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Teorias e arquitetura

da Antiguidade:
o trabalho de Vitrúvio
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar o contexto histórico da Antiguidade Clássica.


„„ Apresentar a arquitetura e o urbanismo da Grécia.
„„ Listar os principais exemplares da arquitetura e do urbanismo romanos.

Introdução
O Mar Mediterrâneo foi um aspecto que facilitou a fixação de algumas
comunidades em suas áreas próximas, porque contribuía para fertilizar o
solo, além de ser um meio para desenvolver o comércio e a navegação
marítima. Diante disso, alguns povos se destacaram por se desenvolverem
na região banhada por esse mar, como, por exemplo, os gregos e os
romanos. Os gregos são uma rica civilização que se destacou por meio
da organização das suas cidades, da sua arte e da sua arquitetura voltada
à estética e à proporção. Os romanos, que surgiram depois, utilizaram
como referência a civilização grega e possibilitaram avanços nas técni-
cas construtivas, contribuindo para o aperfeiçoamento das cidades e a
qualidade de suas edificações.
Neste capítulo, você vai estudar o contexto do surgimento das civi-
lizações grega e romana, lendo sobre seus momentos e sua evolução
na história. Você ainda vai ver quais foram as contribuições de cada um
desses povos para as cidades e as arquiteturas elaboradas nesse período
da antiguidade, entendendo melhor o trabalho de Vitrúvio.
2 Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio

1 Contexto histórico da Antiguidade Clássica


O momento da história denominado Antiguidade, que compreende o período
de VIII a.C. e VI d.C., foi marcado pelo surgimento de variadas civilizações,
sendo os gregos e os romanos os principais exemplos dessa fase. Essa fase da
história, conforme destaca Belato (2009), está diretamente ligada à localização
do Mar Mediterrâneo, que possibilitou a sobrevivência dessas comunidades
nas áreas próximas, como a região da Grécia e a Península Itálica, que você
pode visualizar na Figura 1.

Figura 1. Península Itálica e Grécia, banhadas pelo Mar Mediterrâneo.


Fonte: Adaptada de Guia geográfico ([20--?]).

Grécia Antiga
O povo grego teve origem na Península Balcânica, mas se fixou na região da
Grécia atual porque encontrou ali um clima agradável. Pereira (2010) expõe
que os gregos ocuparam uma grande área, que abrangia diversas regiões, entre
elas parte da Grécia Insular, Continental e Asiática, além da Ásia Menor,
resultando em uma área de mais de 75 mil quilômetros quadrados. Essas regiões
apresentavam uma topografia irregular, com relevo montanhoso, dificultando
o desenvolvimento da agricultura. Em virtude disso, essa civilização acabou
desenvolvendo mais fortemente o seu comércio marítimo.
Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio 3

Esse povo, ao longo de seu desenvolvimento, passou por quatro importantes


períodos. O primeiro deles, que compreendeu o século XII até o século VIII
a.C., foi denominado de período homérico. Nesse momento, a sociedade era
dividida em famílias, que eram chamadas de genos. Cada geno tinha um chefe,
que normalmente era o homem mais velho da família, e era ele quem tinha
o poder, determinando sobre todos os aspectos da vida cotidiana, religião,
economia, entre outros. No período homérico, as terras para o trabalho eram
coletivas, mas isso acabou sendo um problema, já que alguns membros da
família começaram a reivindicar mais porções do solo. Isso acabou resultando
no surgimento de propriedades privadas e também na divisão de classes sociais.
Com isso, iniciou um novo período, denominada período arcaico, que
compreendeu os séculos VIII a VI a.C. Nesse momento, os genos buscaram
proteger os seus interesses e acabaram se unificando, dando origem às cidades
gregas, que, na época, eram chamadas de pólis. Essa fase é marcada também
pela expansão e fundação de novas colônias, além do desenvolvimento da
agricultura e da pecuária. Belato (2009) afirma que foi nesse momento que
a sociedade grega começou a se organizar e formar sua cultura, dando valor
à filosofia e à ciência.
O terceiro momento da história grega, que ocorreu entre os séculos VI e
IV a.C., é o período clássico, marcado pelo apogeu dos gregos e também por
muitas guerras, entre elas a Guerra do Peloponeso e as Guerras Médicas. Em
virtude disso, e também da expansão das cidades nos seus aspectos econômico
e social, a democracia foi estabelecida na cidade de Atenas. Foi nesse mo-
mento, conforme Belato (2009), que essa civilização se destacou na navegação
marítima e no comércio, usando moedas como forma de troca, facilitando
as relações entre as suas cidades-estados. Após esse grande crescimento
iniciou o período denominado período helenístico, momento em que houve
o enfraquecimento dessa civilização.
A religião foi um aspecto importante em todas as fases da história dos
gregos. Eles eram um povo politeísta e tinham como sua principal divindade
Zeus, deus que era o símbolo da razão, da justiça e da autoridade. Eles também
desenvolveram estudos em outras importantes áreas de conhecimento, como,
por exemplo, as artes, as ciências e a filosofia, que trouxeram contribuições
por meio dos primeiros filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles.
4 Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio

Roma Antiga
A civilização romana surgiu após os gregos, no século VII a.C., e se fixou
próxima ao Mar Mediterrâneo, na área da Península Itálica. Os romanos são
uma mistura de diferentes culturas, tendo como base os gregos e também a
cultura oriental e etrusca. Surgiram por meio do agrupamento de várias aldeias,
que acabaram se fixando às margens do Rio Tibre. Arruda (1993) destaca que,
em um primeiro momento, Roma foi edificada com o intuito de evitar que os
povos etruscos pudessem ocupar essa parte do território.
À medida que foi se organizando, a sociedade romana acabou sendo dividida
em dois grupos. Mumford (1982) explica que havia o grupo dos patrícios,
composto pelos proprietários e donos das terras, e dos plebeus, que eram
aqueles pequenos proprietários, comerciantes, artesãos e também aqueles que
não tinham descendentes fundadores das cidades, que não tinham qualquer
poder de voto, sendo excluídos de qualquer decisão importante.
A organização da sociedade romana era muito influenciada pelas famílias,
as quais caracterizavam-se pelos pais e filhos, mas também pelos animais,
escravos e a própria casa. Os homens é que eram os chefes, assim como na
sociedade grega, e definiam todos os aspectos, priorizando uma educação
baseada na moral, com ênfase na disciplina e na justiça.
Arruda (1993) acrescenta que o desenvolvimento da civilização romana
se deu em três períodos, com um governo essencialmente monárquico nos
primeiros anos, tendo um chefe supremo como detentor do poder. Em seguida,
a partir de 509 a.C., a sociedade viveu sob um regime republicano, que se
desintegrou com o passar dos anos e originou o Império Romano.
Nesse último momento, do império, houve grande evolução da sociedade
e das cidades, com criação de serviços de comunicações e transportes, além
do advento de leis. O direito romano foi um dos importantes legados dessa
civilização. Como se preocupava muito com a justiça, os direitos e os deveres
de cada membro da sociedade, foram sistematizadas importante leis, instituindo
também uma classe de juristas, que eram aqueles cidadãos responsáveis por
conhecer essas leis e aplicar elas na sociedade romana.
A economia romana se baseava na produção agrícola, com ênfase na pro-
dução de cereais, e, como os gregos, no comércio marítimo, por meio do qual
podia vender seus produtos. A extração de mármore e a produção de cerâmicas
eram outras atividades desse povo, que utilizava esses objetos e materiais
nas decorações de suas edificações. Conforme Mumford (1982), os romanos
puderam desenvolver fortemente as relações comerciais porque contavam
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com uma vasta rede de estradas e portos, facilitando os deslocamentos das


mercadorias e a sua chegada em várias regiões. Além disso, tinham tarifas
baixas e utilizavam uma única moeda.
A religião também era importante para os romanos; por um longo período,
eles foram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Conforme des-
taca Arruda (1993), suas divindades eram originárias dos gregos, mas tinham
outro nome, bem como seus cultos, que foram sendo adaptados conforme
suas crenças e sua realidade. Em seus anos finais, o Império Romano adotou
o cristianismo como religião oficial.
Outro ponto importante dos romanos diz respeito ao seu exército, que
contava com militares voluntários, firmes e disciplinados, que tinham grande
amor a sua pátria. Foi a partir dessa força do exército que essa civilização
pode conquistar grandes territórios.
Os gregos e os romanos são importantes exemplos de civilização da Anti-
guidade. O contexto do surgimento e desenvolvimento desses povos demonstra
uma grande evolução em diversas áreas, bem diferente dos períodos anteriores.
Foi nesse momento que, de fato, a sociedade se organizou e as cidades e a
arquitetura passaram a adquirir importância, demonstrando preocupação com
a qualidade de vida da população.

2 Arquitetura e urbanismo gregos


Os gregos fizeram contribuições em diversos campos e se destacaram muito
pelos avanços referentes às suas cidades, arquitetura e arte. Outra grande
contribuição foi a criação das cidades-estados, unidades do território que eram
independentes e que facilitavam as trocas e o comércio marítimo.
Essas cidades-estados eram chamadas também de poleis (plural de pólis),
e eram conformadas como unidades de caráter político e administrativo que
surgiram no século VIII a.C. Essas poleis caracterizavam a vida política dos
romanos e, segundo Faber (2019, p. 1), eram uma “[...] cidade, entendida como
a comunidade organizada, formada pelos cidadãos (no grego ‘politikos’), isto
é, pelos homens nascidos no solo da cidade, livres e iguais”.
Segundo o autor, os moradores da polis eram denominados politikos, que
eram os que exerciam a civilidade. Pereira (2010) complementa que a pólis
grega era a cidade e o estado ao mesmo tempo, apresentando um tamanho
ideal de cidadãos, com o objetivo de que todos pudessem ser ouvidos e dar
suas opiniões, mas também se proteger.
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Essas cidades-estados eram independentes, tendo autonomia nos aspectos


jurídico, político, religioso, legal e social. Cada unidade era considerada um
pequeno estado. Nesse meio, destacaram-se duas cidades gregas que foram
exemplo para o surgimento de muitas outras. Uma delas, segundo Pereira
(2010), era voltada mais para a democracia, a arte e a filosofia, e se chamava
Atenas; já a cidade de Esparta caracterizou-se por ser uma unidade voltada
ao militarismo e à força.

Atenas e Esparta foram as duas cidades principais da civilização grega. Elas se diferen-
ciavam em seus objetivos principais, com uma forma de organização e foco diferentes.
Ambas apareceram na fase arcaica, entre os anos de 700 a 500 a.C.
A cidade-estado de Atenas, que estava localizada na região Ática, pode se desen-
volver por meio do comércio e de seus portos, expandindo-se e, consequentemente,
destacando-se politicamente. Nessa cidade, a grande preocupação era com o equilíbrio
entre o corpo e a mente, e, por esse motivo, Atenas se tornou uma referência intelectual
e cultural para o período.
A cidade-estado de Esparta estava situada na região da Lacônia e se desenvolveu
por meio das lavouras e da criação de animais, visto que não tinha contato com o Mar
Mediterrâneo. Diferentemente de Atenas, Esparta era voltada para os valores militares
e a educação e o treino de seus cidadãos para participarem de guerras e combates.
Foi por essa característica que os espartanos puderam conquistar novos territórios
(CURADO, 2018).

As cidades-estados gregas foram um grande avanço para essa sociedade,


porque influenciaram as raízes políticas e sociais. Isso aconteceu também pelas
alterações relacionadas à ligação entre a terra e o homem, o que resultou no
surgimento de classes sociais. Como cada cidade era autônoma e independente,
sendo um estado também, elas tinham características bastante diferenciadas
e objetivos distintos, mas, porque faziam parte da civilização grega, também
apresentavam semelhanças e uma identidade cultural.
Entre essas semelhanças, pode-se citar que toda pólis era formada por
cidadãos gregos, sendo qualquer homem livre, escravo ou estrangeiro que
vivesse no local. A pólis se dividida em duas partes, a zona urbana e a zona
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rural. Essas cidades contavam com a acrópole e uma ágora. A acrópole se


caracterizava por ser uma região alta, onde estavam localizados os palácios e
também os templos; a ágora era um espaço como se fosse uma praça onde os
principais acontecimentos da cidade ocorriam, sendo esse um local para reu-
niões, apresentações, manifestações e trocas comerciais. Ainda, as atividades
que mais se destacavam nas cidades-estados desse momento era o comércio
e a agricultura, e cada uma delas era autossuficiente.
Na sua organização de traçado e espaços, as cidades-estados priorizaram
locais onde a vida pública pudesse acontecer e as pessoas pudessem se en-
contrar. Pereira (2010) afirma que, à medida que as poleis foram evoluindo,
passaram a ser caracterizadas por traçados ortogonais com ruas paralelas
e perpendiculares, que formavam ângulos retos. Os espaços urbanos eram
organizados em pequenos núcleos, cada um com funções especificas. Um dos
exemplos de cidades organizadas dessa forma é Paestrum, cuja planta baixa
você pode ver na Figura 2, que foi planejada com quadras retangulares, por
meio de uma grelha ortogonal. O centro da cidade é determinado pelo setor
público, contando com os espaços comerciais, templos e edifícios do governo.

Figura 2. Planta baixa da colônia grega de Paestrum, século VII a.C.


Fonte: Fazio (2011, p. 80).
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Ainda conforme Pereira (2010), os gregos foram uma civilização tão im-
portante que foram os responsáveis por formar a base da cultural da Europa
Ocidental. Nas áreas da arquitetura e da arte, suas contribuições passaram
pelo valor que davam às questões estéticas, à preocupação com a proporção
e a perfeição.
Na arquitetura, as principais edificações ainda eram as de caráter religioso,
os templos, mas também surgiram algumas outras voltadas ao lazer, como os
teatros e anfiteatros. Os gregos buscavam demonstrar em suas edificações a
monumentalidade e a grandeza, sendo que elas deveriam representar a beleza.
Eles criaram também colunas baseadas em três estilos: o jônico, o dórico
e coríntio. Esses padrões foram copiados e usados como base por outras
civilizações. O templo grego mais importante foi o Partenon, que você pode
visualizar na Figura 3, localizado na cidade de Atenas e, segundo Pereira
(2010), considerado o modelo perfeito de edificação de arquitetura grega.

Figura 3. Partenon, principal templo grego, Atenas, Grécia.


Fonte: anyaivanova/Shutterstock.com.
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O templo é composto por colunas esbeltas e proporcionais, como mostrado


na Figura 4, “[...] com uma altura cinco vezes superior a seus diâmetros; os
capitéis são mais leves; e o comprimento das elevações, com seis ou oito
colunas” (PEREIRA, 2010, p. 64). A edificação foi construída em mármore
branco e dedicada à deusa Atena Partenos.

Esquematicamente, podemos dizer que o Partenon é uma caixa dupla da ordem


dórica: a caixa interna é hexastila e a externa octastila. Ou, em outras pala-
vras, um hexastilo envolto por um peristilo dórico cuja estilobata ou recinto
total ocupa um retângulo de 200 × 100 pés (60 × 30 m) — seu comprimento
é aproximadamente o dobro da largura —, enquanto a segunda caixa tem
exatamente esta medida de 100 pés em sua cela, ou seja, na parte do templo
reservada diretamente à deusa (PEREIRA, 2010, p. 64).

Figura 4. Elevação e planta baixa do Partenon.


Fonte: Pereira (2010, p. 65).
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A maioria das edificações das cidades gregas eram feitas de pedra, ma-
deira, mármore e calcário. Eram embasadas no uso da simetria e também em
cálculos e proporções matemáticas, sendo o antropomorfismo um dos grandes
conceitos dessas arquiteturas. Segundo Pereira (2010), o antropomorfismo
é uma forma de considerar o homem como a medida e o centro do universo.
Assim, o homem grego e suas proporções eram o centro e o ponto de refe-
rência para a realidade e a criação de sua arquitetura, por meio do conceito
de escala humana.
Com isso, “[...] se o homem é a medida de todas as coisas, a escala humana
determinará a proporção ou cânone de beleza. […] Assim, uma escala é um
sistema de medida apropriado para nós e para aquilo que pretendemos medir”
(PEREIRA, 2010, p. 48). Para isso, era necessário compreender a escala do
homem pelas medidas do corpo humano, as quais podem ser entendidas por
meio do Homem Vitruviano, que você pode visualizar na Figura 5. Esse dese-
nho foi realizado por Leonardo da Vinci no século XV e representa os ideais
clássicos de beleza, proporção, equilíbrio e harmonia das formas humanas.
Esse conceito foi o que baseou a arquitetura grega e estabeleceu os conceitos
de medida e módulo.

Esta escala humana (o homem como medida) acarreta uma concepção especial
do mundo: uma ordem especial ou ideal de relação com uma correspondên-
cia arquitetônica entre as partes de um edifício e suas respectivas medidas.
Se a natureza dispõe o corpo do homem de tal forma que cada membro se
relaciona com o todo, os gregos querem que exista também essa mesma
correspondência de medidas entre as partes e a obra inteira de arquitetura
(PEREIRA, 2010, p. 49).

Os gregos melhoraram as condições das cidades e da arquitetura, porque


passaram a ver esses locais como grande influenciadores e facilitadores da vida
urbana. Foi a partir dessa civilização que avanços relacionados a esses temas
puderam ser notados, servindo como referência para as épocas posteriores.
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Figura 5. Homem Vitruviano: esquema antropocêntrico renascentista, de Leonardo da


Vinci, que reflete o antropomorfismo grego.
Fonte: Pereira (2010, p. 49).

3 Arquitetura e urbanismo romanos


Os romanos surgiram depois dos gregos e, baseados na cultura grega, fizeram
suas contribuições para o urbanismo e a arquitetura. Sua sociedade também
contou com cidades-estados na fase da monarquia, mas sofreu mudanças e,
no período do império, alterou sua organização política, já que o poder estava
concentrado no imperador.
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Os romanos trouxeram muitos avanços paras as cidades e sua organização.


Sendo bastante disciplinados e técnicos, suas obras têm um caráter de enge-
nharia, com menos refinamento estético do que os gregos. “Os romanos eram
um povo eminentemente prático e organizador, que procurava as soluções
simples e claras, sempre preferidas nos grandes empreendimentos coloniais.
Faltava-lhes o refinamento artístico dos helenos, e eram mais engenheiros do
que arquitetos” (GOITIA, 1992, p. 42).
Suas cidades eram pensadas e seus espaços eram adequados às necessidades
e interesses da população. O espaço urbano era considerado um centro admi-
nistrativo, tendo uma área que concentrava as edificações dessa finalidade.
Ainda, segundo Grimal (1993), os romanos utilizavam seu urbanismo como
um instrumento político, que pudesse contribuir para a conquista de novas
áreas e o amor a essa cultura e a essas cidades.
Grimal (1993) explica que as cidades romanas eram organizadas na forma
de um tabuleiro de xadrez. Para tanto, era traçada uma grande reta no sentido
Norte-Sul, chamada de cardo maximus, e outra no sentido Leste-Oeste, de-
nominada decumanus maximus. Essa ortogonalidade não foi inventada pelos
romanos, mas eles a aplicaram em muitas de suas cidades, com o objetivo
de organizá-las: “[…] nenhuma outra civilização praticou, como os romanos,
durante a última República e o Império, a imposição de um padrão urbanís-
tico constante e uniforme nas cidades, na região rural e nos acantonamentos
militares, com tanta persistência e quase obsessividade” (SENNETT, 1997,
p. 100). Fazio (2011) acrescenta que as cidades, na sua maioria com uma ma-
lha ortogonal e organizada, contavam com muralhas de proteção e diversos
locais de lazer, além do fórum, que era o espaço mais importante para os
romanos. A Figura 6, que mostra a planta da cidade de Pompeia, exemplifica
essa organização.
Goitia (1992) acrescenta que cada cidade romana apresentava uma atividade
principal e era reconhecida por isso. As cidades de Roma e Alexandria, por
exemplo, eram voltadas para o comércio, já as cidades de Verona e Mileto
tinham departamentos agrícolas.
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Figura 6. Planta da cidade de Pompeia.


Fonte: Fazio (2011, p. 132).

Outros melhoramentos que surgiram com as cidades romanas foi a am-


pliação do sistema viário e também a infraestrutura, com redes de água e
esgoto. Benevolo (1993) acrescenta que o sistema viário de Roma contava
com 85 quilômetros de extensão, sendo um facilitador no deslocamento de
mercadorias, mas também do exército. As vias eram largas, para que pudessem
atender tanto o tráfego de pessoas quanto os meios de transporte da época,
sendo revestidas com calçamento de pedras e saibro.
A infraestrutura privilegiava as redes de esgoto e de água, que foram
ampliadas. Eles também desenvolveram sistemas de recolhimento de água da
chuva, aquedutos e recolhimento de esgoto das edificações públicas. Esses
sistemas abasteciam as fontes, os prédios e as termas. “Os aquedutos, como
as estradas, também são considerados um serviço público; são construídos em
todas as cidades pelo Estado ou pelas administrações locais para satisfazer os
usos coletivos e, apenas secundariamente, os usos individuais” (BENEVOLO,
1993, p. 188). Veja na Figura 7 um exemplo de aqueduto romano.
14 Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio

Figura 7. Aqueduto Le Pont du Gard, com 50 km de extensão, que vai até a cidade de
Nîmes, hoje território da França.
Fonte: Pont… (2017, documento on-line).

O fórum, como o mostrado na Figura 8, também foi espaço importante


para as cidades romanas, tendo semelhança com a ágora e acrópole gregas.
Benevolo (1993) afirma que o local era caracterizado por ser uma área aberta
onde eram realizadas as reuniões e encontros, sendo considerado o coração
da cidade. A área era rodeada por algumas edificações de caráter público,
além de termas e teatros, entre outros.
Outras edificações que se destacaram foram os palácios, os templos,
as fontes e os arcos. A técnica dos romanos pode ser demonstrada nesses
prédios, que contavam com patamares, pórticos, fachadas, arcos e abóbodas,
sendo esses dois últimos uma invenção de engenharia romana.
Segundo Benevolo (1993), uma das grandes preocupações desse povo era
poder oferecer espaços adequados para atividades de lazer. Nesse sentido,
edificaram circos, que recebiam espetáculos, teatros e anfiteatros, além das
termas, para banhos. Uma das principais edificações que tem esse caráter de
lazer é o Coliseu (Figura 9). O anfiteatro, datado do século I, é formado por
arcos e tem 46 metros de altura. A edificação de quatro pavimentos foi palco
de grandes encenações e local de divertimento para os romanos.
Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio 15

Figura 8. Fórum romano em Roma, Itália.


Fonte: S-F/Shutterstock.com.

Figura 9. Coliseu, construído no ano 70 d.C., em Roma, Itália.


Fonte: Colosseum... (2012, documento on-line).
16 Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio

Na arquitetura, eles misturaram em suas fachadas diferentes tipos de


volumetria e variados elementos, como, por exemplos, arcos, cúpulas e se-
micúpulas, além da variedade de figuras geométricas, as quais poderiam ser
encontradas tanto nas edificações quanto nos monumentos. Como principal
templo, o Panteão (Figura 10) é o maior legado da civilização. O espaço era
dedicado a todos os deuses, e caracteriza-se pelas suas colunas grandes e sua
cúpula central. O Panteão foi edificado entre os anos de 115 e 127 e ainda se
encontra em ótimo estado de conservação.

Figura 10. Panteão, Roma, Itália.


Fonte: Rome... (2006, documento on-line).

Outra importante contribuição para a arquitetura nesse momento da ci-


vilização romana foi o trabalho de Vitrúvio. Pereira (2010) afirma que uma
das dificuldades da arquitetura nesse momento era transmitir essa cultura de
alguma forma, para que todos pudessem conhecê-la e usá-la em suas obras.
Uma das melhores maneiras de registrar isso seria codificá-la e, por esse mo-
tivo, no fim da civilização grega, estando presente já no início da civilização
romana, surgiram textos, manuais e tratados que tinham por intuito resumir
e sistematizar o conhecimento arquitetônico. Nesse contexto, destacou-se a
obra do arquiteto romano Marco Vitrúvio Polião. Ele viveu no século I a.C.
e deixou como legado o único tratado europeu desse período greco-romano.
Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio 17

Obviamente, ao ser escrito, o saber se limita, mas o que ele perde em sutilezas
e nuances ganha em capacidade de comunicação à distância. Nasce então a
teoria da arquitetura, e são escritos os primeiros tratados de arquitetura, quase
todos desaparecidos, conservado somente um, com o nome de Os dez livros de
arquitetura, escrito por Marco Vitrúvio Polião, um singelo arquiteto da época
de Augusto, autor de um texto igualmente singelo, mas bem representativo
do saber profissional de sua época (PEREIRA, 2010, p. 72).

A principal obra de Marco Vitrúvio Polião são Os Dez Livros de Arquitetura, composta,
como o nome sugere, por 10 livros, os quais abordam diferentes pontos da arquitetura.
Veja a seguir (VITRÚVIO, 2016).
„„ LIVRO I — Introdução que define a natureza da arquitetura, discute termos ge-
neralistas relacionados também ao planejamento e expõe a formação ideal e
personalidade de um arquiteto.
„„ LIVRO II — Aborda os materiais de construção, bem como suas características,
natureza e métodos construtivos.
„„ LIVROS III e IV — Destacam a arquitetura religiosa e identificam as ordens clássicas.
„„ LIVRO V — Trata de outras obras públicas, como os teatros.
„„ LIVRO VI — Aborda a arquitetura residencial, como as casas e os palácios.
„„ LIVRO VII — Expõe questões sobre acabamentos e detalhes construtivos.
„„ LIVRO VIII — Versa sobre os tipos de abastecimento de água, em especial os
aquedutos.
„„ LIVRO IX — Discute e expõe a astronomia, bem como as diferentes formas de
relógios e mostradores de tempo.
„„ LIVRO X — Fala sobre mecânica, dando ênfase aos motores de água, máquinas e
artilharias, formas de engenharia militar, entre outros.

Pereira (2010, p. 72) afirma que as escritas de Vitrúvio se tornaram quase


que uma bíblia laica da arquitetura para “[...] se consultar e fundamentar a
autoridade de posturas culturais e formais muito diversas”. Em seus livros,
Vitrúvio tentou, pela primeira vez, apresentar o conceito de decupagem da
essência da arquitetura a partir de seus distintos componentes. Para isso, ele
determinou três fatores que poderiam representá-la: solidez, utilidade e beleza.
Esses fatores eram empregados por meio dos termos em latim firmitas, utilitas
e venustas. São esses os componentes vitruvianos da arquitetura e, segundo o
autor, seu caráter pratico colabora para a definição dos objetos arquitetônicos.
18 Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio

A firmitas relacionava-se aos problemas de estabilidade; atualmente, está


relacionada não somente às técnicas construtivas, mas também às suas re-
lações com o conforto térmico, com o ambiente natural e com as inovações
tecnológicas. A utilitas, para Vitrúvio, era a razão de ser da arquitetura, ou
seja, a sua funcionalidade, as finalidades sociais, pessoais e psicológicas que
uma obra implica, devendo ela satisfazer as necessidades, buscando o bem-
-estar humano. Já a venustas, conforme destaca Pereira (2010), seria a parte
essencial da arquitetura, sendo a materialização formal, transcendendo o
conceito superficial de beleza.
Pereira (2010) complementa que esses três elementos vitruvianos ainda são
importantes componentes da arquitetura atual, que devem estar presentes nas
obras a fim de alcançar um equilíbrio no processo arquitetônico. “É o equilíbrio
correto e a ponderação entre os três componentes da época de Vitrúvio ainda
hoje que garantem o caráter da obra de arquitetura” (PEREIRA, 2010, p. 73).
Os romanos, assim como os gregos, trouxeram grandes contribuições para
a arquitetura e para as cidades, dando importância a esses locais e se preocu-
pando com seus cidadãos. O desenvolvimento de técnicas de engenharia, de
novos elementos para as construções, além de sistemas de melhoramento das
cidades foi um marco para esse momento da história e serviu como base para
avanços posteriores. Ainda hoje, esses povos são muito valorizados, porque
contribuíram para a melhoria e a valorização da vida urbana.

ARRUDA, J. J. de A. História antiga e medieval. 16ª ed. São Paulo, Editora Ática, 1993.
BELATO, D. Civilizações clássicas II. Ijuí: Unijuí, 2009. (Coleção educação a distância).
BENEVOLO, L. História da cidade. São Paulo: Perspectiva, 1993.
COLOSSEUM, Rome. In: WIKIPÉDIA, [2012]. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/
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CURADO, A. Esparta e Athenas: diferenças entre as cidades-estado da Grécia Antiga. 2018.
Disponível em: https://conhecimentocientifico.r7.com/esparta-e-athenas-diferencas-
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