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da Antiguidade:
o trabalho de Vitrúvio
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O Mar Mediterrâneo foi um aspecto que facilitou a fixação de algumas
comunidades em suas áreas próximas, porque contribuía para fertilizar o
solo, além de ser um meio para desenvolver o comércio e a navegação
marítima. Diante disso, alguns povos se destacaram por se desenvolverem
na região banhada por esse mar, como, por exemplo, os gregos e os
romanos. Os gregos são uma rica civilização que se destacou por meio
da organização das suas cidades, da sua arte e da sua arquitetura voltada
à estética e à proporção. Os romanos, que surgiram depois, utilizaram
como referência a civilização grega e possibilitaram avanços nas técni-
cas construtivas, contribuindo para o aperfeiçoamento das cidades e a
qualidade de suas edificações.
Neste capítulo, você vai estudar o contexto do surgimento das civi-
lizações grega e romana, lendo sobre seus momentos e sua evolução
na história. Você ainda vai ver quais foram as contribuições de cada um
desses povos para as cidades e as arquiteturas elaboradas nesse período
da antiguidade, entendendo melhor o trabalho de Vitrúvio.
2 Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio
Grécia Antiga
O povo grego teve origem na Península Balcânica, mas se fixou na região da
Grécia atual porque encontrou ali um clima agradável. Pereira (2010) expõe
que os gregos ocuparam uma grande área, que abrangia diversas regiões, entre
elas parte da Grécia Insular, Continental e Asiática, além da Ásia Menor,
resultando em uma área de mais de 75 mil quilômetros quadrados. Essas regiões
apresentavam uma topografia irregular, com relevo montanhoso, dificultando
o desenvolvimento da agricultura. Em virtude disso, essa civilização acabou
desenvolvendo mais fortemente o seu comércio marítimo.
Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio 3
Roma Antiga
A civilização romana surgiu após os gregos, no século VII a.C., e se fixou
próxima ao Mar Mediterrâneo, na área da Península Itálica. Os romanos são
uma mistura de diferentes culturas, tendo como base os gregos e também a
cultura oriental e etrusca. Surgiram por meio do agrupamento de várias aldeias,
que acabaram se fixando às margens do Rio Tibre. Arruda (1993) destaca que,
em um primeiro momento, Roma foi edificada com o intuito de evitar que os
povos etruscos pudessem ocupar essa parte do território.
À medida que foi se organizando, a sociedade romana acabou sendo dividida
em dois grupos. Mumford (1982) explica que havia o grupo dos patrícios,
composto pelos proprietários e donos das terras, e dos plebeus, que eram
aqueles pequenos proprietários, comerciantes, artesãos e também aqueles que
não tinham descendentes fundadores das cidades, que não tinham qualquer
poder de voto, sendo excluídos de qualquer decisão importante.
A organização da sociedade romana era muito influenciada pelas famílias,
as quais caracterizavam-se pelos pais e filhos, mas também pelos animais,
escravos e a própria casa. Os homens é que eram os chefes, assim como na
sociedade grega, e definiam todos os aspectos, priorizando uma educação
baseada na moral, com ênfase na disciplina e na justiça.
Arruda (1993) acrescenta que o desenvolvimento da civilização romana
se deu em três períodos, com um governo essencialmente monárquico nos
primeiros anos, tendo um chefe supremo como detentor do poder. Em seguida,
a partir de 509 a.C., a sociedade viveu sob um regime republicano, que se
desintegrou com o passar dos anos e originou o Império Romano.
Nesse último momento, do império, houve grande evolução da sociedade
e das cidades, com criação de serviços de comunicações e transportes, além
do advento de leis. O direito romano foi um dos importantes legados dessa
civilização. Como se preocupava muito com a justiça, os direitos e os deveres
de cada membro da sociedade, foram sistematizadas importante leis, instituindo
também uma classe de juristas, que eram aqueles cidadãos responsáveis por
conhecer essas leis e aplicar elas na sociedade romana.
A economia romana se baseava na produção agrícola, com ênfase na pro-
dução de cereais, e, como os gregos, no comércio marítimo, por meio do qual
podia vender seus produtos. A extração de mármore e a produção de cerâmicas
eram outras atividades desse povo, que utilizava esses objetos e materiais
nas decorações de suas edificações. Conforme Mumford (1982), os romanos
puderam desenvolver fortemente as relações comerciais porque contavam
Teorias e arquitetura da Antiguidade: o trabalho de Vitrúvio 5
Atenas e Esparta foram as duas cidades principais da civilização grega. Elas se diferen-
ciavam em seus objetivos principais, com uma forma de organização e foco diferentes.
Ambas apareceram na fase arcaica, entre os anos de 700 a 500 a.C.
A cidade-estado de Atenas, que estava localizada na região Ática, pode se desen-
volver por meio do comércio e de seus portos, expandindo-se e, consequentemente,
destacando-se politicamente. Nessa cidade, a grande preocupação era com o equilíbrio
entre o corpo e a mente, e, por esse motivo, Atenas se tornou uma referência intelectual
e cultural para o período.
A cidade-estado de Esparta estava situada na região da Lacônia e se desenvolveu
por meio das lavouras e da criação de animais, visto que não tinha contato com o Mar
Mediterrâneo. Diferentemente de Atenas, Esparta era voltada para os valores militares
e a educação e o treino de seus cidadãos para participarem de guerras e combates.
Foi por essa característica que os espartanos puderam conquistar novos territórios
(CURADO, 2018).
Ainda conforme Pereira (2010), os gregos foram uma civilização tão im-
portante que foram os responsáveis por formar a base da cultural da Europa
Ocidental. Nas áreas da arquitetura e da arte, suas contribuições passaram
pelo valor que davam às questões estéticas, à preocupação com a proporção
e a perfeição.
Na arquitetura, as principais edificações ainda eram as de caráter religioso,
os templos, mas também surgiram algumas outras voltadas ao lazer, como os
teatros e anfiteatros. Os gregos buscavam demonstrar em suas edificações a
monumentalidade e a grandeza, sendo que elas deveriam representar a beleza.
Eles criaram também colunas baseadas em três estilos: o jônico, o dórico
e coríntio. Esses padrões foram copiados e usados como base por outras
civilizações. O templo grego mais importante foi o Partenon, que você pode
visualizar na Figura 3, localizado na cidade de Atenas e, segundo Pereira
(2010), considerado o modelo perfeito de edificação de arquitetura grega.
A maioria das edificações das cidades gregas eram feitas de pedra, ma-
deira, mármore e calcário. Eram embasadas no uso da simetria e também em
cálculos e proporções matemáticas, sendo o antropomorfismo um dos grandes
conceitos dessas arquiteturas. Segundo Pereira (2010), o antropomorfismo
é uma forma de considerar o homem como a medida e o centro do universo.
Assim, o homem grego e suas proporções eram o centro e o ponto de refe-
rência para a realidade e a criação de sua arquitetura, por meio do conceito
de escala humana.
Com isso, “[...] se o homem é a medida de todas as coisas, a escala humana
determinará a proporção ou cânone de beleza. […] Assim, uma escala é um
sistema de medida apropriado para nós e para aquilo que pretendemos medir”
(PEREIRA, 2010, p. 48). Para isso, era necessário compreender a escala do
homem pelas medidas do corpo humano, as quais podem ser entendidas por
meio do Homem Vitruviano, que você pode visualizar na Figura 5. Esse dese-
nho foi realizado por Leonardo da Vinci no século XV e representa os ideais
clássicos de beleza, proporção, equilíbrio e harmonia das formas humanas.
Esse conceito foi o que baseou a arquitetura grega e estabeleceu os conceitos
de medida e módulo.
Esta escala humana (o homem como medida) acarreta uma concepção especial
do mundo: uma ordem especial ou ideal de relação com uma correspondên-
cia arquitetônica entre as partes de um edifício e suas respectivas medidas.
Se a natureza dispõe o corpo do homem de tal forma que cada membro se
relaciona com o todo, os gregos querem que exista também essa mesma
correspondência de medidas entre as partes e a obra inteira de arquitetura
(PEREIRA, 2010, p. 49).
Figura 7. Aqueduto Le Pont du Gard, com 50 km de extensão, que vai até a cidade de
Nîmes, hoje território da França.
Fonte: Pont… (2017, documento on-line).
Obviamente, ao ser escrito, o saber se limita, mas o que ele perde em sutilezas
e nuances ganha em capacidade de comunicação à distância. Nasce então a
teoria da arquitetura, e são escritos os primeiros tratados de arquitetura, quase
todos desaparecidos, conservado somente um, com o nome de Os dez livros de
arquitetura, escrito por Marco Vitrúvio Polião, um singelo arquiteto da época
de Augusto, autor de um texto igualmente singelo, mas bem representativo
do saber profissional de sua época (PEREIRA, 2010, p. 72).
A principal obra de Marco Vitrúvio Polião são Os Dez Livros de Arquitetura, composta,
como o nome sugere, por 10 livros, os quais abordam diferentes pontos da arquitetura.
Veja a seguir (VITRÚVIO, 2016).
LIVRO I — Introdução que define a natureza da arquitetura, discute termos ge-
neralistas relacionados também ao planejamento e expõe a formação ideal e
personalidade de um arquiteto.
LIVRO II — Aborda os materiais de construção, bem como suas características,
natureza e métodos construtivos.
LIVROS III e IV — Destacam a arquitetura religiosa e identificam as ordens clássicas.
LIVRO V — Trata de outras obras públicas, como os teatros.
LIVRO VI — Aborda a arquitetura residencial, como as casas e os palácios.
LIVRO VII — Expõe questões sobre acabamentos e detalhes construtivos.
LIVRO VIII — Versa sobre os tipos de abastecimento de água, em especial os
aquedutos.
LIVRO IX — Discute e expõe a astronomia, bem como as diferentes formas de
relógios e mostradores de tempo.
LIVRO X — Fala sobre mecânica, dando ênfase aos motores de água, máquinas e
artilharias, formas de engenharia militar, entre outros.
ARRUDA, J. J. de A. História antiga e medieval. 16ª ed. São Paulo, Editora Ática, 1993.
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