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Respostas às dubia apresentadas por S. Ex.ª. Revma.

Dom
Lefebvre - 09 de março de 1987 - CARDEAL JOSEPH RATZINGER

Por solicitação da Congregação para a Doutrina da Fé, estudei detidamente um longo


dossier elaborado por S. E. Mons. Lefebvre, no qual são apresentadas um certo numero
de dubia sobre a possibilidade de se conciliar a doutrina sobre a liberdade religiosa do
Concílio Vaticano II e o Magistério anterior.
Já nas diversas fases da elaboração da Declaração Dignitatis humanae, esta questão era
muito presente e o próprio texto definitivo da Declaração, em seu preâmbulo, afirma
expressamente que "este Concílio Vaticano investiga a sagrada tradição e doutrina da
Igreja, das quais tira novos ensinamentos, sempre concordantes com os antigos.” (n. 1).
Da mesma forma, posteriormente, muitos estudos teológicos, comentando a Declaração
conciliar, vieram a mostrar de que maneira aquela indiscutível novidade que representa
este documento estava em continuidade e em harmonia com o Magistério anterior.[1]
Contudo, para responder as questões levantadas pelo Mons. Lefebvre, não parecia ser
suficiente remeter à bibliografia já existente, e a realização de um estudo mais detalhado,
cujos resultados serão apresentados nas páginas seguintes, foi considerado necessário.
APRESENTAÇÃO DAS “DUBIA" DO MONS. LEFEBVRE
As dubia expressas no Ensaio do Mons. Lefebvre são de formulações diversas de uma
única questão: a perspectiva geral e as afirmações particulares da Dignitatis humanae são
conciliáveis com o Magistério anterior?
Na realidade, parecem exprimir, de um modo cético, uma profunda convicção, segundo
a qual, o Concílio Vaticano II e o Papa Paulo VI não teriam feito mais que endossar os
"valores liberais (como a liberdade de religião)", que na verdade seriam "incompatíveis
com a visão de indivíduo e de sociedade", como defendido, sob pena de condenação, os
Papas do século XIX e início do século XX.
Esta convicção foi objeto de uma tentativa de justificar, no discurso de abertura
salientando fortemente a idéia da Realeza de Cristo e a subordinação indireta do temporal
ao espiritual.
Três pontos em particular são imputados ao Concílio:

1. A dignidade da pessoa humana, como aquela apresentada na Dignitatis humanae,


consistir-se -ia apenas em sua natureza por si só, independentemente da sua adesão
à verdade e ao bem. Assim, o Concílio admitiria uma liberdade moral para o erro
ou para o mal, ou mesmo um direito para difundir falsas doutrinas.
2. Nesta perspectiva, a verdade seria ela mesma relativa: “A verdade não é mais uma,
a religião católica não é mais a única verdadeira”, as outras religiões contem
“valores de salvação”, um “significado dentro do mistério da Salvação, são visões
diferentes de se chegar a Deus”.
3. Portanto, estaria-se também incentivando o princípio o agnosticismo e indiferença
religiosa do Estado: ele pode agir de forma independente da Igreja e a coloca no
mesmo nível que as demais religiões (falsas religiões). Como tal, o Estado não
pode honrar a Deus pelo culto da verdadeira religião e, deste modo, nem
reconhecer a religião católica como a religião do Estado para promover
positivamente o bem na ordem temporal, para a Ela emprestar a ajuda do "braço
secular" contra os perturbadores da ordem do Evangelho e do Reino de Cristo.
As Dubia também perguntam, se a Dignitatis humanae (em particular em seu
parágrafo 13), não exclui a proteção especial da Igreja Católica da parte do Estado,
contrariando os ensinamentos de Leão XIII sobre o reconhecimento e o favor
especial devido pelo Estado para com a verdadeira religião.

Para além destes pontos gerais, as Dubia interrogam sobre os "paralelos perturbadores"
que emergem a partir da comparação de diversas proposições condenadas pelo Papa Pio
IX na Encíclica Quanta cura com afirmações correspondentes da Dignitatis humanae.
II - APRESENTAÇÃO DA RESPOSTA ÀS "DUBIA"

1. Dado os muitos aspectos envolvidos nas dubia, cada uma das quais resultaria em
uma exposição de quase toda a doutrina sobre a liberdade religiosa, com muitas e
inevitáveis repetições. Além disso, uma tentativa de se concentrar cada resposta
no aspecto mais diretamente envolvido em cada dubium, poderia, em muitos
casos, ser insuficiente. Freqüentemente, na verdade, as dubia contem nuances
aparentemente secundários, mas são determinantes para que a resposta seja
afirmativa ou negativa.
2. Consequentemente, não só por uma questão de brevidade (para evitar
duplicações), mas acima de tudo por razões de clareza e precisão da exposição,
preferimos dar uma resposta detalhada para questões fundamentais mencionadas
anteriormente. Na medida em que esses pontos serão esclarecidos, é certo que
serão os outros aspectos das dubia, uma vez que são conseqüência dos pontos
fundamentais anteriores. No entanto, por causa da estreita relação entre esses
pontos fundamentais, nem sempre poderemos evitar algumas repetições.
3. O estudo, longo e meticuloso, que estas páginas são o resultado, foi alcançado
coma profunda convicção de que o problema proposto requer a aplicação de todos
os critérios tradicionais para a interpretação dos textos do Magistério[2] em
particular, a consideração de seu contexto histórico-doutrinal e propósito. No
entanto, isto não pode fazer esquecer que, muitas vezes, os Pontífices Romanos,
em assuntos que nos dizem respeito, como em tantos outros, por ocasião de erros
ou situações contingentes, emitido lições que excedem essa contingência, os
ensinamentos mais gerais, de valor permanente, independem das circunstâncias
históricas. No entanto, mesmo nestes casos, o conhecimento dessas circunstâncias
pode ser necessário para compreender o conteúdo exato do ensino permanente
proposto.
4. Além disso, no estudo dessas questões, é necessário ter igualmente em conta o
fato de, como se é sabido, a Tradição da Igreja, da qual o Magistério é um órgão
e, ao mesmo tempo, o intérprete autêntico, é uma realidade viva. Esta tradição não
é uma mera repetição, mas comporta um desenvolvimento doutrinário dentro da
continuidade, como demonstra sobejamente a história da Igreja[3]. O fato de que a
questão da liberdade religiosa, o ensinamento do Concílio Vaticano II represente
indubitavelmente uma certa novidade em relação ao Magistério anterior, não é um
problema se ele é uma novidade que e inscreve dentro desta realidade do
"desenvolvimento na continuidade”.

III - RESPOSTA AOS PONTOS FUNDAMENTAIS


1. 1. De acordo com a Declaração Dignitatis Humanae (DH abaixo):

“o direito à liberdade religiosa se funda realmente na própria dignidade da pessoa


humana, como a palavra revelada de Deus e a própria razão a dão a conhecer.” (DH,
2/a).
“O direito à liberdade religiosa não se funda, pois, na disposição subjectiva da pessoa,
mas na sua própria natureza.” (DH 2/b).
Porque a doutrina conciliar, segundo a qual o fundamento do direito à liberdade religiosa
se encontra na dignidade objetiva da pessoa, baseada por sua vez na natureza humana,
seria ela incompatível com a doutrina católica tradicional, tal como definida, por exemplo,
na declaração de Leão XIII?:
“Se a inteligência adere as opiniões falsas, se a vontade escolhe o mal e a ele se apega,
nem uma nem outra atinge a sua perfeição, ambas decaem da sua dignidade nativa e se
corrompem. Não é, pois, permitido dar a lume e expor aos olhos dos homens o que é
contrário à virtude e à verdade, e muito menos ainda colocar essa licença sob a tutela e
a proteção das leis.”[4]
Em primeiro lugar, convém notar que a afirmação de um direito de liberdade religiosa
com base sobre a dignidade da pessoa, independentemente da verdade ou erro da religião
em questão, não significa uma negação do fato de que o conhecimento da verdade e da
aderência ao bem seja parte integrante da verdadeira dignidade do homem.
Na verdade, o texto da DH 2 não diz que a dignidade da a pessoa humana
consiste unicamente apenas na natureza, o que se afirma é que o fato ontológico do ser de
uma pessoa já tem uma dignidade que, no plano civil, exige, dentre outras coisas, o direito
à liberdade religiosa como entendido na DH: “immunitatem a coercitione in societate
civili” (DH 1 – NT: “diz respeito à imunidade de coacção na sociedade civil”)
Assim como o ensinou João XXIII:
"Não se deverá jamais confundir o erro com a pessoa que erra, embora se trate de erro
ou inadequado conhecimento em matéria religiosa ou moral. A pessoa que erra não deixa
de ser uma pessoa, nem perde nunca a dignidade do ser humano, e portanto sempre
merece estima. Ademais, nunca se extingue na pessoa humana a capacidade natural de
abandonar o erro e abrir-se ao conhecimento da verdade. Nem lhe faltam nunca neste
intuito os auxílios da divina Providência. Quem, num certo momento de sua vida, se
encontre privado da luz da fé ou tenha aderido a opiniões errôneas, pode, depois de
iluminado pela divina luz, abraçar a verdade. Os encontros em vários setores de ordem
temporal entre católicos e pessoas que não têm fé em Cristo ou têm-na de modo errôneo,
podem ser para estes ocasião ou estímulo para chegarem à verdade.”[5]
Por outro lado, deve-se notar que o ensinamento do Vaticano II (no texto considerado:
DH 2) é perfeitamente compatível com o ensinamento da Igreja sobre as consequências
do pecado original. O pecado original destruiu a dignidade do homem sobrenatural e
preternatural (baseado na graça e em outros dons sobrenaturais e preternatuais), mas não
destruiu a dignidade natural que foi simplesmente reduzida: in deterius commutata[6],
como a própria natureza humana. Por esta razão, a liberdade do homem, que é sem dúvida
uma das principais manifestações de sua dignidade ontológica, não foi destruída, mas
apenas debilitada[7].
Além disso, o ensinamento do Vaticano II (DH 2) é perfeitamente compatível com o
ensinamento de Leão XIII já citados. Como já foi dito, a dignidade da pessoa apresenta
alguns aspectos fundamentais que não podem desaparecer, nem devido ao pecado, nem
por causa do erro, e que é a essa dignidade que se refere a DH 2. Nas palavras de São
Tomás de Aquino, todo homem, mesmo pecador, é a imagem de Deus e, pelo menos
potencial membro do Corpo de Cristo[8].
O ensinamento da DH sobre a liberdade religiosa não contradiz nem a segunda parte do
texto de Leão XIII citado anteriormente. Com efeito, o direito à liberdade religiosa,
entendida como imunidade social e civil de coerção em assuntos religiosos, não implica
qualquer direito ou licença para espalhar erro. Em vez disso, explicitamente a DH ensina
que todo homem tem o grave dever de buscar e aderir à verdade e ao bem:
“a liberdade religiosa …. em nada afecta a doutrina católica tradicional acerca do dever
moral que os homens e as sociedades têm para com a verdadeira religião e a única Igreja
de Cristo.” (DH, 1/c; cf. também n. 2/b).
A Comissão Conciliar correspondente, em resposta à segunda das modi gerais, explica
desta forma:
“Praeteres observertur textum approbatum affirmare ius cuius obiectum est immunites a
coercitione et non contentum alicuius religionis. Huiusmodi immunitas ab ipse dignitate
personae exigitur. Nullibi affirmatur nec affirmare licet (quod evidens est) dari ius ad
errorem diffundendum. Si autem personae errorem diffundunt, hoc non est exercitium
iuris, sed abusus eius. Hic abusus impediri potest et debet si ordo publicus graviter
laeditur, prout in textu pluries affirmatur et sub n. 7 explicatur."[9]
O direito à liberdade religiosa - reconhecido até mesmo "naqueles que não satisfazem à
obrigação de buscar e aderir à verdade" (DH, 2) - não contradiz a doutrina católica
tradicional como expresso por Pio XII nestes termos:
"o que não corresponde à verdade ou a norma da moralidade não tem objetivamente o
direito de existência, propaganda ou pratica."[10]
Com efeito, a doutrina da DH não contradiz o ensino sobre o “direito objetivo" formulado
neste texto de Pio XII como DH, 2 refere-se a um direito civil à imunidade a coercitione,
e não a um direito de se espalhar erro.
Esta interpretação se impõe claramente, à luz das Atas do Concílio. Assim, por exemplo,
a Relatio de textu reemendato comentou isso em detalhes:
“Non agitur quaestio, utrum homo habat ex conscientia vera ius agendi, quod ex
conscientia erronea nan haberet. Quaestio enim est de iure hominis eo sensu, quod ius
asserit immunitatem a coercitione. Exactius loquendo, quaestio est, utrum et sub
quibusdam conditionibus detur ius ex parte aliorum, ac nominatim ex parte potestatis
publicae, ad hominem impediendum ex eo quod conscientia agentis est erronea non
sequitur, dari in aliis ius impediendi eius actionem. (…). In hodierna quaestione frustra
adducitur principium quod sonat, iura non aequaliter fundari in veritate atque in errore.
Quod quidem verum est, si intelligitur, in errore non fundari ius sed in veritable sola.
Rursus tamen considerandum est, agi hodie quaestionem de iure, ut est immunitas a
coercitione. Iamvero eiusmodi immunitate gaudet homo conscientiae erroneae, donec
probetur, penes alium ac nominatim penes potestatem publicam dari in casu ius
impediendi hunc illumve actum externum religionis”[11]
De tudo isto, conclui-se que a doutrina da DH não pode ser entendida como uma
afirmação de um direito a se propagar o erro: a noção de liberdade religiosa na DH não
se refere às relações do homem ou do Estado com a verdade e o bem, mas do homem e
do Estado com os outros homens, indicando o que o homem não deve fazer (obrigar em
assuntos religiosos).

Como resultado, a liberdade religiosa é um direito negativo[12]. Como toda negação


supõe uma afirmação, esse direito negativo supõe um outro direito positivo. No entanto,
este direito positivo não é para propagar o erro, mas aquele - que é também um grave
dever - voltado à procura da verdade e ao render culto a Deus. Este grave dever é o
fundamento do direito da pessoa a um espaço social de atividade autônoma.
Neste sentido, já tinha sido dito na sala conciliar que:
“Notare iuvat, quod schema Declarationis non affirmat, dari ius ad errores religiosos in
societate spargendos. Etenim tum in se tum maxime in statu quaestionis praesenti
eiusmodi affirmatio omni caret sensu. Quaestio enim exactius ponitur, utrum et quonam
iure possit potestas publica hominem coercitive cohibere, qui sententias suas religiosas
publice testatur."[13]
E, além disso, a Comissão Conciliar insiste nos seguintes termos:
“In memoriam revocetur quod textus schematis non agnoscit ius ad falsa publice
docendum, sed affirmat ius ad immunitatem a coactione”[14]
Por outro lado, a DH não diz que a propagação de erros seja um bem. O que é um bem, é
que existe na sociedade civil uma autonomia do domínio jurídico em matéria religiosa,
compatível com a ordem pública e a moralidade: DH, 7 fala precisamente destes limites
do direito à liberdade a coercitione.
É compreensível, portanto, que a imunidade a coercitione em questões religiosas não é
má: é um bem, assim como a criação por Deus da liberdade humana, embora possa
resultar em pecado. O direito à liberdade religiosa está orientado para o bem, para a
convivência social baseada na amizade e na liberdade, para que todos possam cumprir
seu dever de procurar e aderir à verdade, e que a libertas Ecclesiae pode desenvolver
livremente sua missão divina de evangelização universal.
Neste regime de liberdade religiosa, a liberdade humana não permanece sem norma,
porque está totalmente submissa à necessidade moral imposta pelas leis éticas, e é
limitada externamente em assuntos religiosos no sentido indicado pela DH 7:
“Uma vez que a sociedade civil tem o direito de se proteger contra os abusos que, sob
pretexto de liberdade religiosa, se poderiam verificar, é sobretudo ao poder civil que
pertence assegurar esta protecção. Isto, porém, não se deve fazer de modo arbitrário, ou
favorecendo injustamente uma parte; mas segundo as normas jurídicas, conformes à
ordem objectiva, postuladas pela tutela eficaz dos direitos de todos os cidadãos e sua
pacífica harmonia, pelo suficiente cuidado da honesta paz pública que consiste na
ordenada convivência sobre a base duma verdadeira justiça, e ainda pela guarda que se
deve ter da moralidade pública.” (DH 7/c)
Apesar da Declaração "non intendit exponere applicationes particulares principiorum,
praersertim si quaestiones complexas secum ferunt"[15], está claro, por exemplo, que a
liberdade religiosa não impede o Estado de proibir o divórcio, a poligamia, etc ., incluindo
aquelas que sua religião permite, sem implicar na proibição de outras manifestações
externas da religião que não sejam contrárias a uma boa ordem pública.
Na verdade, deve-se levar em conta o fato de que a referência a "ordem moral objetiva",
introduzida no textus recognitus da DH 7, foi justificada pela Relatio correspondente da
seguinte forma:
“Lê-se: in ordine morali objectivo fundati. (N.T.: na ordem moral objectivamente
fundamentada.) Existe um acréscimo de alta importância. Foi apresentado ao exame dos
Padres, que exigem que na avaliação da ordem pública, a razão considere não apenas
as situações históricas, mas também o que é postulado pela ordem moral objetiva “[16]
No entanto, o fato de que todas as leis civis devam estar de acordo com a lei natural, não
significa que todas as exigências da lei natural devam estar expressamente contempladas
no direito civil: é evidente que a lei humana não possa impedir todos os vícios, nem
ordenar os atos de todas as virtudes.[17]
Finalmente, deve notar-se que, no contexto das palavras de Pio XII citadas na nota 10, é
exposta a doutrina sobre a tolerância, que:
“Portanto, a afirmação de que o erro religioso e moral deve ser sempre impedido quando
é possível, porque sua tolerância é em si mesma imoral‘ não pode valer absoluta e
incondicionalmente.”[18]
Embora esta doutrina de tolerância não seja equivalente à doutrina sobre a liberdade
religiosa, não há razão para dizer que elas sejam inconciliáveis. Não há entre elas uma
equivalência, pois o princípio da tolerância implica em que o Estado tem o direito e o
dever de reprimir o mal que é a difusão de erro religioso, mas pode e por vezes deve
renunciar de exercer este direito para obter um bem superior e mais amplo. Mas este
direito não lhe é reconhecido pela Declaração conciliar. Entretanto, não há
incompatibilidade entre essas afirmações porque, de acordo com Pio XII a tolerância é
justificada pelo interesse de um bem maior. Mas a idéia do Concílio é que a dignidade de
toda pessoa humana e a paz social sejam sempre bens que exigem que o Estado não
reprima erro religioso quando este não se oponha a boa ordem social (que inclui a
moralidade pública). Portanto, há uma novidade no projeto da jurisdição do Estado no
que diz respeito à vida religiosa dos cidadãos e o desenvolvimento doutrinário com base
na ausência de obrigação legal em matéria religiosa.
Deve-se ressaltar que a continuidade dos ensinamentos da DH e os de Leão XIII e Pio
XII. Desde os primeiros esquemas da DH procurou-se explicitamente esta continuidade
com o Magistério anterior ao se analisar os textos dos Pontífices anteriormente
mencionados. Assim se explicou a Relatio sobre o primeiro esquema apresentado aos
Padres Conciliares:
“O início da evolução doutrinal remonta já a Leão XIII que enunciou mais claramente a
distinção entre Igreja, povo de Deus, e a sociedade civil, povo temporal e terreno (cf.
Immortale Dei, ASS 18, 1885, pp. 166-167; aliás, expõe seis vezes a mesma doutrina).
Assim abriu caminho para de novo afirmar a devida e lícita autonomia que compete à
ordem civil e à sua constituição jurídica. Daí que já tivesse sido possível um passo mais
(regra do progresso) para um juízo novo acerca do que costuma chamar-se ―liberdades
modernas‖. Tais liberdades podem ser toleradas (cf. Immortale Dei, ASS 18, 1885, p.
174); Libertas praestantissimum, AAS 20, 1887, pp. 609-610). Na verdade, dizia-se
apenas que ―se toleravam. A razão era evidente. De fato, os regimes que na Europa de
então proclamavam as liberdades modernas, incluindo a liberdade religiosa, eram ainda
de inspiração nitidamente laicista. Existia, portanto, deveras o perigo, pressentido por
Leão XIII, de que as instituições civis e políticas de tal espécie de república, sendo
enformadas por princípios laicistas, levassem a abusos tais que não poderiam deixar de
ser nocivos à dignidade da pessoa humana e à sua genuína liberdade. O que preocupava,
pois, o Papa Leão XIII era, segundo a regra da continuidade, aquilo mesmo que a Igreja
sempre teve a peito, ou seja, a tutela da pessoa humana.”[19]
E mais adiante: "Deve reconsiderar-se aqui a doutrina de Pio XII acerca das limitações
do Estado no que respeita aos erros que se devem reprimir na sociedade: ‘Pode ocorrer
que em determinadas circunstâncias Ele [Deus] não dê aos homens ordem nenhuma, nem
lhes imponha nenhum dever e nem mesmo lhes dê direito algum de impedir e de reprimir
o que é errôneo e falso? Um olhar para as coisas tais como elas são nos dá uma resposta
afirmativa. A realidade mostra que o erro e o pecado estão amplamente difundidos no
mundo. Deus os reprova, mas permite que existam. Portanto, a afirmação de que o erro
religioso e moral deve ser sempre impedido quando é possível, porque sua
tolerância é em si mesma imoral‘não pode valer absoluta e incondicionalmente. Além do
mais, Deus não há sequer dado à autoridade humana um preceito de tal classe tão
absoluto e tão universal, nem no campo da fé e nem no campo da moral. Não conhecem
semelhante preceito nem as convicções comuns dos homens, nem a consciência cristã,
nem as fontes da revelação, nem a prática da Igreja.’[20]
Pode-se citar também, dentro deste mesmo sentido, as palavras de Pio XII contidas no
referido textus prior:
"Cf Pio XII Alocução aos Prelados auditores e outros funcionários do Tribunal da Sacra
Rota Romana, 6 out. 1946: A.A.S., 38 (1946), p. 393:”Os contatos e a proximidade cada
vez mais freqüentes de diferentes confissões religiosas dentro dos limites de uma única
nação levaram os tribunais civis seguir o princípio da "tolerância" e da "liberdade de
consciência". Na realidade, há uma tolerância política, civil e social para com os
seguidores de outras confissões, que, em tais circunstâncias, é também um dever moral
para os católicos.
Além disso, com relação à comunidade internacional, cf. Pio XII Alocução na Convenção
Nacional dos Juristas Italianos Católicos, “Ci riesce”, 6 dez. 1953: A.A.S., 38 (1953), p.
797: “Os interesses da religião e da moralidade vão exigir para toda a extensão da
comunidade internacional uma regra bem definida, que irá valer por todo o território de
cada Estado-membro soberano. De acordo com a probabilidade e, dependendo das
circunstâncias, pode-se prever que esta decisão do direito positivo será assim enunciada:
dentro de seu próprio território e para os seus próprios cidadãos, cada estado vai
regulamentar assuntos religiosos e morais por meio de suas próprias leis. No entanto,
em todo o território da comunidade internacional de Estados, aos cidadãos de cada
Estado-membro será permitido o exercício de suas próprias crenças e práticas éticas e
religiosas, na medida em que não contrariem as leis penais do Estado em que
residam.” [21]
A Relatio sobre este texto (de textu priore) apresentou explicações adicionais sobre a
razão de não se fazer menção ao critério tolerantia religiosa, que foi mantido até o final,
e preferiu-se falar sobre libertas religiosa. A razão precisa é que se pretendeu dar uma
resposta a uma questão posta recentemente, que não era colocada em épocas anteriores:
"Há aqueles que duvidem da própria fórmula "liberdade religiosa" e acreditem que nesta
matéria, não possamos aceitar mais do que uma "tolerância religiosa". No entanto, não
devemos ainda observar que a "liberdade religiosa" é um termo que tem um significado
moderno e bem definido no vocabulário atual? Neste Concílio pastoral, a Igreja afirma
o que ela própria ajuíza sobre este tópico que as comunidades eclesiais, os governos, as
instituições e os legisladores de nosso tempo designam por esse termo. Se endereçamos
um discurso para a sociedade moderna, temos de usar a sua linguagem. Tratemos, pois,
da liberdade religiosa como conceito formalmente jurídico, que enuncia o direito que
está fundamentado na natureza do ser humano, que é observado por todos,
e é reconhecido no âmbito do direito fundamental (constituição de estatutos com
garantias legais), a ponto de se tornar direito civil. Este reconhecimento, proteção e
promoção devem ser o compromisso da sociedade em geral e, especialmente, dos
governantes.”[22]
Finalmente, a doutrina da DH não implica tanto numa desaprovação da conduta seguida
no passado por alguns príncipes cristãos, cuja avaliação histórica é inerentemente
complexa e em grande parte discutível, embora não possa ser descartada a priori a
possibilidade de que tenha havido pouca ação concreta, de acordo com o espírito do
Evangelho.[23]
2. A liberdade religiosa e a unicidade da verdadeira religião.
Os elementos descritos no n.1 elucidam uma grande parte o problema apresentado neste
n. 2. É por isso que o nosso desenvolvimento será aqui bem breve e se contentará em
complementar em alguns aspectos, o que já foi dito.
A doutrina da liberdade religiosa contida na DH, absolutamente não tem uma concepção
relativista da verdade, nem nega o fato de que a religião católica é a única religião
verdadeira. As dubia acerca deste assunto foram formuladas a propósito de certas
afirmações da DH, em particular, em seus n. 3, 4 e 6:
"Com efeito, o exercício da religião, pela natureza desta, consiste primeiro que tudo em
actos internos voluntários e livres, pelos quais o homem se ordena directamente para
Deus; e tais actos não podem ser nem impostos nem impedidos por uma autoridade
meramente humana” (n. 3c).
"Também pertence à liberdade religiosa que os diferentes grupos religiosos não sejam
impedidos de dar a conhecer livremente a eficácia especial da própria doutrina para
ordenar a sociedade e vivificar toda a actividade humana." (n. 4 e).
"Por conseguinte, desde que não se violem as justas exigências da ordem pública, deve-
se em justiça a tais comunidades a imunidade que lhes permita regerem-se segundo as
suas próprias normas, prestarem culto público ao Ser supremo, …” (n. 4 b).
"Tutelar e promover os direitos humanos invioláveis (6). Deve, por isso, o poder civil
assegurar eficazmente, por meio de leis justas e outros meios convenientes, a tutela da
liberdade religiosa de todos os cidadãos, e proporcionar condições favoráveis ao
desenvolvimento da vida religiosa, de modo que os cidadãos possam realmente exercitar
os seus direitos e cumprir os seus deveres, e a própria sociedade beneficie dos bens da
justiça e da paz que derivam da fidelidade dos homens a Deus e à Sua santa vontade” (n.
6 b).
A suposição de um fundo de relativismo nesses textos foi formulada, considerando que
DH 3 parece afirmar que "o homem se ordena directamente para Deus" por meio do
"exercício da religião", seja qual for sua religião. Em outras palavras, DH afirmaria que,
por meio de qualquer religião, o homem poderia ser validamente ordenado a Deus. Esta
suposição seria reforçada pelos parágrafos citados no n. 4 da DH no sentido onde se
reconheceria a qualquer religião uma "eficácia especial” para "para ordenar a sociedade
e vivificar toda a actividade humana" e, até mesmo, a capacidade de qualquer grupo
religioso de prestar adoração pública válida a Deus ("prestarem culto público ao Ser
supremo"). Além disso, o parágrafo citado do n. 6 da DH sublinharia um valor idêntico
de todas as religiões como expressões da "fidelidade dos homens a Deus e à Sua santa
vontade.”
Na verdade, esta interpretação não corresponde ao verdadeiro significado dos textos DH.
Na verdade, DH 3 refere-se aos atos internos do homem em relação a Deus, sem
considerar a verdade ou falsidade da religião objetiva. Já na DH 1 foi claramente afirmado
que a única religião verdadeira é a religião católica:
"Em primeiro lugar, pois, afirma o sagrado Concílio que o próprio Deus deu a conhecer
ao género humano o caminho pelo qual, servindo-O, os homens se podem salvar e
alcançar a felicidade em Cristo. Acreditamos que esta única religião verdadeira se
encontra na Igreja católica e apostólica.”(n. 1/b).
Portanto não se pode entender o texto da DH 3 em um sentido indiferentista. Nas palavras
de Paulo VI:
"O Concílio, de forma alguma, baseia este direito (a liberdade religiosa), no fato de que
todas as religiões e qualquer doutrina, mesmo errônea, que se relacionem com este
campo, teriam um valor mais ou menos igual; é baseado, sim, na dignidade da pessoa
humana, que exige que ele não seja submetido a limitações externas que tendam a
restringir a consciência na busca da verdadeira religião e na adesão a ela"[24]
Além disso, não há como negar que estejam contidos nas religiões não-católicas
elementos que ajudam aqueles que as professem de boa fé a se relacionarem com Deus.
Em particular, as igrejas e as comunidades cristãs não-católicas, o Vaticano II discerne a
presença de vestigia Ecclesiae, por vezes, muito ricos, e manifestou seu respeito por seus
membros atuais[25]. O Concílio vê mesmo em religiões não-cristãs radium illius Veritatis,
quae illuminat omnes homines[26]. Tal respeito e consideração significa que a Igreja
compartilha a paciência misericordiosa de Deus (cf. DH, 4 d), nas palavras do Evangelho:
"Não lho proibais! … Pois quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc 9, 39-40), e eles
não prejudiquem a sua missão imperiosa de orientar a todos os homens a Cristo [27], no
qual se encontra a plenitude da verdade e da liberdade (cf. Jo 8, 31-32).
Por outro lado, o texto citado da DH 4 é uma declaração de princípio e não implica
qualquer juízo sobre a eficácia de uma doutrina religiosa particular de organizar a
sociedade. Na medida em que as religiões não-católicas contêm alguns elementos parciais
precisos, elas podem nestes aspectos · cooperar na organização da sociedade e da
atividade humana. Naquelas que contêm erros, essas religiões não cooperam na
organização adequada da sociedade e, na medida em que esses erros são contrários à boa
ordem social, elas podem, e em algumas ocasiões, devem ser evitadas pelo autoridade
pública (cf. DH, 7).
Neste contexto, convém lembrar os esclarecimentos apresentados pela Relatio de textu
emendato:
"Ao afirmar que a liberdade religiosa é um verdadeiro direito humano, não é afirmar
que todas as religiões desfrutem de um poder positivo igual, concedido de Deus, para
existir e se propagar. Isto é negado, porque iria-se reconhecer o pior indiferentismo
religioso. Não é concebível afirmar que os poderes públicos possam dar licitamente uma
autoridade positiva a todos as religiões de sorte que elas gozem de uma igualdade de
direito na sociedade. mais o governo pode legalmente dar uma autoridade positiva a
todas as religiões para que eles gozam de direitos iguais na sociedade. Isto
também é rejeitado. Se inspiraria o pior estado de totalitarismo que é em si o
secularismo.”[28]
Para interpretar corretamente o texto da DH, é essencial ter em mente que a DH se refere
a um direito civil de liberdade a coercition, e expressamente renuncia que este direito seja
baseado sobre uma inexistente igualdade do valor ou da verdade de todas as religiões
(indiferentismo): cf. DH 1. Além dos textos acima citados, também deve-se considerar
um outro esclarecimento apresentado pela Relatio de textu emendato:
"O direito pode ser empregado em dois sentidos. No primeiro sentido, "direito" indica o
direito legal de fazer alguma coisa, a faculdade pela qual alguém tem em si o poder de
agir. Na Declaração, "direito" não é empregado neste sentido, de modo a não tirar o
foco das perguntas do tópico, ou seja, o problema especulativo dos direitos da
consciência errônea, o que deixa o "status questionis" jurídico da liberdade religiosa
como tratado na Declaração. No outro sentido, "direito" significa a faculdade moral de
exigir, com o intuito de que ninguém seja constrangido, nem impedido de agir, faça o que
fizer. Por este sentido, significa imunidade de ação, e excluímos A coerção ou o
impedimento. Este exatamente deste o outro sentido de "direito" que é assumido pela
Declaração”[29]
E igualmente:
”Sub regimine enim libertatis religiosae iure publiee simpliciter agnoscitur, neminem
esse constringendum ut agat contra conscientiam neve impediendum, quin secundum
conscientiam agat. Quidquid alias valeat sermo de iuribus diversis veritatis et erroris,
nullus est ei hic locus"[30]
3. Deveres do Estado em relação à religião. A Igreja e o Estado
Sobre este tema, as dubia consideram diferentes afirmações da DH, em particular as
seguintes:
"Por este motivo, a autoridade civil, que tem como fim próprio olhar pelo bem comum
temporal, deve, sim, reconhecer e favorecer a vida religiosa dos cidadãos, mas excede
os seus limites quando presume dirigir ou impedir os actos religiosos." (DH 3e)
"Se, em razão das circunstâncias particulares dos diferentes povos, se atribui a
determinado grupo religioso um reconhecimento civil especial na ordem
jurídica, é necessário que, ao mesmo tempo, se reconheça e assegure a todos os cidadãos
e comunidades religiosas o direito à liberdade em matéria religiosa.”(DH 6c)
"A liberdade da Igreja é um princípio fundamental nas suas relações com os poderes
públicos e toda a ordem civil.” (DH 13a)
“Na sociedade humana e perante qualquer poder público, a Igreja reivindica para si a
liberdade; pois ela é uma autoridade espiritual, fundada por Cristo Senhor, a quem
incumbe, por mandato divino, o dever de ir por todo o mundo pregar o Evangelho a todas
as criaturas. A Igreja reivindica também a liberdade como sociedade que é formada por
homens que têm o direito de viver na sociedade civil segundo os princípios da
fécristã.” (DH 13b)
Esta doutrina da DH tem sido entendido como irredutivelmente contrária a
numerosíssimos textos do Magistério anterior (especialmente o de Pio IX, Leão XIII e
Pio XI), que condenou várias vezes o agnosticismo e a indiferença religiosa do Estado, o
princípio liberal da "Igreja livre em um Estado livre", e que afirmou o dever do Estado de
promover a verdadeira religião. Por exemplo:
“(Proposição condenada): No nosso tempo não é mais conveniente ter a religião católica
como única religião de Estado, com exclusão de todos os outros cultos.”[31]
“(Proposição condenada): Daí é louvável que em algumas regiões católicas foi
estabelecido por lei ser lícito que os homens que ali imigraram podem cada qual exercer
publicamente seu próprio culto."[32]
"Dado que o Estado repousa sobre esses princípios, hoje em grande favor, fácil é ver a
que lugar se relega injustamente a Igreja. Com efeito, onde quer que a prática está de
acordo com tais doutrinas, a religião católica é posta, no Estado, em pé de igualdade, ou
mesmo de inferioridade, com sociedades que lhes são estranhas."[33]
"Julgamos como a praga dos nossos tempos o chamado laicismo com seus erros
e intentos abomináveis; ... Começou-se a negar o senhorio de Cristo sobre todas as
nações, recusou-se a lei da Igreja, fundada sobre o direito do próprio Cristo, para
ensinar a humanidade, isto é, de fazer leis e de dirigir as pessoas para levá-las à
felicidade eterna. Depois, pouco a pouco, a religião cristã foi igualada às demais
religiões falsas e rebaixada ao mesmo nível dessas."[34]
Existe uma incompatibilidade real entre o ensino tradicional e a doutrina da DH? Para
responder a esta pergunta, deve-se ter em mente, em primeiro lugar, que o texto do DH,
3 citada não se limita ao caso particular de uma nação católica, mas dá um princípio geral
que protege a libertas Ecclesiae. Especificamente, estas linhas da DH, 3 foram escritas e
aprovadas para que não parecesse que a DH afirmasse potestates publicas posse laicismo
indulgere (N.T.: os governos possam promover o laicismo):
“Os Padres oferecem tantos significados que o texto não dá a impressão de dizer que os
governos possam promover o laicismo como se eles não tivessem que se preocupar com
o bem público que parte consiste no exercício de uma (da?) religião dos cidadãos. Nós
vos propomos que seja admitido o significado de grande importância para uma
compreensão exata da doutrina. a) "o poder civil, cujo propósito mais próprio é de se
ocupar do bem comum temporal, deve reconhecer a vida religiosa dos cidadãos e
promovê-la, mas devemos dizer que ela excede seus limites, se pretender dirigir ou
proibir os atos religiosos.”[35]
Este texto se integra ao ensino da DH, 7, em particular, àquele no seu § 3 (já citado), sobre
a proteção do poder civil em face ao abuso que se comete sob o pretexto de liberdade
religiosa.
A DH, 3 não define, além disso, o modo concreto de assistência que a Igreja Católica
pode reivindicar a um Estado católico.
As formas concretas de colaboração entre a Igreja e o Estado irão variar dependendo das
circunstâncias, mas dois princípios devem ser sempre respeitados:
- Nenhum homem pode ser forçado pelo Estado a abraçar uma crença religiosa particular;
- Não é da competência do Estado, como tal, discernir a verdade em matéria religiosa
(exceto aquela que se relaciona com a lei moral natural, a qual pode limitar, como já
dissemos, as manifestações que violem a boa ordem pública). Este princípio baseia-se na
distinção entre os fins e os meios próprios à Igreja e ao Estado, conforme, por exemplo,
a doutrina ensinada por Leão XIII:
“"Deus distribuiu, pois, o governo do gênero humano entre dois poderes, a saber o
eclesiástico e o civil, um à frente das coisas divinas, o outro, das humanas. Ambos são
supremos cada qual em seu gênero; cada qual tem determinados limites nos quais fica
circunscrito, e esses são definidos pela natureza e causa próxima de cada um; assim pode
ser circunscrito como que uma esfera em que a ação de cada um se desenvolve segundo
direito próprio.”[36]
Essa doutrina foi posteriormente reafirmada pelo Papa Pio XI:
"A Igreja de Jesus Cristo não desconheceu jamais os direitos e os deveres do Estado no
tocante a educação dos cidadãos (…) Estes direitos e este deveres são incontestáveis
enquanto permanecem dentro dos limites da competência própria do Estado;
competência que por sua vez está claramente fixada pelas finalidades mesmas do Estado,
as quais não são somente corporais e materiais, mas em si mesmas necessariamente
contidas nos limites do natural, do terreno e do temporário. (…) (O mandato divino
universal que recebeu a Igreja) se estende ao eterno, ao celestial, ao sobrenatural.”[37]
A distinção de competências entre a Igreja e o Estado, e a afirmação geral da DH, 3 (o
Estado deve favorecer a vida religiosa dos cidadãos), não exclui que a religião católica
possa e deva ser ajudada de maneira especial pelo Estado, dependendo das circunstâncias.
E, acima de tudo, é necessário distinguir este ensinamento, que se refere ao direito civil,
das questões morais conexas que são aqui irrelevantes. Na verdade, a Relatio ao final da
discussão na Sala conciliar de textu reemendato explica:
“Gostamos de distinguir nosso problema de questões conexas .
a) Primeiro problema conexo: a obrigação de ordem moral. Na ordem moral , todos os
homens, todas as sociedades, todas as autoridades civis devem (i.e., têm a obrigação
moral) objetiva e subjetivamente procurar a verdade e não têm licença para promover
erro.
b) Segundo problema conexo: a responsabilidade e dever da Igreja, assim como a
responsabilidade moral dos homens em relação à Igreja Católica, suas doutrinas e suas
missões. A Igreja tem a responsabilidade e o direito de pregar a Jesus Cristo. Nenhuma
instância humana é de forma objetiva moralmente livre para receber ou rejeitar o
Evangelho e a Igreja verdadeiros. Esta obrigação também é subjetiva, na medida em
que é reconhecida. Os fiéis, e mesmo todos os homens, são moralmente obrigados a
corrigir a sua consciência e viver em conformidade com ela.
Destas questões morais conexas, devemos distinguir cuidadosamente o nosso novo
problema. Vamos agora analisar se a pessoa humana, na sociedade humana, pode ser
reconhecida como livre de coerção de outros homens desta sociedade e de seus poderes
públicos.”[38]
Ao estudar essa "nova questão", queremos completar os ensinamentos do Magistério
anterior, que havia estudado e resolvido de forma exaustiva e irrefutavelmente ambos os
problemas de ordem moral que a DH não acreditou ser necessário tratar novamente.
Deve-se ainda ter em conta o fato de que a liberdade da Igreja não se identifica com a
liberdade de outras confissões religiões. Esta última tem, de facto, como a base da
liberdade social e civil em matéria religiosa, apropriadas para a dignidade das pessoas.
No entanto, a liberdade da Igreja, além desta base comum, tem outra base adequada e
exclusiva, de ordem superior: ser a única e verdadeira Igreja fundada pelo próprio Deus,
e que tem uma missão divina. Na verdade, afirma-se no texto de DH, 13/b, o que deve ser
considerado na sua totalidade. Em particular, DH 13/a declara: "Entre as coisas que dizem
respeito ao bem da Igreja, e mesmo ao bem da própria sociedade terrena, coisas que
sempre e em toda a parte se devem manter e defender de qualquer atentado, sobressai
particularmente que a Igreja goze de toda a liberdade que o seu encargo de salvar os
homens requer", e em nota de rodapé remete para duas referências à Leão XIII.
Convém observar que, segundo a DH, o regime comum de liberdade religiosa é
compatível com a liberdade da Igreja e constitui-se em um mínimo necessário. Mas esse
mínimo não é a única possível, nem, em certas circunstâncias, a mais desejável. Sempre
que possível, levará à situação considerada na DH, 6/c, em que a liberdade da Igreja está
em harmonia com o direito civil da liberdade religiosa, mas leva a uma situação jurídica
mais favorável para missão da Igreja (por exemplo, quando o Estado renuncia
unilateralmente intervir em casos de competência mista)
Além disso, de acordo com a máxima "a Igreja livre em um Estado livre", como propõe
o liberalismo, a liberdade da Igreja seria da competência do Estado. No entanto, a
submissão da Igreja à jurisdição do Estado está categoricamente excluída pela afirmação
da liberdade da Igreja feita pela DH (em particular, DH 13, citada mais acima). No entanto
deve ser notado que a confessionalidade do Estado pode ser uma realidade eficaz, mesmo
quando não houver nenhuma declaração formal de confessionalidade (''confessionalidade
substancial”).
Observe também que o texto citado da DH 13 não relega a Igreja à categoria de uma
associação a mais no seio da sociedade civil. Ela trata simplesmente de expor um motivo
suplementar para reivindicar a liberdade da Igreja, depois de ter indicado a razão
principal:
"Na sociedade humana e perante qualquer poder público, a Igreja reivindica para si a
liberdade; pois ela é uma autoridade espiritual, fundada por Cristo Senhor, a quem
incumbe, por mandato divino, o dever de ir por todo o mundo pregar o Evangelho a todas
as criatura.” (DH 13/b)
Que esta seja uma boa interpretação está igualmente demonstrada pelas respostas aos
dois modi apresentados neste número da DH.[39] Além disto, faz-se necessário ter em
conta a explicação dada na Relatio ao esquema precedente:
"De acordo com o desejo de alguns Padres, no texto reconhecido (n. 13) [N.T.: textu
recognito] foram cuidadosamente distinguidos os direitos que são da competência da
Igreja. Por um lado, deve-se reconhecer o direito da Igreja, por mandato divino. Na
medida em que é uma autoridade espiritual e uma sociedade de homens que vivem de
acordo com os preceitos da fé, a Igreja tem o direito divino à liberdade de viver em
sociedade e cumprir sua missão. Mas deve-se ainda reconhecer o seu direito natural. Os
membros da Igreja, na medida em que são seres humanos, têm direitos iguais aos dos
outros homens, para que não sejam impedidos de viver em sociedade de acordo com as
exigências de sua consciência. Não foi contraposto cada um dos direitos, divino e
natural. Ambos serão respeitados se na sociedade estiver acordada a liberdade social e
civil em matéria religiosa.”[40]
Recordemos ainda a explicações sobre o alcance do texto da DH 6 dada pela Relatio de
textu recognito:
"Lá o seu discurso [N.T.: o texto da DH 6] está centrado especialmente no que se refere
ao reconhecimento civil que é atribuído a uma religião determinada, a Comissão se
utilizou de uma forma hipotética solicitada por numerosos Padres. É verdade que outros
tinham solicitado que nada fosse feito no trato especial deste reconhecimento. Porém,
uma vez que o reconhecimento particular se constata de fato em numerosas regiões, deve-
se notar que a Comissão não se pronunciou, nesta passagem, a todos os direitos
reconhecidos à Igreja. O objetivo desta declaração não é reivindicar todos os direitos da
Igreja, mas apenas aquele universal e perene a ser observado, do direito à liberdade
tanto para os católicos com para os demais.”[41]
Um ano antes, a Relatio de textu emendato explicou que queria colocar em evidência a
compatibilidade do regime de liberdade religiosa com aquele do Estado confessional:
“Se a matéria for bem compreendida, a doutrina sobre a liberdade religiosa não se opõe
à concepção histórica do assim denominado status confessional. E, de fato, o regime de
liberdade religiosa proíbe a intolerância legal a que determinados cidadãos ou
comunidades religiosas são reduzidos a uma condição inferior quanto aos direitos civis
em matéria religiosa. No entanto, não proíbe que a religião católica seja reconhecida
pelo direito humano público como a religião comum dos cidadãos em uma região, ou que
a religião católica deva ser apoiada como a religião do Estado. No entanto, neste caso,
devemos considerar que a instituição de uma tal religião de estado, seja decorrente de
conseqüências tanto jurídicas quanto sociais que, em matéria religiosa, prejudicariam a
igualdade de todos cidadãos no que tange ao direito público. Em uma palavra, deve
observar-se simultaneamente, com um regime de religião de estado, um regime de
liberdade religiosa”[42]
Embora a proposição 78 condenada pelo Syllabus pareça equivalente à DH 6, na realidade
não é assim. O que é condenado não é a doutrina ensinada posteriormente pela DH.
De fato, a interpretação correta do Syllabus requer o exame dos documentos nos quais
condenam cada fórmula implicada (a Alocução Acerbissimum no caso da proposta 78).
As leis anti-católicas a que faz referência a Alocução Acerbissimum supõem que o Estado
concede uma faculdade moral de liberdade de culto com base na igualdade de todas os
cultos por si só, cujo exercício seria, com base neste fundamento, objetivamente justo.
Esta faculdade moral não pode existir, muito menos ser criado pelo Estado. Como já
mencionado anteriormente, o ensinamento da DH implica que apenas aqueles que
professam uma falsa religião tenham o direito, dentro de certos limites, de não sofrer
violência por parte do Estado ou de outros cidadãos. É um direito negativo que não atribui
justificação objetiva a quaisquer realizações positivamente errôneas da liberdade humana.
A liberdade de culto a que se refere a proposição 78 do Syllabus é aqui entendida como
uma expressão da "liberdade de consciência", ou seja, de uma suposta falta de ordem
moral objetiva, transcendente ao homem, que impõe um elo à sua consciência. A
liberdade de culto, neste sentido, significa que todas as religiões são iguais, com o
pressuposto de que o Estado autorize e legitime igualmente todas as religiões.
Resumidamente, o que o Syllabus condena no texto citado, é uma conseqüência prática
do indiferentismo religioso, que também é inconsistente com a doutrina explicitamente
recordada pela DH, 1: única religião verdadeira se encontra na Igreja Católica e
Apostólica.
Não se deve, portanto, confundir liberdade religiosa com indiferentismo religioso ou
sincretismo[43]. Como já foi mencionado acima, o direito à liberdade religiosa não está
fundamentado em uma suposta igualdade entre todas as religiões, mas na dignidade da
pessoa humana, que tem o direito e o dever de procurar a verdade livremente e sem
restrições externas (cf. DH, 2/b). Em outras palavras, a liberdade civil e social em matéria
religiosa, que fala DH, é um conceito jurídico que expressa tanto a dignidade como a
obrigação de procurar a verdade ou a manifestação do fato de que a única verdadeira
religião é a Religião Católica.
Portanto, não há contradição entre os ensinamentos de Pio IX e aqueles da DH, porque
eles não abordam o mesmo problema, embora as expressões utilizadas, fora do contexto,
possam sugerir.
Uma interpretação da DH na linha do "agnosticismo religioso do Estado" ou do
"naturalismo do Estado" ou do "positivismo jurídico" não possui qualquer fundamento.
De fato, quando se afirma que o Estado não é competente para julgar a verdade ou
falsidade das crenças religiosas, deve ser entendido no sentido indicado por Leão XIII e
Pio XI, ou seja, que o Estado, como tal, não tem qualquer competência na ordem
sobrenatural; nesta ordem, a competência pertence exclusivamente à Igreja.
"Assim, tudo o que, nas coisas humanas, é sagrado por uma razão qualquer, tudo o que
é pertinente à salvação das alas e ao culto de Deus, seja por sua natureza, seja em
relação ao seu fim, tudo isso é da alçada da autoridade da Igreja. Quanto às outras
coisas que a ordem civil e política abrange, é justo que sejam submetidas à autoridade
civil”[44]
Nós não poderíamos defender a liberdade e a autonomia da Igreja sem defender este
princípio.
Mas isso não significa que o Estado, como tal, não tenha obrigações para com Deus e
com a Igreja, nem que a liberdade da Igreja em relação ao Estado seja idêntica a uma
simples liberdade civil, de ordem puramente natural, que beneficia todos os cidadãos em
matéria religiosa.
Na verdade, a doutrina da DH não defende “o agnosticismo religioso do Estado”: os
governantes, enquanto governantes e não apenas como os homens, devem procurar e
aderir à verdade. (cf. DH, 1) para que o Estado promova a verdadeira religião, ou seja , a
religião católica. A DH não diz que o Estado não possa ter em conta a distinção entre a
Igreja Católica e outras religiões (por exemplo , dando um reconhecimento especial à
Igreja, contribuindo para o subsistência do clero , etc . ). O objetivo preciso da Declaração
não é o que o Estado deve fazer para satisfazer os seus deveres para com Deus, mas o
que o Estado não pode fazer vis-à -vis a consciência humana. De facto, como já foi dito,
a DH não exclui o estado confessional. O que afirma a DH é que o Estado não pode forçar
ninguém em matérias religiosas, a menos que as manifestações externas dessas religiões
ultrapassem os limites indicados pela DH , 7.
A liberdade religiosa, como entendida pela DH, tem um fundamento sólido, não em uma
concepção naturalista do Estado, mas fundamentada na dignidade da pessoa humana e na
obrigação deste último de procurar e aderir a verdadeira religião (cf. DH, 2). Além disso,
deve ser levado em conta o fato de que a doutrina de Leão XIII e de Pio XI segundo a
qual o poder do Estado é limitado pela ordem natural, não é equivalente a uma "concepção
naturalista do Estado.” Esta chamada "concepção naturalista do Estado" baseia-se na tese
contida na Proposição 3 condenada no Syllabus[45], enquanto que na DH se afirma
especificamente o contrário, que a norma suprema da vida humana é a lei divina, eterna,
objetiva e universal, pela qual Deus governa e dirige o universo e a sociedade humana
(cf. DH, 3).
Além disso, a doutrina da DH não tem nada a ver com o positivismo jurídico, pelo
contrário, coloca um limite sobre a suposta onipotência jurídica do Estado, com base em
um direito natural derivado da dignidade da pessoa (Cf. DH, 1/a).
A Relatio de textu reemendato também explicou porque não há lugar para o positivismo
jurídico:
"Admitidas estas premissas, o argumento em favor da liberdade religiosa tem seu
fundamento primeiro na razão. Para construir esse argumento, usa-se a elevada
consciência da dignidade da pessoa que o homem de hoje possui, e a demanda por
liberdade civil que dela decorre. Na verdade, deve-se notar que o argumento não está
baseado no simples fato dessa crescente consciência pública, ou o simples fato da
aplicação da liberdade civil, como se a Igreja cedesse à opinião pública ou como se
deixasse abandonar a algum positivismo jurídico. Longe disso! Em vez disso, o
argumento é baseado na verdade sobre a dignidade humana, a consciência clara de hoje,
e, conseqüentemente, a própria justiça, em virtude da qual é demandada a liberdade
devida à pessoa.”[46]
A Relatio de modis a Patribus propositis disse ainda que a razão para não aceitar certas
mudanças foi o desejo de se evitar que a liberdade religiosa pudesse ser visto apenas como
um direito civil unicamente positivo:
"Pro libertate ipsius Ecclesiae Catholicae eiusque munere divino adimplendo haec
affirmatio iuris unice positivi summe periculosa esset. lus positivum civile a legislatore
civili conditur. Silibertas Ecclesiae dependere dicitur a voluntate legislatoris, quid fiet in
societatibus civilibus ubi legislator est Ecclesiae hostilis vel ubi non fit distinctio inter
religionem (non-christianam) et statum? Nonne sic de facto libertas et sacra
independentia Ecclesiae Christi committitur voluntati brachii saecularis? In declaratione
conciliari ad bonum totius Ecclesiae est attendendum.
Si haec dicimus, exinde tamen non est concludendum quod haec Synodus libertatem
religiosam propter solaro Ecclesiae Catholicae utilitatem admittit. In nostra declaratione
explicite affirmatur immunitatem ab externa coercitione exigi ipsa veritate i. e. ipsa
hominis natura. Fundatur enim in dignitate humanae personae a Deo ad suam imaginem
dotatae libero arbitrio et personali responsabilitate"[47]
Finalmente, devemos considerar o fato de que a immunitas ab externa coercitione em
assuntos religiosos, como entendido pela DH, se refere ao campo social e civil. Por esta
razão, em particular, sobre as reprimendas feitas por Cristo e outros episódios
semelhantes do Novo Testamento, a Comissão Conciliar afirmou que, na DH, não são
tratados os problemas da vida intra-ecclesiae (a relação entre os fiéis ou com as
autoridades eclesiástica):
"Exempla et verba allata contra textum, ex Novo T~stamento (et etiam pluria ex V etere
Testamento) sumpta, aut vitam religiosae communitatis Israël internam, in qua Jesus et
Apostoli vixerunt, aut vitam intra-ecclesiasticam primaevae communitatis christianae
spectant. De qua vita non agitur in Declaratione"[48]
Pode-se também o ver em mais detalhes, na resposta ao modo a seguir:
"post 'confirmet' addatur 'Insuper non solum ius, sed etiam officium habet Ecclesia iis
qui ei libere subiecti sunt doctrinam suam et disciplinam imponere vi auctoritatis et cum
sanctionibus. Haec coactio genuinae libertati minime opponitur, potius favet; ita enim
agebat Christus, dum saepe saepius dure reprehendebat, quod non crederent, eos qui
debebant veritatem agnoscere: Qui vero non crediderit condemnabitur (Mc 16, 16)'.
R./ Non admittitur, cum hic non agatur de officio, se de iure Ecclesiae neque de
quaestione libertatis in ipsa Ecclesia. Praeterea actio descripta Ecclesiae non est
vocanda coactio"[49]
Em conclusão, é totalmente coerente com os ensinamentos da DH que as normas morais
e apenas as normas civis justas sejam acompanhadas por sanções. Isso é admitido na
Declaração, que o erro em matéria de fé, quando for subjetivamente atribuível, merecer
um castigo da parte de Deus e da Igreja[50], mas não o parte do Estado, a menos que este
erro é uma violação da ordem pública direita.
4. Sobre a comparação entre a Quanta Cura e a Dignitatis humanae
As proposições condenadas por Pio IX na Enc. Quanta cura e as afirmações
correspondentes da DH, entre as quais pode-se ter a impressão de existir uma identidade
ou relação de implicação necessária, são os seguintes:
I)
Proposição condenada pela "Quanta cura": “A melhor condição é daquela sociedade em
que não se reconhece ao poder constituído o soberano direito nem obrigação de reprimir
com penas os infratores da Religião católica, exceto quando o seja solicitado pela ordem
pública. "(HSO 3 (1867) p. 162).
Ensinamento da "DH": "em matéria religiosa, ninguém seja forçado a agir contra a
própria consciência, nem impedido de proceder segundo a mesma, em privado e em
público, só ou associado com outros, dentro dos devidos limites "(DH, 2/a).
II)
Proposição condenada pela "Quanta cura": “A liberdade de consciência e de cultos é um
direito próprio que deve ser proclamado e assegurado pela lei em toda a sociedade bem
constituída. "(ASS 3 (1867) p. 162).
Ensinamento da “DH": A pessoa humana tem direito à liberdade religiosa. (…) Este
direito da pessoa humana à liberdade religiosa na ordem jurídica da sociedade deve ser
de tal modo reconhecido que se torne um direito civil."(DH, 2 / a).
Apesar das aparências, não há incompatibilidade entre as condenações da Quanta cura e
os ensinamentos da DH. Para entender as razões que justificam essa resposta, convém
lembrar que a questão aqui levantada foi levada em consideração na elaboração de DH
desde os primeiros esquemas apresentados na Sala conciliar, que sinalizaram a
continuidade com a doutrina anterior. As explicações apresentadas
pelo Relator contribuem para realçar o sentido em que os Padres compreenderam as
palavras empregadas pela Declaração, e de acordo com as quais eles aprovaram:
"Deste modo já se abre o caminho para uma reta compreensão de muitos documentos
pontifícios que durante o século XIX trataram da liberdade religiosa com palavras tais
que poderia parecer dever condenar-se tal liberdade.

Temos disto um exemplo flagrante na Encíclica Quanta cura de Pio IX, na qual se lê:
“Com esta idéia absolutamente falsa do regime social (i. é, o “naturalismo”) não temem
fomentar aquela errônea opinião tão grandemente destrutiva da Igreja católica e da
salvação das almas, que o nosso predecessor Gregório XVI de rec. mem. chamou de
“delírio”, segundo a qual a liberdade de consciência e de cultos é um dever próprio de
cada homem, que por lei se deve proclamar e defender em toda a sociedade retamente
constituída” (ASS 3, 1867, p. 162).

Como se vê, condena-se tal liberdade de consciência por causa da ideologia pregada
pelos fautores do racionalismo, fundados em que a consciência individual é sem lei e não
se encontra sujeita a nenhuma espécie de normas divinamente reveladas (cf. Syllabus,
prop. 3, ASS 3, 1867, p. 168).

Condena-se também aquela liberdade de culto, cujo princípio é o indiferentismo religioso


(cf. Syllabus, prop. 15, ibid., p. 170). Condena-se firmemente essa separação entre a
Igreja e o Estado que tinha por fundamento a teoria racionalista acerca da omni-
competência jurídica do Estado (cf. Syllabus, prop. 39, ibid., p. 172), segundo a qual a
própria Igreja deveria ser incorporada no organismo monístico do Estado e sujeita ao
seu supremo poder.

Para que estas condenações possam ser fielmente interpretadas, deve ver-se nelas aquela
doutrina constante da Igreja e sua solicitude acerca da dignidade da pessoa humana e
da sua verdadeira liberdade (regra da continuidade). Pois o fundamento último da
dignidade humana consiste que o homem é criatura de Deus. Não é ele mesmo um deus,
mas imagem de Deus. Desta absoluta dependência do homem em relação a Deus dimana
todo o direito e dever que eles têm de reivindicar para si e para os outros a autêntica
liberdade religiosa. Portanto, o homem está obrigado subjetivamente a prestar culto a
Deus, d’Ele depende de modo absoluto. Por conseguinte, o homem em matéria religiosa
não deve ser de modo algum impedido pelos outros homens ou mesmo pela autoridade
pública, do livre exercício da religião, para que a sua dependência absoluta de Deus não
seja infringida por qualquer espécie de razões.

Era por isso que a Igreja, lutando contra as asserções filosóficas como políticas do
laicismo, com toda a razão pugnava em prol da dignidade da pessoa humana e da sua
verdadeira liberdade. Donde se segue que a Igreja, segundo a regra da continuidade,
tanto nos tempos passados como hoje, embora mudadas as condições das coisas, se tem
mantido plenamente coerentes consigo mesma.”.[51]
Portanto, é necessário afirmar que as duas proposições da Enc. Quanta cura já citadas
tem um significado diferente das duas proposições correspondentes da DH.
É certo que os erros mencionados pela Enc. Quanta cura foram condenados em si
mesmos, não só por causa das circunstâncias históricas da época. No entanto, é bom ter
bem em mente que esses eram erros para compreender adequadamente os termos sob os
quais eles foram indicados na Encíclica. Assim, vemos que estamos perante a um caso -
que não é único na história - onde é condenada uma doutrina expressa com as palavras
que, mais tarde, serão utilizadas pela própria Igreja, dando-lhes um significado diferente.
Pode-se encontrar outros casos de aparentes contradições entre os textos do Magistério.
O mais antigo é talvez a palavra consubstancial, rejeitada pelo Concílio de Antioquia em
264, no sentido modelista que lhe deu Paulo de Samósata, que usou para negar a distinção
real entre as Pessoas do Pai e do Filho. Ela foi, então, aprovada pelo Conselho de Nicéia,
em 325, em um sentido diferente, a única correta, definida pelo próprio Concílio[52]. Na
própria Sagrada Escritura é possível encontrar exemplos desse tipo. As palavras do
Senhor: "Ego e Pater unum sumus" (Io 10, 30) - N.T.:“Eu e o Pai somos um. (Jo, 10,
30) - podem parecer - àquele que não lê a Sagrada Escritura in sinu
Ecclesiae [N.T.: "dando o sentido que a Igreja dá”] - incompatíveis com a afirmação:
"Pater maior me est" (Io 14, 28) - [N.T.: "Pai émaior do que eu”(Jo, 14,28)]. Da mesma
forma, os textos do Magistério devem ser lidos de maneira análoga aos da Escritura,
devem ser lidos in sinu Ecclesiae, evitando a interpretação livre[53].
No caso diante de nós, a expressão "liberdade de consciência e de culto" na Enc. Quanta
cura e a frase "liberdade religiosa" na Decl. Dignitatis Humanae referem-se a diferentes
realidades. Como observado na Enc. Quanta cura, as propostas condenadas são o
resultado da aplicação “à sociedade civil o ímpio e absurdo princípio chamado
naturalismo”[54].
Este princípio estabelece que "a razão humana – excluída qualquer consideração a Deus
– é o único verdadeiro juiz do verdadeiro e do falso, do bem e do mal, é lei para si mesma
e, com suas forças naturais, é suficiente para procurar o bem dos homens e dos
povos.”[55] e que "todas as verdades da religião derivam da força nativa da razão humana;
por isso, a razão é a norma principal com a qual o homem pode e deve alcançar as
verdades de qualquer gênero.”[56]. Neste contexto doutrinário, a relação entre a razão
humana e a verdade em geral, e aquela entre a razão humana e a verdade particular no
tocante a religião e ao culto, são definidos de uma única maneira: autonomia ou liberdade.
Assim, a liberdade de consciência e de culto condenado por Pio IX é aquela que significa
que "é lícito a cada qual professar a religião que mais lhe agrade, ou mesmo não professar
nenhuma”[57]
Os Pontífices Romanos (especialmente Pio IX e Leão XIII) ensinam justamente que não
é lícito reivindicar um direito ou uma faculdade moral para exercer um culto de acordo
com a sua boa vontade, pois isso implicaria em negar a existência de um única religião
verdadeira e querida por Deus. Ninguém tem perante a Deus o direito ou a faculdade
moral (o poder eticamente legítimo) de aderir interiormente a uma religião errônea, nem
a faculdade moral de praticá-la exteriormente. Nenhum governante pode estabelecer ou
declarar um direito à liberdade de consciência e de cultos, que consistiria em pretende
criar a possibilidade moral de adesão a qualquer culto. A verdade a qual o homem está
obrigado a o culto verdadeiro ao qual o homem está obrigado a praticar, não são criados
nem pela razão individual nem pelo poder político, mas transcendem essas duas instâncias
humanas.
Como já recordado nas páginas anteriores, Leão XIII e Pio XII também ensinam que, em
certas circunstâncias, a religião errada pode ser tolerada, isto é, não ser evitada pela
restrição[58]. Esta tolerância civil, não lhe é devida ao abrigo da justiça à título de culto.
A tolerância não sanciona e nem cria faculdade moral de exercer um culto errado (ela não
a torna eticamente legítima). Em virtude da tolerância, sem ter a faculdade moral de agir
mal, pode-se ter o direito civil de não ser impedido pela força, se dispõe também uma lei
civil fundamentada de maneira suficiente sobre motivos razoáveis: ou seja, para obter um
bem superior ou evitar mal maior[59]. A tolerância não equivale em conceder ao erro uma
legitimidade moral.
A prática da tolerância é, para além da razões expostas, a natureza do ato de fé. "E também
quanto ao seguinte a Igreja sói ter o maior cuidado: que ninguém seja forçado contra sua
vontade a abraçar a fé católica, pois com sabedoria admoesta Agostinho: “O homem só
pode crer voluntariamente”[60]. Além disso, Leão XIII e Pio XI distinguiram a liberdade
de consciência errônea da legítima liberdade de consciência[61].
Toda esta doutrina permanece inalterada na Decl. Dignitatis Humanae, embora tenha
havido algum progresso doutrinal e uma mudança do ponto de vista em se abordar o
problema. Na DH:
a) afirma a obrigação de procurar a verdade em matéria religiosa e moral, e não permite
qualquer tipo de liberdade de consciência, entendida como autonomia ética;
b) não admite nem autonomia religiosa: a única religião verdadeira é a religião da Igreja
Católica (cf. DH 1). Assim, a doutrina sobre a relação entre o homem e a verdade em
matéria religiosa e moral permanece inalterada em relação à doutrina tradicional;
c) o ponto de vista da DH, fundamentalmente jurídico, levou a examinar as relações
interpessoais entre os homens e entre o homem e o Estado. A restrição civil
(necessidade ab extrinseco) em matéria religiosa é excluída, dada a natureza mesma da
pessoa, a natureza do ato de fé, a natureza pessoal da obrigação e da responsabilidade em
relação à verdade que, de modo algum, está baseada em um suposta indiferença do
homem vis-à -vis a religião ou a igualdade de todas as religiões. Neste sentido -
diferentemente da Enc . Quanta cura - podemos falar de direito natural à liberdade
religiosa. É um direito negativo que indica ao Estado e à pessoa o que eles não devem
fazer a um outro homem em questões religiosas e do ponto de vista civil, mas não legitima
de maneira alguma do ponto de vista moral e religioso o que cada um faz em sua espera
de responsabilidade pessoal. A DH não pretende nem criar e nem conceder qualquer
faculdade moral ao erro ou à adesão ao erro por parte do sujeito.
A Enc. Quanta cura condena aqueles que ousam “submeter ao arbítrio da autoridade civil
a suprema autoridade da Igreja e desta Sé Apostólica, a ela atribuída pelo Cristo
Senhor.”[62]. A própria evolução do núcleo doutrinário do racionalismo vai de uma
apresentação inicial individualista a uma imagem coletivista ou totalitária do homem. Por
esta razão, os Pontífices Romanos têm insistido sempre sobre o fato de que o bem comum
necessita, acima de tudo, do respeito à dignidade aos direitos da pessoa, criada à imagem
de Deus, que goza de um destino eterno pessoal[63].
Nas condições atuais, a ênfase sobre a transcendência do domínio religioso considerado
vis-à-vis as competências do poder político, por um lado corresponde à verdade
tradicionalmente ensinada pela Igreja , e, por outro lado, é necessária para salvaguardar a
liberdade dos católicos e da própria Igreja. O comum da liberdade religiosa do ponto de
vista civil e social é o mínimo necessário para que a Igreja cumpra a sua missão divina, o
que não significa - como já disse antes - que esse mínimo seja o único possível ou o mais
vantajoso para a Igreja. Na DH 6, contemplamos a possibilidade de um reconhecimento
particular e de uma colaboração que, por sua vez, deve evitar comportamentos jurídicos
excluídos pela natureza própria da pessoa e do domínio religioso. De fato, a existência de
Concordatas entre a Santa Sé e alguns Estados colocam as relações Igreja-Estado acima
do simples regime de liberdade religiosa sobre o ponto de vista civil e social. Um outro
problema é o valor de cada Concordata em particular, o que pode depender das
circunstâncias em que foi estabelecido, e as pessoas envolvidas na sua realização.
IV - CONCLUSÃO
Ao término dessa argumentação, eu penso que se pode admitir como suficientemente
fundamentada a conclusão seguinte: não existem motivos suficientes para justificar em
consciência uma colocação em dúvida da compatibilidade da doutrina da
Declaração Dignitatis Humanae o Magistério anterior.
É preciso, entretanto, notar que as explicações dadas nessas páginas, contêm
necessariamente aspectos teológicos discutíveis. Uma vez demonstrado que não há
motivo suficiente para afirmar que haja uma contradição, permanece a possibilidade de
um estudo ulterior desse problema, com o objetivo de explicar de uma maneira ainda mais
perfeita a existência da compatibilidade e da continuidade: isto é, de quaerere rationem
quomodo sit [N.T.: buscar a razão de que modo seja], e não quomodo non sit [N.T.: de
que modo não seja] isso que é ensinado pela Igreja.[64].

[1]
Cf., por exemplo, o volume Vatican II. La liberté religieuse, collection “Unam
Sanctam”, n. 60, Ed. du Cerf, Paris 1967, em particular o artigo de J. COURTNEY
MURRAY, Vers une intelligence du développement de la doctrine de l’Eglise sur la
liberté religieuse (pp. 111-147). Cf. também NICOLAU, Magisterio eclesiástico sobre
libertad religiosa. Conciliación armónica de sus enseñanzas, “Salmanticensis"17 (1970)
pp. 57 ss.
[2]
Cf. por exemplo, S.C.D.F., Declaração.Mysterium Ecclesiae, 24.06.1973, n. 5.
[3]
Cf. CONC. VATICAN l, Const. Dei Filius, chap. 4: Denz-Sch 3020; CONC.
VATICAN II, Const. Dei Verbum, n. 8.
[4]
Leão XIII, Encíclica Immortale Dei,
1.9.1885. http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_01111885_immortale-dei_po.html
[5] "Omnino errores ab iis qui opinione labuntur semper distinguere aequum est, quamvis

de hominibus agatur, qui aut errore veritatis, aut impari rerum cognitione capti sint, vel
ad sacra, vel ad optimam vitae actionem attinentium. Nam homo ad errorem lapsus iam
non humanitate instructus esse desinit, neque suam umquam personae dignitatem amittit,
cuius nempe ratio est semper habenda. Praeterea in hominis natura numquam facultas
perit et refragandi erroribus, et viam ad veritatem quaerendi. Neque umquam hac in re
providentissimi Dei auxilia hominem deficiunt. Ex quo fieri potest, ut, si quis hodie vel
fidei perspicuitate egeat, vel in falsas discesserit sententias, possit postmodum, Dei
collustratus lumine, veritatem amplecti. Etenim si catholici homines, rerum externarum
causa, cum hominibus consuetudinem iungant, qui vel nullo modo vel non recte in
Christum credant, quia in errore versantur, tum vero illi sive occasionem sive
incitamentum his dare possunt, ut ad veritatem traducantur.” - João XXIII, encíclica
Pacem in terris, 11.04.1963
- http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-
xxiii_enc_11041963_pacem_po.html. Cf. também João Paulo II, Mensagem à ONU,
02.12.1978: ‘Insegnamenti di Giovanni Paolo II” 1(1978) p.259.
[6]
CONC. DE TRENTE, Decr. de peccato originali, can.1: Denz-Sch, 1511
[7]
CONC. DE TRENTE, Decr. de iustificatione, can.5: Denz-Sch, 1555
[8]
Cf. St. Thomas de Aquino, Summa Theologica, I, q. 3, a. 4 e III, q. 8, a.3
[9]
Acta Synodalia Sacrosancti Concilii Oecumenici Vaticani II, Typis Polyglottis
Vaticanis, vol. IV, pars VI, p. 725.
[10]
Pio XII, Discorso Ci riescet 06.12.1953
- http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/speeches/1953/documents/hf_p-
xii_spe_19531206_giuristi-cattolici_it.html
[11] N.T.: Tradução em breve. - Acta Synodalia …, cit., vol. IV, pars I, pp. 189-190.
[12]
Cf. J. HAMER, Histoire du texte de la Déclaration, en AA.VV., "Vatican II. La liberté
religieuse”, cit., p.104.
[13]
Acta Sxnodalia..., cit., vol. IV, pars l, p. 190.
[14]
Acta Synodalia …, cit., vol. IV, pars VI, p. 744.
[15]
Acta Synodalia.:., cit., vol. IV, pars VI, p. 769.
[16]. “Legitur: in ordine morali objectivo fundati. Est addition magni momenti. Introducta

est ad mentem Patrum qui rogant ut in aestimando ordine publico, ratio habeatur non
solum ad historicas situationes sed etiam et in primis ad ea quae morali ordine obiectivo
postulantur” - Acta Synodalia..., cit., vol. IV, pars V, p. 154.
[17]
Cf. St. THOMAS D'AQUIN, Summa Theologiae, I-II, q. 96, aa 2-3.
[18]
Pio XII, Discorso Ci riescet 06.12.1953
- http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/speeches/1953/documents/hf_p-
xii_spe_19531206_giuristi-cattolici_it.html
[19]
"Initium evolutionis doctrinalis iam fecit Leo XIII clarius faciendo distinctionem inter
Ecclesiam, quae populus Dei est, et societatem civilem, quae populus est temporalis et
terrestris (cf. Immortale Dei, A.S.S., 18, 1885, pp. 166-167; alias sexies eandem
doctrinam evolvit). Ita viam aperuit ad noviter affirmandam debitam et licitam
autonomiam, quae temperationi iudiciali competit. Ex quo fit, ut gradus ulterior iam
possibilis fuerit (regula progressus) ; ad novum scilicet iudicium de libertatibus
modernis", quae vocantur. Tolerari possunt hae libertates (cf. Immortale Dei, A.S.S., 18,
1885, p. 174; Libertas praestantissimum, A.S.S., 20, 1887, pp. 609-610). Iamvero
‘‘tolerari’’ tantum dicebantur. Ratio erat evidens. Etenim tum temporis in Europa
regimina quae libertates modernas, inclusa libertate religiosa, proclamabant, suam
inspirationem, adhuc conscio animo ex ideologia laicistica trahebant. Periculum ergo
exstabat, quod sensit Leo XIII, ne huiusmodi generis reipublicae instituta civilia et
politica, cum essent intentione laicistica informata, ad tales abusus perducerent, qui
dignitati personae humanae eiusque genuinae libertati nocivi non passent non fore. Quod
enim Leoni Pp. XIII iuxta regulam continuitatis cordi erat, Ecclesiae semper cordi est,
tutela nimirum personae humanae.” - Acta Synodalia.:., cit., vol. II, pars V, p. 492.
[20]
"Hic maxime recolenda est doctrina Pii XII de limitatione Status, quod spectat ad
errores in societate reprimendos: 'Può darsi che in determinate circostanze Egli non dia
agli uomini nessun mandato, non imponga nessun dovere, non dia perfino nessun diritto
d'impedire e di reprimere ciò che è erroneo e falso? Uno sguardo alla realtà dà una risposta
affermativa. Essa mostra che l'errore e il peccato si trovano nel mondo in ampia misura.
Iddio li riprova; eppure li lascia esistere. Quindi l'affermazione: Il traviamento religioso
e morale deve essere sempre impedito, quando è possibile, perchè la sua tolleranza è in
sè stessa immorale — non può valere nella sua incondizionata assolutezza. D'altra parte,
Dio non ha dato nemmeno all'autorità umana un siffatto precetto assoluto e universale, nè
nel campo della fede nè in quello della morale. Non conoscono un tale precetto nè la
comune convinzione degli uomini, nè la coscienza cristiana, nè le fonti della rivelazione,
nè la prassi della Chiesa.’ (Ci riesce, A.A.S., 35, 1935, pp. 798-799). Haec declaratio
(regula progressus) est summi momenti pro materia nostra, praesertim si prae oculis
habentur quae olim de missione status prolata sunt.” - (Ci riesce, A.A.S., 35, 1935, pp.
798-799). Esta declaração (regra do progresso) é da maior importância para a nossa
matéria, sobretudo se se tem presente o que outrora foi dito acerca da missão do Estado.”-
Acta Synodalia.:., cit., vol. II, pars V, p. 494.
[21]
“Cf. Pius XII, Alloc. Ad Prealatos auditores ceterosque officiales administros
Tribunalis S. Romanae Rotae, 6 oct. 1946: A.A.S., 38 (1946), p. 393: “I sempre più
frequenti contatti e la promiscuità delle diverse confession! religiose entra i confini di un
medesimo popolo hanno condotto i tribunal! civili a seguire il principio della "tolleranza"
e della "libertà di coscienza". Anzi vi è una tolleranza politica, civile e sociale verso i
seguaci delle altre confession!, che in tali circostanze è anche per i cattolici un dovere
morale.” Insuper, ad Communitatem internationalem quod, attinet, cf. Pius XII Alloc. Ci
riesce, 6 dec. 1953: A.A.S., 38 (1953), p. 797: “Gl'interessi religiosi e morali esigeranno
per tutta l'estensione della Comunità un regolamento ben definito, che valga per tutto il
territorio dei singoli Stati sovrani membri di tale Comunità delle nazioni. Secondo le
probabilità e le circostanze, è prevedibile che questo regolamento di diritto positivo verrà
enunciato così: Nell'interno del suo territorio e per i suoi cittadini ogni Stato regolerà gli
affari religiosi e morali con una propria legge; nondimeno in tutto il territorio della
Comunità degli Stati sarà permesso ai cittadini di ogni Stato-membro l'esercizio delle
proprie credenze e pratiche etiche e religiose, in quanto queste non contravvengano alle
leggi penali dello Stato in cui essi soggiornano.” - Acta Synodalia ... , cit., vol. III, pars
II, p. 327.
[22]
.“Sunt qui dubitant de ipsa formula ‘‘libertas religiosa’’ et putant nos in hac materia
agere non posse nisi de ‘‘tolerantia religiosa’’• Nonne tamen observandum est quod
libertas religiosa est terminus qui modernam et bene determinatam significationem
obtinuit in hodierno vocabulario ? In hoc pastoral Concilio Ecclesia dicere intendit quid
ipsa iudicet de hac re quam communiones ecclesiales, gubernia, institutiones, publicistae,
iurisperiti nostri temporis designant hoc vocabulo. Si sermonem dirigimus ad societatem
modernam, debemus uti suo modo loquendi. Agimus igitur de libertate religiosa tamquam
de notione formaliter iuridica, quae enuntiat ius quod fundatur in natura personae
humanae, quod ab omnibus observandum est et quod eo modo agnoscendum est in lege
fundamentali (Constitutio Statuum, cum garantiis iuridicis) ut fiat commune civile ius.
Eius agnitio, protectio et promotio oppignorari debet a societate in genere et speciatim a
guberniis” - Acta Synodalia, .. , cit., vol. III, pars II, pp. 349- 350.
[23]
Cf. PAUL VI, Discorso, 18-VIII-1971: "Insegnamenti di Paolo VI" 9 (1971) p. 705.
[24]
PAULO VI, Discorso, 20-XII-1976: 11Insegnamenti di Paolo VI", 14 (1976) pp.
1088-1089.
[25]
Cf. CONC. VATICANO II, Decreto Unitatis redintegratio, n.3, 14, 15, 20, 22, 23.
[26] CONC. VATICANO II, Declaração. Nostra aetate, n. 2.: "um raio da verdade que

ilumina todos os homens”.


[27]
Cf. PAULO VI, Ex. Ap. Evangelii nuntiandi, 8-XII-1975, n. 80.
[28]
”affirmando libertatem religiosam esse verum ius hominis, nullatenus affirmatur
omnes religiones eamdem aequalem auctoritatem positivam habere, a Deo receptam, ut
exsistant seseque propagent. Quod absit ; saperet enim pessimum indifferentismum
religiosum. Neque affirmatur potestati• publicae licere omnibus religionibus positivam
auctoritatem dare, ut aequo iure in societate gaudeant. Quod etiam absit; saperet enim
pessimum istud totalitarismum status, qui proprius erat laicismo.". Acta Synodalia ... ,
cit., vol. III, pars VIII, p. 462
[29] "Duplici senso sumi potest ius. Primo sensu ius dicitur facultas moralis aliquid agendi,

facultas scilicet qua quis ab intrinseco positivam auctoritatem habet (empowerment,


Ermachtigung, autorizzazione) ad agendum. In Declaratione non adhibetur ius hoc sensu,
ne quaestiones oriantur quae ad rem non sunt, e.g., quaestio speculativa de iuribus
conscientiae erroneae, quae versatur extra statum quaestionis iuridicum de libertate
religiosa, prout in Declaratione tractatur. Altero sensu ius dicitur facultas moralis
exigendi, ne quis constringatur ad agendum neve impediatur, quominus agat. Quo quidem
sensu ius significat immunitatem in agendo et excludit coercitionem sive impedientem.
Unde hoc altero sensu sumitur ius in Declaratione”. - Acta Synodalia ... , cit., vol. III, pars
VIII, pp. 461- 462.
[30] "Sob o regime de liberdade religiosa reconhecida pura e simplesmente pelo direito

público, ninguém é forçado a agir contra a sua consciência, nem impedido, desde que se
aja com consciência. Qualquer outra interpretação acerca do direito de diversas verdades
e erros é nula e sem efeito no que se refere nosso assunto”. Acta Synodalia ... , cit., vol.
III, pars VIII, p. 464.
[31]
PIO IX, Syllabus~ n. 77: Denz-Sch 2977.
[32]
PIO IX, Syllabus~ n. 78: Denz-Sch 2978.
[33]
LEÃO XIII, Enc. Immortale Dei, 1-11-1885
- http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_01111885_immortale-dei_po.html
[34]
PIO XI, Enc. Quas primas, 11-12-1925
- http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-
xi_enc_11121925_quas-primas_sp.html
[35]

"Sat multi Patres modos proponunt ne textus videatur affirmare potestates publicas posse
laicismo indulgere ac si non deberent curare bonum publicum cuius pars est exercitium
religionis ex parte civium. Vobis proponimus ut admittantur modi qui sunt magni
momenti pro exacta intellectione doctrinae: a) 'Potestas igitur civilis,, cuius finis propius
est bonum commune temporale curare, religiosam quidem civium vitam agnoscere eique
favere debet, sed limites suas excedere dicenda est si actus religiosos dirigere vel impedire
praesumat’" - Acta Synodalia ... , cit., vol. IV, pars VI, p. 721.
[36] “Itaque Deus humani generis procurationem inter duas potestates partitus est, scilicet

ecclesiasticam et civilem, alteram quidem divinis, alteram humanis rebus praepositam.


Utraque est in suo genere maxima: habet utraque certos, quibus contineatur, terminos
eosque sua cuiusque natura causaque proxima definitos; unde aliquis velut orbis
circumscribitur, in quo sua cuiusque actio iure proprio versetur." - LEÃO XIII,
Enc. Immortale
Dei - http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_01111885_immortale-dei_po.html.
[37]
"La Chiesa di Gesù Cristo non ha mai contestato i diritti e i doveri dello Stato circa
l'educazione dei cittadini (…); diritti e doveri incontestabili finché rimangono nei confini
delle competenze proprie dello Stato; competenze che sono alla loro volta chiaramente
fissate dalle finalità dello Stato; finalità certamente non soltanto corporee e materiali, ma
di per sé stesse necessariamente contenute nei lim iti del naturale, del terreno, del
temporaneo. ( ... ) (Il mandate della Chiesa) si estende invece all'eterno, al celeste, al
soprannaturale" - PIO XI, Enc. Non abbiamo bisogno,29.06.1931
- http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-
xi_enc_19310629_non-abbiamo-bisogno_it.html.
[38] "Hoc nostrum problema adamussim distinguendum est a quaestionibus conn~xis.

a) Primum problema connexum: de obligatione in ordine morali. In ordine morali omnes


homines, omnes societates, omnes auctoritatem civilem gerentes obiective et subiective
debent (i. e. moraliter obligantur) quaerere veritatem, et moraliter eis non licet propugnare
falsum.
b) Secundum problema morale connexum: de officio et iuribus Ecclesiae et de officio
morali hominum erga Ecclesiam catholicam eiusque doctrinam ac mandata. Ecclesia
habet officium etius praedicandi Iesum Christum. Nulla instantia humana obiective
moraliter libera est in acceptando vel respuendo Evangelium et Ecclesiam veram. Et haec
obligatio est etiam subiectiva quatenus perspicitur. Fideles, immo omnes homines
moraliter obligantur ad recte formandam conscientiam et ad vivendum iuxta eam.
Ab is quaestionibus moralibus connexis sedulo distinguenda est quaestio nostra nova.
Nunc enim examinatur utrum personae humanae in societate humana agnosci possit ut
libera sit a coercitione ex parte aliorum hominum societatis et potestatis publicae."- Acta
Synodalia ... , cit., vol. IV, parsI, p. 433.
[39]
Cf. Acta Synodalia ... , c it., vol. IV, pars VI, p. 768 (modi 10 et 11).
[40]
"Iuxta desiderium aliquorum Patrum in textu recognito (n. 13) accuratius
distinguuntur iura quae Ecclesiae competunt. Ex una parte Ecclesiae agnoscendum est ius
ex mandato Dei. Quatenus enim est auctoritas spiritualis et societas hominum secundum
fidei praecepta viventium, Ecclesia ius divir.itus ortum possidet libero modo in societate
vivendi et missionem suam adimplendi. Sed praeterea ei agnoscendum est ius naturale.
Ecclesiae enim membra, quatenus homines sunt, pari modo ac alii homines, ius habent ne
in societate impediantur vivendi iuxta exigentias suae conscientiae. Inter utrumque ius,
divinum et naturale, non datur oppositio; utrumque integre servatur si in societate datur
libertas socialis et civilis in re religiosa.” - Acta Synodalia ... , cit., vol. IV, pars V, p. 103.
[41] "Ubi sermo est de speciali civili agnitione quae determinatae religioni tribuitur,

Commissio admisit formam hypotheticam, quae a multis Patribus postulata est. Verum
est alios Patres petivisse ut nullo modo de hac speciali agnitione ageretur; cum tamen talis
specialis agnitio de facto in multis regionibus habeatur, Commissio observandum est in
hac pericope non tractari de omnibus iuribus quae Ecclesiae agnoscenda sunt; obiectum
nostrae declarationis non est vindicatio omnium iurium Ecclesiae, sed tantummodo
vindicatio universalis et semper observandi iuris ad libertatem tum pro catholicis tum pro
aliis.” - Acta Synodalia ... , cit., vol. IV, pars V, p. 102.
[42]
. "Si res bene intelligitur, doctrina de libertate religiosa non contradicit conceptui
historiee sic dicti status confessionalis. Etenim regimen libertatis religiosae prohibet
intolerantiam istam legalem, secundum quam quidam cives vel quaedam communitates
religiosae in inferiorem condicionem redigerentur quoad iura civilia in re religiosa. Non
tamen prohibt, quin religio catholica iure humano publico agnoscatur tamquam
communis religio civium in quadam regione, seu quin religio catholica iure publico
stabiliatur tamquam religio status. In hoc tamen casu, cavendum est ne ex instituto
religionis statalis deriventur consequentiae sive iuridicae sive sociales, quae in re religiosa
aequalitati omnium civium in iure publico damnum inferret. Verbe, simul cum regimine
religionis statalis observandum est regimen libertatis religiosae.” - Acta Synodalia ... ,
cit., vol. III, pars VIII, p. 463.
[43]
Cf. PAULO VI, Discorso, 22-VIII-76: "Insegnamenti di Paolo VI", 14 (1976) p. 672.
[44] "Quidquid igitur est in rebus humanis quoquo modo sacrum, quidquit ad salutem

animorum cultumve Dei pertinet, sive tale illud sit natura sua, sive rursus tale intelligatur
propter causam ad quam refertur, est omne in potestate arbitrioque Ecclesiae: cetera vero,
quae civile et politicum genus complectitur, rectum est civili auctoritati esse subiecta” -
LEÃO XIII, Enc. Immorta1e
Dei, - http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_01111885_immortale-dei_po.html
[45]
Cf. Syllabus, n. 3: Denz-Sch 2903.
[46] "His suppositis, argumentum pro libertate religiosa primum haurit schema ex ratione.
Ad hoc argumentum construendum appellat ad auctam hominis hodierni conscientiam
dignitatis personae atque ad libertatis civilis postulationem, quae exinde profluit.
Notandum vero est, argumentum non fundari in nudo facto huiusmodi crescentis
conscientiae, neque in nudo facto postulationis libertatis civilis, acsi Ecclesia quasi
cederet opinioni publicae vel positivismo cuidam iuridico indulgeret. Quod absit. E
contra, fundatur argumentum in veritate de dignitate personae, quam conscientia hodierna
manifestat, ac proinde in iustitia ipsa, qua postulatur libertas personae. debita” - Acta
Synodalia ... , cit., vol. IV, parsI, p. 185.
[47] Acta Synodalia ... , cit., vol. IV, pars VI, p. 720.
[48]
Acta Synodalia ... , vol. IV, pars VI, p. 763.
[49] Acta Synodalia ... , cit., vol. IV, pars VI, p. 770.
[50]
"O poder coercitivo se funda na experiência da Igreja primitiva, e que o próprio São
Paulo fez uso dele, na comunidade cristã de Corinto (cfr. 1 Cor 5).” - (PAULO VI,
Discurso, 29-I-1970: “Discurso do Papa Paulo VI aos Auditores e Oficiais do Tribunal
da Sagrada Rota Romana por Ocasião da Abertura do Ano Judiciário”
- http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/speeches/1970/documents/hf_p-
vi_spe_19700129_anno-giudiziario_po.html.
[51] ""Haec modo iam via sternitur ad rectam intelligentiam plurium documentorum

pontificalium quae saeculo XIX de libertate religiosa talibus verbis egerunt ut huiusmodi
libertas damnanda esse videretur. Exemplum clarissimum habetur apud Pium IX in
Encyclica Quanta cura, in qua legitur: 'Ex qua omnino falsa socialis regiminis idea (scil.
"naturalismi") baud timent erroneam illa fovere opinionem catholicae Ecclesiae
animarumque saluti maxime exitialem, a rec. mem. Gregorio XVI praedecessore nos•tro
"de1iramentum" appella tam, nimirum libertatem conscientiae et cultuum esse proprium
cuiuscumque hominis ius, quod lege proclamari et asseri debet in omni recte constituta
societate' (A.S.S., 3, 1867, p. 162). Ut videre est, damnatur libertas ista conscientiae
propter ideologiam, quam praedicaverunt rationalismi fautores, hoc fundamento innixi,
quod individus conscientia exlex est, ut nullis sit norrois obnoxia divinitus traditis (cf.
Syllabus, prop. 3, A.S.S., 3, 1867, p. 168). Damnatur quoque ista libertas cultus, cuius
principium est indifferentismus religiosus (cf. Syllabus, prop. 15, ibid., p. 172), secundum
quod ipsa Ecclesia intra organismum monisticum Status incorporanda et potestati
supremae Status subicienda esset. Ut hae damnationes exacte interpretentur, in ipsis
cernenda est constans illa Ecclesiae doctrina atque sollicitudo de humanae personae vera
dignitate atque de eius vera libertate (regula continuitatis). Etenim fundamentum ultimum
dignitatis humanae in eo est, quod homo est Dei creatura. Non est ipse deus sed Dei
imago. Ex hac absoluta dependentia hominis a Deo profluit omne ius officiumque
hominis ad vindicandam sibi et aliis veri nominis libertatem religiosam. Ideo enim homo
subiective tenetur ad Deum colendum iuxta rectam conscientiae suae normam, quia
obiective a Deo absolute dependet. Ideo homo nullatenus est ab aliis hominibus vel etiam
a potestate publica in re religiosa interdicendus a libero exercitio religionis, ne eius
absoluta a Deo dependentia quavis ratione infringatur. Certamen igitur committendo
contra laicismi placita cum philosophies tum politica, Ecclesia pro dignitate personae
humanae et pro eius vera libertate omni ratione dimicabat. Ex quo sequitur, quod Ecclesia
iuxta regulam continuitatis cum olim tum hodie, quantumvis mutatis rerum
condicionibus, sibi plane consentiat”. Acta Synodalia..., cit., vol. II, pars V, pp. 491-492.
[52]
Cf. Dictionnaire de Théologie Catholique, vol. I, col. 1434; vol. III, col. l611-1612;
vol. XII, col. 50.
[53]
Cf. PAUL VI, Discorso, 20-12-76: "Consistório e votos de felicitações ao Colégio
Cardinalício e à Prelatura Romana’
- http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/speeches/1976/documents/hf_p-
vi_spe_19761220_concistoro_it.html.
[54]
PIE IX, Enc. ~uanta cura: ASS 3 (1867) p. 162.
[55]
"Humana ratio, nullo prorsus Dei respectu habito, unicus est veri et falsi, boni et mali
arbiter, sibi ipsi est lex et naturalibus suis viribus ad hominum ac populorum bonum
curandum sufficit” - Syllabus, n. : Denz-Sch 2903.
[56]
"Omnes religionis veritates ex nativa humanae rationis vi derivant; hinc ratio est
princeps norma, qua homo cognitionem omnium cuiuscunque gene- ris veritatum assequi
possit ac debeat” - Ibidem, n. 4: Denz-Sch 2904.
[57]
"integrum cuique esse; aut quam libuerit, aut omnino nullam profiteri religionem” -
Leão XIII, Enc. Libertas: ASS 20 (1887) p. 603.
[58]
Cf. LEON XIII, Enc. Libertas: ASS 20 (1887) pp. 609- 610; PIE XII, Alloc. Ci riesce:
AAS 45 (1953) pp. 797
ss.
[59]
Cf. St. THOMAS, Summa Theologiae, II-II, q. 10, a. 11; LEON XIII, Enc. Libertas,
loc. cit.
[60]
"Atque illud quoque magnopere cavere Ecclesia solet, ut ad amplexandam fidem
catholicam nemo invitus cogatur, quia quod sapienter Augustinus monet: “Credere non
potest homo nisi volens’' - Encíclica Immortale Dei: Denz-Sch 3177.
[61]
Cf. LEÃO XIII, Enc. Libertas: ASS 20 (1887) pp. 608- 609; PIO XI, Enc. Non
abbiamo
bisogno: http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-
xi_enc_19310629_non-abbiamo-bisogno_sp.html.
[62]
"Ecclesiae et huius Apostolicae Sedis supremam auctoritatem a Christo Domino ei
tributam civilis auctoritatis arbitrio subiicere” - Encíclica Quanta cura: Denz-Sch 2893,
A distinção entre as duas sociedade consultar Leão XIII, Enc. Cum multa, 8-12-1882 -
.http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_08121882_cum-multa_en.html, e Immortale Dei, 1-11-1885
- http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_01111885_immortale-dei_po.html.
[63]
cr. PIE XI, Mit brennender Sorge: AAS 39 (1937) pp. 159-160; PIE XII, Message
radiophonique, 1-VI-1941: AAS 33 (1931) p. 200; JEAN XXIII, Enc. Pacem in terris:
AAS 55 (1963) p. 260; etc.
[64]
Cf. S. PIO X, Enc. Cornmunium rerum, 21-4-1909
- http://www.vatican.va/holy_father/pius_x/encyclicals/documents/hf_p-
x_enc_21041909_communium-rerum_en.html.

PARA CITAR

RATZINGER, Card. Joseph. Respostas às dubia apresentadas por S. Ex.ª. Revma.


Dom Lefebvre - Disponível em:
< http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/liberdade-
religiosa/655-respostas-as-dubia-apresentadas-por-s-ex-revma-dom-lefebvre >. Desde:
03/06/2014.

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