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Fim

  A jovem acordou subitamente como se saísse imediatamente de um pesadelo, estava deitada
com o rosto virado para o céu e sentindo todo seu corpo doer, se levantou aos poucos e ficou
sentada no meio da grama tentando se situar novamente depois do ocorrido. A sua frente viu a
gigantesca casa ela e seus companheiros estavam explorando arder em chamas crepitantes
que cresciam vagarosamente a cada segundo que passava, ao longe pode perceber alguns
corpos já sendo carbonizados quase que por completo, reconheceu seu companheiro Arthur e
seu pai Brulio. Nesse momento ela não conseguia parar de olha-los, tinha um olhar vazio e
desesperador como se soubesse o que viria pela frente, quanto mais olhava a cena mais sentia
um aperto no seu estomago e após alguns segundos vomitou, alguns vestígios de sangue
saíram junto da saliva e dos sulcos gástricos, olhou sua mão direita e a viu completamente
encharcada de sangue, seu braço esquerdo não se movia e estava completamente bambo mas
não sentia a dor dos ossos quebrados, sentia poucas dores e percebeu que sangrava muito por
todo o corpo, ela ainda não compreendera a magnitude da situação por completo como se sua
mente tivesse sido quebrada entrando assim num estado catatônico e após muito esforço
conseguiu se levantar correndo assim na direção oposta da casa.
  Correu, correu e correu por vários minutos de volta no caminho de onde viera pela estrada
tortuosa da qual o carro havia anteriormente ficado preso por alguns segundos, mais a frente
novamente pode notar mais dois corpos, dessa vez não carbonizados, mas completamente
mutilados, ao vê-los não conseguiu segurar as lagrimas e se desabou em tristeza andando
calmamente até os corpos e pode reconhecer Cesar, mais um de seus companheiros com o
rosto pela metade com uma parte de seu cérebro e seu olho esquerdo saindo através do
rombo, e ao seu lado o aprendiz Joe decepado e com todos os seus braços e pernas torcidos
como um pano molhado. A garota, Elizabeth, se ajoelhou e colou seu único braço ainda
funcional com a palma de sua mão virada ao chão, não tardou a chorar mais e mais, sofrendo
por dentro e por fora, gritava como se a esperança nunca tivesse existido para começo de
conversa enquanto balançava a cabeça em sinal negativo:
  - NÃO ISSO NÃO NÃO ERA ISSO – gritava mais do que sua voz era capaz de aguentar,
cuspia sangue sem cessar e a dor do seu braço quebrado lhe veio finalmente, era
completamente dilacerante, a dor a penetrava de uma maneira que não poderia ser descrita
por nenhum ser, logo após ter balançado a cabeça por vários minutos, durante as idas e vindas
percebeu algo, a sua esquerda conseguiu ver a pior imagem que já lhe foi mostrada, a poucos
metros estava a cabeça de seu aprendiz, ali no chão com um enorme sorriso no rosto e
completamente ensanguentada o que fez a jovem simplesmente paralisar, apenas olhando
aquela visão, ela estava quebrada, o choro cessou, não conseguia mais dizer nada, não
conseguia mais fazer nada, apenas ficou olhando fixamente para a cabeça sem dizer nem
sentir nada.
  - LIZ – ao longe pode ouvir, e aos poucos foi saindo de seu estado de mente destruída, olhou
para frente na estrada e pode avistar com a ajuda do fogo que já se alastrava por toda a
floresta, era Thiago seu último companheiro, ele gritava seu nome e aos poucos ela foi
voltando a realidade, ele veio correndo em sua direção enquanto a jovem se levantava em um
instante, correndo em direção a ele, até que no meio do caminho o jovem parou, Elizabeth
continuou a correr e a correr não pensando em nada, até ver a sua última esperança de
sanidade, seu único amigo ser partido ao meio bem em sua frente, então ela parou a corrida,
parou de andar, as duas partes do corpo caíram uma para cada lado jorrando sangue para
todos os cantos e fazendo os intestinos e órgão voarem, atrás do já morto jovem existia uma
figura, uma figura negra com um símbolo vermelho na testa, com garras mais afiadas que
lanças e um caminhar inabalável como se fosse o próprio dono do mundo e lentamente
caminhou em direção a agora novamente paralisada Liz.
  Não conseguia se mexer, não sabia mais o que era andar, Elizabeth não conseguia pensar,
não tinha reação, a criatura se aproximou lentamente e ficou de fronte a ela, era um ser muito
mais alto e a olhava de cima para baixo, a pegou cuidadosamente pelo pescoço e a levantou a
enforcando de pouco em pouco e com sua outra mão arrancando uma de suas pernas de uma
só vez. Num surto repentino de adrenalina e raiva, Liz resolveu uma última e final ação,
rapidamente em uma velocidade sobre humana, sacou seu sinalizador e apontou diretamente
para a face da criatura, todo seu ódio, toda a dor que estava sentindo pulsou em seu coração,
segurou a arma tão firmemente que sem querer cortou parte do seu dedo com a unha
arrancando um pedaço enorme de carne, e finalmente puxou o gatilho. E nada, nada havia
acontecido. Continuou puxando o gatilho sem parar como se fosse funcionar após muitas
tentativas e finalmente realizou, se lembrou que não havia recarregado a arma, suas mãos foi
ficando com o pulso mais leve até soltar o sinalizador que se quebrou no chão e novamente,
seu estado com o olhar vazio se fez presente, olhou a criatura nos olhos e apenas a observava
enquanto sua garganta era mais e mais apertada, sentiu algo forte brotar no fundo de sua
mente, era uma lembrança, uma lembrança de sua mãe dando a ela seu doce favorito numa
sexta-feira após a escola, ela sorriu levemente e seu pescoço foi quebrado cessando assim
sua respiração instantaneamente, a criatura simplesmente jogou o corpo a milhares de metros
ao longe e se virou novamente ao caminho de onde viera. Foi o fim da ordem, não apenas isso,
mas sim algo muito maior, era o fim do mundo todo por si só.

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