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Ano XV

Número 69
Jan-Fev-Mar-Abr 2015

SAÚDE MENTAL: DIREITOS E DESAFIOS


Diante da ameaça de retrocessos nas conquistas da Reforma
Psiquiátrica, o CRPRS vê com preocupação a gestão da política de saúde
mental no estado e se mobiliza em defesa do cuidado em território.

Psicologia, trabalho e
Família(s) organizações
Sistema Conselhos de Psicologia Confira entrevista
acompanha a tramitação do com profissionais da área, que falam
Estatuto da Família na Câmara sobre a relação da Psicologia com o
dos Deputados. trabalho e com as organizações.

pág. 12 pág. 16
editorial + expediente

A política de saúde mental e a luta antimanicomial ganham Publicação quadrimestral do


Conselho Regional de Psicologia do
destaque nesta edição do jornal EntreLinhas. Na reportagem Rio Grande do Sul
principal, apresentamos a atual conjuntura da Saúde Mental
Comissão Editorial: Caroline Martini Kraid
no estado e mostramos de que forma os militantes que lutam Pereira, Cristiane Bens Pegoraro, Bruna
Osório Pizarro, Luciane Engel
pelo cuidado em liberdade e no território estão engajados na
defesa da Política Estadual de Saúde Mental, aprovada em 2014 Jornalista Responsável:
Aline Victorino – Mtb 11602
pelo Conselho Estadual de Saúde. Leia a reportagem principal, Estagiário de Jornalismo:
Juliano Zarembski
informe-se e participe das ações da luta antimanicomial em de- Redação: Aline Victorino
fesa das conquistas da Reforma Psiquiátrica. Sua mobilização é Relações Públicas:
Belisa Giorgis / CONRERP/4–3007
fundamental para não permitir retrocessos. Nadia Miola / CONRERP/4–3008
Eventos: Adriana Burmann
Comunicamos que, em 2015, o Entrelinhas será publicado a Comentários e sugestões:
cada quatro meses. Ajude a construir a próxima edição do jor- imprensa@crprs.org.br

nal, que sairá em agosto. Envie sugestões de temas para serem Endereços CRPRS:
abordados neste espaço para o e-mail imprensa@crprs.org.br. Sede:
Av. Protásio Alves, 2854/301
Porto Alegre
CEP: 90410-006
Fone/Fax: (51) 3334-6799
crprs@crprs.org.br

Subsede Serra:
Rua Coronel Flores, 749/505 – Caxias do Sul
CEP: 95034-060
Fone/Fax: (54) 3223-7848
caxias@crprs.org.br
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
Subsede Sul:
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 7ª Região
Rua Félix da Cunha, 772/304 – Pelotas
A Presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, Psicóloga Alessandra CEP: 96010-000
Xavier Miron, em cumprimento ao estabelecido no Código de Processamento Disciplinar vem, por Fone/Fax: (53) 3227-4197
meio deste instrumento, aplicar a penalidade de
pelotas@crprs.org.br
CENSURA PÚBLICA
Subsede Centro-Oeste:
à psicóloga Marta Tiefensee, CRPRS-11.202, por infração ética aos artigos 1º, alínea “c”, 2º, Rua Mal. Floriano Peixoto, 1709/401
alíneas “g” e “h” e 14 do Código de Ética Profissional do Psicólogo. Santa Maria
CEP: 97015-373
Porto Alegre, 27 de março de 2015. Fone/Fax: (55) 3219-5299
santamaria@crprs.org.br

Projeto Gráfico e Diagramação:


Tavane Reichert Machado
Ilustrações: Núcleo Urbanoide
Impressão: Gráfica Pallotti
Tiragem: 15.000 exemplares
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 7ª Região Distribuição gratuita

A Presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, Psicóloga Alessandra www.crprs.org.br
Xavier Miron, em cumprimento ao estabelecido no Código de Processamento Disciplinar vem, por
meio deste instrumento, aplicar a penalidade de

CENSURA PÚBLICA
twitter.com/crprs
à psicóloga Dione Alice Batista, CRPRS-12.285, por infração ética ao artigo 2º, alínea “o” do
Código de Ética Profissional do Psicólogo. facebook.com/conselhopsicologiars

Porto Alegre, 27 de março de 2015. youtube.com/crprs

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sumário + comunicados

Sumário 12 REPORTAGEM 24 ARTIGO


Família(s) O alerta que não se apaga
04 FIQUE ATENTO mais: um tempo de cuidado
O que os/as psicólogos/as com famílias, crianças e
pensam sobre o Estatuto da adolescentes nas políticas da
Família (PL 6583/13)? Segurança Pública
05 REPORTAGEM
PRINCIPAL
16 ENTREVISTA 26 CREPOP
Política de Saúde Mental e
Luta Antimanicomial Psicologia, trabalho e Precisamos falar sobre
organizações financiamento e controle social
Desmistificando o tema saúde
mental
Fortalecimento dos 20 CONFERÊNCIAS 27 ORIENTAÇÃO
movimentos antimanicomiais Conferências Nacionais: Ensino de métodos e técnicas
Conselho Estadual de Saúde participação na construção de psicológicas a não psicólogos/as
(CES) cobra posicionamento políticas públicas
sobre diretrizes da Política de Conferência Estadual de Saúde
Saúde Mental 28 AGENDA
Posicionamento do CRPRS
Como está a política de saúde
22 ARTIGO
mental em seu município? O que a Psicologia tem a ver
com o gênero?
Saúde Mental no RS: um
século de retrocesso?

11 RELATO DE EXPERIÊNCIA
Para além do manicômio
judiciário

SUBSEDE SERRA

SUBSEDE CENTRO-OESTE
Caxias do Sul

Santa Maria

METROPOLITANA
Porto Alegre

CRPRS
mais próximo SUBSEDE SUL

Pelotas

Você sabe em qual área de atendimento do CRPRS


(sede em Porto Alegre ou subsedes Serra, Sul ou
Centro-Oeste) está localizada a cidade em que você
mora ou atua profissionalmente?

Acesse www.crprs.org.br/regionalizacao e
confira mapa e lista de municípios divididos
por região de atendimento do CRPRS.

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fique atento

Desinstitucionalização Lei de
 O processo de desinstitucionalização dos usuários mora- Execuções
dores do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP) enfrentou,
no final do ano passado, uma tentativa de retrocesso via ju-
Penais
dicial após ação civil pública movida pelo Sindicato Médico  O CRPRS vem acompa-
do Rio Grande do Sul e por outras entidades. A ação deter- nhando de perto o Projeto de
minava a paralisação do processo de desinstitucionalização e Lei do Senado nº 513 de 2013
o retorno imediato dos usuários desinstitucionalizados para que tem por objetivo alterar a
as unidades do HPSP. Para o CRPRS, o fato representa uma LEP – Lei de Execuções Penais
violação de direitos já que muitos desses usuários vivem há (Lei 7.210 de 11 de julho de
mais de dez anos em suas casas e já restabeleceram relações 1984). O Conselho preparou
sociais e de pertencimento. documento com sugestões
A ação foi julgada em 26/11/2014 pelo Tribunal de Justiça de alteração do projeto que
do RS (processo nº: 70062019690) e, por unanimidade dos ressaltam o papel da Psicolo-
desembargadores, garantiu a continuidade e recomendou a gia no trabalho com a saúde,
agilidade do processo de desinstitucionalização do Hospital com o desenvolvimento e com
Psiquiátrico São Pedro. a autonomia, enfatizando o
olhar para as singularidades
Acesse www.crprs.org.br/entrelinhas69 e dos sujeitos e investindo na
confira texto que relata o processo.
desconstrução do estereótipo
biopsicogenético que acaba
por produzir discriminação e
Apaf exclusão social.
 Em dezembro, o CRPRS participou, em Brasília, da Assem- O documento, produzido em
bleia de Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf), evento realizado pelo Núcleo
instância deliberativa do Sistema Conselhos de Psicologia. do Sistema Prisional em feve-
O CRPRS solicitou a inclusão de três pontos na pauta: pro- reiro, foi encaminhado ao Con-
posta de nova carteira de identidade profissional, projeto de selho Federal de Psicologia.
digitalização de documentos e avaliações psicológicas no
Sistema Prisional. Nenhum deles foi contemplado, apesar de
todos terem entrado como prioritários na ordem do dia. Os
pontos serão encaminhados para a próxima Apaf que acon-
Acesse http://bit.ly/NSP_LEP e
tecerá em maio. saiba mais sobre essa atividade.
Participe das reuniões do Núcleo do
Sistema Prisional do CRPRS na sede
Confira detalhes dos pontos da última Apaf e subsedes. Confira agenda pelo site
em http://bit.ly/apaf_dezembro. www.crprs.org.br/comissoesegts.

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reportagem principal

Saúde mental:
direitos e desafios

Paula Adamy:
Psicóloga, pós-
graduada em
Residência
A Política Estadual de Saúde Mental, interesses econômicos”, declara a psicólo- Integrada em
Saúde pela Escola
aprovada em dezembro de 2014 pelo Conse- ga Paula Adamy, que trabalhou até 2014 na
de Saúde Pública
lho Estadual de Saúde (CES), defende o cui- Coordenação Estadual de Saúde Mental e na
do RS e mestre em
dado em liberdade, a desinstitucionalização construção da política aprovada pelo CES. Psicologia Social e
e a promoção de saúde no território. Apesar Para a psiquiatra Martha Helena Oli- Institucional pela
disso, a coordenação de Saúde Mental da veira Noal, que faz parte do conselho cien- UFRGS. Trabalha
Secretaria Estadual da Saúde (SES) anun- tífico da Associação de Familiares, Amigos atualmente em um
ciou recentemente a reativação do Hospital e Bipolares (AFAB) de Santa Maria, o isola- Serviço Residencial
Terapêutico no
Colônia de Itapuã, a retomada do Hospital mento em hospitais afastados da sociedade
município de
Psiquiátrico São Pedro (HPSP) como centro representa um grande retrocesso. “A vida se
Viamão.
de referência em formação e assistência em passa no território. Problemas e dificuldades
saúde mental e a rescisão de três imóveis se passam no núcleo familiar, no trabalho, na Martha Helena
que serviriam como residenciais terapêuticos rua. Se vamos segregar, voltamos à lógica da Oliveira Noal:
para a continuação da desinstitucionalização instituição total do século XIX. Não podemos Médica Psiquiatra,
preceptora
do HPSP. “São ações segregadoras e contrá- pensar em colônias para pessoas como nós”.
da residência
rias a tudo o que preconiza a Organização A construção da Política Estadual de
em Psiquiatria
Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde, as Saúde Mental aprovada pelo CES teve iní- do Hospital
Conferências Nacionais de Saúde Mental e as cio em 2011, quando os recursos deixaram Universitário de
legislações vigentes, além de carregar muitos de priorizar meios de internação (leitos Santa Maria.

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reportagem principal

hospitalares e vagas em comunidades tera- mos de dispositivos e linhas de financiamento


Sandra Leon pêuticas) e passaram a ser direcionados ao para potencializar o cuidado em saúde mental
Integrante do fortalecimento da rede de atenção psicosso- na Atenção Básica”. Além disso, segundo ela,
Fórum Gaúcho cial no território, conforme modelo preco- é preciso “repensar as formas de cuidar dessas
de Saúde Mental nizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). pessoas, contemplando formas de promoção à
e coordenadora
A falta de clareza sobre as perspectivas de saúde que colocam o usuário como protagonis-
adjunta da
Comissão de
cumprimento dessa política pela atual gestão ta de seu projeto terapêutico e de vida”.
Saúde Mental do preocupa os militantes da luta antimanico- Para Martha Helena Oliveira Noal, esse
Conselho Estadual mial. “Não há clareza do que será feito. O atu- modelo de cuidado deve ser defendido com
de Saúde. al coordenador de Saúde Mental diz que vai a apresentação de referências práticas bem
cumprir a lei com o seu ‘toque pessoal’. Como sucedidas. “Temos exemplos irrefutáveis. Em
as políticas públicas não devem ser pessoaliza- Santa Cruz do Sul, por exemplo, existia um
das, já aí temos uma contradição”, afirma San- modelo estritamente hospitalocêntrico de as-
dra Leon, representante do Fórum Gaúcho de sistência aos transtornos psíquicos. A partir da
Saúde Mental (FGSM). Para o FGSM, é funda- contratação de diversos profissionais da área
mental que as ações voltadas à implementação da saúde mental, a cidade passou a oferecer
de uma rede de serviços diversificada, multi- outro modo de cuidado, com o processo de
profissional, que trabalhe não só o cuidado, construção de uma rede de atenção psicosso-
mas que oferte possibilidades de reinserção, cial territorial e interdisciplinar, contemplan-
trabalho, renda e reabilitação sejam mantidas. do a integralidade dos sujeitos implicados”.
Paula Adamy acredita que, para viabilizar Nesse caso, o trabalho interdisciplinar foi
essas ações, seja preciso fortalecer o trabalho considerado estratégico. “Pensar as profissões
junto à Atenção Básica. “Considerando que separadamente, cada um em seu ambulatório,
76,6% dos municípios gaúchos têm população sem se falar, é muito desatualizado e pouco
inferior a 15 mil habitantes e, portanto, não po- resolutivo. Não dá para ficar tentando achar
dem ser contemplados com serviço especializa- soluções limitadas, pontuais, sem ampliar a
do de saúde mental em seu território, precisa- clínica para a solução desses problemas”.

LEIA MAIS:
Leia o artigo “Da
internação à
Desmistificando o tema saúde mental
reabilitação, uma
Para os defensores da Reforma Psiqui- Sandra Leon defende que é preciso des-
construção coletiva”,
átrica, o pensamento de segregar as pessoas mistificar o tema saúde mental na socieda-
de Martha Helena
Oliveira Noal, em sofrimento psíquico reflete uma prática de. “Precisamos combater preconceitos e es-
disponível em http:// ligada à moralidade e a questões culturais. tigmas arraigados no seio da sociedade há
bit.ly/1G3eTZ8. “Todas as existências não reconhecidas como muitos anos e que, às vezes, são reforçados
saudáveis – dentro da normalidade estabeleci- por posturas profissionais e pela mídia. Até
da pelo desejo de captura de um sanitarismo a Psicologia, quando assume um discurso
higienista, são colocadas como anormais. E são patologizante e médico-centrado e se oferta
esses os que mais acabam sofrendo com prá- para o disciplinamento dos corpos, como já
ticas de internações compulsórias, de segrega- o fez em muitos momentos históricos”.
ção e manicomiais”, considera Paula Adamy. Outro ponto que precisa ser trabalhado

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é com relação à qualidade do atendimento interdisciplinar em um CAPS, por exemplo,
no SUS. “Usuários e família que são atendi- com o apoio de uma equipe qualificada, do
dos pelo SUS, de acordo com o que está pre- que ser atendido por um único profissional
conizado na legislação, percebem que essa que irá atender, prescrever em cinco minutos
estrutura de atendimento é muito mais efeti- e te mandar para casa” declara a psiquiatra
va. É muito melhor receber um atendimento Martha Helena Oliveira Noal.

Confira princípios fundamentais e diretrizes norteadoras da Política de


Saúde Mental aprovada pelo Conselho Estadual de Saúde em 2014:
• Direito à atenção integral e em liberdade, com equidade e universalidade do acesso.
• Atenção à saúde centrada na necessidade do usuário, levando em conta seu contexto social e modo de vida, para além do
foco na remissão dos sintomas.
• Promoção da cidadania e da participação social, com garantia dos direitos humanos.
• Desinstitucionalização e a reinserção social dos usuários na comunidade.
• Redução de danos como ética e estratégia de cuidado a pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas.
• Garantia do acesso ao cuidado a populações específicas.
• Constituição de uma rede de atenção psicossocial sólida, com diferentes equipamentos com funções distintas, que efetivem
processos de cuidado com acolhimento, vínculo, corresponsabilização e acompanhamento longitudinal.
• Atenção ofertada nas regiões de saúde, de forma articulada em rede e em linha de cuidado, a partir dos possíveis itinerários
singulares de cuidado constituídos nos territórios de vida das pessoas.
• Superação do modelo centrado no hospital e na doença, que reproduz um ciclo de internações sucessivas (hospital como porta
giratória), buscando promover o vínculo com equipe de referência e o acompanhamento territorial no retorno à comunidade.
• Apoio institucional e educação permanente como ferramentas de qualificação da Rede de Atenção Psicossocial nas regiões de saúde.

Fortalecimento dos
movimentos antimanicomiais
O Fórum Gaúcho de Saúde Mental lizados como preparatórios para o Encontro
(FGSM) sempre esteve presente nos espaços Gaúcho de Militantes da Reforma Psiquiátri-
de luta e de controle social se posicionan- ca Antimanicomial, agendado para maio em
do em defesa da vida e do direito de cada Porto Alegre. Trata-se de uma articulação do
cidadão a um cuidado digno, ético e em li- Conselho Regional de Psicologia, do Fórum
berdade. “Historicamente esse é o papel do Gaúcho de Saúde Mental, da Associação de
FGSM e nunca vamos abandonar a bandeira Familiares, Amigos e Bipolares, da Associa-
da Reforma Psiquiátrica e de uma sociedade ção Construção, da Associação Capilé de
sem manicômios. O movimento social vai Saúde Mental, da Comissão de Saúde Mental LEIA MAIS:
responder a qualquer tipo de retrocesso no do Conselho Estadual de Saúde, entre outros EntreLinhas nº 58 –
que já foi conquistado na saúde mental do parceiros. Porto Alegre, Santa Maria e Caxias Saúde Mental
nosso estado”, explica Sandra Leon. do Sul já realizaram encontros preparatórios. http://www.crprs.
Nesse sentido, desde agosto de 2014, reu- Essas atividades, que reúnem centenas org.br/upload/
edicao/arquivo51.pdf
niões e encontros regionais estão sendo rea- de militantes da luta antimanicomial, dão

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reportagem principal

força ao movimento. “Para nós profissionais


é fundamental para acharmos os pares, não
nos sentirmos sozinhos. E é muito importante
os usuários estarem reunidos, se escutarem.
Isso dá um novo gás, dá vitalidade ao movi-
mento”, afirma Martha Helena Oliveira Noal.
Para Denizar da Silva, presidente da
Associação de familiares, amigos e bipola-
res (AFAB) de Santa Maria, organizações
como essas representam um empodera-
mento do usuário. Denizar acredita que é
preciso “participar de eventos para encon-
trar outras pessoas que vivem algo pareci-
do, nos conhecer melhor e ganhar espaço”.

Denizar da Silva
Presidente da Conselho Estadual de Saúde (CES)
Associação
de familiares,
cobra posicionamento sobre diretrizes
amigos e
bipolares (AFAB)
da Política de Saúde Mental
de Santa Maria.
O CRPRS participou da primeira plená- Sandra Mara Lopes contribuiu com o de-
ria de 2015 do Conselho Estadual de Saúde bate dando o seu depoimento. Ela viveu
(CES), em 26/02, que discutiu a política de 10 anos no Hospital Psiquiátrico São Pedro
saúde mental do estado. após ter sido considerada incapaz de viver
Na plenária, Sandra Leon, coordena- em sociedade. “Quando veio a Reforma
dora adjunta da Comissão de Saúde Mental Psiquiátrica, os médicos queriam que fos-
Leia entrevistas na
do CES, apresentou questionamentos da se para rua, mas eu tinha medo de viver
íntegra em www. Comissão ao coordenador de Saúde Mental lá fora”. Hoje, Sandra Mara não cogita re-
crprs.org.br/ da Secretaria Estadual da Saúde, Luiz Illa- tornar ao hospital e luta para que outras
entrelinhas69. font Coronel. “Tivemos lutas históricas e pessoas que vivem nessa mesma condição
não vamos aceitar um retrocesso na saúde tenham seus direitos garantidos e possam
mental do nosso estado”, afirmou Sandra viver em liberdade. “Precisamos fortalecer
cobrando um posicionamento do atual go- os Centros de Atenção Psicossociais e in-
verno sobre o projeto de desinstituciona- vestir em Residenciais Terapêuticos para
lização e sobre a manutenção do repasse que as pessoas que são consideradas loucas
de verbas para residenciais terapêuticos e tenham direito à voz e sejam respeitadas”.
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Os questionamentos apresentados pelo
oficinas terapêuticas, equipes de redução Conselho foram encaminhados à SES com a
de danos e acompanhamento terapêutico. solicitação de um retorno por escrito e apre-
A usuária do Sistema Único de Saúde sentação das respostas em nova plenária.

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Posicionamento do CRPRS
A política de saúde mental adotada Psicossocial (CAPS), residenciais terapêu-
pelo estado com a nomeação do coor- ticos, centros de convivência e ações de
denador de Saúde Mental da Secretaria saúde mental na atenção básica. Esse mo-
Estadual da Saúde, Luiz Carlos Illafont delo assistencial não pretende acabar com
Coronel, é vista com preocupação pelo o tratamento clínico dos transtornos men-
Conselho Regional de Psicologia do Rio tais, mas elimina a prática da internação
Grande do Sul (CRPRS). “As ações anun- como forma de exclusão social, ainda tão
ciadas até o momento sinalizam um retro- presente em nossa sociedade.
cesso nas conquistas da Reforma Psiqui- O CRPRS está atento às ações do Esta-
átrica”, afirma a conselheira do CRPRS do para defender as conquistas da Refor-
SAIBA MAIS:
Cristiane Bens Pegoraro. ma Psiquiátrica e não permitirá retroces-
Durante muitos anos, a atenção em sos na Política de Saúde Mental. Acesse http://
saúde mental esteve centrada no modelo bit.ly/CRPRS_
dos manicômios, locais em que os interna- Documento é entregue à Secretaria politica_SM para ler
dos perdem suas referências de vida, são Estadual da Saúde posicionamento do
CRPRS sobre o tema.
excluídos do convívio familiar, do traba- Em janeiro, o Sistema Conselhos de
lho, da cidade, perdendo sua cidadania. Psicologia participou de reunião na Se-
Acesse http://bit.ly/
A Reforma Psiquiátrica possibilitou cretaria Estadual de Saúde colocando-se à perspectivas_SM e
que os manicômios começassem a ser disposição para contribuir na construção confira o documento
substituídos por uma rede de serviços co- de uma política de saúde mental que ga- na íntegra.
munitários, como os Centros de Atenção ranta o cuidado em liberdade.

Como está a política de saúde


mental em seu município?
Katiusci Lehnhard
“Santa Maria não tem uma política de saúde mental clara e definida. Há uma nova
Machado –
coordenação de saúde mental, que tem buscado discutir e mobilizar trabalhadores, para representante do
construir coletivamente. Os serviços nessa área, em especial os CAPS, possuem algumas CRPRS no Conselho
fragilidades, tais como equipe mínima, poucos recursos materiais. É preciso estruturar Municipal de Saúde
de Santa Maria
uma rede mais ampliada, resolutiva e integrada. Afinal, não basta instituir uma rede de
atenção especializada para dar conta de ações efetivas sem considerar os dispositivos so-
ciais disponíveis nos territórios, conforme a direção das políticas públicas de saúde men-
tal. Além disso, é preciso mais investimento em infraestrutura para viabilizar estratégias
de atenção nos territórios”.

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reportagem principal

Pauline
Schwarzbold Como está a política de saúde
da Silveira –
representante do
mental em seu município?
CRPRS no Conselho
Municipal de Saúde “A política de saúde mental não é um tema muito discutido no Conselho Municipal
de Venâncio Aires de Saúde de Venâncio Aires, não há um acompanhamento específico. O município conta
hoje com um CAPS AD e um CAPS II. A realidade é a falta de profissionais, em especial
da Psicologia. Temos questionado gestores, reivindicado isso, mas o que argumentam é que
o município já trabalha no teto da folha de pagamento, não há como ampliar o número de
profissionais. Isso dificulta que a política seja implementada de forma mais efetiva”.

Manifeste-se
sobre a política
de saúde mental Saúde Mental no RS:
um século de retrocesso?
em seu município.
Envie seu relato
para imprensa@
crprs.org.br. A notícia, veiculada tal qual pela mídia em liberdade revelam que “cronicidade” é
em princípios de fevereiro, foi transmitida uma característica que diz mais das institui-
pela Seção de Saúde Mental da Secretaria Es- ções totais do que da enfermidade dos que
tadual da Saúde, gestão Sartori, como grande a elas são submetidos.
feito por vir. Nas palavras do recém-empossa- Não por outro motivo, em 2011, ao publi-
do coordenador de saúde mental, Luiz Carlos car indicadores de saúde mental no mundo,
Illafont Coronel, trata-se de reativar o Hospi- a prestigiada revista inglesa Lancet destaca
tal Colônia Itapuã “conforme critérios técnicos positivamente a opção feita pelo Brasil por
Analice de Lima médicos, para a recuperação de pacientes que serviços inovadores e intervenções comuni-
Palombini tenham características da cronicidade”. tárias, além das ações de desinstitucionali-
Doutora em Saúde Estranha viagem no tempo! É na Repú- zação como o Programa De Volta para Casa,
Coletiva UERJ blica Velha, dos anos 1890 a 1920, que se as- que tem auxiliado milhares de ex-internos
siste à ampliação do espaço asilar no Brasil, de longa permanência de instituições psiqui-
Texto originalmente
em particular pela implantação do modelo átricas a retornarem ao convívio social.
publicado no jornal
Correio do Povo em das colônias como forma de assistência aos Nosso estado tem sido pioneiro na
14/03/2015. alienados, justificada pelo que seria o valor implementação de ações de saúde mental
terapêutico do trabalho agrícola. Ora, inú- de base comunitária, tal como propugna
meros estudos mostram que as sucessivas a Organização Mundial da Saúde (OMS),
mudanças nas formas de tratamento no in- em substituição ao tratamento centrado no
terior desses espaços terminam por confir- hospital psiquiátrico. Propor a reativação
mar o fracasso, como projeto terapêutico, da de um hospital colônia é retrocesso mons-
instituição asilar, constituída em sociedade truoso que afronta as diretrizes de saúde
ilhada à parte da sociedade mesma. Excluir mental da OMS, fere a história da saúde
não é cuidar. Ao contrário, experiências mental em nosso estado e no país, envergo-
mundialmente consagradas de um cuidado nha a cidadania. Não passará.

10 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


relato de experiência

Para além do
manicômio judiciário
Desde 2004, venho trabalhado com a que ele mesmo possa apontar a sua medi-
desinstitucionalização dos pacientes que da. Assim, acredito, ele poderá sair dessa
cumprem Medida de Segurança no Insti- “roda-viva e possa ter voz ativa e no seu
tuto Psiquiátrico Forense (IPF) e, acompa- destino mandar”.
nhada de outros parceiros, tenho pensado Uma outra atividade muito impor-
em outra resposta possível para além do tante da qual faço parte e que compõe as
manicômio judiciário, quando o crime e ações de desinstitucionalização no IPF é
loucura se encontram. Em 2010, quando o Núcleo de Estágio em Psicologia (NEP). Rafaela Schneider
Brasil
entrei no mestrado em Psicologia Social Desde 2010, esse núcleo vem trabalhando
Psicóloga, psicanalista
e Institucional da UFRGS, eu buscava or- na construção de uma prática orientada
graduada pela Unisinos,
ganizar alguns dos meus questionamen- pela adoção de uma política antimanico-
mestre em Psicologia
tos, principalmente entender o que fazia mial e, por meio do acompanhamento te-
Social e Institucional
essa maquinaria do manicômio judiciário rapêutico, tem tido importante função no pela UFRGS. É psicóloga
funcionar da maneira como funciona, o processo de inserção social e promoção da no Instituto Psiquiátrico
que estava em jogo nesse lugar que pa- saúde. A perspectiva do trabalho é de que, Forense Maurício
recia sem saída e quais as possibilidades ao sair pela cidade, o acompanhante possa Cardoso.
de desarticular essa engrenagem. Não foi apostar na direção que o acompanhado vai
nada fácil escrever sobre esse tema a partir indicando, abrindo, assim, possibilidade
da visitação às minhas memórias, mas o dele inventar outros meios de enlaçar sua
que eu pretendia com isso era apresentar potência de vida em modos de sociabilida-
os efeitos no real da experiência, como as de possível.
palavras afetam os corpos. Ou seja, a for- Ao mesmo tempo, a interlocução entre
ma pela qual essa ficção, que envolve os arte e clínica também tem sido uma apos-
conceitos de crime e loucura juntos, incide ta na invenção desse laço possível, onde a
sobre o sujeito. A pretensão era produzir loucura, a cidade e a política se encontram. PARTICIPE!
um furo, um “furinho” que seja, nessa en- A Oficina Cafofo, idealizada e proposta no Você também quer
grenagem, nesse ideal social de tudo po- tempo de construção desse núcleo de es- compartilhar sua
der controlar na defesa do social e assim tágio, localizada no interior do manicômio experiência como
garantir a segurança absoluta. judiciário, tem sido lugar privilegiado de psicólogo/a? Envie
A psicanálise, perspectiva teórica que encontros que potencializam vida. Lá, di- um relato para
dá sustentação à minha prática, indica versas intervenções têm acontecido: algu- imprensa@ crprs.
que a direção é sempre no sentido do su- mas iniciam com uma proposta vindo de org.br destacando
sua prática. Os textos
jeito, assim ela se coloca como uma práxis alguns dos oficineiros, outras são dispara-
serão avaliados pela
de resistência à naturalização do destino das pelo desejo dos oficinandos, e outras
Comissão Editorial do
dos loucos nos manicômios e tem como oficinas, ainda, acontecem simplesmente
EntreLinhas e
objetivo, no trabalho da desinstituciona- pelo convite da porta aberta.
poderão ser publicados
lização, colocar o sujeito e suas respostas Esse tem sido um pouco do meu per- nas próximas edições
na centralidade da amarra discursiva que curso na “desinsti”, esse tem sido um pou- do jornal.
está em jogo nessa engrenagem deixando co daquilo que eu “insisto”!

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 11


reportagem

Família(s)

O Sistema Conselhos de Psicologia como o núcleo formado a partir da união


está acompanhando de perto a trami- entre homem e mulher, por meio de ca-
tação de dois projetos de lei que tratam samento, união estável ou comunidade
da definição do conceito de família no formada pelos pais e seus descendentes.
Leia entrevistas na
íntegra em www. Congresso Nacional. O Projeto de Lei Mostra uma visão extremamente conser-
crprs.org.br/ que tramita na Câmara (PL 6583/13) é vadora e retrógrada. Já o Estatuto das
entrelinhas69. o Estatuto da Família e define família Famílias, Projeto de Lei Suplementar

12 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


470/13, tramita no Senado e reconhece cada configuração familiar existe uma re- Simone Machado
a relação homoafetiva como entidade fa- presentação e não é possível estabelecer Psicóloga,
miliar ao rever o instituto da união está- um modelo de sistema familiar, pois, ao coordenadora do
vel e ampliar o conceito de casamento. fazê-lo estaríamos sendo incoerentes com NEAPC - Núcleo
Para o CRPRS, há múltiplas for- o próprio princípio de sistema: um pro- de Estudos e
Atendimentos
mas de composição familiar, e o Estado cesso aberto, vivo, temporário e dinami-
em Psicoterapias
precisa respeitar essa diversidade. O/A camente organizado. O estabelecimento
Cognitivas em
psicólogo/a, independente da linha ou de modelos destituiria esse pressuposto”. Porto Alegre e
área de atuação, trabalha com diferentes Em sua prática clínica, Simone ressalta sócia fundadora da
realidades e configurações de famílias e a importância de conhecer como uma pes- FBTC – Federação
deve considerar essa pluralidade em sua soa percebe suas relações familiares para, Brasileira de
Terapias Cognitivas.
prática, prezando os vínculos da afetivi- assim, compreender suas relações vincula-
dade e socialização. Outro importante as- res, seus receios, suas aspirações, seus re-
pecto da atuação do/a profissional é estar cursos psicoemocionais e seus comporta-
atento a formas de violência, preconceito mentos. “Cada pessoa é uma história a ser
e estigmatização nas relações familiares conhecida, uma história composta de vá-
para combatê-los, descontruindo concei- rias outras histórias, dentre elas a família.
tos de modelo ideal de família. Entendo que as mudanças são movimen-
No contexto da Psicologia, cada teoria tos esperados em um sistema, algumas
irá abordar o entendimento sobre família vezes acontecem lentamente e em outros
de acordo com seus pressupostos. A Tera- momentos podem emergir de maneira
pia Cognitiva, por exemplo, entende que mais rápida, podem ser tênues ou profun-
o sistema familiar é considerado um ele- das, leves ou doloridas, todas, porém, car-
mento importante na investigação clínica regam em si as representações vinculares
e na organização do setting terapêutico, de quem nelas está inserido”.
pois, para essa abordagem, o desenvolvi- Para os profissionais que seguem um
mento humano ocorre de forma integral e referencial Sistêmico Familiar, a com-
os aspectos físicos, emocionais, psicológi- preensão do conceito de família também
cos, espirituais, sociais, vinculares e rela- pode ser relacionada à definição de siste-
cionais constituem o núcleo organizador ma aberto, um conjunto delimitado, que
da personalidade. mantém relações com seus componentes
Seguindo essa linha, a psicóloga Si- e, por meio disso, se mantém integrado.
mone Machado, considera que na famí- “Gradualmente, elabora suas normas,
lia as pessoas desenvolvem processos recebendo influências do meio externo
vinculares e comunicacionais que coti- e influenciando o mesmo, também. Esse
dianamente os identificam como perten- sistema desenvolve regras que regem o
centes a esse contexto. “Esses elementos seu funcionamento e a forma como se
não são estanques, eles se organizam e darão as relações de seus membros. Não
se reorganizam a todo o momento, pois, existe uma fórmula pronta e igual para
como todo sistema, a vitalidade não está explicar o funcionamento ou o prognós-
na estabilidade e sim no movimento. Em tico de uma família em determinados sis-

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 13


Diego Moraes Gomes temas. Diversas variáveis (cultura fami- Vanessa explica que a desconstrução
Psicólogo, sócio liar, raça, religião, papel dos membros, de modelos ideias de família é uma prá-
diretor do Centro de origens geográficas, educação formal, tica constante, inclusive dentro da pró-
Estudos Sistêmicos:
questões de saúde ou doença, ideolo- pria equipe de profissionais do serviço e
Família e Indivíduo –
gias) fazem surgir uma incógnita se nos na rede de serviços intersetoriais, locais
CESFI em Santa Maria.
aventurarmos a explicar como determi- em que ainda há preconceitos ou concep-
Vanessa Limana Berni nada família ou sujeito reage com o meio ções de modelos ideais de família, e com
Psicóloga no CRAS em que vive”, analisa o psicólogo Diego os próprios usuários. “O trabalho social
da Prefeitura Muni- Moraes Gomes. “Minha prática é regida com famílias, realizado no CRAS, através
cipal de Jaguari/RS, por um forte senso de continência e de do Serviço de Proteção e Atendimento
mestra em psicologia
acolhimento, até o momento em que eu Integral à Família, é efetivado quando se
(UFSM), pesquisadora
possa desafiar a mudança e desacomo- respeita a heterogeneidade dos arranjos fa-
do Grupo de Pesquisa
“Saúde, Minorias So- dar formas de agir, até então cristaliza- miliares, os valores, crenças e identidades
ciais e Comunicação” das; não apenas no consultório, mas tam- das famílias que buscam o serviço. Nosso
da UFSM. bém nas discussões que surgem no dia a trabalho é, muitas vezes, fazer com que as
dia.”, complementa. pessoas daquela família reconheçam seus
Desde 2004, a Política Nacional de As- papéis na família, que papéis querem ou
sistência Social define o termo família como conseguem desempenhar. A partir disso,
“um conjunto de pessoas que se acham uni- fortalecemos a função protetiva da família
LEIA MAIS
das por laços consanguíneos, afetivos e ou e os vínculos afetivos entre seus membros,
Política Nacional
de solidariedade”. Essa definição supera as assim como promovemos o acesso e usu-
de Assistência
Social (PNAS/2004), três dimensões clássicas (sexualidade, pro- fruto de direitos e contribuímos na melho-
disponível em http:// criação e convivência) que já não têm o mes- ria da qualidade de vida”.
bit.ly/PNAS2004. mo grau de imbricamento. Para ela, a Psicologia tem papel funda-
No Sistema Único de Assistência So- mental por levantar questões que envol-
cial (SUAS), a psicóloga Vanessa Limana vem a família e por buscar aliados na luta
Berni trabalha considerando os diversos contra princípios fundamentalistas que
arranjos familiares da contemporaneidade ferem os direitos humanos e as liberdades
que seguem variáveis econômicas, sociais, individuais. “Precisamos desnaturalizar
culturais, políticas e/ou religiosas. Dian- noções que concebem a família como per-
te desses conceitos, para ela, a família é manente e universal, e a base disso está no
“produto e produtora da sociedade, sendo resgate da história, no conhecimento das
impossível concedê-la fora das transfor- diferentes relações de poder engendradas
mações que vem acontecendo, como as nas configurações familiares durante os sé-
mudanças no papel da mulher, redução culos. Nesse sentido, há muito o que dia-
da natalidade, escolarização precoce das logarmos e aprendermos e é nesse movi-
crianças, busca por melhores oportuni- mento que possibilitamos a desconstrução
dades de trabalho distanciando casais da de representações internalizadas no uni-
família extensa ou mesmo os próprios côn- verso consensual e vamos construindo ou-
juges, entre outras”. tras, livres de discriminações e estigmas”.

14 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


O que os/as psicólogos/as
pensam sobre o Estatuto da
Família (PL 6583/13)? SAIBA MAIS:
Orientações Técnicas
sobre o Serviço
de Proteção e
Atendimento Integral
à Família (Paif)
disponível em http://
“Essas discussões estão per- bit.ly/PAIF_2012.
“A proposição Estatuto da Famí- meadas por princípios religiosos
lia perpassa um discurso religioso e e elaboradas por políticos que “Adoção: um direito
carregam esses mesmos precei- de todos e todas”
moral, que desconsidera os interesses
publicação do
públicos de um Estado laico que deve tos, e não por princípios sociais
Conselho Federal
ser orientado pelos Direitos Huma- ou com bases científicas; isso já é de Psicologia (CFP),
nos e Constituição Federal”. algo suficiente para que um gru- disponível em http://
Vanessa Limana Berni po de pessoas seja beneficiado em bit.ly/adocao_CFP.

detrimento a outro grupo”.


Diego Moraes Gomes

“Não podemos deixar que ocorra a rotulação das configurações familiares, que
colocam um aspecto negativo, preconceituoso e violento ao querer ditar um modelo
de família, colocando toda uma pluralidade existente como algo não desejado. Esse PARTICIPE DA
posicionamento é degradante, acreditar que existe ou deva existir um enquadra- DISCUSSÃO
O tema vem sendo
mento do que vem a ser família é mais que retroceder nos processos sociais, é na
discutido pela
verdade nunca tê-los enxergado. O projeto tensiona e violenta os direitos dos cida- Comissão de Direitos
dãos, o que mais me assusta neste projeto vai além de suas propostas, me assusta Humanos do CRPRS.
verificar que várias pessoas o apoiam não de maneira direta, mas sutilmente em Acompanhe agenda
de reuniões pelo
seus comportamentos de silencio frente a ele”.
site www.crprs.org.
Simone Machado br/comissoesegts e
participe!

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 15


entrevista

Psicologia,
trabalho e
organizações
Como você vê a atual relação da Psicolo-
gia com o trabalho e com as organizações?
 MARIA CRISTINA NIDERAUER
– Entendo que, após ter passado por um
período de fragmentação do saber em pro-
cessos e subsistemas de áreas de Recursos
Humanos ou Gestão de Pessoas, a Psicolo-
gia do Trabalho está se aproximando cada
vez mais do campo da promoção de saú-
de mental. Está gradativamente saindo do
campo de recrutamento e seleção e aden-
trando em temas como estresse psicológi-
co, assédio moral, inclusão e diversidade
de gênero no ambiente organizacional. Há
nítidos avanços nesse sentido. Vejo um
posicionamento mais crítico dos/das pro-
fissionais que passaram a intervir mais no
desenho de cargos e funções dentro das
empresas, visando à redução do estresse e
do sofrimento no trabalho. Entretanto, es-
sas ações estão ainda associadas às inicia-
tivas individuais, dependentes do talento
para influência que os/as psicólogos/as
empregam quando estão exercendo suas
atividades nas organizações. Portanto,
pode-se dizer que ainda são insuficientes
para provocar o efeito abrangente que con-
solide a Psicologia do Trabalho e das Orga-
nizações como um campo de atuação, que
as próprias empresas queiram ter como
parte das suas estruturas.

16 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


 GISELE MOLON – O tema vem sen- para fatores relativos ao sentido do traba- Maria Cristina
do ampliado e discutido ao longo da histó- lho que cada trabalhador/a experimenta. Niderauer
Precisam compreender que o conhecimen- Psicóloga, sócia-
ria da Psicologia como ciência e profissão.
diretora do Centro
Porém, uma reformulação do papel do/a to que trazem para dentro da organização
de Estudos Mariot
psicólogo/a no contexto do trabalho ainda tem aplicação prática e pode aproximar em Porto Alegre. Há
se faz necessária. Empresários e organiza- em vez de afastar os campos de saber que 35 anos no campo
ções nem sempre obtêm o real e atual pa- se cruzam neste universo. da Psicologia do
Trabalho e das
pel do/a psicólogo/a no contexto empre-  GISELE – O/A psicólogo/a precisa
organizações, atua
sarial. Alguns ainda mantêm uma visão do estar atento/a às reais condições que o tra-
em consultoria com
modelo antigo, em que o/a psicólogo/a balho proporciona aos trabalhadores. Para foco nas questões
era considerado um aplicador de técni- uma efetiva contribuição com o mundo do relacionadas ao
trabalho, é essencial que escute as pessoas desenvolvimento de
cas e testes, detido apenas aos processos
times de trabalho e
de recrutamento e seleção de pessoas. Em que compõem o quadro estrutural da orga-
no apoio à atuação
anúncios de ofertas de trabalho na área da nização. É importante também que observe de lideranças.
Psicologia Organizacional, há diferentes se o ambiente organizacional favorece a saú-
nomenclaturas para essa posição: analista de ou se suscita o adoecimento dos seus ocu- Gisele Molon
pantes. É preciso agir, propondo alternativas Psicóloga, consultora
de treinamento e desenvolvimento, assis-
organizacional,
tente de recursos humanos, recrutador(a) para melhorar as condições de trabalho,
coordena o GT
ou gestor(a) de RH. Com base nisso, po- sempre acompanhando os fatores relaciona- da Psicologia do
demos pressupor que o/a psicólogo/a dos com a saúde mental dos trabalhadores. Trabalho da Subsede
organizacional não é reconhecido pela sua Serra do CRPRS
e representa o
profissão e formação, provocando assim Alguns/Algumas psicólogos/as que atuam
CRPRS no Conselho
um afastamento da sua identidade com a nessa área acabam se distanciando da Psi- Gestor do Centro de
categoria e, até mesmo, exigindo que esse cologia? Por que isso acontece? Que riscos Referência em Saúde
profissional se “enquadre” em teorias e isso traz? do Trabalhador
 MARIA CRISTINA – Observo que – CEREST/Serra.
procedimentos que não fizeram parte de
Além de atuar
sua formação. Assim, acabam se perdendo alguns colegas ao assumirem cargos, tais
com avaliação
em tarefas rotineiras e deixam de exercer o como os de analistas, assistentes ou coor- psicológica, presta
seu principal papel: colocar-se a serviço de denadores de RH, acabam por se render serviços nas áreas
práticas de saúde. às rotinas e à burocracia inerentes a essas de seleção de
profissionais, apoio
funções e se perdem no mar de tarefas, para
no desenvolvimento
De que forma o/a psicólogo/a pode con- além do que deveriam se permitir. Os es-
de competências
tribuir para o mundo do trabalho e/ou das tímulos para atuarem criticamente no am- individuais e/ou de
organizações? biente de trabalho se tornam distantes ou, equipes e suporte
 MARIA CRISTINA – Os/As psicólo- simplesmente, não são captados. O envol- nas decisões
estratégicas das
gos/as necessitam criar espaço para suas vimento pessoal na rotina operacional ge-
organizações.
próprias vozes e ir além das habilidades rará dificuldade de manter o senso crítico e
de escuta ativa. Não devem deixar des- a atitude investigativa, própria da ciência.
botar a habilidade de percepção aguçada O risco é perder a oportunidade de intervir

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 17


entrevista

e acolher demandas relacionadas à saúde e do sofrimento humano no ambiente de tra-


à qualidade de vida dos trabalhadores na balho. Para isso, é importante que os/as pro-
empresa onde atuam. Dentro da vestimen- fissionais se aproximem das entidades re-
ta de um cargo estruturado em um organo- presentativas da classe, criem ou demandem
PARTICIPE DAS grama empresarial, você pode até esquecer espaços para aprofundar o conhecimento,
ATIVIDADES DO CRPRS
que é psicólogo/a, mas as pessoas ao seu troquem experiências, mas, principalmente,
GT PSICOLOGIA, redor não esquecem. Suas atitudes, sua lin- não tenham receio de falar nas reuniões que
TRABALHO E guagem e coerência entre discurso e prática participam dentro das empresas e comecem
ORGANIZAÇÕES serão constantemente acessadas pelas pes- a expressar ideias ou sugestões de melho-
O Grupo de Trabalho
soas com as quais faz contato, em vários ria nas questões humanas. Um argumento
Psicologia, Trabalho e
Organizações teve seu
tipos de assuntos e demandas. bem estruturado, que promova a diferença,
primeiro encontro em  GISELE – Muitos/as psicólogos/as pode levar certo tempo para ser construído,
março. As reuniões são organizacionais se distanciam da profissão. mas se os/as psicólogos/as que atuam nas
mensais e acontecem Acredito que uma das razões desse afasta- organizações se mantiverem atentos/as, es-
na sede do CRPRS, em
mento ocorre porque as empresas não têm tudando e aprofundando o conhecimento,
Porto Alegre. Acompa-
nhe agenda pelo site se preocupado com a saúde mental de seus conseguem gerar muitas mudanças na cul-
www.crprs.org.br/ trabalhadores, tendo em vista que o núme- tura organizacional.
comissoesegts. ro de acidentes e doenças relacionadas ao  GISELE – O/A psicólogo/a precisa re-
trabalho expande a cada ano. Os/As psi- ver sua postura e não ser condizente com
GT PSICOLOGIA DO
cólogos/as não têm espaço para atuar com trabalhos que não sejam relacionados com
TRABALHO – SUBSEDE
SERRA promoção e prevenção, mas é preciso per- sua formação ou que o impossibilitem de
O Grupo se reúne men- sistir nessa luta. Acabam se “adaptando” atuar com a saúde do trabalhador. É dessa
salmente na Subsede em funções em que sua formação é questio- forma que poderá ser reconhecido como
Serra, em Caxias do Sul
nável. O preço disso é uma desvalorização um/a profissional estratégico/a, desvian-
ampliando a discus-
são para a região da
do/a profissional que, assim como os de- do-se de funções exclusivamente operacio-
Serra. A agenda pode mais, é uma pessoa que busca um reconhe- nais. Para que essa mudança se estabeleça é
ser conferida pelo site cimento pela sua escolha profissional. Pode dever do/a psicólogo/a efetuar as atribui-
www.crprs.org.br/ sofrer frustrações e adoecer através de um ções que estejam alinhadas à ética e à prá-
comissoesegts.
trabalho que não contribui para a sua satis- tica, referendadas pela respectiva categoria
fação e promoção do bem-estar. profissional, fortalecendo assim o reconhe-
cimento social dos/as psicólogos/as que
Como o/a psicólogo/a pode evitar que as atuam no trabalho e nas organizações.
demandas das organizações não se so-
breponham às práticas de saúde? Da forma como o trabalho está instituído
 MARIA CRISTINA – Não esquecendo em nossa sociedade e com as atuais exi-
Leia as entrevistas de que ser psicólogo/a é trabalhar além da gências do mercado, é possível priorizar
na íntegra em prescrição de um cargo. É uma profissão que a saúde do trabalhador?
www.crprs.org.br/
contempla saberes e entendimentos essen-  MARIA CRISTINA – Acredito, firme-
entrelinhas69.
ciais para promover o bem-estar e a redução mente, que sim. Entendo que o trabalho é

18 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


uma parte inerente à sobrevivência huma- privados que compartilham a importân-
na. Sempre existiu e está em transformação. cia da atenção à saúde pode ser uma alter-
A dinâmica de produção ficou mais acelera- nativa. O/A psicólogo/a deve estar pre-
da, mas a sociedade também está evoluin- sente em lugares onde haja espaço para SAIBA MAIS
Acesse www.crprs.org.
do. As leis trabalhistas se tornam cada vez debater sobre a saúde e o bem-estar dos
br/entrelinhas69 e
mais eficazes para diminuir os excessos, as trabalhadores, posicionando-se conforme confira o depoimento
condutas inapropriadas de tratamento dos a ética e buscando compreender os fenô- de outros/as psicólo-
trabalhadores e as próprias pessoas têm menos relacionados à vida do sujeito e gos/as que atuam na
área e que participa-
uma melhor consciência do que esperam seu contexto, neste caso o trabalho. Entre-
ram da primeira reu-
num ambiente de trabalho. Há mais cora- tanto, percebo que atuar diretamente com
nião do GT Psicologia,
gem para denunciar, há mais vontade em- a saúde do trabalhador não é um desafio Trabalho e Organiza-
presarial de mudar os estilos autoritários exclusivo da Psicologia. Faz-se necessário ções realizada na sede
de conduzir suas empresas. Contudo, não um novo olhar sobre a saúde do traba- do CRPRS no início de
março.
está, de forma alguma, encerrado o pro- lhador, principalmente de autoridades,
cesso de promover saúde e qualidade de órgãos e instituições públicas e empresas No evento “A força do
vida. Esse desafio está bem vivo e vibrante privadas. Cabe ao/à psicólogo/a tornar- diálogo em 40 mobili-
e é com ele em mente que o trabalho dos/ -se um agente de transformação e não zações”, realizado em
as psicólogos/as tem sua grande signifi- mais limitar-se unicamente à prática de Porto Alegre em agos-
to de 2014, Fernanda
cância. A prioridade em saúde do trabalha- serviços técnicos e operativos.
Spanier Amador falou
dor é questão sem volta. Os empresários sobre o tema "Clínica
conscientes sabem disso. Os profissionais do Trabalho e Compro-
da Psicologia que atuam nas organizações, LEIA MAIS SOBRE O TEMA misso Social". Confira
o vídeo do evento em
independentemente do cargo que ocupam
As relações entre Psicologia e Trabalho assu- http://bit.ly/clinicado-
nas respectivas estruturas, podem fazer a
mem contornos peculiares quando conside- trabalho.
diferença se construírem caminhos de di- ramos as contingências históricas que as atra-
álogo para promover a conscientização do vessam. Elas são emergentes de um feixe de Em novembro de 2014,
valor da vida humana. A transformação forças sociais ligadas a determinados regimes o CRPRS promoveu, em
de verdade que contornam sua consistência e parceria com outras
sempre começa com uma inquietação e com
operacionalidade em uma época. entidades da Serra, o I
uma pergunta: “O que posso fazer para me- Seminário "Meu Traba-
lhorar ou mudar o que não está bem?”. O que estamos fazendo no que se refere às lho Está me Enlouque-
 GISELE – É possível e necessário questões e aos desafios do trabalho contem- cendo!" – Intervenções
elencar a saúde do trabalhador de for- porâneo? Que efeitos temos produzido por em Saúde Mental do
nossas práticas? Movida por essas indagações, Trabalhador. O vídeo
ma emergente para que se estabilizem os
a psicóloga Fernanda Spanier Amador discute está disponível em
acidentes, afastamentos e adoecimentos. http://bit.ly/semina-
os desafios colocados aos psicólogos em tem-
Porém, a Psicologia sozinha pouco pode pos de intensas transformações nos modos de riotrabalhocaxias.
fazer. É essencial estruturar ações inter e gestão e na experiência do trabalho.
multidisciplinares que atendam o traba-
Acesse www.crprs.org.br/entrelinhas69 e
lhador de maneira biopsicossocial. A par-
confira o artigo produzido especialmente para
ceria com instituições e órgãos públicos e esta edição do EntreLinhas.

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 19


conferências

IS
rticipou do
o Nacional
ento
o pelo
ico (MEEL),
de 26 a
sto em

.ly/CRPRS_

Conferências nacionais:
do
to
o pelo
co
.ly/
participação na construção de
o_MEEL
políticas públicas
Todos os profissionais envolvidos federação, cumprindo o papel de ver-
e comprometidos com a efetivação e o dadeiras arenas públicas, lugares de
avanço das políticas públicas do país encontro entre sociedade e Estado. De
devem estar atentos às conferências acordo com dados da Secretaria Geral
que acontecem em 2015. É por isso que da Presidência da República, de 1941
o Sistema Conselhos de Psicologia está a 2013 foram realizadas 138 conferên-
mobilizado na divulgação e participa- cias nacionais, das quais 97 aconte-
ção das conferências municipais, esta- ceram entre 2003 e 2013 abrangendo
duais e nacionais, que devem contar mais de 43 áreas setoriais. Aproxima-
com a participação de psicólogos/as. damente, nove milhões de pessoas
As conferências nacionais são espaços participaram desses debates, incluin-
de formulação de políticas e de elabo- do etapas municipais, livres, regio-
ração de diretrizes e formas de assegu- nais, estaduais até a etapa nacional.
rar e efetivar políticas sociais já previs- As etapas preparatórias (munici-
tas em lei. pais, territoriais, temáticas) são mo-
A Constituição Federal consagrou mentos importantes e ricos no proces-
o princípio da participação social so de uma conferência. É nelas que o
como forma de afirmação da demo- debate se intensifica, proporcionando
cracia. Desde então, houve uma pro- ao cidadão oportunidade de propor
liferação de formas e instâncias de soluções para os problemas da sua ci-
participação em todos os níveis da dade, do seu estado e do país.

20 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


Veja as conferências nacionais previstas para 2015,
informe-se e participe das etapas municipais:
15ª Conferência Nacional de Saúde 1ª Conferência Nacional de Políticas Indigenistas
Data: 01 a 04 de dezembro Data: 17 a 20 de novembro
Tema: Saúde Pública de Qualidade para Cuidar Tema: A Relação do Estado Brasileiro com os
bem das Pessoas Povos Indígenas no Brasil sob o Paradigma da
Constituição de 1988
4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pes-
soa com Deficiência 5ª Conferência Nacional de Segurança Ali-
Data: 07 a 09 de dezembro mentar e Nutricional
Tema: O desafio na implementação das Políticas Data: 3 a 6 de novembro
da Pessoa com Deficiência - A transversalidade Tema: Comida de verdade no campo e na cida-
como a radicalidade dos direitos humanos de: por direitos e soberania alimentar

10ª Conferência Nacional de Assistência Social 1ª Conferência Nacional de Turismo


Data: 07 a 10 de dezembro Data: não definida
Tema: Consolidar o SUAS de vez rumo a 2026 Tema: não definido

12ª Conferência Nacional de Direitos Humanos 2ª Conferência Nacional de Segurança Pública


Data: 07 e 11 de dezembro Data: Segundo semestre de 2015
Tema: não definido Tema: não definido

10ª Conferência Nacional dos Direitos das 4ª Conferência Nacional do Idoso


Crianças e Adolescentes Data: Dezembro de 2015
Data: 14 a 18 de dezembro Tema: Protagonismo e Empoderamento da Pes-
Tema: Política e Plano Decenal dos Direitos soa Idosa – Por um Brasil de todas as idades
Humanos de Crianças e Adolescentes – forta-
lecendo os Conselhos dos Direitos da Criança
e do Adolescente

Conferência Estadual de Saúde


A 7ª Conferência Estadual de Saúde terá
como tema “Saúde Pública de Qualidade
para cuidar bem das pessoas” e será realiza-
da entre os dias 24 e 26 de setembro em Por-
to Alegre. “O que vai garantir a realização de
conferências realmente representativas será
nosso esforço em mobilizar o controle social e
os movimentos sociais em todo o estado, já nas
etapas municipais, que iniciam em abril e seguem até julho”, declarou a presidente
do Conselho Estadual de Saúde, Célia Chaves, ao anunciar a publicação do decreto
convocando para a Conferência.
A 15ª Conferência Nacional da Saúde será realizada em Brasília de 23 a 26
de novembro.

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 21


artigo

O que a Psicologia tem a ver


Bruna Osório Pizarro
Psicóloga, mestra

com o gênero?
em Psicologia pela
UFSM. Conselheira do
CRPRS, coordenadora
do Núcleo de
Políticas Públicas Na Psicologia em todo o Brasil, 88% sistema binário de gêneros: o masculino e o
da Subsede Centro- dos profissionais em exercício são mulheres. feminino. Há outras dimensões, a exemplo
Oeste. No Conselho Regional de Psicologia do Rio dos transgêneros, transexuais, travestis etc,
Grande do Sul (CRPRS), 15.630 são mulheres com construções e cruzamentos variados de
e 1.687 são homens (dados de 30/12/2014). identidade de gênero, sexo biológico e sexu-
Esses números dizem do protagonismo das alidades. Mas, afinal, qual a implicação dessa
mulheres em uma luta por direitos funda- temática para a Psicologia?
mentais e por igualdade em relação aos ho- No VIII CNP: Psicologia, Ética e Cida-
LEIA MAIS:
mens. A equidade de gênero, contudo, ainda dania: Práticas Profissionais a Serviço da
Resolução CFP
nº 01/1999 – está longe de se concretizar. A Psicologia, re- Garantia de Direitos – Congresso Nacional
estabelece normas conhecida como uma profissão de mulheres, de Psicologia – instância máxima de delibe-
de atuação para também abriga essas desigualdades sociais e rações do Sistema Conselhos de Psicologia,
os psicólogos em a discriminação presentes na sociedade. As do total de 28 moções, 07 perpassam a temá-
relação à questão da psicólogas recebem salários menores, sofrem tica GÊNERO. Propostas incluindo a efetiva
Orientação Sexual. com assédio moral e sexual em seus ambien- implementação da Lei Maria da Penha (nº
tes de trabalho e enfrentam jornadas exausti- 11.340/2006); inclusão do nome social na
Resolução CFP vas (que incluem o trabalho doméstico), o que Carteira de Identificação Profissional; despa-
nº 18/2002 – pode acarretar dificuldades de investimen- tologização das identidades sexuais; repúdio
estabelece normas
to na formação e outros prejuízos de ordem às terapias reparadoras de orientação sexual;
de atuação para
emocional e econômica, por exemplo. contra a violência e pelos direitos humanos
os psicólogos
A condição de gênero perpassa as cons- das mulheres e meninas com sofrimento psí-
em relação ao
truções, expectativas, normas e regras sociais quico; políticas públicas para as mulheres,
preconceito e à
discriminação racial. que são impostas, internalizadas, naturaliza- não à morte materna e criminalização das
das e cobradas pelo discurso dominante, sus- mulheres; apoio à legalização do aborto.
Resolução CFP nº tentadas em relação aos homens e às mulheres Também como deliberação do VIII CNP,
10/2005 – aprova na sociedade. Essas construções e expectati- a pesquisa, destinada à produção de Refe-
o Código de Ética vas são representações que pressupõem que rências Técnicas, realizada pelo Centro de
Profissional do as injustiças sejam naturalmente estabeleci- Referência Técnica em Psicologia e Políticas
Psicólogo. das. Esse conceito vai dar a possibilidade de Públicas (CREPOP) em 2015 será sobre a atu-
uma compreensão renovadora e transfor- ação de psicólogas e psicólogos em políticas
Resolução CFP Nº madora das diferenças e desigualdades no públicas de direitos sexuais e reprodutivos.
014/2011 – dispõe
conhecimento entre homens e mulheres. O A pesquisa inicia sua fase exploratória em
sobre a inclusão
gênero corresponde, assim, a uma construção março com o objetivo de realizar o levanta-
do nome social no
social que organiza as relações entre homens mento das/os psicólogas/os e dos serviços
campo “observação”
e mulheres em um determinado contexto, es- em que atuam, em todos os municípios do
da Carteira
de Identidade truturando relações de poder desiguais. Brasil, para definição do campo de pesquisa
Profissional do No momento em que pensamos no “gê- e para que as/os profissionais sejam ouvidos
Psicólogo e dá outras nero” independente do sexo e como dimen- em suas práticas, ações inovadoras, desafios
providências. são cultural, podemos romper com a ideia de e dificuldades.

22 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


A Psico- tribui para re-
logia tem se forçar ou que-
aproximado brar estigmas PARTICIPE DAS
das discussões e estereótipos ATIVIDADES DO CRPRS
de gênero para O tema gênero é
de gênero?
discutido no CRPRS
compreender Como vem es-
pelas Comissões e
o cerne de atos sencializando
Núcleos de Políticas
violentos con- as diferenças
Públicas, Direitos
siderando as de gênero, Humanos e Psicote-
construções criando con- rapia. Acompanhe a
sociais, históri- ceitos univer- agenda de reuniões da
cas e culturais sais sobre o sede e subsedes pelo
estabelecidas “ser mulher” site www.crprs.org.
sob as regras de ou problema- br/comissoesegts e
uma sociedade tizando as es- participe!
patriarcal e he- pecificidades
teronormativa. de cada sujei-
Entender esse to? Como tem REFERÊNCIAS:
contexto em que tais discursos se perpetu- se posicionado no enfrentamento às violên- Conselho Regional de
am é importante e necessário para a atua- cias física, psicológica, simbólica e midiática Psicologia 3ª região
ção profissional na Psicologia por tratar-se exercidas contra as mulheres? – Bahia. Gênero na
de uma ciência e profissão que deve estar As mulheres também estão invisibiliza- Psicologia: articula-
preocupada e atenta à promoção dos Direi- das na nossa linguagem. Por esse motivo, ções e discussões.
tos Humanos. o CRPRS utiliza os artigos o/a sempre que Organizado por
Darlene Silva Vieira
Acreditamos que é preciso trazer à tona se refere à profissão psicólogo/a. Partimos
Andrade e Helena
a discussão da prática da Psicologia nas esco- do entendimento de que a priorização do
Miranda dos Santos,
las, nas organizações, nas clínicas, nas comu- masculino na flexão das palavras em nossa
CRP-03, 2013.
nidades e nas áreas de saúde mental, a partir língua é arbitrária em função de uma cons-
de uma perspectiva de gênero, valendo-se de trução cultural patriarcal que incide sobre a Lhullier, Louise A.
indagações como: Quem são essas mulheres nossa sociedade e assim na nossa gramática. (organizadora).
atendidas por psicólogas/os? Quais implica- Entendemos que a Psicologia deve as- Quem é a Psicóloga
ções em sua subjetividade são características sumir o compromisso social de promover brasileira? Mulher,
do fato de serem mulheres em uma sociedade discursos alternativos que questionem a Psicologia e Trabalho
que toma o masculino como referência e na ordem dominante que oprime muitas mu- /Conselho Federal de
qual as mulheres estiveram historicamente à lheres, jovens, negras/os, a população de Psicologia. - Brasília:
margem das produções nas Artes, na Litera- lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexu- CFP, 2013.
tura e nas Ciências? Quais são as implicações ais e transgêneros – LGBTTT, dentre outras
Conselho Federal
para a Psicologia do fato de sermos uma Ci- categorias, identificando e desconstruindo
de Psicologia.
ência e profissão predominantemente escrita estruturas sociais e práticas pessoais e pro-
Psicologia: uma
por homens e exercida, em sua maioria, por fissionais que sustentam o sexismo e funcio-
profissão de muitas e
mulheres? De que modo temos contribuído nam como instrumentos de controle social. É diferentes mulheres/
para a redução ou o fortalecimento das ne- sobre esse aspecto que se pauta a importân- Conselho Federal de
gligências e discriminações no que se refere à cia de discutir gênero na Psicologia em suas Psicologia. - Brasília:
categoria de gênero? Como a Psicologia con- diversas áreas de saber e atuação. CFP, 2013.

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 23


artigo

O alerta que não se apaga mais:


um tempo de cuidado com famílias,
crianças e adolescentes nas políticas
da Segurança Pública
Julia Dutra de No território brasileiro, segundo dados dizer algo sobre Segurança Pública no en-
Carvalho do Anuário Brasileiro de Segurança Pública contro com os Direitos Humanos?
Graduada em Psi- 2014, perdemos 500 jovens por ano por mor- A segurança pública é uma política que
cologia pela UFRGS te violenta. Nos números divulgados pela atravessa qualquer ação de profissionais
e em Ciências
Anistia Interna- que se ocupam do
Jurídicas e Sociais
cional, em 2013 espaço no público.
pela PUCRS. Mestre
foram registra- Assim, con-
pelo Pós Gradua-
das 82 mortes sidero oportuno
ção em Psicologia
Social e Institucio- de jovens por contar a história
nal da UFRGS com dia no territó- de Josué, experi-
pesquisa voltada rio brasileiro. ência que tive no
para intervenções Em cinco anos núcleo de extensão
clínico-sociais na (2009/2013) universitária da
prática com juven- houve o as- UFRGS – Progra-
tudes. É preceptora sassinato de ma Interdeparta-
na Residência 11.197 pessoas mental de Práticas
Integrada Multipro- pela ação da com Adolescentes
fissional em Saúde
polícia no terri- em Conflito com a
Mental Coletiva
tório nacional. Lei ou PIPA. Josué
da UFRGS (Educa-
Nos Estados chega ao Progra-
Saúde) e compõe o
Unidos, país ma Prestação de
grupo de profissio-
nais que colaboram considerado Serviços à Comuni-
no PIPA (Programa bastante violen- dade (PPSC) para
Interdepartamental to, em 30 anos cumprir medida
de práticas com (1983/2012) os socioeducativa. A
adolescentes e policiais ma- infração cometida:
jovens e conflito taram 11.090 um chute na porta
com a lei). pessoas. Esses do estabelecimen-
dados escanda- to de acolhimento
losos demandam nossa atenção. institucional e gritos com o monitor. A polí-
A Psicologia Social atenta às políticas cia militar foi chamada, e o adolescente de 16
públicas e, neste artigo, especialmente ali- anos foi encaminhado ao Departamento Es-
nhada com os princípios trazidos pela Saúde tadual da Criança e do Adolescente (DECA).
Mental Coletiva, enfrenta um desafio: como, Josué vai à escola, frequenta aulas de dança,
estando neste campo de saber, poderíamos compete em olimpíadas locais de atletismo.

24 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


No primeiro dia que chega ao Programa, é a família, noutras é o jovem, geralmente
traz nas mãos algo para compartilhar. Fotos pobres e, em muitos casos negros.
que marcam tempos de uma vida que foi Estamos tratando individualmente de
institucionalizada no abandono, mas que situações que dizem respeito a uma ges-
também mostram um adolescente em pro- tão do trabalho que devemos construir
dução de diferentes espaços. Na tentativa de nos nossos serviços e entre nossos setores.
dar sentido a uma medida que parecia sem Pensar um ritmo da escola ou das institui-
sentido, escolhemos fazer uma visita a outro ções que atendem crianças e adolescentes
espaço com o adolescente: tomar o metrô e em que professores, educadores e técnicos
conhecer uma experiência de dança em cida- tenham tempo para acolher aquilo que as
de metropolitana de Porto Alegre. Depois de famílias, crianças, jovens dizem antes de
conhecer o grupo de dança Escola do Funk, encaminhar ou resolver as situações.
Josué pergunta: eu posso dar uma aula no A responsabilidade é de quem? Da es-
Acesse artigo na
PPSC? O convite para navegar pelos saberes cola? Os dados parecem indicar que essa é
íntegra em www.
do adolescente foi lançado. Uma semana de- uma responsabilidade de todos. Algo a se
crprs.org.br/entre-
pois, a oficina acontece. O Programa recebe fazer junto à escola e aos professores. Mas linhas69.
uma ligação: “Que medida socioeducativa é esse fazer não é aquele de modo a gerar
essa que ele volta para o abrigo dizendo que mais trabalho judiciário ou policial, e sim Este texto foi origi-
deu aula na UFRGS?”. de compartilhar esse trabalho de cuidado, nalmente apresen-
Em outro caso, durante projeto da Se- considerando que a escola é o estabeleci- tado no Seminário
cretaria de Direitos Humanos da Presidên- mento que mais recebe crianças e adoles- "Porto Alegre pode
cia da República que percorreu 18 cidades centes no território brasileiro. Esperamos vencer a violên-
no estado para estar com conselheiros tu- que siga assim essa realidade, pois seria cia", realizado na
telares e de direito, um relato se repetia lamentável que, em algum momento his- Câmara Municipal
de Porto Alegre em
na fala dos conselheiros tutelares: “nos tórico, percebêssemos que estamos dire-
dezembro de 2014.
chamam para resolver pequenas brigas no cionando, por quase nada, essas famílias e
O evento marcou
recreio”. Em resposta a uma dessas afir- adolescentes para prestar contas diante do
o lançamento do I
mações, uma professora relata: “Estamos Ministério Público, de juízes sem que o ato
Mapa da Segurança
com a escola cheia de projetos. Precisamos sobre o qual estão sendo responsabilizados Pública e Direitos
organizar o processo de trabalho para dar tenha realmente gravidade para tamanha Humanos de Porto
conta de tantas atividades. Estamos sem ação do Estado. Como faremos para viver- Alegre (MapaSeg),
tempo para os estudantes”. Então, depre- mos e nos relacionarmos com esses peque- resultado do traba-
endemos que, com a intenção de que as si- nos conflitos cotidianos nas políticas pú- lho de pesquisa da
tuações de conflito, mesmo que pequenas, blicas sem culpabilizar famílias, crianças e Comissão de Defe-
não tomem proporções maiores, por falta adolescentes? Seguiremos inviabilizando sa do Consumidor,
de tempo, a escola pede ajuda ao conselho. o tempo dos professores, lotando a mesa Direitos Humanos e
O conselho reclama que, ao ser chamado dos conselheiros de denúncias que nem Segurança Urbana
em parceria com a
para isso, acaba não cuidando de situa- sempre são violações em uma emergência
Secretaria Estadual
ções sérias de violação de direitos, assim denuncialesca, colocando-os a correr na
de Segurança e o
como a polícia relata queixa semelhante. cidade, chamando policiais para qualquer
Observa Poa. Aces-
De qualquer forma, quando convocados, situação de conflito que apareça, encami- se www.facebook.
esses profissionais se veem obrigados a to- nhando para saúde crianças e adolescentes com/mapaseg2014
mar alguma atitude. Então empreendem a que precisam de mais atenção e cuidado e e saiba mais sobre
ação de buscar um responsável, às vezes não remédios ou punições? a pesquisa.

entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015 25


crepop

Precisamos falar
sobre financiamento e
controle social
O financiamento das políticas cial; porém, há algo comum entre tam as políticas e demais assuntos
públicas é de responsabilidade elas, que são os conselhos. relevantes ao funcionamento das
conjunta da União, dos estados e Ainda que políticas públicas políticas públicas. Seja para tratar
dos municípios. Em algumas po- sejam ações de Estado, algumas das questões públicas relacionadas
líticas, os valores que deverão ser podem ser executadas, em caráter diretamente ao trabalho das/os
investidos já estão fixados previa- complementar e temporário, por psicólogas/os, para que os conhe-
mente – a Constituição determina fundações, organizações não go- cimentos da Psicologia contribuam
que a União aplique 18% do orça- vernamentais e outras entidades. para a construção e execução das
mento em educação e que os es- Essa passagem de responsabilida- políticas públicas ou para ampliar
tados e municípios invistam 25%. de do Estado para outros entes é o diálogo do Sistema Conselhos
Para outras, a decisão compete ao um tema controverso; contudo, é de Psicologia com a sociedade, o
gestor da política – seja ele muni- um fato hoje, que fica muito evi- Conselho Regional de Psicologia
cipal, estadual ou federal. Assim dente, por exemplo, no repasse de do Rio Grande do Sul (CRPRS) e
sendo, em cada uma das esferas há recursos públicos para a execução o Conselho Federal de Psicologia
uma decisão a ser tomada, uma es- de determinados serviços realiza- (CFP) fomentam a participação
colha a ser feita sobre onde e como das pela Política Nacional de As- das/os psicólogas/os nas instân-
investir os recursos disponíveis. sistência Social. Um caminho fun- cias de controle social.
A Constituição de 1988 criou damental para acompanhamento O CRPRS atua com represen-
a possibilidade de os cidadãos in- da execução das políticas públi- tações em mais de 30 conselhos.
tervirem na gestão pública. Pela cas, tanto no que se refere à qua- Profissionais que desejam partici-
via do controle social, os cidadãos lidade das ações prestadas quanto par como representantes do CR-
podem intervir na tomada da de- no uso dos recursos financeiros, é PRS ou, ainda, os conselhos que
cisão administrativa, orientando a inserção em espaços de exercício gostariam de contar com represen-
a administração pública para que de controle social. tação do CRPRS, devem realizar o
esta adote medidas que realmente Os conselhos são espaços de cadastro de interesse em nosso site
atendam ao interesse público. É pactuação, planejamento, fiscali- www.crprs.org.br/controlesocial.
ainda pelo controle social que os zação e execução das ações. São
cidadãos podem exercer controle locais onde é possível construir
sobre a ação do Estado, por meio com o/a gestor/a quais as prio-
de fiscalização, exigindo que os ridades do município, do estado André Sales
Assessor Técnico de Políticas Públicas
executores das políticas públicas ou da União. Neles também se
prestem contas de sua atuação. pode acompanhar a forma como Fernanda Carrion e Ramiro Catelan
Cada política pública desenha, os gastos são feitos, como se dá a Estagiários

dentro da sua maquinaria, um definição de prioridades, o cadas- Alexandra Ximendes


modo de exercício de controle so- tramento das entidades que execu- Conselheira de Referência

26 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015


orientação

Ensino de métodos e técnicas


psicológicas a não psicólogos/as
O Sistema Conselhos de Psicologia – im- lamentados nos termos da Lei 4.119, de 27 de
buído de sua função de orientar e fiscalizar agosto de 1962, e aos/às psicólogos/as regis-
o exercício profissional do/a psicólogo/a, trados no respectivo Conselho Regional de
assim como de zelar pelos métodos e técni- Psicologia (Resolução CFP nº 12/1997);
cas a serem utilizados, objetivando a presta- 4. O/A psicólogo/a não poderá divul-
ção de serviços de qualidade e de proteção gar, ensinar, ceder, dar, emprestar ou vender
aos que recorrem aos serviços psicológicos instrumentos ou técnicas psicológicas que
– vem esclarecer quanto ao ensino de méto- permitam ou facilitem o exercício ilegal da
dos e técnicas psicológicas (avaliação psico- profissão (Art. 18 do CEPP, 2005);
lógica) a candidatos em processos avaliati- 5. Alertamos para a gravidade de di-
vos, assim como o treinamento de técnicas e vulgar e realizar o ensino de métodos e
procedimentos relativos à avaliação previs- técnicas psicológicas, em destaque os tes-
ta no contexto dos concursos públicos: tes psicológicos, por meio do ensino de
1. A avaliação psicológica é entendida respostas, preenchimento de crivos e/ou
como o processo técnico-científico de coleta folhas de resposta de testes, sob a justifica-
de dados, estudos e interpretação de informa- tiva de auxílio ou conhecimento prévio do
ções a respeito dos fenômenos psicológicos, teste, objetivando a pretensa diminuição da
que são resultantes da relação do indivíduo apreensão ou ansiedade frente à avaliação.
com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de Segue terminantemente proibida a divulga-
estratégias psicológicas – métodos, técnicas e ção, publicidade e aplicação desta situação
instrumentos (Resolução CFP nº 07/2003); de preparação e ensino de procedimentos
2. A avaliação psicológica é uma ativida- avaliativos (avaliação psicológica) por parte
de restrita a profissionais da Psicologia. Isso do/a psicólogo/a, objetivando atender can-
implica que seus instrumentos, com desta- didatos de concursos públicos;
que para os testes psicológicos, são de uso 6. Além do ensino, também é indevida
exclusivo desses profissionais e, nesse senti- a publicidade que objetiva a previsão taxa-
Recorte e colecione

do, o Conselho Federal de Psicologia alerta tiva de resultado de avaliação psicológica


que seu uso por outros profissionais não ha- em concurso públicos e/ou em sua fase de
bilitados e credenciados para esse fim incorre recurso. O/A psicólogo/a atua técnica e
em exercício ilegal da profissão. O emprego eticamente, avaliando o que está proposto
desses instrumentos de forma indevida téc- em edital do concurso em suas diferentes
nica e eticamente pode acarretar sérios riscos fases e não advogando pelo candidato.
à sociedade (N.T. CFP, 2013);
3. O ensino de métodos e técnicas, in-
Área Técnica
cluindo os testes psicológicos, fica reserva- Lucio Fernando Garcia – Coord. da Área Técnica
Adriana Dal Orsoletta – Psicóloga Fiscal
do exclusivamente aos alunos regularmente Flavia Cardozo de Mattos – Psicóloga Fiscal
matriculados nos cursos de Psicologia, regu- Leticia Giannechini – Psicóloga Fiscal
Lucia Regina Cogo – Psicóloga Fiscal

entre linhas | out-nov-dez 2014 27


Endereço para Devolução:
Agência de Correios Avenida Protásio Alves - CEP: 90410-970

agenda USO EXCLUSIVO DOS CORREIOS

[ ] ausente [ ] endereço insuficiente


[ ] falecido [ ] não existe o número indicado
[ ] recusado [ ] desconhecido
[ ] não procurado [ ] inf.porteiro/síndico
[ ] mudou-se [ ] outros (especificar)
.....................................................................................

____/____/______ _________________________
data rubrica do responsável

_________________________
VISTO

Curso Intensivo de Psicofarmacologia


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Prevenção e Intervenção Neurose: Teoria e Clínica
Informações: (51) 3222.2441
Início em 30/03/2015 - Porto Alegre/RS Março a outubro de 2015 (último sábado de cada mês)
Passo Fundo/RS stress@ismabrasil.com.br
Informações: (51) 3308.5246 http://www.ismabrasil.com.br
especpsico@ufrgs.br Informações: (51) 3343.3364
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Dependência Química e Saúde Mental Ciclo de Estudos Fundação da Psicanálise
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28 entre linhas | jan-fev-mar-abr 2015

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