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O ESTUDO DA LITERATURA

Entrevista com Françoise Serralta:


1. A Literatura é apresentada como um bem de consumo.

2. Usa-se vocabulário como: “fabricar” – “produto” – “consumidores”

3. Afirma-se: “A economia é um ramo da Literatura”

4. Diz-se que a Literatura procura “responder a um fantasma” “contar uma


história” “dar sentido às coisas”

5. Diz-se que “Não há exceção cultural”

6. Afirma-se que “O que os consumidores procuram nos seus tempos livres, nas
suas roupas, no seu telemóvel, é o mesmo que irão pedir à literatura”

7. Mas também se diz que “o consumidor é tudo menos um inculto a quem se


pode fazer engolir qualquer coisa.”

8. Afirma-se que “Um livro não é algo sagrado, é algo vivo. É um amigo que nos
acompanha. Também pode ser um elemento de look, uma coisa que se
compara porque se pensa que nos vai tornar interessantes aos olhos dos
outros.”

- A literatura* ocupa-se da narrativa; e é usada* como meio de persuasão


Literatura ---------- Ficção ----------- Simbólica
 Neste caso, a preocupação de Phillipe Perrier é, conseguir distinguir o simbólico e
o real.

1. A organização dos factos


A Literatura atua ao nível:
2. A ordenação do real

Resultado = O sentido das coisas [SIMBÓLICO]


Françoise Serralta discurso FALACIOSO
- na sua análise, contradiz-se:

 Consegue-se prever o que o consumidor quererá, mas mais à frente,


“conta-se uma história” ao mesmo tempo para que o consumidor pense
que é assim = inventar para conseguir o que querer

 Serralta diz que a Literatura é comparada a bens que estão na tendência;


ou seja, a literatura tem fases de tendência e o que sai é o que está ‘na
berra’ do momento.
O Livro = objeto de consumo, não anda sempre com a pessoa, ao contrário do
telemóvel. Mas sim quem é algo que se compra por vontade própria e por
pensarmos que é algo que nos vai tornar mais interessantes, cultos, aos olhos de
outros indivíduos.
: acaba por ser um objeto de consumo, que infelizmente cada vez ➕ deixa de se
comprado e eventualmente lido [em formato físico]
 O consumidor tem todo o respeito na mesma, MAS é um inculto a quem se pode
vender e “fazer engolir” qualquer coisa/argumento.
+ CONTRADIÇÃO
- Quando se diz que no marketing, história é outra e que aí o consumidor apercebe-se
e se não gostar do tipo de abordagem vai procurar onde realmente lhe interesse.

NOTA:
- As pessoas CONSOMEM literatura, de variadas maneiras, por livro clássicos,
diferentes géneros literários, revistas, diários, etc.
 mecanismos de consagração podem ser diferentes – consagram algo para o
mundo.

Valor Conhecimento Público


A LITERATURA
- É um fenómeno ancorado social e culturalmente; é um conceito NOVO na História
Cultural;
Podemos “historicizar” o conceito e isolar momentos específicos, anteriores à
constituição da Literatura como disciplina.

Quando surge o conceito de Literatura?

- A ideia de Literatura como área de estudos, tal como ideia de Literatura


Nacional são contemporâneas do aparecimento da disciplina de História Nacional.
Os Estudos Literários como área científica nascem no século XIX, em pleno período
do Romantismo.
- Os livros circulam economicamente, sendo condicionados pela compra e venda. A
literatura também é um bem de consumo.
 Assim, é possível ter uma ideia de moda, ou tendência.
E o consumo, porém não designa a partida. O que os livros? Os leitores? procuram
em produtor, também procuram o mesmo na literatura.

A literatura tem que ter em conta o seu contexto; a sociedade e a cultura em que
está inserida.
a. Aristóteles [transmissão oral, portanto não literária = não literatura]

O ouvido ouve ritmar, pausar – O filósofo fala sobre uma utilização estética da
linguagem.
- O historiador tem que se restringir, mas o poeto jaz ficção verosimilhante do ponto.
> Fala de “poesia” e do papel do “poeta” opondo-se ao papel do “historiador”

Aristóteles, Poética

b. Rafael Bluteau – Primeiro dicionário enciclopédico em português


- Antes da literatura, ensinava-se retórica.
No séc. XVIII, não inclui a palavra “Literatura” no seu dicionário enciclopédico
(Vocabulário portuguez-latino… 10 volumes 1712-1728)
c. No século XIX, por conta do aparecimento da disciplina de História Nacional,
surge a ideia de Literatura como área disciplinar, em pleno romantismo.
A historiarização do conceito de literatura ajudou e contribuiu para o seu
estabelecimento como ciência.

A diferença entre poesia e história não está na forma, mas sim na exploração do
mundo ficcional a partir da realidade.
a. Metodologia: Os instrumentos dados aos humanos são conceptuais, e para que
fosse possível trabalhá-los é necessário haver uma metodologia.

Por onde começar?


1. Constituição dos Estudos Literários como área científica

2. Como definir Literatura

O que se pretende?
- Definir um objeto de análise
- Escolher uma metodologia para a abordagem desse objeto
Proposta de Pierre Bourdieu:
1. Integra a produção, disseminação e consumo dos textos na dinâmica social;

2. Propõe um modelo teórico que descreve o modo de funcionamento do campo


cultural;

3. Relaciona as produções culturais (literárias, artísticas, etc.) com as dinâmicas


de poder.

ALGUNS PONTOS DE PARTIDA:


 Bourdieu propõe “historicizar” o objeto de análise como forma de o delimitar e
pôr em evidência os seus limites.

 Bourdieu usa o vocabulário da economia para descrever o que se passa no


campo cultural.

 Bourdieu distingue entre o plano do real e o plano do simbólico, propondo a


existência de uma economia dos bens simbólicos paralela à economia real.
- Esta distinção é fundamental para a análise das produções culturais.

Questões que nos devem preocupar ao estudar literatura:


1 - Quem escreve?
→ sexo feminino ou masculino;
 → classe social a que pertence; [+ o clero]
→ raça;
 →  o self management do indivíduo.

2 - O que escreve?
  -  sobre o quê;
  - O que se escreve também é condicionado pelos outros campos e as suas
circunstâncias. {ou seja, condições que o campo oferece};
 - como foi adquirida a ideia.

3 - Para quem escreve?


  -- há um específico género / público específico;
-- Se os homens do século 16 escrevem para a corte, os homens de hoje em dia
vendem para todos. É o mercado do século 21, para o mundo inteiro e preferivelmente
para Hollywood.
     ex: Padre António Vieira, a sua obra “Sermão aos Peixes” é dirigida à corte, pois o
seu vocabulário e gramática  tinham que ser entendida por alguém com uma base de
ensino.
Luís de Camões, a sua escrita é somente possível ser lida por alguém com
conhecimentos linguísticos.

4 - Com que intenções?


→ dependendo do tipo de textos que se escreve em cada momento da história;
(o modelo é adaptável ao longo da história, o campo literário vai-se alterando também
consoante o tempo)
→ assegurar a sua economia, pode ter intenções lucrativas (economia real);
→ o campo cultural rege-se pela economia dos bens simbólicos;
→ construir um reconhecimento;
→ ganhar prémios;
→  querer mostrar aos leitores a sua visão.

5 - Sobre que condicionalismos? 


 como é recebido;
 a sua contextualização;
 o que condicionou/condiciona a escrita. 

Ou seja, tentar perceber como é que o sistema funciona.*


Pois há um sistema, e não um indivíduo. [“uma lista de textos”] 

NOÇÃO DE ‘CAMPO’:
- Campo, na teoria proposta por Pierre Bourdieu representa um espaço simbólico,
no qual lutas dos agentes determinam, validam, legitimam representações. É o poder
simbólico. Nele se estabelece uma classificação dos signos, do que é adequado, do
que pertence ou não a um código de valores.

Conceito básico na obra de Bourdieu, o campo é o espaço de práticas* específicas,


relativamente autônomo, dotado de uma história própria; caracterizado por um espaço
de possíveis, que tende a orientar a busca dos agentes, definindo um universo de
problemas, de referências, de marcas intelectuais — todo um sistema de
coordenadas, relacionadas umas com as outras, que é preciso ter em mente (não quer
dizer na consciência) para se entrar no jogo. Entrar no jogo é manejar esse sistema de
coordenadas.

O campo é estruturado pelas relações objetivas entre as posições ocupadas pelos


agentes e instituições, que determinam a forma de suas interações; o que configura
um campo são as posições, as lutas concorrenciais e os interesses.

Um campo faz parte do espaço social — e, portanto, toma dele as suas


características — conceito que Bourdieu descreve como espaço de posições dos
agentes e das instituições que nele estão situados, que, a depender do peso e do
volume global dos capitais que possuem, são distribuídas em posições dominadas e
dominantes. Os mais importantes em nossa cultura: o capital econômico, o capital
simbólico e o capital cultural.

‘ESPAÇO SOCIAL’:

- Na sociolodia de Bourdieu, o mesmo não pensa o sujeito nem de forma isolada,


como um ser autônomo, consciente, com um conjunto de características e qualidades
particulares e nem determinado mecanicamente por leis objetivas, que comandam
todo o comportamento humano.
Ele procura compreender o sujeito historicamente através de suas
determinações sociais.   Nas suas obras, utiliza pouco a palavra sujeito, no seu
lugar, encontra-se de modo mais frequente a palavra agente, entendido como
aquele que age. Em sua opinião, cada agente se constitui a partir de uma
bagagem socialmente adquirida, se constitui a partir da incorporação das
estruturas sociais, sob a forma de estruturas de disposições.

O agente é compreendido como um “habitus”, como um sistema de disposições


herdados.  Nesse sentido, a gênese das estruturas mentais surge da incorporação das
estruturas objetivas do mundo social. É vivendo em sociedade que o agente
assimila as normas, regras, valores, preceitos, ações e comportamentos de seu grupo
ou classe social. 

É por meio do habitus que desenvolve sua visão de mundo, pelo qual se guia,
percebe e julga a realidade.  É por meio dele que o agente se torna um ser social.

O habitus pode ser entendido como uma forma de condicionamento, que cria um


sistema de disposições duradouras para a ação, organizadora de práticas, esquemas
de percepção e representação, geradora de princípios e valores interiorizados, que
regula a conduta dos agentes na estrutura social. “a noção de habitus pode ser
pensada como uma identidade social, uma experiência biográfica, um sistema de
orientação”. É uma matriz cultural que predispõe os indivíduos a fazerem suas
escolhas.

        O corpo tem um papel fundamental na construção da identidade social do


indivíduo.
É através do corpo que o agente entra em relação com o mundo e é afetado por ele.

O agente ao ocupar um lugar no espaço social possui uma compreensão desse


mundo, porque desde sua origem foi exposto as suas influências. É através da
posição social que adquire um sistema de disposições para a ação e para
compreensão prática do mundo. 

CAMPO DO PODER:

- O campo de poder, que não se confunde com o campo político, é o espaço de


relações de força entre os diferentes tipos de capital ou entre os agentes providos de
um dos diferentes tipos de capital para poderem dominar o campo. No caso da
psicanálise, dois tipos de capital se têm em conta, principalmente: o cultural e o
simbólico. O capital econômico dos agentes e instituições, embora possa ter algum
peso, não tem nenhuma relevância no campo da psicanálise.

A depender da posição que ocupam na estrutura do campo, ou seja, na distribuição do


capital simbólico específico, os agentes usam de estratégias, que são tomadas de
posição, que podem ser de legitimação (conservação) ou de subversão, estas em
confronto permanente com as forças de conservação – o que não implica em
mudanças dos princípios de poder que estruturam um campo.

DIFERENTES CAMPOS:

‘Campo Cultural’ - Os estudos culturais são um campo de investigação de


caráter interdisciplinar que explora as formas de produção ou criação
de significados e de difusão dos mesmos nas sociedades atuais.

‘Campo Literário’ - A definição de campo literário, segundo Bourdieu (1996),


contempla um espaço formado por literatos – contistas, poetas, romancistas e
dramaturgos – que exercem relações entre si e com o campo de poder.
“um campo de estudos não coincide com uma disciplina, dando margem — isto
sim — à constituição de diversas. Assim, pode-se admitir que a expressão campo
literário seja útil para designar um conjunto de dados estabelecido mediante
observação de certos fenômenos da linguagem e suas implicações adjacentes. Esse
campo tem sido recortado por diversas disciplinas, cada qual constituindo um objeto
próprio a partir de seus específicos interesses e aparato conceitual, a saber: retórica
Þ verossimilhança ou mimesis persuasiva; poética Þ verossimilhança
ou mimesis catártica; estética Þ sensibilidade e beleza; história da literatura Þ
origens e evolução; teoria da literatura Þ literariedade.”
É claro que a relação de disciplinas ora apresentada pressupõe simplificações
imprescindíveis para a viabilidade da presente exposição, segundo seus limites e
objetivos

‘Campo Artístico’ - O campo artístico é delimitado por um discurso que impõe


formas de interpretar, consagrar e produzir arte conforme as regras que foram
impostas. ... Para tanto, fez-se uso das teorias de Pierre Bourdieu sobre campo (e,
mais especificamente, o artístico), poder simbólico, região e habitus.
NOÇÃO DE:
- Cânone Literário:

→ por razões teóricas mais ou menos ligadas à Linguística ou às ideologias, o


cânone aspira a englobar uma lista de autores e de obras consideradas modelos
de perfeição, seja à escala nacional, seja à escala ocidental, seja à escala
universal.
A sua estabilização, sempre a entender em termos flexíveis e abertos a sucessivas
incorporações, supõe a passagem do tempo, a filtragem pela consciência coletiva e a
inserção em coordenadas civilizacionais, a existência e funcionamento de critérios de
valor identitários e estéticos, uma tradição analítica de comentários e uma história
cultural, e provavelmente uma tensão dinâmica com sucessivos contra cânones.

No plano do ensino, isto parece de uma evidência elementar, mas tem andado mais ou
menos esquecido. O cânone não é propriamente uma simples ferramenta para uso do
ensino, mas antes um quadro de referências indispensáveis e um complexo de
elementos literários respeitante ao sistema de valores e aos interesses culturais de
uma dada sociedade: incorpora uma série de modelos cuja evidência paradigmática se
recorta ao longo dos sucessivos tempos históricos e se impõe à mentalidade e à
sensibilidade coletivas. Na escola, a abordagem do cânone deve ser flexível e variada.

O processo de contacto com as obras dos grandes autores da nossa língua carece de
ser urgentemente reabilitado nas escolas, com critério e exigência.

Para compreender o que é o cânone literário, é melhor analisar os dois termos que

compõem a expressão.

Um cânone pode ser uma listagem ou um catálogo que, em geral, reúne o que é

considerado um modelo a seguir. Literário, por sua vez, é o que está ligado à

literatura (a disciplina artística que se desenvolve através da expressão escrita).

- É conhecido como um cânone literário, desta forma, todas as obras

clássicas que fazem parte da alta cultura. Estas obras, quer devido às suas

características formais, sua originalidade ou sua qualidade, conseguiram transcender

tempos e fronteiras, resultando em universais e sempre válidas.

Os poemas de Homero e a Bíblia são geralmente considerados os pilares do

cânone literário ocidental. A partir destas obras forjou-se uma tradição que foi

seguida por Aristóteles, Platão, Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio, Nicolás


Maquiavelo, René Descartes, Miguel de Cervantes y Saavedra, Luis de Góngora,

William Shakespeare, Voltaire, Johann Wolfgang von Goethe, Jean-Jacques

Rousseau e outros autores.

É importante mencionar que o cânone literário não está fechado. Com o avanço

da história, novos escritores podem ser considerados como clássicos e seus livros,

incluídos no cânone.

IMP:

- Devemos também ter em mente que não há um único cânone literário, mas que

essas noções estão associadas a culturas específicas. O cânone literário do mundo

ocidental é diferente do cânone literário árabe ou islâmico, por exemplo, onde

aparecem obras como “As mil e uma noites” ou o Alcorão.

‘INSTÂNCIAS DE COSAGRAÇÃO/LEGITIMAÇÃO’:
- Formas do campo do poder que encontram para legitimar consideradas práticas.
Isso inclui textos e prémios também como o Nobel.

RESUMO:

- Noção para definirmos Literatura/área dos estudos literários, temos que ter em
conta como se organiza o espaço social.
- ESPAÇO SOCIAL = sociedade
 Bourdieu tenta arranjar um modelo explicativo.
Não ficamos pela escrita e leitura. A literatura caba por ser definida por um
conjunto de atividades [circular, consumido]
- Neste espaço social, organiza-se em campos – campo literário [muitas vezes
ao falar no campo cultural* fala também do espaço cultural, artístico…]

 Campo do poder - conceito alargado – não é só a política.


Todas as instituições que podem interferir.

 No campo cultural* temos que acumular o valor simbólico que se reproduz


mais tarde ao longo do tempo no valor real.

CONCEITO DE CAPITAL SIMBÓLICO:


- É aquele que se acumula pacientemente ao longo do tempo; é algo determinante
– o capital simbólico dá para tudo.
[O campo cultural é específico na cultura]

INSTÂNCIA = IGUALDADE

[A partir do momento em que a obra começa a ser estudada, a obra ganha mais
prestígio].

Questão do simbólico vs. Bens reais: pode não receber dinheiro nenhum, mas tem o
prestígio da obra.
 Trazida por Bourdieu no campo cultural
Para Bourdieu existem 2 ECONOMIAS:

Economia Real – dívidas, rendimentos…, ou seja, a realidade que nos rodeia, as


coisas reais e cruas.
ex.: trocar batatas por cebolas.
Economia dos Bens Simbólicos – algo que tem um valor tremendo só por ter.
ex.: trocar algo para estar num lugar de prestígio, sem ter algo de valor em troca.
Ambas as economias acabam por se encontrar de vez em quando.
DEFINIÇÃO DE LITERATURA:
- Literatura é a arte de criar e compor textos, e existem diversos tipos de produções
literárias, como poesia, prosa, literatura de ficção, literatura de
romance, literatura médica, literatura técnica, literatura portuguesa, literatura popul
ar, literatura de cordel e etc.

➕ Trabalho de OEL, AP’s.

O QUE É A LITERATURA?
→ A literatura como área disciplinar é recente. [séc.XIX]
 O critério de avaliação dos textos/ das obras do século XIX era:
  - área disciplinar:
 História Nacional
 História Literária
A ORIGINALIDADE é imensamente valorizada, é uma característica positiva e cria de
novo alguma coisa nova e “fresca”.

→ Aristóteles:
  [mimesis]/ Imitação - aprende-se tudo imitando alguém ou algo;
                    - é uma característica do ser humano que lhe confere superar e melhorar.
[o poeta melhora imitando]

→ Horácio (arte poética)


    IMITATIO -- Imitação

LITERARIEDADE
→ Conjunto de características específicas que permitem classificar um texto
como texto literário, e/ou, uma propriedade, presente nas obras literárias, que as
denomina como pertencentes à Literatura.

Mas será que esta propriedade existiria mesmo?


- A resposta poderá ser dececionante, para o leitor interessado apenas em
opiniões definitivas e irrefutáveis, porque há argumentos tanto a favor de um sim
quanto de um não.

- A argumentação positiva sustentaria que existe a "literariedade", porque


podemos verificar objetivamente a existência de propriedades ou características que,
quando presentes em uma obra qualquer, permitem-nos não só classificá-la como
literária, como também inscrevê-la em um estilo de época.

A "literariedade" seria aquela propriedade, caracteristicamente "universal" do


literário, que se manifestaria no "particular", em cada obra literária.
Contudo, é bom lembrar que, em vez de imaginar que a "literariedade" é um
universal que se manifesta no particular, podemos também supor o contrário: a
"literariedade" seria um particular que se pretende universal.
 
Nesta perspetiva, "literariedade" seria um rótulo que receberiam os
critérios socialmente estabelecidos para se considerar uma obra como
pertencente à literatura. Assim, o pesquisador selecionaria, dentre todas as obras de
natureza verbal, aquelas que possuíssem a tal "literariedade", para formar a lista das
obras reconhecidas como literárias.
Por outro lado, a argumentação contra a existência de uma propriedade que
possibilitasse a identificação de uma obra como literária afirma que o termo
"literariedade" não teria um conteúdo permanente, mas variável.
No entanto, se concebermos a "literariedade" como sujeita a mudanças, será
que isto não significaria que não podemos mais determinar, com um certo grau de
precisão, o que vem a ser literatura? Como então ficariam os estudos literários, se seu
objeto não tem delimitação precisa?

Para começar, a própria mudança nos critérios e conceções sobre o que é


literatura pode ser matéria de estudo para o estudioso da literatura.
Quando se volta para o que o passado considerou literatura, ele confronta a sua
perspetiva presente com as anteriores.

Os modos de produção de sentido do presente interrogam os do passado, a formação


social dele entra em contato com outra formação, às vezes profundamente diferente
da sua. Mas, se podemos verificar, em diversos momentos, modificações nas
conceções e critérios sobre o que é literatura, será que isto nos conduziria
necessariamente a um ceticismo de tal ordem que passaríamos a duvidar da própria
possibilidade de existência de um objeto de pesquisa, suficientemente delimitado?
Não, pois a mudança não implica necessariamente caos ou anomia.
    
  - Na verdade, em cada período histórico podemos observar uma certa ordem, a
partir da qual se estabelecem, com maior ou menor rigidez, as fronteiras do literário.

Roman Jakobson, A Moderna Poesia Russa, Ensaio I, Praga, 1921,


“O objeto da ciência lierária não é literatura, mas a ‘literiedade’ (literarurnost), ou
seja, aquilo que faz de uma dada obra, uma obra literária”.
→ No início do século XX, um grupo de teóricos da literatura, mais tarde
denominados formalistas russos, imaginou que seria possível constatar uma
propriedade, presente nas obras literárias, que as caracterizaria como pertencentes à
literatura. Para denominar esta propriedade, criaram o termo literaturnost, que foi
traduzido para a língua portuguesa como literariedade.

Northrop Frye, Anatomia da Crítica, 1966

“ não dispomos de verdadeiros critérios para distinguir uma estrutura verbal literária
de uma que não é”

Dificuldade na definição de Literatura:


a partir de características intrínsecas
→ “[…] uma tentativa de definição é, neste caso, o modo menos adequado para se
conhecer aquilo de que se está a falar. Provavelmente é até pacífico que se negue a
possibilidade de definição, tão clara é a dificuldade em delimitar o que é e não é
literatura.”
“A própria noção de Literatura implica a não definição”
Maria de Lourdes Ferraz “Literatura” Enciclopédia Biblos

Teófilo Braga “O Século XVIII em Portugal”


“Mas o nosso século XVIII não teve philosophos, e os litteratos eram academicos
convencionaes que imitavam os canones rhetoricos das épocas da decadencia
classica, não tinham idéas, estavam fora do seu tempo, e as suas aspirações
limitavam-se a acolheremse às graças do cesarismo omnipotente.
Como não existiam philosophos, nem os litteratos se inspiravam da verdade do
sentimento, por isso não se crearam opiniões, e os raros espiritos que se alimentaram
das doutrinas dos Encyclopedistas e dos Physiocratas, calaram-se com o terror da
repressão ou emigraram de Portugal […]”
Revista de Portugal, vol.I, 1889

REPERTÓRIOS BIBLIOGRÁFICOS
Diogo Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, Historica, Critica, e Cronologica,
4 vols., Lisboa, Off. António Isidoro da Fonseca, 1741-1758.
José Maria da Costa e Silva, Diccionario biografico-crítico dos melhores
autores portugueses, 10 volumes, Lisboa, Imprensa Silviana

O que fazem estes primeiros repertórios?


NOÇÃO DE CÂNONE:

→ Indissociável das noções de:


o LISTA

o VALOR

o SELEÇÃO [inclusão/exclusão]

Do Repertório à História Literária


• Estabelecimento de um Cânone (LISTA)
• Periodização (ARRUMAÇÃO TEMPORAL)

PRIMEIRAS HISTÓRIAS DA LITERATURA PORTUGUESA


• Bouterweck, Geschichte der portugiesischen Poesie und Beredsamkeit (1805)
• Sismonde de Sismondi, De la li?érature du Midi de l’Europe, t. IV (1813)
• Ferdinand Denis, Resumé de l’Histoire li?éraire du Portugal suivi du résumé de
l’Histoire li?éraire du Brésil (1826)
• Almeida Garrej, Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa, 1826
• Francisco Freire de Carvalho, Primeiro Ensaio sobre História Literária de Portugal
desde a sua remota origem até o presente tempo… ( 1845)
• José Maria da Costa e Silva, Diccionario Biografico-críLco dos melhores autores
portugueses, 10 vols, (1850-1855)
PERÍODOS LITERÁRIOS

o Enquanto produção humana a literatura é produzida num tempo, faz parte do


dever histórico;
o A periodização literária corresponde à necessidade de particularizar o estudo
da literatura.

- Permite isolar “unidades de análise”.

Unidades de Análise:
 Idade: pressupõe que uma analogia entre a vida humana e a vida de da
Humanidade;

 Século: raramente coincide com o início ou final de uma corrente cultural;

 Acontecimentos políticos ou sociais: “Literatura vitoriana” - raramente da conta


da diversidade de formas e de acontecimentos que podem coexistir sob a
mesma designação.

Proposta de René Wellcek e Austin Warren (anos 70)


→ Tratando-se de Literatura é necessário estabelecer critérios literários para
fundamentar e definir períodos literários;

 Um período é um instrumento ao serviço do conhecimento da


Literatura;

 Um período é uma secção de Tempo;

 “Um período é assim uma secção de tempo dominada por um


sistema de normas, convenções e padrões literários, cuja
introdução, difusão, integração e desaparecimento podem ser
seguidos por nós.”

Periodização Literária
COEXISTEM NO INTERIOR DO CAMPO CULTURAL:
 Continuidades e ruturas;
 Tradição e inovação;
 Instabilidades e estabilidades;
 Temporalidades diferentes / diferentes modos de perceção de
temporalidade;
 Temporalidade histórica e cultural não se confunde com a cronologia. 

A PERIODIZAÇÃO ESTÁ SUJEITA A UMA DINÂMICA HISTÓRICA


3 critérios base da Literatura:
 NACIONALIDADE
 ORIGINALIDADE
 AUTENTICIDADE

A palavra “cânone” vem do Grego [kanon = regra ou norma].


- o primeiro sentido da palavra é religioso.
1º sentido:
    = Conjunto de regras eclesiásticas que regiam as primeiras igrejas cristãs.
- Ao conjunto destas determinações chama-se DIREITO CANÓNICO.
 → Na literatura [cânone literário], a palavra CÂNONE reporta-se às noções de
Autoridade, Autenticidade e Permanência.
1. o cânone pressupõe uma seleção;
2. o cânone relaciona-se com o problema da AUTENTICIDADE de um AUTOR.
(conjunto dos textos reconhecidamente escritos por um autor)
3. O CÂNONE relaciona-se com a utilização da TRADIÇÃO LITERÁRIA como
referência.
- elenco de textos exemplares a transmitir às gerações vindouras;
- tradição / inovação (HÁ tensão em relação aos Cânones estabelecidos).
4. O C. relaciona-se  com o conjunto de elementos definidos de um género, de
uma corrente, ou de um período literário + a presença destes elementos
definidos pode determinar a inclusão ou não inclusão do  C. do momento;
5. O cânone relaciona-se com o ENSINO da Literatura, pois considera-se cultural
e nacional.
6. O mesmo relaciona-se com a constituição da IDENTIDADE de uma
COMUNIDADE!
- identidade tribal, regional, nacional, etc. Integra as obras que veiculam os
valores nos quais essa comunidades se revê num dado momento.
7. Um cânone corresponde a UMA ORDENAÇÃO das produções culturais
(literárias, musicais, plásticas..) de uma sociedade de modo a CONFERIR-
LHES um SENTIDO! 
o Cânone é subjetivo, pois cada um pode ter um cânone < lista de diferentes
autores dependendo da nossa própria preferência >;
o TODOS criamos cânones diferentes devido à nossa perspetiva individual do
que é um cânone + um autor canônico suficientemente bom para fazer parte da
nossa própria lista de autores.

→ A INDIVIDUALIDADE é crucial para cada indivíduo ter uma opinião diferente e


abstrata.

GÉNERO LITERÁRIO:
= RECONHECÍVEL;
= REGRAS FORMAIS;
= ASSUNTO / TEMA;          [temática]
= ESBATIMENTO DAS FRONTEIRAS DOS GÉNEROS
  → lei do género:
É a tensão permanente de obedecer às regras    ≠
     É a tensão permanente de transgredir às regras.

*a lei do gênero deriva da lei literária.

  Autor é o responsável pelos seus textos.


→ ganha confiança de ter o poder sobre os seus textos / as suas obras e começa a
não obedecer às regras … 
                                            → o autor acha que pode criar o que quiser com o que “há
para trás” (obras mais antigas e inspiradoras)
→ basicamente acaba por NÃO HAVER regras para esse autor.

 As indicações genéricas tornaram-se, na edição moderna, “o complemento


indispensável do título”.
 A indicação do género confere ao livro o “estatuto oficial” que o autor e o editor
querem atribuir ao texto e que nenhum leitor pode legitimamente “ignorar”
funcionando como:
              . Guia de escolha
              . Elemento de avaliação estética
              . Manobra destinada a determinar um modo de ler
          
                                   

 
                             Géneros, autores, leitores
→ Ao optar por um género um autor posiciona-se em relação a um
modelo de escrita:
 Ilustrando-o / subvertendo-o

A noção de gênero condiciona o modo como o leitor lê o texto.

Géneros Literários

Antiguidade
  → Aristóteles                           → Horácio
  [escreve a Poética]                  [escreve “Epistola ad Pisones”, a Arte Poética]

Épico

Dramático: 
 Tragédia
 Comédia

Lírico:
 Lírica
 Ditirâmbica

     História - “Aristóteles”:
- “O texto fundador em matéria de explicação do que é um género literário: Aristóteles,
Poética;
- Logo no início da Poética, Aristóteles diz que vai “tratar da arte poética em si e das
suas espécies, do efeito próprio de cada uma delas” [só lhe interessa a poesia];
- Distingue categorias e descreve as regras que as regem.

     História - Diómedes
- Aristóteles distingue três grandes géneros:
 Épico:
 Lírico;
 Dramático.

→ Segundo Ducrot e Todorov teria sido Diómedes um gramático do século IV que


propõe a definição seguinte:
  - Lirismo, obras nas quais fala o amor;
  - Dramático, obras nas quais falam as personagens;
  - Épica, obras em que falam autor e personagens.
                                          (não menciona a narrativa ficcional em prosa)

LEITORES:
→ Tornam-se ‘Instâncias Canónicas’, pois o trabalho dos mesmos é dizer o que
está mau ou bom;
- quem dita se um livro deve sai para o público;
= se tem lugar no MERCADO
 Colocar o autor e os seus livros em causa:
estratégia de marketing:
- revizualizar
- reconfigurar

O CAMPO DOS LEITORES, é mais vasto do que dizer se está bem ou mal.
o reorganizar;

o reavaliar;

o averiguar
= a pesquisa sobre o texto lido.
Tem que se ir mais ao fundo para conseguirmos obter respostas ➕ exatas e concretas
para então conseguirmos expressar a nossa opinião e fundamentarmos o nosso argumento.

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