleuze em seu ensaio “ La logique de la sensation”, toma a


pintura de Francis Bacon como um paradigma da modernidade, que entra em
conflito com quase tudo o que estava sendo produzido e transmite em em suas
imagens a impetuosidade dos fatos e representa a realidade vivida de modo único.
Deleuze fala à respeito dos atos físicos da pintura de Bacon e dos sensitivos.
Algo que é muito citado por Deleuze é a intensidade que Bacon aplica em suas
imagens e representações dos fatos, ele faz uso constante de formas distorcidas e
quase grotescas, a forma perde poder e dá lugar a acidentes e “de-formações” ainda
mais pulsantes. (FONTES, 2007)

Na obra escolhida é possível enxergar cada um desses traços citados


anteriormente, a figura imponente do Papa perde sua forma inicial, assim como a
representação de seu assento e dão lugar à uma composição mais brutal que
beiram ao horror.

Prefiro pensar que esta obra, da maneira como me é posta e vista, se trate de uma
crítica à Igreja tanto atual como à da época, levando em consideração sua infância
conturbada e seus conflitos com seu pai acerca de sua homossexualidade, levo-me
a pensar a validez de suas inúmeras críticas à Igreja Católica e na composição
escolhida não faz-se diferente.

É impressionante notar a ambiência criada pelo artista na obra em questão, o modus


operandi em conjunto com a nova paleta de cores muito têm a dizer sobre a Igreja
Católica da época (séculos XVI e XVII), que ainda vivia sobre os resquícios de suas
Inquisições.

É intrínseco à sua obra a crítica por meio da intensidade e da “de-formação”, seus


traços singulares que tanto chamam a atenção de Deleuze, carregam e evidenciam
a intencionalidade de Bacon, mostram a brutalidade dos fatos que permeiam a vida
do artista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algo nesta obra toca-me profundamente, desde o início do curso, essa era uma de
minhas obras favoritas, foi extremamente interessante ler autores que falam, não
acerca dessa composição em específico, mas a respeito do artista que a produziu.

Com efeito, ler sobre os trabalhos e sobre o traço singular de Bacon me fez abrir
horizontes ainda maiores em termos de análise de composição e que acabam indo
além de um único artista. Assim como Francis, inúmeros outros artistas fazem uso
de ferramentas semelhantes, e penso que agora, faz-me mais fácil de analisar e
compreender a intencionalidade de alguns artistas.

REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, Larissa Drigo. O ABSOLUTO EM HEGEL. Anais do Seminário dos


Estudantes da Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar, digital, ed. IX, p. 254-260,
2013. Disponível em:
http://www.ufscar.br/~semppgfil/wp-content/uploads/2012/05/26-Larissa-Drigo-Ag
ostinho-O-ABSOLUTO-EM-HEGEL1.pdf. Acesso em: 13 dez. 2019.

FILHO, Osvaldo Fontes. Francis Bacon sob o olhar de Gilles Deleuze: a imagem
como intensidade. Viso · Cadernos de estética aplicada, revista eletrônica, n. 3, p.
1-21, 2007. Disponível em:
http://revistaviso.com.br/pdf/viso_3_osvaldofontesfilho.pdf. Acesso em: 11 dez.
2019.

SUASSUNA, Ariano. INICIAÇÃO À ESTÉTICA. 2ª. ed. Universidade Federal de


Pernambuco: Editora Universitária, 1979. v. ÚNICO.

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